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FACULDADE DE SAÚDE, CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLÓGICAS DO PIAUÍ

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE PROJETOS E


OBRAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
(TURMA 2010/2011)

AS PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS E A
CONSTRUÇÃO CIVIL

ISADORA ATEM GONÇALVES CAMARÇO

TERESINA/ PI
NOVEMBRO - 2011
AS PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS E A CONSTRUÇÃO CIVIL

ISADORA ATEM GONÇALVES CAMARÇO

Artigo apresentado à Faculdade de


Saúde, Ciências Humanas e
Tecnológicas do Piauí – NOVAFAPI,
como requisito para conclusão do Curso
de Especialização em Gestão de Projetos
e Obras da Construção Civil.

Orientadora: Prof. Nícia Bezerra Formiga


Leite, Graduada em Arquitetura e
Urbanismo pela UFPB, Especialista em
Planejamento Municipal pela UFV e
Mestre em Engenharia Civil pela UFV.

TERESINA/ PI
NOVEMBRO - 2011
As práticas sustentáveis e a construção civil
The sustainable practices on civil construction
Las prácticas sostenibles y la industria de la construcción

RESUMO

Arquitetos, engenheiros, construtores e afins devem estar próximos das questões


socioambientais em pauta atualmente. Ao avaliar a sustentabilidade de um
componente (material) ou de uma construção como um todo, é preciso ir além de
somente sua vida útil. O conceito de construção sustentável está associado à escolha
de materiais, à melhoria do comportamento em uso de um edifício e de seus sistemas
e às preocupações projetuais. Acarreta ações que gerem o mínimo de modificações
no ambiente natural, reduzindo problemas futuros.

Palavras-chaves: Sustentabilidade, Construção Civil, Meio Ambiente

ABSTRACT

Architects, engineers, builders and every other carrer need to bring on the
environmental issues. To assess the sustainability of a material or construction is
necessary to go beyond its useful life. The concept of sustainable building is
associated with the choice of materials, improved behavior on the building´s use and its
systems and concerns on the project. Involves actions that generate a minimum of
changes in the environment, capable of reducing future environmental problems.

Key-words: Sustainability, Civil Construction, Environment

RESUMEN

Los arquitectos, ingenieros y constructores debem acercarse de los problemas


ambientales actuales. En la evaluación de la sostenibilidad de un componente
(material) o de un edificio en su conjunto, debemos ir más allá. El concepto de
construcción sostenible se asocia con la elección de los materiales, mejora de el
comportamiento de un edificio y sus sistemas en uso y las preocupaciones sobre el
proyecto. Involucra a las acciones que crean un mínimo de modificaciones en el medio
ambiente, capaz de reducir de problemas ambientales futuros.

Descriptores: Sostenibilidad, Cosntrucción, Medio ambiente


1. INTRODUÇÃO

1.1 OBJETIVO

Partindo do pressuposto que a construção sustentável ainda apresenta-se


incipiente em boa parte do Brasil, o presente trabalho visa fomentar práticas no
processo de produção de edifícios, que reduzam os impactos negativos sobre meio
ambiente e favoreçam o aumento da qualidade de vida nas fases de projeto,
construção e uso das edificações, apresentando medidas comprovadamente eficazes
para a melhoria da qualidade das obras.

1.2 ESTRATÉGIAS PARA REALIZAÇÃO DO OBJETIVO

Caracterizado como pesquisa de caráter exploratório e qualitativo, o presente


trabalho iniciou-se com a análise da forma mais adequada à coleta de dados para sua
produção. Estudo bibliográfico por meio da obtenção - fontes seguras: livros, testes,
dissertações, periódicos, leis e normas - de dados fundamentados relacionados às
práticas sustentáveis na construção civil, consistiu na forma mais empregada.
Em segundo momento, levantou-se as políticas voltadas ao tema já praticadas,
focando nos seus fundamentos, viabilidade de implementação e resultados de sua
aplicação.
Posteriormente, realizou-se estudo de casos de edificações já construídas e
consideradas eficientes comprovando os benefícios obtidos com a adoção de medidas
sustentáveis.
Como última fase de pesquisa, efetuou-se busca e análise de softwares
desenvolvidos com a finalidade de serem aplicados ao planejamento e
compatibilização dos projetos, para esclarecer como estes programas podem
contribuir para que uma obra torne-se mais sustentável.
Para encerrar o trabalho, foram realizadas as interpretações dos dados,
seguida pela elaboração das conclusões e considerações finais cabíveis.
DISCUSSÕES

Sustentabilidade

Tendo em vista que o grande desafio da sustentabilidade é a preservação da


vida humana, ela pode ser definida como uma condição que possibilita a continuidade
de nossa existência. Seu conceito mostra que soluções isoladas são apenas paliativas
para o problema total, consistindo em um processo de mudança que deve ter a
participação de todos os setores da sociedade, implicando em pesquisa,
desenvolvimento e implantação de novas tecnologias.
Para a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (criada em
1987, pela ONU – Organização das Nações Unidas), haver sustentabilidade significa
que: “todos tenham suas necessidades básicas atendidas e lhes sejam
proporcionadas oportunidades de concretizar seu desejo de uma vida melhor; os
padrões de consumo sejam mantidos dentro do limite de interferência que o meio
natural pode suportar; as necessidades humanas sejam garantidas de modo igualitário
(...); a evolução demográfica esteja compatível com o potencial produtivo dos
ecossistemas; os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra (...) não sejam
degradados; o acesso equitativo aos recursos ameaçados seja garantido (...) no
sentido de aliviar as pressões de sobre-utilização dos recursos; os recursos
renováveis sejam usados dentro de limites que permitam sua regeneração natural; os
recursos não renováveis sejam utilizados de modo racional, com ênfase na reciclagem
e no uso eficiente, de modo que não se esgotem antes de haver substitutos
adequados; os impactos negativos sobre a qualidade do ar, da água e dos demais
elementos naturais sejam minimizados, a fim de manter a integridade global do
sistema.” (AFONSO, pág.12).
Ainda segundo a Comissão, para se colocar em prática esse processo de
transformação, é necessário construir:

“um sistema político que assegure a efetiva participação dos


cidadãos nos processos decisórios; (...) um sistema social que
resolva (...) a distribuição desigual de renda e benefícios; um
sistema de produção que respeite a necessidade de conservar
a base de recursos naturais; um sistema tecnológico que
busque constantemente novas soluções; um sistema
internacional que estimule a interdependência entre economia
e conservação dos recursos ambientais na formulação de
regras para comércios e financiamentos; um sistema
administrativo flexível, que tenha capacidade de modificar s
estruturas legais e institucionais visando o bem-comum”
(AFONSO, 2002, p.12)
Almeida (2002, pag.28) chega à seguinte tabela comparativa resumindo as
diferenças entre os antigos e novos paradigmas:

Tabela 01 – Paradigma cartesiano versus paradigmas da sustentabilidade

CARTESIANO SUSTENTÁVEL

• Reducionista, mecanicista e • Orgânico, holístico e participativo


tecnocêntrico • Fatos e valores fortemente
• Fatos e valores não relacionados relacionados
• Preceitos éticos desconectados • Ética integrada ao cotidiano
das práticas cotidianas • Interação entre o objetivo e o
• Seres humanos e ecossistemas subjetivo
separados, em uma relação de • Seres humanos inseparáveis dos
dominação ecossistemas, em uma relação de
• Conhecimento compartimentado e sinergia
empírico • Conhecimento indivisível,
• Relação linear de causa e efeito empírico e intuitivo
• Natureza entendida como • Relação não-linear de causa e
descontínua, o todo formado pela efeito
coma das partes • Natureza entendida como um
• Bem-estar avaliado pela relação conjunto de sistemas
de poder (dinheiro, influência, interrelacionados – o todo maior
recursos) que a soma das partes
• Ênfase na quantidade (renda per • Bem-estar avaliado pela qualidade
capita) das interrelações entre os
• Centralização de poder sistemas ambientais e sociais
• Espscialização • Ênfase na qualidade (de vida)
• Ênfase na competição • Descentralização de poder
• Pouco ou nenhum limite • Transdisciplinaridade
tecnológico • Ênfase na cooperação
• Limite tecnológico definido pela
sustentabilidade

A distância entre teoria e realidade

Casagrande Jr. (2009) afirma que, a busca pela sustentabilidade requer


algumas estratégias de planejamento de longo prazo, que podem esbarrar com alguns
obstáculos para sua aplicação: a viabilidade financeira, por exemplo. É fundamental
analisar todas as etapas de fabricação de um material, pois a distância da fonte de
alguns pode torná-los anti-econômicos devido ao alto custo do transporte. Ou, os
grandes conglomerados de materiais de construção podem impedir a entrada de
novos produtos no mercado.
Os materiais de construção, hoje empregados, possuem significações próprias
decorrentes de processos históricos. É necessário, então, que as vantagens e
qualidades desses novos materiais sejam bem esclarecidas para que sejam aceitas e
incorporadas à cultura do consumidor.
Novos materiais e técnicas de aplicação exigem mão de obra qualificada, o que
se torna um problema técnico pela falta. Tanto as empresas podem especializar seus
funcionários, como as instituições de ensino podem incluir em suas grades
curriculares, disciplinas relativas.

A Construção Civil

“Nossos ancestrais eram muito apegados ao meio ambiente, já


que sua sobrevivência dependia dele. Eles utilizavam os
recursos naturais disponíveis para criar abrigos, caçar e
posteriormente, cultivar a terra e viajar. Ainda que os meios
fossem grosseiros e o dia a dia fosse simples, os recursos
naturais eram abundantes em relação ao tamanho e a
densidade da população”. (KEELER; BURKE, 2010, p.29)

É notável que o ambiente construído seja necessário, ao mesmo tempo em que


é perceptível sua contribuição para os impactos negativos sobre a paisagem natural. A
preocupação com o bem-estar ambiental não é irrelevante. Hoje se enfrenta
problemas naturais visíveis de tipos e intensidades diferentes que ameaçam a
permanência dos seres no planeta. Assim, é necessário promover uma reflexão a
respeito dos principais procedimentos adotados pela construção civil analisando a
possibilidade de absorção e implantação de práticas que reduzam esses efeitos. O
desafio é, portanto, conciliar as atividades necessárias às sociedades, com os
conceitos de desenvolvimento sustentável.
A representatividade da indústria civil é evidente, sendo o setor, um dos
maiores consumidores dos recursos naturais e a maior fonte de impactos causados ao
meio ambiente: consome 40% da energia mundial e a quantidade de resíduos gerada
é, em média, 150kg/m² construído (figura 01) (KEELER; BURKE, 2010, p.21). Nos
EUA, a indústria da construção civil responde por 40% de todo o consumo de
matérias-primas – chegando a consumir 3 bilhões de toneladas por ano. (KEELER;
BURKE, 2010, p.23). No Brasil, os números não deixam de ser preocupantes. Uma
pesquisa realizada na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) calculou
que, em média, na construção de casas de interesse social gera-se 9,5 toneladas de
dióxido de carbono por cada unidade construída - considerando formas convencionais
que utilizam cimento, cal, metal, tijolo, areia e brita.
MILHÕES DE TONELADAS MÉTRICAS DE CARBONO
800

600

EDIFICAÇÕES
400
INDÚSTRIA
TRANSPORTE
200

0
1960 1980 2000

Figura 01 – Gráfico referente às emissões de dióxido de carbono por setor econômico


(KEELER; BURKE, 2010)

Consumidora de grandes recursos naturais, a construção civil também é fonte


de diversos impactos ao meio ambiente, portanto, a qualidade de uma obra ou
edificação não está relacionada somente à sua conclusão. É necessário preocupar-se
com todas as etapas do ciclo de vida de um empreendimento: concepção, projeto,
construção, manutenção e demolição.
Os EUA foram a nação que primeiro “acordou” ao fato. Sua tradição de
construir passou por redefinição após sua economia, que depende de combustíveis
fósseis importados, sofrer com a crise do petróleo na década de 1970. O fato pode ser
considerado um marco da construção sustentável, pois dele iniciou-se o
desenvolvimento de alternativas para a obtenção de energia e o racionamento de
combustíveis. Lá existem muitas leis que visam diminuir a dependência do país, em
ralação aos fornecedores de matérias primas.
No Brasil, grande parte das construções atuais segue apenas os padrões
mínimos permitidos pelo código de obras aplicável para obter as autorizações
necessárias e receber uma licença de ocupação por parte dos oficiais locais. Portanto,
é necessário provocar a cultura da sustentabilidade na indústria da construção civil por
meio da divulgação do conhecimento tanto para o público consumidor, como para o
investidor, projetista e construtor. Dessa forma, criar expectativa no mercado,
induzindo e viabilizando assim novas tendências mais sustentáveis de construção.
(PRIORI JUNIOR; REGO SILVA; BURRATTINO)
As Construções Sustentáveis

Para muitos, a inovação pode promover insegurança e desconforto, porém,


para outros, significa esperança e desafio. Todavia, ainda é um assunto que está mais
em teoria que no papel. Ainda são poucos os escritórios ou empresas (públicas ou
particulares) que utilizam novas maneiras de planejar, projetar e construir por meio da
procura por novas técnicas e alternativas economicamente viáveis, promovendo a
racionalização e reutilização dos recursos naturais e melhor qualidade de vida, aliadas
à redução de custos, melhoria da produtividade e redução dos desperdícios. (PRIORI
JUNIOR; REGO SILVA; BURRATTINO, 2009).
Neste cenário, arquitetos, engenheiros e construtores exercem o papel
principal para promover uma mudança. Uma empresa sustentável pode ser definida
como aquela que gera lucros ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e
melhora a qualidade de vida das pessoas envolvidas ou influenciadas por suas
atividades.
Aplicar os princípios de desenvolvimento sustentável à construção implica
envolvê-los no ciclo de vida da edificação – planejamento, construção, uso e
demolição. É durante o planejamento que decisões importantes serão tomadas em
relação ao projeto e à obra; por isso, os envolvidos devem estar familiarizados com as
questões ambientais. Durante a construção, saúde, segurança e qualidade de vida do
trabalhador deve ser o foco. A análise do uso implica no exame dos resultados
obtidos, e oferece a oportunidade de rever decisões e identificar oportunidade de
melhorias para as futuras construções.
Segundo Silva (2003 apud ARAUJO, 2009, p.54) a construção sustentável não
pressupõe a priorização de uma dimensão em detrimento das demais, nem exige uma
solução perfeita e sim, “a busca do equilíbrio entre a viabilidade econômica, que
mantém as atividades e negócios; as limitações do ambiente e as necessidades da
sociedade”.
Para a Câmara da Indústria da Construção (2008 apud ARAUJO, 2009, p.55)
existem alguns princípios básicos para uma construção sustentável. São eles:
aproveitamento das condições naturais locais; utilizar o mínimo de terreno e integrar-
se ao ambiente natural; implantação e análise do entorno; reduzir ou não provocar
impacto no entorno; qualidade ambiental interna e externa; gestão sustentável da
implantação da obra; adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários; uso
de matérias primas que contribuam com a eficiência do processo; redução do
consumo energético; redução do consumo de água; reduzir, reutilizar, reciclar e dispor
corretamente os resíduos sólidos; introduzir inovações tecnológicas sempre que
possível e viável e educação ambiental, com a conscientização dos envolvidos o
processo.

As Legislações Sustentáveis e os Sistemas de Certificação

Na troca por pesquisas científicas, as primeiras conferências ambientalistas


enfatizaram somente a proteção de espécies de vidas selvagens. Como exemplo, a
Comissão Consultora de 1913 para Proteção Internacional da Natureza e a
Convenção para Preservação de Animais, Aves e Peixes da África, de 1900.
Respectivamente, uma foi criada para proteger as aves migratórias e a outra para
controlar o comércio de partes de animais de caça. (KEELER; BURKE, 2010).
Foi após a Segunda Guerra Mundial que o movimento ambientalista floresceu
no mundo. Que as crises ambientais afetavam todo o planeta – tanto os países menos
desenvolvidos, quanto os industrializados, os líderes políticos só perceberam no final
da década de 70. A Conferência de Estocolmo (1972) foi considerada um marco,
devido ao surgimento de várias conferências a seguir voltadas ao meio ambiente. Em
uma delas, a Comissão de Brundtland (1984), definiu-se o desenvolvimento
sustentável como sendo o desenvolvimento capaz de atender necessidades do
presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender às suas.
Outro que teve relevante importância foi o Protocolo de Quioto (1997), que
exige dos países, compromisso com a redução da emissão dos gases de efeito estufa,
principalmente o dióxido de carbono (CO2). Tem importância particular, já que as
edificações são responsáveis pela maior emissão de gás carbônico, como mostrou a
figura 01.
Como os edifícios são produtos de grande vida útil, a importância de avaliá-los
quanto ao grau de sustentabilidade vem crescendo dentre os agentes do setor da
construção civil. E, é por meio das políticas de construção sustentável, que os pedidos
de licença e os códigos de edificações que o projeto sustentável sairão da esfera das
iniciativas voluntárias rumo às políticas públicas obrigatórias.
Os códigos de edificações sustentáveis representam, portanto, uma mudança
de paradigma, já que fomentam ou obrigam o uso de materiais e energia de alto
desempenho. É consenso entre alguns autores que, os melhores precedentes em
termos de legislações para as construções sustentáveis se encontra em São Francisco
na Califórnia.
Explanando de forma resumida, em 2008, o prefeito da cidade de São
Francisco, na época, Gavin Newson assinou a Lei nº 180-08, a mais abrangente já
adotada nos Estados Unidos. A mesma define metas quantificáveis para a construção
de edificações sustentáveis com níveis de exigência crescentes com o passar do
tempo. Aplica-se a todas as novas edificações comerciais e habitacionais licenciadas,
e também reformas de grandes edificações comerciais.
Outro exemplo é no estado da Califórnia (EUA) como um todo. Lá, os Códigos
de Edificações e de Energia são revisados a cada três anos. Sendo assim, o estado se
tornou em 2008, o primeiro dos EUA a incorporar padrões de construção sustentável
ao sei código de edificações. (KEELER; BURKE, 2010).
Por sua vez, o Brasil ainda não sancionou nenhuma legislação específica. Os
sistemas de certificação entram devagar no processo da construção civil aqui no país.
Sistemas estes, internacionais, que consistem em avaliar a incorporação de
estratégias sustentáveis a uma edificação comparada a construções convencionais.
Porém, que não se adequam totalmente à situação brasileira pelo fato de terem sidos
criados para analisarem outra realidade (seja ela climática, social e/ou ambiental).
Basicamente, as exigências tratam do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, que recai
sobre atividades com potencial nocivo considerável. Ou seja, por não haver nem no
Brasil, nem na América Latina, sistema de avaliação de sustentabilidade para projetos
nem normas específicas que abordem o assunto, aqui, a produção de edificações
sustentáveis ainda é voluntária.
Como a variedade dos sistemas de certificação é vasta, abaixo seguem os
mais vigentes. Vale ressaltar que esta diversidade consiste basicamente nas
aplicações específicas para determinadas regiões.
Criado no Reino Unido na década de 90, a metodologia de avaliação BREEAM
(Building Establishment Assessment Method), foi elaborado pelo setor privado e
conseguiu grande penetração no mercado interno e externo, tendo sido adaptado para
outras realidades. Tem como objetivo minimizar os impactos ambientais tanto de
empreendimentos em fase de projetos e já construídos cobrindo diferentes tipos de
edificações. (CSILLAG, 2007)
O LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), criado nos EUA na
década de 94, tem como principal objetivo ajudar a construir a consciência do edifico
verde, transformando assim, o mercado imobiliário e certificando com selo, os edifícios
que atingirem as metas estabelecidas. Existem versões diferentes, para avaliação de
edifícios de características distintas (comerciais, institucionais, residenciais, em fase
de projetos ou já construídos). Análise esta, baseada em pontuações já pré-
estabelecidas certificando os projetos em patamares de sustentabilidade. Ressalva
que, o cumprimento de todos os pré-requisitos é que torna o edifício elegível a passar
para a análise de desempenho. (CSILLAG, 2007)
O sistema japonês Casbee, criado em 2002, constitui-se de quatro sistemas de
análise: pré-projeto, novas construções, edifícios existentes e renovações – com foco
em arquitetos, engenheiros e projetistas. Sua analise define dois fatores – avalia a
qualidade e a performance do ponto de vista do usuário e as cargas ambientais do
edifício (avaliando seu impacto no entorno). (CSILLAG, 2007)
Lançado na França (em 1996), o HQE – Haute Qualité Environmentale é de
caráter nacional e voluntário, certifica edifícios não residenciais e aborda o processo
construtivo, desde o projeto até a manutenção do mesmo. Ou seja, procura avaliar a
intenção, execução e manutenção da obra. Sua estrutura de avaliação, e
fundamentada em 14 metas, denominadas de “cibles”.

As ferramentas práticas

A cada dia, as construtoras inserem em seu processo de produção, a


construção virtual dos edifícios, antes que eles sejam erguidos na realidade. Ela
permite o armazenamento e o compartilhamento de dados referentes ao projeto em
um único modelo, que pode ser acessado a qualquer momento por qualquer
integrante, mantendo-o sempre atualizado. Por ser uma metodologia de trabalho que
lida com as mais diversas disciplinas projetuais simultaneamente, permite antever
antecipadamente as incompatibilidades construtivas. Além de proporcionar um
quantitativo mais preciso dos materiais que serão necessários, esta forma de projetar
permite prever prazos através da visão sistêmica do processo produtivo e do controle
do ciclo de vida do projeto.
Hoje, arquitetos, engenheiros e demais profissionais da área, gastam mais
tempo na fase de execução, que na de concepção, em virtude dos imprevistos que
surgem in loco, e acarretam paralisações e atrasos. A tendência é que esta situação
se inverta, para que a produtividade e a qualidade aumentem. É um forte modelo para
aplicar no Brasil, pois aqui, muitos compradores adquirem seus imóveis ainda em
planta – modo de venda que chama por orçamentos sem margens de erro.
Trata-se de um processo cujo retorno financeiro não é de curto prazo, e que
exige alto investimento inicial destinado à aquisição das licenças de softwares e
qualificação da mão de obra. Sua implantação acarreta, inicialmente, na queda
temporária da produção e, para tanto, é necessário que a empresa esteja preparada
para sustentar o investimento necessário durante esta transição.
Mesmo com muitas vantagens, é consensual que não satisfaz todas as
necessidades de seus possíveis usuários. Muitos profissionais se queixam, por
exemplo, que estes aplicativos não disponibilizam banco de dados suficiente de
materiais que sejam do mercado brasileiro.
O ArchiCAD, bastante conhecido entre os softwares de modelagem 3D, possui
versão gratuita para Universidades, mas chega a custar até R$ 7.000,00 para o
trabalhador autônomo. Já o Revit, também conhecido programa com tecnologia BIM,
está disponível a custo zero para qualquer consumidor que tenha interesse em obtê-lo.
Cabe, portanto, ao profissional escolher o que mais se adequa a seu perfil.
No Brasil, a tecnologia BIM (Building Information Modeling) está sendo
implantada inicialmente por empresas que trabalham com grandes empreendimentos
(que tenham sistemas mais complexos). Futuramente, a tendência é que todos os
escritórios trabalhem com esta tecnologia. Da mesma forma que, caneta e papel hoje
não funcionam no mercado, com o tempo, o BIM se tornará uma exigência.

Alguns casos reais

Um bom exemplo, o Edifício Administrativo 2 (CH2), da Prefeitura da cidade de


Melbourne (Austrália), aproveita o vento, a chuva, a luz diurna e o ar noturno. Possui
sistemas de coleta e tratamento de águas servidas e fecais, sendo estas
reaproveitadas, juntamente com a água das chuvas, para fins de descargas sanitárias
e irrigação. A permeabilidade da luz natural é controlada por brises verticais, feitos de
madeira reciclada, que respondem aos ângulos solares com os horários de
acionamento programados de acordo com a estação. Brises estes, alimentados por
energia fotovoltaica e hidráulica operada por óleo de base biológica. (figura 02). Na
exaustão noturna, as janelas se abrem automaticamente para que o ar de menor
temperatura resfrie o espaço interno. Simultaneamente, microturbinas eólicas
contribuem para retirar o ar dos pavimentos através de dutos. Uma microturbina de
cogeração a gás produz calor que aquece a água utilizada pelos usuários da
edificação. O projeto de aproximadamente 12.500m² foi concluído em agosto de 2006,
e teve custo total aproximado de 41 milhões de dólares. O retorno dos investimentos
está estimado em 6 anos. (KEELER; BURKE, 2010).
Figura 02 – CH2 (Melbourne, Austrália)
Fonte: KEELER; BURKE, 2010, p.240.

Aldo Leopold Legacy Center, Wisconsin (EUA), foi construído em Abril de 2007
e funciona como um centro de ensino, acomodando escritórios, arquivos, exposições,
biblioteca, oficina e etc. O projeto obteve certificação LEED, com a pontuação mais
alta, concedida até hoje. Uma das características mais notáveis é o consumo líquido
de energia nulo, uma vez que a edificação gera 100% da energia consumida in loco
por meio do arranjo de painéis solares na cobertura. (figura 03).

Figura 03 – CH2 (Melbourne, Austrália)


Fonte: KEELER; BURKE, 2010, p.243.
No Brasil, o Centro de Integração do Comperj (CICJ), em São Gonçalo (Rio de
Janeiro), pode ser o melhor exemplo, Com a intenção de maximizar a eficiência
energética do edifício, o mesmo foi implantado no terreno, de forma a minimizar a
incidência solar nas fachadas. As faces mais expostas à luz do sol estão protegidas
por brises automatizados e programáveis para operar conforme a trajetória solar. As
áreas externas foram tratadas com pavimentação permeável, onde existem duas
cisternas subterrâneas, sedo uma delas responsável pela coleta de água da chuva –
posteriormente utilizada em descargas sanitárias e irrigação. O centro também dispõe
de uma estação para tratamento de esgotos, sendo a água depurada, reutilizável.

Figura 03 – CH2 (Melbourne, Austrália)


Fonte: KEELER; BURKE, 2010, p.243.

Conclusão

Uma prática para a minimização das consequências negativas que a


construção civil proporciona ao meio natural, é uma educação que vise integrar o
projeto de edificações sustentáveis ao currículo das faculdades. Os problemas e
princípios devem fazer parte desta educação direcionada, onde oss estudantes devem
aprender a solucionar problemas, supondo e prevendo as possíveis implicações de
suas decisões projetuais, pois, da mesma forma que há consequências ao atirar um
recipiente plástico ao lixão, as construções, ecológicas ou não, têm seu impacto sobre
o meio natural. Todas as atividades realizadas afetam, latente ou imediatamente, o
equilíbrio do meio ambiente.
No curso de Arquitetura da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
por exemplo, a disciplina Urbanismo e Meio Ambiente, antes optativa, foi inserida no
currículo desde 1997, e a Arquitetura e Sustentabilidade está disponível, porém de
forma optativa. No estado de São Paulo, na FAU – Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, há atualmente uma disciplina, chamada Ambiente Construído e
Desenvolvimento Sustentável - Moradia Social, com caráter optativo. Dentro das
disciplinas obrigatórias do curso de Arquitetura da Universidade FUMEC (Belo
Horizonte), há Arquitetura e Sustentabilidade Ambiental. Exemplos estes que podem
ser seguidos pelas demais universidades brasileiras. (VILLELA, 2007).
Projetar de forma integrada também pode ser considerada uma ação
sustentável. Alguns autores até defendem que os termos Projeto Sustentável e Projeto
Integrado devem ser vistos como equivalentes, já que cada decisão de projeto implica
em inúmeras consequências, e não em efeitos isolados. Com o projeto integrado
existem as inter-relações de cada material, sistema e elementos espaciais. É uma
forma de projetar de onde é possível tirar proveito do compartilhamento dos
conhecimentos específicos dos diferentes membros da equipe.
No projeto e/ou obra concluída é importante avaliar a eficácia do processo. Na
prática, o processo integrado não termina com a construção: a contratação de diversos
especialistas em manutenção garante que a edificação permaneça saudável e
funcional, confirmando que o processo de projeto teve o objetivo alcançado.
Apesar de ser uma prática que requer um tempo de projeto adicional durante a
fase de estudos preliminares – tempo necessário para a equipe questionar, discutir e
estimar as opções, seus impactos e custos das escolhas consideradas – o processo
ao todo envolve menos tempo.
As técnicas de Arquitetura Bioclimática defendem a otimização do uso dos
recursos naturais, maximizando seu potencial e reduzindo, ou até mesmo eliminando,
o conceito de desperdício. Um exemplo: o consumo de água pode ser reduzido na
fase de ocupação com o aproveitamento da água não potável (servida) e da água da
chuva coletada em usos que não sejam do consumo humano.
Sendo o projeto o ponto de partida do ciclo de vida do edifício, espera-se que
grande parte das soluções minimizadoras de seus impactos parta dos seus
planejadores. Como afirmam Zambrano et al (2009), a qualidade da edificação
depende do grau de comprometimento dos agentes envolvidos no desenvolvimento do
empreendimento. A melhor eficácia será resultado das melhores decisões.
A busca da sustentabilidade requer estratégias de planejamento de longo
prazo, onde a ideia principal está associada ao futuro, onde busca-se racionalmente
uma situação melhor que a atual, evitando ou minimizando problemas e aproveitando
benefícios. É desta forma, uma situação que se obtém instantaneamente. Trata-se de
um processo com mudanças e transformações que deve ter necessariamente a
participação de todos os setores da sociedade.

Referências Bibliográficas

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