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SAÚDE DA MULHER

ACESSO
Originalmente descrito por “Primeiro Contato”, no âmbito do SUS, o acesso faz parte
das estratégias do acolhimento, que pode ser entendido por diferentes perspectivas,
tanto como um modo de organização do processo de trabalho para ampliação do acesso
e organização da demanda espontânea, assim como uma postura ético-política dos
profissionais, ao estabelecerem vínculo de cuidado com as usuárias, com respeito à
autonomia das pessoas e consideração das necessidades, desejos e interesses dos atores
envolvidos no cuidado.
Veremos que para as queixas ginecológicas tratadas neste curso, bem como vários
outros motivos de consulta, um acesso facilitado é fundamental. Muitas vezes por trás
de um problema que pode parecer simples, pode haver uma importante demanda em
saúde. Ou mesmo, uma queixa pode ser um problema grave de saúde.
ORIENTAÇÃO FAMILIAR
Na abordagem integral da mulher, aspectos relacionados a sua inserção familiar podem ter
grande relevância. Seja o ciclo gravídico puerperal, aspectos relacionados à vida conjugal (e
anticoncepção) e climatério.
Assim, o profissional da atenção básica deve estar atendo ao papel que a família exerce na saúde
da mulher e preparado para usar ferramentas de abordagem familiar no apoio integral à saúde da
mulher.

COORDENAÇÃO DO CUIDADO
As questões relacionadas a saúde da mulher podem ser complexas e/ou demandarem trabalho de
vários profissionais – seja equipe de enfermagem na prevenção do colo uterino; seja
necessidade de referência para outros níveis de atenção por conta de um câncer ginecológico, ou
ainda em casos de violência sexual.
Está se exercendo a coordenação do cuidado, portanto, por meio do um trabalho interdisciplinar
na atenção básica, utilizando-se de forma colaborativa e compartilhar de equipe do NASF que
contenha ginecologista, ou ainda fazendo parte da Rede de Atenção à Saúde.

ORIENTAÇÃO COMUNITÁRIA
O profissional da atenção básica deve estar atento aos aspectos relacionados a saúde do total das
mulheres no território onde atua. Ações que almejem a maior cobertura de exames preventivos
para câncer ginecológico (colo e mama) são necessários e devem considerar o perfil
epidemiológico de população e a indicadores específicos de mortalidade materno-infantil, por
exemplo.
Ações de educação em saúde também atingem maior contingente de mulheres e devem ser
realizadas respeitando os preceitos da prevenção quaternária; ou seja, que não provoquem danos
individuais por orientações e exames desnecessários.

LONGITUDINALIDADE
Cuidar das pessoas (das mulheres, neste caso) no decorrer da vida, independente da presença ou
não de doença, em qualquer faixa etária, é um dos grandes potenciais da atenção básica. Uma
criança, cuidada efetivamente durante seu desenvolvimento, virará uma adolescente que tem
suas demandas específicas, como abordagem da sexualidade e anticoncepção. Durante a
gravidez, puerpério, cuidado no climatério. Consultas de rotina, a equipe de saúde consolida o
vínculo com as mulheres, tendo grande potencial para ações preventivas, curativas e de
educação em saúde.

INTEGRALIDADE
A integralidade se expressa pela atenção à saúde das mulheres, sob a ótica da clínica ampliada,
com a oferta de cuidado à (e com a) pessoa, e não apenas a seu adoecimento. Isso inclui também
a prestação de cuidados abrangentes, que compreendem desde a promoção da saúde, a
prevenção primária, o rastreamento e a detecção precoce de doenças até a cura, a reabilitação e
os cuidados paliativos, além da prevenção de intervenções e danos desnecessários (prevenção
quaternária). Isto é, o alcance da integralidade na Atenção Básica pressupõe a superação da
restrição do cuidado às mulheres a ações programáticas por meio do desenvolvimento de ações
abrangentes de saúde e de acordo com as necessidades de saúde das usuárias (BRASIL, 2016).
Ademais, a consulta com a mulher pode trazer a tona aspectos íntimos e com forte
envolvimento de componente psicológico e emocional. Cuidar integralmente da mulher é dar
espaço para todas estas dimensões.

Conclusão

Vimos até aqui o quanto cada atributo da atenção básica está relacionado ao cuidado das
mulheres. Para além da questão conceituais, há aspectos práticos organizacionais do
funcionamento da atenção básica que determinam diretamente a qualidade dos serviços
prestados no que diz respeito ao cuidado das pessoas e, no caso deste curso, das mulheres. Por
exemplo: organização da demanda espontânea com possibilidade de exame ginecológico,
formato de anotação em prontuário (SOAP), estrutura para oferta de exames de colpocitologia
oncótica ou relação com RAS e possibilidade do trabalho da equipe de enfermagem para
manejo clínico de problemas comuns.

Para orientar as ações dos profissionais de saúde, a utilização de protocolos de atenção exerce
papel de destaque.

No que diz respeito à saúde da mulher, o Ministério da Saúde juntamente com o Hospital Sírio
Libanês publicou em 2016 o protocolo de atenção a saúde das mulheres (Link). O protocolo
cumpre uma função primordial de oferecer respaldo ético-legal para a atuação dostrabalhadores
da Atenção Básica, conforme disposto em suas atribuições comuns e específicas constantes na
PNAB, particularmente no que se refere aos profissionais de enfermagem. Compondo a equipe
mínima da Saúde da Família – juntamente com médico, técnicos em enfermagem e agentes
comunitários de saúde – e outras modalidades de equipes de Atenção Básica, enfermeiras e
enfermeiros desenvolvem atividades clínico-assistenciais e gerenciais, conforme as atribuições
estabelecidas na Portaria no 2.488/2011, obedecendo também à regulamentação do trabalho em
enfermagem, estabelecida pela Lei n° 7.498/1986 e pelo Decreto no 94.406/1987, bem como às
Resoluções do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) no 159/1993 e no 358/2009. A ênfase
aqui se justifica pelo fato de que, observadas as disposições legais da profissão, algumas de suas
atividades são referendadas pela existência de protocolos ou outras normativas técnicas
estabelecidas pelo gestor federal.

Este protoloco da atenção básica para Saúde das Mulheres destaca-se por levar em consideração
os seguintes apectos da atenção básica:

- Centralidade na importância do acesso que é descrito como “acolhimento com escuta


qualificada”, sempre a primeira categoria dos fluxogramas e quadro-síntese;

- Incorporação do conceito “motivo de contato”, descrito como motivo de consulta relacionados


à Classificação Internacional da Atenção Primária (CIAP);

- Valorização da metodologia de registro em prontuário baseado em problema. As categorias


dos quadros-síntese, dispostas nas linhas, foram inspiradas nas notas de evolução (Subjetivo,
Objetivo, Avaliação e Plano – SOAP), do modelo de Registro Clinico Orientado para o
Problema (RCOP) – também adotado pelo Ministério da Saúde no PEC do e-SUS AB.9, 10. O
SOAP é um modelo de registro em saúde adequado para o cuidado na Atenção Básica e para as
diferentes praticas profissionais, cuja estrutura reflete a complexidade dos cuidados básicos de
saúde (favorecendo a continuidade, a integralidade e a coordenação do cuidado), com destaque
para suas categorias de problemas e avaliação (não restritas às categorias de “doença” e
“diagnóstico”, respectivamente), bem como de plano de cuidados (em suas dimensões de
propedêutica, terapêutica, educativa e de seguimento/acompanhamento).

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