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All content following this page was uploaded by Maria Rosa Alves Duque on 09 May 2017.
RESUMO
Apesar de no SE de África se localizar o chamado “Vale do Rifte Africano”, verifica-se que
África é o continente onde se explora e se usa menos energia geotérmica. No trabalho
apresentado por Bertani (2013) só aparecem dois países africanos com exploração de
Energia geotérmica (a Etiópia com 7 MW e o Quénia com 204 MW), sendo o total
apresentado para África, 0,2 GW. No presente trabalho apresentam-se dados de fluxo de
calor, existência de nascentes termais e respetivas temperaturas, publicados para África e,
em particular para a região de Moçambique. Interpretaremos também os dados de
magnetismos e radioatividade obtidos no interior de Moçambique fazendo a ligação com as
nascentes termais existentes nessas regiões.
Os valores encontrados de temperaturas de nascentes termais, e os restantes dados geofísicos
analisados, permitem-nos dizer que Moçambique possui recursos energético relativamente
abundantes para uso direto. Este facto não quer dizer, no entanto, que se forem feitos furos
profundos não se encontrem reservatórios com temperaturas mais elevadas e passíveis de
serem utilizadas para produção de eletricidade
Palavras-chave: Energia geotérmica, fluxo de calor, temperatura, radioatividade, magnetismo
1. INTRODUÇÃO
Está previsto que no ano de 2020 o mundo utilize 19000 MW de energia geotérmica
(Bertani,2013). A energia elétrica, de origem geotérmica, produzida em 2012, foi 17 GW. A
capacidade instalada em 2010 era 10,9 GW e em 2013 11,6 GW. Este interesse crescente pela
energia geotérmica deve-se ao facto de ela ser uma energia limpa, renovável, e sustentável,
que pode substituir outras formas de energia, mas também ao facto de , depois de começar a
fase de exploração, ela ser uma energia relativamente barata e poder ser obtida em regiões
“fora” das regiões onde se situam as centrais convencionais. O interesse por este tipo de
energia vem associado a um maior conhecimento dos fluxos de calor medidos à superfície do
globo e das regiões com gradientes de temperatura elevados e que são zonas passíveis de
exploração geotérmica. Este conhecimento tem sido acompanhado pela descoberta de
sistemas geotérmicos afastados das regiões onde historicamente se conhecem explorações
geotérmicas, que são regiões nos bordos das placas tectónicas e vulcanicamente ativas. África
é o continente onde menos se explora e utiliza energia geotérmica. No trabalho apresentado
por Bertani (2013) só aparecem dois países africanos com exploração de Energia geotérmica
(a Etiópia com 7 MW e o Quénia com 204 MW), sendo o total apresentado para África, 0,2
GW. Na utilização direta de energia geotérmica Lund et al (2010) mencionam como
utilizadores a Argélia, o Egipto, a Etiópia, o Quénia, Marrocos, África do Sul e Tunísia,
totalizando 684,7 GWh/ano para toda a África. No mesmo trabalho, é referido haver
-1-
conhecimento de utilização de águas quentes de origem geotérmica, para banhos e natação, na
Zâmbia e em Moçambique não havendo informação disponível sobre esse aproveitamento.
Figura 1. Localização do Sistema de Rift da parte Este de África mostrando alguns dos vulcões historicamente
ativos
nestas regiões está relacionada com a existência destas bolsas de magma pouco profundas que
são consideradas as fontes de calor mais importantes dos sistemas geotérmicos associados
( Omenda,2007).
A superfície de grande parte do território de Moçambique, em especial a parte Sul, é
constituída por aluviões e sedimentos terrestres datados do Quaternário e do Mesozoico,
respetivamente. As rochas de natureza vulcânica aparecem junto da fronteira do lado Oeste,
no Sul do país, e na zona Noroeste e Centro-Oeste, aparecem rochas vulcânicas e
metamórficas.
-2-
3. FLUXO DE CALOR
A existência de fluxo de calor elevado numa dada região pode estar associada a fluxo de calor
proveniente do manto e / ou a fontes de calor na crusta ou próximas da superfície
(concentrações elevadas de elementos radioativos e/ ou existência de bolsas magmáticas).
Existem dois parâmetros que parâmetros que contribuem para o valor do fluxo de calor, a
condutividade térmica das rochas e o gradiente de temperatura. A condutividade térmica
elevada pode estar associada à existência de rochas metamórficas e com vestígios de minério.
Os gradientes de temperatura elevados aparecem associados à existência de fontes térmicas e
em zonas (bacias sedimentares) onde mesmo tendo o fluxo de calor um valor médio, o
gradiente tem um valor relativamente elevado devido ao facto de a condutividade térmica dos
sedimentos apresentar valores relativamente baixos.
Figura 2. Localização de dados de fluxo de calor em África ( International Heat Flow Data Base)
Pela figura apresentada podemos ver que a maioria dos dados de fluxo de calor obtidos em
África têm valores compreendidos entre 40 e 70 mW m-2, não existindo valores elevados de
fluxo de calor. O trabalho apresentado por Vieira e Hamza (2012) utiliza 859 valores de fluxo
de calor de origem geotérmica, obtidos em África. Olhando para a distribuição de dados
obtida a nível mundial, podemos ver que na região de Moçambique os valores do fluxo se
situam em torno de 40 mW m-2, no entanto, no relatório com o título “Estratégias de
-3-
Desenvolvimento de Energias Novas e Renováveis (EDENR) para o Período de 2011-2025”,
na página 25, é dito que foram identificadas, em Moçambique, 30 fontes termais, em algumas
regiões do centro e Norte do país, com temperatura superior a 60ºC, apresentando fluxos de
calor com valores entre 70 e 170 mW m-2. O relatório referido não apresenta bibliografia, não
se sabendo qual a localização exata dos dados.
Figura 3. Distribuição de dados de fluxo de calor a nível mundial, obtida por Hamza et al (2010)
A análise do mapa mundial de fluxo de calor mostra-nos que em África se esperam dados de
fluxo de calor relativamente baixos (Dados iguais ou inferiores a 50 mW m-2) com exceção da
zona Nordeste e Norte (junto do Estreito de Gibraltar) onde o fluxo terá valores entre 60 e 70
mW m-2. Este facto permite-nos dizer que as anomalias de fluxo de calor que venham a ser
medidas corresponderão a áreas relativamente pequenas e com fontes relativamente próximas
da superfície.
-4-
temperatura a partir de dados BHT tendo sido feita depois uma correção. Também foram
Figura 4. Mapa onde se pode ver a localização de furos feitos para prospeção de petróleo, com dados utilizados
para estimar o valor do fluxo de calor na Bacia de Moçambique e na Bacia de Rovuma. Os números ao lado dos
círculos a negro representam o valor do fluxo de calor medido. Podemos ver claramente no Norte do país , junto
ao lago Niassa, valores de 145, 170 e 172mWm-2(dados obtidos por vários autores). Os círculos abertos referem-
se ao trabalho descrito no texto.
-5-
Bacia de Rovuma, no Norte de Moçambique, foi possível estudar um furo onde os dados de
temperatura permitem definir um gradiente de temperatura de 39,1 ºC km-1.Utilizando um
valor de condutividade térmica estimado, de 2 W K-1m-1, os autores referidos obtiveram
valores de 57 mW m-2, para a Bacia de Moçambique e 106 mW m-2, para a Bacia de Rovuma.
Devemos recordar que o valor obtido para a Bacia de Moçambique é um valor médio,
podendo existir locais com gradientes de temperatura mais elevados. O valor da
condutividade térmica também pode variar de local para local, visto que é dito que alguns
furos podem estar em extensões de rifts.
Dados obtidos duas Bacias Costeiras do Mesozoico (Nyblade et al,1990) conduziram a
valores médios de 67 e 69 mW m-2. Devemos assinalar, no entanto, que os valores obtidos
numa bacia se situam entre 54 e 97 mW m-2 (Quénia) e 51 e 87 mWm-2 na outra (Tanzânia),
observando-se, portanto, furos com valores de fluxo acima da média. O mapa da figura 4
mostra-nos valores de fluxo elevados (entre 97 e 172 mW m-2) junto do Lago Niassa, no
Norte de Moçambique.
5. OUTROS DADOS
Para que uma nascente termal possa ser explorada para uso direto não é suficiente que a
temperatura das suas águas seja igual ou superior a 40 º C. É necessário ter-se conhecimentos
acerca do seu possível reservatório e da origem da água disponível, sendo recomendável que
se tenha uma ideia do tempo necessário para repor água no reservatório de modo a não retirar
mais água do que a depositada e não secar a nascente. O conhecimento do gradiente
geotérmico da região é um dado muito importante para se ter uma ideia da profundidade do
reservatório. Se, por outro lado, conseguirmos ter uma ideia da localização do reservatório,
utilizando outros métodos, é possível conhecer a temperatura em profundidade, atendendo a
que os termómetros geoquímicos são relativamente económicos mas os seus resultados
podem vir afetados por vários fatores que podem alterar o conteúdo dos diferentes elementos
químicos encontrados na água. O conhecimento de gradientes de temperatura e fontes
térmicas em regiões onde não existem nascentes termais pode também ser importante para a
-6-
localização de aquíferos confinados e reservatórios que não estejam em contato com a
superfície.
.5.1 Sismicidade
A sismicidade que ocorre em Moçambique está associada com atividade tectónica ao longo
do Sistema de Rift do Este de África. A localização dos sismos que ocorreram desde 1891 a
2008 está representada na figura 6. Devido a falta de sismómetros próximos da região onde
ocorrem os sismos, não se encontram representados sismos de baixa magnitude que deverão
ocorrer devido à existência já referida de bolsas de magma a baixa profundidade e devido ao
facto de estarmos numa região de fronteira entre a placa Africana no Oeste e a placa da
Somália no Este. No mapa está representada a região da província de Manique onde ocorreu,
a 23 de Fevereiro de 2006, um sismo de magnitude 7,numa falha que não aflora à superfície,
próxima de Chitobe., no centro de Moçambique.
-7-
Figura 6. Sismicidade detetada em Moçambique entre 1891 e 2008 (Pule e Saunders,2009). Podemos ver
claramente a grande mancha de sismos coincidente com o vale de rift.
Os dados de gravimetria que utilizamos foram publicados pelo Geological Survey of Filand
em 2008, e foram obtidos no Centro e no Sul de Moçambique. Podemos ver que em grande
parte da zona estudada as anomalias são negativas, mas na parte Sul do país, na zona com
nascentes termais, a anomalia é positiva. As anomalias gravíticas não parecem seguir
exatamente a geologia superficial. Pelo mapa podemos ver que as rochas máficas do grupo de
Karoo (Regiões A e B) correspondem a anomalias positivas. Os flancos suaves das anomalias
sugerem que estas rochas descem por baixo da cobertura sedimentar mais leve (em C),a
Sudeste de A e a Nordeste de B. Nas regiões offshore (D) temos valores elevados de
gravidade devido a rochas máficas do fundo do mar e a manto superior pouco profundo. O
valor elevado da gravidade em E indica a existência de rochas de densidade elevada por baixo
das rochas sedimentares menos densas.
-8-
Figura 7. Mapa gravítico do centro e Sul de Moçambique (Ruotoistenmaki,2008)
-9-
5.3 Dados de magnetismo
-10-
Os dados de magnetismo utilizados neste trabalho cobrem apenas a parte Oeste de
Moçambique, e encontram-se na figura 8. Em geral a densidade de medições magnéticas é
superior à dos dados de gravimetria, o que faz com que eles sejam mais sensíveis a fontes
pouco profundas.
Olhando para a figura 8 verificamos que as rochas máficas de Karoo estão representadas por
uma região linear longa com anomalia positiva (em A). Na região B temos também uma
anomalia linear bem definida, mas o campo magnético é menos intenso. Estas regiões podem
ser zonas de rift antigos, com rochas máficas introduzidas dentro de fraturas extensivas. Os
valores menos elevados encontrados em B poderão indicar uma região com temperaturas mais
elevadas. Podemos ver também que estas rochas se encontram por baixo da camada
sedimentar em C, a Sudeste de A e Nordeste de B. Este mapa mostra claramente que a
anomalia A é um bloco individual, que separa blocos sedimentares com anomalias baixas (em
C) de regiões fortemente enrugadas, com anomalias magnéticas elevadas, a Noroeste de A.
Na região a Sul de A e a Oeste de C podemos assinalar a existência de anomalias
semicirculares e circulares que podem ser associadas a fontes intrusivas quentes, existentes
por baixo da camada sedimentar .
-11-
Figura 9. Dados de radioatividade. Radiação devida ao urânio e radiação total
REFERÊNCIAS
Bertani,R.,Status of a Geothermal World, Proceedings of EGEC 2013,Pisa,Itália,2013.
Hamza,V.M.,Vieira,F.P.,Global Distribution of the Lithosphere-Asthenosphere
Boundary:aNew Look, Solid Earth Discussions,4,279-313, 2012.
Hamza,V.M.,Cardoso,R.R.,Alexandrino,C.H., A magma accretion model for the formation of
oceanic lithosphere: Implications for global heat loss,International Journal of Geophysics,
2010.
Lund,J.W.,Freeston,D.H.,Boyd,T.L., Direct Utilization of Geothermal Energy 2010
Worldwide Review, Proceedings of the World Geothermal Congress , 1-23,2010.
Martinelli,G.,Dongarra,G.,Jones,M.Q.W., Rodriguez,A., Geothermal Features of
Mozambique:Country Update, Proceedings of the World Geothermal Congress, 251-
273,1995.
Omenda,P.A.,The Geothermal Activity of The east African Rift, Short Course II on Surface
Exploration for Geothermal Resources, Kenya,2007.
-12-
Pule,T.,Saunders,I., Recent seismicity in the Mozambique region and its impact/effects on
South Africa,11th SAGA Biennial Technical Meeting and Exhibition Swaziland, 385-390,
2009.
República de Moçambique, Ministério da Energia, Estratégia de desenvolvimento e energias
novas e renováveis (EDENR) para o período de 2011-2025.
Ruotoistenmaki,T.,Geophysical maps and petrophysical data of Mozambique,Geological
Survey of Finland, Special paper 48,65-80,2008.
Steinbruch,F.,Merkel,B.J., Characterization of a Pleistocene Thermal Spring in Mozambique,
Hydrogeology Journal, 14 pag, 2008.
-13-