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DO MESMO AUTOR Toure ‘sundata Stok Rio deat, anc: grt da temps EDGAR MORIN CULTURA DE MASSAS NO SECULO XX O Espirito do Tempo -I NEUROSE 58 EDICAO ‘Tradugio de: MAURA RIBEIRO SARDINHA FORENSE-UNIVERSITARIA io de Janeiro 2 A Indistria Cultural ‘As invengbes ‘6enicas foram necessirias para que & cultura industrial se tornasse possivel: © cinematdgrafo © © telegrato sem “io, principslmente. Hesas téenicas foram Utiizadas com frequente surpresa de seus inventores: 0 ‘cinematografo, aparelho destinado a registrar o movimen- fo, fol absorvido pelo espeticulo, 0 sonho © 0 lazer; 0 TSP, primelramente de uso ubllidrio, fol por sua vex Absorvido pelo jogo, a musioa o 0 divertimento. O vento que assim as arrasta em diregdo & cultura é 0 vento do Iuero capitalists, 3 para e pelo lucro que se desenvolvern fas novas artes técnicas, Nao ha duvida de que, sem 0 impulso prodigioso do espirito capitalist, essas invengoes ‘nko terlam conheelda um desenvolvimento tao radical e ‘macigamente orlentado, Contudo, uma vez dado esse im- ulso, o movimento ultrapassa o'capitalismo propriamen- fe dita: nos comegos do Estado Sovietico, Lenine e Trotsky Yeconheseram @ lmportancia social do cinema. A industria Cultural se desonvolve em todos os regimes, taito no qua- ‘dro do Estado quanto no da iniciativa privada. ois sistemas Nos sistemas ditos soctatistes, o Estado 6 senhor abso- luto, censor, diretor, produtor. A Ideologia do Estado pod portanto, desempenhar um papel capital. No entanto, mesmo nos Estados Unidos, a inicativa pprivada nunca fiea intelramente entregue sua propria evolugio: © Estado 6, pelo menos, policia, \'Do'Estado-soberano cultural ‘ao Estado-policia ha ‘uma gama de situagoes intermedidrias, Na Franga, por a exomplo, o Estado s6 interfere na fmprensa para dar auto- ‘Sango prévia, mas tem sob sua protogio agéncla Racio- hhal de informiglo (AP); no cinema, ele sutoriza © prol- be, subvenciona em parte a indistria'do filme, controls luma Sociedade de produgao; no rédio, ocupa uni monopo- Ho de aireito, mas tolera a concorréncia. efican de emis. ras periférieds (Luxemburgo, Europa n° 1, Monte Carlo, polltisagiio) — segundo o cariter liberal ou sutoritario da o, segundo 0 tipo de Estado intervenlente. ‘Nao levando em conta essas varidvels, pode ‘que se ha iguaimente a preocupacto de atingir o maior pi UBico possivel no sistema privado (busea do maximo ie ero) € no sistema do Hstado (interesse politico e ideols ‘Blco), o sistema privado quer, antes de tudo, agredar ao onsuimidor. Ele fara tudo para reerear, divertir, dentro dos limites da censura..O sistema de Estado quer conven. ‘cer, educar: por um lado, tende a propagar uma ideologis ‘Que pode aborrecar ou irritar, por outro lado, no ¢ st ‘iulado pelo tuero e pode propor valores de “alta cultura” (palestras clentificas, musica erudita, obras classics). O sistems privado ¢ vivo, porque divertide. Quer adaptar ‘sua cultura ao publica. G sistema de Estado ¢ afetado, {or edo. Quer adaptar o pablico & sua cultura, # a alternativa entre a velha goverahta deserotisada —anastécia — Pin-up que entreabro 0s 1abi0s. ‘Sendo preciso colocar o problema em termos norma- tivos, no existe, a meu ver, escolna fazer entre 0 sis- tema de Estado'e 0. sistema privado, mas a necessidade de instituir uma nova combinagao, ‘Enquanio isso, ¢ na concorréncis, no selo de uma ‘mesma nagio, entre sistema privado e sistema de Bstado (para 0 radio, a televisso eo cinema) quie os aspectos, ‘mais inquletatites de-um e de outro tém as melhores opor funidades de se neutralizarem, e quo seus aspectos rhals {nteressantes (Investimento cultural no alstema de Estado, ‘consumo cultural Imediato ‘no sistema privede) podem 23 Gesenvolver-se. Tss0, bem entendido, colecado abstrate- mente. ‘io exarainarel neste ensaio 0 problema dos apéndices| eulturals da politica de Estado, nem o sistema cultural fito “socialista”, ainda que, com excegio feita a China, feista om seu selo penetragdo de elementos da cultura de muses 2 americana. © objeto de meu estudo sio os pro- fess0s culturais que se dasenvolveram fora da esfera de brientacdo estatal(religiosa ou pedagégica) sob o impulso pPrimelro do capitalismo ‘privado © que podem, de resto, ‘Se difunair com o tempo até nos Sistemas culturais esta tis. Para ovitar qualquer confusso, empregarel o term ‘de cultura industrial para designar os earacteres comuns 4 todos os sistemas, privattos ou de Bstado, de Oeste © de Leste, reservando @ termo de cultura de massa para ‘cultura industrial dominante no Oeste. Produgdo-Criacto: (0 modelo burderdtico-industrial Em_um e em outro caso, por mais diferentes que seam os contetidos culturais, hd concentracko da indus- ‘ria cultural A imprensa, 0 rédio, a televisto, o cinema so indus. trias ligeiras pelo aparelhsmento produtor, #80 ultraligel= rus pela mercadoria produalda‘ esta fica gravada sobre a {otha do Jornal, sobre a pelicula cinematografiea. voa sobre ‘ss ondas e, no momento do consumo, torna-se timpalpivel, luma vez quo esse consumo ¢ psiquico. Entretanto, ess indisiria ultraligeira esté organizada segundo 0 modelo da industria de maior concentracto téeniea econdmica No quscro privado, alguns grandes grupos de. imprensa, slgumas grandes cadelas de radio e televisio, algumas 60° Ciedades “cinematografieas concentram em seu poder © aparelhamento (rotativas, estidios) © dominam as com- nleagoes de massa. No quadro publico, 6 0 Estado que assegura a concentragao. ‘A essa concentraghio téenica corresponde uma eoncen- tracio burocrdtiea. Um Jornal, uma estagao do radio € de televisio so burocraticamente orgamtzados, A orgasiign- “ ‘edo urocritica filtra a idéla eriadora, submete-a a exame ‘antes que ela chegue &s miios daquele que decide — 0 pro- ‘dutor, 0 redator-ehefe. sta decide em fungi de conside. ragdes andnimas: a rentabilidade eventual do assanto pro posto (Inieiativa, privada), sua oportunidad polition (B= ‘tado), em seguida remete 0 projeto para as maos de to nnlcos ‘que o submetem a suas propriss manipulacdes, im lum e outro sistema, 0 “poder cultural", aquele do autor da cangao, do artigo, do projeto de time, da iaéie radio- toniea se éncontra imprensado entre o poder burocrétles e-0 poder’ teenleo, A concentragao téenico-burooritica pesa universal ‘mente sobre a produgio cultural de massa. Donde a ten

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