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AULAS ORIGEM DA VIDA

1E2
COMPETÊNCIA: 4 HABILIDADES: 15 e 16

1. INTRODUÇÃO Há cerca de 14 bilhões de anos, essa esfera teria subita-


mente explodido, dando início a expansão dessa matéria
A biologia é a ciência que estuda a vida e todos os seus e formando, de uma só vez, o Universo. A essa grande ex-
desdobramentos. Esse estudo pressupõe um método cien- plosão dá-se o nome científico de Big Bang. A expansão do
tífico que se caracteriza pela observação, pelo levantamen- Universo continua sendo observada até hoje, o que reforça
to de hipóteses testáveis, pelo planejamento e realização as hipóteses a favor do Big Bang. A origem e formação do
de experimentos, pela sistematização e registro de dados, Sistema Solar é resultado direto dessa explosão.
pela discussão de resultados e, por fim, pela conclusão. Ao longo desses bilhões de anos até hoje, ocorreram muitíssi-
Dessa maneira, gera-se conhecimento, que poderá ser mas mudanças na superfície terrestre que influenciaram signi-
questionado, ampliado e alterado ao longo do tempo. Com ficativamente na vida no planeta, como: movimentos de mas-
efeito, a ciência e a pesquisa são realizadas pelo homem e, sas continentais, alterações climáticas, formação e destruição
portanto, são direcionadas. A ciência possui uma perspec- de cadeias de montanhas, extinção e origem de espécies etc.
tiva e um olhar parcial, ou seja, é influenciada pela época,
sociedade e cultura às quais o pesquisador pertence.
2.1. Escala do tempo geológico
Para iniciar o estudo da biologia, são necessárias algumas re-
A escala do tempo geológico representa a linha do tempo
flexões e considerações, pois existem várias subdivisões nes-
desde o surgimento da Terra até o presente. Na escala, essa
sa ciência. Por exemplo, a zoologia estuda os animais e os
evolução é indicada por uma sequência de eventos. Dessa
seus desdobramentos; as plantas, por sua vez, são estudadas
forma, a história da Terra é marcada no tempo por determi-
pela botânica; as estruturas e o funcionamento das células
nado evento geológico, tempo que pode ser calculado por
são discutidos pela citologia; as interações entre os seres vi-
métodos absolutos ou relativos. Os estudos da evolução da
vos, e desses com o meio em que vivem, são abordadas pela
vida dividem hierarquicamente essa escala em: éons, eras,
ecologia; os mecanismos e padrões de herança do material
períodos, épocas e idades
genético são estudados pela genética; e o processo adapta-
tivo e as relações de parentesco entre as diversas espécies A seguir, serão analisados os principais períodos e suas carac-
são responsabilidade da evolução. Essas divisões facilitam o terísticas. O objetivo dessa abordagem é apresentar uma visão
estudo, a pesquisa e a construção do conhecimento bioló- geral de como a vida se manifestou e se estabeleceu na Terra.
gico. Entretanto, integrar essas subáreas em nosso estudo
Os primeiros microrganismos surgiram no planeta há cer-
é fundamental, pois permite um olhar amplo que possibi-
ca de 3,5 bilhões de anos.
lita a compreensão da complexidade dos seres vivos e dos
ambientes em todos os seus níveis de organização, ou seja, Os primeiros peixes primitivos apareceram no fim do pe-
organismos, populações, comunidades biológicas, ecossiste- ríodo Cambriano, em que os oceanos eram largos, rasos
mas, biomas, biocoras, biociclos e biosfera. e cálidos. Registros fósseis indicam que esses peixes, di-
ferentemente dos peixes de hoje, possuíam apenas duas

2. BIG BANG: A ORIGEM barbatanas rudimentares e não tinham mandíbulas.


No período Devoniano, conhecido como Idade dos Pei-
Nesta unidade, será abordada mais profundamente a ori- xes, ocorreu uma grande proliferação de peixes que pos-
gem da vida. Para isso, é preciso tratar, antes, da origem suíam mandíbulas adaptadas para digerir diversos tipos de
da Terra. alimentos. O ambiente desse período era bastante diferente
A Terra surgiu há aproximadamente 4, 6 bilhões de anos. daquele em que surgiram os primeiros peixes. Os oceanos
Toda a matéria que compõe o Universo atual estava com- haviam avançado e retrocedido várias vezes, e as plantas
primida em uma esfera extremamente pequena e densa, vasculares terrestres, que haviam surgido no período an-
do tamanho da ponta de uma agulha. terior, chamado de Siluriano, eram então abundantes.

6
Início
Era Período Eventos
(milhões de anos)

Clima flutuando entre frio e ameno. Avanços e recuos glaciais. Extinção de muitos
Quaternário 1,6
mamíferos e aves de grande porte. Primeiros humanos modernos do gênero Homo.

Vários surgimentos e formações de montanhas. Início da glaciação nos hemisférios Norte


e Sul. Elevação do Panamá e consequente união das Américas do Norte e do Sul. Primeiros
Cenozoica

Neogeno 23
macacos do Velho Mundo. Mamíferos pastadores em abundância. Primeiros hominídeos
eretos e grandes carnívoros. Aves e mamíferos marinhos diversificam-se.

Clima ameno a frio. Mares continentais largos e rasos. Elevação dos Alpes e Himalaia. A
América do Sul separa-se da Antártica. Clima ameno a muito quente no final do período.
Primeiros mamíferos insetívoros e primatas. Expansão extensiva de mamíferos e aves.
Paleogeno 65
Irradiação de famílias de mamíferos placentários. Primeiros macacos do Novo Mundo.
Formação inicial de pradarias. Aves carnívoras gigantes, incapazes de voar, eram pre-
dadores comuns.

Clima ameno em todo o período. Níveis dos mares elevados. A África e a América do Sul
se separam. Clímax dos dinossauros e répteis marinhos, seguido da extinção destes gru-
Cretácio 135
pos. Início da irradiação de mamíferos marsupiais e placentários. Primeiras angiospermas.
Declínio das gimnospermas. Aparecimento de muitos grupos de insetos.
Mesozoica

Clima ameno. Os níveis dos continentes são baixos com grandes áreas cobertas pelos
Jurássico 205
mares. Primeiras aves. Abundância de dinossauros. Crescimento exuberante de florestas.

Continentes montanhosos, unidos em um supercontinente (Pangeia). Extensas áreas


Triássico 250 áridas. Primeiros dinossauros. Primeiros mamíferos. Crescimento exuberante de florestas
com predomínio de coníferas.

Glaciação extensiva do Hemisfério Sul no início do período. Elevação dos Apalaches. Ari-
dez marcante em algumas áreas. Origem das coníferas, cicadófitas e ginkgos. Desapa-
Permiano 290
recem os tipos anteriores de florestas. Irradiação dos répteis. O período termina com
extinção em massa.

Clima quente com pequena variação sazonal nos trópicos. Níveis das terras baixos. Áreas
pantanosas com a formação de depósitos de carvão. Irradiação dos anfíbios. Abundância
Carbonífero 355
de tubarões. Samambaias com esporos e árvores com “casca”. Primeiros répteis. Insetos
gigantes. Grandes florestas de pteridófitas.
Paleozoica

Mares na maior parte das terras, com montanhas locais. Primeiros peixes com nadadeiras
Devoniano 410
raiadas e nadadeiras lobadas. Primeiros tetrápodes terrestres.
Clima ameno. Topografia em geral plana. Primeiros peixes com mandíbulas. Primeiros
Siluriano 438
invertebrados terrestres.

Clima ameno. Mares rasos. Continentes em geral com topografia plana. Os mares cobrem
boa parte do atual território dos Estados Unidos. Glaciação no final do período. Primeiros
Ordoviciano 510
vertebrados (peixes sem mandíbula). Invertebrados marinhos em abundância. Primeiras
plantas terrestres.

Extensos mares invadindo os continentes existentes. Origem de vários filos e classes de


Cambriano 570
invertebrados. Primeiros cordados. Moluscos com conchas. Abundância de trilobitas.
Proterozoica

Extensivo bombardeamento de meteoritos e instabilidade geológica nas primeiras fases des-


ta era. Os primeiros organismos eucariontes aparecem há cerca de 2 bilhões de anos. Grande
- 2.500 diversificação da vida há 1 bilhão de anos, surgindo os organismos pluricelulares, inclusive
algas. Os primeiros metazoários aparecem há mais ou menos 600 milhões de anos, logo
após uma grande glaciação.
Arqueana

Formação da crosta terrestre e início dos movimentos continentais. Os primeiros fósseis


- 4.600
(seres unicelulares) são conhecidos de 3,5 bilhões de anos atrás. Origem da vida.

7
No fim da Idade dos Peixes, um grupo de peixes de água
doce iniciou a adaptação à vida terrestre, originando os pri- 3. TEORIAS SOBRE A ORIGEM DA VIDA
meiros anfíbios. No período seguinte, apareceram os rép- O mistério da origem da vida intriga o ser humano desde
teis, primeiros vertebrados terrestres, assim como os primei- a Antiguidade.
ros insetos alados.
Doutrinas milenares da Índia, da Babilônia e do Egito en-
Os primeiros mamíferos surgiram no período Triássico, as- sinavam que rãs, cobras e crocodilos eram gerados espon-
sim como os primeiros dinossauros. No período seguinte, taneamente pelo lodo dos rios. Esses seres, que apareciam
apareceram as primeiras aves. inexplicavelmente no lodo e na lama, eram vistos como
No período Cretáceo, ocorre a extinção dos dinossauros. No fim manifestações da vontade dos deuses.
desse período, ocorreu uma grande irradiação adaptativa dos Até mesmo filósofos ilustres, como Platão e Aristóteles,
mamíferos, fato que originou muitas das ordens de animais su- defendiam ideias semelhantes sobre a origem dos seres
periores conhecidas atualmente. Alguns mamíferos insetívoros vivos. Dessa interpretação, surgiu a teoria da geração es-
deram origem a um grupo de animais com polegares oponíveis pontânea, ou teoria da abiogênese, segundo a qual os se-
e com unhas no lugar de garras denominados primatas. res vivos originam-se da matéria bruta de modo contínuo.
A lenta movimentação dos continentes terrestres, denomina- Entretanto, a teoria da geração espontânea foi contesta-
da deriva continental, originou, há 250 milhões de anos, da por diversos cientistas, que, por meio de experimentos,
um supercontinente denominado Pangeia. Há aproximada- provaram que um ser vivo só se origina de outro ser vivo.
mente 200 milhões de anos, teve início a separação da Pan- Surgiu, então, a atualmente aceita teoria da biogênese.
geia. Há 90 milhões de anos, a América do Sul descolou-se da
ƒ Teoria da abiogênese: os seres vivos surgem da ma-
África. Há 50 milhões de anos, a Índia uniu-se à Ásia, e, cinco
téria bruta de maneira contínua (geração espontânea).
milhões de anos depois, a Austrália separou-se da Antártica.
Principais defensores: Aristóteles, Platão, Needhan, Vir-
Os primatas experimentaram processos evolutivos distintos nos gílio, Aldovandro, Kricher e Van Helmont.
dois lados do mundo. No continente americano, eles restringi-
ƒ Teoria da biogênese: os seres vivos surgem de ou-
ram-se ao ambiente das árvores e desenvolveram adaptações
tros seres vivos. Principais defensores: Redi, Spallanzani
morfológicas muito eficientes para esse hábito, entre elas uma
e Pasteur.
cauda com grande capacidade preênsil. No Velho Mundo, os
prossímios originaram novas formas de primatas, entre eles
uma linhagem evolutiva de hábito terrestre que originou, há 3.1. Van Helmont
cerca de 5 milhões de anos, os primeiros hominídeos. Van Helmont (1580-1644), considerado o maior fisiologis-
Os primeiros hominídeos fazem parte do gênero Australo- ta de seu tempo, criou diversas receitas para a abiogêne-
pithecus, os primeiros a apresentarem nos registros fósseis se. Uma delas é a fórmula para se obter ratos por meio da
uma morfologia dos membros inferiores completamente geração espontânea:
adaptada à bipedia. O aparecimento do Homo sapiens ‘’Enche-se de trigo e fermento um vaso, que é fechado com
ocorreu há aproximadamente 400 mil anos. uma camisa suja, de preferência de mulher. Um fermento
vindo da camisa, transformado pelo odor dos grãos, trans-
forma em ratos o próprio trigo’’.
Como se sabe, os ratos que apareciam não se formavam a
partir da camisa e do trigo, como acreditava Van Helmont,
mas eram atraídos pela mistura.

3.2. Francesco Redi


Francesco Redi (1628-1698) começou, por volta de
1660, a combater a teoria da geração espontâ-
nea. Para isso, colocou pedaços de carne crua dentro de
multimídia: vídeo frascos, deixando alguns abertos e outros fechados com
FONTE: YOUTUBE
gaze. Observe o esquema do experimento.

A origem do planeta terra documentário De acordo com a teoria da abiogênese, depois de alguns
COMPLETO dias deveriam surgir da carne moscas e outros insetos. Isso,
contudo, não aconteceu nos frascos fechados com gaze.

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Nos frascos fechados, Redi não encontrou nada sobre a Needham contribuía para o fortalecimento da teoria da
carne, mas constatou ovos e larvas de insetos sobre a geração espontânea.
gaze que fechava os recipientes. Esse experimento de-
monstrou que os insetos eram atraídos pela carne e que 3.4. Abbey Spallanzani
o aparecimento de larvas era causado pelos ovos colo-
cados pelos insetos. Os resultados de Redi fortaleceram Em 1770, contudo, o cientista italiano Abbey Lazzaro
a teoria da biogênese, mas, ainda assim, muitos conti- Spallanzani (1729-1799) criticou seriamente os experi-
nuavam aceitando a teoria da geração espontânea. mentos de Needham. Spallanzani provou que o aqueci-
mento prolongado de substâncias orgânicas acondicio-
nadas em recipientes fechados, providos de válvula de
larvas escape, não propiciava o desenvolvimento de microrga-
nismos. Needham respondeu às críticas de Spallanzani
afirmando que ferver substâncias em recipientes fechados
destruía a “força vital”, pois tornava o ar desfavorável ao
aparecimento da vida.
ausência
de larvas Por meio de novos experimentos, Spallanzani demons-
trou que surgiam microrganismos quando os recipientes
fechados e submetidos à fervura eram abertos, entrando
frasco aberto frasco fechado com gaze em contato com o ar, provando que a “força vital’’ não
havia sido destruída. Apesar disso, Spallanzani não con-
EXPERIMENTO REALIZADO POR REDI, CUJO RESULTADO REFORÇOU seguiu provar que o aquecimento de material orgânico
A TEORIA DA BIOGÊNESE. em recipientes fechados não alterava a qualidade do ar.
Needham saiu favorecido dessa polêmica, o que reforçou
3.3. John Needham ainda mais a teoria da geração espontânea.

O cientista inglês John T. Needham (1713-1781) mostrou, 3.5. Louis Pasteur


por volta de 1745, através de vários experimentos, que, em
recipientes contendo diversos tipos de infusões e subme- O cientista francês Louis Pasteur (1822-1895), por volta de
tidos à fervura, mantidos fechados ou não, apareciam mi- 1860, através de seus célebres experimentos com balões do
crorganismos. Needham afirmou que esse fenômeno ocor- tipo “pescoço de cisne”, conseguiu provar definitivamente
ria devido à presença, nas partículas orgânicas da infusão, que os seres vivos se originam de outros seres vivos. Além
de uma força vital especial, responsável pelo aparecimen- disso, constatou a presença de micróbios no ar atmosférico.
to da vida microscópica. Assim, com esses experimentos, Considerando as críticas dos seguidores da abiogênese so-
bre a formação de ar viciado – que seria impróprio para o

VIVENCIANDO

O processo de pasteurização foi criado a partir dos experimentos de Pasteur realizados para provar a teoria da
biogênese. A pasteurização é o processo usado para conservar alimentos, pois elimina microrganismos patogênicos
que causam azedamento ou acidificação, sem causar alterações físico-químicas no valor nutritivo dos alimentos. O
processo consiste em elevar a temperatura do alimento por um determinado tempo, e, em seguida, resfriá-lo a uma
temperatura inferior a de antes, com a finalidade de eliminar os microrganismos. Por ser um processo rápido e brando,
ele não elimina 100% dos microrganismos, não sendo essa a finalidade, uma vez que existem microrganismos nesses
alimentos que precisam ser ingeridos. Para remover 100% dos microrganismos, o alimento deve passar por um pro-
cesso de esterilização e posteriormente ser lacrado para evitar novas contaminações. A pasteurização é muito usada
na indústria alimentícia, principalmente em leite, sucos, cerveja, polpas de frutas, entre outros.

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desenvolvimento da vida em recipientes fechados submeti-
Pasteurização: outra impor- dos à fervura –, Pasteur realizou os seguintes experimentos
tante contribuição de Pasteur utilizando frascos com gargalos longos e curvas:
1
A pasteurização, criada em 1864 por Louis Pasteur, é 2
O gargalo do frasco é
O caldo nutritivo é
um procedimento industrial empregado no tratamen- despejado em um esticado e curvado ao fogo
frasco de vidro
to do leite, de sorvetes, de cervejas etc.

O leite in natura é um produto altamente perecível,


propício ao desenvolvimento de microrganismos que 3
O caldo nutritivo 4 O caldo nutritivo do
o acidificam e azedam. Para evitar esses problemas, é fervido e frasco com “pescoço de
esterelizado cisne” matém-se livre
tomam-se alguns cuidados, da captação ao consumo de microrganismos

do leite. Dentre eles, destaca-se a pasteurização, que,


no Brasil, é obrigatória.
Esse procedimento consiste em submeter o leite a um 5 Se o gargalo do frasco é
quebrado, surgem
grau de aquecimento suficiente para destruir os mi- microrganismos no caldo

cro-organismos patogênicos presentes nele. O melhor


cuidado nesse procedimento é não causar alterações
físico-químicas e organolépticas ao alimento, bem
como não alterar o valor nutritivo do produto. O leite EXPERIMENTO REALIZADO POR LOUIS PASTEUR, RESPONSÁVEL PELA
DERRUBADA DA TEORIA DA ABIOGÊNESE.
pasteurizado, portanto, deve apresentar características
semelhantes, ao máximo, ao produto in natura, bem O famoso experimento demonstrou que um líquido, ao ser
como garantir a ele mais tempo e condições de conser- fervido, não perde a suposta “força vital”, como defendiam
vação, uma vez que a pausterização destrói aproxima- os adeptos da geração espontânea. Na verdade, quando o
damente 99% da microbiota presente no leite. pescoço do balão é quebrado, depois da fervura do líquido,
surgem seres vivos. O experimento refuta ainda outro ar-
Mas esse procedimento também traz desvantagens,
gumento dos defensores da abiogênese: a formação de ar
embora superadas pelos benefícios. Ele reduz ou
viciado impróprio para a vida. O líquido fervido fica, nesse
mesmo elimina as bactérias lácticas benéficas para o caso, em contato com o ar atmosférico através do pescoço
organismo, altera o sabor do leite, bem como provoca do balão, e não ocorre o aparecimento de seres vivos, pois
desnaturação da proteína do leite, dificultando, por as gotículas de água que se acumulam nesse pescoço re-
exemplo, a produção de alguns queijos. têm os micróbios contidos no ar que penetra no balão. A
Se o leite for submetido a temperaturas elevadas por partir dos experimentos de Pasteur, a teoria da biogênese
tempo prolongado, seu sabor e cor podem alterar-se. passou a ser predominante nos meios científicos.
Em razão disso, há limites de temperatura e de tempo De fato, a questão da origem da vida passou a preocupar
para que suas características se mantenham. cada vez mais os cientistas, pois, se os organismos vivos sur-
Existem três tipos de pasteurização: gem a partir de outros, como foi que se originou o primeiro?

ƒ Pasteurização lenta: também conhecida como Várias hipóteses foram formuladas para explicar a origem
da vida, como a panspermia (vida vinda de outra parte do
LTLT (low temperature long time, baixa tempe-
universo por meio de meteoros; no entanto essa teoria não
ratura por longo tempo), mantém a temperatu-
explica a origem da vida, apenas transfere o problema para
ra a 63 °C por 30 minutos.
outro lugar) e a criação divina. Não obstante, a teoria mais
ƒ Pasteurização rápida: HTST (high temperature and aceita atualmente é a hipótese da evolução gradual dos
short time, alta temperatura por pouco tempo), sistemas químicos, desenvolvida pelo russo Aleksandr
mantém a temperatura a 72 °C por 15 segundos. Oparin e pelo inglês John Burdon Sanderson Haldane na
década de 1920. Para se compreender a teoria de Oparin e
ƒ Pasteurização muito rápida: UHT (ultra high tem-
Haldane, é preciso conhecer as condições da Terra primitiva.
perature, temperatura ultraelevada), mantém a
temperatura entre 130 °C e 150 °C, por um perí- Logo depois da formação da Terra, a atmosfera possuía
odo de 3 a 5 segundos. uma composição bem diferente da atual, sendo formada
FONTE: <HTTP://INFOESCOLA.COM/MICROBIOLOGIA/PASTEURIZAÇÃO>.
provavelmente por metano (CH4), amônia (NH3), hi-
ACESSO EM: 6 FEV. 2015.AS CONDIÇÕES DA TERRA PRIMITIVA drogênio (H) e vapores de água (H2O). A atmosfera
primitiva não apresentava oxigênio (O2), o que permitia

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que a radiação ultravioleta proveniente do Sol atingisse Nos coloides, cada molécula de proteína encontra-se en-
a superfície terrestre de forma intensa. Na atmosfera atual, volvida por várias moléculas de água atraídas pela diferen-
essa radiação também atinge a Terra, mas em quantidade ça de carga elétrica. Se há alteração no grau de acidez da
menor, pois é filtrada pela camada de ozônio (O3), que não solução coloidal, as moléculas de proteína aproximam-se,
existia nos tempos primitivos. formando vários aglomerados proteicos envoltos por várias
moléculas de água. Esses aglomerados foram chamados
A Terra primitiva por Oparin de coacervados.
Atualmente, a teoria mais aceita é a de que o Sistema Esses coacervados não eram seres vivos, mas uma
Solar se formou de uma só vez, a partir da concen- primitiva organização das substâncias orgânicas,
tração de uma massa gasosa, há aproximadamente principalmente de proteínas e ácidos nucleicos, em
4,6 bilhões de anos. Em cada planeta, os átomos se um sistema isolado do meio. Apesar de isolados, os coacer-
agruparam de maneira que os mais pesados ficaram vados podiam trocar substâncias com o meio externo, sendo
no centro, e os mais leves, na superfície. que, em seu interior, havia condições para a ocorrência de
No caso da Terra, os elementos mais pesados, concentra- inúmeras reações químicas.
dos no centro, foram o ferro (Fe) e o níquel (Ni), e os mais Com as constantes reações químicas, alguns coacervados tor-
leves, localizados na superfície, foram o carbono (C), o hi- naram-se mais complexos, chegando inclusive a apresentar
drogênio (H), o oxigênio (O) e o nitrogênio (N). Na supefície capacidade de duplicação. Nesse momento, teriam surgido os
do planeta, a temperatura era provavelmente muito alta. primeiros seres vivos, que, apesar de muito primitivos, eram
Contudo, devido ao contato com o espaço cósmico – que capazes de reproduzir-se, dando origem a outros seres vivos.
é muito frio –, teria ocorrido um resfriamento que possibi- Essa evolução gradual dos sistemas químicos teve a duração
litou ligações químicas entre os elementos. A água foi uma provável de 2 bilhões de anos. O esquema a seguir representa
dessas substâncias formadas. Devido às altas temperaturas essa hipótese.
p
da superfície, toda substância líquida era evaporada. Os
vapores de água, entretanto, ao entrar em contato com as H2O H2

camadas mais frias da atmosfera, sofriam resfriamento, o NH 3


CH4
que provocava violentas tempestades e muitas descargas
elétricas (raios). Essa água, ao entrar em contato com a Esses gases sofrem influência
Gases da
superfície quente da Terra, tornava a sofrer evaporação, im- atmosfera de fortes descargas elêtricas e
primitiva de raios ultravioleta, formando
pedindo seu acúmulo sobre a superfície terrestre. Somente moléculas orgânicas.

com o resfriamento progressivo da Terra é que foi possível


o acúmulo de água líquida sobre a superfície, fator que deu
origem aos mares primitivos.

3.6. A hipótese da evolução gradual


Moléculas orgânicas A chuva arrasta essas
dos sistemas químicos simples na atmosfera moléculas para a
superficie da Terra
Essa hipótese, formulada por Oparin e Haldane, sugere que,
na Terra primitiva, moléculas orgânicas complexas se forma-
ram a partir de moléculas simples, antes do aparecimento Calor.
Formação de
dos seres vivos. Os prováveis gases componentes da atmos- moléculas
orgânicas
fera primitiva, ao sofrerem os efeitos das fortes descargas complexas
elétricas provenientes das frequentes tempestades e da in- *Sopa nutritiva* Alteração da acidez do
fluência acentuada dos raios ultravioleta do Sol, reagiram en- meio propicia a formação
de aglomerados proteicos
tre si, formando moléculas orgânicas simples (aminoácidos, isolados (coacervados).

açúcares, álcoois). Essas moléculas teriam sido arrastadas


pelas águas da chuva e se acumulado nos mares primitivos,
onde outras reações teriam ocorrido.
A formação de grande número de substâncias orgânicas, sim-
Inúmeras reações químicas ocorrem dando
ples e complexas, transformou os mares primitivos em verdadei- origem aos primeiros seres vivos.

ra “sopa nutritiva’’. Moléculas de proteína dispersas em água HIPÓTESE DA EVOLUÇÃO GRADUAL DOS SISTEMAS QUÍMICOS -
formaram uma solução coloidal com características próprias. PROPOSTA POR OPARIN E HALDANE

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do sistema simula os mares primitivos, que recebiam as
3.7. O experimento de Miller e Urey chuvas e os compostos formados na atmosfera.
A hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos foi
testada pela primeira vez em 1953 pelos químicos norte- Pela análise da água acumulada nessa parte em “U”, foi pos-
-americanos Stanley L. Miller (1930-2007) e Harold Urey sível verificar a formação de moléculas orgânicas, dentre elas
(1893-1981). Eles construíram um aparelho que simulava alguns aminoácidos, substâncias que formam as proteínas.
as condições da Terra primitiva e introduziram nele os gases Dessa forma, o experimento de Miller e Urey demonstrou
que provavelmente constituíam a atmosfera daquele período: que moléculas orgânicas (aminoácidos) poderiam
amônia (NH3), hidrogênio (H), metano (CH4) e vapor de água. ter-se formado nas condições da Terra primitiva,
ELETRODOS
o que reforçou a hipótese da evolução gradual dos siste-
mas químicos.
TUBO PARA
CRIAR VÁCUO POLO POSITIVO POLO NEGATIVO

AMÔNIA
METANO
3.8. A hipótese autotrófica
HIDROGÊNIO
VAPOR D’AGUA
SÁIDA DO VAPOR
Como todo ser vivo necessita de alimento para sobreviver,
parece lógico admitir que os primeiros seres vivos tenham
CONDENSADOR
ENTRADA DE ÁGUA
sido capazes de produzir seu próprio alimento, ou seja, te-
nham sido autótrofos.
Alguns cientistas não acreditam que a vida tenha surgido
ÁGUA FERVENTE PARA
GERAR VAPOR nos mares rasos e quentes da Terra primitiva, uma vez que
a superfície do planeta era bombardeada frequentemente
por meteoros gigantes. Dessa forma, a crosta terrestre não
teria a estabilidade necessária para o desenvolvimento da
RESULTADOS PARA
ANÁLISE vida. Esses cientistas acreditam que a vida se originou nos
assoalhos oceânicos, perto de fontes térmicas, onde exis-
EXPERIMENTO DE MILLER E UREY: FORMAÇÃO DE tiam bactérias capazes de utilizar compostos químicos para
AMINOÁCIDOS NA TERRA PRIMITIVA
obter energia e produzir seu próprio alimento.
A figura anterior ilustra o esquema do experimento. A água,
ao ferver, transforma-se em vapor e ocasiona a circulação De fato, está comprovado que essas bactérias quimiossin-
em todo o sistema, conforme indicado pelas setas. No balão tetizantes vivem em fontes térmicas sulfurosas em regi-
em que se encontra a mistura gasosa, ocorrem descargas ões tão profundas que a luz solar não consegue alcançar.
elétricas simulando raios, que deviam ser muito frequentes Esse fato pode confirmar a hipótese de que os primeiros
naquela época. seres vivos eram autótrofos. Entretanto, existe uma ob-
jeção muito séria a essa teoria: os autótrofos sintetizam
Em seguida, as substâncias são submetidas a um resfria- alimentos orgânicos (a partir de substâncias inorgânicas)
mento para simular a condensação nas altas camadas da à custa de uma série extremamente complexa de reações
atmosfera, fator que provoca as chuvas. A parte em “U”
químicas, exigindo que seu próprio organismo também

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Conceitos de química são aplicados no famoso experimento de Miller e Urey, dado que envolve reações químicas que
transformavam compostos inorgânicos em compostos orgânicos precursores da vida. Dessa forma, compreender como
os átomos e íons se conectam e como se comportam, baseado na geometria das moléculas, para formarem pequenas
moléculas orgânicas, como aminoácidos, e, posteriormente, moléculas orgânicas maiores, como as proteínas, é fun-
damental para entender como foi possível o início da vida a partir de moléculas inorgânicas simples, como metano,
nitrogênio, hidrogênio e vapor de água, que estavam presentes na atmosfera primitiva.

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seja complexo. Assim, a hipótese autotrófica pressupõe 3.9.2 Formação de proteínas
que um ser vivo já complexo teria surgido repentinamen-
te. Contudo, a teoria da evolução biológica, contra a qual Para abordar a formação de proteínas, é importante re-
não há objeções sérias, afirma que os primeiros seres capitular o processo de combinação de dois aminoácidos,
vivos devem ter sido bastante simples, levando muito constituindo, assim, um dipeptídeo. Como é possível ob-
tempo para se tornarem complexos. Por esse motivo, os servar, a formação de um dipeptídeo é um exemplo de
biologistas não aceitam a hipótese autotrófica, síntese por desidratação.
pois ela vai contra a teoria da evolução. +
NH2 O R O
3.9. A hipótese heterotrófica R C C+ H NH C C
Essa hipótese sugere que a forma mais primitiva de vida H OH H OH
surgiu em um ambiente complexo, na forma de um ser
muito simples e incapaz de fabricar seu alimento. Não se NH2 O H R+ O
trata de geração espontânea, uma vez que a teoria da abio-
gênese afirma que seres complexos podem surgir repenti- H2O + R C C N C C
namente de matéria bruta. A hipótese heterotrófica, por
sua vez, supõe que um ser muito simples evoluiu vagarosa- H H OH
mente da matéria inanimada, fato que ocorreu há milhões
O bioquímico norte-americano Sidney W. Fox (1912-1998)
de anos e não ocorre mais.
aqueceu uma mistura seca de aminoácidos e, depois do
De acordo com a hipótese heterotrófica, a vida teria surgi- resfriamento, verificou que eles haviam se unido para com-
do por meio das etapas ilustradas abaixo: por moléculas maiores e mais complexas, semelhantes a
proteínas, que foram denominadas proteinoides.
FORMAÇÃO DE AMINOÁCIDOS Na Terra primitiva, os aminoácidos teriam chegado às
rochas levados pelas chuvas. A evaporação da água te-
ria deixado os aminoácidos secos sobre a superfície das
FORMAÇÃO DE PROTEÍNAS CAPACIDADE DE REPRODUÇÃO
rochas quentes. Em tais condições, teria ocorrido a for-
mação de ligações peptídicas pela evaporação da água e
FORMAÇÃO DE COACERVADOS APARECIMENTO DE AUTÓTROFOS
a consequente formação de proteínas; mais tarde, essas
proteínas seriam levadas aos oceanos pelas chuvas.

SURGIMENTO DE HETERÓTROFOS PREDOMÍNIO DE AUTÓTROFOS


3.9.3. Formação de coacervados
Os aminoácidos e as proteínas surgios na era pré-biogêni-
OBTENÇÃO DE ENERGIA APARECIMENTO DE AERÓBIOS ca da Terra teriam chegado aos mares, produzindo o que
Haldane descreveu como “caldo quente e diluído”. Segun-
do Oparin, as proteínas teriam formado aglomerados de-
nominados coacervados.
3.9.1. Formação de aminoácidos PROTEÍNA
Os cientistas constataram a evidência de que a atmos- COACERVADO
fera da Terra primitiva era provavelmente constituída de
H2O
hidrogênio, metano, amônia e vapor de água. As altas
temperaturas da crosta terrestre geravam o vapor de água,
que, condensando-se nas camadas altas e frias da atmos-
fera, provocava violentas tempestades acompanhadas de
descargas elétricas.
ã
CAMADA DE SOLVATAÇÃO
Na experiência de Miller e Urey, uma mistura com a mesma
composição de gases da atmosfera primitiva foi exposta a Os coacervados são aglomerados de proteínas que se man-
descargas elétricas, originando aminoácidos, como a glicina e têm unidos em pequenos grumos circundados por uma
a alanina. A experiência indicou que um processo semelhante porção líquida denominada camada de hidratação ou
pode ter acontecido na atmosfera primitiva. de solvatação.

13
3.9.4. Surgimento dos heterótrofos mas e ATP do meio ambiente e fermentado a glicose, ob-
tendo a energia necessária para a sobrevivência. Assim, os
É possível afirmar que não havia camada de ozônio na at-
primeiros seres vivos teriam sido heterótrofos anaeróbios.
mosfera da Terra primitiva, uma vez que o ar era composto
por amônia, metano, hidrogênio e vapores de água e, além
disso, tinha ausência de nitrogênio e oxigênio; portanto, a 3.9.6. Capacidade de reprodução
temperatura da superfície terrestre era muito alta, condição Devido a sua capacidade de retirar alimentos e energia
intensificada pelo fato de o planeta ser constantemente do meio e organizar as moléculas em padrões definidos,
atingido por raios ultravioletas. os heterótrofos-anaeróbios primitivos teriam crescido
Nesse cenário, variadas combinações de elementos simples gradativamente, a tal ponto que teriam surgido novos
levavam à formação de aminoácidos, açúcares simples, áci- problemas na luta pela sobrevivência: com o aumento
dos graxos e nucleotídeos, como uma sopa nutritiva. Assim, volumétrico do indivíduo, a difusão do alimento do meio
foi possível, em algum momento, a formação de seres uni- exterior para o interior do coacervado teria ficado mais
celulares heterótrofos. A única fonte de energia disponível lenta por causa da distância a ser percorrida dentro do
era a própria sopa nutritiva (sem O2); dessa forma, eram heterótrofo; desse modo, o coacervado teria começado
heterótrofos fermentadores queliberavam CO2. a sofrer fome.
Com o passar do tempo, mais mutações foram ocorrendo e Nessas condições, ele teria perecido ou teria se dividido
surgiram organismos aptos a usar CO2 e energia luminosa para reduzir seu volume. Contudo, qualquer mecanismo de
como fontes de energia. Assim, surgiram os seres autótro- divisão teria gerado um novo problema; ao dividir-se, o coa-
fos fermentadores e fotossintéticos, que passaram a cervado teria corrido o risco de se desorganizar e, portanto,
liberar O2 para a atmosfera terrestre. perder as características de sistema complexo adquiridas em
muito tempo de evolução.
3.9.5. Obtenção de energia
Nos organismos bem-sucedidos, teriam surgido os ácidos
Para se manter e se desenvolver, um sistema de coacer-
nucleicos, moléculas que controlam os processos básicos
vados, necessitaria de uma fonte de energia constante e
de reprodução e organização. Em tais condições, o orga-
controlável. A hipótese heterotrófica sugere que essa fonte
nismo primitivo que tivesse DNA teria encontrado o meio
de energia teria sido a energia das ligações químicas exis-
para se duplicar de maneira exata, transmitindo aos seus
tentes nas imensas quantidades de substâncias compos-
descendentes o mesmo padrão de organização adquirido
tas, geradas por processo abiogenético durante milhares
depois de toda evolução transcorrida.
de anos no mar primitivo.
Nos seres vivos mais recentes, a energia para a sobrevi-
vência das células é obtida, em geral, da glicose. A fim de
conseguir a energia, a célula diminui a energia de ativação
necessária, para que a molécula de glicose possa ser que-
brada, liberando a energia de suas ligações; esse processo
é realizado com a utilização de enzimas e ATP (adenosina
trifosfato). Em certos casos, como na ausência de oxigênio,
a célula consegue retirar energia da glicose pelo processo
de fermentação. Será que tal processo poderia ter ocorrido
com os coacervados?
O bioquímico norte-americano Melvin Calvin (1911-1997) multimídia: sites
realizou experiências semelhantes às de Miller, misturan- FONTE: YOUTUBE
do gases que estariam presentes na atmosfera primitiva e
www.infoescola.com/evolucao/origem-da-vida/
bombardeando-os com raios ultravioleta. Como resultado,
obteve misturas de compostos orgânicos, entre os quais www.infoescola.com/evolucao/hipotese-he-
a glicose. Como as enzimas são sempre proteínas, elas já terotrofica/
poderiam ter existido (experiência de Fox). Por outro lado, www.infoescola.com/evolucao/hipotese-au-
todos os elementos necessários para formar o ATP pode- totrofica/
riam ter existido no mar primitivo, inclusive fosfatos. Nesse
sentido, os coacervados podem ter retirado glicose, enzi-

14
3.9.7. Surgimento dos autótrofos a origem da vida. Entretanto, essas hipóteses são sempre
vulneráveis a mudanças graças ao avanço tecnológico e
Ao longo do desenvolvimento da vida na Terra, houve diver- ao conhecimento científico. A revisão de hipóteses é parte
sas mutações no material genético dos seres vivos. A partir de- essencial da pesquisa científica.
las, há cerca de 2,7 bilhões de anos atrás, surgiram seres vivos
unicelulares com capacidade de sintetizar matéria orgânica a
partir de matéria orgânica, ou seja, organismos autótrofos.

3.9.8. Predomínio dos autótrofos


Com o passar do tempo, é possível que os heterótrofos
tenham sido obrigados a superar um novo problema: a
quantidade relativa de alimento teria começado a diminuir;
a “sopa” orgânica teria se diluído progressivamente por
dois motivos: aumento de consumo de substâncias or-
gânicas existentes no ar primitivo, devido ao crescimento
contínuo da população, e diminuição da produção de tais
substâncias pelo processo abiogenético. FÓSSEIS ESTROMATÓLITOS EM SECÇÕES TRANSVERSAIS.

Há evidências de que a vida tenha se manifestado há 3,5


3.9.9. Aparecimento dos aeróbios bilhões de anos com a descoberta de microfósseis (fósseis
Os primeiros autótrofos – a partir de um suprimento de invisíveis a olho nu) da vida celular procariótica, frequen-
CO2, enzimas de ATP e aparecimento de uma molécula, temente na forma de estruturas rochosas encontradas
talvez a clorofila – capazes de absorver a energia luminosa no sul da África e na Austrália, chamadas estromatólitos,
teriam realizado uma fotossíntese primitiva. produzidos por micróbios (maioria cianobactérias fotos-
sintetizantes), que se formam quando as células crescem
No processo de fotossíntese, liberam-se moléculas de oxi-
na superfície marinha e sedimentos se depositam entre as
gênio. Dessa forma, é possivel supor que uma certa quanti-
células ou sobre elas. Assim, uma camada mineralizada
dade de gás tenha-se acumulado gradativamente, durante
fica abaixo delas, pois as células crescem na direção da
milhares de anos, como consequência do aparecimento dos
luz. Com o passar do tempo e a repetição do processo, ca-
autótrofos. Contudo, a utilização de oxigênio para a
madas mineralizadas vão formando uma estrutura rochosa
obtenção de energia a partir da glicose libera mui-
estratificada dessas, o estromatólito.
to mais energia do que aquela obtida na ausência
de oxigênio, uma vez que a fermentação fornece Ainda hoje, micróbios produzem estromatólitos modernos
um saldo energético de apenas 2 ATP, enquanto, na que são incrivelmente similares aos antigos. Vistos em corte
reação com o oxigênio, o saldo é de 38 ATP. Dessa transversal, ambos mostram a mesma estrutura de camadas
forma, os organismos capazes de executar respiração ae- produzidas por bactérias. Microfósseis de cianobactérias an-
róbia teriam levado vantagem, pois eram capazes de retirar ciãs são eventualmente identificadas nessas camadas.
mais energia do alimento disponível. Cientistas também têm explorado poças de maré e fontes
termais em busca de outras possibilidades para o surgimen-
3.10. Teorias atuais to da vida. Recentemente, cientistas levantaram a hipótese
de que a vida se originou junto a uma fonte hidrotermal no
Fósseis, datação radiométrica, filogenia, constituição quími- fundo do mar. Substâncias químicas encontradas nessas re-
ca de organismos modernos e experimentos diversos ace- giões e a energia fornecida por elas abasteceriam diversas
nam para linhas de evidência que avançam para esclarecer reações químicas indispensáveis à evolução da vida.

15
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer
15 nível de organização dos sistemas biológicos.

Esta questão irá testar a capacidade de interpretação de hipóteses científicas por meio de experimentos e
como os resultados desses experimentos apoiam ou refutam a hipótese. Resultados dentro do esperado
podem tornar a hipótese uma lei científica.

Modelo 1
(ENEM) EM CERTOS LOCAIS, LARVAS DE MOSCAS, CRIADAS EM ARROZ COZIDO, SÃO UTILIZADAS COMO ISCAS PARA PESCA. ALGUNS CRIADORES, NO
ENTANTO, ACREDITAM QUE ESSAS LARVAS SURGEM ESPONTANEAMENTE DO ARROZ COZIDO, TAL COMO PRECONIZADO PELA TEORIA DA GERAÇÃO ESPONTÂ-
NEA. ESSA TEORIA COMEÇOU A SER REFUTADA PELOS CIENTISTAS AINDA NO SÉCULO XVII, A PARTIR DOS ESTUDOS DE REDI E PASTEUR, QUE MOSTRARAM
EXPERIMENTALMENTE QUE

a) seres vivos podem ser criados em laboratório.


b) a vida se originou no planeta a partir de microrganismos.
c) o ser vivo é oriundo da reprodução de outro ser vivo preexistente.
d) seres vermiformes e microrganismos são evolutivamente aparentados.
e) vermes e microrganismos são gerados pela matéria existente nos cadáveres e nos caldos nutritivos, respectivamente.

Análise expositiva 1 - Habilidade 15: Os experimentos de Redi e Pasteur demonstraram que não é possível
C o surgimento de vermes ou microrganismos por geração espontânea. Nessa situação, é importante saber analisar o
procedimento experimental adotado pelos cientistas e como os resultados obtidos refutaram a teoria da abiogênese.
O experimento de Redi foi realizado com a utilização de dois frascos com um pedaço de carne cada. Um frasco permaneceu
aberto e o outro foi fechado com gaze. Com o passar dos dias, ele observou que havia vermes somente no frasco que permaneceu
aberto, refutando a hipótese da abiogênese. Já Pasteur provou que microrganismos não podem surgir espontaneamente. Ao ferver
o meio de cultura em um recipiente com pescoço de cisne, ele esterilizava o meio e o acúmulo de líquido no pescoço do recipiente
impedia que bactérias do ar entrassem no meio. Com isso, o meio de cultura permanecia estéril. Essa condição se invertia quando
o pescoço de cisne era retirado, promovendo a entrada de ar e, consequentemente, o crescimento bacteriano no meio de cultura,
que ficava com cor turva.

Alternativa C

16
Habilidade
Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização tax-
16 onômica dos seres vivos.

Esta questão sobre análise filogenética vai testar se o aluno consegue observar os padrões evolutivos
envolvidos (ancestralidade em comum) e como isso interfere diretamente nas relações taxonômicas
entre as espécies apresentadas, ou seja, quais serão as espécies mas relacionadas entre si.

Modelo 2
(ENEM) O ASSUNTO NA AULA DE BIOLOGIA ERA A EVOLUÇÃO DO HOMEM. FOI APRESENTADA AOS ALUNOS UMA ÁRVORE FILOGENÉTICA, IGUAL À MOSTRADA
NA ILUSTRAÇÃO, QUE RELACIONAVA PRIMATAS ATUAIS E SEUS ANCESTRAIS.

Milhões Hilobatídeos Pongídeos Hominídeos


de anos
atrás
0
Gorila Chimpanzé Homem
Orangotango
Símios do Símios do Gibão
5 novo mundo velho mundo

10
Australopithecus

15
Ramapithecus

25
Dryopithecus

35

50
Mamíferos Insetívoros

APÓS OBSERVAR O MATERIAL FORNECIDO PELO PROFESSOR, OS ALUNOS EMITIRAM VÁRIAS OPINIÕES, A SABER:

I. OS MACACOS ANTROPOIDES (ORANGOTANGO, GORILA E CHIMPANZÉ E GIBÃO) SURGIRAM NA TERRA MAIS OU MENOS CONTEMPORANEAMENTE
AO HOMEM.
II. ALGUNS HOMENS PRIMITIVOS, HOJE EXTINTOS, DESCENDEM DOS MACACOS ANTROPOIDES.
III. NA HISTÓRIA EVOLUTIVA, OS HOMENS E OS MACACOS ANTROPOIDES TIVERAM UM ANCESTRAL COMUM.
IV. NA HISTÓRIA EVOLUTIVA, NÃO EXISTE RELAÇÃO DE PARENTESCO GENÉTICO ENTRE MACACOS ANTROPOIDES E HOMENS. ANALISANDO A ÁRVORE FILO-
GENÉTICA, VOCÊ PODE CONCLUIR QUE:

a) todas as afirmativas estão corretas.


b) apenas as afirmativas I e III estão corretas.
c) apenas as afirmativas II e IV estão corretas.
d) apenas a afirmativa II está correta.
e) apenas a afirmativa IV está correta.

Análise expositiva 2 - Habilidade 16: Na figura, é observada uma filogenia, que é uma representação da his-
B tória evolutiva dos seres vivos que envolve o seu grau de parentesco. Indivíduos com o mesmo ancestral em comum
mais recente apresentam maior grau de parentesco e são considerados mais proximamente relacionados.
De acordo com a filogenia, temos um ancestral em comum a todos os primatas, um ancestral em comum entre os símios do velho
mundo com todo o restante dos primatas, um ancestral em comum entre os símios do velho mundo e todo o resto dos primatas,
um ancestral em comum entre gibão e todo o resto dos primatas e um ancestral em comum entre o gorila e o grupo formado
por chimpanzé e homens. Também é possível observar que homens e chimpanzés compartilham um ancestral em comum mais
recente. Com isso, pode-se concluir que as afirmações:
I. Verdadeira, pois, de acordo com a filogenia, os macacos antropoides e os homens surgiram entre 0 e 2 milhões de anos.
II. Falsa, pois os homens primitivos compartilham um ancestral em comum com os macacos antropoides.
III. Verdadeira, pois, de acordo com a filogenia, os homens e os antropoides (orangotango, gorila e chimpanzé e gibão) pos-
suem um ancestral em comum.
IV. Falso. Compartilham ancestral em comum.

Alternativa B

17
DIAGRAMA DE IDEIAS

ORIGEM DA VIDA

ABIOGÊNESE (IV A.C.) BIOGÊNESE (XVII)

PANSPERMIA
VIDA A PARTIR DA VIDA A PARTIR DE ALGO VIVO
MATÉRIA BRUTA
• ARISTÓTELES SERES VIVOS OU SUBS- F. REDI (1660)
• J.B. VAN HELMONT TÂNCIAS PRECURSORAS, FRASCOS COM CARNE
VINDAS DE OUTROS
LOCAIS DO COSMO L. PASTEUR (1860)
PESCOÇO DE CISNE

TEORIA DA EVOLUÇÃO QUÍMICA (XX)

COMPOSTOS INORGÂNICOS
ORIGINAM MOLÉCULAS ORGÂNICAS

OPARIN E HALDANE MILLER

TEORIA PRÁTICA

ATMOSFERA COM MOLÉCULAS


CH4, NH3, H2, H2O ORGÂNICAS
+
DESCARGA ELÉTRICA COACERVADOS

TEORIA TEORIA
AUTOTRÓFICA HETEROTRÓFICA

PRIMEIRO SER VIVO CAPAZ DE PRIMEIRO SER VIVO NUTRIA-SE


SINTETIZAR SEU PRÓPRIO ALIMENTO DA MATÉRIA ORGÂNICA DO MEIO

HETEROTRÓFICOS AUTOTRÓFICOS FERMENTA-


AERÓBICOS
FERMENTADORES DORES FOTOSSINTETIZANTES

18
AULAS EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS
3E4
COMPETÊNCIA: 4 HABILIDADES: 15 e 16

1. A EVOLUÇÃO 1.3. A grande controvérsia:


A evolução biológica consiste no conjunto de mutações
Igreja e Ciência
sofridas pelas espécies ao longo do tempo. Essas modifi- Durante muito tempo, acreditou-se que os seres vivos que
cações podem permitir à espécie uma melhor adaptação conhecemos hoje, quase 2 milhões de espécies, fossem
ao meio em que vive, ou seja, realizar com mais eficiência exatamente iguais à época de sua criação. Essa teoria, co-
seus comportamentos reprodutivo, alimentar e de explo- nhecida como fixismo, começou a ser questionada com
ração de seu habitat. maior vigor a partir do século XVIII, quando se passou a
acreditar que uma espécie poderia modificar-se com o tem-
Uma espécie evoluída é adaptada ao meio em que vive, não
po, originando uma ou mais espécies diferentes da anterior.
importando o seu grau de complexidade. Por exemplo, um
organismo procarionte, unicelular e heterótrofo, como uma O fixismo, defendido pela Igreja, prega que todas as espé-
bactéria que vive em nossos intestinos, pode ser considerado cies foram criadas ao mesmo tempo por uma divindade, do
tão adaptado ao seu habitat quanto um organismo euca- modo como são hoje, sem a capacidade de se modificar, con-
rionte, pluricelular com tecidos e um autótrofo, como um figurando espécies imutáveis.
abacateiro, que é uma árvore frutífera. O mesmo raciocínio Por outro lado, o transformismo propõe que as espécies
pode ser feito quando a comparação é feita com o homem. são mutáveis, ou seja, modificam-se ao longo do tempo para
Assim, é interessante observar que tanto os organismos melhor se adaptarem ao meio em que vivem.
simples, como as bactérias, quanto os complexos, como os Entre os transformistas está Jean-Baptiste de Lamarck (1744
mamíferos, estão adaptados ao ambiente em que vivem -1829), cuja teoria foi publicada em 1809, que acreditava
simplesmente porque as características que apresentam per- que as espécies não são imutáveis, mas que descendem de
mitem a realização de todas as suas funções vitais básicas, outras, e, por meio de mudanças graduais que se processam
ou seja, seus metabolismos energético, plástico e de controle. através de muitas gerações, apresentam diferenças em rela-
ção aos ancestrais.
1.1. Os primeiros conceitos
O ser humano sempre se interessou pelos seres vivos que 2. EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS
o rodeiam. Os caçadores silvícolas, os filósofos gregos, os
A expressão “evidência evolutiva” sugere a ideia de com-
monges da Idade Média, assim como qualquer outro ser
provação de um fato. Dessa forma, a partir de agora, a evo-
humano de qualquer época.
lução biológica será tratada como um fato, uma vez
Todos possuem o discernimento de que os indivíduos, ani- que apresenta evidências ou provas. É importante perceber
mais ou vegetais, ainda que diferentes uns dos outros em que Lamarck e, mais tarde, Darwin, ambos evolucionistas,
muitos pormenores, tendem a organizar-se em grupos ou procuraram elucidar o fato por meio de hipóteses e teorias.
tipos naturais com características comuns. A seguir, serão apresentadas as evidências evolutivas mais
importantes descritas pela ciência ao longo dos anos.
1.2. As espécies
Esses tipos naturais são denominados espécies, que con- 2.1. Fósseis: evidências notáveis
sistem em um conjunto de indivíduos semelhantes anatô- Os fósseis são a principal e mais notável evidência a fa-
mica, fisiológica e filogeneticamente, capazes de realizar vor do transformismo e, portanto, da teoria evolucionis-
fluxo gênico entre si por mecanismos reprodutivos diver- ta. Por definição, eles são restos ou vestígios de organis-
sos, com produção de descendentes com as mesmas ca- mos de épocas remotas conservados até a atualidade.
racterísticas de transmissão hereditária. Representam uma evidência evolutiva, pois demonstram

19
que os organismos não foram criados simultaneamente,
ou seja, há fósseis de diferentes idades. Os fósseis não
são encontrados juntos nos mesmos estratos geológi-
cos, o que mostra que as espécies não apareceram ao
mesmo tempo e que sofreram modificações, uma vez
que os fósseis não possuem as mesmas características
das espécies atuais.

FÓSSEIS DE TELEÓSTEO (PEIXE ÓSSEO).

2.1.1. Processo de fossilização

PROCESSO DE FOSSILIZAÇÃO.
DESDE A MORTE ATÉ A DESCOBERTA DOS RESTOS FÓSSEIS.

2.1.2. Tipos de fossilização


A ANÁLISE DE FEZES DE ORGANISMOS EXTINTOS PODE LEVAR A Dentre os muitos tipos de fossilização, destacam-se:
DIVERSAS CONCLUSÕES SOBRE OS SEUS HÁBITOS ALIMENTARES.

ƒ Fossilização por âmbar: permite a conservação de


São necessárias condições especiais para que um fóssil se
partes moles de um ser vivo. O âmbar é uma resina
forme. Dado que os cadáveres se decompõem, é preciso
liberada por árvores que é capaz de aprisionar um
que os restos mortais ou os vestígios de um organismo
indivíduo vivo.
morto fiquem a salvo da ação de agentes decompositores
e das intempéries naturais, como o vento, o sol e a chuva. ƒ Fossilização por mumificação e congelamento:
Dessa forma, estão criadas as condições adequadas para a a mumificação ocorre em regiões desérticas e áridas;
formação de fósseis. As condições mais favoráveis à fossil- já o congelamento ocorre em regiões glaciais, como a
ização ocorrem quando o corpo é coberto por sedimentos Sibéria, onde foram encontrados mamutes em perfeito
imediatamente depois da morte. estado de conservação.
Com efeito, a fossilização é um processo raro. Em razão ƒ Fossilização por carbonificação: ocorre mais co-
disso, a paleontologia padece com as “brechas” de fós- mumente com restos vegetais e organismos com partes
seis de todas as formas de vida. A grande maioria dos moles. Os restos mortais são comprimidos pelo peso ou
seres vivos do passado não foi fossilizada. Em consequ- pela compactação das rochas. Durante o processo, em
ência, existe a dificuldade de relacionar diferentes grupos razão do calor e da compressão, são liberados gases
de seres vivos. Faltam elos (registro de organismos) que como hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Ao final, resta
liguem esses grupos. apenas uma película de carbono do organismo.

20
que apresente 1/8 do carbono radioativo estimado para
um organismo vivo indica que a morte deve ter ocorrido há
aproximadamente 22 ou 23 mil anos.

PRESERVAÇÃO POR ÂMBAR, MUITO COMUM NA PRESERVAÇÃO DE INSETOS,


PÓLEN E RÉPTEIS.

2.1.3. Datação radioativa dos fósseis


A idade de um fóssil pode ser estimada pela medição de
elementos radioativos presentes nele ou na rocha em que
FÓSSIL DE MAMUTE
está fossilizado. Teoricamente, quanto mais profundo o ter-
reno, mais antigo é o fóssil.
Caso o fóssil apresente substâncias orgânicas em sua con-
stituição, sua idade pode ser calculada com razoável pre-
cisão pelo método do carbono-14 (14C), um isótopo
radioativo do carbono (12C).
De acordo com uma determinação científica, a meia-vida
do carbono-14 é de 5730 anos. Isso significa que, nesse
período, metade do carbono-14 de uma amostra desinte-
gra-se. Ao morrer, um organismo que se fossiliza contém
determinada quantidade de 14C. Passados 5730 anos, res-
tará no fóssil apenas metade da quantidade de 14C pre-
sente no ser vivo que morreu. Passados mais 5730 anos, a
metade do que restou também será desintegrada, e assim EXEMPLO DE CARBONIFICAÇÃO RECORRENTE EM UMA PLANTA LICÓFITA.
por diante, até o último vestígio de isótopo radioativo na PERCEBA A COR PRETA QUE O VEGETAL ADQUIRIU.
matéria orgânica remanescente.
No entanto, a datação por meio do Carbono-14 serve ape-
Por meio da medição da quantidade residual de carbo- nas para fósseis com menos de 50 mil anos, dado que a
no-14 em um fóssil, é possível calcular quanto tempo se meia-vida desse isótopo é relativamente curta. Para datar
passou desde a morte do ser vivo que o originou. Um fóssil fósseis mais antigos, empregam-se isótopos com meia-
-vida mais longa, como é o caso das rochas fossilíferas.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Um princípio químico, como o tempo de meia-vida do carbono-14, é utilizado para determinar a idade de um fóssil e,
assim, estudar o processo evolutivo e a relação entre os indivíduos. A colisão entre raios cósmicos e o nitrogênio-14,
presente na atmosfera terrestre, forma o carbono-14. Esse isótopo do carbono pode ligar-se com o oxigênio, forman-
do o gás carbônico, que é absorvido pelas plantas. Quando um organismo morre, a quantidade de carbono-14 sofre
uma queda, o que resulta em um decaimento radioativo. O tempo de meia vida do carbono-14 é de 5730 anos. Dessa
forma, um organismo que morreu há 5730 anos apresentará a metade do conteúdo de 14C.

21
VIVENCIANDO

“O carbono-14 é formado a partir da colisão entre raios cósmicos e o nitrogênio-14, encontrados na atmosfera terrestre. Esse
isótopo do carbono liga-se facilmente com o oxigênio, formando o gás carbônico (14CO2), que é absorvido pelas plantas.
Quando um ser vivo morre, a quantidade de carbono-14 diminui, o que implica em um decaimento radioativo.”
(HTTP://MUNDOEDUCACAO.BOL.UOL.COM.BR/FISICA/DATACAO-CARBONO-14.HTM)

Por meio da datação com carbono-14, é possível estimar a idade dos fósseis e, assim, elucidar o processo evolutivo e
seus parentescos.

Rochas formadas há alguns milhões de anos podem ser da-


Rádio
Ulna
tadas por meio do isótopo urânio-235 (235U), cuja meia-vida Úmero
Carpo
Metacarpo
é de 700 milhões de anos. Para rochas mais antigas, com 1

centenas de milhões de anos de idade, usa-se o potássio-40,


cuja meia-vida é de 1,3 bilhão de anos. 4
5 3
2 Golfinho

Úmero Rádio
Ulna Carpo
Metacarpo
1

2
3
5 4

Humano
Úmero
Ulna
Metacarpo
Rádio Carpo

multimídia: vídeo
Cavalo
FONTE: YOUTUBE
Úmero
POA ciência de Jurassic Park | Nerdolo- Ulna Rádio
1
Carpo

gia 57 2 Metacarpo

2.2. Anatomia comparada 5 Morcego


ESTUDO COMPARATIVO ÓSSEO ENTRE MEMBROS ANTERIORES
No estudo dos vertebrados, é evidente a existência um pa- DE GOLFINHO, HUMANO, CAVALO E MORCEGO.

drão esquelético: um crânio ligado a uma coluna vertebral


que apresenta uma cintura escapular, onde se conectam os 2.3. Embriologia comparada
membros anteriores e uma cintura pélvica, na qual estão
conectados os membros posteriores. Assim, é óbvio que O estudo embriológico dos animais demonstra que, quan-
todos os vertebrados, apesar de diferentes, apresentam to mais inicial é a fase de desenvolvimento do embrião,
características em comum, fator que mostra parentesco e maiores são as dificuldades de diferenciação e identifica-
indica um ancestral comum que, por evolução, deu origem ção do grupo estudado. Isso indica que o desenvolvimento
a todos os subgrupos. embriológico dos animais é extremamente semelhante nas

22
suas fases iniciais, e que a diferenciação só ocorre mais tar-
de. Portanto, entre espécies ou grupos evolutivamente pró-
ximos, existe uma semelhança embriológica muito grande
em relação às fases iniciais do desenvolvimento.
BRAÇO HUMANO

2.4. Bioquímica, biologia e


genética molecular
HOMOLOGIA
Estudos nas áreas de bioquímica, biologia e genética mole-
cular têm mostrado que a presença das mesmas proteínas
em organismos de grupos diferentes indica semelhança no
ASA DE AVE
aparato metabólico e hereditário, o que, sem dúvida, evi-
dencia parentesco e, portanto, ancestralidade comum. O
esquema abaixo ilustra os processos básicos e universais
que envolvem o material genético e a sua expressão. ASAS COM SURGIMENTO
MEMBROS DE
INDEPENDENTE
TETRÁPODES

DNA
Replicação ASA DE MORCEGO
informação

Transcrição informação
Transcrição

REPRESENTAÇÃO DE HOMOLOGIA E ANALOGIA.

Como exemplo, é possível citar as asas de insetos, aves e mor-


(Síntese de RNA)
cegos. Esses grupos distintos adotaram, ao longo do tempo, a
RNA
mesma estratégia – asa – para a locomoção no meio aéreo,
porém a origem da estrutura nos grupos é completamente
informação
Tradução
diferente. A presença da característica “asa” permitiu a adap-
Tradução
tação, ou seja, o voo. Nesse caso, percebe-se que o ambiente
(Síntese proteica)
foi o referencial comum entre as espécies distintas, pois, para a
Ribossomo
locomoção no meio aquático, sem dúvida que nadadeiras se-
riam melhores, independentemente de sua origem – caracteri-
proteína
zando analogia. Essa situação é chamada de convergência
MECANISMOS PARA EXPRESSÃO DO MATERIAL GENÉTICO. adaptativa. Observe a ilustração a seguir:

2.5. Homologias e analogias


Estruturas homólogas apresentam a mesma origem em-
briológica, mas podem ter destinos funcionais diferentes.
Nesse sentido, é possível citar os membros anteriores de
vertebrados, que podem diferenciar-se em braços, patas
dianteiras, nadadeiras ou asas. Novamente, identifica-se
parentesco e, portanto, ancestralidade comum.
Estruturas análogas apresentam a mesma função ou pa-
pel biológico, mas têm origens embriológicas distintas. As
estruturas análogas surgem de um processo denominado
evolução convergente. Devido a um contexto ecológico se-
melhante, as estruturas evoluem independentemente em
vários grupos que não possuem ancestral em comum. Ob-
serve a figura a seguir: REPRESENTAÇÃO DE CONVERGÊNCIA EVOLUTIVA.

23
Estruturas homólogas possuem a mesma origem embrioló- Intestino
delgado HOMEM
COELHO
gica. A homologia é evidente no processo de formação das Apêndice
Ceco Intestino
espécies, a partir de um ancestral comum, e caracteriza o que Intestino grosso
chamamos de irradiação adaptativa. Veja um exemplo: delgado
Ceco Intestino
Apêndice delgado
vermiforme
Ceco

EXEMPLOS DE ÓRGÃOS VESTIGIAIS: CECO, APÊNDICE


VERMIFORME E BASE DA ESPINHA DORSAL HUMANA.

REPRESENTAÇÃO DE IRRADIAÇÃO ADAPTATIVA.


multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE

2.6. Estruturas vestigiais Por Dentro do Apêndice - Por Dentro 7


As estruturas vestigiais são características biológicas en-
contradas em alguns grupos de seres vivos, embora te-
nham alterado ou perdido sua funcionalidade. Um exemplo
é a presença na espécie humana de músculos que movem
as orelhas, da membrana nictante nos olhos, do apêndice
intestinal, da musculatura abdominal, dos dentes do siso e
dos pelos cobrindo o corpo. Todas essas características es-
tão pouco desenvolvidas na espécie humana, o que denota
modificação, ou seja, evolução ao longo do tempo.
O ceco, o apêndice vermiforme e a base da espinha dor-
sal da espécie humana, mostrados a seguir, são exem-
plos de órgãos vestigiais. multimídia: sites
FONTE: YOUTUBE
Base da espinha dorsal Humana
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biolo-
gia/analogia-homologia.htm
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Se-
resvivos/Ciencias/bioevolucao2.php
Vértebras

Sacro

Cóccix
(cauda vestigial)

24
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer
15 nível de organização dos sistemas biológicos.

Este exercício testa a capacidade do aluno de interpretar o processo biológico (queda do meteorito e o im-
pacto ambiental causado) e relacioná-lo à extinção dos dinossauros.

Modelo
(ENEM) PALEONTÓLOGOS ESTUDAM FÓSSEIS E ESQUELETOS DE DINOSSAUROS PARA TENTAR EXPLICAR O DESAPARECIMENTO DESSES ANIMAIS. ESSES ESTUDOS
PERMITEM AFIRMAR QUE ESSES ANIMAIS FORAM EXTINTOS HÁ CERCA DE 65 MILHÕES DE ANOS. UMA TEORIA ACEITA ATUALMENTE É A DE QUE UM ASTEROIDE
COLIDIU COM A TERRA, FORMANDO UMA DENSA NUVEM DE POEIRA NA ATMOSFERA.

DE ACORDO COM ESSA TEORIA, A EXTINÇÃO OCORREU EM FUNÇÃO DE MODIFICAÇÕES NO PLANETA QUE
a) Desestabilizaram o relógio biológico dos animais, causando alterações no código genético.
b) Reduziram a penetração da luz solar até a superfície da Terra, interferindo no fluxo energético das teias tróficas.
c) Causaram uma série de intoxicações nos animais, provocando a bioacumulação de partículas de poeira nos organismos.
d) Resultaram na sedimentação das partículas de poeira levantada com o impacto do meteoro, provocando o desapare-
cimento de rios e lagos.
e) Evitaram a precipitação de água até a superfície da Terra, causando uma grande seca que impediu a retroalimentação
do ciclo hidrológico.

Análise expositiva - Habilidade 15: Entender o fenômeno das extinções corretamente é de grande im-
B portância para dominar esse processo biológico. Existe a crença de que o impacto por si só foi a grande
causa das extinções dos dinossauros há 65 milhões de anos. Na verdade, a Terra já vinha passando por alte-
rações climáticas consideráveis que foram potencializadas devido aos efeitos da queda do meteoro. Dentre
esses efeitos, a formação de uma camada de poeira foi determinante, uma vez que reduziu drasticamente a
incidência de luz na superfície terrestre, diminuindo assim a captação de energia dos produtores e compro-
metendo as teias alimentares. Como os dinossauros eram muito numerosos, sofreram drasticamente com
esse processo a ponto de serem extintos.
Alternativa B

25
DIAGRAMA DE IDEIAS

EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS

FATORES QUE COMPROVAM


A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA

FÓSSEIS

BIOQUÍMICA,
OS ANIMAIS DE BIOLOGIA E GENÉ-
ANTIGAMENTE TICA MOLECULAR
ERAM DIFERENTES
EX: ANIMAIS COM AS MESMAS
PROTEÍNAS EVIDENCIAM
UM PARENTESCO
ANATOMIA
COMPARADA

EX: ANIMAIS COM COLUNA


VERTEBRAL / ANIMAIS SEM
COLUNA VERTEBRAL EMBRIOLOGIA
COMPARADA

ORIGEM DISTINTA,
MESMA ORIGEM
MAS MESMA FUNÇÃO

ÓRGÃOS ÓRGÃOS
HOMÓLOGOS ANÁLOGOS

DIVERGÊNCIA CONVERGÊNCIA
ADAPTATIVA ADAPTATIVA

26
AULAS TEORIAS EVOLUTIVAS
5E6
COMPETÊNCIA: 4 HABILIDADES: 15 e 16

1. INTRODUÇÃO os ramos mais altos das árvores, com um resultado do desen-


volvimento de ossos e músculos. As girafas com pescoços
A Evolução é um fato que pode ser comprovado. Agora é pre- desenvolvidos transmitiriam essa característica a seus descen-
ciso entender como ocorrem as alterações nas espécies com dentes. Logo, ao longo das gerações, todas as girafas teriam
o transcorrer do tempo. Outra questão importante é o modo pescoços grandes. Para Lamarck, portanto, o ambiente tem
como essas modificações, se favoráveis, permanecem ao lon- um papel direcionador na modificação das características, ou
go das gerações. Jean-Baptiste de Lamarck (século XVIII) seja, na adaptação dos organismos, uma vez que estes se
e Charles Darwin (século XIX) foram dois cientistas que se modificam para atender às necessidades impostas pelo meio.
destacaram na tentativa de explicar essas e outras questões.

2. AS IDEIAS DE LAMARCK
A teoria de Lamarck foi publicada em 1809. Ele defendia
que as características necessárias à adaptação em um cer-
to ambiente pudessem ser adquiridas, simplesmente, pelo
uso intensivo do órgão ou estrutura envolvida (1), e que
essa “transformação” pudesse ser transmitida aos descen-
dentes, ou seja, hereditariamente (2).
O lamarquismo está baseado em dois pontos:
ƒ 1. Lei do uso e desuso
ƒ 2. Transmissão hereditária de caracteres adquiridos
Exemplo: o comprimento do pescoço das girafas pode ser
entendido, se pensarmos nos esforços diários para alcançar
SEGUNDO LAMARCK, AS GIRAFAS TERIAM, A PRINCÍPIO, PESCOÇOS CURTOS E TERIAM
VIVIDO EM AMBIENTES ONDE A VEGETAÇÃO RASTEIRA ERA RELATIVAMENTE ESCASSA.

VIVENCIANDO

A elucidação dos processos evolutivos possibilitou a compreensão dos parentescos evolutivos e permitiu o desenvol-
vimento de teorias que, acredita-se, estão cada vez mais próximas de desvendar como os seres vivos se modificaram
(ou seja, evoluíram) ao longo do tempo. Pela teoria de Darwin, compreende-se como as bactérias podem ficar resis-
tentes aos antibióticos. O antibiótico, que é uma substância utilizada para combater infecções bacterianas, elimina os
microrganismos menos resistentes, mas não é capaz de eliminar formas mais resistentes, que se reproduzem passando
o gene de resistência para as próximas gerações. Quando um paciente com infecção bacteriana deixa de tomar o
antibiótico, ou o toma de maneira inadequada, pois já se sente melhor clinicamente, pode fazer com que as bactérias
resistentes aumentem sua população, fazendo com que a doença retorne de maneira mais agressiva. Por isso, é im-
portante tomar antibióticos sempre com recomendação médica e sempre nos horários indicados por esse profissional.

27
O lamarckismo é considerado equivocado pela biologia Ele observou que diferentes espécies de tentilhões ficavam
contemporânea: os lamarckistas defendem que os bagres restritas a diferentes ilhas, bem como o formato do bico dos
cegos das grutas de Ipiranga ficaram cegos devido ao de- espécimes desses pássaros adequava-se à necessidade de
suso e à atrofia dos olhos na ausência da luz; no entanto, consumir os alimentos disponíveis em cada uma das ilhas.
foi demonstrado que tais animais simplesmente descendem Darwin notou também as semelhanças entre os espécimes
de formas com visão atrofiada (mutações), que surgiram es- de tentilhões habitantes das ilhas e do continente. Desse
pontaneamente, quer na presença, quer na ausência de luz. fato, ele concluiu que aquelas diferentes espécies partilha-
Outro questionamento dessa teoria foi realizado por Weis- vam um ancestral em comum, que provavelmente deixara
mann, em experiências cortando caudas de camundongos o continente para viver nas ilhas. Assim, por seleção natural,
por sucessivas gerações e mostrando que não havia atrofia foram originados indivíduos adaptados aos diversos modos
desse apêndice. Ele foi autor da teoria da “continuidade do de vida do ambiente. Nesse sentido, é provável que as espé-
plasma germinativo”, segundo a qual o germe é imortal, cies de pássaros de Galápagos tenham se originado de uma
não sendo as alterações provocadas pelo meio ambiente única espécie ancestral oriunda do continente sul-america-
transmissíveis aos descendentes. no. A diversificação da espécie original, que teria originado
as diferentes espécies atuais, ocorreu como resultado das
Apesar de suas interpretações sobre a evolução teremm
diferentes alimentações e habitats existentes em cada ilha.
sido refutadas, Lamarck foi um dos primeiros cientistas a
criticar o fixismo introduzindo o conceito de adaptação do
organismo ao meio, que é fundamental para a compreen-
são do processo evolutivo. Bico grande e forte que Bico grande e afiado que
esmaga sementes grandes agarra e corta insetos
Bico curto e fino que Bico pequeno e forte que
apanha insetos das fendas parte sementes
Bico grande e fino que tira
néctar de flores
e duras no solo

REPRESENTAÇÃO DE ALGUNS TIPOS DE TENTILHÕES E


3. DARWINISMO RELAÇÃO DOS TIPOS DE BICOS COM OS ALIMENTOS.

Na teoria de Charles Darwin, a evolução é defendida como


um processo lento e gradual de pequenas alterações que O naturalista inglês Alfred Russel Wallace (1823-
vão se acumulando até resultarem em uma grande mu- 1913) estudou as faunas da Amazônia e das Índias
dança em relação aos indivíduos ancestrais. orientais. Ele desenvolveu a teoria de que as espécies
Em sua viagem ao redor do mundo, de dezembro de 1831 se modificam por seleção natural. De posse do man-
a outubro de 1836, a bordo do navio inglês H.M.S. Beagle, uscrito que relatava as pesquisas de Wallace, Darwin
Darwin observou e colheu espécimes de animais e plantas resolveu publicar seus estudos. Assim, em 1858, a
pesquisa dos dois foi apresentada para a comunidade
que o levaram a elaborar sua teoria evolucionista.
científica de Londres. Darwin é o nome de destaque da
teoria da evolução, embora as ideias de Wallace ten-
ham sido muito bem elaboradas. A publicação do livro
A origem das espécies, que possui uma ampla gama de
informações sobre a evolução, tornou Darwin mais con-
hecido, uma vez que o trabalho de Wallace não foi tão
amplo. Não obstante, Wallace merece créditos quando
se trata da teoria da evolução por seleção natural.

LOCAIS VISITADOS POR DARWIN A BORDO DO H.M.S. BEAGLE.

Foi com base na observação desses espécimes que surgi-


ram as ideias sobre a possível mutabilidade das espécies.
Darwin realizou muitas pesquisas e amadureceu sua teoria
evolutiva durante 20 anos, culminando na publicação do
livro A origem das espécies por meio da seleção natural.
O naturalista viajou pela América do Sul, passou pelo Bra-
sil, pela Austrália e por diversos arquipélagos, como o de
Galápagos, no oceano Pacífico, a cerca de mil quilômetros da
costa sul-americana, que ofereceu a ele o material indispen-
sável ao desenvolvimento de sua teoria de seleção natural. A
fauna desse arquipélago, principalmente os jabutis-gigantes ALFRED RUSSEL WALLACE
e os pássaros, chamou sua atenção de modo particular.

28
Espécies animais ou vegetais selecionadas naturalmente A teoria da seleção natural é o principal ponto do da-
pressupõem sempre um agente seletor, responsável pela rwinismo. Na época, as ideias de Darwin foram duramente
seleção dos indivíduos mais aptos a determinado habitat. combatidas, principalmente por considerar o homem como
De acordo com a teoria da seleção natural, os indivíduos mais uma espécie animal.
selecionados detinham características mais vantajosas para
O pescoço comprido das girafas é um bom exemplo para
a sobrevivência, conseguiam resistir e se reproduzir, trans-
explicar a teoria darwinista. Como ocorre atualmente, nasce-
mitindo essas características aos descendentes. No caso dos
riam indivíduos com diferentes tamanhos de pescoço, uma
tentilhões, o agente seletor foi o alimento, uma vez que as
das variações que ocorrem quanto a inúmeras características
condições climáticas gerais das ilhas são parecidas.
entre os filhos de um mesmo casal (1). As girafas com pes-
No caso de animais que viviam em regiões muito frias, a coço maior teriam maior disponibilidade de alimento do que
temperatura teria atuado como agente seletor. Consegui- as outras, principalmente em épocas de escassez, quando
riam sobreviver nesse ambiente apenas os indivíduos com as poucas folhas estão localizadas mais ao alto. Melhor ali-
características corpóreas vantajosas, como uma espessa mentadas, teriam maiores possibilidades de se reproduzirem.
camada de gordura que atuasse como isolante térmico. Com um pescoço um pouco mais longo que o de seus pais,
elas poderiam deixar descendentes com as mesmas caracte-
Na segunda metade do século XIX, Charles Darwin apresen-
rísticas. Assim, teriam maior possibilidades de sobrevivência
tou, com bases sólidas, evidências das modificações sofridas
os indivíduos com pescoço mais longo (2). Depois de muitas
pelas espécies, formulando uma explicação sobre os possíveis
gerações, o comprimento do pescoço desses animais teria
mecanismos que atuariam no processo de evolução biológica.
aumentado, modificando uma característica da espécie.
Em seu livro A origem das espécies, Darwin expôs a sua teoria
Os indivíduos que nascem não são idênticos e, como nem
da evolução por seleção natural, partindo de duas observações:
todos sobrevivem, permanecerão aqueles mais adaptados.
ƒ Os organismos vivos produzem um grande número de No caso das girafas, sobreviveram aquelas com o pescoço
sementes ou ovos, mas o número de indivíduos nas po- mais longo (3).
pulações normais é mais ou menos constante, o que
Portanto, o Darwinismo pode ser entendido a partir de três
só pode ser explicado pela grande mortalidade natural.
pontos fundamentais:
ƒ Organismos de mesma espécie, ou então de uma popula-
ção natural, são muito variáveis em forma e comportamen- ƒ 1. variabilidade intraespecífica
to, sendo a variabilidade influenciada pela hereditariedade. ƒ 2. seleção natural
ƒ 3. adaptação

Observações
Em todas as espécies e populações existe a variação,
sob forma de diferenças individuais.
A maioria dos organismos produz descendentes em
número muito maior do que o número dos que conse-
guem sobreviver até a idade reprodutiva.
Conclusões

VARIABILIDADE É UM FATO NATURAL NAS ESPÉCIES Darwin concluiu que existe uma competição ou “luta” pela
SILVESTRES, COMO OBSERVADO NA FIGURA. sobrevivência, na qual muitos indivíduos são eliminados.
Desse modo, havendo variabilidade e grande mortalida- As características que favorecem os indivíduos nesse proces-
de, alguns organismos tem maior probabilidade de deixar so de eliminação são transmitidas às gerações posteriores.
descendentes do que outros. Darwin denominou seleção
natural esse tipo de reprodução seletiva. A seleção natural
ou a “luta pela vida com a sobrevivência do mais apto” é As reflexões do economista Thomas Malthus a respeito do
o fator orientador da evolução, mas não a causa das va- aumento da população humana contribuíram para algumas
riações, que ele foi incapaz de desvendar. A dificuldade de conclusões de Darwin. De acordo com Malthus, grande parte
Darwin só foi resolvida com a descoberta das mutações do sofrimento humano, provocado por guerras, fome, doen-
responsáveis pelas variações, teoria exposta no século XX ças etc., deve-se ao aumento da população humana ultra-
por Hugo de Vries e denominada Mutacionismo. passar a velocidade de disponibilidade dos recursos do meio.

29
“[...] população humana tende a crescer para além das pos-
GERAÇÃO 1
sibilidades do meio, cresce exponencialmente, enquanto que
os recursos alimentares crescem em progressão aritmética.” POPULAÇÃO DE
INDIVIDUOS
THOMAS MALTHUS (1766-1834), COLABORADOR DE DARWIN.
Caráter Caráter Caráter

POPULAÇÃO NA GERAÇÃO 1 GERAÇÃO 2 POPULAÇÃO NA GERAÇÃO 2

POPULAÇÃO DE
INDIVIDUOS

Caráter Caráter Caráter

SELEÇÃO DIRECIONAL SELEÇÃO ESTABILIZADORA SELEÇÃO DISRUPTIVA

3.2. Vantagens adaptativas


A seguir, serão destacados casos de adaptações que confe-
riram vantagens aos seus portadores, que, por isso, foram
beneficiados pela seleção natural.
multimídia: sites
FONTE: YOUTUBE 3.2.1. Coloração de advertência
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Se- Há animais que produzem e armazenam substâncias quí-
resvivos/Ciencias/bioselecaonatural.php micas nocivas, além de possuírem uma coloração bastante
vistosa. Trata-se da chamada coloração de advertência, que
sinaliza aos possíveis predadores que eles não devem ser
3.1. O meio ambiente e a adaptação ingeridos, pois são perigosos.
De acordo com Lamarck, o ambiente tem um papel
ativo, pois atua como um fator de modificação das espécies.
Não há evidências conclusivas de que o ambiente é agente
de modificações hereditárias, exceto naqueles em que há
condições particulares, como ambientes onde há substân-
cias que induzem mudanças nas células reprodutivas. Para
Darwin, o ambiente tem um papel passivo, pois atua
apenas selecionando as variações mais aptas preexistentes.
Ele não conhecia os mecanismos de transmissão hereditária,
que só foi elucidado com o advento da genética.
A RÃ DE COR VERMELHA VIBRANTE POSSUI UM VENENO MUITO PERIGOSO.
De qualquer modo, o darwinismo tem uma importância fun-
damental para a ciência moderna. O papel de “selecionador” A borboleta-monarca, de coloração laranja e preta, é um
atribuído ao ambiente, no sentido de favorecer os indivíduos animal facilmente visível no ambiente. Essa espécie, no en-
portadores de características mais aptas, que seriam transmiti- tanto, produz substâncias que a torna não palatável aos
das aos descendentes através da reprodução, é o grande ponto seus predadores, os quais aprendem a associar o padrão
básico que constitui a teoria da teoria da seleção natural. de coloração ao sabor desagradável e evitam capturá-la.

3.1.1. Tipos de seleção natural


ƒ Seleção direcional: ocorre quando as condições am-
bientais favorecem um único fenótipo.
ƒ Seleção estabilizadora: favorece indivíduos de fe-
nótipos intermediários, eliminando aqueles de fenóti-
pos extremos.
ƒ Seleção disruptiva: ocorre quando uma população é
submetida a diferentes pressões do ambiente, favorecen-
do indivíduos com fenótipos extremos. DANAUS PLEXIPPUS (BORBOLETA-MONARCA)

30
3.2.2. Mimetismo
A ação da seleção natural também traz vantagens aos or-
ganismos semelhantes a outros pelas características que
apresentam. O mimetismo é uma delas. Determinados or-
ganismos, denominados mímicos, apresentam característi-
cas que os confundem com outro grupo de organismos, OPHRYS APIFERA
os modelos. Em geral, essa semelhança ocorre por padrão
de coloração, textura, formato corporal, comportamento, ƒ O mimetismo mülleriano ocorre quando duas ou mais
constituição química etc. Ela confere ao mímico uma van- espécies assumem características uma da outra, como
tagem adaptativa. Existem três tipos de mimetismo: bate- veneno ou sabor desagradável. Devido à coloração de
siano, mülleriano e reprodutivo. advertência semelhante, ambas ampliam o número de
predadores que passam a evitá-las. É caso das corais-ver-
ƒ O mimetismo batesiano (de defesa) consiste na imita-
dadeiras-peçonhentas. Dentre as várias espécies delas se-
ção de um modelo tóxico ou perigoso por espécies “sa-
rem bastante parecidas, os predadores evitam todas elas.
borosas” ou inofensivas, que escapam de ser predadas.
É o caso da borboleta-vice-rei (Limenitis archippus), ƒ O mimetismo reprodutivo é bastante comum entre
cujo sabor é agradável aos pássaros, mas que apresenta plantas que mimetizam a fêmea de insetos e aprovei-
grande semelhança com a borboleta-monarca (Danaus tam a tentativa de acasalamento para sua polinização.
plexippus), de sabor desagradável e extremamente tóxi- É o caso da Ophrys apifera, orquídea bastante comum
ca. Ambas são evitadas por pássaros predadores, o que no Mediterrâneo e vulgarmente chamada erva-abelha.
garante evidente benefício para a “imitadora” (borbole- Suas flores lembram as fêmeas de uma espécie de
ta-vice-rei), que mimetiza a monarca. abelha (Eucera nigrilabris). Essas semelhanças atraem
os machos, que acabam polinizando as flores e contri-
buindo para a reprodução da orquídea.

3.2.3. Camuflagem
Trata-se de um conjunto de técnicas e métodos que permite a
um organismo permanecer indistinto do ambiente que o ro-
deia. A camuflagem pode ser vantajosa para o predador, que
cerca a presa sem ser percebido, e para a presa, que se con-
LIMENITIS ARCHIPPUS (BORBOLETA-VICE-REI) funde com o meio, passando desapercebida pelo predador.
O mesmo ocorre no caso das cobras-corais verdadeiras ƒ Homocromia: consiste na coloração semelhante do
(Micrurus sp., modelo) e das falsas corais (Erithrolampus organismo com a do meio onde vive: cascas, galhos e
aesculapi, imitadoras). As verdadeiras são bastante temi- folhas de árvores, cor da areia etc.
das em razão da alta potência do seu veneno neurotóxico. ƒ Homotipia: consiste na semelhança do indivíduo com
Ambas, no entanto, são dotadas de coloração de advertên- a forma de estruturas presentes no meio onde vive. É o
cia. Mas as falsas não têm dentes inoculadores de peçonha caso dos insetos bicho-folha e bicho-pau, que se asse-
e não oferecem perigo a eventuais predadores. melham a folhas e gravetos, respectivamente.

FALSA-CORAL Camaleão

CORAL-VERDADEIRA BICHO-PAU

31
morte desses indivíduos, a mutação desaparecerá da po-
pulação. Ela poderá aparecer novamente caso ocorra uma
nova mutação. É a oscilação genética que depende do fato
de o gene ser favorável ou não; ela também explica como
os genes detrimentais podem aumentar de frequência e
como, em índios, há frequências altas de tipos sanguíneos
Bicho-folha diferentes, de acordo com a tribo.
As diferenças existentes entre os indivíduos de uma mesma
espécie se enquadram sob a designação de variabilidade.
As fontes de variabilidade são as mutações e a recombina-
ção genética. É importante salientar que a mutação consti-
tui a matéria-prima da evolução e ocorre espontaneamen-
te, ou seja, nunca aparece como resposta do organismo a
uma situação ambiental, na tentativa de adequar-se a uma
exigência do meio.
As variações são submetidas ao meio ambiente, que, pela
seleção natural, conserva as favoráveis e elimina as desfa-
multimídia: vídeo voráveis. Assim, quando as condições ambientais se modi-
FONTE: YOUTUBE ficam, algumas variações se tornam vantajosas e permitem
aos indivíduos que as possuem sobreviver e produzir mais
Evolução da Forma - Documentário (2008) descendentes do que aqueles que não as têm. Em resumo,
apresenta-se o seguinte:

4. NEODARWINISMO ƒ 1. Variabilidade intraespecífica


ƒ mutação
TEORIA SINTÉTICA DA EVOLUÇÃO ƒ recombinação genética: crossing-over

Quando Darwin propôs a sua teoria, os processos da heran- ƒ 2. Seleção natural


ça biológica ainda eram desconhecidos. Apesar de Darwin ƒ 3. Adaptação
ter sido contemporâneo de Gregor Mendel (1822-1884) A recombinação genética (crossing-over) promove o
– pai da genética –, eles não se conheceram. Descobertas embaralhamento das alterações. Dessa forma, trata-se de
recentes do século XX nos campos da genética, da biologia um fator que amplia a variabilidade.
molecular e da paleontologia deram origem a uma teoria
moderna de evolução, conhecida como neodarwinismo Enquanto as mutações podem ocorrem em todo e qual-
ou teoria sintética da evolução, que integra esses no- quer organismo, a recombinação genética só ocorre naque-
vos conhecimentos às ideias de Darwin, esclarecendo prin- les que sofrem meiose para produzir gametas, nos animais,
cipalmente as causas da variabilidade. e esporos, nos vegetais. Assim, os organismos que se repro-
duzem sexuadamente apresentam uma variabilidade muito
Quatro fatores básicos constituem a moderna teoria sinté- maior em suas populações, uma vez que sofrem meiose, do
tica da evolução: mutação, recombinação genética, que os organismos que se reproduzem assexuadamente.
seleção natural e isolamento reprodutivo. Os dois pri-
meiros determinam a variabilidade genética, que é orientada
pelos dois últimos. Três fatores acessórios também atuam no
processo: migração, hibridação e oscilação genética.
A migração é responsável pelo fluxo gênico, que traz novos
genes à população e contribui para o aumento da varia-
bilidade genética. A hibridação consiste no cruzamento
entre popuIações com patrimônios genéticos diferentes,
produzindo indivíduos com alta variabilidade genética. A
oscilação genética ocorre quando, em populações finitas
e pequenas, o equilíbrio de Hardy-Weinberg é alterado
pelo tamanho da população. Se ocorrer mutação rara, o A CAUSA DAS VARIABILIDADES É A MUTAÇÃO – QUALQUER ALTERAÇÃO
número de portadores da mutação será baixo e, devido à SOFRIDA PELO MATERIAL GENÉTICO.

32
e, como eram mais vigorosas, foram aumentando em frequ-
CÓPIA
CORRETA
ência e substituindo as mariposas claras, que passaram a ser
eliminadas pelos predadores, pois haviam se tornado mais
visíveis. Os predadores da mariposa, que atuam, portanto,
como agentes seletivos, são os pássaros.
CÓPIA
MUTANTE

DEMONSTRAÇÃO DE UMA MUTAÇÃO: TROCA DE NUCLEOTÍDEO


DURANTE A REPLICAÇÃO DO DNA.

As mutações ocorrem ao acaso, aleatoriamente, sem que


haja relação com sua utilidade. Em razão disso, alterações
no DNA não são uma estratégia do organismo para se
adaptar a alguma situação. Por exemplo, no caso de um
organismo que vive num deserto de seca extrema, não é MARIPOSA BISTON BETULARIA E O MELANISMO INDUSTRIAL.
o ambiente que vai favorecer o aparecimento de mutações ƒ Resistência de bactérias a antibióticos: pode-se
que ajudem esse organismo a sobreviver. No entanto, caso dizer que não é a presença de um certo antibiótico que
ocorra uma mutação favorável, ela será selecionada po- provoca o aparecimento das mutações; na realidade,
sitivamente; assim, a população desses indivíduos porta- elas surgem espontaneamente, e, quando conferem re-
dores dessa mutação tenderá a aumentar. Observe-se que sistência ao antibiótico, são úteis à bactéria na presen-
mutações não são necessariamente benéficas e podem ser ça do medicamento. Por isso, com o crescente uso de
neutras ou prejudiciais para o organismo. antibióticos, foram surgindo bactérias super-resistentes,
Considerando que o núcleo de todas as células (quando que têm se tornado um problema no tratamento de
eucarióticas) de um organismo é depositário do DNA, as determinadas doenças bacterianas.
mutações podem acontecer em vários segmentos dele. Con- ƒ Resistência de moscas ao DDT: quase todas as mos-
tudo, mutações não são necessariamente sinônimo cas foram mortas durante o primeiro ano em que o DDT
de evolução. Elas contribuem para a evolução biológica foi usado numa determinada localidade; algumas, porém,
quando são herdáveis, como quando estão presentes, por por causa da variação herdada, não foram afetadas. Pude-
exemplo, em gametas (como óvulos e espermatozoides). ram sobreviver e se reproduzir. Assim, logo ultrapassaram
A maioria das mutações relevantes para a evolu- em número os tipos de moscas menos resistentes naquela
ção ocorrem naturalmente. Ao se dividir, a célula faz área. O inseticida foi se tornando menos ativo. O DDT cau-
uma cópia do seu DNA, cópia essa nem sempre exata- sou uma mudança no ambiente, e só as moscas que eram
mente perfeita. Essa “imperfeição” da sequência de DNA resistentes consguiram sobreviver e foram sendo selecio-
original, por mais insignificante que seja, é uma mutação. nadas. É o mesmo mecanismo obervado em bactérias com
relação aos antibióticos, conforme já mencionado.
Há casos, também, em que mutações podem ser causadas,
com consequente quebra do DNA, por exposição a produ- VARIABILIDADE: corresponde à existência
de sensíveis e resistentes
tos químicos específicos ou à radiação. Pode acontecer de (gerados por mutação)

a célula reparar o DNA, reparação essa que pode ou não INSETICIDA

resultar em um bom trabalho. Quando a célula consegue


reparar o defeito, nenhuma alteração, nesse aspecto, é no-
tada no organismo.
SELEÇÃO representada pelo
INSETICIDA inseticida, que elimina
NATURAL:
A seguir, alguns outros exemplos de seleção natural: os sensíveis e permite
a sobrevivência dos
resistentes.
Melanismo industrial: antes da Revolução Industrial na
Inglaterra no século XVIII, predominavam as mariposas cla-
INSETICIDA
ras; às vezes, apareciam mutantes escuras que, apesar de
serem mais robustas, eram eliminadas pelos predadores por
ADAPTAÇÃO: é o predomínio dos
serem mais visíveis. Depois da industrialização, no século XIX, insetos resistentes ao
inseticida quando o

as mutantes escuras passaram a ser camufladas pela fuligem produto está presente
no meio.

33
Muita atenção ao fato de que mutações são even-
tos raros, uma vez que nosso organismo detém me-
canismos próprios para evitar erros na produção de
moléculas de DNA.

Não se deve afirmar simplesmente que uma certa mutação


é favorável ou desfavorável; essa afirmação só tem sentido
se for relacionada ao ambiente, pois a mesma mutação LEÕES-MARINHOS
pode ser interessante ou não à adaptação ao ambiente.
4.2. Seleção artificial
4.1. Seleção sexual
Darwin também estudou espécies cultivadas pelo homem,
O indivíduo mais apto não é necessariamente o mais rápi- o que o muniu de argumentos a favor da seleção dos mais
do, maior ou mais forte. Aptidão pressupõe habilidade de aptos. Alguns animais domésticos e vegetais cultivados
sobreviver, encontrar um parceiro, produzir descendência e, pertenciam a espécies com representantes ainda em esta-
finalmente, deixar seus genes na próxima geração. do selvagem. Contudo, as características dos animais do-
Produzir filhotes, cuidar de sua prole – da qual alguns não mesticados diferiam das dos selvagens, e, em alguns casos,
sobreviverão – e exibir-se para atrair fêmeas são estratégias esses animais poderiam ser classificados como pertencen-
que aperfeiçoam a aptidão de deixar mais descendentes. tes a espécies diferentes.
Seleção sexual, portanto, é a seleção natural voltada para A seleção artificial conduzida pelo homem consiste na adap-
o encontro de parceiros e o comportamento reprodutivo. tação e/ou seleção de seres vivos – animais e plantas – com
Segundo Darwin, seleção sexual é a “luta entre indivíduos de o objetivo de realçar determinadas características desses orga-
um sexo, geralmente os machos, pela posse do outro sexo”. nismos para a produção de carne, leite, lã e frutas, por exemplo.
Os leões-marinhos machos, por exemplo, brigam entre si Darwin chegou à conclusão de que a seleção artificial pode ser
para demarcar um território e, normalmente, o maior e mais comparada à exercida pela natureza sobre as espécies selva-
forte conquista mais fêmeas e deixa mais descendentes. gens. A luta pela vida foi substituída pela escolha humana dos
indivíduos que melhor atendem aos seus objetivos.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Para compreender o conceito de neodarwinismo, é necessário o conhecimento básico sobre genética e bioquímica. Por
meio de mutações no DNA, que são erros ao acaso ou nas bases nitrogenadas ou em cromossomos, o indivíduo pode
desenvolver características benéficas. Assim, esse organismo torna-se mais apto ao meio em que vive, tendo mais chanc-
es de sobreviver e de passar seus genes aos descendentes. Dessa forma, duas áreas da biologia, como a bioquímica dos
ácidos nucleicos e as teorias evolutivas, interagem e se completam.

34
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível
15 de organização dos sistemas biológicos.

Por meio do modelo de mapa-múndi apresentado na questão, e munido do conhecimento prévio de que esses continen-
tes eram unidos há milhões de anos (Pangeia), o aluno deverá relacionar essa situação com o fenômeno biológico da
migração e, posteriormente, como a separação dos continentes foi capaz de criar a diversidade observada.

Modelo
(ENEM) NO MAPA, É APRESENTADA A DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE AVES DE GRANDE PORTE E QUE NÃO VOAM.

Avestruz

Ema
Emu

HÁ EVIDÊNCIAS MOSTRANDO QUE ESSAS AVES, QUE PODEM SER ORIGINÁRIAS DE UM MESMO ANCESTRAL, SEJAM, PORTANTO, PARENTES. CONSIDERANDO QUE,
DE FATO, TAL PARENTESCO OCORRA, UMA EXPLICAÇÃO POSSÍVEL PARA A SEPARAÇÃO GEOGRÁFICA DESSAS AVES, COMO MOSTRADA NO MAPA, PODERIA SER:

a) a grande atividade vulcânica, ocorrida há milhões de anos, eliminou essas aves do Hemisfério Norte.
b) na origem da vida, essas aves eram capazes de voar, o que permitiu que atravessassem as águas oceânicas, ocupando
vários continentes.
c) o ser humano, em seus deslocamentos, transportou essas aves, assim que elas surgiram na Terra, distribuindo-as pelos
diferentes continentes.
d) o afastamento das massas continentais, formadas pela ruptura de um continente único, dispersou essas aves que
habitavam ambientes adjacentes.
e) a existência de períodos glaciais muito rigorosos, no Hemisférico Norte, provocou um gradativo deslocamento dessas
aves para o Sul, mais quente.

Análise expositiva - Habilidade 15: A princípio, o ancestral dessas aves vivia em uma mesma área, uma vez
D que os continentes eram unidos. A migração fez com que diferentes populações se separassem e, posteriormente,
com o afastamento das massas continentais, essas populações ficassem isoladas geograficamente. Isso favoreceu
o surgimento dessas aves a partir do mesmo ancestral.
Alternativa D

35
DIAGRAMA DE IDEIAS

TEORIAS EVOLUTIVAS

LAMARCK DARWIN
NEODARWINISMO
TEORIA SINTÉTICA
DA EVOLUÇÃO

RECOMBINAÇÃO
MUTAÇÃO
GENÉTICA

VARIABILIDADE
SELEÇÃO NATURAL
ADAPTAÇÃO
LEI DO USO E DESUSO
DIRECIONAL

HERANÇA DOS CARAC-


TERES ADQUIRIDOS ESTABILIZADORA

DISRUPTIVA

ORGANISMO SE O AMBIENTE
ADAPTA AO SELECIONA OS MAIS
AMBIENTE ADAPTADOS

36
AULAS ESPECIAÇÃO
7E8
COMPETÊNCIA: 4 HABILIDADES: 15 e 16

Especiação é o processo evolutivo pelo qual as novas espé-


POPULAÇÃO
cies se formam. Mas o que é, de fato, uma espécie? INICIAL A

ISOLAMENTO GEOGRÁFICO
DIFERENCIAÇÃO
DE LONGA DURAÇÃO
Melhor do que uma única definição para espécie, que fa- PROGRESSIVA

cilmente a associaria a um termo ou conceito, é preferível B


PRESSÕES SELETIVAS
considerar diferentes definições. DO MEIO, DISTINTAS

ƒ Definição biológica de espécie: são grupos de popula-


Origem das espécies = especiação. Hipóteses
ções naturais potencialmente capazes de gerar descen- A x B = sem descendentes férteis > isolamento reprodutivo > são diferentes
A x B = com descendentes férteis > há fluxo gênico > subespécies / variedades / raças
dentes férteis e que, em condições naturais, estão repro-
dutivamente isoladas de outros grupos semelhantes.
Uma determinada população pode ser submetida a uma
ƒ Unidade ecológica: apresenta características pró- divisão em subgrupos a partir de um isolamento geográ-
prias e mantém relações bem definidas com o am- fico. Esse isolamento pode ser causado por uma cordilheira,
biente e com outras espécies. um rio, um lago, uma cachoeira, um deserto etc., e permitirá
ƒ Unidade gênica: dotada de um patrimônio gênico a formação de duas subpopulações: A e B. Essas subpopu-
característico, que não se mistura com o de outras lações, ainda pertencentes à mesma espécie, estarão sub-
espécies e evolui de forma independente. Uma espécie, metidas à seleção natural de seus meios, que são diferentes.
portanto, é o maior acervo de genes possível em con- Logo, as adaptações surgidas em uma subpopulação podem
dições naturais. ser diferentes das surgidas na outra e vice-versa. Com isso,
ocorre uma progressiva diferenciação ao longo do tempo,
Especiação é o evento que separa a linhagem e dá origem até que, com o fim do isolamento, os indivíduos de novas ge-
a duas ou mais espécies distintas, resultando de uma trans- rações das duas subpopulações podem se encontrar e tentar
formação gradual de uma espécie em outra (anagênese) se reproduzir. Contudo, pode ser que eles não consigam mais
ou da divisão de uma população em duas (cladogênese). se reproduzir, o que indicará que estão isolados reprodutiva-
mente, ou seja, agora pertencem a espécies diferentes. Por
outro lado, mesmo diferenciados, os indivíduos das duas
subpopulações podem conseguir se reproduzir entre si, sig-
nificando que não estão isolados reprodutivamente. Desse
modo, consituirão raças geográficas.

ISOLAMENTO
GEOGRÁFICO

DIFERENCIAÇÃO
PROGRESSIVA
1. A ORIGEM DAS ESPÉCIES
A especiação ou o processo de formação das es-
pécies é um acontecimento lento e gradual que requer
certas condições especiais mínimas e obrigatórias. Observe ISOLAMENTO
o esquema e a explicação a seguir: REPRODUTIVO

37
Entre organismos da mesma espécie há fluxo gênico, depende do quanto as espécies incipientes podem se
que é consequente de semelhança e identidade genética, separar geograficamente. Observe na tabela a seguir a
além de mesmo número e tipos de cromossomos. Logo, a comparação entre alguns dos modos de especiação que,
engenharia genética, por manipulação cromossômica e mesmo diferentes, podem contribuir para a redução de
gênica, pode abreviar esse processo, permitindo o apareci- fluxo gênico.
mento de novas espécies ou de pelo menos espécies trans-
Modos de
gênicas. Devemos lembrar, no entanto, que a fertilidade Características Representação
especiação
é condição obrigatória entre os descendentes de toda e
qualquer espécie natural, pois, apesar dos indivíduos trans-
gênicos serem considerados fenotipicamente “superiores”,
Alopátrica As populações
muitas vezes são estéreis.
(alo = outros; são geografica-
mente isoladas.
1.1. Redução de fluxo gênico pátrica = lugar)

Uma pequena
população fica
Peripátrica
isolada na borda
(peri = perto)
de uma popu-
lação maior.

A especiação também pode ocorrer em populações sem


barreiras extrínsecas para o fluxo gênico. Por exemplo,
em uma população distribuída em uma ampla faixa ge- A população é
Parapátrica
ográfica, em que o acasalamento não é aleatório, os continuamente
(para = ao lado)
indivíduos num determinado ponto cardeal não têm distribuída.
chance alguma de se acasalarem com indivíduos de
outro ponto. Esse fluxo gênico reduzido não implica
isolamento total dessa população, mas pode ou não
ser suficiente para caracterizar uma especiação. Prova-
velmente, a especiação necessite da ocorrência de di- População inseri-
ferentes pressões seletivas nos extremos opostos. Isso Simpátrica
da na população
alteraria a frequência gênica nesses indivíduos a ponto (sim = igual)
ancestral.
de eles não serem mais capazes de se acasalarem caso
estivessem reunidos.

2. TIPOS DE ESPECIAÇÃO 2.1. Especiação alopátrica


Considerando que uma população se separe e forme dois Ocorre por isolamento geográfico: longa distância ou barrei-
grupos – por barreira geográfica ou por diminuição no ra física, como uma montanha ou um rio. Um fator externo
fluxo gênico –, para confirmar que houve especiação, as impede dois ou mais grupos de se acasalarem regularmente
duas espécies “iniciantes” devem apresentar diferenças entre si ou com outros, causando eventualmente especiação
genéticas que expressem interferência na ocorrência do nessa linhagem. O que caracteriza de fato uma especiação
acasalamento entre elas. Não há necessidade, no entan- alopátrica é a redução significativa, não necessariamente a
to, de que sejam diferenças genéticas significativas. Se- extinção, do fluxo gênico entre as futuras novas espécies.
riam suficientes mudanças na data, no local ou nos rituais
de acasalamento. Mas elas são necessárias e podem evo- 2.2. Especiação periprática
luir por seleção natural ou por deriva genética.
É um tipo de especiação com isolamento geográfico, na
Na especiação, papel crítico mesmo é o da redução do qual a maior população é separada da menor. Está relacio-
fluxo gênico. A classificação dos modos de especiação nada com o chamado "Efeito fundador".

38
com as moscas de espinheiros, e as da maçã, com as da
2.3. Especiação parapátrica maçã. Assim, o fluxo gênico entre essas populações ficou
O isolamento geográfico não está presente nesse tipo de reduzido. A mudança de espinheiro para maçã pode ser o
especiação. Por exemplo, em uma população espalhada começo da especiação simpátrica.
por uma grande área, com diversificados ambientes, a
adaptação a essas diferentes regiões fará com que conjun-
tos de indivíduos, gradualmente, tornem-se espécies distin-
2.5. Isolamento reprodutivo
tas. Não é necessário um obstáculo geográfico específica O isolamento reprodutivo é um subproduto da especiação,
que os separe. A especiação pode se caracterizar apenas em outras palavras, é o seu ponto de chegada. É a condi-
pela distância entre os grupos. ção a partir da qual pode-se afirmar definitivamente que
houve especiação a partir de um grupo ancestral. O isola-
mento reprodutivo indica a incapacidade total ou parcial
2.4. Especiação simpátrica de os indivíduos de duas subpopulações se reproduzirem
entre si. Quando essas subpopulações entram em contato,
Nicho é um termo usado para designar a função ou o o isolamento reprodutivo impede a mistura de genes.
papel desempenhado pelos organismos de deter-
minada espécie em seu ambiente de vida. Isso inclui 2.5.1. Mecanismos de isolamento reprodutivo
suas necessidades alimentares, a temperatura ideal de so-
Esses mecanismos podem ser classificados em pré-zigóti-
brevivência, os locais de refúgio, as interações com os “ini-
cos e pós-zigóticos. Os mecanismos pré-zigóticos impe-
migos” e com os “amigos”, os locais de reprodução etc.
dem a fecundação e a formação do zigoto.
ƒ Isolamento estacional ou sazonal – decorre de di-
Diferentes dos tipos anteriores, a especiação simpátrica não ferenças nas épocas de reprodução. Por exemplo: gru-
necessita de distância geográfica em larga escala para a pos de rãs que vivem em uma mesma lagoa, mas não
diminuição do fluxo gênico entre os indivíduos de uma po- se reproduzem na mesma época, ou espécies de orquí-
pulação. A simples exploração de um novo nicho por uma deas que, embora habitem a mesma região, florescem
subpopulação pode contribuir para a redução do fluxo gênico em dias diferentes, o que lhes impede o cruzamento.
entre indivíduos. Ocasionalmente, pode acontecer entre inse-
tos herbívoros que optem por uma nova planta hospedeira. ƒ Isolamento ecológico – resulta da ocupação por
populações de diferentes “microambientes”. Mesmo
vivendo na mesma região geográfica, habitam micro-
ambientes distintos. Leões e tigres podem se cruzar em
cativeiro e produzir descendentes férteis. Entretanto,
em ambiente natural eles não se cruzam, uma vez que
vivem em microambientes distintos.
ƒ Isolamento etológico ou comportamental – de-
corre de diferentes padrões de comportamento de corte.
Antes do acasalamento, representam um fator de funda-
mental importância para a reprodução de diferentes es-
pécies. O canto das aves, por exemplo, por ser específico,
multimídia: sites atrai apenas um parceiro(a) da mesma espécie.

FONTE: YOUTUBE ƒ Isolamento mecânico ou incompatibilidade ana-


tômica – resulta da incompatibilidade estrutural dos
brasilescola.uol.com.br/biologia/especiacao.htm
órgãos reprodutores de diferentes espécies animais ou
vegetais. Nos animais, a diferença de tamanho ou forma
Há cerca de 200 anos, os ancestrais da mosca-da-maçã dos órgãos genitais impede a cópula. Nas plantas, as es-
depositavam seus ovos exclusivamente em frutos de es- truturas responsáveis pelo encontro dos gametas podem
pinheiros, seu habitat original. Algumas populações pas- não se encaixar perfeitamente em diferentes espécies.
saram a utilizar maçãs domésticas (espécie exótica) como
depósito, o que caracteriza isolamento de habitat. As fême- Zigoto é a primeira célula de um novo indivíduo, for-
as preferem os mesmos tipos de frutos onde cresceram; os mada quando o gameta feminino é fecundado pelo
machos tendem a procurá-las também nos tipos de frutos gameta masculino.
onde cresceram. Resultado: moscas de espinheiros cruzam

39
gônadas anormais ou da incompatibilidade dos cro-
Híbrido é o nome dado a um indivíduo formado pela mossomos herdados de pais de diferentes espécies.
união de indivíduos de espécies diferentes. É o resulta- Exemplo clássico desse caso é o burro ou a mula. Trata-
do da mistura genética entre espécies distintas. -se de um híbrido estéril, resultado do cruzamento en-
tre o jumento (Equus asinus) e a égua (Equus cabalus).
O burro e a mula são considerados híbridos interespe-
Os mecanismos pós-zigóticos são aqueles que inviabilizam a
cíficos e não constituem uma terceira espécie.
sobrevivência do híbrido ou a sua fertilidade. Mesmo ocorrendo
a cópula, esses mecanismos impedem ou dificultam seu desen-
volvimento. Os principais tipos de isolamento pós-zigótico são: Exceção à regra

ƒ Mortalidade do zigoto – trata-se da fecundação Apesar de a regra dizer que híbridos são estéreis, há
entre gametas de espécies diferentes que pode levar registros de exceções a essa regra com filhotes de
à formação de zigoto pouco viável. Em razão de de- mula. Considerando que uma égua tem 64 cromos-
senvolvimento embrionário irregular, o zigoto não se somos, e um jumento, 62, a principal barreira para
desenvolve depois de fecundado e é levado à morte. esse tipo de reprodução diz respeito à diferença na
quantidade de cromossomos dos pais da mula. Os 63
ƒ Inviabilidade do híbrido – diz respeito à cópula
cromossomos da mula constituem um número ímpar,
entre indivíduos de espécies diferentes, à formação do
que não pode ser dividido em cromossomos pares (a
zigoto e à morte prematura do embrião devido à in-
importância dessa divisão será explicada, quando fa-
compatibilidade entre os genes maternos e paternos.
larmos sobre divisão celular), o que, em princípio, a
Algumas espécies de rã, embora habitem a mesma
tornaria incapaz de reproduzir-se. Entretanto, apesar
lagoa e eventualmente se cruzem, geram híbridos in-
de alguns casos já terem sido registrados ao redor do
terespecíficos que não são capazes de se desenvolver.
mundo, ainda não há uma explicação para o fato, que
ƒ Esterilidade do híbrido – decorre da formação do permanece sendo estudado por pesquisadores.
híbrido interespecífico e estéril devideo à presença de

VIVENCIANDO

O estudo do termo “especiação” permite compreender como surgem novas espécies e como outras podem ser extintas
ao longo do tempo. A interferência humana no meio ambiente, com o desmatamento, o assoreamento dos rios e as
construções de cidades, estradas e hidrelétricas, causa o aparecimento de barreiras geográficas, o que contribui para
o isolamento reprodutivo, alterando o fluxo gênico das populações. Esse fato pode ocasionar o surgimento de novas
espécies, assim como o desaparecimento de outras. Dessa forma, é possível propor mecanismos de conscientização e
educação ambiental para minimizar a interferência humana na evolução das espécies.

2.6. Cladogramas e parentesco evolutivo dão origem a novas características e espécies. Há casos em
que novas espécies não aparentam muita semelhança. No
O processo da evolução padroniza a relação entre es- entanto, restam ainda características que as relacionam,
pécies. Conforme as linhagens (espécies) evoluem e se como as evidências evolutivas estudadas. Em Biologia, o
separam, herdam as alterações e diferenciam seus ca- cladograma é utilizado para representar o grau de parente-
minhos evolutivos, é produzido um padrão ramificado sco entre espécies.
de relações evolutivas.
Cada dicotomia indica um ancestral comum partilhado.
No cladograma, o ramo principal mostra o ancestral comum Quanto mais próximos os ramos, maior é o grau de
e cada ponto de ramificação são eventos de especiação que parentesco entre os grupos.

40
de espécies foram nomeadas e descritas pelos cientistas.
ima ter ra
Segundo a União Internacional para a Conservação da Na-
tiss ogas scu
en ela
n b tureza (UICN), até a metade do século XXI, mais de 25%
D. d D. o
D. m da fauna e flora terrestre devem desaparecer. Essa organi-
zação calcula que quase um quarto das 4.600 espécies de
mamíferos conhecidas corre risco de extinção.
Táxon merofilético Táxon parafilético

Linhagem do
táxon A (ramo)
Linhagem do
táxon D (ramo)
Táxon Táxon Táxon Táxon
A B C D

Eventos de
especiação X espécie ancestral
X (nó)

CLADROGRAMA MOSTRANDO AS RELAÇÕES DE PARENTESCO ENTRE AS ESPÉCIES DE Y espécie ancestral


Y (nó)
DROSOPHILA (MOSCA-DA-FRUTA). OS PONTOS DE RAMIFICAÇÃO DESTA FILOGENIA DE
DROSOPHILA REPRESENTAM EVENTOS DE ESPECIAÇÃO OCORRIDOS HÁ MUITO TEMPO.
Tempo

A B C Caráter a (sinapomorfia)
Único ancestral
de C
Árvore filogenética: relações filogenéticas ou de parentesco entre os seres vivos.

Ancestral comum
de B e C
3.1. Os processos naturais
A extinção de espécies acontece de forma natural desde
Ancestral comum o surgimento da vida no planeta. Suas principais cau-
de A, B e C
sas são as modificações climáticas, como as desertifica-
ções, glaciações e alterações da atmosfera decorrentes
das atividades vulcânicas. Elas tornam o meio ambiente
NESTE CLADROGRAMA, B E C SÃO PARENTES MAIS PRÓXIMOS QUE A E C. desfavorável à permanência de alguns grupos, que, por
seleção natural, desaparecem – o principal exemplo
são os dinossauros. No entanto, a maioria das espécies
consegue se adaptar e sobreviver a essas mudanças, pois
elas costumam ocorrer lentamente.

3.2. Os processos antrópicos (humanos)


Nas últimas décadas, o homem vem destruindo habitats de
grande diversidade biológica, principalmente por causa da
poluição das águas, do solo e do ar, do desmatamento, da
caça e pesca predatórias e da extração ilegal de espécies
vegetais. Essas mudanças estão acontecendo numa velo-
multimídia: vídeo cidade maior do que a de adaptação dos seres vivos, que
não se ajustam às novas condições de vida e desaparecem.
FONTE: YOUTUBE
Uma das consequências da extinção das espécies é o dese-
Primeros passos da especiação
quilíbrio das cadeias alimentares, responsáveis pela trans-
ferência de alimento nos ecossistemas. A redução drástica

3. A EXTINÇÃO DAS ESPÉCIES


dos animais carnívoros, por exemplo, pode levar à prolifera-
ção dos animais herbívoros e, como consequência, haveria
A extinção é o desaparecimento completo de uma espé- escassez de algumas plantas.
cie animal ou vegetal, que pode ocorrer devido a processos Em todo o planeta, a quantidade de animais em via de
naturais ou por interferência humana. Segundo estimativas extinção é enorme. Entre eles, estão a baleia-azul, o mi-
atuais, o número total de espécies no planeta varia entre co-leão-dourado, o elefante, o rinoceronte-negro e o go-
5 milhões e 30 milhões. Desse total, cerca de 1,4 milhão rila-das-montanhas (África), o cervo (Tailândia), o panda-

41
-gigante (China), o pinguim-grande (Islândia e Canadá), ração nas frequências alélicas, ou seja, a proporção de um
o cavalo-selvagem (Europa Central), o bisão, ou o boi- tipoGenes
de genesão
alelo em relação
trechos de DNAaoqueconjunto de alelos;
armazenam outros
a infor-
-selvagem, e o pelicano-branco (França). Várias espécies acham quepara
mação a deriva genética
a síntese ou a variação aleatória
de proteínas.
vegetais também correm risco de extinção. É o caso das dessas frequências é que tem um papel de destaque
Locus gênico se refere à localização de um gene
orquídeas de Chiapas, no México, das bromélias – típicas nessas mudanças.
no cromossomo.
das zonas tropicais e subtropicais, encontradas no conti-
nente americano e em parte da África –, das “madeiras Genes alelos, ou apenas alelos, são segmentos ho-
de lei”, como mogno, jacarandá, marfim, cerejeira, im- mólogos do DNA, ou seja, formas alternativas de um
buia, canela, entre outras, usadas em todo o mundo para mesmo gene.
a confecção de móveis e na construção civil.
No Brasil, o país de maior biodiversidade do mundo, cer-
Os selecionistas acreditam que a seleção natural é a
ca de 300 espécies da fauna e flora estão ameaçadas de
“única” força capaz de direcionar os processos evolutivos,
extinção: lobo-guará, onça-pintada, gato-mourisco, veado-
sendo que os outros fatores proporcionam, no máximo,
-campeiro, cervo-do-pantanal, ariranha, mico-leão, anta,
uma pequena contribuição. O selecionismo prega que
peixe-boi, psitacídeos (arara e papagaio) e tucano. A lis-
as substituições alélicas ocorrem em consequência de se-
ta passa pelos répteis, como o jacaré-de-papo-amarelo e
leção dos mais adaptados, no qual o novo alelo substituirá
tracajá, e estende-se, inclusive, a invertebrados de diversos
um antigo em função de aumentar o valor adaptativo
filos, que ocupam os costões e praias da orla marítima.
dos organismos que o possuem. Assim, os polimor-
fismos seriam mantidos, quando a coexistência de dois ou
4. FILOGENIA DOS SERES VIVOS mais alelos num loco for vantajosa para o organismo ou
para a população.
A história da vida começou há aproximadamente 4,6 bi-
lhões de anos, em uma Terra coberta principalmente por Já os neutralistas acreditam que, principalmente num
água e envolta em uma atmosfera com amônia, metano, nível molecular, a maioria das mudanças evolutivas não
hidrogênio e dióxido de carbono. Vulcões em atividade e está relacionada a uma seleção positiva dos alelos de maior
tempestades constantes completavam o cenário dessa Ter- valor adaptativo, e sim à deriva genética, ou seja, à va-
ra primitiva. A vida, como hoje a conhecemos, teria sido riação aleatória das frequências dos alelos. A teoria neu-
impossível nessa época. As descargas elétricas e a ação dos tralista surgiu no fim dos anos 1960, quando uma grande
raios ultravioleta forneceram a energia para o aparecimen- quantidade de dados de sequenciamento de proteínas foi
to de moléculas orgânicas a partir de moléculas inorgâni- obtida, provendo, pela primeira vez, dados empíricos para
examinar as teorias relacionadas à substituição de genes/
cas, entre elas algumas proteínas e o polinucleotídeo ácido
alelos. O neutralismo não diz que todos os alelos possuem
ribonucleico (RNA). Em seguida, acredita-se ter surgido o
estritamente o mesmo valor adaptativo, mas que a variação
ácido desoxirribonucleico (DNA) a partir de um molde de
nas frequências deles está ligada, principalmente, à deriva
RNA e, assim, proteínas codificadas por informação dos
genética aleatória. Segundo eles, a seleção deve operar,
ácidos podem ter aparecido. Por último, completando 1 bi-
mas é muito fraca para influenciar as mudanças aleatórias.
lhão de anos de evolução química, uma membrana lipídica
deve ter envolvido essas moléculas, originando-se, assim, Segundo a teoria neutralista, um loco polimórfico é constitu-
a primeira célula procarionte e heterótrofa, que usava as ído de alelos que tendem a se fixar ou a se estinguir. Assim,
moléculas diluídas na água para seu metabolismo. Dessa os processos moleculares importantes para o andamento da
célula primitiva, originaram-se todos os seres vivos. Portan- evolução são resultado de um contínuo surgimento das varia-
to, todos descendem de um único ancestral, isto é, formam ções por mutação e consequente fixação ou extinção aleató-
um grupo monofilético. A universalidade do código ge- ria dos alelos. A substituição alélica seria, portanto, um
nético para todas as células sugere essa origem comum. processo longo e gradual, no qual a frequência dos
Uma origem polifilética implicaria a existência de vários alelos aumenta ou diminui randomicamente até que
ancestrais para os seres vivos. eles sejam perdidos ou fixados por ordem do acaso.
A verdade é que, a base da disputa entre selecionistas e neu-
5. NEUTRALISMO E SELECIONISMO tralistas está relacionada aos valores adaptativos dos
alelos mutantes. Ambas concordam que a maioria das
Vários evolucionistas discordam sobre qual é o principal novas mutações é deletéria e que essas alterações não
mecanismo responsável pela flutuação das frequências contribuem para a taxa de mutação nem para a quantidade
alélicas numa população. Alguns acham que a seleção de polimorfismos dentro de uma população. A diferença está
natural é a mais importante força direcionadora da alte- relacionada à proporção relativa de mutações neutras entre

42
as mutações não deletérias. Enquanto os selecionistas isolados eram predados mais facilmente e não deixavam
consideram que poucas mutações são seletivamen- muitos descendentes, enquanto aqueles que viviam em
te neutras, os neutralistas acreditam que a maioria grupos geravam descendentes que possuíam a tendência
delas é seletivamente neutra. de viverem agrupados.
O mais importante nessa controvérsia selecionista-neutra- Assim, as populações que tinham indivíduos com maior
lista é mostrar que o efeito produzido por interações capacidade de solucionar problemas para manter a coesão
aleatórias não pode ser negligenciado e que a evolução desses grupos obtiveram maior sucesso. Essa resolução de
molecular está diretamente relacionada ao polimorfismo gê- problemas era facilitada quando havia uma vocalização
nico. Apesar de tudo, as discussões ainda continuam, e novos complexa (pré-requisito para a linguagem humana).
trabalhos têm sido feitos com o intuito de conseguir dados Uma pré-adaptação para a vocalização foi um fator funda-
empíricos que suportem uma ou outra teoria. A partir des- mental para que essa característica pudesse existir.
sas discussões, deve-se definir uma teoria adequada da
evolução que seja consistente também com os pro- Pré-adaptacão são estruturas que já existem naquela espé-
cessos evolutivos que ocorrem no nível molecular. cie e que permitem que o animal tenha sucesso no ambien-
te. O ancestral humano já possuía uma estrutura física para
Para encerrar, é óbvio que algumas características apresen- vocalização (garganta, glote, estruturas para passagem
tam um valor adaptativo muito maior do que outras. Por do ar etc.). Ele só pôde desenvolver a linguagem porque
exemplo, um hemofílico apresenta um valor adaptativo mui- já possuía essas pré-adaptações (no caso, pré-adaptacões
to mais baixo que um não hemofílico, aspecto que até os para a linguagem).
neutralistas reconhecem e sabem que a seleção é muito im-
Um outro exemplo seriam as abelhas, que também vi-
portante nesses casos. A polêmica é se há um maior número
vem em grupo e precisam se comunicar. Como elas não
de mutações seletivamente neutras ou se, para qualquer mu-
desenvolveram nenhuma estrutura de vocalização ou
dança no DNA, existe um aumento ou diminuição, mesmo
de comunicação sonora, comunicam-se por meio de si-
que pequena, no valor adaptativo do indivíduo, possibilitan-
nais químicos, por estruturas desenvolvidas a partir de
do a atuação da seleção num determinado loco. pré-adaptações específicas. Ao se analisar uma deter-
minada adaptação em um animal, deve-se tentar iden-
6. EVOLUÇÃO HUMANA tificar a pré-adaptação que possibilitou o aparecimento
daquela característica.
Os seres humanos possuem um cérebro grande se compa-
rado a outros mamíferos ou primatas. Um indivíduo adulto
tem um cérebro de quase 4 kg, para um peso corporal mé-
dio de aproximadamente 70 kg. Ou seja, aproximadamen-
te 6% do nosso peso é composto de massa cefálica.
Os pesquisadores buscam determinar os motivos que leva-
ram a essa cefalização acentuada no gênero Homo.
A seguir, de forma simplificada, serão apontadas algumas
ideias a respeito desse tema.
A priori, tentou-se identificar um fator isolado que explicasse
essa característica, mas logo percebeu-se a limitação desse en-
foque. Atualmente, as pesquisas tentam ser mais realistas, en-
focando uma série de fatores que teriam agido em conjunto.
Quando os ancestrais dos humanos tiveram a necessidade
de descer das árvores para a sobrevivência (o que pode BIPEDIA E ESTRUTURA DAS MÃOS.
ter ocorrido devido a uma mudança no habitat, como a
diminuição do número de árvores), eles tiveram de lidar No caso da evolução humana, a pré-adaptação estrutural
com um ambiente diferente, no qual ser bípede oferecia permitia que eles ao menos grunhissem. Esses grupos an-
algumas vantagens. cestrais foram selecionados positivamente pelo meio am-
biente daquela época. Ao longo das gerações, aqueles que
Vivendo em campos abertos, aqueles que permaneciam possuíam uma melhor vocalização eram gradativamente
em grupos eram mais favorecidos (seleção natural de com- selecionados, enquanto os outros acabavam sendo sele-
portamento). Assim, ao longo das gerações, os indivíduos cionados negativamente (extintos).

43
O ambiente fora das árvores era bem mais hostil, pois con- comportamento forrageador (de busca de alimento) mais
tinha um maior número de variáveis. Nas árvores, a quan- complexo e eficiente, que, por sua vez, fazia uma pressão
tidade de alimento é maior do que em um campo aberto. seletiva para a expansão cerebral.
É possível afirmar que, para se obter a mesma quantidade
Existem outros obstáculos a serem superados para o au-
de alimento encontrada facilmente em 10 m2 na floresta,
mento do cérebro, além do alto custo energético. O tama-
esses homens primitivos deveriam percorrer 10.000 m2 em
nho da pélvis (bacia) das fêmeas é um dos exemplos. No
seu novo habitat.
nascimento, o feto deve passar pela junção pélvica da fê-
O fato de ser bíbepe era uma grande vantagem na cober- mea; para isso, a cabeça não pode ser muito grande. Essa
tura dessas extensas áreas, além de liberar os membros restrição é uma das razões para o crescimento contínuo
anteriores desses animais (braços e mãos) para recolher as do cérebro, mesmo depois do nascimento. Isso faz com
frutas e manusear os alimentos. Assim, os mais habilidosos que os bebês sejam extremamente dependentes das mães,
com os alimentos foram favorecidos e tiveram maior su- mas, por outro lado, gera uma flexibilidade tremenda, pois
cesso evolutivo, deixando mais descendentes. Na ciência, o cérebro vai crescendo (e montando as ligações entre os
isso é conhecido como “pressão positiva” para os mais ha- neurônios), sempre se ajustando ao ambiente e facilitando
bilidosos, ou seja, aqueles que tem mais habilidade levam o aprendizado direto ainda na formação cerebral.
vantagem em relação aos menos habilidosos e prevalece- ƒ No nascimento, o cérebro humano tem cerca de 25%
riam em termos de evolução. Outras estruturas, como as do peso do cérebro de um adulto; aos quatro anos de
da mão, também foram se modificando e teriam sido sele- idade, esse valor é de 84,1%.
cionadas a cada geração. Algumas alterações facilitavam o
ƒ Chimpanzés nascem com 47% do peso do cérebro de
manuseio do alimento, gerando maior habilidade.
um adulto; aos quatro anos, já têm 100% do peso total.
Dessa forma, os membros anteriores foram lentamente se mo- ƒ Com isso, é possível perceber outra restrição para um
dificando e assumindo a forma que conhecemos, ou seja, com cérebro muito grande e flexível: a redução da taxa re-
o polegar opositor aos outros dedos, possibilitando uma maior
produtiva, pois os pais devem cuidar dos filhotes por
firmeza e precisão nos movimentos. Além de facilitar o manu-
um período de tempo maior.
seio dos alimentos, esse fator permitiu que o homem ancestral
segurasse galhos, pedras e outros objetos. Em conjunto, todos O bipedalismo, associado à possibilidade de explorar ou-
esses fatores resultaram em um cérebro mais desenvolvido. tros ambientes, além de exigir mais do cérebro, abriu novos
horizontes para a evolução biológica humana. A seguir, as
vantagens angariadas com isso:
ƒ desenvolvimento da habilidade para o transporte de
alimentos;
ƒ redução de pelos sobre as áreas do corpo não expostas
ao sol forte;
ƒ liberação das mãos para diferentes usos, inclusive para
cuidar dos filhos;
ƒ redução do consumo de energia em caminhadas a ve-
locidades normais; e
ƒ aumento do horizonte de visão e aperfeiçoamento da
Comparação entre a pelve humana e a de um chimpanzé.
proteção contra predadores.

Quanto maior o cérebro, maior o consumo de energia. O Evolução humana – hominídeos


cérebro humano, em termos energéticos, consome três ve-
zes mais do que o cérebro do chimpanzé e 22 vezes mais
do que um tecido muscular em repouso. A taxa metabólica
específica (por grama) é nove vezes maior do que a do
resto do corpo como um todo. Para suprir essa demanda
energética, os ancestrais necessitavam de uma dieta de
melhor qualidade proteica e energética.
A mudança de dieta retroalimenta a expansão cerebral;
isso significa que, para manter o cérebro, nossos ancestrais
Australopithecus Homo habilis Homo erectus Homo sapiens Homo sapiens

precisavam se alimentar melhor, apresentando, assim, um neanderthalensis sapiens

44
sociais, a domesticação de animais, o cultivo de plantas e
Evolução humana – hominídeos
o domínio do homem sobre a natureza, causando, ao mes-
ƒ cérebro grande;
mo tempo, graves problemas a outras espécies.
ƒ dependência total do uso de
utensílios;
cérebro, tecnologia, ƒ linguagem simbólica completa; e
linguagem e cultura ƒ capacidades cognitivas desen-
volvidas através de processos
complexos de transmissão da in-
formação de geração em geração.
ƒ proteínas de grandes animais;
ƒ consumo significativo de plantas
ricas em hidratos de carbono;
dieta e subsistência
ƒ consumo retardado da comida
adquirida; e
ƒ partilha dos alimentos. 6.2. Apontamentos sobre a origem
ƒ laços sexuais e econômicos fortes
entre machos e fêmeas; do homem
ƒ crianças dependentes; Em meados do século XIX, a teoria de Charles Darwin so-
ƒ adolescência prolongada; bre o mecanismo da evolução das espécies estremeceu o
reprodução e sociedade ƒ vida social organizada em torno mundo da ciência. A consequência lógica e irrefutável de
de um lugar central; e
tudo o que ele havia descoberto era a de que a espécie
ƒ inexistência de caninos grandes
que possam ser usados em con-
humana não teria sido criada separadamente dos outros
texto de interação social. seres vivos, como afirmavam as Escrituras das três maiores
ƒ porte ereto e locomoção bípede; religiões monoteístas, mas evoluído a partir de espécies in-
locomoção e habitat e feriores e já extintas, antecessoras dos macacos antropoi-
ƒ habitats abertos. des, como o chimpanzé, o gorila e o orangotango.
Na época, esse era um conceito inaceitável. Primeiro, por-
Homo sapiens que refutava os dogmas religiosos, que ainda ocupavam
Homo sapiens sapiens
neanderthalensis um lugar central no comando das sociedades ocidentais.
crânio achatado crânio abaulado Darwin teve uma educação teológica em Cambridge,
estava destinado a ser um pároco da Igreja anglicana e
testa curta testa evidenciada descendia de uma próspera família de proprietários rurais,
osso supraorbital ausência/redução acentua- profissionais liberais e industriais. Seus amigos eram todos
bastante expandido da do osso supraorbital conservadores ou ligados à religião e ao governo, forte-
órbitas oculares grandes órbitas oculares pequenas mente opostos à noção de evolução das espécies como um
face projetada
mecanismo independente do Criador.
face curta
para a frente Segundo, porque temia-se que, ao aceitar esse conceito, o
ausência de queixo presença de queixo homem perderia seu lugar especial na Criação, rebaixan-
osso occipital achatado osso occipital abaulado do-se a mais um animal entre os animais, “liberando os
instintos mais baixos” da população, que poderia revoltar-
ossos longos espe-
ssos e curvos
ossos longos mais delgados -se contra o governo e instaurar a anarquia, tão temida
pelos governantes (é preciso não esquecer que a influência
ossos longos com
ossos longos com pouca super- da Revolução Francesa ainda se fazia sentir e que o socia-
grandes áreas para
fície para ligação de músculos
ligação de músculos lismo acabava de nascer como movimento político e social,
ameaçando tirar o poder dos velhos privilégios da monar-
6.1. Evolução cultural quia, da elite econômica etc.).
Em terceiro lugar, havia um argumento científico sólido contra
A cultura é um processo tipicamente humano: a evolução
a hipótese defendida por Darwin e seus seguidores: até então,
da humanidade se tornou muito mais cultural do que bio-
não havia qualquer evidência concreta de que os registros fós-
lógica. Cultura, portanto, é o acúmulo de conhecimentos
seis comprovassem a progressão evolutiva dos hominídeos.
e hábitos cuja renovação depende muito mais do surgi-
mento de novas técnicas do que das mutações em si. Foi O castelo cuidadosamente montado pelos opositores de
essa evolução cultural que permitiu a formação dos grupos Darwin começou a desmoronar quando foram descobertos

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os primeiros esqueletos de um ser evidentemente muito O Homo sapiens sapiens provavelmente tem apenas 100 mil
mais primitivo que o Homo sapiens sapiens (a espécie mo- anos de existência como espécie independente, um período
derna do ser humano), o Homem de Neandertal, encon- extremamente curto em termos geológicos, ou mesmo para
trado em escavações no vale do rio Neander, na Alemanha a idade total do gênero Homo. Trata-se de uma espécie que
(“tal” significa “vale”, em alemão). está há pouquíssimo tempo na superfície deste planeta.
As observações mostraram um ser com postura ereta, cor- Uma conclusão surpreendente no estudo dos hominídeos é
po e membros praticamente iguais aos nossos, mas com que, provavelmente, existiram muitas espécies de hominíde-
um crânio com semelhanças ao de um gorila. os ancestrais que foram extintas sem deixar marcas. A linha
sobrevivente, em determinadas épocas históricas, chegou a
A descoberta foi atacada na época, e seus opositores argu-
ter um número extremamente reduzido de indivíduos. Um
mentaram que o fóssil pertencia a um ser humano deforma-
estudo recente do DNA mitocondrial (que é transmitido ape-
do ou aleijado. No entanto, a descoberta acabou se conso-
nas através da linha feminina, diferentemente do DNA, que
lidando com outros achados em várias partes da Europa e
tem componentes maternos e paternos) mostrou que houve
do Oriente Médio, provocando uma enorme polêmica. Mos-
uma época no passado em que existiam apenas cerca de 40
trou-se, pela primeira vez, que havia o registro histórico de
mil seres humanos em toda a face da Terra. Qualquer grande
um ser muito semelhante ao homem, que não mais existia,
desastre natural ou epidemia teria inviabilizado essa espécie.
e que podia ser um indivíduo intermediário entre macacos e
Esses estudos de biologia molecular também evidenciaram
homens. A descoberta deu um grande impulso à aceitação
que toda a humanidade descende, provavelmente, de não
das teorias de Darwin pelos cientistas e incentivou a busca
mais do que seis indivíduos que habitaram o sul da África,
desenfreada por homens cada vez mais primitivos, o que
sendo que uma dessas mulheres é responsável por 60% de
veio a acontecer somente no século XX, inicialmente na Áfri-
todos os genomas da humanidade atual, enquanto que ou-
ca, mas também na Ásia e Oceania.
tras cinco são responsáveis pelos 40% restantes.

Os principais estágios da evolução humana


anos atrás estágios da evolução
4 milhões Australopithecus afarensis
DA ESQUERDA PARA A DIREITA, OS CRÂNIOS DO AUSTRALOPITHECUS
AFARENSIS, UM DOS MAIS ANTIGOS HOMINÍDEOS ENCONTRADOS; 3,2 milhões “Lucy” (Australopithecus afarensis)
DO AUSTRALOPITHECUS AFRICANUS, UM HOMINÍDEO MAIS RECENTE
QUE O AFARENSIS; DO HOMO HABILIS, UMA DAS PRIMEIRAS ESPÉCIES
2,5 milhões Australopithecus de várias espécies
AFRICANAS DO GÊNERO; E DE UM HOMEM DE NEANDERTAL.
2 milhões Homo habilis

1,6 milhão Homo erectus


A ciência chegou à conclusão de que o homem evoluiu
gradativamente a partir de espécies que hoje sabemos 1,4 milhão Os Australopithecus sofrem extinção.
terem se originado na África subequatorial entre 5 e 6 1 milhão O Homo erectus se estabelece na Ásia.
milhões de anos atrás. Assim, foi elaborado o conceito do
“elo perdido”, ou seja, a espécie que teria sido comum aos O Homo erectus se estabelece na Europa.
400 mil
O Homo sapiens começa a evoluir.
homens e aos demais antropoides, gerando duas linhas de
Formas arcaicas do Homo sapiens.
“primos” muito próximos. Esse homem-macaco ainda não 250 mil
O Homo erectus sofre extinção.
foi encontrado, mas descobertas recentes feitas por cien-
125 mil Homo neandertalensis
tistas na África têm impulsionando cada vez mais para o
O Homo sapiens se desenvolve plena-
passado a existência dessa espécie. 100 mil
mente na Ásia e na África.
Por outro lado, descobriu-se que o Neandertal não é nos- 40 mil
O Homo sapiens (Cro-Magnon) se
so antepassado, mas sim uma subespécie que surgiu em desenvolve.
paralelo com o Homo sapiens sapiens (também chamado Os Neandertais sofrem extinção.
35 mil O Homo sapiens permanece como a
de Cro-Magnon, a partir de uma localidade da França, única espécie humana sobrevivente.
onde foram encontrados seus fósseis) e que se extinguiu
há cerca de 60 mil anos, por motivos desconhecidos.
Ambos descendem de duas espécies de homens mais
primitivos, que, entre um milhão a 500 mil anos atrás,
começaram a emigrar da África para outros continentes:
o Homo erectus e o Homo habilis.

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CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A evolução biológica e a antropologia cultural e social caminham juntas para explicar a história do homem na Terra.
Por meio de registros fósseis, como o tipo de arcada dentária, é possível estimar qual seria a alimentação daquele ser e
também o tamanho do crânio. A partir dessas informações, é viável recriar o contexto onde possivelmente os indivíduos
estavam inseridos, como os caçadores-coletores, que tinham uma distribuição de trabalho e uma divisão social. Desse
modo, é possível reproduzir as interações entre os indivíduos de uma sociedade de 200 mil anos atrás.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidades
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer
15 nível de organização dos sistemas biológicos.
Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização
16 taxonômica dos seres vivos.

Nesta questão sobre diversidade fenotípica associada ao ambiente ocupado, é fundamental a interpretação correta do
modelo apresentado, associando a cor da pelagem com a cor do ambiente. Com isso, será possível entender como os
processos evolutivos estão ocorrendo.

Modelo
(ENEM) OS RATOS PEROMYSCUS POLIONOTUS ENCONTRAM-SE DISTRIBUÍDOS EM AMPLA REGIÃO NA AMÉRICA DO NORTE. A PELAGEM DE RATOS DESSA
ESPÉCIE VARIA DO MARROM CLARO ATÉ O ESCURO, SENDO QUE OS RATOS DE UMA MESMA POPULAÇÃO TÊM COLORAÇÃO MUITO SEMELHANTE. EM GERAL, A
COLORAÇÃO DA PELAGEM TAMBÉM É MUITO PARECIDA À COR DO SOLO DA REGIÃO EM QUE SE ENCONTRAM, QUE TAMBÉM APRESENTA A MESMA VARIAÇÃO DE
COR, DISTRIBUÍDA AO LONGO DE UM GRADIENTE SUL-NORTE. NA FIGURA, ENCONTRAM-SE REPRESENTADAS SETE DIFERENTES POPULAÇÕES DE P. POLIONOTUS.
CADA POPULAÇÃO É REPRESENTADA PELA PELAGEM DO RATO, POR UMA AMOSTRA DE SOLO E POR SUA POSIÇÃO GEOGRÁFICA NO MAPA.

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O MECANISMO EVOLUTIVO ENVOLVIDO NA ASSOCIAÇÃO ENTRE CORES DE PELAGEM E DE SUBSTRATO É:
a) A alimentação, pois pigmentos de terra são absorvidos e alteram a cor da pelagem dos roedores.
b) O fluxo gênico entre as diferentes populações, que mantém constante a grande diversidade interpopulacional.
c) A seleção natural, que, nesse caso, poderia ser entendida como a sobrevivência diferenciada de indivíduos com
características distintas.
d) A mutação genética, que, em certos ambientes, como os de solo mais escuro, têm maior ocorrência e capacidade de
alterar significativamente a cor da pelagem dos animais.
e) A herança de caracteres adquiridos, capacidade de organismos se adaptarem a diferentes ambientes e transmitirem
suas características genéticas aos descendentes.

Análise expositiva - Habilidade 15 e 16: Compreender como os mecanismos evolutivos são capazes de pro-
C duzir padrões encontrados de acordo com o meio ambiente onde as espécies habitam é primordial para entender a
situação proposta. Observa-se nesse esquema que a coloração dos ratos varia de acordo com o ambiente em que
ocupam, ou seja, ratos de pelagem mais escura vivem em ambientes em que o solo é mais escuro. O que ocorre é
que provavelmente a pelagem com cor parecida ao substrato confere uma vantagem adaptativa. Pode-se enten-
der esse processo por meio da seguinte situação: Presumivelmente existiam ratos de todas as cores em todos os
ambientes. Aqueles que tinham coloração diferente do substrato eram predados de maneira mais fácil e, com isso,
foram extintos. Por outro lado, aqueles com pelagem semelhante ao ambiente sobreviviam, pois conseguiam passar
despercebidos pelo predador e transmitiam essa cor de pelagem aos descendentes. Esse mecanismo evolutivo é
denominado seleção natural e foi proposto por Charles Darwin.
Alternativa C

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DIAGRAMA DE IDEIAS

DIFERENCIAÇÃO
PROGRESSIVA

ESPECIAÇÃO

ISOLAMENTO ISOLAMENTO
REPRODUTIVO REPRODUTIVO
PRÉ-ZIGÓTICO PÓS-ZIGÓTICO

• SAZONAL • MORTALIDADE
• ECOLÓGICO DO ZIGOTO
• MECÂNICO FORMAÇÃO DE • INVIABILIDADE
• COMPORTAMENTAL NOVAS ESPÉCIES OU ESTERILIDADE
DO HÍBRIDO

ALOPÁTRICA PERIPÁTRICA PARAPÁTRICA SIMPÁTRICA

ISOLAMENTO ISOLAMENTO SEM ISOLAMENTO SEM ISOLAMENTO


GEOGRÁFICO GEOGRÁFICO, GEOGRÁFICO, GEOGRÁFICO,
POPULAÇÃO MENOR GRANDES ÁREAS OCUPAÇÃO DE
DE UMA MAIOR NICHOS DISTINTOS

CLADOGRAMA

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