2002
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
OFÍCIO Nº 10/2022/CINQ/CGRC/DICOR/PF
75
À Sua Excelência, a Senhora
:21 48
MINISTRA ROSA WEBER
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
:06 Inq
Praça dos Três Poderes, Brasília - DF - CEP 70175-900
14 -75
8
Assunto: INQ. nº 4.875/DF (Epol nº 2021.0049857) SOB SIGILO / AUTUAR EM APARTADO POR
02 .96
Excelen�ssima Ministra,
1/0 5.
SOB SIGILO, PARA SER AUTUADO EM APARTADO E POR DEPENDÊNCIA AO INQ. 4.875/DF, 01 PenDrive
Kingston DataTraveler, 8 GB, S/N (sob o Lacre nº 01001645235), com o conteúdo dos processos
administra�vos encaminhados à POLÍCIA FEDERAL pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de
Em po
Vigilância Sanitária, que dizem respeito ao Contrato e à Autorização para importação da Vacina Covaxin.
sso
CPIPANDEMIA, o qual concede acesso ao Relatório Final e a documentos elaborados pela referida
Comissão - mas que foram classificados como SIGILOSOS.
Im
Respeitosamente,
75
:21 48
:06 Inq
14 -75
8
02 .96
1/2 586
2-
1/0 5.
: 3 r: 43
Em po
sso
pre
Im
Fl. 2004
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
POLICIA FEDERAL
h DIRETORIA DE INVESTIGAÇÃO E COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO E À CORRUPÇÃO
COORDENAÇÃO DE INQUÉRITOS NOS TRIBUNAIS SUPERIORES
SAS Q. 06, Lotes 09/10, Edificio-Secte da Policia Federa!, 7® andar - CEP: 70037-900 -
Brasília/DF
INQUÉRITO_STF: 4.875/DF
INQUÉRITO_PF: 2021.0049857
NÚMERO ÚNICO: 0036878-97.2021.1.000000
INÍCIO: 09/07/2021
TÉRMINO: 31/01/2022
7 5
INCIDÊNCIA PENAL: Artigo 319, do Código Penal
:21 48
:06 Inq
“Uma paixão é, pois, antes de mais, uma confusão do
14 -75
espírito. Um sentimento passivo, alienatório, que
desequilibra e faz sofrer mesmo quando é agradável,
8
porque é acompanhado de perturbações e nos leva a
02 .96
1
Fl. 2005
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
5
LEGALIDADE PENAL. IMPOSSIBILIDADE DE
7
:21 48
CRIAÇÃO INTERPRETATIVA DE REGRA DE
COMPETÊNCIA COMO DEVER FUNCIONAL
:06 Inq
GERAL PARA FINS PENAIS. SITUAÇÃO
CONCRETA. AUSÊNCIA DE ELEMENTO
OBJETIVO DO TIPO PENAL INCRIMINADOR.
14 -75
TIPICIDADE. TIPICIDADE FORMAL. JUÍZO DE
8
TIPICIDADE NEGATIVO. AUSÊNCIA DE JUSTA
02 .96
Excelentíssima Ministra,
: 3 r: 43
Em po
A POLÍCIA FEDERAL,
sso
pelo Delegado de Polícia Federal que a representa, com fundamento no artigo 10,
pre
§ 1°, do CPP, no artigo 2°, § 1°, da Lei n° 12.830/13, e no artigo 230-C, do RISTF,
vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar o
Im
RELATÓRIO FINAL
2
Fl. 2006
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
5
persecução criminal” e, no requerimento, “a intimação da Procuradoria-Geral
7
:21 48
da República para promover o oferecimento da denúncia contra o Presidente
:06 Inq
da República pela prática do crime de prevaricação, previsto no art. 319 do
CP”.
14 -75
8
02 .96
7 5
pressionando, eu acionei, conversei com meu irmão, que aí passou ao
:21 48
Presidente”.
:06 Inq
14 -75
O segundo, por sua vez, “narrou à Comissão o encontro em que
apresentou as denúncias ao Presidente da República”. Tal encontro ocorreu,
8
02 .96
7 5
Presidente da República Jair Messias Bolsonaro não havia encaminhado a
:21 48
“denúncia” ao Diretor-Geral da Polícia Federal. Essa, também, foi a conclusão
:06 Inq
dos Senadores da República:
14 -75
“Ademais, a despeito da promessa do Presidente diante do
8
02 .96
E, em seguida, avaliaram:
Im
7 5
de corrupção”.
:21 48
:06 Inq
Ao final, e em razão do juízo que estabeleceram sobre os fatos narrados
14 -75
pelo Deputado Federal Luis Miranda, atribuíram ao Presidente da República Jair
Messias Bolsonaro uma omissão que caracterizaria, além de crime de
8
02 .96
7 5
diligências iniciais necessárias em um Inquérito sob a jurisdição
:21 48
do Supremo Tribunal Federai sobre a fração das apurações da
:06 5 Inq
Comissão Parlamentar de Inquérito trazida ao conhecimento da
Corte Constitucional pelos requerentes, com tramitação em
8-7
paralelo à investigação pela Casa Legislativa e as demais
02 .96
14
instâncias investigativas ordinárias”.
1/2 586
2-
E, ao final, decidiu:
7 5
petição”, porquanto direito de estatura constitucional, e determino
:21 48
a reabertura de vista dos autos à PGR, para que, oportunizando-
:06 5 Inq
Ihe nova manifestação nos limites de suas atribuições
constitucionais, adote as providências que julgar cabíveis”.
8-7
02 .96
14
Em nova manifestação, o Vice-Procurador-Geral da República solicitou
1/2 586
7 5
:21 48
Bolsonaro — o crime de prevaricação (CP, art. 319).
:06 Inq
Ou seja, não é objeto de investigação neste inquérito eventuais
14 -75
irregularidades, ilegalidades ou crimes envolvendo a negociação, a celebração ou
a execução do Contrato n° 29/2021, no âmbito do Ministério da Saúde ou no da
8
02 .96
objeto desta investigação policial é o ato (ou ausência dele), com aspecto jurídico-
1/0 5.
penal (CF, art. 5, II e XXXIX; CP, art. 1°) e administrativa (CF, art. 37, caput),
e evita-se, em investigações, de um lado, experimentos teóricos e malabarismos
interpretativos e, de outro, o uso do Estado-investigação - a Polícia Judiciária -
com vieses ideológicos ou políticos. Na investigação — conduzida por uma Polícia
de Estado -, ainda que os fatos e os meios de obtenção de provas sejam
complexos, é e sempre foi suficiente um juízo de valor de subsunção do fato-ato
(do mundo real) à norma do tipo penal (mundo jurídico).
7 5
Na aparência da prática de infração penal, o Ministério Público Federal
:21 48
indicou diligências que, como dito, são essenciais e suficientes para avaliar a
:06 Inq
viabilidade jurídica de se promover, ou não, a ação penal - segundo, neste caso,
14 -75
o procedimento estabelecido no art. 86, da Constituição Federal - sobre fato que,
em tese, caracterizaria o crime de prevaricação praticado pelo Presidente da
8
02 .96
3. DILIGÊNCIAS
7 5
(b) produzir provas, inclusive através de testemunhas, sobre:
:21 48
(b. 1) a prática do ato de ofício após o prazo estipulado ou o tempo
:06 Inq
normal para sua execução, com infração a expressa disposição
legal ou sua omissão;14 -75
(b.2) a competência dos supostos autores do fato para praticá-lo;
8
02 .96
INFORMAÇÕES E DOCUMENTOS:
7 5
:21 48
73)
(i) Resposta do Tribunal de Contas da União (fls. 463-468)
:06 Inq
(ii) Resposta do Ministério Público Federal/Procuradoria
14 -75
da República no Distrito Federal (fls. 469-470 — o conteúdo
é enviado por petição)
8
02 .96
522)
2-
1/0 5.
7 5
de perícia para extração de dados da conta de WhatsApp
:21 48
registrada no número + 1 407 800 7920 do Deputado Federal LUIS
:06 Inq
CLÁUDIO FERNANDES MIRANDA, nos limites (pessoas e
14 -75
período) estabelecidos no TERMO DE DEPOIMENTO POR
REGISTRO AUDIOVISUAL N° 3455164/2021 2021.0049857-
8
02 .96
480)
2-
petição)
: 3 r: 43
Em po
DEPOIMENTOS:
sso
75
7. Depoimento de Jonathas Diniz Vieira Coelho, Ajudante de
:21 48
Ordens da Presidência da República (fls. 560-562)
:06 Inq
JUNTADA DE DOCUMENTOS:
14 -75
8
1. Documentos apresentados por Emanuela Batista de Souza
02 .96
447)
4. Documentos apresentados por Jonathas Diniz Vieira Coelho
Em po
(fls. 564-584)
sso
14
Fl. 2018
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
Em 18/10/2021, a POLÍCIA FEDERAL solicitou a Vossa Excelência a
prorrogação do prazo para encerramento da investigação, uma vez que havia
necessidade de obter documentos de processos que, por ato administrativo ou por
lei, estavam/estão sob sigilo: os processos de contratação e de importação (caso
fossem diversos) da vacina Covaxin (Contrato n° 29/2021), junto ao Ministério
da Saúde e o processo de autorização de uso emergencial da vacina Covaxin junto
à Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
7 5
Após manifestação do Ministério Público Federal, Vossa Excelência
:21 48
deferiu a prorrogação do prazo e as diligências pleiteadas (1831-1837) e
:06 Inq
requisitou, diretamente, ao Diretor-Presidente da Agência Nacional de Vigilância
14 -75
Sanitária (fl. 1839) e ao Ministro de Estado da Saúde (fl. 1841) o envio dos
processos à POLÍCIA FEDERAL - os quais, em ambos os casos, aportaram no
8
02 .96
prazo estabelecido.
1/2 586
2-
(fls. 606-1830).
Im
5
de prazo (fl. 593):
7
:21 48
“(a) o encontro, no dia 20/03/2021, entre o Exmo. Sr. Presidente
:06 Inq
da República Jair Messias Bolsonaro, o Deputado Federal Luis
14 -75
Cláudio Fernandes Miranda e o servidor público Luis Ricardo
Fernandes Miranda, no Palácio da Alvorada; (b) o conteúdo das
8
02 .96
7 5
Não há dúvidas, igualmente, de que o Deputado Federal Luis Miranda
:21 48
e 0 servidor público Luis Ricardo, na ocasião, levaram ao conhecimento do
:06 Inq
Presidente da República Jair Messias Bolsonaro informações que, na visão
14 -75
deles, indicariam a ocorrência de irregularidades na execução do Contrato n°
29/2021, no âmbito do Ministério da Saúde.
8
02 .96
1/2 586
caso, no entanto - e no ponto que interessa para avaliar o fato -, uma das pessoas
: 3 r: 43
7 5
:21 48
Bolsonaro recebeu uma “denúncia” de que podería haver irregularidades na
execução do Contrato n° 29/2021. (Um esclarecimento: o Contrato n° 29/2021 foi
:06 Inq
celebrado em 25/02/2021, 25 dias antes do encontro; as possíveis irregularidades
14 -75
descritas pelo servidor público Luis Ricardo só chegaram ao seu conhecimento
no dia 18 ou 19/03/2021, pois, segundo ele declarou, “com relação ao Contrato n°
8
02 .96
19
Fl. 2022
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
Há duas versões sobre a conduta do Presidente da República Jair
Messias Bolsonaro após o dia 20/03/2021. Uma, a de que ele não agiu, pois não
acionou a POLÍCIA FEDERAL para a apuração dos fatos, antes deles se tomarem
públicos, em 18/06/2021 e 23/06/2021 - datas em que foram publicadas, por
veículos de comunicação diferentes, duas reportagens sobre as possíveis
irregularidades encontradas no contrato da vacina Covaxin; outra, a de que o
Presidente da República e o Governo Federal agiram exercendo o dever-poder de
controle dos seus próprios atos administrativos, anulando-os quando ilegais ou
7 5
revogando-os quando inconvenientes ou inoportunos o Contrato n° 29/2021
:21 48
celebrado entre a União e a empresa Precisa Comercialização de Medicamentos
:06 5 Inq
Ltda teve sua execução suspensa em 02/07/2021 e foi rescindido em 23/08/2021.
8-7
Não é aceitável, face à impossibilidade de produção de prova concreta
02 .96
14
sobre tal circunstância, optar por uma das versões.
1/2 586
2-
7 5
acusaçào não se desincumbem do dever de comprovar um fato-ato tipificado
:21 48
como infração penal, não podem, em substituição, valerem-se de experimentos
:06 Inq
teóricos, mesmo que engenhosos - como é o caso da “inferência para a melhor
14 -75
explicação” -, para indicar, direcionando, uma “hipótese” como sendo a “melhor
explicação”. Há que haver, ainda que por indícios, lastro probatório suficiente, e
8
02 .96
21
Fl. 2024
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
4. ANÁLISE TÉCNICO-JURÍDICA DO TIPO PENAL INCRIMINADOR:
ART. 319, DO CÓDIGO PENAL
7 5
ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
:21 48
satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três
:06 Inq
meses a um ano, e multa.
14 -75
Segundo os Senadores da República, diante do recebimento de
8
02 .96
22
Fl. 2025
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
Não há dúvidas de que o fato típico ou tipo penai incriminador
(primeiro elemento estrutural do conceito de crime) é a concretização, no mundo
real, do princípio da legalidade. Segundo Sérgio de Oliveira MÉDICI,
7 5
limitação ao arbítrio, decorrente do princípio da legalidade, está na
:21 48
definição das condutas consideradas penalmente relevantes, ou
:06 Inq
seja, por meio dos tipos penais'^ {Teoria dos tipos penais: parte
14 -75
especial do direito penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004,
p. 106).
8
02 .96
1/2 586
34).
pre
Im
Para que uma conduta seja considerada infração penal, ela precisa ser
adaptada a um tipo penal incriminador. Significa dizer que deve haver a
realização no mundo dos fatos de todos os elementos constitutivos, expressos ou
implícitos, objetivos e subjetivos, do tipo penal incriminador. Tais elementos nada
mais são do que as “referências que fazem (ou podem fazer) parteW descrição
típica, quando são delimitadas as condutas ilícitas do ponto de vista do direito
penal” (Mariângela Gama de Magalhães GOMES, op. cit., p. 43).
23
Fl. 2026
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
7 5
114; José Cirilo de VARGAS. Do tipo penal. 3^ ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
:21 48
2008, pp. 67-68).
:06 Inq
14 -75
Para a completude da compreensão da análise técnico-jurídica sobre o«
fatos aqui considerados são necessários alguns esclarecimentos sobre os
8
02 .96
7 5
ou de perseguições, vindo, com isso, não só a infringir a regra de
:21 48
competência, mas a provocar grave ofensa ao princípio de
:06 Inq
igualdade dos administrados perante a Administração, a qual tem
14 -75
a sua gênese no próprio plano constitucional que consagra a
igualdade de todos perante a lei” (O desvio de poder no ato
8
02 .96
particular.
7 5
encargo de perseguir a satisfação de um interesse ou de um direito
:21 48
que ultrapassa sua órbita própria individual. Como contrapartida
:06 Inq
da atribuição desse encargo, o sujeito recebe um poder jurídico,
14 -75
cujo conteúdo e delimitação dependem das circunstâncias e da
adequação à realização do fim imposto pelo direito.
8
02 .96
E que age, e, por isso, responde pelos desvios que consumar no exercício d^seus
poderes” (Waldo FAZZIO JÚNIOR, op. cit., p. 23).
7 5
órgãos públicos é também limitada por ele.
:21 48
:06 Inq
A regra de competência para a prática do ato é assim descrita por
José dos Santos CARVALHO FILHO: 14 -75
8
02 .96
7 5
da capacidade, no direito público a regra se inverte: não há
:21 48
presunção de competência administrativa; esta há de originar-
:06 Inq
se de texto expresso. Sendo a função administrativa subjacente
14 -75
à lei, é nesta que se encontra, de regra, a fonte da competência
administrativa. Consoante o ensinamento de todos quantos se
8
02 .96
7 5
condição especial do sujeito que realiza a conduta. Tais exigências restringem a
:21 48
possibilidade de imputação objetiva, já que a pessoa que não possui a qualidade
:06 Inq
ou condição exigida pelo tipo não pode violar a norma incriminadora que é
14 -75
subjacente ao tipo” (Fernando GALVÃO. Direito penal: parte geral. \A° ed. Belo
Horizonte, São Paulo: D’Plácido, 2021, p. 1170). É funcional porque só pode ser
8
02 .96
de participação.
2-
1/0 5.
O Código Penal define, em seu art. 327, o que se deva entender por
: 3 r: 43
7 5
Alt. 2®. Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público o
:21 48
agente político, o servidor público e todo aquele que exerce,
:06 Inq
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
14 -75
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas
8
02 .96
7 5
Roberto Wagner Battochio CASOLATO, “foi dada à atividade (função pública)
:21 48
que o agente exerce, não aos seus predicados formais de servidor público
:06 Inq
(legalizado titular de posto nos quadros do funcionalismo); ‘Não interessa que se
14 -75
trate ou não de um verdadeiro funcionário público, segundo o define o Direito
Administrativo, uma vez que nossa lei considerou menos a condição de
8
02 .96
funcionário público. Por isso, a norma penal conceituai prevista no art. 327, do
Em po
CP, diz que são considerados funcionários públicos, para os efeitos penais,
inclusive aqueles que, '''embora transitoriamente ou sem remuneração, exercem
sso
cargo, emprego ou função pública”. Essa norma penal (art. 327, CP) engloba
pre
75
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem
:21 48
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”. (...) O
:06 Inq
conceito de “funcionário público” deve ser, assim, ligado à noção
14 -75
ampla de função pública. Este, o critério prevalente ou moderno.
Consoante a lição de GAVAZZI, o conceito de funcionário
8
02 .96
accidens.
7 5
função pública, correspondente a cargo ou emprego público
:21 48
eletivo (membros do Poder Legislativo), de nomeação ou
:06 Inq
contratual, como também de mera situação de fato” {Lições de
14 -75
direito penal. 5® ed. Rio de Janeiro: Forense, 1986, v. 2, p. 385-
386).
8
02 .96
1/2 586
Sob tal panorama, não há qualquer dúvida sobre poder ser o ocupante
2-
7 5
por algumas vezes, à “condição funcional” do Presidente da República (e do Vice-
:21 48
Presidente da República): ele ocupa cargo. Veja-se:
:06 Inq
14 -75
Alt. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão
posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o
8
02 .96
7 5
Concluindo, a expressão “funcionários públicos” do art. 327, do CP
:21 48
abrange: agentes políticos, servidores públicos, empregados públicos,
:06 Inq
funcionários públicos, particulares em colaboração com a administração pública,
14 -75
agentes públicos de fato. Todos podem cometer atos de corrupção pública (Waldo
FAZZIO JÚNIOR, op. cit., p. 61).
8
02 .96
1/2 586
319.
Em po
de ofício.
Im
Ato de ofício é ato do ofício. Por isso, dever funcional. E como tal,
deve observar prévia regra legal de competência.
7 5
:21 48
funcional decorre de regra legal de competência.
:06 Inq
A notícia-crime. assim como o Relatório Final da Comissão
14 -75
Parlamentar de Inquérito do Senado Federal - CPIPANDEMIA, item 13.15 (fls.
1083-1084 — cujo conteúdo, neste ponto, em nada altera o contexto dos fatos
8
02 .96
7 5
a referendo do Congresso Nacional;
:21 48
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
:06 Inq
X - decretar e executar a intervenção federal;
14 -75
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional
por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação
8
02 .96
7 5
Nacional;
:21 48
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
:06 Inq
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que
14 -75
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele
permaneçam temporariamente;
8
02 .96
lei;
pre
art. 62;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
XXVIII - propor ao Congresso Nacional a decretação do estado de
calamidade pública de âmbito nacional previsto nos arts. 167-B,
167-C, 167-D, 167-E, I67-F e 167-G desta Constituição, v
Parágrafo único. O Presidente da República poderá deleg^ as
atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, prin eira
parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da Repimlica
38
Fl. 2041
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites
traçados nas respectivas delegações.
7 5
(leia-se: legal), decorrente de regra de competência do cargo, a prática de ato
:21 48
de ofício de comunicação de irregularidades pelo Presidente da República.
:06 Inq
14 -75
É legítimo, por certo, do ponto de vista da opinião pública, esperar que
a principal autoridade pública da República, numa situação como a que foi trazida
8
02 .96
sentimento pessoal.
39
Fl. 2042
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
5
7
das atribuições cometidas a pessoas administrativas, órgãos e
:21 48
agentes públicos. Mas a lei não é a fonte exclusiva da
:06 Inq
competência administrativa. Para órgãos e agentes de elevada
14 -75
hierarquia, ou de finalidades específicas, pode a fonte da
competência situar-se na própria Constituição” (op. cit., p.
8
02 .96
102).
1/2 586
2-
7 5
:21 48
Mais contundente, Cezar Roberto BITENCOURT diz:
:06 Inq
14 -75
“O objeto material do crime de prevaricação é o ‘ato de ofício’,
que é aquele que o funcionário público deve praticar em
8
02 .96
7 5
:21 48
“Como o tipo se refere a ‘ato de ofício’ entende Noronha que tal
:06 Inq
ato é ‘aquele que se compreende nas atribuições do funcionário,
14 -75
ou em sua competência’. Mirabete: ‘O objeto do tipo é o ato de
oficio', é necessário que o funcionário seja responsável pela
8
02 .96
7 5
ao âmbito da competência do agente público. O delito
:21 48
caracteriza-se pela infidelidade ao dever funcional e pela
:06 Inq
parcialidade em seu desempenho ... Ainda assim, é necessário
14 -75
ponderar que para caracterização da corrupção passiva
qualificada e da prevaricação o ato de ofício deve ser
8
02 .96
n° 7.492/86 (que define os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional), art. 23:
43
Fl. 2046
CGRC/DICOR/PF
2021.0049857
Na mesma linha de raciocínio, confirmando a não configuração do
crime de prevaricação pela ausência de ato de ofício decorrente de regra legal
de competência, novamente Luiz Regis PRADO:
7 5
especial próprio). Cabe registrar a observação de que o conceito
:21 48
de funcionário público é aquele previsto no art. 327 do Código
:06 Inq
Penal. É admissível a participação de particular, desde que este
14 -75
tenha conhecimento da condição especial do autor”. {Direitopenal
econômico. 8® ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, pp. 249-251).
8
02 .96
1/2 586
7 5
referir-se a ‘ato de ofício’ da competência do funcionário
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prevaricador e relacionado ao sistema financeiro nacional. Com
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efeito, para a configuração do crime de prevaricação especial,
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exige-se que o ato retardado ou omitido, indevidamente, ou
praticado contra expressa disposição de lei esteja compreendido
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se-á identificar outro crime, mas, com certeza, não este” {Crimes
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se o “ato” puder ser realizado por “qualquer pessoa do povo”, por exemplo,
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significa que o ato não é de ofício (do ofício, funcional). Por isso, algo semelhante
à previsão dó art. 5°, § 3°, do Código de Processo Penal, em regra, não é ato de
ofício. Diz o &t. 5°, § 3°, do CPP:
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Mas, sob uma condição, nada impede que um “ato comum”, como
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o acima mencionado, possa vir a ser um ato de ofício. A condição é a de que
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um tal ato, como qualquer ato de ofício, esteja previsto em lei como dever
funcional da função pública. 14 -75
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pode ser considerado um ato de ofício. E, como consequência, não haverá espaço
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do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários verificarem a
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ocorrência de crime definido em lei como de ação pública, ou
indícios da prática de tais crimes, informarão ao Ministério
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Público, juntando à comunicação os documentos necessários à
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apuração ou comprovação dos fatos”.
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7) A obrigatoriedade da Autoridade Policial, pela Lei
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Complementar n° 35/79, art. 33, parágrafo único, de “Quando, no
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curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte
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do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os
respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o
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fatos de que dispunha à época, requisitado a instauração das competentes
investigações para apurar a suspeita de nefasta corrupção no bojo das contratações
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do Ministério da Saúde” - é a criação interpretativa de regra de competência
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de “dever funcional geral”, seja no âmbito do regime jurídico-administrativo,
seja, por maior razão, no do regime jurídico-penal. Não é razoável impor, sem lei,
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público. A lei limita a sua atuação; a sua atuação, portanto, deve estar, antes,
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apuração ao Diretor-Geral da Polícia Federal, se houve solicitação de apuração ao
ex-Ministro de Estado da Saúde, se o ex-Ministro de Estado da Saúde solicitou a
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atuação do ex-Secretário-Executivo do Ministério da Saúde, se o ex-Secretário-
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Executivo do Ministério da Saúde exerceu o dever-poder de autotutela da
Administração Pública).
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5. CONCLUSÃO
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indícios de autoria)”.
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Ao encerrar o seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes faz referência
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a outros precedentes das duas Turmas, a demonstrar a convergência de
entendimento entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal:
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do art. 319, do CP, a POLÍCIA FEDERAL, com fundamento no art. 395, II, c/c o
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art. 397, III, do Código de Processo Penal, e no art. 231, § 4°, “c”, encerra as
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investigações e submete o resultado à apreciação de Vossa Excelência, Ministra
Relatora. 14 -75
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Respeitosamente,
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POLÍCIA FEDERAL
TERMO DE REMESSA
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