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Universidade Federal de Viçosa


Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular
Laboratório de Bioquímica – BQI 101

Biossegurança em Laboratório de Bioquímica e Boas

Práticas Laboratoriais (BPLs)

Thiago Rodrigues Dutra


Maria Cristina Baracat-Pereira

Viçosa – MG
Agosto de 2016
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1. Introdução
Biossegurança é um conjunto de saberes direcionados para ações de prevenção,
minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino,
desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, as quais possam comprometer a saúde
do homem, dos animais, das plantas e do ambiente ou a qualidade dos trabalhos
desenvolvidos (Comissão Técnica de Biossegurança da Fiocruz/CTBio-Fiocruz, 2005). O
objetivo deste manual é auxiliar os estudantes a trabalharem de maneira mais segura em
laboratório, minimizando riscos à saúde, de contaminação ambiental e de acidentes.

1.1. Grupos de risco biológico


Os microrganismos são classificados por grupos de risco. Esta classificação é
utilizada apenas para trabalho laboratorial. O grupo de risco 1 é composto por
microrganismos não patogênicos para homem ou animais, e, portanto, apresenta baixo ou
nenhum risco individual ou coletivo. O grupo de risco 2 compreende agentes patogênicos
capazes de causar doença no homem ou no animal (passível de tratamento eficaz), mas que
é improvável que constitua um perigo grave para o pessoal dos laboratórios, a comunidade,
os animais ou o ambiente. Grupo de risco 3 engloba os agentes patogênicos que causam
geralmente uma doença grave no homem ou no animal, mas que não é transmissível de uma
pessoa a outra. Existe um tratamento eficaz para a doença, bem como medidas de prevenção.
O grupo de risco 4 compreende agentes patogênicos que causam geralmente uma doença
grave no homem ou no animal, facilmente transmissível de uma pessoa para outra, direta ou
indiretamente. Nem sempre está disponível um tratamento eficaz ou medidas de prevenção.

1.2. Classificação das instalações laboratoriais


As instalações laboratoriais são classificadas em quatro níveis de segurança biológica,
baseados num conjunto de características de concepção, estruturas de confinamento,
equipamentos, práticas e normas operacionais necessárias para trabalhar com agentes de
diversos grupos de risco.
Os laboratórios nível 1 e nível 2 de segurança biológica (menores riscos biológicos)
são laboratórios básicos. Estes são requeridos para o trabalho com microrganismos dos
grupos de risco 1 e 2, respectivamente. O laboratório de confinamento nível 3 de segurança
biológica e o laboratório nível 4 de confinamento máximo (maiores riscos biológicos), são
requeridos para o trabalho com os agentes patogênicos dos grupos de risco 3 e 4,
respectivamente.
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O laboratório de ensino utilizado na disciplina BQI 101 – Laboratório de


Bioquímica é classificado como laboratório básico nível 1. Os microrganismos usados na
disciplina (como o fermento biológico utilizado para fazer pães) não apresentam riscos de
contaminação humana ou animal, A estrutura desse laboratório de ensino é suficiente para a
execução dos trabalhos realizados na disciplina.

2. Boas Práticas Laboratoriais (BPLs)


As boas práticas laboratoriais (BPLs) constituem um conjunto de normas,
procedimentos e atitudes de segurança, com o objetivo de minimizar acidentes que envolvam
atividades desenvolvidas dentro dos laboratórios, bem como manter o ambiente seguro. A
seguir serão listadas regras básicas para o trabalho em Laboratório de Bioquímica, de acordo
com as BPLs.

Sobre o acesso ao laboratório, vestimentas e compostamentos pessoais:


• O acesso ao laboratório deve ser limitado, sendo permitido apenas a pessoas
autorizadas.
• Crianças não devem ter permissão para entrar no laboratório.
• Animais não devem ser admitidos no laboratório.
• Antes de iniciar as atividades no laboratório, para sua segurança, procure conhecer
os perigos oferecidos pelos produtos químicos utilizados no seu trabalho. Leia os
rótulos dos reagentes. Se informe sobre a simbologia de biossegurança. Na dúvida
pergunte ao professor ou ao técnico.
• Lavar bem as mãos antes de iniciar as atividades no laboratório, para evitar
contaminar experimentos, e após a prática, antes de sair do laboratório, para evitar
levar contaminantes.
• Recomenda-se a não utilização de adereços no laboratório, como brincos, pulseiras,
relógios e outros.
• Não utilizar lentes de contato no laboratório.
• Manter os cabelos presos durante a jornada de trabalho.
• Proteger qualquer tipo de ferimento exposto e não participar de atividades práticas
se estas apresentarem risco de contaminação.
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Sobre o ambiente de trabalho no laboratório:


• As portas do laboratório devem, preferencialmente, ser mantidas fechadas, porém
esta definição deve ser avaliada de acordo com o tipo de atividade desenvolvida.
• As áreas de acesso e circulação ao laboratório devem estar desobstruídas e livres de
equipamentos, cadeiras, estoques de materiais e outros.
• O local de trabalho deve ser mantido sempre limpo e em ordem.
• Ao perceber algo fora do lugar, comunique aos responsáveis ou coloque-o no devido
lugar se tiver certeza da localização. A iniciativa própria para manter a ordem ajuda
a manter o ambiente seguro e funcional.
• Ao perceber que um aparelho está quebrado, comunique imediatamente ao
responsável para que o reparo possa ser providenciado.
• Trabalhar sempre de maneira ordenada, tranquila e metódica, evitando movimentos
rápidos desnecessários.

Sobre a segurança pessoal no laboratório e ao sair:


• Não comer, beber, fumar e aplicar cosméticos (maquiagem, cremes, dentre outros)
nas áreas de trabalho do laboratório.
• Não utilizar geladeira, freezer, estufa, microondas, etc, do laboratório para guardar e
aquecer alimentos.
• Não levar qualquer objeto à boca no laboratório.
• Para segurança pessoal, os sapatos devem ser do tipo fechados e sem salto alto.
• Não tocar olhos, cabelos, boca ou nariz com as mãos durante o trabalho.
• As pipetagens deverão sempre ser realizadas com dispositivos apropriados, nunca
com a boca diretamente.

Sobre o uso de EPIs e EPCs:


• Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e Equipamentos de Proteção Coletiva
(EPCs) devem sempre ser utilizados corretamente e quando necessário. Não devem
ser usados, esquecidos ou descartados fora da área de trabalho.
• Jalecos devem ser usados durante todo o período de trabalho no laboratório.
• As roupas de proteção, como jalecos, não devem ser usadas fora do laboratório, como
em cantinas, escritórios, biblioteca, banheiros, etc..
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• As roupas de proteção que são utilizadas nos laboratórios não devem ser guardadas
no mesmo local que as roupas pessoais.
• Luvas apropriadas devem ser usadas em todos os procedimentos que possam
envolver contato direto ou acidental com materiais infecciosos ou tóxicos em
potencial.
• Após o uso, as luvas devem ser removidas sem contato com a superfície contaminada,
e descartadas assepticamente em local apropriado, e as mãos devem ser bem lavadas.
• Luvas devem ser utilizadas somente dentro do laboratório e, mesmo que limpas, não
devem entrar em contato com maçanetas das portas, computador de uso comum e
telefone.
• Óculos de segurança ou outros aparatos de proteção devem ser usados quando houver
necessidade de proteger os olhos e a face de respingos.

Sobre os aspectos gerais do trabalho em laboratório de bioquímica:


• Todos os procedimentos técnicos devem ser realizados de forma a minimizar a
formação de aerossóis e gotículas.
• Obedecer rigorosamente às normas para manuseio dos equipamentos. Sempre
verificar a tensão do equipamento antes de conectá-lo à rede elétrica.
• Ao quebrar uma vidraria comunique ao responsável (técnico e/ou professor).
• As vidrarias, quebradas ou não, devem ser descartadas em recipiente próprio e
adequado e, se estiverem quebradas, não devem ser manipuladas diretamente com a
mão, devendo ser removidas por meios mecânicos (vassoura, pá de lixo ou pinça).
• Qualquer derramamento de reagente, acidente ou exposição potencial ou confirmada
de materiais infecciosos ou tóxicos deve ser relatado ao responsável pelo laboratório,
e as providências cabíveis seguirão as recomendações de segurança.
• Os materiais perfurocortantes devem ser manuseados cuidadosamente.
• O descarte do material perfurocortante (agulhas, lâminas, etc) deve ser realizado em
recipiente de paredes rígidas, resistentes à punctura, ruptura e vazamento, com tampa,
devidamente identificados, localizado próximo à área de trabalho, sendo
expressamente importante não esvaziar esses recipientes para o seu reaproveitamento.
• Substâncias químicas voláteis devem ser, obrigatoriamente, manuseadas na cabine
de exaustão de gases (também chamada de capela).
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• Todos os resíduos químicos tóxicos (descartes) devem ser coletados para tratamento
ou descarte adequado, observando normas específicas.
• Todo acidente deverá ser comunicado imediatamente ao responsável pelo local.
• Em caso de dúvida, pergunte e peça ajuda!

3. Referências
Biosafety in Microbiological and Biomedical Laboratories.U.S. Department of Health and
Human Services. Fifth Edition. 2007.
Diretrizes Gerais para o Trabalho em Contenção com Material Biológico. Ministério da
Saúde, Brasília, DF. 2004.
Manual de Biossegurança da Embrapa Milho e Sorgo. Sete Lagoas, MG. 2009.
Manual de Biossegurança da Fundação Ezequiel Dias – FUNED. Belo Horizonte, MG. 2012.
Manual de Biossegurança em Laboratório, terceira edição. Orgaização Mundial da Saúde.
Genebra. 2004.
Manual de Biossegurança, Laboratório Central de Saúde Pública - LACEN/SC. 2000.
Manual de Biossegurança, Laboratório de Hemoglobinas e Genética das Doenças
Hematológicas, UNESP, São José do Rio Preto, SP.
NR 9 - PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS. Alterada em 29 de
dezembro de 1994.
Procedimentos para a manipulação de microrganismos patogênicos e/ou recombinantes na
Fiocruz. CTBIO-FIOCRUZ, 2005.
Sangioni, L. A., Pereira, D. I. B., Vogel, F. S. F., Botton, S. A. Princípios de biossegurança
aplicados aos laboratórios de ensino universitário de microbiologia e parasitologia.
Ciência Rural, v.43, n.1, jan, 2013. Ciência Rural, Santa Maria, v.43, n.1, p.91-99, jan,
2013.

4. Autores
Thiago Rodrigues Dutra – Monitor II das disciplinas Bioquímica Geral (BQI 100) e
Laboratório de Bioquímica (BQI 101) no primeiro semestre de 2016.
Maria Cristina Baracat-Pereira – Professora do Departamento de Bioquímica e Biologia
Molecular da UFV, Coordenadora da disciplina Laboratório de Bioquímica (BQI 101)
no primeiro semestre de 2016, orientadora do Thiago Rodrigues Dutra neste trabalho, e
supervisora na produção do Manual de Biossegurança para a BQI101.

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