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A COMPREENSÃO FILOSÓFICA DO EDUCAR E A CONSTRUÇÃO DA

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

Neste capítulo pretende-se abordar a questão da identidade da filosofia/realidade


educacional.
Nos últimos tempos tem sido cada vez mais debatido o sentido e o papel de um campo
epistémico próprio da filosofia da educação, no seio da comunidade da área educacional.
Na última década foram realizados vários ensaios e pesquisas, focando a temática da
Filosofia da Educação.
Neste capítulo é feita uma abordagem especificamente filosófica de todos os aspectos
da realidade educacional e a relação entre a filosofia e a educação.

Tríplice Movimento do trabalho:

É destinado à prática dos


1º Natureza Homens
Filosófica

3º Busca mostrar que a Trabalho


Filosofia da Educação
constitui como
modalidade teórica

Articula-se o conhecimento
2º Educação como
teórico para se aplicar no
prática mediadora da
contexto
prática realhistórico - social da
existência.
Destinada a intencionalizar a
prática educativa perante os
valores, significados e também na
construção de uma imagem do
Homem que necessita educar.

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O Conhecer, o Filosofar e o Educar

Uma primeira aproximação do sentido da Filosofia pode ser caracterizada como sendo
o esforço que o homem faz para compreender a realidade, em busca de um significado mais
denso, aprofundado e completo. Pode dizer-se então que se trata de uma forma, modo de
conhecimento. Este ponto de vista coloca-se ao lado de muitas outras formas de
conhecimento, desde o senso comum, passando pela religião, pelo mito, arte, ciência, que se
constituem como esforços do homem para compreender s realidade que os envolve.
O conhecimento pode ser designado como sendo o esforço do espírito humano para
compreender a realidade e a significação que é resultante de uma intencionalização.

O modo de pensar metafísico e a educação como realização essencial

Na antiguidade e na Idade Média, filosofia era sinónimo de metafísica, considerada


como forma superior e total de conhecimento. Esta fundamenta-se na crença da capacidade
da razão humana em aceder ao sentido íntimo das coisas pela apreensão da sua essência.
A essência era designada como sendo um conjunto de características, cujo processo de
articulação, independentemente de qualquer realização concreta, já estaria pré -estabelecido.
A filosofia surge na história da cultura ocidental, apresentando-se como forma de
conhecimento absoluto, superior, total e sintetizador, apto a dar conta do conjunto integral da
realidade.
A tradição da filosofia da educação é que o processo educativo é visto como sendo um
processo de actualização da essência do ser educando, perante o desenvolvimento das
potencialidades latentes.
A filosofia da educação vê o homem concreto, histórico e contingente.

O filosofar como auto-reflexão e o educar como formação do sujeito

Com o aproximar da modernidade a modalidade metafísica foi radicalmente criticada,


vindo a criar uma nova configuração para a filosofia.
A filosofia toma dois caminhos, um primeiro assume como campo específico o sujeito;
o outro assume a filosofia como procedimento reflexivo transcendental.
A filosofia moderna transforma-se então em epistemologia, o que a leva a
transformar-se numa filosofia de sujeito.
A perspectiva do filosofar tem forte influência na configuração de uma postura
filosófico - educacional marcada pela ideia de que a educação é o processo de construção do
próprio sujeito. Nesta perspectiva a educação é sempre encarada como um investimento feito
pelos sujeitos.
A educação identifica-se então com o próprio método do conhecimento, como o
exercício da vivência da consciência.

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A filosofia vinculada à ciência e a educação como funcionalidade técnica

Determinados filósofos identificam a filosofia como uma actividade metacientífica, isto


é, ela só tem legitimidade se limitar a lidar e a clarear a linguagem e os procedimentos
científicos. A modernidade coloca a filosofia como serva da ciência e é só a ciência que produz
conhecimento verdadeiro. “A única episteme verdadeira é aquela produzida pela ciência”.
Toda a metafísica carece de sentido! Actualmente a ciência é vista como um sistema de
proposições directamente alusivas à experiência e cada nova proposição deduzida pode ser
novamente testada experimentalmente. Daqui resulta que a experiência e a linguagem se
completam e se consolidam mutuamente. A filosofia irá fornecer ao discurso científico uma
linguagem rigorosa.
Quem conhece a realidade é a ciência, pois a filosofia apenas analisa a linguagem, isto
é, torna claras e precisas as ideias. É também a filosofia que contribui para a consolidação do
exercício crítico que a constituição da ciência representou ao desconstruir a empreitada
metafísica. Também a Filosofia da Educação á atingida pela ciência e o seu desenvolvimento e
também a educação passa a ser pensada à luz das novas categorias explicativas fornecidas por
diversas ciências que vão desde a biologia à sociologia. Daqui também decorre a tendência a
atribuir, como tarefas fundamentais à Filosofia de Educação a justificação epistemológica do
empreendimento educativo e a defesa da utilização dos recursos técnico-científicos para a boa
condução dos processos pedagógicos.
O único conhecimento objectivo é aquele exercido pela ciência e o conhecimento
filosófico realiza uma relação significativa entre elementos, dando um sentido aos dados da
experiência humana.

A filosofia como sabedoria, a educação como cultivo da sensibilidade desejante

À filosofia é atribuída a condição de mera sabedoria. Para Piaget conhecimento ≠


pensamento. O trabalho do conhecimento limita-se ao experimentável e ao dedutivo. A
filosofia só pode pensar e não conhecer mas não se pode reduzir a uma simples sabedoria
coordenada de valores. Algumas das preocupações de algumas vertentes filosófico-
educacionais giram em torno de caminhos e de possibilidades do agir do sujeito que procura
ampliar o seu território de autonomia. Quando se abordam temas educacionais, denuncia-se o
seu carácter sistémico. A filosofia propõe contestar a cumplicidade saber/poder e só lhe
interessa a subjectividade do corpo e não a do cogito.

O filosofar como prática histórica do conhecimento e a educação como prática


política

Também a tradição filosófica ocidental tem tentado dar significado ao que é o


conhecimento, qual o seu lugar e qual a sua relação com a educação. Na verdade o
conhecimento é a única ferramenta de que a espécie dispõe para dar um sentido orientador
para a sua existência histórica real. Sem dúvida que a substância do existir é a prática! Só se é
algo mediante a acção. É na e pela prática que efectivamente as coisas humanas acontecem,
que a história se faz e que o próprio homem se vai tornando mais humano. A esfera básica da
existência humana é aquela do trabalho, a vida depende da troca entre o organismo e a
natureza física. Essa esfera da prática produtiva constitui o universo do fazer. A espécie
humana só é humana quando se organiza numa sociedade. Esta sociedade é atravessada e

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impregnada por um coeficiente de poder, isto é, os elementos da sociedade colocam-se
hierarquicamente uns sobre os outros, e assim se torna numa sociedade política.

O sentido do existir humano não se dá apenas como decorrente da experiência


estetizante dos sujeitos. A significação do agir humano passa por factores como a sensibilidade
afectiva, a emotividade e a subjectividade desejante. Toda a expressão emocional da
subjectividade humana é igualmente atravessada pela dimensão epistémica do saber.
Pode-se então equacionar a existência humana como a junção de trabalho, sociedade
e cultura.
Espera-se que a educação seja um processo de humanização e cabe à Filosofia da
Educação delinear uma visão da realidade humana.

A filosofia e a Educação: O carácter formativo do conhecimento filosófico

Desde que se conhece a prática filosófica, nas diferentes partes do globo, verifica-se
que esta se compara à prática educacional. Na história, os filósofos eram educadores. Como
exemplo disso tinha-se os sofistas que eram constituídos por grupos de mestres que viajavam
de cidade em cidade realizando aparições públicas para atrair estudantes. Assim, desde o
nascimento e ao longo da história, a filosofia contínua a ter um carácter pedagógico e é a
grande formadora do humano no meio social.
A educação é o mediador entre o conhecimento na intencionalização da prática ou
seja, o objectivo da educação é fazer passar o conhecimento para que se faça intencionalizar
na prática e assim indicar os fins que sejam especificamente humanos.
Assim, podemos dizer que a filosofia da educação é o estudo dos objectivos, dos processos, da
natureza e dos ideais da educação. Pode estar dentro do contexto da educação como uma
instituição social ou mais amplamente como o processo de crescimento existencial humano,
isto é, como é que nossa compreensão do mundo é continuamente transformada (seja através
dos factos, dos costumes sociais, das experiências, ou mesmo das nossas próprias emoções).
Por esta razão, a filosofia da educação deve ser entendida como uma reflexão sobre os
valores, uma vez que a educação é uma prática baseada em valores desempenhando assim
uma tarefa axiológica.
Não dependendo única e exclusivamente de referências axiológicas, o agir humano
também está envolvido igualmente com significados conceituais que dá o entendimento a
vastas variáveis do mundo objectivo, no qual o ser humano se encontra. Por isso, esta filosofia
educacional tem também de desempenhar uma tarefa epistemológica não se rendendo
totalmente a ela.
Impõe-se à filosofia da educação a construção de uma imagem do homem como
sujeito fundamental envolvido na educação. Como tal, a Filosofia da Educação constitui-se
como uma antropologia filosófica, entendida como a construção de uma visão integrada do ser
humano e como antropologia que ainda tem de ser construída. Essa antropologia tem de ser
desenvolvida como uma reflexão sobre a história e a sociedade.

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