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2007:19:1:31-37
grupo e independência para a comparação entre FiO2 ≤ 40%; SatO2 > 90%; pH > 7,30 < 7,60 e PaO2/FiO2
grupos), sendo considerado o nível de significância ≥ 200, obtidos através de gasometria arterial;
de 0,05. Parâmetros ventilatórios PEEP = 5 cmH2O; PS = 7
cmH2O e f = 0.
Protocolo de Desmame Foram considerados critérios de exclusão após alea-
torização;
O protocolo foi elaborado e aplicado pela equipe de Desenvolvimento de instabilidade hemodinâmica
fisioterapia envolvendo as seguintes fases: após o inicio do protocolo;
• Pré-desmame: que consiste na avaliação do paciente Impossibilidade de atingir os parâmetros de me-
a partir dos critérios clínicos e indicadores fisiológicos, cânica ventilatória mínimos necessários (estabelecidos
a fim de se tomar a decisão de iniciar o processo de previamente);
desmame; Extrema agitação ou ansiedade, impossibilitando o
• Desmame: que compreende a fase de interrupção da teste de ventilação espontânea por duas horas.
ventilação mecânica e a monitorização do paciente du- Os pacientes incluídos nos critérios clínicos, também
rante este período de autonomia ventilatória; deveriam satisfazer aos indicadores fisiológicos predi-
• Extubação: que é a retirada da prótese ventilatória, tivos de sucesso no desmame por avaliarem melhor
após duas horas de autonomia, permanecendo está- quanto a fadiga muscular, serem facilmente reprodu-
vel durante este período. Fazendo o uso de oxigênio tíveis e utilizarem instrumentos e técnicas simples e
suplementar após a retirada da ventilação superficial, disponíveis3,5,6. São eles:
sendo o paciente reavaliado a partir da gasometria co- VT 5 a 8 mL/kg;
lhida 30 min após a extubação. FR ≤ 35
Pimax ≤ -20 mmHg
Pré-Desmame Índice de respiração rápida superficial < 100 ipm/L
Os pacientes que satisfizeram as condições exigidas
Os pacientes que apresentaram melhoras ou resolu- na etapa anterior, foram considerados aptos a efetuar
ções da causa determinante da ventilação mecânica, a segunda etapa.
foram analisados de maneira sistemática e diária pela
equipe multidisciplinar, quanto aos critérios clínicos
essenciais para indicação do processo de desmame, Desmame
que correspondem aos critérios de inclusão no pro-
tocolo: Nesta fase do protocolo os pacientes foram subme-
Tempo de ventilação mecânica > 48 horas; tidos ao teste de autonomia, com duração de duas
Resolução ou controle da causa que levou a intu- horas em ventilação espontânea2. Ao serem considera-
bação traqueal; dos aptos ao desmame, os pacientes foram divididos
Suspensão ou diminuição a níveis mínimos de se- aleatoriamente em dois grupos, que utilizaram méto-
dativos, bloqueadores neuromusculares e fármacos dos distintos – Tubo-T e PSV + PEEP (PEEP = 5 + PS
vasoativos; = 7)7. O procedimento de aleatorização adotado foi em
Presença de drive respiratório; relação ao dia do desmame. Em dias pares foram ex-
Ausência de sepse ou estado gerador de hiperter- tubados a partir do modo Pressão Suporte associado
mia; à PEEP (G1 ) e dias impares Tubo-T (G2).
Estabilidade hemodinâmica; No G1, o desmame foi realizado até que os valores
Ausência de desordens metabólicas/eletrolíticas; descritos fossem atingidos, não necessitando da des-
Correção da sobrecarga hídrica; conexão da ventilação artificial, permanecendo por
Nenhuma expectativa de procedimento cirúrgico de duas horas com esses parâmetros, de forma clinica-
grande porte; mente estável.
Idealmente três horas de jejum ou esvaziamento No G2, o paciente foi desconectado do ventilador e em
gástrico via sonda; seu tubo traqueal conectou-se uma peça tipo T, junto à
Teste do balonete vazio negativo (ausência de ede- uma fonte umidificada e enriquecida de oxigênio (5 L/
ma de glote); min), permanecendo também por duas horas de forma
Parâmetros gasométricos PaO2 > 60 mmHg com estável clinicamente (Tabela 1).
Tabela 3 – Doenças de Base, Métodos Utilizados e Índices de Sucesso e Insucesso de Desmame dos Pacientes Estudados
Doenças Grupos Nº de Pacientes % Sucesso Insucesso
Pneumológica G1 31 26 30 1
G2 21 18 16 5
Cardíaca G1 4 3 4 -
G2 5 4 5 -
Neurológica G1 18 15 16 2
G2 6 5 4 2
Oncológica G1 4 3 3 1
G2 - - - -
Outra G1 17 14 17 -
G2 14 12 14 -
G1 = PS + PEEP
G2 = Tubo-T
comprovando a eficácia da utilização do protocolo de tores a constatar uma melhora no atendimento aos pa-
desmame na UTI. cientes deste estudo e uma interação mais adequada
Quanto à comparação entre os tipos de métodos de entre a equipe multidisciplinar.
desmame utilizados (PS+PEEP/G1 e Tubo-T/G2), o
cálculo do Qui-quadrado de independência não evi- REFERÊNCIAS
denciou diferença significativa entre os G1 e G2 (χ2 in-
01. Hess D - Ventilator modes used in weaning. Chest, 2001;120:(Suppl6):474S-
dependência
= 3,28; graus de liberdade = 1; significância =
476S.
7,01%; não significativo ao nível de 5%), demonstran- 02. Jones DP, Byrne P, Morgan C et al - Positive end-expiratory pressure vs
do, portanto, que tais métodos apresentaram níveis si- T-piece. Extubation after mechanical ventilation. Chest, 1991;100:1655-
1659.
milares de sucesso e insucesso em sua utilização. 03. II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica – Desmame e Interrupção
da Ventilação Mecânica. Ed. Atheneu, 2000.
04. Eliy EW - Weaning from mechanical ventilation: acute and chronic mana-
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO gement. Chest, 2001;15:522S-529S.
05. Meade M, Guyatt G, Cook D et al - Predicting success in weaning me-
chanical ventilation. Chest, 2001;120:(Suppl6):400S-424S.
A partir dos dados levantados por meio do estudo em 06. Coberlline C, Trevisan CBE, Costa AD et al – Avaliação dos critérios con-
questão, pode-se observar que independente da esco- vencionais preditivos de desmame de suporte ventilatório mecânico em
pacientes idosos durante a ventilação espontânea com tubo-T. RBTI,
lha do método de desmame da ventilação mecânica, 2003;15:2:58-63.
da idade, do sexo ou da doença de base, faz-se neces- 07. Carvalho CRR - Ventilação Mecânica Vol. I – Básico. São Paulo, Ed.
sário o estabelecimento de um protocolo de desmame Atheneu, 2001.
08. Meade M, Guyatt G, Sinuff T et al - Trials comparing alternative we-
para que se possa garantir maior índice de sucesso e aning modes and discontinuation assessments. Chest, 2001;120:
menor incidência de comorbidades nos pacientes in- (Suppl6):425S-437S.
09. Tobin MJ – Advances in mechanical ventilation N Engl J Med,
ternados em UTI e dependentes da ventilação mecâ- 2001;344:1896-1994.
nica3,5-7,13. 10. Assunção MSC, Machado FR, Rosseti HB et al - Avaliação de teste de
tubo-T como estratégia inicial de suspensão da ventilação mecânica.
Ao término de 17 meses de pesquisa, em que foram RBTI, 2006;18:121-125.
estudados 120 pacientes, concluiu-se que entre os 11. Krishnan JA, Moore D, Robeson C et al - A prospective, controlled trial
of a protocol-based strategy to discontinue mechanical ventilation. Am
métodos Tubo-T e PSV associada à PEEP, não houve J Respir Crit Care Med, 2004;169:673-678.
diferença significativa ao nível de 0,05%. Portanto, o 12. Esteban A, Alia I, Gordo F et al – Extubation outcome after spontaneous
processo de desmame deve ser priorizado, pois a ma- breathing trials with T-tube or pressure support ventilation. Am J Respir
Crit Care Med, 1997; 156: 459-465.
nutenção do paciente em ventilação invasiva, coloca-o 13. Ely EW, Meade MO, Haponik EF et al – Mechanical ventilator weaning pro-
em risco de diversos eventos associados ao aumento tocols driven by nonphysician health-care professionals: evidence based
clinical practice guidelines. Chest, 2001;120:(Suppl6):454S-463S.
da morbimortalidade2,8,10. 14. Oliveira LRC, Jose A, Dias ECP et al – Padronização do desmame da
A partir dos resultados descritos foram observados ventilação mecânica em unidade de terapia intensiva: resultados após
um ano. RBTI, 2006;18:131-136.
que ao ser estabelecido um protocolo de desmame 15. Esteban A, Alia I, Tobin MJ et al - Effect of spontaneous breathing trial
obteve-se diminuição do tempo de ventilação mecâni- duration on outcome of attempts to discontinue mechanical ventilation. Am
J Respir Crit Care Med, 1999;159:512-518.
ca, da permanência do paciente em tal processo e, em 16. Esteban A, Frutos F, Tobin MJ et al - A comparison of four methods of wea-
conseqüência, do custo total de internação em UTI e, ning patients from mechanical ventilation. N Engl J Med, 1995;332:345-350.
até mesmo do índice de mortalidade11-14. 17. Brochard L, Rauss A, Benito S et al - Comparison of three methods of gra-
dual withdrawal from ventilatory support during weaning from mechanical
A experiência prática aqui descrita ainda levou os au- ventilation. Am J Respir Crit Care Med, 1994; 150:896-903.