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Anatomicamente a cavidade bucal situa-se no terço inferior da face e é delimitada por seis paredes:
A cavidade bucal representa a porção inicial do tubo digestivo, sendo constituída por uma série de
estruturas anatômicas (já discriminadas), que são banhadas por um líquido que é a saliva e contém uma flora
microbiana própria. Para o desenvolvimento de atividades fisiológicas, tais como: a mastigação, a deglutição
e a fonação, particularmente, os tecidos moles que a compõe é sede comum de agressões, além de outros
inúmeros fatores traumáticos (físicos, químicos) que poderão interferir na sua higidez. Mas devido a sua
constituição histológica, a flora bucal, a saliva e o metabolismo harmônico de todo conjunto, os tecidos que
compõem a cavidade bucal, apresentam um grande poder de defesa e quando lesada de reparação.
A mucosa bucal nas diferentes localizações tem características clínicas e histológicas que permitem
classificá-la em: semimucosa, mucosa de revestimento, mucosa mastigatória e mucosa sensorial. A
semimucosa corresponde à mucosa que reveste a face externa dos lábios, sendo uma zona intermediária
entre a pele e a mucosa bucal interna. A mucosa de revestimento corresponde à: mucosa labial interna,
mucosa julgal, sulcos vestibulares e linguais, mucosa alveolar, face ventral da língua, assoalho da boca,
gengiva livre e palato mole e orofaringe. A mucosa mastigatória (fibromucosa) que apresenta o maior grau
de queratinização corresponde à gengiva inserida e palato duro. A mucosa sensorial (especializada)
corresponde à superfície dorsal da língua.
Para o exame das estruturas peribucais e intra-bucais a identificação dos aspectos de normalidade é de
fundamental importância e devem ser de domínio do Cirurgião-Dentista. Assim sendo, serão descritos os
acidentes ou estruturas anatômicos que fazem parte da parede anterior (face externa) da boca, como também
as estruturas intra-bucais.
Estruturas peribucais:
Sulco nasogeniano: depressão oblíqua que parte de cada lado da asa do nariz até o limite superior do
músculo orbicular dos lábios. Acentua-se com a idade, perda dos dentes superiores ou da dimensão vertical
de oclusão (distância que vai da espinha nasal anterior - base do nariz - à base do mento).
Filtrum ou sulco subnasal: é uma depressão de aspecto semitriangular acima e ao centro do lábio superior.
Tubérculo do lábio superior: proeminência no centro do lábio superior, onde termina o filtrum. É mais
acentuado na criança.
Sulco mentolabial:prega ou depressão abaixo e ao centro do lábio inferior, formada pelo músculo
orbicular do lábio e proeminência convexa do mento.
Fossa mentoniana: depressão no centro da parte mais proeminente do mento.
Comissura labial: margem lateral da fenda bucal, formada pela união dos lábios superior e inferior.
Vermelhão dos lábios: face externa dos lábios superior e inferior, apresenta uma coloração rósea
avermelhada.
Face interna do lábio inferior: apresenta coloração rósea com aspecto granular (grande concentração de
glândulas salivares menores). Ao centro e no fundo do sulco julgal encontra-se o freio labial inferior.
Face interna do lábio superior: apresenta coloração rósea, com aspecto homogêneo. Ao centro e no fundo
do sulco julgal encontra-se o freio labial superior.
Vestíbulo bucal: região situada à frente dos dentes e atrás dos lábios e bochechas.
Sulco vestibular ou fundo de sulco ou sulco julgal: é o limite superior e inferior do vestíbulo bucal.
Mucosa Julgal: parede lateral interna da boca. Apresenta uma coloração rósea.
Ducto excretor da parótida: orifício terminal do conduto das glândulas parótidas, localizando na face
interna da mucosa julgal, aproximadamente entre as coroas de primeiro e segundo molares superiores.
Papila incisiva: elevação ovalada, localizada imediatamente atrás e entre os incisivos centrais superiores.
Rafe mediana ou palatina: linha estreita e ligeiramente elevada na parte anterior e deprimida na posterior,
localização no centro do palato duro, correspondendo a união dos ossos maxilares.
Rugosidade ou pregas palatinas: elevações na mucosa retilíneas ou arqueadas que partem radialmente à
rafe mediana anterior, imediatamente após a papila incisiva.
Palato mole: parte mais posterior do palato, também conhecido como véu palatino.
Amígdalas palatinas: localizadas entre o pilar anterior e posterior, na fossa ou cavidade amigdaliana, por
trás e ao lado do palato mole.
Papilas caliciformes: são as maiores papilas linguais, localizados imediatamente à frente do sulco terminal
da língua e, em conjunto, formam o V lingual. O número varia de 6 a 12 (média de 9).
Papilas fungiformes: são achatadas, avermelhadas, com maior concentração nas bordas e na ponta da
língua.
Papilas filiformes: elevações cônicas, forma de pêlo de pincel, distribuídos por toda superfície dorsal da
língua até a região das papilas caliciformes.
Soalho da boca: em ambos os lados do freio lingual existem dois pequenos orifícios correspondentes a
abertura dos ductos excretores das glândulas submandibulares e lateralmente a estes a abertura dos ductos
excretores das glândulas sublinguais.
- Gengiva livre ou marginal: é a que circunscreve o dente (rodeia os colos dentais), formado a sua
superfície interna o sulco gengival. É relativamente móvel, constituindo a porção não aderente do tecido
gengival.
- Gengiva inserida ou aderida: é a parte da gengiva que se encontra firmemente unida ao cemento e ao
osso alveolar. Está delimitada cervicalmente pelo sulco da gengiva livre e apicalmente pela junção
mucogengival, que a separa da mucosa alveolar (esta tem uma coloração mais avermelhada).
- Gengiva papilar ou papila interdental: é a parte da gengiva que ocupa os espaços interdentais (vestibular
e lingual ou palatino).
- Cor: o tecido gengival apresenta uma coloração rosa-claro ou vermelho-claro, podendo apresentar
pigmentação que pode variar desde castanho claro até ao preto, especialmente em pessoas descendentes da
raça negra.
- Aspecto: Gengiva inserida – aspecto pontilhado, granulado, semelhante à casca de laranja (forte tração da
gengiva contra o osso alveolar)
- Aspecto: Gengiva papilar – aspecto misto. Na periferia liso e opaco, co centro pontilhado, granulado.
- Consistência: dura, firme, consistente à palpação, resiliente (sob pressão desloca-se ligeiramente, mas
cessada a pressão retorna prontamente à origem)
- Sensibilidade: não deve apresentar dor à palpação, à escovação e à sondagem do sulco gengival, como
também não apresentar sangramento à escovação.
Dentro dos fundamentos básicos do diagnóstico das patologias que acometem a cavidade bucal temos
que, inicialmente, reconhecer os aspectos de normalidade; Em seguida, reconhecermos as variações da
normalidade, que poderão ser manifestadas de duas formas: por meio dos chamados aspectos ortológicos, e
dos aspectos patológicos propriamente ditos. Tanto os aspectos ortológicos, quanto os patológicos
manifestam-se sob as formas de lesão fundamental.
As lesões fundamentais são entendidas como os aspectos macroscópicos e morfológicos que as variações
da normalidade assumem quando acometem a mucosa bucal. Grinspan relata que “a identificação das lesões
fundamentais são tão importantes para o diagnóstico, quanto às letras do alfabeto para o aprendizado de um
idioma”. Por conseguinte, a primeira etapa do diagnóstico de uma determinada lesão, constituir-se-á na
descrição clinica de seus aspectos macroscópicos e morfológicos para que posteriormente possa estabelecer
uma propedêutica correta para a conclusão do diagnóstico.
As lesões (variações da normalidade) que acometem a mucosa bucal poderão ter manifestações clínicas
de formas simples ou combinada, podendo ser assim expressa:
Mácula ou mancha:
É uma alteração de coloração da mucosa, sem que haja elevação ou depressão. Situa-se ao nível da
mucosa. As manchas põem ser hipercrômicas, quando há aumento de pigmentação, ou hipocrômicas,
quando há diminuição da pigmentação.
Placa:
É uma lesão ligeiramente elevada, cuja principal característica é que a extensão é maior do que a altura.
A superfície da placa pode mostrar diversos aspectos: lisa, rugosa, ondulada, papilífera. As placas que na se
soltam por raspagem são chamadas de placas verdadeiras. As placas que se soltam por raspagem são
chamadas de pseudo-placas ou falsas-placas.
Erosão:
É a perda superficial do epitélio sem que haja exposição do tecido conjuntivo. Na cavidade bucal as
lesões erosivas assumem uma coloração avermelhada.
Úlcera / Ulceração:
- Fístula: quando atrás de uma área ulcerada existir um trajeto por onde drenam secreções.
- Exulceração: é um termo que serve para designar o envolvimento de grandes áreas na mucosa bucal,
sendo a lesão ligeiramente elevada, apresentando pontos de ulceração.
Vesícula / Bolha:
Pápula:
É uma lesão pequena, sólida, circunscrita e ligeiramente elevada, cujo maior diâmetro não ultrapassa a
5mm. À palpação apresenta consistência dura. Sendo lesões superficiais, em relação a base de implantação,
podem ser classificadas como: séssil e pediculada. Quando ocorre um ajuntamento ou coalescência de
pápulas forma-se uma placa papulomatosa.
Nódulos:
Uma lesão nodular com um diâmetro maior do que 2mm poderá ser designada de nodosidade, massa
nodal ou tumor. Recomenda-se que a terminologia tumor, não seja utilizada na comunicação com o paciente,
devido à conotação que ele estabelece apenas com processos malignos.
Hiperplasia:
É um termo mais próprio para designar alterações microscópicas, mas que devido ao seu uso clínico
freqüente, consagrou-se para designar alterações macroscópicas. Constitui-s em todo e qualquer crescimento
de caráter exofítico (cresce para fora), que não apresenta uma forma definida e de aspecto benigno. Na
cavidade bucal, a maioria das hiperplasias tem como agente causal o trauma físico mecânico crônico.