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Resumo
A área jurídica passou a abranger a psicologia jurídica, mais especificamente a
avaliação psicológica, no século VXIII, quando os saberes psicológicos passaram a ser
indispensáveis e auxiliares no processo de julgamento de delitos. Contudo, ainda há a
necessidade da discussão e aprofundamento sobre instrumentos e técnicas utilizadas
pelos examinadores no âmbito jurídico e também acerca das leis que regularizam a
profissão dos psicólogos jurídicos. Conforme é defendido neste artigo, o psicólogo
desempenha um papel importante na apuração de fatores específicos requisitados pelo
Judiciário, tais como avaliação das características da personalidade, análise de
periculosidade e outros exames psicológicos, e em perícias de questões referentes à
saúde mental, ao ambiente carcerário, bem como à personalidade e à dinâmica de
funcionamento do indivíduo encarcerado, fornecendo subsídios ao processo judicial. O
presente artigo tem o objetivo de apresentar a atuação do psicólogo jurídico nas
instituições jurídicas e prisionais, enfatizando o processo da avaliação psicológica.
Apesar de a psicologia estar ramificada no Direito há mais de dois séculos, são
necessárias criações de testes e técnicas mais específicos ao sistema jurídico, assim
como a atualização das técnicas já existentes.
1. Introdução
O tema escolhido para ser apresentado é algo que há muitos anos me causa
interesse, antes mesmo da escolha do curso de graduação. Vinda de uma família
composta por muitos policiais, advogados e pessoas ligadas ao Direito, o mundo
jurídico sempre me rodeou. Durante a graduação, cursando a matéria de Psicologia
Jurídica, fui convidada a conhecer o Complexo Penitenciário da Papuda, um presídio de
segurança máxima, sediado em Brasília, para fazer entrevistas com os psicólogos que
ali trabalhavam.
Durante as conversas, os profissionais relatavam que haviam sido aprovados
em concurso público para agentes penitenciários, e não para psicólogos. Entretanto, em
razão de sua formação acadêmica, foram alocados em outra função. Contaram um
pouco de suas rotinas, demandas de trabalho e dos desafios diários. As informações
passadas por eles, os sentimentos despertados em mim e a aproximação com os
detentos despertaram em mim ainda mais a curiosidade e o encantamento pela área.
O presente artigo tem por objetivo discutir a importância da avaliação
psicológica dentro do contexto jurídico e a atuação do psicólogo junto ao Direito Penal.
Esse profissional, também designado como perito, é chamado a atuar em
processos criminais de diversas formas. Com seus conhecimentos e técnicas, tem o
objetivo de auxiliar a Justiça em questões relativas à saúde mental dos envolvidos em
processos penais, mediante a avaliação psicológica de suspeitos, compreender as
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do juiz em seu poder decisório, portanto, esta tem como finalidade última
auxiliar o juiz em sua decisão acerca dos fatos que estão sendo julgados.
1.3 Inimputabilidade
Outro ponto por se destacar é a atuação interdisciplinar entre Psicologia e
Direito, especialmente nos casos que requerem atenção especial, como o das pessoas
com transtorno mental, consideradas inimputáveis perante o Judiciário, porém autoras
de delitos (CORREIA; LIMA; ALVES, 2007).
De acordo com Silva (2011), a inimputabilidade é uma palavra com raízes no
campo da saúde mental e essencialmente utilizada no âmbito jurídico, tendo como
significado a impossibilidade de o sujeito realizar um ato com pleno discernimento, ou
seja, sem consciência e/ou juízo de realidade.
Para Cosmo et al. (2011), o filósofo Aristóteles foi o precursor da noção de
responsabilidade penal ao afirmar que esta só existe se o sujeito, no momento em que
cometeu o crime, tinha a capacidade de conhecer a natureza e as consequências de
seu ato, caso contrário ele deve ser considerado inimputável, isto é, não sendo
responsável criminalmente, tampouco civilmente, pelo seu comportamento. Dessa
maneira, não deve ser atribuída nenhuma pena judicial aos indivíduos acometidos de
transtornos mentais. Por ser doente, o sujeito necessita de ser acompanhado pelas
estruturas da psiquiatria e da psicologia.
Em alguns casos, quando o agente é considerado como doente mental e
cometem atos criminosos, ainda que tenham algum transtorno mental e também
consciência do ato praticado e se autodeterminar quanto ao comportamento criminoso,
deverão ser julgados antes de serem tidos como inimputáveis, mesmo que no futuro
possam vir a ser inseridos num plano terapêutico (TEIXEIRA, 2006).
O art. 26 do Código Penal refere-se exclusivamente à inimputabilidade penal
em caso de doença mental e declara ser “isento de pena o agente que, por doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado era, ao tempo da ação ou
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento [...]” (BRASIL, 1940). O mesmo Código Penal, no
art. 41, prevê que qualquer condenado que apresente doença mental tem de ser
recolhido a hospital de custódia ou a estabelecimento adequado.
Souza (2008) destaca que o ponto mais importante e necessário é
estabelecer e definir o real conceito e extensão de doença metal que deve ser levado
em conta para efeitos de avaliação da imputabilidade e quais os critérios que devem
compor a perícia que irá fornecer o laudo para o magistrado, pois não cabe ao perito
definir se o arguido é ou não imputável, devendo apenas referir se no momento do
crime o agente teria capacidade ou não de se autodeterminar. O ato de julgar se o
sujeito é imputável ou não ficará a cargo do juiz. O perito deverá somente responder às
questões (quesitos) do juiz, e se porventura algum dos quesitos versar sobre a
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tendo em vista que antes era considerado obrigatório no regime fechado e facultativo no
regime semiaberto (BRASIL, 2009). O texto menciona que, para efeito de progressão
de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da
execução pode determinar, de modo fundamentado, a realização de exame
criminológico. O atual entendimento que prevalece nos tribunais superiores é que se
trata de um assunto facultativo, não importando o regime de cumprimento de pena),
devendo o magistrado fundamentar sua necessidade.
Nesse mesmo diapasão, em 2010 o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
editou a Súmula nº 439, admitindo o pedido do exame criminológico pelas
peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada, embora se faça necessário
somente o atestado de bom comportamento, firmado pelo diretor do estabelecimento
prisional. Veja-se parte do teor da súmula, em que é citado antecedente jurisprudencial:
[...] de acordo com o art. 112 da Lei nº 7.210/1984, com a redação dada pela
Lei nº 10.792/2003, para a progressão de regime, não mais se exige seja o
apenado submetido ao exame criminológico, cuja realização pode ser
determinada, desde que devidamente motivada a decisão [...]”.
“De acordo com as alterações trazidas pela Lei 10.792/03, o exame
criminológico deixa de ser requisito obrigatório para a progressão de
regime, podendo, todavia, ser determinado de maneira fundamentada pelo
juiz da execução de acordo com as peculiaridades do caso. Assim, mesmo
que não tenho sido realizado em primeira instância, o exame criminológico
pode ser determinado pelo tribunal a quo, desde que este se funde em
elementos concretos (relativos sempre a fatos ocorridos no curso da execução
penal) a apontar para a sua necessidade. [...]” (HC 94577 SP, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
15/05/2008, DJe 02/06/2008). (BRASIL, 2010, grifo meu)
Art. 4º. Conforme indicado nos Art. 6º e 112º da Lei n° 10.792/2003 (que alterou
a Lei n° 7.210/1984), é vedado ao psicólogo que atua nos
estabelecimentos prisionais realizar exame criminológico e participar de
ações e/ou decisões que envolvam práticas de caráter punitivo e
disciplinar, bem como documento escrito oriundo da avaliação psicológica
com fins de subsidiar decisão judicial durante a execução da pena do
sentenciado. (CFP, 2010, grifo meu)
Uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra
o CFP e o Conselho Regional de Psicologia da Sétima Região (CRP7ª) pede a
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2. Considerações finais
O artigo apresentou um breve histórico sobre o início da atuação profissional
do psicólogo no contexto jurídico, demonstrando que, ao longo dos anos, sua prática
tem se expandido em razão dos variados contextos em que está inserido
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Referências
______. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 439 [2010]. Terceira Seção. Julgado em
28//2010, DJe 13/5/2010. Disponível em <https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?
livre=(sumula%20adj1%20%27439%27).sub.#TIT1TEMA0>. Acesso em: 1º set. 2020.
CORREIA, L. C.; LIMA, I. M. S.; ALVES, V. S. Direito das pessoas com transtorno
mental autoras de delito. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 9, p.
1995-2012, set. 2007.
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1997.
ROVINSKI, Sonia Leal Reichert. A perícia psicológica. In: Aletheia, Canoas, RS, n. 7, p.
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ROVINSKI, S.L & Elgues, G.Z. Avaliação Psicologia na área forense: uso de técnicas
e instrumentos. In: III CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE PSICOLOGIA
JURÍDICA, 1999, São Paulo. Anais [...]. São Paulo, Universidade Presbiteriana
Mackenzie, 1999, p. 361-363.