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e de gênero e nov
descentrament
Um manifesto queer caboc
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Diversidade sexual
vos e de gênero e novos
tos: Um manifesto
descentramentos:
queer caboclo
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E S T Ê VÃ O F E R N A N D E S
Universidade Federal de Rondônia
FABIANO GONTIJO
Universidade Federal do Pará
Fernandes, Estêvão | Gontijo, Fabiano
Este não seria, certamente, o texto que e omissa. Neste contexto, chamar ao
originalmente nós submeteríamos a primeiro plano enunciatório tais vo-
esta edição da Amazônica. Infelizmente, zes, em especial desde seu cruzamento
temos adotado, em nossa retórica an- com questões de sexo, afeto e gênero,
tropológica, cada vez mais uma pers- traz à lume as contradições de um sis-
pectiva na medida do possível epistemológico tema de normalizações compulsórias
neutra, objetiva e externa aos fatos, que somente existe para justificar sua
buscando nos posicionar de tal modo própria existência. Desta forma – e
no exterior que trocamos o locus polí- chamávamos a atenção a isso naque-
tico inerente à guinada intersubjetiva la “Apresentação” –, a divisão entre a
pela discreta não-posição, escondidos epistemologia e uma visada politica-
por trás de uma ou duas dúzias de refe- mente engajada soa não apenas vazia,
rências bibliográficas, nos autorizando mas cínica e contraprodutiva. Ao con-
a não-dizer, reproduzindo – e corro- trário, a proposta de um queer caboclo,
borando – posições de poder – den- amazônida, ribeirinho, nos impõe a
tro da academia, inclusive – bastante premência de uma epistemopolítica contra-
arraigadas em nosso ethos institucional, -reprodutiva.
disciplinar/disciplinado e dessituado/ De fato, não se trata apenas de pro-
dessituacionado. Este texto se propõe, por um conceito de “transversalidade”
talvez de forma bastante visceral e in- bem-comportado fazendo uso das tra-
tuitiva, a recuperar o espírito do texto dicionais categorias de gênero, raça, et-
de “Apresentação” do primeiro dossiê nia, etc., o que equivaleria à busca por
que organizamos na ACENO: Revista aceitação e integração em um campo
de Antropologia do Centro-Oeste, junta- acadêmico muito bem delimitado, mas
mente com Moisés Lopes e Martinho sim, justamente o oposto: um não-
Tota (Fernandes, Gontijo, Tota & Lo- -integracionismo, um contraponto ra-
pes 2016). dical às dinâmicas desde as quais estes
Naquele texto, chamávamos a aten- outros lugares são esvaziados de seu
ção para a mudança nos rumos que a potencial de crítica aos processos de
política brasileira impunha/impõe no heteronormatização, enquadramentos
que diz respeito ao estudo da diversi- coloniais, domesticação do corpo e dos
dade sexual e de gênero em contextos afetos, etc. Não se trata apenas de cha-
como os que nos propomos a inves- mar a atenção aos processos de poder
tigar – sujeitos étnica e/ou racialmen- e dominação, mas de torná-los lugar de
te posicionados, coletivos rurais e/ou fala; trata-se de se tomar como lugar
interioranos, culturas não centradas privilegiado a fronteira, o não lugar, a
em uma retórica moral(izante) moder- “zona de não-ser” (Fanon), o in-between,
na de classe média urbana e branca, o pós-posicional, o relacional, o estar-
etc., que tendem a ser subalternizados -siendo de que nos fala Rodolfo Kusch
como parte da própria dinâmica social alhures. O queer, aliás, é notadamente
de uma sociedade como a nossa, co- um movimento anti/de/pós/contra-
lonizada, heteronormativa, “coxinha” -colonial, dado que processos de he-