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“Estamos sempre prontos para deixar nossa mente ser dominada por esses estados
emocionais. Mas quando se trata de realmente experimentar o sofrimento resultante,
ficamos menos entusiasmados.”
Este ensino foi ministrado pelo Lama Gendun Rinpoche em Dordonha, França, no
verão de 1990. Lama Gendun é de origem tibetana, um dos monges que teve que fugir
de seu país, quando os chineses invadiram o Tibete. Muito conhecido por sua
habilidade como um meditador que passou muitos anos em refúgio no Tibete e na
Índia, ele foi convidado para Dordonha nos anos 70 para ensinar meditação aos
ocidentais interessados.
Desde então, Lama Gendun Rinpoche, fez do país sua própria casa, e no momento
está inteiramente voltado em orientar seus alunos durante o retiro de três anos, para o
qual, ele tem sete centros em Auvergne.
PREFÁCIO
A Noção de Tendrel
Tendrel é uma palavra tibetana que carrega consigo a ideia de um conjunto complexo
de causas inter-relacionadas que produzem algo, cuja existência depende
inteiramente da presença contínua dessas mesmas causas.
© Editions Dzambata
Os direitos de Gil são reservados, nem o texto nem as ilustrações podem ser
reproduzidos ou traduzidos sem a permissão por escrito do editor. ISBN 2 - 906940 -
08 – 9. Ilustrações de Max e Gerard Muguet: fotos de Bernard Boulanger e Bertrand
Villeneuve, os desenhos nas páginas 2, 72 e 103 são reproduzidos de ‘La peinture
tibétaine’ com "a gentil permissão do editor.
O texto em que se baseia o ensino é uma obra de Chagme Rinpoche, um lama culto e
experiente do século XVII. Incansável em seu trabalho de compilar a diversidade do
material escrito: disponível em sua época e transformando-os em manuais coerentes,
devemos a ele muitos comentários usados ainda hoje por sua exatidão e clareza.
Entre suas obras mais conhecidas está Mountain Teaching, uma coleção de conselhos
sobre uma ampla gama de tópicos relacionados à prática espiritual e à vida em retiro,
totalizando cerca de seiscentas páginas. Sua orientação é organizada em capítulos
independentes de acordo com o assunto, e um deles diz respeito às emoções. Ele
entra no capítulo, O Grande Pavão. O livro refere-se à fábula do pássaro e a sua
capacidade de comer veneno e transmutá-lo.” Nas cores perfurantes de sua
plumagem é um símbolo muito empregado no budismo tibetano para o processo
espiritual de transformação de energia emocional, em energia de sabedoria.
1. ABANDONANDO AS EMOÇÕES.
2. REMEDIANDO AS EMOÇÕES.
3. TRANSFORMANDO AS EMOÇÕES
4. VENDO A VERDADEIRA NATUREZA DAS EMOÇÕES.
5. USANDO AS EMOÇÕES COMO UM CAMINHO ESPIRITUAL
CONCLUSÃO
O QUE É UMA EMOÇÃO?
INTRODUÇÃO
O texto do qual este ensinamento trata sobre as emoções e foi extraído e composto
por Lama Chagme Rinpoche. É apenas um capítulo de uma grande obra que consiste
em conselhos práticos destinados principalmente para aqueles que praticam retiro nas
montanhas em tempo integral. Este capítulo específico é intitulado O Grande Pavão,
aquele que vence os venenos.
Aqui poderemos encontrar muitas instruções inestimáveis sobre o que fazer com os
cinco venenos: como abandoná-los, controlá-los e transformá-los, como reconhecer
sua verdadeira natureza de sabedoria e, finalmente, porque interpretamos as emoções
como nossa dor.
O autor começa com uma homenagem ao Buda Shakyamuni: ele se prostrou diante
de Shakyamuni, com uma profunda devoção com seu corpo, fala e mente.
Shakyamuni é considerado por ele o Buda perfeito que sabe tudo o que há para saber
sobre o Universo, e o qual foi o primeiro, que compartilhou sua compreensão com os
outros, na forma das Quatro Nobres Verdades.
Ele então explica que as instruções dadas neste capítulo têm sua origem em um
pedido de um de seus discípulos, Lama Karma Tsundru Gyamtso. Ele procurou o
autor em desespero porque, apesar de todos os seus esforços, ele foi incapaz de livrar
sua mente dos cinco venenos, e portanto, pediu a Chagme Rinpoche, para ser gentil o
suficiente, para lhe dar alguma orientação especial que o permitiria evitar ser
influenciado por essas emoções. O capítulo que temos aqui é a resposta de Chagme
Rinpoche.
Aqui encontramos em quatro, as seções importantes. Devemos começar
abandonando os cinco venenos, e então aprender a controlá-los, através da aplicação
dos remédios apropriados para cada veneno. Mais tarde, seremos capazes de
reconhecer a verdadeira natureza da emoção como sendo uma energia de sabedoria,
que nos levará finalmente, a usar as emoções para que se tornem uma forma de
promover nosso progresso espiritual.
1. ABANDONANDO AS EMOÇÕES
Não existe apenas um único inferno, mas dezoito deles, cada um com seu tipo
particular de sofrimento. E por que é isso?
Porque os seres vivos que nasceram em tais estados acumularam no passado,
diferentes “tipos de más ações em diferentes graus, e é por isso que não existe
apenas um único estado de sofrimento infernal, mas dezoito deles. O mesmo se aplica
ao reino dos fantasmas famintos.
Diz-se que existem quatro categorias específicas de fantasmas famintos, cada um
com sua forma especial de sofrimento, todos eles relacionados à fome e à sede.
Podemos ver por nós mesmos a grande variedade de seres pertencentes ao reino
animal, sabemos que alguns vivem no mar, alguns em terra, alguns passam a vida no
ar. Alguns deles sofrem em particular por serem possuídos e explorados por seres
humanos, outros são livres, mas vivem com medo de serem perseguidos.
Se voltarmos nossa mente dos reinos inferiores de existência, para os reinos
superiores, vemos a mesma coisa. Em nosso próprio reino, o reino humano, podemos
ver que algumas pessoas são felizes, enquanto a vida de outras contém um grau
muito maior de sofrimento. Isso ocorre porque no passado aqueles que estavam
destinados a nascer como seres humanos e realizaram uma mistura de ações
positivas e negativas, que amadurecerão esporadicamente durante a vida humana
como felicidade ou sofrimento, razão pela qual este mundo não é de felicidade total e
nem um de sofrimento total.
É dito que os seres nos reinos inferiores são tão numerosos quanto os grãos de solo
encontrados em um grande pedaço de Terra, em comparação com os que renascem
como humanos ou deuses são tão numerosos quanto os grãos de solo cobrindo uma
superfície do tamanho de uma unha do dedo.
Mas, por que isso acontece?
A razão para que isso aconteça, é que são poucos os seres no universo que praticam
ações positivas, daí a disparidade nas populações dos diferentes reinos. Você pode
achar que é melhor não pensar no sofrimento, porque, ao fazer isso, só ficamos
deprimidos, mas essa atitude é completamente falsa, estamos simplesmente nos
enganando. Se evitarmos pensar sobre o sofrimento, nunca poderemos ser realmente
felizes, pois estaremos evitando a confusão mental, que está na raiz de nossa miséria
atual.
Ao invés disso, devemos nos preocupar com nosso futuro e mudar a maneira como
nos comportamos agora, para que corresponda ao tipo de futuro que desejamos. Se
quisermos ser felizes no futuro, devemos praticar ações positivas agora, se quisermos
evitar o sofrimento no futuro, devemos agora evitar ações negativas, só assim
conseguiremos os resultados que procuramos.
Os frutos de nossas ações são infalíveis, eles sempre corresponderão à natureza
original da ação. É como plantar sementes, se plantarmos as sementes de uma
macieira e de uma laranjeira, quando as sementes crescerem em suas respectivas
plantas, os frutos que aparecem nas árvores corresponderão à semente original
plantada, o mesmo se aplica à lei do Karma.
Quaisquer ações que realizemos irão amadurecer na forma de felicidade ou sofrimento
de acordo com a semente lançada no momento do ato original. Não há como alterar
essa lei natural. Portanto, é importante escolher cuidadosamente as ações que
realizamos se quisermos ser felizes e evitar o sofrimento.
O que torna uma ação positiva ou negativa é a atitude mental que temos quando
agimos. Se estivermos pensando principalmente em nós mesmos quando agimos,
nossa ação será contaminada pelo apego ao ego, então, torna-se uma ação negativa
que traz sofrimento em seu rastro. Se, no entanto, nossa única intenção é ser útil para
outra pessoa, a ação será positiva e produzirá felicidade, simplesmente porque não
houve ego-conscientização envolvida enquanto ela foi realizada.
Todas as diferentes formas de felicidade que vemos no mundo - riqueza,
contentamento, harmonia, criatividade e assim por diante – só são possíveis pela
bênção dos Budas. É isso que move os Bodhisattvas, em suas aspirações para ajudar
outros seres a seguir o caminho do Buda.
Um Bodhisativa, é alguém que vive para os outros, e é destituído de interesses
próprios. Este é o ideal espiritual das escolas Mahayana, o caminho espiritual para
desejar que todos os seres vivos no futuro possam encontrar, facilmente tudo o que
precisam, que tudo o que os faria felizes aconteça, que quaisquer desejos que eles
tenham possam ser realizados. Os Bodhisattvas, dedicam todo o mérito que
acumulam para que todos os seres vivos possam encontrar o estado desperto que
procuram, e como resultado desses desejos especiais fundados na prática da virtude,
que este mundo tem tal potencial para a felicidade.
Mas cada indivíduo só pode se beneficiar dessa felicidade, se tiver acumulado um
bom Karma anteriormente. Há muitos que não estão felizes, que sofrem, estão em
dificuldades ou são pobres, isso não é devido à ineficácia das aspirações dos
Bodhisattvas, mais sim, por más ações realizadas no passado por aquela pessoa em
particular e significam que, essas pessoas não poderão ser beneficiadas por meio do
acúmulo de mérito ou das práticas e aspirações feitas pelos Bodhisattvas.
Nós também devemos seguir o exemplo dos Bodhisativas, para acumular tantos atos
virtuosos quanto possível e dedicar seus efeitos à felicidade de todos os seres vivos
do Universo. Depois de tal dedicação, devemos então continuar a praticar a aspiração
de desejo espontâneo e atingir, dessa maneira o estado desperto, ou estado de Buda.
Assim como fazem os Bodhisattvas, formulando orações para que por meio desse
mérito, todos os seres vivos possam desfrutar da felicidade e que nunca precisem
passar por qualquer tipo de necessidade. Dessa forma, gradualmente nos treinamos
para ser Bodhisattvas, seguindo o exemplo que eles nos dão.
Entre as seis categorias de existência que compõem o universo, encontramos os
reinos divinos, céus onde todos os que ali nascem, experimentam, durante sua vida
como um deus, felicidade total. O sofrimento é desconhecido para eles, o que leva
alguém a nascer como um deus? É o acúmulo de mérito passado desses seres, mérito
não associado à sabedoria (consciência desperta), durante o acúmulo. É mérito
limitado por conceitos, pontos de referência para a mente, que a mantêm presa ao
reino do sujeito, objeto e ação.
A pessoa que cria esse tipo de mérito não entendeu, como deixar a mente descansar
em um estado de sabedoria, livre das ideias limitantes de sujeito, objeto e ação. Ele é
incapaz de dedicar o mérito que acumula aos seres vivos, como resultado, é que se
amadurece no renascimento, como um deus. A felicidade encontrada, não é
duradoura, mais cedo ou mais tarde ele se exaurirá, e nesse ponto, sem nenhum
mérito adicional sobrando para ele, esse ser, inevitavelmente cairá nos estados
inferiores de existência onde seu sofrimento não conhecerá limites.
Podemos ver, portanto, que esse tipo de felicidade não é confiável, então não
devemos ter como objetivo esse renascimento. Em vez disso, devemos dedicar todo o
mérito que acumulamos para o benefício dos seres vivos e deixar a mente descansar
após cada dedicação em um estado de completa abertura, livre de todos os pontos de
referência. Nesse estado, a mente está livre de se apegar a ideias de sujeito, objeto e
ação, o mérito que acumulamos nunca pode ser gasto, torna-se inesgotável. Se
quisermos ser sinceros em nossa prática dos ensinamentos do Buda, temos que
deixar ir completamente todas as nossas preocupações, com as coisas deste mundo e
nos devotar inteiramente, no corpo, fala e mente, para nossos objetivos espirituais.
Devemos dedicar, os resultados de tudo o que fazemos, para o benefício de outros
seres vivos. Se nos comportarmos desta forma, iremos progredir gradualmente
através de todas as diferentes etapas no caminho de um bodhisattva, até chegarmos
a: “Toda a nossa vida está repleta de frustração. Quando chove, não gostamos do
molhado, quando não chove, nos preocupamos com a seca. Nada é perfeito."
Iluminação suprema e perfeita, nesse momento estamos totalmente livres de todo o
nosso sofrimento e, somos plenamente capazes de libertar os outros dos seus
sofrimentos. Nossa atividade torna-se tão ampla quanto o céu, podemos atuar sem
qualquer limitação, com muitos recursos até então desconhecidos à nossa disposição.
Portanto, é muito importante conhecer e confiar no funcionamento dessa infalível lei do
Karma, a lei de causa e efeito. Somente quando tivermos compreendido totalmente,
essa lei, poderemos avaliar a natureza insatisfatória da existência cíclica, emoção e
ego.
Em última análise, o ciclo de existência está vazio de qualquer realidade verdadeira,
mas enquanto a mente está nublada pela ignorância, ela permanece inconsciente
disso, e cria uma realidade própria. Desenvolve-se na mente de cada indivíduo uma
ideia muito sutil de um ego ou um eu, um senso de identidade que gradualmente se
solidifica no que chamamos de "apego ao ego".
A ideia de um EU, implica automaticamente uma ideia de "o outro", e nos encontramos
operando em um mundo de dualidade. Nossa mente é influenciada como quando
julgamos o relacionamento entre nós e os outros. Consideramos algumas pessoas
próximas de nós, outras distantes, sentimos apego por alguns e ódio por outros. Essas
reações fazem com que a mente seja, constantemente perturbada pelos cinco estados
emocionais básicos, e isso faz com que nosso comportamento produza
sistematicamente uma reação. À medida que essas reações múltiplas amadurecem,
elas determinam a forma do mundo ao nosso redor.
Então, na verdade, o mundo em que vivemos nada mais é do que o produto ilusório da
atividade iludida da mente, é a criação da mente, sem nenhuma realidade verdadeira.
Mas enquanto não entendermos isso, estaremos convencidos de que existe e,
portanto, quando agirmos, o faremos completamente convencidos de que nossas
ações são importantes, que terão algum impacto no mundo ao nosso redor.
É como estar dormindo e sonhando, no sonho, estamos convencidos de que o mundo
criado pela mente é real e por isso usamos nossa energia realizando todos os tipos de
ações para alterar o curso dos eventos no sonho. Quando não temos sucesso,
sofremos e nos sentimos frustrados. É difícil para nós pensarmos na ignorância como
uma emoção, mas se pensarmos com cuidado, podemos ser influenciados pela
ignorância tanto quanto pelo desejo ou pela raiva. A ignorância não é algo neutro, sem
efeitos ou consequências, é um estado de espírito definido que nos faz agir de uma
determinada maneira.
Ignorância é quando somos incapazes, de ver as coisas como realmente são, isso
pode ser consciente ou inconsciente, a incapacidade de reconhecer o que está
acontecendo, por vezes elogiada como inocência, ou talvez um sentimento definido de
indiferença, mesmo deliberadamente, por não querer saber. Pode variar desde a
confusão geral sobre o que realmente está acontecendo até a formação de visões
errôneas definitivas. Também existe um certo elemento de apego a ignorância que
pode até ser bastante confortável (‘Ignorância é bem-aventurança). Se olharmos para
nós mesmo de perto, encontraremos essa atitude em muito de nosso comportamento.
Do ponto de vista budista, a ignorância é tudo menos bem-aventurança e inocência.
Na verdade, é a principal causa de nosso sofrimento, e é por isso, que a encontramos
firmemente incluída nos cinco venenos, é exatamente o que está acontecendo durante
nossa vida desperta.
Todas as diferentes ações que realizamos em nossas vidas diárias, têm o objetivo de
nos ajudar a realizar nossos desejos, mas muitas vezes nossos esforços permanecem
sem sucesso, mesmo que obtenhamos o que buscamos, seremos confrontados com
sua possível perda. O que quer que façamos para evitar uma situação, ainda assim,
podemos ter que enfrentá-la, outras vezes, faríamos qualquer coisa para que uma
situação acontecesse, mas ela nos escapa.
Toda a nossa vida é repleta de frustração, quando chove, não gostamos do molhado,
quando não chove, preocupamo-nos com a seca. Nada é perfeito, todas essas
reações diferentes são devidas às demandas do ego, e é por isso que o Buda ensinou
que o apego ao ego está na raiz de toda a existência cíclica.
Como seres humanos, muitas vezes temos que tomar uma decisão sobre o caminho
que devemos seguir. É como se estivéssemos em uma bifurcação, podendo ir para a
direita ou para a esquerda. Como escolher? Depende da quantidade de consciência
ou ignorância em nossa mente, se permanecermos na ignorância, ainda estaremos
convencidos de que podemos encontrar felicidade duradoura neste mundo, então
todos os nossos esforços são direcionados para nos tornarmos felizes ou evitar o
sofrimento.
No entanto, embora permaneçamos ignorantes das realidades do mundo, todos os
nossos esforços serão em vão, não podemos criar felicidade a longo prazo.
Continuamos a sofrer de uma vida para outra, circulando por uma forma de sofrimento
após a outra. Se, no entanto, escolhermos a consciência, isso significa que a nossa
compreensão, é de que o ciclo da existência é caracterizado pelo sofrimento, a única
maneira de acabar com o sofrimento de uma vez por todas é ir para o estado de Buda
e transcender completamente a existência mundana comum. Esta é a decisão que
devemos tomar como ser humano, e é algo que devemos fazer agora, se quisermos
que tenha algum efeito sobre nosso futuro. Se esperarmos até o momento da morte,
será tarde demais.
Vimos que devemos todo o nosso sofrimento às nossas ações não virtuosas, qualquer
ação realizada enquanto a mente é influenciada por um, ou outro dos cinco venenos, é
automaticamente uma ação negativa e levará ao sofrimento. Essas ações, motivadas
pelas emoções perturbadoras, são ações que devemos abandonar, até que o
façamos, teremos que viver o sofrimento desta existência atual.
Para apreciar plenamente esta, é a primeira das quatro nobres verdades, a nobre
verdade do sofrimento, e por causa da tendência persistente, que temos de nos
apegar à ideia de um eu ou um ego, considerando sempre nosso próprio corpo com
seus cinco psico-físicos. Os constituintes psico-físicos (skandhas em Sanscrito), são
forma, sentimento, percepção, associações mentais e consciência. Que entendemos
como, "constituintes dos nossos eus’, esta é a nossa própria pessoa, nós nos
identificamos com ela.
Essa atitude é a causa do nosso sofrimento, porque por meio dela, nossa mente será
constantemente agitada pelas emoções, e são precisamente o que nos levará a agir
de forma negativa, trazendo sofrimento em seu rastro. O reconhecimento desse fato é
a nobre verdade da causa do sofrimento. Os cinco venenos são a causa do nosso
sofrimento porque é por meio deles que cometemos ações negativas.
Se pudessemos acabar com os distúrbios emocionais em nossa mente, poderíamos
então estar livres do sofrimento. Esta é a nobre verdade da cessação do sofrimento,
trabalhando nosso caminho através dos diferentes estágios do caminho ensinado pelo
Buda, finalmente seremos capazes de alcançar a iluminação, onde toda oposição, as
cinco emoções incluídas, serão finalmente superadas. Esta é a nobre verdade do
caminho, o caminho que nos conduz para fora do sofrimento. Temos aqui, em resumo,
os pontos essenciais do primeiro ciclo de ensino que o Buda, Shakyamuni, deu em
Benares, alguns dias após sua iluminação.
As emoções e o renascimento
O texto prossegue explicando que, se nossa mente for influenciada pela emoção do
desejo - apego, isso acabará resultando no renascimento de um fantasma faminto:
influenciado por uma forte raiva, renasceremos nos infernos. Se nossa mente é
dominada pela ignorância ou embotamento mental, a vida como um animal nos
espera. Por meio do ciúme, renasceremos como um semideus, enquanto o orgulho,
leva a uma existência como um deus ou como um ser humano. Essas são apenas
indicações gerais relacionadas a estados emocionais muito fortes. Não significa, por
exemplo, que toda vez que estivermos com raiva, nasceremos no inferno. A lei do
Karma é muito mais sutil e complexa do que isso.
Nossa natureza, nossa felicidade arduamente conquistadas mais cedo ou mais tarde
será substituída pelo sofrimento, uma transformação que pode ocorrer muito
rapidamente. Nós próprios sabemos, que, como seres humanos, devemos enfrentar
as quatro características do sofrimento humano: nascimento, velhice, doença e morte,
tudo isso inúmeras vezes, sem qualquer possibilidade de libertação dessas dores
humanas. Na raiz de tudo isso está, a atividade das cinco emoções na mente, é por
isso que precisamos abandoná-las, se ainda precisamos ser convencidos, devemos
simplesmente olhar ao nosso redor para as pessoas que conhecemos. Podemos ver
por nós mesmos que cada pessoa tem uma emoção diferente e predominante em sua
mente.
Para alguns, é a emoção do desejo que é mais ativa e muito do sofrimento que eles
têm em suas vidas, vem das ações realizadas quando motivadas pelo desejo. Para
outros a emoção principal é a raiva, para outros ainda é o Ciúme, fazendo com que
cada pessoa reaja de forma diferente em cada situação. A razão pela qual, como
seres humanos, qualquer uma das cinco emoções principais pode predominar, é por
causa de nossas ações em vidas anteriores. Se no passado acumulamos atos
motivados principalmente pela raiva, agora descobriremos que a raiva é a forma mais
ativa de emoção em nós. O mesmo se aplica às outras emoções, compreender a lei
de causa e efeito, nos ajuda a perceber por que, para nós, algumas emoções são mais
ativas e mais poderosas do que outras. Essa pode ser uma das vantagens de
abandonar as emoções.
Uma vez nascidos neste mundo, sabemos que mais cedo ou mais tarde teremos que
morrer e o momento da morte, não é uma experiência fácil de passar. Mas se não
seguirmos as instruções do Buda, a respeito das atitudes corretas em face das
emoções, do sofrimento que temos no momento, a morte será multiplicada por um
fator de cem mil. Ao aprender a modificar nossas tendências emocionais, entretanto,
se tivermos uma boa conduta ética, então, mesmo que morramos, é como se a morte
não existisse para nós, porque no momento da morte, renascemos instantaneamente
com um corpo belo, em uma existência muito agradável, evitando assim qualquer
sofrimento no momento da morte e de todas as reflexões para nos ajudar a abandonar
as emoções.
Se abandonarmos nossos compromissos e votos por apego a algo muito bonito ou
atraente, seremos como uma mariposa, tentada pela presença de uma lamparina de
manteiga, por causa de seu apego, a mariposa cairá na chama da lamparina de
manteiga e morrerá. Se permitirmos nos apegar a algum objeto agradável, estaremos
nos comportando como mariposas e criando nossa própria morte.
Não deve ser com a intenção de se tornar melhor ou mais puro do que outros,
qualquer pessoa que use as vestes monásticas, torna-se parte da Sangha, a terceira
das Três Jóias, nunca devemos desprezar tal pessoa, porque embora sua conduta
possa não ser exteriormente perfeita, não podemos ver dentro deles e realmente
entender sua motivação ou seu estado de espírito. O mesmo se aplica aos praticantes
ou a qualquer pessoa. Em vez disso, desenvolva uma visão pura, um entendimento
sincero de que todos os seres vivos tem a natureza de Buda. Não há razão para
desprezar qualquer ser vivo e pensar nisso como algo inútil. Mesmo o menor inseto
tem a natureza de Buda, e um dia se iluminará, é importante treinarmos
constantemente nossa visão, nesta visão imaculada que respeita profundamente
outros seres vivos.
De modo geral, faríamos bem em cultivar uma visão de nós mesmos que nos
considera inferiores a todos os outros seres vivos. Desta forma, nunca iriamos ser
vítima de sentimentos, como orgulho ou ciúme. Essas reflexões destinam-se a nos
encorajar a, abandonarmos os cinco venenos da mente, e dessa forma, chegamos ao
final da seção sobre o abandono das emoções.
EMOÇÕES.
É neste ponto que nossas qualidades internas têm a capacidade para influenciar as
emoções, à medida que aparecem em nossa mente. Somente como o antídoto
tomado para o veneno, tais qualidades podem modificar os efeitos das emoções.
Quanto mais poderoso o antídoto, melhor será a dispersão do veneno. No início,
devemos cultivar deliberadamente essas codornizes (um tipo de ave), uma vez que
eles estão longe do natural/ideal, para a nossa existência egocêntrica. Mas com tempo
e paciência, eles tornam-se tão inexpugnáveis, que vencem todas as vezes, em face
de nossas emoções. Chagme Rinpoche, nos diz quais são as qualidades específicas,
mais eficaz em neutralizar cada uma das cinco principais emoções. Uma vez que o
antídoto é conhecido, resta-nos fabricar e administrar, depois devemos aprender como
disciplinar as emoções através da aplicação dos remédios apropriados.
Meditações para remediar o desejo
Enquanto passamos a vida pensando em nós mesmos como muito bons, nós
continuamos a esconder nossas falhas de nós mesmos. Assim, nunca nos livraremos
delas, esta reflexão nos faz admitir nossas próprias falhas, pavimentando assim o
caminho de sua remoção. Nosso orgulho por nós mesmos e nossas qualidades é
superado.
Quer sejamos um Lama ou um amigo espiritual, ou simplesmente alguém que prática
os ensinamentos do Buda, é muito importante olhar para os nossas próprias mentes e
examinarmos regularmente em busca de falhas. Uma vez identificadas, elas podem
ser eliminadas e substituídas por boas qualidades. Se não admitirmos as nossas
próprias faltas, nós apenas nos tornamos mais e mais orgulhosos, e o orgulho nos faz
ver nossas próprias falhas como qualidades, e nosso comportamento em relação
aos outros se deteriora. As pessoas com quem estamos são persuadidas a
compartilhar nossa própria opinião sobre nós mesmos e, além disso, nós nos
convencemos de que estamos certos, por estar trocando as impurezas em nossa
mente pela pureza.
Isso acaba fazendo com que nós mesmos e os outros caiamos em estados inferiores
de renascimento, é por isso que devemos praticar o Dharma, constantemente para
purificar nossas próprias falhas, e acabar com suas consequências, em primeiro lugar
devemos começar por!
Deidades não são seres divinos, mas sim, aspectos de nossa própria mente
visualizados por meio de um imaginário, altamente complexo, através da qual criamos
um acesso à nossa natureza interior. 'É muito importante procurarmos em nossa
própria mente e examinarmos a nós mesmos, e buscarmos informações por falhas,
regularmente. “Uma vez detectadas, essas falhas poderão ser removidas e
substituídas por boas qualidades.”
Olhando para nós mesmos, observando nossas falhas e, em seguida, devemos usa as
instruções que estão em nossa posse, para nos livrarmos delas. Uma vez que nossa
mente esteja completamente livre de todas as falhas, todas as nossas ações tornam-
se perfeitas. Alcançamos a pureza genuína do, Estado de Buda, iluminação perfeita.
Ver automaticamente, as falhas em nossa própria mente, faz-nos sentir
envergonhados, e isso por si só, diminuirá os sentimentos de orgulho dentro da mente.
Encarando o fato de termos muitos defeitos em nossa mente, essa já é uma excelente
forma de reduzir nosso orgulho, e sentir prazer em ver o sucesso dos outros, isso irá
neutralizar o ciúme.
Uma prática semelhante de reflexão serve para reduzir o ciúme. Nós pensamos em
quando recebemos os votos de Bodhisattva. Durante a cerimônia os Budas estavam
olhando como testemunhas do voto que fizemos naquele dia para comprometermo-
nos a alcançar a iluminação para o benefício de todos os seres vivos, e após a
iluminação, colocando-os também nesse mesmo estado.
Ao mesmo tempo, prometemos nos comportar de forma a produzir tanto quanto for
possível, a virtude e ações positivas, para outros seres vivos, agindo o tempo todo
apenas para o benefício deles. Também nos comprometemos em orar constantemente
pelos outros, formulando o desejo de que sejam felizes, e venham a possuir as causas
da felicidade.
Está certo, então, para ignorar tudo isso e, em vez disso, cada vez que vemos alguém
feliz ou bem-sucedido, alguém que está melhor do que nós ou quem alcançou algo a
mais, imediatamente sentimos ciúmes e ressentimento dessa pessoa? Se esta for a
nossa reação, estaremos indo contra todos os nossos compromissos anteriores. Cada
vez que vemos alguém feliz, em vez de nos sentirmos contentes, porque nossos
desejos como um bodhisattva estão sendo cumpridos, sentimos ciúmes deles, algo
bem ao contrário das promessas que fizemos na frente dos Budas. Para neutralizar
essa reação de ciúme, toda vez que vemos alguém feliz ou alegre, ficamos feliz por
eles, este é o antídoto para a emoção do ciúme. Devemos entender que sentir ciúmes
sempre que vemos alguém melhor do que nós mesmos, simplesmente resulta em
renascimento no inferno, ou como um semideus, e todo o sofrimento que tal existência
envolve. Devemos, portanto, pensar tudo isto com muito cuidado para apaziguar
nosso ciúme.
Isso nos leva ao final da segunda seção sobre como lidar com as emoções, como
superar as emoções através do uso dos remédios apropriados. Os métodos ensinados
nesta segunda parte correspondem à aqueles dos Sutras comuns, tanto Mahayana
quanto Hinayana. O cânone do sutra da escola Mahayana, é maior que o da
Hinayana. Graças ao que chamamos de acúmulo de mérito ou a crescente influência
que nosso comportamento positivo acumulado tem sobre nosso estado mental,
começamos a sentir uma sensação crescente de consciência. Nossa mente começa a
emergir de sua obscuridade, a sensibilidade se desenvolve em pura intuição. Se
formos um praticante regular de meditação, o primeiro sinal desta nova fase do nosso
crescimento espiritual será experiênciar um sentimento de vazio interior. O mundo
parece não ter solidez, nada é fixo ou permanente como antes, e ainda assim tudo
parece perfeitamente natural, sem qualquer sensação de enfermidade. Se nosso ego
estiver preparado para liberar seu domínio sobre uma concepção concreta do mundo,
nossa lucidez mental durante a meditação melhora, e o "Sentimento" desaparece,
deixando a mente clara como cristal.
É neste tipo de ambiente, que podemos praticar a procura na verdadeira natureza do
que temos chamado até agora, de 'emoção'. Usando nossa nova clareza como um
holofote, podemos ver as emoções pelo que realmente são: energia da sabedoria.
Mesmo o breve momento da descoberta inicial, da realidade por trás da máscara,
criadas pelo ego, impede a confusão da emoção e por uma fração de segundos
conhecemos a sabedoria. O instante passa, mas a memória permanece e nunca
somos os mesmos novamente, nossa atitude em relação às nossas emoções, estará
completamente revolucionado.
No entanto, antes deste momento, haverão muitas tentativas de ver as emoções,
algumas delas obviamente, malsucedidas que revelam-se uma farsa, somente depois
de algum tempo, muitas vezes graças ao efeito catalisador de um professor
experiente. Antes do raiar da verdadeira clareza, a emoção só pode ser vista como
uma emoção, recusando-se a reconhecê-la como tal, na vã ambição de ver outra
coisa, que só pode nos desencaminhar.
Tal como acontece com a aplicação de antídotos, as fases iniciais da prática, são
deliberadamente orquestradas de modo a favorecer um alto grau de clareza. Esta é a
prática da meditação do discernimento, parte do caminho tradicional já mapeado para
quem pratica meditação informal, contemplando a mente como ela é. Aqueles que
confiam na visualização de imagens universais como uma técnica de meditação, tem
uma prática especial da sua mente, dissolvendo o mundo concreto no vazio e
imaginando as cinco emoções, como os cinco aspectos universais da mente
iluminada. Essas visualizações servem para treinar novamente a mente para uma
visão de coisas que se perderam quando o ego assumiu o controle. Chagme Rinpoche
chama isso de transformação da emoção, e a trata como uma seção separada, antes
de voltar sua atenção para a principal parte que trata da percepção direta da mente
usando a nossa própria lucidez inata.
TRANSFORMANDO AS EMOÇÕES
Os cinco caminhos que nos conduzem para o renascimento são aqueles que abrem-
se na frente de nossa consciência, depois da morte, e os quais irão liderar o caminho
para o renascimento, em um dos seis reinos. O reino dos homens e dos deuses
renascidos, são contados como somente um. Nessa próxima seção, trataremos da
descrição de um método, sobre a dissolução dos cinco venenos no vazio, fazendo
com que as emoções desapareçam, através das visualizações. No instante em que
qualquer um dos cinco venenos se mostrarem em nossa mente, recite o mantra de
Sobhawa, e possivelmente, todas as emoções serão limpas em uma clara vacuidade.
Imagine que, as cinco emoções perturbadoras na mente, e outras emoções, e em
suas presenças potenciais, transformam-se nos cinco Budas Dhyani (as imagens
universais da energia purificada das cinco emoções).
Visualize muito claramente sua raiva assumindo a forma de Dorje Sempa, seu orgulho
Ratnasambhava, e seu desejo apego em Amitabha, ciúme Amogha- siddhi e
ignorância são a forma de Vairocana.
Imagine que esses cinco Budas enviam raios de luz que preenchem o todo o universo.
Eles purificam não apenas todo o Karma negativo produzido como resultado da
atividade dos cinco venenos em cada ser vivo, mas ao mesmo tempo, as nossas
próprias emoções.
As mentes dos seres vivos tornam-se completamente livres de todas as emoções,
acabando completamente com todas as possibilidades de qualquer renascimento
subsequente, em qualquer um dos diferentes estados de existência, simbolizado pelos
cinco caminhos que levam ao renascimento. A luz retorna para se dissolver nas
figuras de Buda, sobre as quais se fundem em luz e desaparecem completamente no
vazio. Devemos realizar esta meditação regularmente sempre que, qualquer uma das
emoções apareçam em nossa mente, e depois disso, faça o seguinte desejo: desde
essa vida em diante, e em todas as minhas vidas futuras, que todos os que entrarem
em contato comigo, seja por me ver, me ouvir ou pensar em mim, encontrem os véus
das cinco emoções perturbadoras, purificados. Que eu tenha essa habilidade. Além
disso, quando eu mesmo já tiver alcançado a iluminação, que o mundo do Buda, seja
projetado da minha própria mente, que não mais conterá, nenhum dos cinco venenos
de qualquer espécie.
Que esses desejos, possam também, ser feitos mentalmente ou recitados, ou mesmo
com palavras, sempre que essa meditação for usada, sempre que nosso desejo de
purificar as emoções em vacuidade, se realize através da visualização dos cinco
Buddhas. Este método de transformar os cinco venenos é mais usado por aqueles que
praticam a meditação criativa (um método baseado em imagens). A base na qual,
fundamenta-se essa meditação é a seguinte: em um sentido amplo, e que a
verdadeira natureza do universo possa ser um recipiente, o palácio puro para a
divindade. Todos os seres vivos contidos nele têm sido divindades Yidam, desde o
início dos tempos.
Devemos fazer essa vizualização muito claramente e, estando "ciente de que isso irá
apaziguar nossa ignorância". O desejo comum e o apego, nunca devem ser
desenvolvidos para as divindades Yidam, nem tampouco poderemos ficar zangados
ou insultá-las. Se todo mundo é uma divindade Yidam pura, então todos são iguais,
portanto, não há razão para pensar em algumas pessoas como superior e outros como
inferiores.
Não há lugar para orgulho ou ciúmes. Podemos ver, então, que por meio desse tipo de
contemplação todos os cinco venenos cessarão automaticamente. Por causa da
ignorância, não vemos a verdadeira natureza dos diferentes elementos psicofísicos
que constituem nosso ser, as cinco Skandhas. Esses cinco elementos e as energias
das quais eles dependem, tem sido, desde o começo dos tempos, as mesmas
energias que se manifestam como os Budas e suas Consortes. Quando falhamos em
não reconhecer isso, veremos apenas seres humanos comuns e perceberemos a
atividade dessas energias apenas, como emoções problemáticas que aparecem
regularmente em nossa mente. Mas, na verdade, esses elementos e suas energias
são bastante puros. Na realidade os cinco venenos nada mais são do que as cinco
sabedorias, a única diferença que existe entre uma emoção e sua sabedoria
correspondente, é a presença ou ausência de consciência. Quando estamos cientes
da verdadeira natureza das coisas vemos as cinco sabedorias, caso contrário, vemos
apenas os cinco venenos e iremos experencia-lós como tal. É importante, todavia,
reconhecer que uma emoção não é algo inerentemente impuro, é simplesmente,
porque não vemos que emoção ela realmente é: uma das cinco sabedorias.
Se desenvolvermos uma ideia de nós mesmos como a divindade Yidam, pura e ainda
assim, ao mesmo tempo, ver aos outros, como comuns e impuros, esta é apenas outra
forma de orgulho. Essa atitude continua a ser baseada no apego ao ego, porque
embora estejamos prontos para nos ver como uma divindade, nós continuamos a
desprezar os outros como pessoas comuns, com todos os defeitos habituais.
Isso definitivamente não é o puro orgulho de nossa natureza divina. Assim que
deixarmos ir nosso ego, poderemos perceber em nossa mente a sabedoria primordial,
que é livre de todo ego porque está além do ego. Esta é a mente genuína da
divindade, onde não apenas nós somos a divindade, mas também toda a vida no
Universo. Com a mente neste estado de pura consciência, não há lugar para
ignorância, nem para raiva, apego, orgulho ou ciúme.
A mesma base de pensamento também é usada para na prática de ver dentro da
natureza dos cinco venenos descritos na próxima seção.
Da mesma forma, o simples fato da sabedoria estar na mente serve para banir
completamente todas as emoções. Se conseguirmos meditar desta forma no momento
em que detectarmos as emoções em nossa mente, naquele mesmo instante, vemos
sua sabedoria e assim, nos libertamos de seu aspecto emocional. Isso é conhecido
como aparecimento e liberação simultânea das emoções, cada um dos cinco venenos
é então, reconhecido como uma das cinco sabedorias. Se, no entanto, não
conseguirmos ver o aspecto de sabedoria do evento ocorrendo na mente, tornamo-nos
mais uma vez envolvidos na dualidade. Nós seguimos o pensamento, nos deixamos
ser influenciados por ele, e começamos a reagir ao objeto, seja aceitando-o ou
rejeitando-o, até que a mente seja invadida por confusão e emoção e acabamos tendo
que experimentar o sofrimento que se segue.
Diz no texto que, se abandonarmos os cinco venenos, será impossível encontrar
alguma sabedoria. A atividade das emoções é a atividade da mente, cada emoção que
aparece nada mais é do que a própria mente em ação, então se rejeitarmos as
emoções, estaremos ao mesmo tempo rejeitando a mente. Ainda assim, é somente
através de sua atividade que chegaremos a descobrir a atividade de sabedoria, então,
ao rejeitar a atividade emocional da mente, rejeitamos ao mesmo tempo, a
possibilidade de encontrar sua atividade de sabedoria. Isso nunca vai levar-nos a
perceber a última realidade da mente.
A comida que você come durante este retiro deve ser sido obtida por você mesmo.
Você não deve comer alimentos oferecidos por outras pessoas. A razão para isso é
que geralmente as pessoas que vêm e oferecem comida aos lamas têm algum
interesse em fazê-lo. Talvez eles queiram que o Lama faça orações ou rituais para
eles, a comida em si é consequentemente poluída pelo desejos dos outros, e quando
comido, coloca o praticante sob obrigação para com o doador. Essas ligações
Kármicas podem tornar-se um obstáculo durante a prática no período do sono, razão
pela qual esse alimento é proibido. Para os praticantes do Vajrayana, Samaya é o
vínculo sagrado que os conecta a realidade primordial, se prejudicadas por atitudes
indignas, as dificuldades tornam-se uma característica constante de suas vidas.
Em seguida, lave-se bem e purifique-se com incenso. Faça os rituais e praticas
oferecendo ao Dorle Sempa, recitando seu mantra de cem sílabas, pensando que
você confessa e purifica toda a negatividade das ações que você cometeu desde o
início dos tempos e, particularmente, qualquer Samaya danificado ou quebrado. Todos
esses preparativos estão levando o praticante a ter uma confiança em sua própria
pureza e na pureza de seu ambiente.
Tome muito cuidado para não adormecer nem por um instante durante o dia. Ocupe o
corpo fisicamente, com prostrações e circunvoluções. Quando chegar a hora de
dormir, deitar em uma cama confortável, com a postura que o Leão costuma deitar, a
postura em que o Buda Shakyamuni morreu, deitado para a direita, com a mão direita
sob a face.
Visualize-se muito claramente como sua própria divindade Yidam, e imagine em seu
coração um lótus com quatro pétalas. O centro do lótus é branco e tem um OM
branco, a sílaba esta de pé sobre ele, a pétala da frente é azul com uma letra A nele, a
pétala à direita, no sul, é amarelo, e tem a silaba NU de pé sobre ele. A pétala à
oeste, é vermelha com a sílaba TA de pé sobre ela, a pétala do norte, que é verde,
tem a silaba RA nela.
Conforme você começa a adormecer, antes de tudo, deixe sua mente descansar na
letra A na pétala da frente. Conforme você se sente mergulhando cada vez mais fundo
no sono, volte sua atenção para as sílabas nas outras três pétalas, uma por uma, até
chegar ao ponto em que está prestes a perder a consciência, apenas à beira do sono,
momento em que sua mente deve estar no centro da lótus. Descansando na sílaba
OM. Deixe a mente permanecer nesta sílaba, sem vacilar ou se distrair em outro lugar,
até que você realmente perca a consciência e adormeça.
Quando isso acontecer, você pode ter a impressão de que o mundo lá fora, e todas as
diferentes manifestações criadas pela mente, se dobram e chegam a dissolver no
coração. Isso é seguido por um instante onde a mente torna-se muito opaca, sem
qualquer clareza, apenas escuridão completa. Nesse ponto as diferentes energias da
mente entrarão no canal central, e apenas por um breve instante a clara luz da mente
aparecerá. Se pudermos permanecer nele sem nos distrairmos com outro lugar,
seremos capazes de reconhecer a clara luz. O canal central é a "posição" da mente
quando está livre de qualidade, esta energia sutil. O canal é muito usado nos métodos
iogues do sistema Vajrayana de prática.
SONO E A MORTE
Por que é tão importante aprender a estar ciente desses estados? É porque o sono é
como uma forma menor de morte. Quando você adormece, você vai exatamente pelo
mesmo processo que ocorre no momento da morte. Portanto, se aprendermos a
reconhecer as diferentes fases do sono e estarmos cientes deles conforme ocorrem,
estamos usando esta vida como um campo de treinamento para o que acontece no
momento da morte e depois. À medida que passamos por uma forma de existência
após a outra, estamos experimentando uma sucessão de estados intermediários, ou
bardos. O bardo em que nos encontramos atualmente é chamado de bardo da vida e
consiste em no intervalo de tempo entre o momento em que nascemos e o momento
em que morremos. Quando estamos dormindo, nossa mente entra em outro bardo, o
bardo no qual nos dormimos e sonhamos, e aí permanecemos até acordar. Esses dois
podem ser usados como um contexto, para treinarmos para os outros bardos que
começam a aparecer no momento da morte.
Se pudermos estar totalmente cientes da natureza ilusória de nosso estado de vigília
de mente, também teremos sucesso em ver além das manifestações de confusão que
aparecem quando estamos dormindo e quando sonhamos. Nós estaremos cientes do
sonho como um sonho e, assim, libertar nossa mente da confusão do estado de
sonho. Se nos treinarmos nisso inteiramente, no momento da morte, e depois quando
nosso Karma começar a se manifestar nas diferentes ilusões produzidas e
experimentadas por nossa mente, também seremos capazes de, libertar-nos dessa
confusão.
‘No momento em que reconhecemos que uma emoção não pode realmente ser vista,
nós entendemos que é a verdadeira natureza. Olhando para a realidade que a emoção
nos permite fique livre do SE. ”
Os mundos de dormir e acordar
No bardo desta vida presente, nossa mente não tem consciência do verdadeiro estado
das coisas, e por causa dessa ignorância nossa mente produz os cinco venenos, e as
cinco emoções perturbadoras. Estas, por sua vez, dão origem a todos os tipos de
pensamentos e idéias. Todos os nossos pensamentos, grosseiros ou sutis, derivam da
influência de um ou outro dos cinco venenos em nossa mente. Se não estivermos
cientes disso, assim que o pensamento parecer e os seguirmos, nós o desenvolvemos
ainda mais. Nos lembramos que, se nós trabalharmos isso em nossa mente,
alcançaremos certas coisas que queremos evitar, e assim passamos pela vida cheios
de esperança e medo, esperando conseguir o que queremos, e com medo de
acontecer o que não queremos. É por isso que sofremos, se não tivermos sucesso
obtendo o que queremos, sofremos, e mesmo se tivermos sucesso, podemos evitar o
sofrimento imediato, mas a impermanência significará que mais cedo ou mais tarde
perderemos o que já temos, e sofreremos ainda mais.
Mesmo se alcançarmos a ambição de nossa vida, não poderemos sentar satisfeitos,
porque não há garantia de que seremos capazes de manter o sucesso que
alcançamos. As coisas estão sempre mudando. Todas as nossas realizações não
serão suficiente, ainda que por muitas vezes, experimentamos um estado de coisas
agradáveis, mesmo assim, esse estado agradável é seguido por uma fase em que
temos que lidar com algo de que não gostamos. Ainda que não tenhamos tido escolha,
teremos que conviver com essa condição.
Por causa disso, grande parte de nossa vida é governada pelo medo. Temos medo de
doença e velhice, de morte e renascimento, temos medo de perder o que nós temos e
não obtemos o que gostaríamos.
Todos os diferentes estados do Bardo, são a forma visível das tendências inerentes
que resultaram de nossas ações anteriores. Isso significa que, o que quer que
aconteça conosco em qualquer um dos bardos corresponderá ao acúmulo de carma
armazenado em nossa mente. É por esta razão que tentamos pensar que nossa vida
não está completamente sob nosso controle. Na verdade, a forma com que essas
ilusões ocorrem depende das ações que já executamos.
Os produtos visíveis de nossa confusão, os vários estados do bardo, na verdade não
têm realidade sólida, nenhuma forma, formato ou cor real. Eles só parecem ter isso,
por causa da confusão da mente, mas não entendemos, e nós sofremos com as
consequências. Tudo o que pensamos ou percebemos, tudo é simplesmente uma
impressão criada em nossa mente. Devido à própria confusão da mente, nós estamos
convencidos de que tudo o que aparece, é externo à mente e para que possamos
controlá-lo, alterá-lo, influenciá-lo. Todos os nossos esforços são direcionados para
atingir certos objetivos, manter certas situações ou interromper que certas coisas
aconteçam, mas tudo o que estamos fazendo é criar mais sofrimento para nós
mesmos porque estamos vivendo em uma ilusão.
Temos que aprender, como já explicado na seção sobre como reconhecer a natureza
das emoções, para experimentar a verdadeira realidade de cada uma das cinco
emoções sempre que aparecem em nossa mente. Quaisquer que sejam os
pensamentos provocado por elas, sejam grosseiros ou sutis, olhe para a verdadeira
essência de cada ideia quando Ela aparecer na mente, você verá que essas ideias,
essas formas emocionais, não têm forma ou cor particular, não há nada definitivo,
nada pode ser dito sobre essas emoções. No momento em que reconhecemos que
uma emoção não pode realmente ser vista, entendemos sua verdadeira natureza. É só
como o espaço. Quando vemos isso, estamos olhando para a realidade definitiva da
emoção, e isso nos permite ficar livres da emoção. Neste momento ficamos livres da
mente confusa e da confusão criada por ela. Nós já não experimentamos as coisas em
termos de sujeito e objeto.
Se pudermos entender isso em nossa vida desperta, então quando estivermos
dormindo e sonhando, seremos capazes de ter o mesmo entendimento sobre o sonhar
enquanto realmente estiver acontecendo. Seremos capazes de nos libertar da ilusão
do sonho. Se pudermos permanecer livres do apego as diferentes percepções que
aparecem na mente em nosso estado de vigília atual. Da mesma forma, quando
estamos dormindo, podemos nos livrar do apego.
O mundo que vivenciamos quando acordados é, em muitos aspectos, como um
Sonho, no sentido de que não é real ou sólido, não existe senão como uma projeção
da mente. Devemos aprender a deixar nossa mente se acostumar e permanecer neste
entendimento. Não estamos negando vigorosamente a realidade de um mundo que
pensamos que existe; estamos simplesmente deixando nossa mente reconhecer por si
mesmo o fato de que este mundo nunca, em qualquer momento, teve qualquer
existência, é apenas uma projeção da nossa mente.
Uma maneira de chegar a esse entendimento é considerar a lei de impermanência. Se
olharmos como o mundo muda, não vemos que nada permanece o mesmo por um
instante, o tempo nunca para. ‘Apesar das aparências, o mundo não é algo sólido do
qual podemos depender. É mais como um sonho ou uma ilusão, um filme sobre na
televisão de nossa mente. Aparências, o mundo não é feito de algo sólido do qual nós
podemos depender, é mais como um sonho ou uma ilusão, um filme na televisão de
nossa mente. Nós devemos aprender a considerar nossa experiência de vida desperta
como sendo esta natureza, não nos permitindo ficar apegados aos eventos que
acontecem. Em tudo o que acontece, cultive a consciência da vida desperta como
sendo nada mais do que uma ilusão ou um sonho. Desenvolvendo esta consciência,
como a verdadeira natureza da nossa existência, que é nada mais, é do que a
confusão projetada de nossa mente, eventualmente nos libertamos dela. Podemos
permanecer constantemente com a consciência de que tudo é a mente.
Este é o primeiro passo para praticar a transformação do sono. Habituando-nos a esta
forma de ver as coisas, estabelecemos um hábito que se reafirma à noite, quando
estamos sonhando. No meio de um sonho, de repente perceberemos o sonho como
um sonho, uma ilusão projetada da mente. Uma vez que percebemos a verdadeira
natureza do sonho podemos, então, descansar na realidade última da mente e nos
libertar da confusão demonstrada pelo sonho.
As causas dos nossos sonhos
O que causa os sonhos, de onde vêm, o que os produz?
Nossos sonhos são produzidos pelas formas habituais de pensar e agir que nós
desenvolvemos durante nossa vida. Porque pensamos que tudo está acontecendo em
nossa experiência de vigília é real, acumulamos tendências para pensar e agir de uma
forma particular que é então, projetada pela mente durante o sono, em forma da ilusão
do sonho. Se, quando estamos acordados, estamos acostumados a pensar neste
presente estado de confusão como realidade, então a mesma suposição ocorrerá
durante nossos sonhos. Estaremos convencidos de que o que está acontecendo é
realmente importante, e essa avaliação pode até continuar depois de acordar:
pensamos que nosso sonho tem algum tipo de relação com nossa vida desperta. Se
tivermos um sonho agradável, ficamos muito felizes com isso, pensamos que pode ser
um sinal de que algo de bom vai acontecer conosco. Se tivermos um sonho
desagradável, nós nos preocuparemos com isso, vendo como um mau presságio. O
próprio sonho é usado para abastecer ainda mais nossas esperanças e medos diários,
algo que nos faz sofrer ainda mais.
Uma vez que reconhecemos que os sonhos são simplesmente a manifestação de
nossas próprias mentes, não somos mais afetados por seu conteúdo. Veja o exemplo
de duas pessoas dormindo e sonhando na mesmo quarto, o fato de estarem
fisicamente no mesmo lugar não significa que eles irão compartilhar o mesmo sonho.
Vai depender das tendências do indivíduo, alguém pode ter um sonho muito agradável
e acordar feliz, outro pode ter um pesadelo e se sentir muito assustado e angustiado.
A mente de cada um cria seu próprio sonho.
Consequentemente, quando você vai dormir, você deve simplesmente deixar a mente
permanecer em sua verdadeira natureza, sem tentar fazer nada. Então descanse sua
mente gentilmente em cada uma das letras do lótus, sem se distrair para longe da
meditação. Considere essas letras como objetos de meditação, você utiliza-se delas,
para acalmar a mente, mantenha a mente no objeto, mas sem se distrair, sem forçar.
Esse processo deve ser muito relaxado e amplo. Gradualmente, com a prática, você
começará a detectar os diferentes estágios de entorpecimento que dominam a mente
quando você adormece e até os sinais sutis que acompanham a perda de poder dos
elementos do corpo. As energias masculinas e femininas fundamentais irão então se
encontrar juntos no coração, com sua consciência presa entre eles. Sentido como um
instante de inconsciência, aliás, isso é exatamente o que acontece no momento da
morte, é por isso que dormir e morrer, são processos semelhantes.
Nesse instante da inconsciência, nós podemos relaxar, e deixar-se ir pelo meio que
cultivamos durante nossa prática da meditação, na nossa vida desperta. Na prática de
Mahamudra, nos desenvolvemos a capacidade de meditar de um modo muito claro e
relaxado de nossa própria natureza desperta, unindo-se a manifestação de clara
vacuidade.
Essa tendência nos realinhará, para esse ponto da mente, e então nossa mente
estará, mais uma vez, como uma clara luz, apesar do sono, a mente esta realmente
em estado de meditação. Você descansa nesse estado, e poderá fazer isso por um
longo período. Eventualmente emergirá um sonho, assim que a mente começar a
projetar suas ilusões. Nesse momento, você ainda não esta sob influência dessas
tendências usuais, você assistirá o sonho como se fosse um reflexo no espelho. A
mente reconhece que o sonho não é de fato verdade, além disso, você não estará
envolvido nos eventos que ocorrem no sonho, você não será afetado por esses
eventos de maneira nenhuma, assim como a superfície do espelho, não é afetada
pelos diferentes reflexos nele. Não importa o quão agitadas ou complexos os reflexos
possam ser.
A razão para o sonho aparecer desta forma é que na vida desperta, nós nos treinamos
para não sermos influenciados pela atração ou repulsão, apego ou rejeição. Esta
tendência reaparece durante o sono, e assim, mesmo enquanto a mente está
projetando formas, padrões e pensamentos confusos, nós não os perseguimos ou
rejeitamos.
A mente permanece livre de emoções perturbadoras, imerso na meditação
Mahamudra. Assim que, cada pensamento aparece, é automaticamente reconhecido
como irreal, e dessa forma, desaparece naturalmente, e então, voltamos ao estado de
meditação. É por isso que nos mantemos desligados do sonho, mesmo enquanto ele
está em andamento. Se você reconhecer durante o sonho, que está sonhando, poderá
fortalecer essa consciência tentando deliberadamente influenciar os eventos de dentro
do sonho, por exemplo.
Agora nos voltamos para o que é chamado de clara e profunda luz. É um estado onde
a mente repousa na meditação Mahamudra, e permanece nela durante todo o tempo
enquanto estamos dormindo. Repousando além da dualidade, e tão profundo que não
reconhecemos a mente como sujeito ou experiências, nem tão pouco como objeto que
podem ser sentidos. Nós não estamos conscientes de absolutamente nada, sem
experiências, nem sonhos, e no instante em que a mente acorda, ainda nos
encontramos meditando na última essência da mente. Sentimo-nos felizes e
confortáveis, tanto física, como mentalmente, até a pele é muito pálida e delicada,
segundo Gampopa. Estes são sinais que estivemos na luz clara e profunda, mas não
é uma experiência na qual podemos estar conscientes.
A CLARA LUZ DA MEDITAÇÃO
Outro tipo de clara luz, é o que chamamos de, natureza ampla e luminosa da
mente, na meditação. Esta vem da prática persistente de calma mental. Durante tal
meditação encontramos as três experiências que caracterizam a calma mental
profunda: bem-aventurança, clareza e não-conceitualidade. Se eles são cultivados,
eles permanecem na mente mesmo quando estamos dormindo e afetam nossa
percepção do sono.
Depois que dormirmos, temos a impressão de que a mente esta irradiando do
coração, cheio de brilho e clareza. Parece preencher o corpo inteiro enquanto espalha-
se para fora e por todo o espaço ao seu redor de onde estivermos. Temos a
impressão de poder olhar para baixo, vendo nosso próprio corpo adormecido e todo o
ambiente que esta em torno, como os objetos no local. Ao mesmo tempo sabemos
que estamos dormindo, porém, não há dúvida de que tudo é real.
Este tipo de experiência pode acontecer quando nossa mente desperta esta bem
estável na meditação. Quanto mais desenvolvermos a estabilidade da mente, mais a
luz/clareza, da mente adormecida pode irradiar mais e mais longe, desse modo a
mente pode alcançar além do cômodo em que estamos. Quanto mais estável a mente,
mais longe a luz pode ir.
UNIÃO NO VAJRAYANA
OS QUATRO MUDRAS
O último dos quatro mudras é o Mahamudra, a própria mente vazia, também chamado
de Mãe dos Budas dos Três Tempos, porque dela aparecem as quatro nobres
verdades: os sravakas, pratyekabuddhas, bodhisattvas e budas. Meditar sobre o vazio
também é conhecido como a prática da Grande Mãe. É um método de valor particular
para aqueles que não podem empregar as práticas iogues que usam os canais sutis e
a sua energia, os idosos, por exemplo.
Nestes quatro mudras, encontramos os diferentes métodos para usar o desejo como
um caminho para atingir a iluminação. Usando a raiva para purificar a raiva, ciclo de
vida de um demônio. Ficamos com raiva quando temos pessoas ou situações que são
contra nossas ideias. Para trabalhar com essa emoção, portanto, precisamos de
inimigos. O melhor tipo de situação para treinarmos são as diferentes circunstâncias
obstrutivas que encontramos no dia a dia, essas dificuldades muitas vezes são o
trabalho de seres sutis que se sentem contrários em relação a nós e gostam de criar
dificuldades para nossa vida diária.
Essas forças negativas ou demônios são seres que, em uma vida anterior cometeram
muitos atos malignos. Por causa disso, eles acumularam uma tendência de gostar de
causar danos aos outros, uma tendência que distorce nossa maneira de pensar a tal
ponto, que eles constantemente nos levam a cometer erros, pontos de vista, atitudes
negativas e um desejo de ver os outros sofrerem. Estes desejos negativos alcançam
sua realização em um renascimento onde tais seres, mesmo enquanto sofrem,
passam a vida inteira procurando causar sofrimento para quantas pessoas for
possível. Seu único pensamento é manter a existência cíclica e todo o sofrimento nela,
e assim sua principal intenção, é parar as pessoas que estão no caminho para
alcançar a iluminação. Esses seres certamente encontrarão seu caminho para o
inferno por causa das terríveis consequências dessas ações negativas.
O sofrimento e a disposição negativa de tais demônios são tão severos, que eles não
podem ser transformados pela compaixão pacífica comum. É necessário uma
compaixão especialmente forte, do tipo que emerge da mente na forma de uma
divindade colérica. Esta compaixão colérica reconhece que o sofrimento de tais
demônios não reside apenas no fato de que, eles mesmos não chegam perto da
iluminação, mas que eles continuamente, prejudicam os outros e evitam que outros
também, tornem-se iluminados. Esta compreensão nos leva a gerar um forte desejo de
ser capaz de libertar essa força negativa de sua negatividade. Usar a raiva para
superar a raiva significa imaginar que nós cortamos e destruímos completamente, e de
uma só vez todo o carma ruim e as tendências negativas na mente deles, deixando-as
pura e livre, capaz de fundir-se com a realidade final.
Mas para que essa destruição seja efetiva, nossa compaixão colérica deve ser dotada
da sabedoria, e não da dualidade. Nossa mente deve perceber que, a obstrução nada
mais é, do que uma manifestação de nossa própria mente. O inimigo somos nós
mesmos raiva e compaixão. Devemos estar na posição de encontrar tal ser e ainda
assim, se formos incapazes para fazer qualquer coisa por ele, podemos deixá-lo
seguir o caminho que escolheu. Enquanto, ao mesmo tempo, formulamos um desejo
profundo, de que ele possa ser libertado de seu estado negativo. Se não temos o
poder de ajudá-lo, não há culpa ou falta em não fazer nada.
INIMIGOS HUMANOS
Quando nos deparamos com um inimigo físico, por outro lado, é melhor, simplesmente
desenvolver uma consciência do lado positivo da situação. Se nos depararmos com
alguém que nos deixa com raiva, alguém de quem não gosto, alguém com quem não
podemos nos dar bem, devemos reconhecer que sua atitude hostil para conosco não é
culpa dele. Ele é simplesmente a manifestação dos resultados de nossa própria raiva
anterior. Aceitando isso, nós devemos ver a situação como uma boa oportunidade
para praticar a paciência, e uma boa oportunidade só se apresenta por causa desse
ser, portanto, deveríamos ser gratos a ele, a ponto de desejar que os efeitos de nossa
raiva no momento, seja nossa para vivenciarmos no futuro. Se não formos capazes de
evitar ficar com raiva quando a situação realmente ocorre, quando nos acalmarmos,
devemos olhar para trás, para a situação e ver se a pessoa que nos deixou com raiva,
realmente nos deu uma boa ajuda mostrando nossa falta de paciência. Ele nos deu
uma lição espiritual.
Lições semelhantes podem ser aprendidas quando nos sentimos ameaçados por
obstáculos ou dificuldades, que são percebidas como tais simplesmente por causa de
nossa própria visão particular de uma situação. Precisamos reconhecer que essa
reação é meramente nosso apego ao ego. Autocentrado, nós queremos que as coisas
aconteçam da maneira que queremos, caso contrário, sentiremos que estamos sendo
obstruídos. Se puder, veja a situação como uma lição sobre a existência do apego ao
ego, e vamos reconhecê-lo como um bom amigo.
Isso nos leva a abordagem final, sobre como lidar com as emoções. Neste texto
encontramos um vasto número de maneiras, para trabalharmos com as emoções. No
texto, aprendemos como abandonar as emoções, para cada emoções que surgir,
aplique seus respectivos antídotos, para transformá-los e reconhecer sua verdadeira
natureza e, finalmente, use-os como o caminho para a iluminação.