Você está na página 1de 5

ASPECTOS CLÍNICOS DE NORMALIDADE DOS TECIDOS MOLES DA CAVIDADE BUCAL

Anatomicamente a cavidade bucal situa-se no terço inferior da face e é delimitada por seis paredes:

1. Uma parede anterior (ou lábios)

2. Duas paredes laterais (ou bochechas)

3. Uma parede superior (ou palato)

4. Uma parede inferior (ou soalho)

5. Uma parede posterior (ou orofaringe)

A cavidade bucal representa a porção inicial do tubo digestivo, sendo constituída por uma série de
estruturas anatômicas (já discriminadas), que são banhadas por um líquido que é a saliva e contém uma flora
microbiana própria. Para o desenvolvimento de atividades fisiológicas, tais como: a mastigação, a deglutição
e a fonação, particularmente, os tecidos moles que a compõe é sede comum de agressões, além de outros
inúmeros fatores traumáticos (físicos, químicos) que poderão interferir na sua higidez. Mas devido a sua
constituição histológica, a flora bucal, a saliva e o metabolismo harmônico de todo conjunto, os tecidos que
compõem a cavidade bucal, apresentam um grande poder de defesa e quando lesada de reparação.

A mucosa bucal nas diferentes localizações tem características clínicas e histológicas que permitem
classificá-la em: semimucosa, mucosa de revestimento, mucosa mastigatória e mucosa sensorial. A
semimucosa corresponde à mucosa que reveste a face externa dos lábios, sendo uma zona intermediária
entre a pele e a mucosa bucal interna. A mucosa de revestimento corresponde à: mucosa labial interna,
mucosa julgal, sulcos vestibulares e linguais, mucosa alveolar, face ventral da língua, assoalho da boca,
gengiva livre e palato mole e orofaringe. A mucosa mastigatória (fibromucosa) que apresenta o maior grau
de queratinização corresponde à gengiva inserida e palato duro. A mucosa sensorial (especializada)
corresponde à superfície dorsal da língua.

Para o exame das estruturas peribucais e intra-bucais a identificação dos aspectos de normalidade é de
fundamental importância e devem ser de domínio do Cirurgião-Dentista. Assim sendo, serão descritos os
acidentes ou estruturas anatômicos que fazem parte da parede anterior (face externa) da boca, como também
as estruturas intra-bucais.

Estruturas peribucais:

Sulco nasogeniano: depressão oblíqua que parte de cada lado da asa do nariz até o limite superior do
músculo orbicular dos lábios. Acentua-se com a idade, perda dos dentes superiores ou da dimensão vertical
de oclusão (distância que vai da espinha nasal anterior - base do nariz - à base do mento).

Filtrum ou sulco subnasal: é uma depressão de aspecto semitriangular acima e ao centro do lábio superior.

Tubérculo do lábio superior: proeminência no centro do lábio superior, onde termina o filtrum. É mais
acentuado na criança.

Sulco mentolabial:prega ou depressão abaixo e ao centro do lábio inferior, formada pelo músculo
orbicular do lábio e proeminência convexa do mento.
Fossa mentoniana: depressão no centro da parte mais proeminente do mento.

Estruturas próprias da cavidade bucal:

Comissura labial: margem lateral da fenda bucal, formada pela união dos lábios superior e inferior.

Vermelhão dos lábios: face externa dos lábios superior e inferior, apresenta uma coloração rósea
avermelhada.

Face interna do lábio inferior: apresenta coloração rósea com aspecto granular (grande concentração de
glândulas salivares menores). Ao centro e no fundo do sulco julgal encontra-se o freio labial inferior.

Face interna do lábio superior: apresenta coloração rósea, com aspecto homogêneo. Ao centro e no fundo
do sulco julgal encontra-se o freio labial superior.

Vestíbulo bucal: região situada à frente dos dentes e atrás dos lábios e bochechas.

Sulco vestibular ou fundo de sulco ou sulco julgal: é o limite superior e inferior do vestíbulo bucal.

Mucosa Julgal: parede lateral interna da boca. Apresenta uma coloração rósea.

Ducto excretor da parótida: orifício terminal do conduto das glândulas parótidas, localizando na face
interna da mucosa julgal, aproximadamente entre as coroas de primeiro e segundo molares superiores.

Papila incisiva: elevação ovalada, localizada imediatamente atrás e entre os incisivos centrais superiores.

Rafe mediana ou palatina: linha estreita e ligeiramente elevada na parte anterior e deprimida na posterior,
localização no centro do palato duro, correspondendo a união dos ossos maxilares.

Rugosidade ou pregas palatinas: elevações na mucosa retilíneas ou arqueadas que partem radialmente à
rafe mediana anterior, imediatamente após a papila incisiva.

Sutura palatina transversa: limite do palato duro com o mole.

Palato mole: parte mais posterior do palato, também conhecido como véu palatino.

Úvula: projeção situada ao centro e na porção mais posterior do palato mole.

Amígdalas palatinas: localizadas entre o pilar anterior e posterior, na fossa ou cavidade amigdaliana, por
trás e ao lado do palato mole.

Língua – Superfície superior – face dorsal

Superfície inferior – face ventral

Papilas foliadas ou foliáceas: nódulos localizados na posterior da borda lateral da língua.

Papilas caliciformes: são as maiores papilas linguais, localizados imediatamente à frente do sulco terminal
da língua e, em conjunto, formam o V lingual. O número varia de 6 a 12 (média de 9).

Papilas fungiformes: são achatadas, avermelhadas, com maior concentração nas bordas e na ponta da
língua.

Papilas filiformes: elevações cônicas, forma de pêlo de pincel, distribuídos por toda superfície dorsal da
língua até a região das papilas caliciformes.
Soalho da boca: em ambos os lados do freio lingual existem dois pequenos orifícios correspondentes a
abertura dos ductos excretores das glândulas submandibulares e lateralmente a estes a abertura dos ductos
excretores das glândulas sublinguais.

Gengiva - pode ser dividida em:

- Gengiva livre ou marginal: é a que circunscreve o dente (rodeia os colos dentais), formado a sua
superfície interna o sulco gengival. É relativamente móvel, constituindo a porção não aderente do tecido
gengival.

- Gengiva inserida ou aderida: é a parte da gengiva que se encontra firmemente unida ao cemento e ao
osso alveolar. Está delimitada cervicalmente pelo sulco da gengiva livre e apicalmente pela junção
mucogengival, que a separa da mucosa alveolar (esta tem uma coloração mais avermelhada).

- Gengiva papilar ou papila interdental: é a parte da gengiva que ocupa os espaços interdentais (vestibular
e lingual ou palatino).

Características clínicas de normalidade:

- Cor: o tecido gengival apresenta uma coloração rosa-claro ou vermelho-claro, podendo apresentar
pigmentação que pode variar desde castanho claro até ao preto, especialmente em pessoas descendentes da
raça negra.

- Espessura: fina e terminado em bisel com a superfície dental.

- Aspecto: Gengiva livre – aspecto liso e opaco

- Aspecto: Gengiva inserida – aspecto pontilhado, granulado, semelhante à casca de laranja (forte tração da
gengiva contra o osso alveolar)

- Aspecto: Gengiva papilar – aspecto misto. Na periferia liso e opaco, co centro pontilhado, granulado.

- Contorno: Gengiva livre – arco côncavo

- Contorno: Gengiva inserida – festonado (reflete a anatomia alveolar)

- Contorno: Gengiva papilar – triangular ou piramidal (quando há diastema o ápice apresenta-se


arredondado)

- Consistência: dura, firme, consistente à palpação, resiliente (sob pressão desloca-se ligeiramente, mas
cessada a pressão retorna prontamente à origem)

- Sensibilidade: não deve apresentar dor à palpação, à escovação e à sondagem do sulco gengival, como
também não apresentar sangramento à escovação.

- Posição da gengiva e profundidade do sulco: a gengiva recobre ligeiramente o limite esmalte-cemento,


sendo que sua profundidade varia e 1 a 2mm nas superfícies vestibulares e linguais ou palatinas e de até
3mm nos espaços interproximais.
LESÕES FUNDAMENTAIS DA MUCOSA BUCAL

Dentro dos fundamentos básicos do diagnóstico das patologias que acometem a cavidade bucal temos
que, inicialmente, reconhecer os aspectos de normalidade; Em seguida, reconhecermos as variações da
normalidade, que poderão ser manifestadas de duas formas: por meio dos chamados aspectos ortológicos, e
dos aspectos patológicos propriamente ditos. Tanto os aspectos ortológicos, quanto os patológicos
manifestam-se sob as formas de lesão fundamental.

As lesões fundamentais são entendidas como os aspectos macroscópicos e morfológicos que as variações
da normalidade assumem quando acometem a mucosa bucal. Grinspan relata que “a identificação das lesões
fundamentais são tão importantes para o diagnóstico, quanto às letras do alfabeto para o aprendizado de um
idioma”. Por conseguinte, a primeira etapa do diagnóstico de uma determinada lesão, constituir-se-á na
descrição clinica de seus aspectos macroscópicos e morfológicos para que posteriormente possa estabelecer
uma propedêutica correta para a conclusão do diagnóstico.

As lesões (variações da normalidade) que acometem a mucosa bucal poderão ter manifestações clínicas
de formas simples ou combinada, podendo ser assim expressa:

 Mácula ou mancha:

É uma alteração de coloração da mucosa, sem que haja elevação ou depressão. Situa-se ao nível da
mucosa. As manchas põem ser hipercrômicas, quando há aumento de pigmentação, ou hipocrômicas,
quando há diminuição da pigmentação.

As hipercrômicas podem ser por:

- Pigmentos endógenos: vásculo-sanguíneos (petéquias, equimoses, púrpuras) e melânicos (pigmentação


melânica).

- Pigmentos exógenos: pela impregnação de substâncias ou materiais (tatuagem por amálgama).

As hipocrômicas podem ser por:

- Pigmentos endógenos: vásculo-sanguíneos (isquemia provocada por vasoconstritor) e melânicos (não


ocorre na cavidade bucal – ausência ou diminuição de pigmentação melânica – Ex. Vitiligo).

 Placa:

É uma lesão ligeiramente elevada, cuja principal característica é que a extensão é maior do que a altura.
A superfície da placa pode mostrar diversos aspectos: lisa, rugosa, ondulada, papilífera. As placas que na se
soltam por raspagem são chamadas de placas verdadeiras. As placas que se soltam por raspagem são
chamadas de pseudo-placas ou falsas-placas.

 Erosão:

É a perda superficial do epitélio sem que haja exposição do tecido conjuntivo. Na cavidade bucal as
lesões erosivas assumem uma coloração avermelhada.

 Úlcera / Ulceração:

Conceitualmente, apresentam o mesmo significado, diferenciando-se apenas no tempo de duração. Úlcera


é um processo de longa duração, enquanto que a ulceração é de curta duração. São conceituadas como sendo
a perda total do epitélio com consequente exposição do tecido conjuntivo subjacente. Na cavidade bucal as
úlceras mostram um fundo branco-acinzentado ou branco-amarelado. Podem ter algumas variações dos
processos ulcerativos:

- Fissura: lesão ulcerativa de aspecto linear e de pouca profundidade. Ocorre preferencialmente na


comissura labial e fundo de saco de vestíbulo.

- Fístula: quando atrás de uma área ulcerada existir um trajeto por onde drenam secreções.

- Exulceração: é um termo que serve para designar o envolvimento de grandes áreas na mucosa bucal,
sendo a lesão ligeiramente elevada, apresentando pontos de ulceração.

 Vesícula / Bolha:

Conceitualmente também apresentam o mesmo significado, diferenciando-se apenas no tamanho. A


vesícula apresenta um diâmetro até 3mmm acima disto é considerada uma bolha. São elevações do epitélio
contendo líquido em seu interior. Podem ser intra-epiteliais ou sub-epiteliais. As intra-epiteliais formam-se
na camada do epitélio, enquanto as sub-epiteliais formam-se abaixo da camada epitelial. As ve´siculas ou
bolhas no interior da cavidade bucal são extremamente efêmeras (passageiras), uma vez que, devido aos
traumas naturais por funções fisiológicas como: a fonação, mastigação e deglutição elas se rompem
precocemente, transformando-se secundariamente, na maioria das vezes, em lesões ulcerativas. As lesões
vésico-bolhosas que contém pus em seu interior são denominadas de pústulas, enquanto que as que contém
sangue são denominadas de vesículas ou bolhas hemorrágicas. As vesículas ou bolhas que se formam na
região peribucal poderão evoluir para lesões ulcerativas e posteriormente crostosas. A crosta é o resultado da
dessecação ou ressecação de exudato serofibrionoso, hemorrágico ou purulento. As lesões vésico-bolhosas á
palpação apresentam uma consistência mole ou flácida.

 Pápula:

É uma lesão pequena, sólida, circunscrita e ligeiramente elevada, cujo maior diâmetro não ultrapassa a
5mm. À palpação apresenta consistência dura. Sendo lesões superficiais, em relação a base de implantação,
podem ser classificadas como: séssil e pediculada. Quando ocorre um ajuntamento ou coalescência de
pápulas forma-se uma placa papulomatosa.

 Nódulos:

São lesões sólidas ou semi-sólidas, circunscritas, de localização superficial (acima do epitélio) ou


profunda (abaixo do epitélio), podendo ser de origem epitelial, conjuntiva ou mista. Os nódulos superficiais
de acordo com a sua base de implantação podem ser: séssil ou pediculado. O nódulo superficial séssil
apresenta o diâmetro da base maior ou igual ao maior diâmetro da lesão. O nódulo superficial pediculado
apresenta o diâmetro da base menor do maior diâmetro da lesão.

Uma lesão nodular com um diâmetro maior do que 2mm poderá ser designada de nodosidade, massa
nodal ou tumor. Recomenda-se que a terminologia tumor, não seja utilizada na comunicação com o paciente,
devido à conotação que ele estabelece apenas com processos malignos.

 Hiperplasia:

É um termo mais próprio para designar alterações microscópicas, mas que devido ao seu uso clínico
freqüente, consagrou-se para designar alterações macroscópicas. Constitui-s em todo e qualquer crescimento
de caráter exofítico (cresce para fora), que não apresenta uma forma definida e de aspecto benigno. Na
cavidade bucal, a maioria das hiperplasias tem como agente causal o trauma físico mecânico crônico.

Você também pode gostar