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Argumentações da defensoria

1. Tiradentes era um traidor


1.1. A pergunta é: por quê? Vamos começar a destrinchar quais eram os objetivos da
inconfidência mineira e principalmente esclarecer seus motivos.
- Eliminar a dominação portuguesa;
- Uma independência com os alicerces iluministas;
- Aplicar uma república;
- A revolta aconteceria no dia da derrama, pois reclamavam por impostos justos;
1.2. Os motivos de Tiradentes:
“No começo, Tiradentes se envolveu na trama pelo mesmo motivo da
maioria de seus companheiros: insatisfação pessoal com a Coroa.
Com o passar do tempo, já dentro do movimento, Joaquim adquiriu
consciência política e compreendeu que a luta em que estava envolvia
causas nobres, como a instalação da República e o fim da cruel
dominação portuguesa”. - Conta Luiz Villalta (professor do
departamento de história da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG)
1.3. É importante lembrarmos que uma parcela do plano consistia na união do povo, não somente
de um grupo que daria um fatídico golpe. A prova disso foi Tiradentes se encarregar de
disseminar o discurso entre o meio público, garantido o apoio do povo no qual se calava diante da
opressão portuguesa. Tendo isso em mente, podemos concluir que sim, a inconfidência mineira
foi uma abordagem da elite (por mais que tivesse iniciado a partir dela), mas também foi uma
abordagem do povo que vivia sob o constante medo de se manifestar perante a sombra da morte.
1.4. Buscando um exemplo histórico, traremos D. Pedro I as margens dessa discursão. Em 7 de
setembro de 1822 o mesmo declara a independência, seria D. Pedro um traidor da sua própria
dinastia portuguesa? O dito cujo se desalinhou dos domínios portugueses com o mesmo espírito
e interesses próprios que o nosso réu, mesmo que em proporções diferentes ambos buscavam a
mesma coisa, devemos classificar D. Pedro I como traidor também? O que diferencia um herói de
um traidor? Seria o êxito político de sua ação ou seria somente devido a eles agirem na
ilegalidade do governo que estavam estabelecidos? Ambas respostas nos levam a alguns nomes:
Lampião, por exemplo, não seria mais do que um ladrão e assassino, portanto, sem mérito para
aparecer em nossa história. Suas atitudes foram uma crítica ao descaso policial e político da
época, mas ainda sim eram oriundas de crimes, muitos consideram-no uma figura heroica
levando em conta uma análise da história vista agora do futuro.
1.5. Atentando-se para uma questão, é fato que se o plano da inconfidência mineira tivesse dado
certo, o Brasil que conhecemos hoje não seria o mesmo, contudo, sem a presença de Tiradentes
e desse movimento, muito provável que também se alterariam. O movimento não trouxe
mudanças estruturais, ficou apenas limitada ao papel, entretanto, a influência nas demais revoltas
e até mesmo sua imagem construída durante o regime da república nos guiou gradativamente ao
regime que temos hoje, ele participou de nossa história inconstantes vezes e mostrou significado,
portanto, nada mais justo que atribuir Tiradentes um caráter protagonista em nossa história, um
herói da identidade brasileira.

2. Seu heroísmo foi forjado


2.1. De fato, o heroísmo de Tiradentes foi resgatado por conveniência pelos militares, porém isso
não retira o mérito da escolha. Joaquim foi um homem que perdeu sua vida pelo que acreditava,
um exemplo de brasileiro para se expor nos quesitos de: amor a pátria e a política.
2.2. Ele era um ativista político que visava livrar sua terra das garras que apenas sugavam
insaciavelmente as riquezas que nela obtinham, levando-as para o exterior.
2.3. A única justificativa plausível pela qual ele pode não ser lido como herói nacional, seria a de
que, seus ideais não terem saído do papel, por não ter sobrevivido o suficiente e feito uma
revolução justaposto com seus companheiros. Mas também temos heróis como Zumbi dos
Palmares que lutava por uma causa coerente e acabou por ser calado da pior forma, nem por
isso sua luta foi insignificante.
2.4. Uma outra questão pertinente seria a de haver heróis mais ‘’merecedores’’, mas estão vos
digo, ponha-os em destaque, não há necessidade de excluir os que já estão postos. Tiradentes
exerce sim uma importância, foi um pioneiro na luta das injustiças na qual influenciou as revoltas
que sucederam como a conjuração baiana e a revolução pernambucana, que gradativamente
apresentaram conquistas políticas. – Na história, uma ação move a outra.
“Tem gente que quer que Tiradentes seja um ‘santo’, mas ele foi um
homem, com paixões, defeitos e qualidades”. - Diz o professor do
departamento de história da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Luiz Villalta, que pesquisa o tema há quase quatro décadas.
2.5. O que é ser um herói nacional? Pode ser caracterizado como: símbolo de identificação
coletiva utilizado para legitimar um regime ou ideal político. Torna-se injustificável não legitimar
esse homem na história em que compõe nosso país, de qual exemplo podemos retirar honra,
amor a pátria e as suas virtudes políticas? De qual indivíduos podemos espelhar esperança por
um país melhor se não de Joaquim José da Silva Xavier Tiradentes? A sua coragem e
determinação pioneira guiaram e abriram os olhos de indivíduos que viriam posteriormente.
2.6. Últimas palavras:
“Pois seja feita a vontade de Deus. Mil vidas eu tivesse, mil vidas eu daria pela libertação da
minha pátria”, teria dito Tiradentes ao ouvir sua sentença de morte.

3. Apoio a escravidão
3.1. Essa acusação é muito válida para os dias de hoje, onde a escravidão é criminalizada. Mas,
novamente, se formos pensar no século XVIII, que foi a época em que Tiradentes viveu, o Brasil
era uma colônia de Portugal, sendo a mão de obra escrava, portanto, o alicerce daquele Estado.
3.2. De acordo com Leyla Lopes Melo (Professora, advogada, pesquisadora, historiadora e
membro da academia Friburguense de Letras) quando Tiradentes operava como tropeiro, acabou
por vender as mercadorias e os animais para pagar uma pesada multa e as custas do processo,
por ter socorrido um escravo, que estava sendo castigado.

4. Ele era elitista, só estava defendendo seus interesses


4.1. Vinha de uma família com estrutura financeira, porém ficou órfão cedo, perdendo as
propriedades devido a dívidas e crescendo com o padrinho de batismo.
4.2. Exerceu as profissões de dentista amador, tropeiro, alferes, minerador e sabia lidar com
curativos. Duas provas de tal habilidade com medicina foram os relatos de Tiradentes ter ajudado
um escravo e tratado dos ferimentos da filha de Inácia Gertrudes de Almeida, na qual prestou
dívidas com Tiradentes posteriormente, ajudando-o a ter um local seguro para residir durante
seus atos políticos.
4.3. Tiradentes dentre os envolvidos na inconfidência era o que possuía menor condições
financeira, não era pobre, mas também não pertencia a alta elite.
“Foi ele quem levou as discussões que ocorriam em reuniões privadas
para um ambiente mais público, como sítios, prostíbulos, tavernas. E
como ele não era uma pessoa tão bem relacionando quanto os outros
inconfidentes, era o de classe mais baixa entre eles e não pertencia ao
grupo de letrados, foi usado como bode expiatório”.
Explica Luiz Carlos Villalta, professor do departamento de História da Universidade Federal de
Minas Gerais.
4.4. Por mais que a iniciativa da elite tenha vindo de interesses próprios, quais revoluções
também não seguiram esse princípio? A própria abolição da escravidão veio a partir da
conveniência do mercado internacional, que dado momento notou a necessidade do trabalhado
assalariado. Infelizmente, em nossa história muitas mudanças só ocorreram pois se tocou na
ferida dos que estavam sob a manifestação de privilégios.

5. Não visava salvar os oprimidos e nem ‘’salvar’’ o Brasil


5.1. Pensando na época da inconfidência mineira, temos que levar em conta que ainda não
existia uma identidade brasileira, ou seja, o Brasil ainda não era visto como uma união, a ideia do
“povo brasileiro” não era consistente.
5.2. Podemos pensar que Tiradentes enxergava o povo mineiro como o seu povo brasileiro, era a
relação mais unificada que ele estava inserido.
5.3. Ele também trabalhou em projetos para a melhoria da infraestrutura no Rio de Janeiro, porém
como o governo nunca fazia questão de ajudar verbalmente esses projetos, Tiradentes nota
então que a metrópole Portugal emperrava o desenvolvimento do Brasil.

6. O sadismo monárquico
6.1. No dia 21 de abril de 1792 a coroa portuguesa expressa o seu poder diante dos olhos
colonos presentes na região de Minas Gerais. Tiradentes não só foi condenado a morte, foi
levado diante de uma praça pública, onde milhares se atentavam ao acontecimento, foi executado
e esquartejado, por ordens da coroa portuguesa, tendo seus membros espalhados pelos
caminhos de Mina Gerais e sua cabeça posta em exposição como uma espécie de vitória
moribunda.
6.2. Viraremos nossos olhos agora para a validação desse sistema, utilizando do poder a longo
prazo que esse julgamento nos oferece. Trataremos de analisar o quão despótico e arbitrário
foram as legislações vigentes no Brasil colônia, as chamadas ‘’ordenações’’ seguiam o único
objetivo de fundamentar a colônia como uma extensão de Portugal e, portanto, preencher e
satisfazer os interesses da metrópole.
6.3. Com essa conclusão, devemos nos perguntar: uma sociedade na qual emerge de uma
cultural escravagista, autoritária, sem patrimônios com o respeito, misógina entre diversas outras
características reforçadas pela lei, não deve ser contestada de seus juízos?. Devemos nos
agraciar de acreditar cegamente nas acusações desse governo que não possuía
responsabilidade alguma com o bem-estar da nação alocada no Brasil, apenas com as riquezas e
lucros que dela poderia extrair?
6.4. O autoritarismo desse sistema, o sadismo impresso, a dominação por medo e exemplos,
todos esses pormenores fluíam com normalidade nesse governo outorgado. Quando julgamos um
homem que incluso nesse sistema foi coroado traidor por reclamar liberdade, esse homem não é
menos do que destemido e ousado, alguém que devemos ter orgulho de dizer que fora brasileiro.
6.5. Portanto, na subversão de papeis, os que lutaram a favor desse regime, eram atrozes e
olhavam apenas para seus próprios umbigos, a formação de uma ideia liberal e mais democrática
de pensamento liberal não existia naquele período, o mais próximo que encontramos de empatia
social eram movimentos revoltosos como o que Tiradentes integrou.

7. A insignificância de Tiradentes
7.1. Mesmo que Tiradentes não tenha sido o grande líder da inconfidência mineira, ele foi o único
de todos que deu a vida pela ideia.
7.2. De acordo com a historiadora Débora Aladim, no seu julgamento, ele se negou a fingir
algum tipo de arrependimento por ter participado desse plano de burlar a metrópole de
portuguesa. Ou seja, o mesmo seguiu convicto no que acreditava até quando não devia, mesmo
que a consequências fossem a morte.
7.3. Por ser o indivíduo de capital menos favorecida, e por ter sido totalmente leal e transparente
com os seus ideais até mesmo no seu julgamento, ele foi o único também a ter sido morto,
honrando assim a ideia da inconfidência mineira.
7.4. Se ele não foi líder do movimento em vida, ele passou a ser líder da inconfidência mineira a
partir do momento que ele morreu por conta dos ideais da mesma.

8. Tiradentes não foi enforcado


8.1. Em 1921, surgiu essa teoria que foi criada por Martim Francisco Ribeiro de Andrada III. De lá
pra cá, alguns historiadores tentaram sustentar esta lenda.
8.2. Essas informações se quer sustentam-se em evidências documentais, uma vez que a
execução foi assistida por milhares de moradores do Rio de Janeiro e foi descrita por mais de um
dos padres confessores que, em seus textos, narram com muita riqueza de detalhes os últimos
momentos do alferes, desde a cela da prisão até os seus passos rumo à forca.
8.3. Sem contar que antes de executarem, o sujeito era barbeado e tinha seus cabelos raspados
para justamente, não correr o risco de ser trocado. E isso não foi diferente com Tiradentes que
teve sua face analisada antes mesmo de falecer.
8.4. Se a troca do condenado realmente tivesse ocorrido, alguém denunciaria o fato às
autoridades ou, posteriormente, deixaria escrito tal acontecido em alguma espécie de carta. Não
há qualquer registro documental ou textual de que Tiradentes realmente tivesse escapado da
morte.
8.5. Lembrando que era exigido ao condenado que raspasse a barba e o cabelo, todos nós temos
noção de que um homem barbado aparenta ser bem mais velho do que realmente é, se
Tiradentes estava sem sua aparência normal, ele realmente estava aparentando ser mais novo.
8.6. Uma renomada especialista em Inconfidência Mineira, Laura de Mello e Sousa, acha que a
hipótese "não faz sentido nenhum" e é "pouco provável"
9. Pedófilo
9.1. Tendo em vista que a pedofilia só foi criminalizada no Brasil no ano de 1990, Tiradentes
eventualmente teve esse amor, possivelmente, platônico no qual não há provas consistentes de
envolvimento carnal com a menina de 15 anos no ano de 1786. Podemos concluir assim que
Joaquim José da Silva não tinha um perfil criminoso, pois este estava na subjugação de uma
cultura que tratava de tal assunto com normalização.
9.2. Uma outra vertente que prova essa alienação cultural é que a menina já estava
comprometida para um outro casamento, mesmo nessa idade. Não se foi achado a idade do
pretendente, contudo, possivelmente se trata de alguém mais velho.
9.3. O romance entre ambos era tão avassalador que após o falecimento do marido, Ana Mariana
e Tiradentes engatam um romance novamente.
9.4. Uma de suas pernas foi enviado para sua amada Ana, que produziu um enterro com auxílio
de seus escravos e, ao falecer, ela foi sepultada junto do pedaço do corpo do seu amado, sendo
que, em 1972, os restos mortais dos dois foram encontrados.

10. O verdadeiro traidor


10.1. Sabemos que Joaquim Silvério dos Reis foi o principal delator da Inconfidência Mineira. À
primeira vista, pensamos até que o mesmo era uma pessoa de boa-fé, que só possuía as mais
ricas e nobres intenções para com a coroa portuguesa, pois ele não queria fazer parte de um
movimento que mais tarde iria trair a grande e poderosa metrópole portuguesa que fazia do
território brasileiro, sua marionete.
Porém, se nos aprofundarmos no histórico da persona em que nos dirigimos neste momento,
saberemos que ele tinha uma grandíssima dívida com a coroa portuguesa – já percebemos daqui
que o senhor Joaquim não tinha uma personalidade muito confiável e leal aos seus deveres como
cidadão, justamente por possuir muitas dívidas – e para ter essas dívidas perdoadas pelas
autoridades da época, o senhor Silvério dos Reis, quando soube da inconfidência, fez questão de
entrar no movimento (fingindo apoio) para fins próprios.
Ou seja, tudo indica que Joaquim Silvério dos Reis se envolveu na Inconfidência Mineira para se
libertar de suas dívidas, só entrou no processo para tirar alguma vantagem financeira. Destes
fatos, já podemos perceber o quão duvidosa era personalidade e o caráter desta testemunha que,
claramente, só possuía interesses próprios e que fez de tudo para se beneficiar, não se
importando se quer com o seu povo mineiro que, sem dúvidas, iriam finalmente se livrar de um
governo aproveitador, através da Inconfidência Mineira.

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