TEORIA SOCIOLÓGICA III - PROF. EDUARDO VILAR BONALDI
Roberta Gomes Pedrozo - 19101126
Abril, 2021.
RESENHA
ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador. v.1, Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
Norbert Elias nasceu na antiga Prússia, em 1897. Faleceu em 1990,
quase uma década depois, aos 93 anos, nos Países Baixos. Uma das principais crenças do autor - presente em suas obras - é de que os fenômenos sociais só podem ser observados como processos em andamento, acumulativos. Elias vai contra a ideia comum de que a ciência existe para reduzir e simplificar fenômenos complexos. Como os fenômenos não são estáticos, a teorização, muitas vezes, é mais complicada que simplificada.
“O Processo Civilizador” é a obra mais importante e influente de Elias.
Em 1998 a International Sociological Association listou a obra como o sétimo livro sociológico mais importante do século 20. A obra foi publicada em dois volumes e, ironicamente, o livro ignorado quando publicado. Ficou popular somente em 1969, trinta anos depois, e só aí foi traduzido para outros idiomas.
O primeiro volume da obra é uma pesquisa sobre as origens dos
costumes ocidentais. Elias analisa os padrões de comportamentos e como as normas sociais (o comportamento “civilizado” e aceito socialmente) moldam a forma de agir e de sentir das pessoas. O autor usa essa análise como base para pensar as emoções humanas e, para isso, busca referências históricas. A obra analisa desde o declínio do feudalismo, na Idade Média, até o começo da Idade Contemporânea, e chama muita atenção especialmente para o fim do feudalismo.
Com o fim dos feudos as configurações de funcionamento internas, os
costumes que se mantinham lá dentro, foram se expandindo para uma escala maior: o Estado Moderno. Em organizações maiores, como o estado, é impossível vigiar e controlar os indivíduos de perto. Logo, eles próprios devem incorporar mecanismos de autocontrole de suas pulsões e desejos. Elias põe esse como problema chave do processo civilizador: fazer barrar os instintos. Esse controle pode vir de duas formas, interna ou externa (através do estado, das leis, da polícia, etc). O deslocamento de uma escala pequena de configurações para um grande sistema como o Estado Moderno só é possível com a internalização desses mecanismos de autocontrole
A partir dessas análises, o autor estabelece uma relação de
interdependência entre o indivíduo e a sociedade, onde uma não é separada da outra como a sociologia da época pautava. Isso tudo em escalas variadas - famílias, tribos, um país, e até a sociedade global. A partir da história dos costumes Elias também estabelece a ideia de que as normas sociais são resultado da história das normas sociais; é um processo acumulativo, em constante transformação conforme o tempo passa e os contextos mudam. Esses padrões de costume podem, inclusive, gerar uma falsa sensação de que os indivíduos são únicos e autônomos, quando na verdade toda noção que se tem sobre a vida foi absorvida da sociedade a em determinado momento, e refletida também nessa mesma sociedade. Porque, mais uma vez, o ser humano não está separado da sociedade.
Quanto aos sentimentos, portanto, Elias mostra como eles se
transformam através do tempo – já que são baseados em pressupostos absorvidos, e não vindos de forma “natural” e “pura” -, relevando uma herança Freudiana; o pai da psicanálise já falava sobre como é possível reprimir os instintos humanos. As mudanças históricas das figurações impulsionam as mudanças psíquicas, a partir dos mecanismos internalizados que operam cada vez mais rigidamente, segundo Freud.
Segundo Norbert Elias, “a mudança é uma característica normal da sociedade”
(ELIAS, 1994, p.222). Ler “O Processo Civilizador” é mergulhar na história dos costumes ocidentais e entender que as coisas nem sempre foram como são hoje, e que o presente é resultado dos fenômenos passados.