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Qual o papel da tomografia de dupla energia no diagnóstico da gota?

Tiago Bezerra Albano1

Luiz Guilherme Hartmann2

1. Introdução

Gota é uma artropatia de depósito, caracterizada por períodos de


hiperuricemia e deposição de cristais de monourato de sódio nas cartilagens
articulares, membranas sinoviais, osso subcondral, cápsulas articulares e partes
moles peri-articulares, preferencialmente e áreas de baixa temperatura, como nas
extremidades, onde promove uma reação inflamatório local. Essa artrite possui
fatores de risco genéticos e dietéticos. A sintomatologia clássica é a dor na primeira
articulação metatarsofalângiana (1).

A artrite gotosa é a artropatia por deposição de cristais mais comum, tem uma
prevalência de cerca de 4% da população adulta na américa do norte. Dados
epidemiológico como prevalência e incidência continuam a aumentar. Homens entre
30 e 50 anos de idade são os indivíduos mais acometidos por essa doença. Essa
artropatia é um grande problema de saúde pública por causa das suas morbidades,
dor severa e mortalidade, por está associada a síndrome metabólica, coronariopatia
e diabetes mellitus (2).

O diagnóstico precoce dessa doença ajudar no tratamento precoce e eficaz,


tornando possível interferir de forma significativa na história natural da doença,
assim minimizando complicações, com destruição articular, rotura ligamentar,
cardiopatia e nefropatia, que podem ocorrer com o diagnóstico tardio (2).

A propedêutica diagnóstica da gota é feita através dos dados clínicos, exame


físico, dados laboratoriais e exames complementares como os de imagem. O quadro
clínico se apresenta com dor nas articulações periféricas, frequentemente é

1
Discente do Curso de Pós-graduação em Estado da Arte em Diagnóstico por Imagem do Sistema
Musculoesquelético da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.
2
Docente da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.
monoarticular, afeta a primeira articulação do primeiro metatarso e esta associada a
hiperuricemia(2).

Mas apresentações atípicas podem ocorrer, e cada vez mais estão ocorrendo
em alguns grupos de pacientes, como idosos, pacientes com distúrbios genéticos,
defeitos enzimáticos, portadores de próteses e usuários de imunossupressores.
Condições como osteoartrose, artrite séptica, atrite reumatoide, pseudogota e
tumores podem simular à gota (2). Nem sempre a hiperuricemia indica gota,
podendo corresponder a hiperuricemia assintomática. O aumento dos níveis séricos
é um dado inconsistente, pode está ausente em até 42% dos pacientes com quadro
agudo de gota (3).

A aspiração e análise do líquido articular é considerado o padrão ouro no


diagnóstico de gota. Este exame identifica cristais de urato monossódico
birrefrigentes negativos, assim sendo o método mais especifico. Nem sempre é
possível adquirir volume de líquido articular suficiente para ser aspirado. Nos
ataques agudos de artrite gotosa pode ter aspirado negativo. Contudo a aspiração
articular é um procedimento invasivo, e embora baixo, apresenta riscos (2).

O diagnóstico convencional da gota conta com radiografia, ultrassonografia,


tomografia convencional e ressonância magnética. A radiografia vê erosões ósseas
com aspecto em saca-bocado de margens escleróticas, bem como massas em
partes moles, porém essas alterações são diagnosticadas tardiamente (4).

A ultrassonografia possui várias vantagens, como acessibilidade, baixo custo,


portabilidade, sem radiação e não necessita de contraste para a visualização da
vascularização. Esse método permite evidenciar derrame articular, erosões e
sinovites (4). Essa modalidade também é capaz de visualizar a deposição de cristais
nas articulações através do sinal da dupla linha. Os pontos negativos da
ultrassonografia são a incapacidade de visualizar as superfícies articulares,
articulações profundas, acentuada curva de aprendizado, examinador dependente
(2).

A tomografia convencional demonstra erosões e tofo hiperdenso com alta


sensibilidade, porém esses achados têm especificidade insuficiente para o
diagnóstico de gota (2).
A ressonância magnética possui baixa disponibilidade, tempo de longo de
exame e alto custo. Esse exame pode representar erosões corticais, edema medular
e tofos gotosos, que podem ter características variáveis de sinal, dependendo da
quantidade de cálcio presente. No entanto como os exames anteriores também não
é especifico (2).

A Tomografia de dupla energia possui dois tubos de raios x com picos de


quilovoltagens diferentes (80 e 140 kvp), que adquirem imagens simultâneas da
região anatômica de estudo. Diferentes materiais apresentam diferentes atenuações
para diferentes picos quilovoltagens (80 e 140 kvp), isso permite diferenciar a
composição química dos diferentes materiais estudados. A tomografia de dupla
energia já é usada para diferenciar cálculos renais de acido úrico dos de cálcio e
outros (2).

A grande vantagem da tomografia de dupla energia é a sua capacidade de


diferenciar ácido úrico de cálcio, isso é mais preciso que a radiografia e a tomografia
de rotina, exames nos quais os cristais de urato e cristais de cálcio são visualizados
como imagens hiperatenuantes. A aquisição simultânea por meio de dois feixes de
raios x eliminam artefatos. Os novos programas para pós-processamento dos dados
adquiridos geram imagens coloridas, além de construções 3D, o que facilita o
entendimento da doença por parte do médico não especialista e do paciente (2). A
tomografia computadorizada de dupla energia é uma alternativa não invasiva para a
detecção de cristais de MSU. Vários estudos prévios demonstraram uma
sensibilidade muito alta desse exame de até 95% em pacientes com suspeita de
gota (5).

A utilização de características específicas de atenuação para diferenciar os


cristais de urato do cálcio, a TC de dupla energia é de extrema importância nos
casos em que o diagnóstico não é claro, como em casos de manifestações clínicas
atípicas, níveis discordantes de urato sérico ou na diferenciação de um ataque
agudo de alterações crônicas. A TC de dupla energia também ajuda a excluir a gota
em pacientes com mínima inflamação, independentemente do nível de urato sérico
ou história de gota. Em pacientes com gota tofárica diagnosticada, esse novo
método pode detectar tofos subclínicos, de modo que o tratamento possa ser
iniciado antes que ocorra dano irreversível da articulação, e fornece quantificação
volumétrica sensível.

2. Objetivos
Analisar na literatura cientifica nacional e internacional artigos que abordem a
contribuição da tomografia de Dupla energia no diagnóstico da gota.

3. Método
3.1 Tipo de estudo

Trata-se de uma revisão narrativa de literatura de publicações em periódicos.

3.2 Operacionalização da coleta de dados

Será realizada uma busca bibliográfica por meio das fontes de busca
constituídas pelos recursos eletrônicos nas seguintes bases de dados: Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Health Information
from the National Library of Medicine (Medline), Web of Science, Scopus e na
biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library On-line (SciELO), publicados no
período de 2013 a 2018.

Os descritores utilizados serão: Gota/ Gout, Artropatia por cristais/ Crystal


Arthropathies, hiperuricemia/ hyperuricemia, artrite gotosa/ Gouty Arthritis.

A coleta dos dados acontecerá no decorrer do mês de março de 2019.

Depois de identificados os artigos, estes serão analisados e os que


atenderem aos objetivos do estudo, estiverem no idioma português e inglês, e
tiverem sido publicados nos últimos 5 anos, serão incluídos no roteiro para registro.

3.3 Tratamento dos dados e apresentação dos resultados

Após a identificação dos artigos, nas fontes de busca mencionadas, serão


avaliados os títulos e resumos, de modo a seleciona-los. Serão elencados os artigos
que farão parte da amostra, estes serão registrados em ficha própria contendo
dados do periódico, base de dados, idioma, ano de publicação, objetivos, resultados
e conclusões.
Os resultados serão apresentados por meio de tabelas e quadros que
contemplem as principais características dos artigos utilizados na pesquisa. Caso
seja necessário, serão identificadas categorias temáticas.

4. Referências
1 - Jayakumar D, Sehra ST, Anand S, Stallings GW, Danve A. Role of Dual Energy Computed
Tomography Imaging in the Diagnosis of Gout. Cureus. 2017 Jan 20;9(1):e985. Acess in:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28229032
2 - Chou H, Chin TY, Peh WC. Dual-energy CT in gout - A review of current conceptsand applications. J
Med Radiat Sci. 2017 Mar;64(1):41-51. Acess in: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28238226
3 - Gröbner W. [Hyperuricemia and gout]. Dtsch Med Wochenschr. 2015 Oct;140(21):1615-26. Acess in:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26488103
4 - Uhlig T, Eskild T, Hammer HB. [Gout - new approaches to diagnostics and treatment]. Tidsskr Nor
Laegeforen. 2016 Nov 22;136(21) Acess in: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/27883103
5 - Metzger SC, Koehm M, Wichmann JL, Buettner S, Scholtz JE, Beeres M, Kerl JM, Albrecht MH,
Hammerstingl R, Vogl TJ, Bauer RW. Dual-Energy CT in Patients with Suspected Gouty Arthritis: Effects
on Treatment Regimen and Clinical Outcome. Acad Radiol. 2016 Mar;23(3):267-72. Acess in:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26749327

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