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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MJSP - POLÍCIA FEDERAL


DITEC - INSTITUTO NACIONAL DE CRIMINALÍSTICA

DROGAS SINTÉTICAS

Relatório 2020
1 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

2020 Ministério da Justiça e Segurança Pública

Elaboração:
Serviço de Perícias de Laboratório
Divisão de Perícias
Instituto Nacional de Criminalística
Diretoria Técnico-Científica

Edição:
Mônica Paulo de Souza (SEPLAB/DPER/INC/DITEC/PF)
Luíza Nicolau Brandão Caldas (SEPLAB/DPER/INC/DITEC/PF)
Jorge Jardim Zacca (SEPLAB/DPER/INC/DITEC/PF)

2 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

SUMÁRIO
1 - Lista de abreviaturas, siglas e nomes de substâncias ....................................................................... 1
2 - Introdução .......................................................................................................................................... 8
3 - Metodologia ....................................................................................................................................... 9
4 - Drogas Sintéticas ..............................................................................................................................11
4.1 - Drogas clássicas ..........................................................................................................................15
4.2 – Outras Drogas Sintéticas ...........................................................................................................18
4.3 - Novas Substâncias Psicoativas ...................................................................................................20
4.3.1 - Catinonas Sintéticas ..........................................................................................................21
4.3.2 - Feniletilaminas .................................................................................................................22
4.3.3 - Substância do tipo cetamina ou fenciclidina ...................................................................23
4.3.4 - Canabinoides Sintéticos ...................................................................................................23
4.3.5 – Triptaminas, substâncias de origem vegetal e piperazinas .............................................24
4.3.6 - Aminoindanos e outras substâncias .................................................................................25
5 - Considerações Finais ........................................................................................................................25
6 - Glossário ...........................................................................................................................................26
7 - Referências bibliográficas ................................................................................................................27

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1 - LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E NOMES DE SUBSTÂNCIAS
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária;
DEA Drug Enforcement Administration – Agência para o controle/combate de
drogas do Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América;
DS Drogas Sintéticas;
DITEC Diretoria Técnico-Científica
DPER Divisão de Perícias
EMCDDA European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction – Centro Europeu de
Monitoramento de Drogas e de Toxicodependência;
INC Instituto Nacional de Criminalística
NSP Novas Substâncias Psicoativas;
PF Polícia Federal;
SISCRIM Sistema de Informações de Criminalística da Polícia Federal;
SEPLAB Serviço de Perícias de Laboratório do Instituto Nacional de Criminalística;
UNODC United Nations Office on Drugs and Crime – Escritório das Nações Unidas sobre
Drogas e Crime;
UFs Unidades da Federação.

A lista a seguir inclui o nome / abreviação utilizados neste relatório para algumas
substâncias. Observe que o nome primário usado abaixo é o nome / abreviação mais comum
na PF. Note que as substâncias podem ter diferentes nomes químicos aceitáveis.

Tabela 01 – Nomes das substâncias propostos para a elaboração deste relatório.


Fórmula
Nome Estrutura Química Outros nomes Nº CAS
molecular
- 2CB
- Nexus
- 4-Bromo-2,5-
dimetoxibenzenoetanamin
a
- BDMPEA
- Desmetil DOB
- MFT
- Performax
- Spectrum 66142-81
2C-B - Venus (Base)
C10H14BrNO2
- Erox 56281-37-9
- Cloud Nine (HCl)
- Cee-Beetje
- Toonies
- 2’s
- Synergy
- Zenith
- Utopia
- Afterburner Bromo
- 4-Bromo-2,5-
dimetoxifeniletilamina
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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

- 2,5-Dimetoxi-4- 88441-14-9
clorofenetilamina (base)
2C-C C10H14ClNO2
- 4-cloro-2,5-dimetoxi- 88441-15-0
benzenoetanamina (HCl)

- 2,5-dimetoxi-4-
etilfenetilamina
- 2-(2,5-dimetoxi-4-
etilfenil)etanamina
2C-E - 1-(2,5-dimetoxi-4- 71539-34-9
C12H19NO2
etilfenil)-2-aminoetano (Base)
- 2-(4-etil-2,5-
dimetoxifenil)etanamina
- 4-Etil-2,5-
dimetoxifeniletilamina
- 4-Iodo-2,5-
dimetoxifenetilamina
- 4-Iodo-2,5-
dimetoxibenzenoetanamin
2C-I 69587-11-7
a C10H14INO2
(HCl)
- 2,5-Dimetoxi-4-iodo-beta-
fenetilamina
- 4-Iodo-2,5-
dimetoxifeniletilamina

2-fluoro-
- 2-FDCK 111982-49-1 C13H16FNO
desclorocetamina

- 3-chloro-N,N- 514168-22-
3-CDC C11H14ClNO
Dimethylcathinone 0 (HCl)

- 3-FPM
1350768-28-3
- 3-FPH
3-Fluorofenmetrazina (Base)
- PAL-593 C11H14FNO
1803562-83-5
- 2-(3-fluorofenil)-3-
(HCl)
Metilmorfolina

72242-03-6
- 3-MeO Fenciclidina
3-MeO-PCP (Base)
- 3-Metoxi PCP C18H27NO
91164-58-8
- 3-Metoxifenciclidina
(HCl)

- 4-CDMC
4-CDC - 4-Cloro-N,N-DMC
C11H14ClNO
- 4-Cloro-N,N-
Dimetilcatinona

4-CEC - 4-cloro-N-etilcatinona
C11H14ClNO
- 4-Cloroetcatinona

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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

- 4-cloro-alfa-PVP
- 4Cl-PVP
- 4C-PVP
- 4-cloro-alfa-
4-Cloro-PVP C15H20ClNO
pirrolidinopentiofenona
- 4-Cl-α-PVP
- 4-Cloro-α-
pirrolidinovalerofenona
- para-cloro-N-metil-
4-CMC catinona
1225843-86-6 C10H12ClNO
- clephedrone
- 4-Clorometcatinona

- 4-Fluoro-MDMB-BINACA
- 4F-MDMB-BUTINACA
4F-MDMB-BINACA 2390036-46-9 C19H26FN3O3
- 4F-ADB

- 3-Desoxi-MDA
5-APDB - EMA-4
152623-94-4 C11H15NO
- 5-(2-Aminopropil)-2,3-
dihidrobenzofurano

- 5-Fluoro MDMB-PICA
5F-MDMB-PICA - 5-fluoro-MDMB-2201 1971007-88-1 C21H29FN2O3
- MDMB-2201

- 5F-ADB
- ADB-5F
5F-MDMB-PINACA 1715016-75-3 C20H28FN3O3
- 5F-metil-AM
- 5-fluoro-MAMB

- 5-metoxi-N,N-
5-MeO-DMT dimetiltriptamina 1019-45-0 C13H18N2O
- O-metil-bufotenina

- 2-Bromo-4,5-
6-Br-DMPEA
dimethoxyphenethylamine

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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

1335331-46-8
- 2CB-NBOH (Base)
25B-NBOH C17H20BrNO3
- NBOH-2CB 1539266-16-4
(HCl)

- 2C-B-NBOMe
1026511-90-9
- NBOMe-2C-B
(base)
25B-NBOMe - Cimbi-36 C18H22BrNO3
1539266-15-3
- Nova
(HCl)
- BOM 2-CB

- 2CC-NBOH
25C-NBOH 1539266-20-0 C17H20ClNO3
- NBOH-2CC

- 2CC-NBOMe
- NBOMe-2CC
1227608-02-7
25C-NBOMe - Cimbi-82 C18H22ClNO3
(HCl)
- Pandora
- Dime

- 2CE-NBOH
25E-NBOH C19H25NO3
- NBOH-2CE

- 2CI-NBOH
- NBOH-2CI
25I-NBOH C17H20INO3
- Cimbi-27

- 2CI-NBOMe 919797-19-6
- Cimbi-5 (Base)
25I-NBOMe C18H22INO3
- N-Bomb; 1043868-97-8
- Smiles (HCl)

ADB-FUBINACA 1445583-51-6 C21H23FN4O2

- 1-fenilpropano-2-amina
Anfetamina 300-62-9 C9H13N

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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

- Alfa-fenilacetoacetamida
APAA C10H11NO2
- 2-fenilacetoacetamida

- 3,4-Metilenodioxi-N-
BMDP 1823274-68-5 C17H17NO3
benzilcatinona

- 5-HO-DMT
Bufotenina - N,N-dimetil-5- 487-93-4 C12H16N2O
hidroxitriptamina

- MMMP
Caccure 907 - MTMP
71868-10-5 C15H21NO2S
- 2-Metill-4'-(metilltio)-2-
morfolinopropiofenona

6740-88-1
(Base)
Cetamina - Ketamina C13H16CINO
1867-66-9
(HCl)

Clobenzorex 13364-32-4 C16H18ClN

- bk-DMBDB
802286-83-5
- bk-MMBDB
(base),
Dibutilona - Metilbutilona C13H17NO3
17763-12-1
- m-butilona
(HCl)
- N-metilbutilona

- 4-Cl-2,5-DMA
123431-31-2
- 2,5-dimetoxy-4-
(base),
DOC cloroamfetamina C11H16ClNO2
42203-77-0
- 4-Cloro-2,5-
(HCl)
Dimetoxianfetamina

- Dimetiltriptamina
- N,N-dimetiltriptamina
DMT C12H16N2
- N,N-dimetil-1H-indolo-3-
etanamina

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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

- 2,5-Dimetoxi-4-
etilanfetamina 22004-32-6
DOET C13H21NO2
- DOE (base)
- Hecate

- 2,5-Dimetoxi-4-
42203-78-1
DOI iodoanfetamina C11H16INO2
(HCl)

- 3,4-metilenodioxi-N-
etilcatinona
- N-etil-3,4- 1112937-64-0
Etilona C12H15NO3
metilenodioxicatinona (base)
- MDEC
- βk-MDEA

113-15-5
379-79-3
Ergotamina C33H35N5O5
(Tartarato de
ergotamina)

- bk-EBDB
- N-etilbutilona
Eutilona - beta-keto- 17764-18-0 C13H17NO3
Etilbenzodioxolilbutanamin
a

Furanilfentanil - Fu-F 101345-66-8 C24H26N2O2

- dietilamida do ácido
LSD C20H25N3O
lisérgico

- 3,4-
metilenodioxianfetamina
- alfa-metil-3,4-
MDA 4764-17-4 C10H13NO2
(metilenodioxi)fenetilamin
a
- Tenanfetamina

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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

- 3,4-
metilenodioximetanfetami
na
- Ecstasy
MDMA - alfa-dimetil-3,4- C11H15NO2
(metilenodioxi)fenetilamin
a
- N-Metil-3,4-
metilenodioxianfetamina

- 3,4-MDPV 687603-66-3
MDPV
- Metilenodioxipirovaleron (Base) 24622- C16H21NO3
a 62-6 (HCl)

- MDPEP
24646-39-7
- 3,4-Methylenedioxy PV8
MD-PV8 (HCl) C18H25NO3
- MDPV two carbon
homolog

- N-metil-anfetamina
537-46-2
Metanfetamina - N-methil-1-fenil-propan- C10H15N
2-amina

- α-metil-3,4-
metilenedioxifenilpropiona
mida
MMDPPA - MDA 2-Aldoxima análogo 858215-05-1 C11H13NO3
- MDA 2-amido análogo
- α-metil-1,3-benzodioxol-
5-propanamida

- N- butil Pentilona
N-butilpentilona
- bk-BBDP 17763-10-9 C16H23NO3
- bk-Butil-K

- α-
18296-66-7
N-Butilhexedrona Butylaminohexanophenon C16H25NO
(HCl)
e

17763-15-4
N,N-Dietilpentilona C16H23NO3
(HCl)

- Etilheptedrona
N-Etilheptedrona NA C15H23NO
- N-Etil-heptedrona

802857-66-5
- Ethyl-hexedrone, HEXEN, (Base)
N-etilhexedrona C14H21NO
HEX EN, NEH 18410-62-3
(HCl)

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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

- Efilona,
17763-02-9
N-etilpentilona - BK-Etil-K C14H19NO3
(HCl)
- N-etilnorpentilona

- 3,4-dicloro-N-[2-
82657-23-6
U-47700 (dimetilamino)ciclohexil]- C16H22Cl2N2O
(Base)
N-metilbenzamida

- 3',4'-Metilenodioxi-N-
tert-butilcatinona
tBuONE 2469270-98-0 C14H19NO3
- MDPT
- D-Tertilona

2 - INTRODUÇÃO
Vivemos em um mundo cada vez mais complexo e interconectado.
Constantemente surgem novos riscos que podem representar uma ameaça à saúde pública,
sendo alguns mais familiares e outros novos. Entre os exemplos de ameaças transfronteiriças
à saúde devido à globalização está a propagação de doenças infecciosas (como Zika, febre
amarela, ebola e COVID-19) e o mercado crescente de medicamentos sem registro ou
falsificados. Os mercados de drogas ilícitas também não ficaram imunes a essas mudanças
globais. O surgimento das novas substâncias psicoativas (NSP) forneceu um importante
exemplo de como novas ameaças podem emergir rapidamente e estabelecer-se na sociedade
(EMCDDA, 2016).
No ano de 2017, diante do crescente número de apreensões de NSP no Brasil,
foi publicado o primeiro relatório sobre o tema pela Polícia Federal - PF (MJSP-PF, 2017),
referente aos Laudos emitidos no ano de 2016 que reportavam a identificação de alguma nova
droga. Desde a emissão desse primeiro relatório, muita coisa mudou. A metodologia de coleta
de dados foi otimizada após alterações ocorridas no Sistema de Criminalística (SISCRIM), onde
ficam armazenados os Laudos produzidos pelos Peritos Criminais Federais. O documento, que
antes era focado em NSP, foi ampliado para as drogas sintéticas, em especial aquelas
comumente usadas no contexto de festas (MJSP-PF, 2018) (MJSP-PF, 2019) (MJSP-PF, 2020).
Desde o relatório referente às apreensões de 2019, o conceito de drogas sintéticas foi
novamente ampliado, acompanhando uma nova tendência observada: a análise de
substâncias usadas no contexto de sexo, internacionalmente conhecido como CHEMSEX. A
partir de 2020 o mundo passou por uma outra mudança devido à pandemia do COVID-19,
gerando consequências para o mercado de drogas, algumas das quais serão expostas neste
documento.
Portanto, à medida que o tráfico de drogas sintéticas se modifica, este relatório
também. Em razão dessa natureza dinâmica dos mercados de drogas, as soluções precisam
ser ágeis e adaptáveis, com estratégias baseadas em ciência e que respeitem os direitos
humanos.

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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

O presente relatório tem como objetivo relatar e analisar informações contidas


nos Laudos emitidos pela Polícia Federal no ano de 2020, especificamente aqueles em que
drogas sintéticas foram examinadas. Da mesma forma, procura contribuir como ferramenta
de apoio, baseada em evidências, para ações dedicadas à redução de ofertas de drogas e
medidas relacionadas.

3 - METODOLOGIA
Os dados coletados para elaboração deste relatório foram baseados nos Laudos
emitidos pelas unidades de Criminalística da Polícia Federal em todo o país no ano de 2020.
Cabe destacar que tal pesquisa foi baseada em busca no SISCRIM, por Laudos de Perícia em
Química Forense produzidos de 01 de janeiro de 2020 a 31 de dezembro de 2020 (aba
“Relatórios” → opção “15. Relatórios Nacionais” → opção “15.07. Relatório nacional de
produção”), bem como na busca por “Objetos de exame” (aba “Relatórios” → opção “19.
Objetos de exame” → opção “19.01. Relatório de laudos com determinado tipo de objeto de
exame”). Em anos anteriores, a busca foi realizada utilizando a aba “Relatórios” → opção “03.
Dados Complementares” → opção “03.01. Relatório de dados de apreensão de drogas”. A
mudança de metodologia se mostrou mais eficaz na detecção de Laudos referentes a drogas
sintéticas.
Em virtude da mudança de metodologia de coleta de dados ocorrida a partir da
análise dos dados de 2019, os dados de 2017 e 2018 tiveram que ser refeitos. Portanto, este
relatório e o do ano passado (MJSP-PF, 2020) apresentam alguns dados diferentes daqueles
apresentados nos Relatórios referentes a Drogas Sintéticas apresentados nos anos 2018
(MJSP-PF, 2018) e 2019 (MJSP-PF, 2019).
Após a identificação dos Laudos em que foram analisadas drogas sintéticas,
verificou-se a substância examinada e relatada em cada Laudo e o quantitativo de material
apreendido. Em alguns casos, essa última informação foi obtida após análise do Laudo
Preliminar de Constatação ou do Auto de Apreensão correspondente.
As seguintes categorias de informações foram extraídas dos Laudos para a
confecção deste relatório: Documento (Número do Laudo); Substância (MDMA, 25I-NBOH,
etc); Quantidade (massa, volume, unidades de comprimidos, unidades de selos),
Procedimento (Inquérito Policial, Termo Circunstanciado, Notícia Crime, etc) e Grupo
(feniletilaminas, catinonas sintéticas, drogas clássicas, etc). Essa pesquisa resultou em um
número de casos ou entradas superior ao número de Laudos porque, nos casos em que num
mesmo Laudo tenha sido identificada mais de uma droga sintética em diferentes materiais ou
drogas em diferentes formas de apresentação, ele foi contabilizado mais de uma vez. Por
exemplo, em um mesmo Laudo foram identificadas as substâncias MDMA (comprimidos) +
MDA (comprimidos) + LSD (selos e solução). Nesse caso, um único Laudo contabilizou quatro
entradas (MDMA comprimidos + MDA comprimidos + LSD selos + LSD solução). Em todos os
gráficos, embora o título tenha a palavra “Laudos”, o dado se refere ao número de “entradas”.
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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

Quando foi identificada mais de uma droga sintética no mesmo material (ex.
em um mesmo comprimido foram identificadas as substâncias MDMA e n-butilpentilona) na
categoria “Substância” foram informadas as substâncias detectadas (MDMA e n-
butilpentilona) e em “Grupo” foi preenchido como “Mistura”. Esse acompanhamento é
importante tanto na avaliação de riscos à saúde pública como no entendimento do modus
operandi de traficantes. A tabela 02 traz “Grupos” propostos para a elaboração deste
relatório, incluindo os grupos de “misturas” encontradas.

Tabela 02 – Grupos propostos para a elaboração deste relatório.


Grupo Substâncias incluídas na classe
Canabinoides sintéticos 4F-MDMB-BINACA e 5F-MDMB-PICA
Catinonas sintéticas 3-CDC; 4-CDC; BMDP; Etilona; Eutilona; MD-PV8; MMMP (Caccure
907); N,N-Dietilpentilona; N-Butilhexedrona; N-Butilpentilona; N-
Etilheptedrona; N-etilpentilona e tBuONE
Drogas Clássicas 2C-B; Anfetamina; DMT; DOET; GHB; LSD; MDA; MDMA e
Metanfetamina
Feniletilaminas 25B-NBOH; 25B-NBOMe; 25C-NBOH; 25E-NBOH; 25I-NBOH; 25I-
NBOMe; 2C-E; 6-Br-DMPEA e DOI.
Outras drogas sintéticas Clobenzorex; GBL; GBL + GHB; Nitrito de Amila; Nitrito de isoamila;
Nitrito de isoamila + nitrito de isopropila; Nitrito de isoamila + nitrito
de t-butila; Nitrito de isobutila; Nitrito de isopropila; Nitrito de
isopropila + nitrito de isobutila; Nitrito de isopropila + nitrito de
isobutila + nitrito de isoamila e Nitrito de t-butila
Piperazina TFMPP
Outras substâncias (Opióide) -
Substâncias de origem vegetal Kraton
Substância do tipo cetamina ou 2-fluoro-desclorocetamina e Cetamina
fenciclidina
Triptamina Bufotenina

Grupo Misturas de substâncias incluídas na classe


Mistura: droga clássica + catinona MDMA + N-Butilpentilona
sintética
Mistura: droga clássica + MDMA + 25B-NBOH
feniletilamina MDMA + 2C-E
Mistura: Droga clássica + 5-MeO-DMT + DMT
triptamina
Mistura: drogas clássicas MDMA + MDA; Metanfetamina + THC
Mistura: feniletilaminas 2C-C + 2C-E
Mistura: opióides morfina + codeína (ópio)

Cabe ressaltar que o presente relatório foi focado nos Laudos Periciais emitidos
no ano de 2020 e não nas apreensões do ano de 2020. Alguns Laudos emitidos em 2020 têm
como objeto de exame materiais apreendidos em 2018 ou 2019.
Com relação à cetamina, importa ressaltar que foram incluídas neste
documento apenas as apreensões em que a substância foi encontrada como um sólido ou em
10 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

solução não caracterizada como medicamento. O mesmo raciocínio foi aplicado para os
comprimidos em que foi identificada a substância clobenzorex: apenas os Laudos em que a
substância foi encontrada em “comprimidos do tipo ecstasy” foram computados. Os casos em
que a cetamina ou o clobenzorex são encontrados como medicamento foram objeto de um
relatório específico de produtos farmacêuticos (MJSP-PF, 2021). Sobre o clobenzorex, importa
destacar que até o relatório anterior ele era classificado como fármaco porque estava
relacionado na Lista A3 (Lista de substâncias psicotrópicas – sujeitas à notificação de Receita
“A”). Em 24/03/2021, a substância foi remanejada para a Lista F2 (Lista de substâncias de uso
proscrito). Por essa razão, a partir deste relatório, o clobenzorex passou a ser considerado
“Outras drogas sintéticas”. Ele também foi remanejado para essa categoria nos dados dos
anos anteriores para a produção dos gráficos comparativos.
Outra consideração importante se faz à inclusão da substância
dimetiltriptamina (DMT) às drogas sintéticas. A substância é encontrada em vários gêneros de
plantas, não sendo, em princípio, uma droga sintética. Entretanto, nos últimos relatórios
foram relatadas apreensões de sólidos contendo DMT pela Polícia Federal, o que levou à sua
inserção neste relatório. Os demais casos, como nas apreensões em que a substância é
encontrada em extratos vegetais, não são incluídos. Os dados presentes neste relatório se
referem a DMT encontrada em um pó marrom, junto com a substância 5-MeO-DMT. Também
é importante destacar que embora a grande maioria das NSP seja drogas sintéticas, algumas
são de origem vegetal. Isso acontece porque algumas plantas que existem há séculos (muitas
inclusive apresentam uso religioso, medicinal e cultural em certos países) têm sido usadas
recentemente de forma abusiva em países diferentes de sua origem. São exemplos dessa
categoria substâncias encontradas nas plantas khat, kratom, Salvia divinorum, etc. Não se
trata de drogas sintéticas, mas estão neste relatório por serem consideradas NSP.

4 - DROGAS SINTÉTICAS
Em 2020, foram produzidos 594 Laudos referentes a drogas sintéticas,
equivalentes a 677 entradas, conforme a definição adotada. Foram identificadas 33 novas
substâncias psicoativas (no ano anterior foram 28), sendo 10 substâncias identificadas pela
primeira vez: 2-fluoro-desclorocetamina, MD-PV8, 3-CDC, 4F-MDMB-BINACA, 5-MeO-DMT,
bufotenina, 6-Br-DMPEA, N,N-Dietilpentilona, N-butilhexedrona e N-etilheptedrona. Em
2019, o número de novas drogas foi de apenas 3. De acordo com uma publicação referente a
atualização do The Global SMART Programme (UNODC, 2021) e o Relatório Europeu sobre
Drogas (EMCDDA, 2019), o número de novas substâncias identificadas pela primeira vez na
Europa aumentou a cada ano entre 2009 e 2015, mas desde então se estabilizou em níveis
comparáveis a 2011-12. As causas desta redução não são claras, mas podem refletir os
resultados de esforços contínuos para controlar o crescimento das novas substâncias
mundialmente, bem como iniciativas legislativas na China, a principal produtora mundial de
NSP.
11 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

O gráfico 01 mostra um comparativo entre a quantidade de Laudos em que


foram identificadas drogas sintéticas e a quantidade de Laudos de Química Forense. Nesse
comparativo, é possível observar a evolução anual desse tipo de casuística na Polícia Federal.
O número de Laudos de drogas sintéticas teve um aumento significativo de 2017 para 2018,
de 589 para 938, respectivamente. Em 2019, o percentual de Laudos produzidos referentes a
drogas sintéticas permaneceu relativamente estável se comparado ao ano anterior. Já no ano
de início da pandemia de COVID-19, houve uma redução de 30,8% no número de Laudos
referentes a Drogas Sintéticas, que totalizou 594, enquanto a redução no número de Laudos
de Química Forense foi de apenas 8,8%. Este cenário já era esperado se considerarmos que a
maioria das drogas sintéticas são utilizadas em contexto de festas e, entre as medidas sanitária
adotadas para conter a proliferação do novo coronavírus, houve restrições e até proibições
de shows e festas naquele ano. No entanto, é importante observar que essa redução foi
distinta para cada substância, o que pode indicar como o tráfico de drogas se adaptou a essa
nova realidade.

Gráfico 01: Laudos Produzidos por ano


Química Forense x Drogas Sintéticas

2020 9.4%

2019 12.4%

2018 12.5%

2017 8.4%

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500

Drogas Sintéticas Química Forense

A tabela 03 traz as novas substâncias psicoativas examinadas pela Polícia


Federal ano a ano. O destaque em vermelho foi dado para indicar que uma determinada
substância foi identificada pela primeira vez naquele respectivo ano.

12 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

Tabela 03 – Todas as novas substâncias psicoativas identificadas pela Polícia Federal nos anos de 2016
a 2020. Em vermelho, aquelas identificadas pela 1ª vez a cada ano.
2016 2017 2018 2019 2020
25I-NBF 25B-NBOH 25C-NBOH 3-Fluorofenmetrazina 2-fluoro-
desclorocetamina
25I-NBOH Fluorometanfetamina 25E-NBOH 5F-MDMB-PINACA MD-PV8
2C-B-Fly MDPPP 25H-NBOH N-butilpentilona 3-CDC
30C-NBOMe MMMP N-Acetil 25I-NBOMe 25B-NBOH 4F-MDMB-BINACA
(Caccure 907)
5-APDB Eutilona DOET 25C-NBOH 5-MeO-DMT
4F-PHP Pentilona 4-metil-pentedrona 25C-NBOMe Bufotenina
4-MEAPP TH-PVP 4-cloro-DMC 25E-NBOH 6-Br-DMPEA
Dibutilona ADB-FUBINACA 4-cloroetcatinona 25I-NBOH N,N-Dietilpentilona
N-etilpentilona AMB-FUBINACA 4'-cloro-PPP 25I-NBOMe N-butilhexedrona
Flubromazepam U-47700 4-cloro-PVP 2C-E N-Etilheptedrona
Furanil fentanil 25I-NBOH BMDP 2C-I 25B-NBOH
25B-NBOMe 25B-NBOMe MDPHP 4-CDC 25B-NBOMe
25C-NBOMe 25C-NBOMe tBuONE 4-CEC 25C-NBOH
25I-NBOMe 25I-NBOMe N-acetil-3,4-MDMC 4-cloro-PVP 25E-NBOH
2C-D 2C-I N-etilhexedrona 4-CMC 25I-NBOH
2C-I 4-FA 5-F-MDMB-PICA 5-APDB 25I-NBOMe
2-FA 4F-PHP 4F-EPH ADB-FUBINACA 2C-C
4-FA 5-APB 25C-NBOMe MMMP 2C-E
(Caccure 907)
5-MeO-MiPT 5-APDB4 25I-NBOMe Cetamina 4-CDC
6-EAPB 5-MeO-DALT 2C-C Dibutilona 5F-MDMB-PICA
AB-FUBINACA 5-MeO-MiPT 2C-E DOC 5-MeO-DMT
APINACA AB-FUBINACA 2C-I Eutilona BMDP
DOC Alfa-PVP 3-MeO-PCP Furanilfentanil Cetamina
Etilona Cetamina 4-MEAPP MDPV DOET
JWH-073 Clorometcatinona 5-MeO-MiPT 3-MeO-PCP DOI
JWH-081 Dibutilona ADB-FUBINACA N-etilhexedrona Etilona
JWH-122 DOC AMB-FUBINACA N-etilpentilona Eutilona
JWH-210 Etilcatinona Cetamina U-47700 N-butilpentilona
MAM-2201 Etilona Dibutilona Kratom
Metilona Furanil fentanil Dimetilona MMMP
(Caccure 907)
MXE JWH-073 DOC tBuONE
N-etilcatinona JWH-081 Etilona N-etilpentilona
Salvinorina A JWH-122 Eutilona TFMPP
UR-144 JWH-210 MDPPP
JWH-250 Metilona
MAM2201 N-etilpentilona
MeO-PCP Pentilona
Metiletilcatinona (MEC) TH-PVP
MMC U-47700
N-etilpentilona
Pentedrona
Salvinorina A

As três drogas sintéticas mais apreendidas em 2020 pela Polícia Federal


pertencem ao Grupo “Drogas clássicas”. Novamente os três primeiros lugares foram ocupados
pelas substâncias 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA), 3,4-metilenodioxianfetamina
(MDA) e dietilamida do ácido lisérgico (LSD). Pela primeira vez no ranking aparece uma
substância conhecida como “popper”, o nitrito de isopentila (também chamada de nitrito de
13 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

isoamila), em quarto lugar. Os poppers costumam ser inalados e utilizados em práticas sexuais.
A primeira NSP a aparecer no ranking é o 25E-NBOH, em quinto lugar. O gráfico 02 traz as
substâncias sintéticas mais identificadas pela Polícia Federal em 2020 e um comparativo do
número de casos nos últimos 4 anos.

Gráfico 02: Número de Laudos produzidos por ano das Drogas


Sintéticas mais detectadas em 2020 pela PF

25C-NBOH

Eutilona

GBL

25E-NBOH

Nitrito de isopentila

LSD

MDA

MDMA

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650

2020 2019 2018 2017

Entre todas as drogas sintéticas, o grupo de maior destaque foi novamente


aquele contendo as “drogas clássicas” ou “drogas tradicionais”. Em segundo lugar apareceu
pela primeira vez o grupo “outra droga sintética”, impulsionada pelo aumento de números de
Laudos referentes a nitritos de alquila (poppers). As NSP do grupo das feniletilaminas
aparecem em terceiro. O gráfico 03 traz a evolução anual dos Laudos produzidos referentes
aos grupos de drogas sintéticas examinadas de 2017 a 2020, de acordo com a definição
contida neste relatório.

14 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

Gráfico 03: Laudos produzidos por ano


Drogas Sintéticas
5.3%
2020 8.0% 13.1% 68.8%
4.2%
2019 5.0% 3.5% 80.5%
3.8% 1.5%
2018 18.2% 70.8%

2.8%
2017 22.0% 8.5% 57.8%

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Outras substâncias Outras substâncias (Opióide)

Piperazina Triptamina

Substância de origem vegetal Canabinoide Sintético

Substância do tipo cetamina ou fenciclidina Mistura

Catinona Sintética Feniletilamina

Outra droga sintética Droga clássica

A seguir será discutido cada grupo de substâncias separadamente.

4.1 - DROGAS CLÁSSICAS


Foram computadas 466 entradas referentes a detecção de “drogas clássicas”
isoladas (MDMA, MDA, LSD, metanfetamina, 2C-B, GHB, anfetamina, DMT e DOET) e outras 9
referentes a misturas com drogas clássicas. O gráfico 04 apresenta o número de entradas
referentes a cada substância classificada como “droga clássica” neste relatório entre os anos
de 2017 e 2020.
A substância mais identificada foi novamente a 3,4-
metilenodioximetanfetamina – MDMA, equivalente a 344 entradas, a apreensão de 126.727
comprimidos e 48,142 kg de sólido em pó ou na forma de cristais (em 2019 foram 615
entradas, 207.322 comprimidos e 138,308 kg de sólido), não sendo contabilizadas as
apreensões da substância em mistura. Isso representou uma grande redução no número de
Laudos produzidos e na quantidade de material apreendido, seja na forma de comprimidos,
seja como sólido. Uma vez que a Europa é uma importante fonte produtora de MDMA e que
abastece o mercado mundial (EMCDDA, 2019), uma hipótese que justifica essa redução, aliada
às restrições a realização de eventos devido a pandemia, é que pode ter havido alguma
dificuldade de tráfico dessa substância da Europa para o Brasil.

15 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

Gráfico 04: Laudos produzidos por ano


Drogas sintéticas "tradicionais" ou "clássicas"

72.4%
12.0%
2020 10.5%

75.6%
9.1%

2019 8.8%

79.2%
10.9%
4.5%
2018

86.9%
4.0%
2017 4.8%

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650

MDMA MDA LSD Misturas Metanfetamina


2C-B GHB DOET DMT Anfetamina
Fentanil DOB Heroína

A segunda substância mais identificada foi o MDA, outra substância


comumente encontrada em “comprimidos do tipo ecstasy”. Havia sido observado um
aumento no número de Laudos emitidos sobre a substância de 2017 para 2018 (de 16 para 81
entradas). Em 2019, o número de casos parecia ter estabilizado (74 entradas), mas foi
observado um aumento no número de casos em que essa substância se encontrava presente
em conjunto com o MDMA em comprimidos. Em 2020 foi observada a diminuição no número
de Laudos em que a substância foi identificada, no entanto essa redução ocorreu em um grau
menor do que para a MDMA (23% para MDA e 44% para MDMA) e, portanto, apesar dessa
redução no número de Laudos, ainda se observa um aumento percentual na contribuição dos
casos referentes a MDA dentro do total de Laudos de Drogas Sintéticas clássicas entre os anos
de 2019 e 2020. Em 2019, representava 9,2% e em 2020, 12,1%.
Outra informação importante é que com frequência as amostras examinadas
de MDA contêm também a substância MMDPPA, um intermediário produzido na fabricação
de MDA a partir de helional.

16 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

Internacionalmente, as apreensões de MDA não têm recebido grande


destaque, principalmente aquelas em que o helional é usado como precursor de síntese. Em
2019 foi observado um aumento de informes sobre o uso de helional na fabricação ilícita de
MDA e MDMA e uma aparente disseminação geográfica do uso dessa substância. A Polícia
Federal brasileira relatou o desvio doméstico de quase 220 kg de helional e sua apreensão em
dois laboratórios ilícitos envolvidos na síntese de MDA, representando o primeiro informe
notável do uso de helional na América do Sul (INCB, 2021).
O relatório anterior já alertava que o aumento nas apreensões de MDA no país
aliado a detecção de precursores e intermediários específicos, tanto em laboratórios
clandestinos como em comprimidos apreendidos, poderiam sugerir que o país se firmou como
um produtor de MDA (MJSP-PF, 2020). Os dados referentes a 2020, em que se observa uma
menor redução no número absoluto de apreensões de MDA se comparada às de MDMA, e
um aumento percentual se comparado com outras drogas clássicas, pode significar a
consolidação de uma produção nacional de MDA.
Sobre as demais drogas sintéticas “tradicionais”, faz-se pertinente o constante
monitoramento dos dados referentes às substâncias fentanil e metanfetamina em virtude do
cenário internacional.
Em 2020, os casos em que a substância fentanil foi identificada se referem a
medicamentos. Tais materiais foram objeto de um relatório específico de produtos
farmacêuticos (MJSP-PF, 2021).
De acordo com o relatório de 2021 do NFLIS (DOJ-DEA, 2021), referente aos
Laudos produzidos por laboratórios forenses no Estado Unidos, a metanfetamina foi a droga
mais frequentemente identificada entre janeiro e dezembro de 2020 (377.787 Laudos),
seguida pela maconha / THC (188.735 Laudos) e cocaína (153.372 Laudos).
Já na Europa, o consumo de metanfetamina tem estado tradicionalmente
limitado à República Checa e, mais recentemente, à Eslováquia. A procura da droga na Europa
continua a ser reduzida, mas as mudanças na produção e no tráfico indicam risco de aumento
do consumo (OEDT, 2021).
As apreensões de metanfetaminas na América Latina e no Caribe têm flutuado
ao longo dos anos. Anualmente, a maior quantidade de metanfetamina apreendida na região
é, de longe, relatada pelo México. Entre 2015 e 2019, grandes apreensões anuais variando
entre 100 kg e 500 kg também foram relatadas pela Guatemala, Panamá, Brasil e Argentina,
em ordem decrescente dos valores apreendidos (UNODC, 2021).
Diante desse panorama internacional, é necessária atenção ao número de
apreensões da substância no país. A metanfetamina foi identificada em apenas 6 Laudos, o
que foi equivalente à apreensão de 74,9 g de pó/cristais, e 1 Laudo onde a metanfetamina
estava misturada com maconha (Figura 01). No ano anterior foram 701,6 g de pó/cristais,
17 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

aproximadamente 2 L de solução e 102 cápsulas misturadas com 3-Fluorofenmetrazina.


Embora o número de apreensões ainda seja discreto, três fatores chamaram a atenção:
1- Apreensão em diferentes Estados brasileiro de pequenas quantidades acondicionadas em
embalagens plásticas, indicando tratar-se de material para consumo próprio.
2- A metanfetamina foi encontrada em laboratório clandestino em Foz do Iguaçu/PR, junto
com o precursor 1-fenil-2-propanona (fenilacetona, P2P ou BMK). Também foi descoberto
um laboratório clandestino de metanfetamina em Jundiaí/SP (BAND MAIS YOUTUBE,
2020).
3- A substância metil-2-fenilacetoacetato (MAPA) foi detectada em 2020 pela PF. O MAPA
pode ser utilizado por traficantes como pré-precursor na obtenção da 1-Fenil-2-
Propanona, utilizada como matéria prima na fabricação de anfetaminas e
metanfetaminas. Em 2019 outro pré-precursor foi detectado, a alfa-fenilacetoacetomida
(APAA).
Esses três fatores convergem para a hipótese de produção de metanfetamina
no país visando o uso interno.

A- Vinda do México com destino a B- Apreendida em C- Vinda de São D- Misturada com


Florianópolis/PR. Santarém/PA. Paulo/SP com Cannabis (maconha),
destino a Foz do apreendida em São
Iguaçu/PR. Paulo/SP.
Figura 01 – Metanfetamina em cristais.

4.2 – OUTRAS DROGAS SINTÉTICAS


O grupo “outras drogas sintéticas” foi criado para monitorar a apreensão de
substâncias usadas em festas que não são controladas pelas convenções internacionais, mas
que também não é comum encontrá-las classificadas como NSP. Como exemplo temos a
gama-butirolactona (GBL), o clobenzorex e inalantes.
A GBL é convertida em ácido gama-hidroxibutirato (GHB) no corpo. O GHB tem
efeito eufórico em doses baixas, e por essa razão é conhecido com ecstasy líquido, e efeito
sedativo em doses mais altas, sendo utilizado como facilitador de crimes (NIEUWENHUIJZEN
e MCGREGOR, 2009) e (BELL, 2006). Foi observado um aumento na identificação de GBL pela
Polícia Federal (gráfico 05).

18 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

Gráfico 05: Laudos produzidos por ano


Outras drogas sintéticas (nitritos de alquila, GBL e
clobenzorex)

2020

2019

2018

0 10 20 30 40 50 60 70

Nitritos de alquila GBL Clobenzorex

É comum o uso de inalantes em festas, como o que se conhece como “loló” e


“lança-perfume”, materiais em que normalmente se detecta algum solvente clorado. Outro
grupo de substâncias inalantes é conhecido como “poppers”, materiais compostos por um ou
mais nitritos de alquila. Essas substâncias quando inaladas relaxam a musculatura, incluindo
a musculatura da região da pélvis e do ânus, e por isso tem uso conhecido durante a prática
do sexo anal. Os inalantes do tipo “poppers” não são tradicionalmente classificados como
drogas usadas em festas, o mais comum é classificá-los como substâncias usadas no contexto
de sexo, internacionalmente conhecido como CHEMSEX (sexo químico). Em virtude do
aumento de entradas referentes a esse grupo de substâncias em 2020, foram revistos os
Laudos produzidos em 2018 em que foram detectados nitritos de alquila. O Gráfico 06 traz a
detecção anual pela Polícia Federal de substâncias do tipo “poppers” de 2018 a 2020. Apenas
o nitrito de isobutila é controlado no país, relacionado na Lista C1 – Lista das outras
substâncias sujeitas a controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344/1998.

Gráfico 06: Laudos produzidos por ano


substância do tipo "poppers"
2020

2019

2018

0 10 20 30 40 50 60

Nitrito de pentila + Nitrito de propila Nitrito de isopentila + Nitrito de pentila


Nitrito de isopentila + nitrito de isopropila Nitrito de isopentila + nitrito de t-butila
Nitrito de isopropila + nitrito de isobutila Nitrito de isopropila + nitrito de isobutila + nitrito de isopentila
Nitrito de propila Nitrito de pentila
Nitrito de isobutila Nitrito de t-butila
Nitrito de isopropila Nitrito de isopentila

19 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

Não está claro o que motivou esse aumento na detecção de GBL e nitritos de
alquila durante a pandemia. Pode ter ocorrido a análise de materiais represados em anos
anteriores, um aumento de ações de fiscalização e apreensões no período ou ainda um maior
uso dessas substâncias.
Cabe destacar que a partir deste relatório, o clobenzorex passou a ser
considerado “Outras drogas sintéticas” em virtude de mudança no controle nacional da
substância. O clobenzorex, encontrado em alguns comprimidos do tipo ecstasy, foi
remanejada em 24/03/2021 da lista A3 para a Lista F2 da Portaria SVS/MS nº 344/1998. Foram
detectadas apenas 4 entradas de clobenzorex em comprimidos do tipo ecstasy. Os casos em
que o clobenzorex foi encontrado como medicamento foi objeto de um relatório específico
de produtos farmacêuticos (MJSP-PF, 2021).

4.3 - NOVAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


O Gráfico 07 fornece informações referentes apenas aos Laudos em que NSP
foram identificadas, comparando os dados contidos nos relatórios anteriores (MJSP-PF, 2017),
(MJSP-PF, 2018), (MJSP-PF, 2019) e (MJSP-PF, 2020). Para tanto, foram retirados os dados
referentes a “drogas clássicas”, “outras drogas sintéticas” e “mistura: drogas clássicas”.

Gráfico 05: Laudos Produzidos por ano - NSP


7.7% 5.1%
2020 46.2% 30.8%

19.8% 0.8%
2019 31.3% 37.4%

3.7% 2.2%
2018 14.1% 68.0%

3.6% 4.8%
2017 22.6% 58.3%

0.5% 19.8%
2016 42.1% 17.3%

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280

Substância de origem vegetal Triptamina Outras substâncias


Misturas Outras substâncias (Opióide) Piperazina
Substâncias do tipo fenciclidina Canabinóide Sintético Feniletilaminas
Catinonas Sintéticas

A seguir será discutido cada grupo de NSP separadamente.

20 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

4.3.1 - CATINONAS SINTÉTICAS

Em 2017 e 2018 as catinonas sintéticas eram o grupo com maior número de


Laudos produzidos entre as NSP. Costumam ser usadas em festas como substitutas do MDMA
em comprimidos do tipo ecstasy ou na forma de cristais.

Em 2019, foi observada uma queda acentuada no número de Laudos de


catinonas sintéticas, como pode ser visto no Gráfico 08. Em 2020, essa queda foi discreta.
Entre os Laudos produzidos em 2020 sobre NSP, 30,8% são referentes a catinonas sintéticas,
o que corresponde a 36 entradas, não sendo contabilizadas entradas de substâncias desse
grupo encontradas também em misturas. Isso representou uma redução de 26,5% no número
de casos do grupo entre os anos de 2019 (49 entradas) e 2020 (36 entradas).

A grande maioria das detecções de substâncias do grupo das catinonas


sintéticas se referem a procedimentos instaurados em 2019. Portanto, os dados deste
relatório sobre o grupo não podem ser entendidos como efeito da pandemia.

A categoria apresentou em 2020 o maior número de substâncias nunca antes


analisadas pela PF: 5 (3-CDC; MD-PV8; N,N-Dietilpentilona; N-Butilhexedrona e N-
Etilheptedrona). Todas são de uso proibido no país, pois se enquadram na classe estrutural
das catinonas sintéticas (Lista F2 item c) da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998.

O Gráfico 08 traz todas as catinonas sintéticas analisadas entre os anos de 2017


e 2020.

Gráfico 08: Laudos produzidos por ano


Catinonas Sintéticas

2020

2019

2018

2017

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240

4'-cloro-PPP 4F-PHP MDPHP N-acetil-3,4-MDMC Alfa-PVP


Etilcatinona MMC Metilona 4-MEAPP 4-metilpentendrona
TH-PVP Misturas MDPV 4-CEC 4Cl-PVP
4-CMC Pentilona N-Etilhexedrona Dibutilona MD-PV8
N,N-Dietilpentilona tBuONE 3-CDC MMMP 4-CDC
BMDP Etilona N-Butilhexedrona N-Etilheptedrona N-etilpentilona
N-butilpentilona Eutilona

21 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

4.3.2 - FENILETILAMINAS

O grupo das feniletilaminas tem sido o grupo com maior número de Laudos
produzidos sobre NSP nos últimos dois anos. São encontradas principalmente em selos do tipo
LSD.

Em 2020 representou 46,2 % dos casos de NSP, correspondentes a 54 entradas,


não sendo contabilizadas entradas de substâncias desse grupo encontradas também em
misturas, enquanto no ano anterior representava 31,3% (41 entradas) – Gráfico 07. Isso
representou um aumento de 31,7% no número de casos do grupo entre os anos de 2019 e
2020.
A feniletilamina de maior destaque foi o 25E-NBOH, quinta substância mais
detectada entre todas as drogas sintéticas. Se somadas todas as identificações das substâncias
“do tipo NBOH”, observa-se que em 2020 o número de casos foi 58,6% superior ao ano
anterior (46 entradas em 2020 e 29 entradas em 2019). Também foi confirmada a tendência,
relatada nos dois Relatórios anteriores, de diminuição dos Laudos onde foram detectadas
substâncias “do tipo NBOMe” (Gráfico 09).
A grande maioria das detecções de substâncias da família NBOH se referem a
procedimentos instaurados em 2019. Portanto, o aumento de identificações dessas
substâncias não pode ser entendido como efeito da pandemia.
A categoria apresentou em 2020 apenas uma substância nunca antes analisada
pela PF: 6-Br-DMPEA. Ela é de uso proibido no país, pois se enquadra na classe estrutural das
feniletilaminas (Lista F2 item d) da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998.

Gráfico 07: Laudos produzidos


Feniletilaminas

2020

NBOHs
2019

2018

2017
NBOMes
2016

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
4-FA 6-EAPB 25I-NBF 30C-NBOMe 2C-B-Fly
2-FA 2C-D N-Acetil 25I-NBOMe 5-APDB 2C-C
2C-I DOC Misturas 6-Br-DMPEA DOI
2C-E 25B-NBOMe 25C-NBOMe 25I-NBOMe 25B-NBOH
25I-NBOH 25C-NBOH 25E-NBOH

22 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

4.3.3 – SUBSTÂNCIAS DO TIPO CETAMINA OU FENCICLIDINA


O grupo das substâncias do tipo fenciclidina recebe destaque neste relatório
por representar o terceiro grupo de NSP com maior número de detecção desde 2019, apesar
de ter sido observada uma redução do número de Laudos em 2020: de 29 casos, incluindo
misturas, para 9 casos. Diferente do observado em 2019, não foi identificada a presença desse
grupo de substâncias em misturas.
Em 2020, a cetamina foi a substância do grupo mais identificada. Além disso,
foi detectada uma substância nunca antes analisada pela PF: 2-fluoro-desclorocetamina, ainda
não controlada no país.

4.3.4 - CANABINOIDES SINTÉTICOS


Em 2016, os canabinoides sintéticos eram o segundo grupo com maior número
de Laudos produzidos entre as NSP (19,8% - Gráfico 07), e normalmente eram encontrados
impregnados em ervas secas (Figura 02-A). Nos anos de 2017,2018 e 2019, houve uma queda
acentuada no número de Laudos emitidos referentes a esse grupo. Em 2020, volta a crescer a
quantidade de casos da categoria, sendo os canabinoides sintéticos encontrados
principalmente na forma de pó ou impregnados em papel (Figura 02-B e C).
Em 2020, foi identificado um canabinoide sintético nunca antes analisado pela
PF, o 4F-MDMB-BINACA. A substância é de uso proibido no país, pois encontra-se listada
nominalmente na Lista F2 item a, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998.

A - Canabinoides sintéticos em material vegetal,


identificados em 2016 (JWH-073 e JWH-210).

B- Canabinoide sintético em pó identificado em 2020, C- Canabinoide sintético impregnado em papel e


encontrado em encomendas postais (5F-MDMB-PICA). identificado em 2020, encontrado em presídio (5F-MDMB-
PICA).
Figura 02 – Exemplos de apreensões de canabinoides sintéticos.
23 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

Desde 2014 a Polícia Federal tem feito diversos alertas, principalmente junto à
ANVISA, sobre a presença de canabinoides sintéticos no país. Cabe reforçar os alertas feitos
nos Relatórios referentes aos anos de 2017 a 2019 (MJSP-PF, 2018) (MJSP-PF, 2019) (MJSP-
PF, 2020): os canabinoides sintéticos continuam a aparecer em papéis e em selos do tipo LSD.
Em presídios, essa nova forma de apresentação foi batizada de “K4” - Figura 02-C.
Aliado a isso, na literatura há outros relatos de canabinoides sintéticos
impregnados em papéis encontrados em prisões na Europa (EMCDDA, 2018) (FORD e BERG,
2018) (NORMAN, WALKER, et al., 2020) (NORMAN, HALTER, et al., 2021).
Dados coletados pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência
sugerem que os problemas atribuídos aos canabinoides sintéticos estão em crescimento. O
custo relativamente baixo, a alta potência e disponibilidade dos canabinoides sintéticos
parecem ter resultado em um maior uso na Europa entre grupos marginalizados, como os
sem-teto e as populações prisionais (EMCDDA-EUROPOL, 2019) (EMCDDA, 2017).
Nos presídios brasileiros, há dados de aumento na identificação de
canabinoides sintéticos em papeis (RODRIGUES, SOUZA, et al., 2021). Mesmo durante a
pandemia, quando aconteceram diversas restrições sanitárias nos presídios, incluindo a
redução ou proibição de visitas, a presença de canabinoide sintético em papeis continuou a
ser observada, pois esses materiais eram enviados via encomendas postais, demonstrando a
capacidade de adaptação do mercado de drogas.

4.3.5 –TRIPTAMINAS, SUBSTÂNCIAS DE ORIGEM VEGETAL E PIPERAZINAS


Os grupos das triptaminas, substâncias de origem vegetal e piperazinas foram
as categorias menos identificadas nos Laudos da PF em 2020 (Gráfico 7). A tabela traz as
substâncias/plantas identificadas, bem como o número de entradas.

Grupo Substância/Planta Número de entradas


Piperazinas TFMPP 1

Substâncias de origem vegetal Kraton 3


Triptaminas Bufotenina 1
Triptaminas 5-MeO-DMT (encontrada com 1
DMT)

Em 2020, enquadradas em algumas dessas categorias, foram identificadas 2


substâncias nunca antes analisadas pela PF: bufotenina e 5-MeO-DMT. Apenas a substância
5-MeO-DMT é de uso proibido no país (Lista F2 item a) da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de
maio de 1998.

24 POLÍCIA FEDERAL
RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

4.3.6 - AMINOINDANOS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS


Não foram identificadas na PF substâncias classificadas nos grupos
aminoindanos e outras substâncias em 2020.

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre os destaques deste relatório, é informada a detecção de 10 novas
substâncias (2-fluoro-desclorocetamina; MD-PV8; 3-CDC; 4F-MDMB-BINACA; 5-MeO-DMT;
Bufotenina; 6-Br-DMPEA; N,N-Dietilpentilona; N-butilhexedrona e N-Etilheptedrona).
O Relatório de 2019 (MJSP-PF, 2020) já trazia um alerta sobre a possibilidade
de o Brasil ter se tornado um país produtor de drogas sintéticas, em especial de MDA e
metanfetamina. Na União Européia a produção de drogas sintéticas próxima dos
consumidores mostrou-se altamente lucrativa (EMCDDA-EUROPOL, 2019). Para que não
ocorra um fenômeno similar no Brasil, é reforçada a sugestão de investigações sobre a
existência de laboratórios clandestinos no país, incluindo o monitoramento de informações
obtidas em Laudos periciais.

O aumento na detecção de inalantes do tipo “poppers”, substâncias usadas no


contexto de sexo, também é preocupante. Entre os nitritos de alquila identificados, apenas o
nitrito de isobutila é controlado no país, relacionado na Lista C1 – Lista das outras substâncias
sujeitas a controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344/1998. Sugere-se o controle dos demais
nitritos de alquila: nitrito de propila, nitrito de isopropila, nitrito de butila, nitrito de t-butila,
nitrito de pentila (amila) e nitrito de isopentila (isoamila).
Com relação às NSP, foi observado um aumento no número de substâncias
detectadas pela primeira vez, representando séria ameaça à saúde pública. Algumas novas
drogas são altamente potentes, como é o caso de diversos canabinoides sintéticos, sendo o
risco de intoxicação mais elevado.
Sobre os canabinoides sintéticos, é importante o constante monitoramento
não apenas das novas substâncias que surgem no mercado, mas também da forma de
apresentação (em papel, misturado com ervas, etc) e do perfil dos usuários. Na Europa, seu
custo relativamente baixo, a alta potência e disponibilidade parecem ter resultado no
aumento do uso entre grupos marginalizados, como moradores de rua e prisioneiros. Esse
panorama tem sido associado a um aumento nos relatos de danos graves. Por exemplo, nas
prisões, além dos efeitos adversos para a saúde, o tráfico e o uso de canabinóides sintéticos
têm sido associados a um aumento da agressão, violência e dívidas. Em alguns casos, isso
causou uma séria ameaça à segurança geral do ambiente prisional (EMCDDA, 2021).
Por fim, sobre as substâncias detectadas neste relatório que não constam
nominalmente na Portaria SVS/MS nº 344, sugere-se sua inclusão nominal, mesmo daquelas

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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

controladas por classes estruturais (2-fluoro-desclorocetamina; MD-PV8; 3-CDC; Bufotenina;


6-Br-DMPEA; N,N-Dietilpentilona; N-butilhexedrona e N-Etilheptedrona).

6 - GLOSSÁRIO
Drogas sintéticas (DS): Tradicionalmente o termo "droga sintética" era usado para se referir
às anfetaminas, anfetaminas substituídas (MDMA e seus análogos) e LSD, substâncias
sintéticas utilizadas com fim abusivo. Com o surgimento das chamadas designer drugs, um dos
primeiros termos usados para nomear o que se entende atualmente por novas substâncias
psicoativas, este conceito teve que ser ampliado. Neste relatório, consideraram-se drogas
sintéticas todas as substâncias de origem sintética que têm sido usadas com fins abusivos e
foram relatadas nos Laudos emitidos em 2020, sendo algumas drogas tidas como “clássicas”
(MDMA, MDA, metanfetamina, anfetamina, LSD, Heroina e fentanil), algumas substâncias que
são encontradas em contexto de festas e de uso durante o sexo (clobenzorex, GBL, cetamina
e nitratos de alquila) e todas as novas substâncias psicoativas - NSP.
Novas Substâncias Psicoativas (NSP): A Organização das Nações Unidas (LABORATORY AND
SCIENTIFIC SECTION. UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME – UNODC, 2013) e a
União Europeia (EMCDDA-EUROPOL, 2019) definem novas substâncias psicoativas como
drogas com potencial de abuso, na forma pura ou em preparações (misturas), que não são
controladas nos termos da Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961 (UNITED NATIONS,
1972) ou pela Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971 (UNITED NATIONS, 1971),
mas que podem constituir uma ameaça à saúde pública. Nesse contexto, o termo “novas” não
se refere necessariamente às substâncias criadas ou sintetizadas nos últimos anos, mas sim às
substâncias que foram introduzidas recentemente no mercado de uso abusivo.
Tanto a Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961 quanto a Convenção
sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971 têm sido atualizadas com maior frequência em
virtude do aparecimento das NSP (International Drug Control Conventions). Nas últimas
atualizações, as substâncias 3-MeO-PCP, N-etilhexedrona, 4-CMC, 4F-MDMB-BINACA, 5F-
MDMB-PICA, AB-FUBINACA, DOC, N-etilpentilona, AMB-FUBINACA, ADB-FUBINACA, 4-FA, UR-
144, Furanil fentanil, 5F-APINACA, Metiopropamina, Pentedrona, Etilona, U-47700, MXE, Alfa-
PVP, Metilona, MDPV, 25I-NBOMe, 25C-NBOMe, 25B-NBOMe foram incluídas.
Rigorosamente, elas não deveriam mais ser chamadas de NSP, mas sua classificação como tal
será mantida para fins de comparação com os dados obtidos em 2016, 2017 e 2018 (MJSP-PF,
2019) (MJSP-PF, 2018) (MJSP-PF, 2017). Portanto, neste relatório são consideradas NSP todas
as substâncias não controladas pelas Convenções de 1961 e 1971 até 2014, que foi o
documento utilizado para a elaboração do primeiro relatório (MJSP-PF, 2017).
Para facilitar o entendimento deste relatório e seguir a classificação atual da
UNODC, as NSP foram reunidas em 10 grupos, entre eles os 9 grupos do Global SMART

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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

Programme (aminoindanos, canabinoides sintéticos, catinonas sintéticas, fenetilaminas,


piperazinas, substâncias de origem vegetal, substâncias do tipo fenciclidina, triptaminas e
outras substâncias). Desde o Relatório de 2017 (MJSP-PF, 2018), optou-se por separar os
“opioides sintéticos” do grupo “outras substâncias”, onde são originalmente incluídos no
monitoramento do Global SMART Programme. Essa cisão teve como objetivo possibilitar um
monitoramento mais preciso dos dados, a fim de observar se há no país uma possível
influência da “epidemia de opioides” que vem ocorrendo nos Estados Unidos da América.
Misturas: Em alguns dos materiais examinados, mais de uma droga sintética foi identificada.
Com a finalidade de manter o monitoramento desses casos, optou-se por criar grupos
referentes a misturas para a coleta dos dados deste relatório. Consideram-se “misturas”
apenas os casos em que havia mais de uma droga sintética no mesmo material.
The Global SMART Programme: Como resposta ao problema das drogas sintéticas, o Escritório
das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) lançou em 2008 o programa de
monitoramento de drogas sintéticas The Global SMART Programme: Analyses, Reporting and
Trends. O programa visa melhorar a capacidade dos Estados-Membros específicos de gerar,
gerenciar, analisar, denunciar e usar informações sobre drogas sintéticas ilícitas.
National Forensic Laboratory Information System – NFLIS: O Sistema Nacional de Informações
Laboratoriais Forenses é um programa da DEA - Diversion Control Division, que coleta
sistematicamente os resultados de identificação de drogas e informações associadas de casos
de drogas submetidos e analisados por laboratórios forenses federais, estaduais e locais nos
Estados Unidos da América.

7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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youtube Band Mais, 2020. Disponivel em: <https://www.youtube.com/watch?v=cTdJ-
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Drugs and Drug Addiction. Luxembourg. 2021.
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Drug Addiction and Europol. Luxembourg. 2019.
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RELATÓRIO 2020 – DROGAS SINTÉTICAS

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