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Sumário
PROCESSO PENAL ......................................................................................................................... 6
Qual a origem das gerações do direito probatório? ................................................................. 6
O que se entende como direito probatório de 1ª geração? ..................................................... 6
O que se entende como direito probatório de 2ª geração? ..................................................... 6
O que se entende como direito probatório de 3ª geração? ..................................................... 6
Princípio da identidade física do juiz, à luz do novo CPC, continua sendo aplicado no
Processo Penal?......................................................................................................................... 6
Acordo de delação premiada firmada por delegado ofende a titularidade da ação penal
pública conferida ao MP?.......................................................................................................... 6
Condução coercitiva prevista no art. 260 CPP foi recepcionada? ............................................ 7
Há sanção no descumprimento de condução coercitiva? ........................................................ 7
É possível HC coletivo? .............................................................................................................. 7
Em relação à colaboração premiada, o delatado tem direito de impugná-la?......................... 7
A unificação das penas altera a data-base para concessão de benefícios executórios? .......... 8
Quais teorias fundamentam a limitação à prova ilícita por derivação? ................................... 8
DIREITO PENAL.............................................................................................................................. 8
Em que consiste a Teoria da Imputação Objetiva? ................................................................... 8
O que se denomina por Direito Penal Integral? ........................................................................ 9
O que estabelece a Teoria Agnóstica da Pena? ........................................................................ 9
O que se entende por Teoria do Domínio do Fato? .................................................................. 9
No contexto da Lei 12.015/09, como ficou a ação penal para os crimes contra a dignidade
sexual?....................................................................................................................................... 9
Como se verifica a aplicação da lei 12.015/09 no tempo? E da Lei 13.718/18? ..................... 10
Peculiaridades jurisprudências da Lei Maria da Penha ........................................................... 10
Princípio da Insignificância qual finalidade? Natureza Jurídica? Requisitos? Aplicação? ....... 11
É possível a responsabilidade penal da pessoa jurídica? ........................................................ 11
O art. 89 da lei 8666/93 exige dano? ...................................................................................... 12
Em que consiste a reserva de autolavagem? .......................................................................... 12
Quais as gerações da lei 9.613/98? ......................................................................................... 12
Defina a Teoria da Cegueira Deliberada: ................................................................................ 13
Quais etapas da lavagem de capitais? .................................................................................... 13
ECA .............................................................................................................................................. 14
É possível a execução provisória da medida socioeducativa? ................................................ 14
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 2
O art. 48 § 2º do Código Florestal, que exige que a compensação de Reserva legal seja
utilizada no mesmo bioma, é constitucional?......................................................................... 50
É compatível com o art. 225 da CF a relativização da proteção da vegetação nativa protetora
de nascentes para por exemplo gestão de resíduos ou para a realização de competições
esportivas (art. 3º, VIII, do Código Florestal)? ........................................................................ 50
Princípio do Estado Socioambiental: conjugação da justiça social, da realização dos direitos
humanos e fundamentais sociais e proteção do meio ambiente: o que se entende por
"Estado Socioambiental"? ....................................................................................................... 51
Poder de polícia em matéria ambiental: discricionário ou vinculado? Em matéria ambiental,
o poder de polícia é discricionário ou vinculado? ................................................................... 52
CDC .............................................................................................................................................. 53
Diálogo das Fontes: o que se entende por "teoria do diálogo das fontes"? .......................... 53
Diálogo das Fontes: essa teoria é aplicada pela jurisprudência? ............................................ 53
Tipos de consumidor e tipos de vulnerabilidade .................................................................... 54
Qual é a diferença entre as teorias finalista e maximalista? .................................................. 54
O que se entende por finalismo aprofundado? ...................................................................... 55
O que se entende por vulnerabilidade e quais são os tipos de vulnerabilidade? .................. 56
O que se entende por consumidor equiparado ou bystander? .............................................. 57
Teoria do adimplemento substancial: o que é a teoria do adimplemento substancial? ........ 57
Superendividamento o que se entende por superendividamento ?................................... 58
Teoria da quebra da base objetiva x teoria da imprevisão: qual é a diferença entre
onerosidade excessiva e lesão? .............................................................................................. 59
Qual é a diferença entre a teoria da quebra da base objetiva e a teoria da imprevisão? ...... 60
Desvio do tempo produtivo do consumidor: o que sustenta a Teoria do Desvio Produtivo do
Consumidor ?.......................................................................................................................... 60
PROCESSO CIVIL .......................................................................................................................... 62
O que se entende por legitimidade extraordinária negocial? ................................................ 62
Em casos de conflitos entre duas coisas julgadas que trataram do mesmo objeto, com
exaurimento do prazo da ação rescisória, qual delas deve prevalecer? ................................ 62
O que se entende fórum multiportas/sistema multiportas/tribunal multiportas? ................ 64
Defina arbitragem. Aborde, também, a diferença entre cláusula compromissória e
compromisso arbitral. ............................................................................................................. 64
O que se entende por coisa julgada progressiva?................................................................... 65
O Novo CPC colocou fim ao livre convencimento motivado? ................................................. 65
O se entende por precedente? Conceitue overriding, overruling e distinguishing. ............... 66
Trate brevemente sobre o art. 926 do CPC. Quais ferramentas práticas podem ser usadas
para maior aplicabilidade do dispositivo. ............................................................................... 68
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 5
PROCESSO PENAL
Princípio da identidade física do juiz, à luz do novo CPC, continua sendo aplicado no Processo
Penal?
Sim, embora não haja mais a previsão da identidade física do juiz na lei processual civil, no que
tange o art. 399, §2º, do CPP nada mudou. Sendo admitidas as exceções no art. 132, caput, do
CPC/73, por analogia, de acordo com art. 3º, do CPP, ainda que aquele dispositivo não encontre
correspondência no CPC/15.
Acordo de delação premiada firmada por delegado ofende a titularidade da ação penal pública
conferida ao MP?
O STF considerou constitucionais os trechos dos §§ 2º e 6º do art. 4º da Lei nº 12.850/2013 que
preveem a possibilidade de o Delegado de Polícia celebrar acordo de colaboração premiada. Não
há, portanto, ofensa ao art. 129, I, da Constituição Federal. Embora o Ministério Público seja o
titular da ação penal de iniciativa pública, ele não é o titular do direito de punir. O direito de punir é
uma manifestação do Poder Judiciário.
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 7
É possível HC coletivo?
Sim, para o STF, apesar de não haver uma previsão expressa no ordenamento jurídico, existem dois
dispositivos legais que, indiretamente, revelam a possibilidade de habeas corpus coletivo. Trata-se
do art. 654, § 2º e do art. 580, ambos do CPP.
Dentre as teses acolhidas pelo STF estão: a existência de inúmeras mulheres cumprindo prisão
preventiva em situações degradantes; reconheceu-se a existência, no Poder Judiciário, de uma
cultura do encarceramento que significa a imposição exagerada e irrazoável de prisões a
mulheres pobres e vulneráveis; os cuidados com a mulher presa não se direcionam apenas a ela,
mas igualmente aos seus filhos, em flagrante contrariedade ao art. 227, da CF/88; deve-se dar
estrito cumprimento a lei 13.250/16, em especial a nova redação dada por ele ao art. 318, IV e V, do
CPP.
DIREITO PENAL
ações perigosas que coloquem em risco bens jurídicos); o risco criado deve ser proibido pelo
Direito, pois comportamentos que criam riscos permitidos não realizam tipo algum; o risco foi
realizado no resultado, sendo que só haverá realização do risco se a proibição da conduta for
justificada para evitar a lesão de determinado bem jurídico por meio de determinado curso causal,
os quais venham efetivamente ocorrer. A causalidade é normativa, não basta a mera relação de
causa e efeito. Fala-se, por essa razão em Direito Penal Quântico, caracterizado pela presença da
relação de causalidade normativa e da tipicidade material.
No contexto da Lei 12.015/09, como ficou a ação penal para os crimes contra a dignidade sexual?
Antes da Lei 12.015/09, em regra, a ação era penal privada. Após o advento da referida lei, os
crimes contra a dignidade sexual passam a estar sujeitos a ação pública condicionada à
representação do ofendido, com exceção no caso da vítima ser menor de 18 anos ou vulnerável,
quando a ação será pública incondicionada. Diante desse cenário, o ponto polêmico dizia respeito à
ação penal nos crimes contra a dignidade sexual que resultassem lesão corporal grave ou morte.
Antes da alteração de 2018, a ação penal para esses crimes era pública condicionada à
representação do ofendido. O que gerava uma grave distorção, porquanto a vítima, vindo a falecer,
sem deixar sucessor, não teria como oferecer representação. Assim, foi ajuizada a ADI 4301, pela
Procuradoria Geral da República, contra a redação do art. 225 do CP, por violação aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. Até o momento, não houve qualquer julgamento pelo STF.
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 10
Contudo, 25/09/2018, com o advento da Lei 13.718/18, houve novamente uma alteração no
art. 225 do CP: agora, procede-se mediante ação penal pública incondicionada para todos os
crimes contra a dignidade sexual.
Inf. 741 do STF: É INCONSTITUCIONAL lei estadual que prevê prioridade na tramitação para
processos envolvendo mulher vítima de violência doméstica. A fixação de prioridades na tramitação
dos processos judiciais é matéria de Direito Processual, cuja competência é privativa da União (art.
22, I, CF/88);
Inf. 574 do STJ: Cabimento de HC para questionar a legalidade de medida protetiva da Lei
Maria da Penha. Cabe habeas corpus para apurar eventual ilegalidade na fixação de medida
protetiva de urgência consistente na proibição de aproximar-se de vítima de violência doméstica
e familiar
Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 4.424, o STF deu interpretação conforme a
Constituição aos arts. 12, I, 16 e 41, todos da Lei 11.340/06, para assentar a natureza
incondicionada da ação penal em casos de lesão corporal leve e/ou culposa envolvendo violência
doméstica e familiar contra a mulher.
tipicamente humanas. Sendo assim, não podem ser responsabilizadas criminalmente, pois não há
capacidade de conduta (não têm dolo ou culpa) nem agem com culpabilidade. Além do que as
penas têm por finalidades prevenir crimes e reeducar o infrator (prevenção geral e especial, positiva
e negativa), impossíveis de serem alcançadas em relação às pessoas jurídicas. Adotam essa
corrente: Pierangelli, Zafaroni, René Ariel Dotti, Luiz Regis Prado.
2ª corrente: contudo, para os Tribunais Superiores é possível a responsabilização penal da
pessoa jurídica em relação aos crimes ambientais, porque assim determinou o § 3º do art. 225 da
CF/88. Ademais, a pessoa jurídica pode ser responsabilizada independente da pessoa física, não se
adota mais a Teoria da Dupla Imputação.
qualquer infração penal pode ser antecedente da lavagem. Ex.: Espanha, Argentina e Brasil. Hoje, a
Lei n.º 9.613/98 integra a 3ª geração das leis, em face das alterações produzidas pela Lei nº
12.683/12.
ECA
A técnica de julgamento do art. 942, do CPC é aplicada no caso de apelação não unânime em
processo no qual se apura a prática de ato infracional por adolescente?
Tendo em vista que o art. 198 do ECA, permite aplicação do sistema recursal previsto no CPC e esse
prevê a técnica de complementação do julgamento (art. 942), isso deverá ser também aplicado para
os recursos do ECA (5ª turma do STJ). Contudo, se a decisão não unânime foi favorável ao
adolescente infrator não se deve aplicar o art. 942 (6ª turma do STJ).
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 15
Procedimento de oitiva
estruturada de criança de ou
Conceito Procedimento de entrevista.
adolescente vítima ou testemunha
de violência.
CONSTITUCIONAL
Quais são as restrições aos direitos fundamentais? Quais são as teorias externa, interna, subjetiva
e objetiva dos direitos fundamentais? O que é a teoria dos limites dos limites?
Segundo Ingo Sarlet é certo que todo direito fundamental possui um âmbito de proteção (um
campo de incidência normativa ou suporte fático, como preferem outros) e todo direito
fundamental ao menos em princípio está sujeito a intervenções neste âmbito de proteção . O
entendimento de como essas restrições se relacionam com os direitos restringidos pode ser
direcionado por duas teorias distintas: a teoria interna e a teoria externa.
Para a TEORIA EXTERNA, os direitos fundamentais possuiriam, a priori, uma amplitude
ilimitada. Assim, apenas com a imposição de restrições exógenas (que poderiam derivar
diretamente da Constituição ou de leis editadas com fundamento em permissivo constitucional)
aquele direito primitivo, com potencial defensivo imensurável, tornar-se-ia, agora, um direito
fundamental limitado. Sob a ótica desta teoria, a concepção de direito fundamental não se
relaciona naturalmente com a ideia de restrição, a qual consistiria em categoria distinta, cuja
atuação se daria em momento posterior ao nascimento do direito, com a finalidade de adequá-lo
aos interesses sociais e coletivos ou a outros direitos fundamentais de igual hierarquia. Tendo em
vista esta visão um tanto talhadora em relação à natureza da tarefa delimitadora do âmbito de
proteção daqueles direito, podemos afirmar que esta teoria carrega certa carga valorativa presente
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 16
1
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4ª edição. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 349 e seguintes .
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 17
Os adeptos da chamada teoria absoluta entendem o núcleo essencial dos direitos fundamentais
como unidade substancial autônoma que, independentemente de qualquer situação concreta,
estaria a salvo de eventual decisão legislativa. Essa concepção adota uma interpretação material
segundo a qual existe um espaço interior livre de qualquer intervenção estatal. Em outras palavras,
haveria um espaço que seria suscetível de limitação por parte do legislador e outro que seria
insuscetível de limitação. Neste caso, além da exigência de justificação, imprescindível em qualquer
hipótese, ter-se-ia um "limite do limite" para a própria ação legislativa, consistente na
identificação de um espaço insuscetível de regulação. O STF já teve oportunidade de lidar com a
matéria em pelo menos três oportunidades: 1) No voto do Ministro Rodrigues Alckmin na
Representação nº 930 sobre a liberdade de conformação do legislador, ainda sob a égide da
Constituição de 67/69; 2) No HC nº 82.959, cuja relatoria coube ao Ministro Marco Aurélio,
oportunidade em que o STF trilhou entendimento no sentido de que a imposição de regime
integralmente fechado para cumprimento de condenação nos crimes hediondos configuraria lesão
ao princípio do núcleo essencial; 3) Na ADC nº 29/DF, julgada em 16/02/2012, que cuidou da Ficha
Limpa.
Os sectários da chamada teoria relativa entendem que o núcleo essencial há de ser definido para
cada caso, tendo em vista o objetivo perseguido pela norma de caráter restritivo. O núcleo
essencial seria aferido mediante a utilização de um processo de ponderação entre meios e fins com
base no princípio da proporcionalidade.
3
https://www.dizerodireito.com.br/2017/12/stf-muda-sua-jurisprudencia-e-adota.html e https://www.joaolordelo.com/single-post/2018/01/09/Afinal-o-STF-
adotou-a-teoria-da-abstrativiza%C3%A7%C3%A3o-do-controle-difuso-ou-da-transcend%C3%AAncia-dos-motivos-determinantes-ADI-3406RJ-e-ADI-3470RJ-Rel-Min-
Rosa-Weber-julgados-em-29112017-Info-886
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 20
Com relação à eficácia dos direitos fundamentais, qual o conceito de eficácia: vertical, horizontal,
diagonal e vertical com repercussão lateral?
Eficácia VERTICAL: consiste na aplicação dos direitos fundamentais às relações entre Estado e
particulares. Relação de subordinação que o particular tem com o Estado. Quando os direitos
fundamentais foram criados, eles eram aplicados somente a essa relação, para proteger os
particulares do arbítrio do Estado.
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 22
Leitura de apoio5.
Qual é a crítica de Virgílio Afonso da Silva com relação aos métodos e princípios de interpretação
constitucional?
O sincretismo metodológico, característico do atual estágio da discussão sobre interpretação
constitucional, impede que se avance na discussão acerca da tarefa da interpretação constitucional.
Comum às análises sobre o tema é o fato de que esses métodos sejam apenas resumidamente
explicados, não raro com base apenas na obra de Canotilho sem que se chegue a qualquer
conclusão sobre a relação entre os diversos métodos, sua aplicabilidade e, principalmente, sobre a
compatibilidade entre eles. Assim, não é de se estranhar que, em trabalhos sobre métodos e
princípios de interpretação constitucional, não costumam ser usados exemplos concretos de sua
possível aplicação prática.
As análises costumam limitar-se a expor a ideia teórica central de cada método. Isso é obviamente
insuficiente, pois métodos não são um fim em si mesmos, mas existem para serem aplicados. Por
que, então, não se encontram análises jurisprudenciais concretas com base nesse ou naquele
método, isto é, por que não são utilizados exemplos concretos da jurisprudência do STF - ou de
outros tribunais - para que seja exposto como tais casos teriam sido decididos se tivesse sido usado
esse, aquele ou um conjunto de métodos? Talvez porque essa demonstração seja impossível.
Sincretismo metodológico seria a utilização conjunta - ou a ideia de que essa possibilidade existe -
da teoria estruturante do direito e do sopesamento de direitos fundamentais. Para tanto, será
utilizada a teoria dos direitos fundamentais de Alexy.
Segundo Müller, a racionalidade e a possibilidade de controle intersubjetivo na interpretação e na
aplicação do direito só são possíveis por intermédio de uma concretização da norma jurídica após
árdua análise e delimitação do âmbito de cada norma. Depois dessa árdua tarefa, não há espaço
para colisões, porque a norma simplesmente se revela como não-aplicável ao caso concreto e não
se vê envolvida, portanto, em nenhuma colisão jurídica relevante. Logo, sem colisão, não há razão
para sopesamento. O suporte fático de cada direito fundamental é bastante restrito.
Já a ideia subjacente à teoria dos direitos fundamentais de Robert Alexy funda-se em premissa
bastante diversa. Alexy defende a tese de que os direitos fundamentais têm um suporte fático
amplo. Isso significa, principalmente, que toda situação que possui alguma característica que,
isoladamente considerada, poderia ser subsumida à hipótese de incidência de um determinado
direito fundamental, deve ser considerada como abrangida por seu suporte fático,
independentemente da consideração de outras variáveis.
Não parece ser fácil defender, ao mesmo tempo, as teorias de Müller e Alexy, simplesmente porque
ambas partem de concepções irreconciliáveis acerca da definição dos deveres prima facie e
definitivo de cada direito fundamental. Müller defende que a definição do âmbito de proteção de
5
http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-teoria-constitucional-e-a-morte-do-carater-dirigente-e-compromissorio-pressupostos-para-uma-teoria-da-
consti,33599.html e https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5615/A-noticiada-morte-da-constituicao-dirigente e https://www.diritto.it/constituicao-dirigente-
e-sua-possivel-morte-frente-ao-pensamento-de-j-j-canotilho/
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 24
cada direito fundamental é feito de antemão, por intermédio dos procedimentos e métodos de sua
teoria estruturante e, principalmente sem a necessidade de sopesamento, enquanto Alexy defende
que não há decisões corretas no âmbito dos direitos fundamentais que não sejam produto de um
sopesamento.
No Brasil, contudo, ambas as teorias vem sendo defendidas como se fossem compatíveis entre si.
Diante disso, há o apego a uma lista de métodos e princípios de interpretação constitucional, de
caráter meramente formal, impossível de ser colocada em prática conjuntamente, já que
pretende misturar o imisturável. Assim, apenas emperra qualquer possibilidade de discussão real
sobre o assunto e a elaboração de métodos ou critérios que sejam adequados e, mais importante,
realmente aplicáveis à interpretação constitucional em geral, e da constituição brasileira em
particular.
Leitura de apoio6.
Estado Democrático de Direito e resgata determinados segmentos sociais vulneráveis por meio de
medidas de compensação.
Ocorre que, em algumas oportunidades, o Estado tem boas intenções ao elaborar determinado
diploma normativo. No entanto, o exercício cotidiano da legislação revela inconsistências em
relação ao princípio da igualdade em seu formato substancial. A lei termina por discriminar, de
modo indireto, determinado grupo vulnerável. Cuida-se da chamada DISCRIMINAÇÃO INDIRETA
Essa consequência, também reveladora da teoria do duplo efeito (São Tomás de Aquino), foi
chamada de Te ia d Im ac De ci al
Segundo o ministro aposentado Joaquim Barbosa, a teoria do impacto desproporcional consiste em:
Toda e qualquer prática empresarial, política governamental ou semigovernamental, de cunho
legislativo ou administrativo, ainda que não provida de intenção discriminatória no momento de
sua concepção, deve ser condenada por violação do princípio constitucional da igualdade material
se, em consequência de sua aplicação, resultarem efeitos nocivos de incidência especialmente
de ci al b e ce a ca eg ia de e a .
A teoria também constou da petição inicial da ADI 4424, que tratou de disposições da Lei
11.340/2006, Lei Maria da Penha, cuja aplicação, tal qual aprovada na origem, implicaria
discriminação indireta em relação às mulheres. Apenas para mencionar um exemplo, a inicial da
ADI abordou a situação de constrangimento da mulher em ter de fazer representação para fins de
processamento da ação penal, quando, na verdade, a ação penal incondicionada seria melhor
alternativa para resguardar a integridade física da agredida.
George Marmelstein resume a lógica do efeito backlash ao ativismo judicial: Em uma matéria
que divide a opinião pública, o Judiciário profere uma decisão liberal, assumindo uma posição de
vanguarda na defesa dos direitos fundamentais. (2) Como a consciência social ainda não está bem
consolidada, a decisão judicial é bombardeada com discursos conservadores inflamados, recheados
de falácias com forte apelo emocional. (3) A crítica massiva e politicamente orquestrada à decisão
judicial acarreta uma mudança na opinião pública, capaz de influenciar as escolhas eleitorais de
grande parcela da população. (4) Com isso, os candidatos que aderem ao discurso conservador
costumam conquistar maior espaço político, sendo, muitas vezes, campeões de votos. (5) Ao vencer
as eleições e assumir o controle do poder político, o grupo conservador consegue aprovar leis e
outras medidas que correspondam à sua visão de mundo. (6) Como o poder político também
influencia a composição do Judiciário, já que os membros dos órgãos de cúpula são indicados
politicamente, abre-se um espaço para mudança de entendimento dentro do próprio poder
judiciário. (7) Ao fim e ao cabo, pode haver um retrocesso jurídico capaz de criar uma situação
normativa ainda pior do que a que havia antes da decisão judicial, prejudicando os grupos que,
supostamente, seriam beneficiados com aquela decisão 7.
O e e e e de E ad de C i a I c i ci al
Ocorre quando se verifica a existência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de
direitos fundamentais, causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das
autoridades públicas em modificar a conjuntura, de modo que apenas transformações estruturais
da atuação do Poder Público e a atuação de uma pluralidade de autoridades podem alterar a
situação inconstitucional. A ideia de que pode existir um Estado de Coisas Inconstitucional e que a
Suprema Corte do país pode atuar para corrigir essa situação surgiu na Corte Constitucional da
Colômbia, em 1997, com a chamada "Sentencia de Unificación (SU)". Foi aí que primeiro se utilizou
essa expressão.
Pressupostos (Carlos Alexandre de Azevedo Campos): a) vulneração massiva e generalizada de
direitos fundamentais de um número significativo de pessoas; b) prolongada omissão das
autoridades no cumprimento de suas obrigações para garantia e promoção dos direitos; c) a
superação das violações de direitos pressupõe a adoção de medidas complexas por uma
pluralidade de órgãos, envolvendo mudanças estruturais, que podem depender da alocação de
recursos públicos, correção das políticas públicas existentes ou formulação de novas políticas,
dentre outras medidas; e d) potencialidade de congestionamento da justiça, se todos os que
tiverem os seus direitos violados acorrerem individualmente ao Poder Judiciário.
O ECI gera um litígio estrutural ou seja existe um número amplo de pessoas que são atingidas
pelas violações de direitos. Diante disso, para enfrentar litígio dessa espécie, a Corte terá que fixar
remédios estruturais voltados à formulação e execução de políticas públicas, o que não seria
possível por meio de decisões mais tradicionais. A Corte adota, portanto, uma postura de ativismo
judicial estrutural diante da omissão dos Poderes Executivo e Legislativo, que não tomam medidas
concretas para resolver o problema, normalmente por falta de vontade política.
7
Disponível em: https://direitosfundamentais.net/2015/09/05/efeito-backlash-da-jurisdicao-constitucional-reacoes-politicas-a-atuacao-judicial/
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 27
O reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional é uma técnica que não está expressamente
prevista na Constituição ou em qualquer outro instrumento normativo e, considerando que
"confere ao Tribunal uma ampla latitude de poderes, tem-se entendido que a técnica só deve ser
manejada em hipóteses excepcionais, em que, além da séria e generalizada afronta aos direitos
humanos, haja também a constatação de que a intervenção da Corte é essencial para a solução do
gravíssimo quadro enfrentado São casos em que se identifica um bloqueio institucional para a
garantia dos direitos, o que leva a Corte a assumir um papel atípico, sob a perspectiva do princípio
da separação de poderes, que envolve uma intervenção mais ampla sobre o campo das políticas
públicas" (trecho da petição inicial da ADPF 347).
Em maio de 2015, o Partido Socialista e Liberdade (PSOL) ajuizou ADPF pedindo que o STF declare
que a situação atual do sistema penitenciário brasileiro viola preceitos fundamentais da
Constituição Federal e, em especial, direitos fundamentais dos presos.
Liminar. O STF ainda não julgou definitivamente o mérito da ADPF, mas já apreciou o pedido de
liminar. O que a Corte decidiu? O STF reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um
"Estado de Coisas Inconstitucional", com uma violação generalizada de direitos fundamentais dos
presos. As penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e
desumanas. Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três
Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-Membros e do
Distrito Federal. A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes
representa uma verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da
perpetuação e do agravamento da situação. Diante disso, o STF, em ADPF, concedeu parcialmente
medida cautelar determinando que: (1) juízes e Tribunais de todo o país implementem, no prazo
máximo de 90 dias, a audiência de custódia; (2) a União libere, sem qualquer tipo de limitação, o
saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização na finalidade para a qual foi
criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos. STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015 (Info 798).
HUMANÍSTICA
pragmatismo é uma teoria sobre a atividade judicial. Percebe-se, então, que o Pragmatismo Jurídico
se vale, enquanto técnica de decisão, de metodologia comparativo-consequencialista. Dito método
implica em que se proceda ao cotejo entre as possíveis hipóteses de solução de um caso específico
e os seus respectivos desdobramentos, as suas consequências de ordem prática no contexto social.
Disto decorre que, em razão dos possíveis efeitos da decisão, o operador deverá buscar em outras
fontes do conhecimento, que não só o jurídico, os parâmetros e fundamentos para sua decisão.
DIREITO TRIBUTÁRIO
O e e e e de c d di ei
Os Custos dos Direitos Por que a liberdade depende dos tributos (The Cost of Rights Why
liberty depend on Taxes), de Stephen Holmes e Cass Sunstein é provavelmente um dos mais
importantes livros de Direito e políticas públicas publicado nos Estados Unidos no fim do século
passado. Stephen Holmes leciona em Nova Iorque (New York University Law School) e Cass
Sunstein é professor em Chicago (University of Chicago). Ainda que seus autores tenham derivado
e avançado para outros campos temáticos, persiste, como livro de referência, esse
interessantíssimo texto. Holmes e Sunstein influenciaram vários pesquisadores brasileiros, a
exemplo de Cristiano Carvalho, Paulo Caliendo, Flávio Galdino e Gustavo Amaral.
ministro Gilmar Mendes e publicada em Porto Alegre por Sérgio Antonio Fabris. Para Holmes e
Sunstein direitos são serviços públicos que o Governo presta em troca de tributos .
O argumento central do livro é o de que direitos custam dinheiro é que direitos não podem
ser protegidos sem apoio e fundos públicos . Holmes e Sunstein, para efeitos do livro aqui
estudado, tratam dos custos enquanto custos orçamentários e de direitos como interesses que
podem ser protegidos por indivíduos ou grupos mediante o uso de instrumentos governamentais
Direitos somente existiriam quando efetivamente passíveis de proteção.
No art. 3º, a CF elenca os objetivos fundamentais da RFP como sendo a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária, a garantia do desenvolvimento nacional, a erradicação da
pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais, e a promoção do
bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.
Destaca-se, por sua relação com a tributação, o princípio da solidariedade e a promoção do bem
comum. Nesse sentido, torna-se relevante o apontamento, ao lado do extenso rol de direitos
fundamentais, dos deveres fundamentais, que com aqueles se relacionam em maior ou menor
grau.
Nabais, apesar de defender a autonomia dos deveres fundamentais, afirma que eles gravitam
forçosamente em torno dos direitos fundamentais, permitindo concluir pela existência de
relacionamento entre direitos e deveres, apesar de isso não se dar de forma direta.
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 31
Fontes8.
É legal a cobrança de ICMS sobre a energia elétrica? Qual é o entendimento do STJ em relação a
esse assunto (TUSD/TUST)?
A legalidade da inclusão da Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão (Tust) e da Tarifa de Uso do
Sistema de Distribuição (Tusd) de energia elétrica na base de cálculo do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) será definida pela Primeira Seção do STJ, em julgamento
submetido ao rito dos recursos repetitivos.
Trata-se de matéria controversa. Em março de 2017, a Primeira Turma do STJ decidiu pela
legalidade do ICMS na Tusd, cobrada nas contas de grandes consumidores que adquirem a energia
elétrica diretamente das empresas geradoras. Na ótica da 1ª Turma do STJ, a legalidade da
incidência do ICMS reside sob os seguintes argumentos: (i) indivisibilidade - não é possível fazer a
divisão de etapas do fornecimento (geração, transmissão e distribuição) de energia para fins de
incidência do ICMS; e (ii) impacto financeiro - a exclusão da TUSD da base de cálculo do ICMS
causará impacto financeiro aos cofres dos Estados.
Por maioria, a turma entendeu que é impossível separar a atividade de transmissão ou distribuição
de energia das demais, já que ela é gerada, transmitida, distribuída e consumida
simultaneamente.
Súmula 166 Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um
para outro estabelecimento do mesmo contribuinte.
Súmula 391 O ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia elétrica correspondente à demanda
8
http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,breves-apontamentos-sobre-o-dever-fundamental-de-pagar-tributos,51601.html e https://www.conjur.com.br/2013-
abr-07/embargos-culturais-holmes-sunstein-demonstram-custo-financeiro-direitos
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 32
Destaca-se que a justificativa da 1ª Turma do STJ de que está aplicando uma nova interpretação às
súmulas não merece prosperar, pois essas súmulas foram editadas com base em decisões judiciais
que afastam a incidência da TUSD/TUST na base de cálculo do ICMS.
Portanto, a conclusão inarredável é que, como já apontado, a saída da energia, para fins de
apuração do ICMS, ocorre no momento em que há, efetivamente, o consumo pelo consumidor
(livre ou cativo denominado pelo STJ de consumidor tradicional), pois as etapas de geração,
transmissão, distribuição e consumo ocorrem de forma independente e com custos cuja finalidade
visa remunerar outras atividades.
De acordo com o exposto, considerando o teor das Súmulas 166 e 391 do STJ, conclui-se:
b) disposição da Súmula 391 do STJ: o ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia elétrica (não
sobre toda ela) correspondente à demanda de potência efetivamente utilizada (efetivamente
consumida ou seja rubrica da TE (energia elétrica) ou contrato bilateral com
Gerador/Comercializador).
Fontes.9
9
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunicação/noticias/Notícias/Repetitivo-vai-definir-legalidade-do-ICMS-sobre-Tust-e-Tusd
https://www.conjur.com.br/2018-jan-04/urias-neto-incidencia-icms-tarifa-energia-ilegal
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 33
Não apenas o contribuinte ostenta capacidade colaborativa que o habilita a emitir documentos e
prestar declarações sobre os tributos devidos. Terceiros que não ocupam o polo ativo nem o polo
passivo da relação contributiva, mas que de algum modo se relacionam com os contribuintes,
testemunhando ou mesmo participando da realização dos fatos geradores, também poderão ter
evidenciada sua capacidade de colaboração com a administração tributária. As pessoas que
dispuserem de informações valiosas para a fiscalização tributária, por exemplo, podem ser
obrigadas a prestá-las ao Fisco. É o caso das empresas administradoras de cartões de crédito
relativamente às operações realizadas pelos seus clientes. Também é a situação dos conselhos de
fiscalização profissional relativamente à lista dos profissionais habilitados que são contribuintes do
imposto sobre serviços. O art. 128 do CTN, ao dizer da possibilidade de a lei atribuir a
responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa adverte vinculada ao fato gerador da
respectiva obrigação Esse requisito consubstancia justamente a exigência de capacidade de
colaboração. Só quem está vinculado ao fato gerador e, portanto, dele tem conhecimento,
relacionando-se com o contribuinte, é que tem condições de colaborar com a administração
tributária e, eventualmente, por descumprir tais deveres, ensejando dano ao Fisco, ser colocado
como garantidor do crédito tributário.
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 34
A tarifa (preço público) está sujeita a um regime jurídico de direito privado. Não é uma espécie
tributária; trata-se de receita originária. É um ato de vontade bilateral, que independe de lei,
sendo instituída por contrato. É dotada de voluntariedade. Não se submete ao princípio da
anterioridade nem aos demais princípios tributários. Sua cobrança só ocorre com o uso do serviço.
Ex.: serviço de fornecimento de água.
Súmula 545 - STF: Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas,
diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização
orçamentária, em relação à lei que as instituiu.
Para a 1ª corrente, defendida por Roque Antônio Carrazza, Luciano Amaro e Leandro Paulsen,
trata-se de taxa. Isso porque a CF/88 fala sobre pedágio no art. 150, que trata das limitações
constitucionais ao poder de tributar. Além disso, o pedágio seria o pagamento pela utilização de
um serviço específico ou divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição, conceito
coincidente com o de taxa; e não seria possível remunerar os serviços públicos por outro meio que
não fosse a taxa. Sendo uma espécie de tributo, só seria possível a sua instituição e reajuste por
meio de lei, estando sujeito ao princípio da legalidade estrita.
Para a 2ª corrente, defendida por Ricardo Lobo Torres e Sacha Calmon, trata-se de tarifa (preço
público). A posição topográfica na CF/88 não é determinante para a definição da natureza jurídica
do pedágio; o que a CF quis dizer é que apesar de não incidir tributo sobre o tráfego de pessoas ou
bens, poderia ser cobrado o pedágio, espécie jurídica diferenciada. Além disso, o pedágio somente
pode ser cobrado pela utilização efetiva do serviço. Não é possível sua cobrança em caso de
utilização potencial. Logo, não se enquadra no conceito. Assim, seria possível remunerar serviços
públicos por meio de tarifa, desde que esses serviços não sejam de utilização compulsória. No
caso, a utilização de rodovias não é obrigatória. A pessoa pode optar por não utilizar. Como não é
tributo, o pedágio poderia ser instituído e reajustado por meio de atos infralegais, pois não estaria
sujeito ao princípio da legalidade estrita.
Para a 3ª corrente, defendida por Andrei Pitten Velloso, se houver via alternativa, trata-se de
tarifa; se não houver via alternativa, trata-se de taxa. Isso porque, caso não haja via alternativa, o
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 35
Qual é o entendimento adotado pelo STF? O STF, na ADI 800/RS (julgado em 11/6/2014)
entendeu que pedágio é tarifa (espécie de preço público) em razão de não ser cobrado
compulsoriamente de quem não utilizar a rodovia, ou seja, é uma retribuição facultativa paga
apenas mediante o uso voluntário do serviço. Assim, o pedágio não é cobrado indistintamente das
pessoas, mas somente daquelas que desejam trafegar pelas vias e somente naquelas em que é
exigido esse valor a título de conservação.
DIREITO ADMINISTRATIVO
Fontes.10
Controle judicial dos atos administrativos, doutrina Chenery, doutrina Chevron, conceitos
jurídicos indeterminados = discricionariedade? O que defende a doutrina Chenery?
A doutrina Chenery Chenery doctrine) surgiu a partir de um julgamento da Suprema Corte
norteamericana (SEC v. Chenery Corp., 318 U.S. 80, 1943). Segundo essa teoria, o Poder Judiciário
não pode anular um ato político adotado pela Administração Pública sob o argumento de que ele
não se valeu de metodologia técnica. Isso porque, em temas envolvendo questões técnicas e
complexas, os Tribunais não gozam de expertise para concluir se os critérios adotados pela
Administração são corretos ou não. Assim, as escolhas políticas dos órgãos governamentais, desde
que não sejam revestidas de reconhecida ilegalidade, não podem ser invalidadas pelo Poder
Judiciário A doutrina Chenery é bem explicada por um autor norte-americano chamado Richard
Posner, que trata sobre a análise econômica do Direito, ou seja, sobre os reflexos econômicos das
decisões judiciais.
A chenery doctrine foi citada pelo STJ no AgInt no AgInt na SLS 2.240-SP, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 7/6/2017, que concluiu que a interferência judicial para invalidar a estipulação das
tarifas de transporte público urbano viola a ordem pública, mormente nos casos em que houver,
por parte da Fazenda estadual, esclarecimento de que a metodologia adotada para fixação dos
preços era técnica.
Corte nunca invalidou uma construção do Executivo com base no segundo passo. Em Smiley v.
Citibank (South Dakota) (1996), a Suprema Corte chegou a afirmar que a doutrina Chevron não
seria afetada nem mesmo pela ausência de contemporaneidade da norma regulamentada, no
caso maior do que 100 anos, ou pela revelação da necessidade de regulação pelo litígio atual
sobre o alcance da norma, incluindo o próprio processo na Suprema Corte, o que poderia indicar a
necessidade de regulamentação pelo Executivo. E arrematou um dos aspectos mais polêmicos da
judicial deference: o de que a existência de interpretação diferente no passado não é sinal de que
a nova regulamentação seria inválida, desde que não haja mudança súbita e inexplicável ou que
não considere a confiança legítima gerada na interpretação anterior. O campo perfeito para a
aplicação da doutrina Chevron reside exatamente na questão científica ou técnica, uma vez que
por diversos motivos são intermináveis as disputas entre cientistas e/ou metodologias científicas,
bem como as alterações de decisões embasadas nessa dinâmica. Salvo em casos nos quais a
escolha regulamentar ou do caso concreto seja desarrazoada, deve prevalecer a decisão
administrativa, até mesmo pelo campo discricionário/político reservado à Administração.(...).
Quando se trata de matéria técnica, o STJ chama tal prudência de princípio da deferência técnico-
administrativa, mero desdobramento da doutrina Chevron. O STJ, depois de mencionar o
princípio da deferência técnico-administrativa, bem sintetizou a questão nos seguintes termos:
"Em matéria eminentemente técnica, que envolve aspectos multidisciplinares (telecomunicações,
concorrência, direito de usuários de serviços públicos), convém que o Judiciário atue com a maior
cautela possível - cautela que não se confunde com insindicabilidade, covardia ou falta de arrojo".
(REsp 1.171.688).
ou negativa não há que se falar em discricionariedade, vez que não haverá liberdade de atuação
para a Administração que deverá cumprir fielmente a vontade do legislador.
Fontes11.
Delegação de poder de polícia a pessoas jurídicas de direito privado: o que se entende por ciclos
de polícia?
O poder de polícia é exercido em quatro fases ou ciclos de polícia segundo Diogo de Figueiredo
Isso correspondendo a quatro modos de atuação: a ordem de polícia, o consentimento de polícia,
a fiscalização de polícia e a sanção de polícia.
A ordem de polícia é o preceito legal, a satisfação da reserva constitucional, que se apresenta sob
duas modalidades: negativo absoluto, pelo qual são vedadas certas formas de exercício de
atividades e de uso da propriedade privada, impondo-se restrições; negativo com reserva de
consentimento, pelo qual são vedadas certas formas de exercício de atividades e de uso da
propriedade privada, sem que a administração prévia e expressamente, as consinta, impondo-se
condicionamentos. Em ambos os casos, o instrumento básico da atuação administrativa do poder
de polícia é a limitação.
A fiscalização de polícia é feita para a verificação do cumprimento das ordens de polícia, como
para observar abusos nas utilizações de bens e nas atividades que foram consentidas pela
administração. Pode ser preventiva ou repressiva e pode ser iniciada ex officio ou por provocação.
11
https://www.dizerodireito.com.br/2017/08/informativo-comentado-605-stj.html https://www.conjur.com.br/2012-out-16/sentenca-reafirma-validade-norma-
proibe-bronzeamento-artificial https://blog.ebeji.com.br/discricionariedade-conceito-juridico-indeterminado-e-clausula-geral/
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 39
O STF, na ADI 1717 entendeu que não há a possibilidade de delegação do poder de polícia para as
pessoas jurídicas de direito privado, justamente porque através deste poder são realizadas as
atividades típicas do Estado, onde não ocorre a possibilidade de transferência ampla. No caso
desta ação, defendeu o Supremo que os Conselhos Profissionais são pessoas públicas e as
equiparou às autarquias possibilitando seu direito de exercer seu poder de Polícia A
interpretação conjugada dos artigos 5°, XIII, 22, XVI, 21, XXIV, 70, parágrafo único, 149 e 175 da
Constituição Federal, leva à conclusão, no sentido da indelegabilidade, a uma entidade privada, de
atividade típica de Estado, que abrange até poder de polícia, de tributar e de punir, no que
concerne ao exercício de atividades profissionais regulamentadas, como ocorre com os
dispositivos impugnados STF ADI
Por outro lado, no Inf. 430 da mesma Corte, entendeu-se que a Ordem dos Advogados do Brasil,
embora não seja Pessoa Pública nem privada, contém as funções do poder administrativo de
polícia.
De forma minoritária, mas não irrelevante, Carvalhinho admite a delegação para particulares
desde que preenchidos alguns requisitos, no total de três. Segundo o autor, o primeiro requisito
para tal delegação seria a mesma ter sido feita por lei, não admitindo o contrato ou o mero ato
administrativo. Em seguida, o autor menciona que não será qualquer etapa do poder de polícia
que poderá ser delegado ao particular, vedando a delegação da ordem de Polícia e a sanção de
polícia. Embora o autor não cite o consentimento de Polícia, subentende-se que ele também é
vedado quando o autor menciona que apenas os atos de fiscalização poderão ser delegados. Por
fim e último requisito de acordo com o autor, essa delegação não poderia ser atribuída a qualquer
particular, mas somente aqueles que fizerem parte da Administração Pública Indireta. Uma
concessionária, por exemplo, não teria tal privilégio.
Celso Antônio Bandeira de Mello traz em suas obras exceções sobre a impossibilidade de
delegação, dizendo que, funções como do Comandante de aeronave, e o de navio podem sim ser
delegadas.
Contudo, porém, em tese majoritária, existe a ideia de que não pode ocorrer a delegação do
poder de polícia para o particular, tendo em vista que as limitações feitas podem recair sobre o
direito destes. Segundo ainda a maioria, o que poderia ser transferido são meros atos materiais,
mas não as funções típicas do Estado. Em um exemplo, quando o Estado dá ordens de demolição
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 40
de um edifício, está atuando em seu Poder de Polícia, e quando contrata uma empresa para fazer
a demolição, está transferindo para o particular apenas os atos meramente materiais, não típicos.
Pode-se dizer que há a possibilidade de ocorrer a delegação das atividades de apoio ao poder de
polícia, apenas como um apoio, para a execução de atos materiais apenas, atuando de forma
atípica em relação ao poder público.
Fontes.12
12
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/poder-policia-possibilidade-delegacao.htm#capitulo5.1 www.agu.gov.br/page/download/index/id/874921
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 41
parecer. Logo, o parecerista responde solidariamente com o administrador pela prática do ato,
não sendo necessário demonstrar culpa ou erro grosseiro.
O 1º entendimento, que era defendido por Hely Lopes Meirelles, é de que se trata de uma
responsabilidade objetiva. O argumento é de que o art. 37 § 6º da CF88, ao consagrar a
responsabilidade objetiva, não fez distinção entre ação e omissão estatal.
O 2º entendimento, defendido por Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Celso Antônio Bandeira de
Mello, Di Pietro, entre outros, é de que a norma constitucional fez distinção entre ação e omissão
quando fala em causarem a terceiros pois só as ações causam consequências as omissões não
causam. Assim, a responsabilidade do Estado pelas omissões é subjetiva, devendo-se analisar a
culpa, e não se aplica o art. 37 § 6º para atos omissivos. Rafael Oliveira critica esse entendimento
dizendo que estamos no âmbito do direito, e não da física. E o descumprimento de um dever
jurídico pelo Estado gera um dever jurídico sucessivo, de reparação do dano.
Celso Antônio trata da ideia de culpa do serviço (faute du service). Ocorre a culpa ou a falta do
serviço quando esta não funciona ou funciona mal. A diferença aqui era que não se fazia
necessária a identificação de uma culpa individual para a responsabilidade estatal. Para o autor, a
ausência do serviço devido ou seu defeituoso funcionamento, inclusive por demora, basta para
configurar a responsabilidade do Estado pelos danos aos administrados. A culpa individual, dessa
forma, passaria a ser uma das modalidades que ensejam a responsabilização do Estado. Assim, a
responsabilidade por comportamento estatal omissivo seria subjetiva.
Para Celso Antônio, caso não se analise a culpa nas omissões do Estado, ele se tornaria uma
espécie de segurador universal. Além disso, Celso Antônio fala em risco incrementado, suscitado
ou criado. Pela teoria do risco criado, o Estado seria responsável por todas as situações em que ele
próprio tivesse contribuído para o incremento do risco, trazendo para si a guarda de pessoas e
coisas perigosas. Os exemplos clássicos são os presídios e o paiol de munições. Nessas hipóteses, o
Estado tem responsabilidade objetiva, mesmo que o dano seja causado por uma omissão, pois o
Estado está respondendo pela sua ação inicial. Outros autores criticam esse entendimento, pois
entendem que Celso Antônio está trazendo a teoria do risco integral para situações que não foram
previstas. Ex.: um raio caiu no paiol de munições o Estado deveria indenizar. Essa tese é
importante para a Defensoria, mas não é a majoritária na doutrina. Não se admite o risco integral.
O 3º entendimento, defendido por Guilherme Couto de Castro e Sérgio Cavallieri Filho, diferencia
a omissão específica da omissão genérica. Para essa corrente, o Estado tem responsabilidade
objetiva pelas omissões específicas; para as omissões genéricas, não tem responsabilidade. Fala-
se em omissão genérica quando o Estado cumpre o seu dever genérico de ação, como garantir
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 42
segurança pública para todas as pessoas. Se ocorre um crime, o Estado não pode ser
responsabilizado. Já a omissão específica ocorre quando o Estado descumpre um dever específico
de ação, que pode surgir por conta da lei ou por conta da situação concreta. Ex.: o Estado, quando
constrói um presídio e traz para si a guarda de pessoas perigosas, passa a ter um dever específico
de garantir a vida, a integridade, a alimentação etc. dos presos. Ex.2: todo dia ocorre assalto no
mesmo ponto de ônibus, o Estado já foi comunicado e não fez nada. Rafael Oliveira defende a 3ª
corrente, e acrescenta que a teoria do dano direto e mediato, adotada pelo art. 403 do CC, exige
que haja a demonstração do nexo causal. Você só pode falar que há responsabilidade nos casos
em que a conduta foi causadora direta e imediata do dano.
Qual é o entendimento adotado pelos Tribunais? De acordo com o entendimento do STJ, não se
aplica o art. 37, §6º para os atos omissivos, pois, no caso de omissão, a responsabilidade do
Estado deixa de ser objetiva e passa a ser subjetiva, nos termos da teoria da culpa do serviço
(culpa anônima ou faut do service). Veja que, sem motivo aparente, o STJ utilizou uma teoria já
ultrapassada para fazer uma distinção que, a bem da verdade, não decorre necessariamente do
texto constitucional. Assim, criou-se uma dualidade de regimes de responsabilização estatal: (i)
ato comissivo (responsabilidade objetiva) e (ii) ato omissivo (responsabilidade subjetiva). Esse
entendimento do STJ, replicado em dezenas de julgados e livros doutrinários, ganhava ares de
definitividade, quando, finalmente, em 2016 (inf. 819), o STF, analisando hipótese de morte de
detento, disse o seguinte: se a Constituição não distingue ação de omissão do Poder Público, não
deve o intérprete fazê-lo. Assim, em todo e qualquer caso deve ser utilizado o art. 37, §6º, CF, de
modo que a responsabilidade estatal será SEMPRE objetiva. Assim, o tema, que era pacífico, se
tornou polêmico. Para a prova objetiva, recomenda-se uma especial atenção para o enunciado da
questão. Se o examinador se referir ao STJ, o melhor é falar em culpa administrativa
(responsabilidade subjetiva). Por outro lado, se a banca falar em STF ou, ainda, se fizer referência
a um caso concreto já divulgado em informativo, o ideal é que você siga o entendimento do Inf.
819.
A vítima poderá propor a ação diretamente contra o servidor causador do dano (e não contra o
Estado)?
1ª corrente: TESE DA DUPLA GARANTIA - NÃO. A vítima somente poderá ajuizar a ação contra o
poder público. Se o poder público for condenado, então poderá acionar o servidor que causou o
dano. Essa tese sustenta que o art. 37 § 6º traz duas garantias: a primeira em favor do particular
lesado, que poderá ajuizar ação contra o Estado, sem ter que provar que o agente público agiu
com dolo ou culpa; a segunda em favor do agente público causador do dano, que só pode ser
responsabilizado pelo dano caso seja acionado pelo próprio Estado, em ação regressiva. Invoca-se
o princípio da impessoalidade, pois o agente público atua em nome do Estado (e não em nome
próprio). A tese da dupla garantia já foi adotada pelo STF no RE 327.904 (15/08/2006), RE 344.133
(09/09/2008) e RE 720.275/SC (10/12/2012).
2ª corrente: SIM. A vítima poderá escolher se quer ajuizar a ação somente contra o Estado,
somente contra o servidor público ou contra o Estado e o servidor público em litisconsórcio. Para
essa tese, é a vítima quem deve ponderar quais são os custos e benefícios na sua escolha. Caso
proponha a ação somente contra o Estado, não terá que provar dolo ou culpa, mas, se ganhar, o
pagamento será por meio de precatório. Caso proponha a ação contra o servidor, terá o ônus de
provar dolo ou culpa, e, se ganhar, pode ser que o servidor não tenha patrimônio para pagar a
indenização. Em compensação, o processo tramitará mais rapidamente e não haverá pagamento
por precatório. Essa 2ª corrente foi adotada pelo STJ no REsp 1.325.862-PR (5/9/2013) e é a
posição da doutrina majoritária (Celso Antônio Bandeira de Melo, José dos Santos Carvalho Filho).
Como esclarece Diogo de Figueiredo Moreira Neto, ao se distinguir os interesses primários dos
secundários, conclui-se que serão disponíveis somente os interesses e direitos deles derivados que
tenham expressão patrimonial, ou seja, que possam ser quantificados monetariamente e estejam
no comércio, e que são, por esse motivo, objeto de contratação que vise dotar a Administração ou
seus delegados dos meios instrumentais a que estejam em condições de satisfazer os interesses
finalísticos que justificam o próprio Estado.
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 45
Art. 15-A No caso de imissão prévia na posse, na desapropriação por necessidade ou utilidade
pública e interesse social, inclusive para fins de reforma agrária, havendo divergência entre o
preço ofertado em juízo e o valor do bem, fixado na sentença, expressos em termos reais,
incidirão juros compensatórios de até seis por cento ao ano sobre o valor da diferença
eventualmente apurada, a contar da imissão na posse, vedado o cálculo de juros compostos.
(Incluído pela MP 2.183-56, de 2001)
Com essa decisão, estão superadas as Súmulas 618 do STF ("Na desapropriação, direta ou indireta,
a taxa dos juros compensatórios é de 12% ao ano") e 408 do STJ ("Nas ações de desapropriação, os
juros compensatórios incidentes após a Medida Provisória 1.577 de 11/06/1997 devem ser fixados
em 6% ao ano até 13/09/2001 e a partir de então, em 12% ao ano, na forma da Súmula 618 do
Supremo Tribunal Federal").
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 46
Esses juros de 6% incidem sobre que valor? O STF decidiu interpretar conforme a Constituição o
caput do art. 15-A do DL 3.365/41 de modo a entender que a base de cálculo dos juros
compensatórios será a diferença eventualmente apurada entre 80% do preço ofertado em juízo
e o valor do bem fixado na sentença. Isso para que não se reste vulnerado o princípio
constitucional do prévio e justo preço.
O Estado ajuizou ação de desapropriação contra João oferecendo R$ 100 mil pelo imóvel. O art.
33, § 2º do DL autoriza que o proprietário, mesmo que discorde do valor, levante (saque) 80% da
quantia oferecida, o que foi feito por João. O juiz deferiu a imissão provisória na posse. Ao final,
após a perícia, o juiz fixou em R$ 300 mil o valor da indenização a ser paga ao proprietário (valor
real do imóvel). Pela interpretação literal do art. 15-A, os 6% de juros compensatórios deveriam
incidir sobre a diferença entre o valor fixado na sentença (300) e o preço ofertado em juízo (100).
O STF afirmou que deve ser dada uma interpretação conforme a esse dispositivo. Assim, a taxa de
juros (6%) deve incidir sobre a diferença entre o valor fixado na sentença (300) e 80% do preço
oferecido pelo Poder Público (em nosso exemplo, 80% de 100 = 80). Assim, segundo o STF, os
juros compensatórios seriam 6% de 220 (6% de 300-80).
Repare que a determinação do STF protege o proprietário do bem desapropriado e tem por base o
seguinte raciocínio: ora, o proprietário só poderá levantar 80% do preço oferecido. Logo, se a
sentença afirma que o bem vale mais que isso, significa que ele (proprietário) ficou durante todo o
processo injustamente privado dessa quantia. Dessa forma, os juros compensatórios devem incidir
sobre essa diferença.
§ 2º Não serão devidos juros compensatórios quando o imóvel possuir graus de utilização da terra
e de eficiência na exploração iguais a zero. (Incluído pela MP 2.183-56, de 2001)
Ao apreciar a medida liminar, em 2001, o STF havia considerado que esses dispositivos seriam
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 47
A perda da propriedade é compensada pelo valor principal, pela correção monetária e pelos juros
moratórios. Em suma, os juros compensatórios não têm a função de indenizar o valor da
propriedade em si, senão o de compensar a perda da renda decorrente da privação da posse e da
exploração econômica do bem entre a data da imissão na posse pelo poder público e transferência
compulsória ao patrimônio público, que ocorre com o pagamento do preço fixado na sentença.
§ 3º O disposto no caput deste artigo aplica-se também às ações ordinárias de indenização por
apossamento administrativo ou desapropriação indireta, bem assim às ações que visem a
indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público, em especial aqueles destinados à
proteção ambiental, incidindo os juros sobre o valor fixado na sentença. (Incluído pela MP 2.183-
56, de 2001)
§ 4º Nas ações referidas no § 3º, não será o Poder Público onerado por juros compensatórios
relativos a período anterior à aquisição da propriedade ou posse titulada pelo autor da ação.
(Incluído pela MP 2.183-56, de 2001)
Por outro lado, o STF entendeu que o § 4º é INCONSTITUCIONAL. Isso porque ele exclui
indevidamente o direito aos juros compensatórios, violando a exigência constitucional de justa
indenização (art. 5º, XXIV) e o direito fundamental de propriedade (art. 5º, XXII). Como já dito,
tais ações devem receber o mesmo tratamento da desapropriação no que tange aos juros.
Art. 27 (...)
§ 1º A sentença que fixar o valor da indenização quando este for superior ao preço oferecido
condenará o desapropriante a pagar honorários do advogado, que serão fixados entre meio e
cinco por cento do valor da diferença, observado o disposto no § 4º do art. 20 do Código de
Processo Civil, não podendo os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil
reais). (Redação dada MP 2.183-56, de 2001) Obs: a referência é ainda ao CPC/1973.
O STF afirmou que é constitucional essa previsão de parâmetros mínimo (0,5%) e máximo (5%)
para a concessão de honorários advocatícios. Nas ações de desapropriação direta ou indireta,
embora a Fazenda Pública seja parte no processo, não terá aplicação o escalonamento previsto
art. 85, §6º, do CPC no que tange aos honorários advocatícios. Vale a regra da especialidade,
cabendo ao juiz fixar nessas ações honorários no percentual entre 0,5% e 5%.
Desse modo com base na decisão do STF o art º deve ser lido agora assim A sentença
que fixar o valor da indenização quando este for superior ao preço oferecido condenará o
desapropriante a pagar honorários do advogado, que serão fixados entre meio e cinco por cento
do valor da diferença
DIREITO AMBIENTAL
ADI contra o Código Florestal
O art. 60, que prevê a suspensão e a extinção da punibilidade de alguns crimes ambientais, é
constitucional?
O art. 48 § 2º do Código Florestal, que exige que a compensação de Reserva legal seja utilizada no
mesmo bioma, é constitucional?
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 49
Os §§ 4º e 5º do art. 59 do Código Florestal, que preveem anistia para os produtores rurais que
desmataram antes de 2008, são constitucionais?
§ 4º No período entre a publicação desta Lei e a implantação do PRA em cada Estado e no Distrito
Federal, bem como após a adesão do interessado ao PRA e enquanto estiver sendo cumprido o
termo de compromisso, o proprietário ou possuidor não poderá ser autuado por infrações
cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação em Áreas de
Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito.
Sobre estes artigos, o STF declarou a constitucionalidade, mantendo a anistia aos casos
anteriores a 2008. Segundo a Corte, a previsão não compromete a tutela constitucional do meio
ambiente porque o benefício depende de uma série de critérios.
Apesar disso, foi dada interpretação conforme a Constituição aos §§ 4º e 5º do artigo 59, a fim de
evitar a prescrição e a decadência. Assim, aplicando a mesma solução prevista no §1º do artigo 60
do Código Florestal, durante a execução dos termos de compromissos subscritos nos programas
de regularização ambiental não corre o prazo de decadência ou prescrição.
Obs o que é essa data de julho de ? de julho de foi a data da edição do Decreto
nº 6.514/2008, que regulamentou a Lei nº 9.605/98 (lei que trata sobre sanções penais e
administrativas relacionadas com o meio ambiente).
O art. 60, que prevê a suspensão e a extinção da punibilidade de alguns crimes ambientais, é
constitucional?
Sim. Prevaleceu a constitucionalidade do artigo 60 do Código Florestal. Segundo o voto do
Ministro Celso de Mello Tenho para mim com a devida vênia que a norma inscrita no art do
diploma legislativo em questão, além de fundada no art. 48, inciso VIII, da Constituição
(competência do Congresso Nacional para a concessão de anistia), não se reveste de conteúdo
arbitrário nem compromete o núcleo essencial que qualifica o regime de tutela constitucional do
meio ambiente, além de induzir os agentes que tenham praticado delitos ambientais antes de
22/07/2008 a solver o seu passivo ambiental".
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 50
O art. 48 § 2º do Código Florestal, que exige que a compensação de Reserva legal seja utilizada
no mesmo bioma, é constitucional?
Segundo os autores das ADIs, as compensações devem ser realizadas somente em áreas
ecologicamente equivalentes, considerando-se não apenas o mesmo bioma, mas também as
diferenças de composição de espécies e estrutura dos ecossistemas que ocorrem dentro de cada
bioma, diferente da exigência legal.
Art. 48. A CRA pode ser transferida, onerosa ou gratuitamente, a pessoa física ou a pessoa jurídica
de direito público ou privado, mediante termo assinado pelo titular da CRA e pelo adquirente. (...)
§2º A CRA só pode ser utilizada para compensar Reserva Legal de imóvel rural situado no mesmo
bioma da área à qual o título está vinculado.
Obs.: o que é CRA? CRA significa Cota de Reserva Ambiental. A compensação da Reserva Legal é
um instrumento previsto no Código Florestal segundo o qual o proprietário ou possuidor que não
estiver cumprindo os percentuais de Reserva Legal em sua propriedade poderá regularizar a
situação adquirindo Cotas de Reserva Ambiental, vendidas por quem tem propriedade que
cumpre os percentuais de Reserva Legal e ainda possui vegetação excedente
O STF entendeu que a aquisição de uma área no mesmo bioma é insuficiente como mecanismo de
compensação. Isso porque pode acontecer de, dentro de um mesmo bioma, existir uma alta
heterogeneidade de formações vegetais. Assim, pela redação legal, o proprietário poderia, dentro
de um mesmo bioma, compensar áreas com formações vegetais completamente diferentes, já
que, como dito, existe essa grande heterogeneidade. Assim, deve-se dar interpretação conforme
a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir compensação apenas entre áreas com identidade
ecológica. Não basta que a área seja do mesmo bioma, é necessário também que haja identidade
ecológica entre elas.
Além disso, o STF entendeu que os incisos VIII e IX do art. 3º do Código Florestal são
constitucionais, mas deu interpretação conforme a Constituição para que somente se autorize
intervenção em área de proteção permanente (APP) em casos excepcionais e desde que
comprovada a inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta.
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 51
Com relação ao art. 3º, p.u., do Código Florestal, o STF declarou a inconstitucionalidade dos
termos "demarcadas" e "tituladas". Assim, as terras pertencentes aos povos e comunidades
tradicionais devem receber especial proteção independentemente de serem demarcadas e
tituladas, já que isto representa mera formalidade. A decisão, portanto, beneficia os povos e
comunidades tradicionais.
Resultado
O STF decidiu:
2) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, de modo a se condicionar a
intervenção excepcional em APP, por interesse social ou utilidade pública, à inexistência de
alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta;
3) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para fixar a
interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes configuram área
de preservação permanente;
5) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir compensação apenas
entre áreas com identidade ecológica;
6) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo a afastar, no decurso
da execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de regularização ambiental, o
risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais praticados antes de 22.7.2008, seja
das sanções deles decorrentes, aplicando-se extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei
segundo o qual a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da
pretensão punitiva
A partir de tal premissa, deve-se ter em conta a existência tanto de uma dimensão social quanto
de uma dimensão ecológica como elementos integrantes do núcleo essencial do princípio da
dignidade da pessoa humana, sendo que somente um projeto jurídico-político que contemple
conjuntamente tais objetivos constitucionais atingirá um quadro compatível com a condição
existencial humana tutelada na nossa Lei Fundamental. De igual modo, HÄBERLE afirma que os
objetivos estatais do Estado Ambiental, assim como do Estado Social, são, em seu conteúdo
fundamental, conseqüências do dever jurídico-estatal de respeito e proteção da dignidade
humana, no sentido de uma "atualização viva do princípio", em constante atualização à luz dos
novos valores humanos que são incorporados ao seu conteúdo normativo, o que acaba por exigir
uma medida mínima de proteção ambiental.
Com efeito, a princípio, crê-se que o exercício do poder de polícia não é mera faculdade do Poder
Público, e sim dever de ofício, pois é preciso evitar o abuso dos direitos individuais em prol da
coletividade.
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 53
Assim sendo, considerando que é vasta a legislação que rege o poder de polícia ambiental, não há
dúvidas quanto à sua natureza vinculada, em regra, normalmente inexistindo conveniência e
oportunidade na sua exteriorização, até mesmo porque é dever do Poder Público promover a
preservação ambiental e o controle da poluição, à luz do princípio da natureza pública e da
proteção ambiental. Essa é a posição dominante da doutrina ambiental.
CDC
Diálogo das Fontes: o que se entende por "teoria do diálogo das fontes"?
Trata-se de uma expressão cunhada por Erik Jayme e trazida para o Brasil por Claudia Lima
Marques, que significa a aplicação simultânea, coerente e coordenada das plúrimas fontes
legislativas, leis especiais (como o CDC, a lei de seguro-saúde) e gerais (como o CC/02), com
campos de aplicação convergentes, mas não iguais. Busca-se uma eficiência não só hierárquica,
mas funcional do sistema plural e complexo do direito contemporâneo, evitando antinomias,
incompatibilidades e incoerências.
Quando há um "conflito de leis", cabe ao juiz decidir, por meio da prevalência de uma lei sobre a
outra e consequente exclusão da outra do sistema (ab-rogação, derrogação, revogação). A
premissa é que o campo de aplicação das leis em conflito deve ser o mesmo e somente uma das
leis poderia permanecer no sistema, e a outra deveria ser retirada. A doutrina mais atualizada,
hoje, procura a harmonia e coordenação entre as normas do ordenamento jurídico. A superação
de paradigmas é substituída pela convivência de paradigmas.
O STF, no julgamento histórico da ADI 2.591, que concluiu pela constitucionalidade da aplicação
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 54
do CDC a todas as atividades bancárias, reconheceu a necessidade atual do diálogo das fontes.
Segundo o Min. Joaquim Barbosa, "não há, a priori, porque falar em exclusão formal entre essas
espécies normativas, mas, sim, em influências recíprocas, em aplicação conjunta das duas normas
ao mesmo tempo e ao mesmo caso, seja complementarmente, seja subsidiariamente, seja
permitindo a opção voluntária das partes sobre a fonte prevalente".
A expressão diálogo das fontes é aceita também pelo STJ (REsp 1037759-RJ) e utilizada pelos
Tribunais estaduais e nos Juizados Especiais para indicar a aplicação simultânea do CDC com mais
de uma lei geral ou especial, de forma ordenada e coerente com o valor constitucional de
proteção ao consumidor, seja em casos de compra e venda de imóveis (TJRN, AC 2009.010644-0),
de alienação fiduciária (TJSC, AC 2008.079519-6), de empreitada (TJSP, APL-Rev. 2810834/3), de
planos de saúde envolvendo idosos (TJMG, AC 1014508464290-3) etc.
Fonte: MARQUES, Claudia Lima. Manual de Direito do Consumidor. Ed. RT. 4ª Ed.
Para os finalistas, a definição de consumidor é o pilar que sustenta a tutela especial concedida aos
consumidores. Essa tutela só existe porque o consumidor é a parte vulnerável nas relações
contratuais no mercado. Logo, conviria delimitar quem merece essa tutela e quem não merece. Os
finalistas propõem, então, que se interprete a expressão "destinatário final" do art. 2º de maneira
restrita, como requerem os princípios básicos do CDC, expostos nos arts. 4º e 6º. Destinatário final
seria o destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa jurídica ou pessoa
física. Logo, segundo essa interpretação teleológica, não basta ser destinatário fático do bem,
retirá-lo da cadeia de produção, levá-lo para o escritório ou residência, é necessário ser
destinatário final econômico do bem, não adquiri-lo para revenda, para uso profissional, pois o
bem seria novamente um instrumento de produção cujo preço será incluído no preço final do
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profissional que o adquiriu. Isso porque a finalidade do CDC é tutelar de maneira especial um
grupo da sociedade que é mais vulnerável.
Para alcançar essa nova premissa, primeiramente, deve-se analisar o artigo 29 do CDC, o qual
considera equiparado ao consumidor toda a pessoa determinável ou não, exposta às práticas
previstas nos capítulos V e VI da própria Lei n°. 8.078/90.
Na vulnerabilidade técnica, o comprador não possui conhecimentos específicos sobre o objeto que
está adquirindo e, portanto, é mais facilmente enganado quanto às características do bem ou
quanto à sua utilidade, o mesmo ocorrendo em matéria de serviços. No sistema do CDC, a
vulnerabilidade técnica é presumida para o consumidor não profissional, mas também pode
atingir excepcionalmente o destinatário final fático do bem. Segundo o STJ, os agricultores,
organizados em cooperativas, apresentam vulnerabilidade intrínseca em relação a máquinas
agrícolas de nova geração (logo, a relação é de consumo).
(idosos, crianças, bebês, jovens), condições especiais de saúde e necessidades especiais, como
especificam os arts. 37 § 2º e 39, IV, do CDC.
O parágrafo único do art. 2º do CDC é das normas de extensão a mais geral, equiparando o
consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo. A proteção deste terceiro, bystander, que não é destinatário final dos
produtos e serviços do art. 2º do CDC, é complementada pelo art. 17, que se aplica somente à
seção de responsabilidade pelo fato do produto e do serviço. Logo, basta ser "vítima" de um
produto ou serviço para ser privilegiado com a posição de consumidor.
O art. 29 supera os limites da definição jurídica de consumidor para imprimir uma definição de
política legislativa, visando reprimir os abusos do poder econômico, evitando as práticas abusivas.
As pessoas atingidas pelas práticas abusivas, mesmo não sendo "consumidoras stricto sensu",
poderão utilizar as normas do CDC.
Em princípio, se uma parte descumpre a sua obrigação em um contrato, a parte credora terá duas
opções:
Além disso, tanto em um caso como no outro, ela poderá também pedir o pagamento de
eventuais perdas e danos que comprove ter sofrido. Isso está previsto no art. 475 do Código Civil
("A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-
lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos").
A teoria do adimplemento substancial mitiga o disposto no art. 475 do CC. Segundo Flávio Tartuce,
"nos casos em que o contrato tiver sido quase todo cumprido, sendo a mora insignificante, não
caberá sua extinção, mas apenas outros efeitos jurídicos, como a cobrança ou o pleito de
indenização por perdas e danos".
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 58
A origem desta teoria remonta o Direito Inglês do séc. XVIII, tendo lá recebido o nome de
substancial performance.
Há previsão legal? Não há previsão legal expressa, mas a teoria tem sido associada aos princípios
contratuais contemporâneos, especialmente a boa-fé objetiva e a função social do contrato. O
Enunciado n CJF STJ estabelece que O adimplemento substancial decorre dos princípios
gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-
fé objetiva balizando a aplicação do art Na opinião de Tartuce o princípio que fundamenta
o adimplemento substancial é a função social do contrato (art. 421 do CC), diante da busca de
preservação da autonomia privada e da conservação do negócio jurídico.
A teoria é adotada pela jurisprudência? Sim. O STJ, em diversos julgados, adota expressamente a
teoria. Vale ressaltar, no entanto, que seu uso não pode ser banalizado a ponto de inverter a
lógica jurídica de extinção das obrigações O normal é que os contratos sejam cumpridos de
forma integral e regular.
Quais são os requisitos para a aplicação da teoria? No REsp 1581505/SC (18/08/2016), afirmou-se
que são necessários 3 requisitos para a aplicação da teoria: a) a existência de expectativas
legítimas geradas pelo comportamento das partes; b) o pagamento faltante há de ser ínfimo em se
considerando o total do negócio; c) deve ser possível a conservação da eficácia do negócio sem
prejuízo ao direito do credor de pleitear a quantia devida pelos meios ordinários.
O STJ, no REsp 1.622.555-MG, (22/2/2017), entendeu que não se aplica a teoria do adimplemento
substancial aos contratos de alienação fiduciária em garantia regidos pelo Decreto-Lei 911/69.
Superendividamento: o e e e e de e e di idame
O superendividamento pode ser definido como a impossibilidade global do devedor pessoa física,
consumidor leigo e de boa-fé, de pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de consumo
(excluídas as dívidas com o Fisco, as provenientes de delitos e de alimentos) em um tempo
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 59
razoável com sua capacidade atual de rendas e patrimônio, conforme disciplina a professora
Cláudia Lima Marques.
Ele pode resultar de duas situações: (i) superendividamento passivo, que ocorre quando um fato
superveniente à vida da pessoa a leva a ficar superendividada, ocorrendo uma redução brutal de
seus rendimentos, que impossibilita a quitação das dívidas vencidas e a vencer. Pode ocorrer em
razão do desemprego, divórcio, por uma doença ou morte na família, acidente, entre outras; e (ii)
superendividamento ativo, que é proveniente de uma grande acumulação de dívidas, desde que
de boa-fé, como no caso do indivíduo que não sabe administrar bem o seu cartão de crédito.
O que o STJ entende sobre o assunto? Em julgamento de REsp 1.584.501-SP (julgado em 2015), a
3ª Turma do STJ reconheceu a possibilidade de se limitar em 30% da renda líquida do devedor o
percentual de desconto de parcela de empréstimo em conta-corrente. No STJ, o banco alegou que
a cláusula-mandato é irrevogável e considerou descabida a limitação com base em percentual dos
rendimentos líquidos. Pediu o restabelecimento dos descontos na forma pactuada, ou,
subsidiariamente, no limite de 50% da remuneração bruta. O relator, ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, negou o pedido. Segundo ele, acolher a pretensão do banco seria uma violação do
princípio da dignidade da pessoa humana. Sanseverino relacionou a situação ao fenômeno do
superendividamento uma preocupação atual do direito do consumidor em todo o mundo,
decorrente da imensa facilidade de acesso ao crédito nos dias de hoje Sanseverino destacou a
ausência de legislação no Brasil que tutele o consumidor endividado. Ao citar o Projeto de Lei
3.515/2015, em tramitação na Câmara dos Deputados, que dispõe sobre o superendividamento
do consumidor e prevê medidas judiciais para garantir o mínimo existencial, o relator disse que a
via judicial tem sido hoje a única saída para muitos consumidores. O ministro reconheceu que o
contrato foi celebrado com a anuência do consumidor, mas ressaltou que o princípio da
a mia i ada ã é ab l de e d e ei a i cí i d i ema
jurídico (função social do contrato, boa-fé objetiva), inclusive a um dos mais importantes, que é o
princípio da dignidade da pessoa humana A turma, por unanimidade, considerou o desconto em
conta excessivo, reconhecendo a existência de risco à subsistência do consumidor e de sua família,
e determinou que ele fique limitado a 30% da remuneração líquida do correntista, excluídos os
descontos obrigatórios, como Imposto de Renda e Previdência.
Teoria da quebra da base objetiva x teoria da imprevisão: qual é a diferença entre onerosidade
excessiva e lesão?
Ambas são causas que desequilibram o negócio jurídico. No entanto, lesão é uma causa
concomitante à assinatura do contrato. O contrato já nasce desequilibrado. Já na onerosidade
excessiva, o contrato se torna desequilibrado.
Qual foi a teoria adotada pelo CDC? E pelo Código Civil? O CDC, no art. 6º, V, segunda parte,
trabalha com a teoria da quebra da base objetiva do negócio jurídico, de origem alemã. A doutrina
majoritária entende que o CDC não adotou a teoria da imprevisão (de origem francesa), que fora
adotada pelo Código Civil no art. 478 do CC. Assim, entende-se que o art. 6º, V, do CDC adotou,
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 60
em sua primeira parte, a teoria da lesão, e, em sua segunda parte, a teoria da quebra da base
objetiva do negócio jurídico.
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se
tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato.
Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
A teoria da imprevisão, do art. 478 do CC, fala em "fato extraordinário" e "fato imprevisível". A
teoria da quebra da base objetiva do contrato, do CDC, fala em "fato superveniente que acarrete
onerosidade excessiva". Além disso, o CC exige a extrema vantagem para a outra parte, enquanto
o CDC não exige, bastando a onerosidade excessiva. O CC fala em "resolução". As partes irão
retornar ao seu status quo ante. Obs.: quem pode o mais pode o menos. Se é possível reclamar a
resolução, nada impede que se peça a revisão do contrato. No CDC, fala-se em revisão.
Logo, para que o contrato seja revisto, na teoria da imprevisão, exige-se que haja um fato novo
extraordinário e imprevisível que acarrete uma onerosidade excessiva no negócio. Já na teoria da
quebra da base objetiva, basta que haja um fato superveniente que onere o contrato, seja ele
previsível ou imprevisível. Na teoria da imprevisão, será cabível a extinção do contrato ou a
revisão judicial (preserva-se o contrato, com a modificação das cláusulas pelo juiz). Já na teoria da
quebra da base objetiva, o consumidor deverá pedir a revisão.
PROCESSO CIVIL
O que se entende por legitimidade extraordinária negocial?
De início cumpre ressaltar que legitimação extraordinária (legitimação anômala ou substituição
processual) ocorre quando não houver correspondência total entre a situação legitimante e as
situações jurídicas submetidas à apreciação do magistrado. Legitimado extraordinário é aquele
que defende em nome próprio interesse de outro sujeito de direito. Isso de acordo com Didier.
A legitimação extraordinária deve ser encarada como algo excepcional e deve decorrer de
autorização do ordenamento jurídico art NCPC não mais dependendo de lei como exigia
o CPC/73.
Segundo FREDIE DIDIER JR., o NCPC adotou uma antiga lição doutrinaria, segundo a
qual seria possível a atribuição de legitimação extraordinária sem previsão expressa na lei,
desde que possível identificá-la no ordenamento jurídico, visto como sistema. O art. 18 do CPC
exige para atribuição da legitimação extraordinária autorização do ordenamento jurídico e não
mais da lei. Além disso, o art. 190 do NCPC consagrou a atipicidade da negociação sobre o
processo.
Desse modo, a legitimação extraordinária negocial ocorreria quando um negócio processual
atribuibuí-se a outrem o poder de conduzir validamente um processo, já que FREDIE DIDIER JR.
entende, à luz de HANS KELSEN, que negócio jurídico é fonte de norma jurídica e, portanto,
também compõe o ordenamento jurídico. Assim, negócio jurídico pode ser fonte normativa da
legitimação extraordinária.
Em casos de conflitos entre duas coisas julgadas que trataram do mesmo objeto, com
exaurimento do prazo da ação rescisória, qual delas deve prevalecer?
É grande a controvérsia sobre os efeitos que emanam do conflito entre duas coisas julgadas,
quando a segunda não é alvo da ação rescisória no prazo decadencial. A questão é indefinida na
doutrina, em que há duas correntes bem delimitadas, não sendo possível assegurar qual delas
conta com a adesão majoritária, bem como na jurisprudência, como passamos a explicitar.
De acordo com Teresa Wambier, valendo-se dos ensinamentos de Liebman, o autor da ação
replicada é carecedor de interesse de agir, nas vertentes utilidade e necessidade, e a sentença
e e i cadame e j lga mé i a d a ig e c am-se ausentes as condições
da ação, é um arremedo de sentença Segundo a processualista os pressupostos negativos da
primeira coisa julgada obstam a rediscussão da matéria em outro processo, que, acaso proposto,
seria singela expressão do direito de petição, no máximo, um simulacro de processo, inapto à
formação de uma coisa julgada que se sobrepusesse à primeira.
Arremata a professora da PUC/SP que a sentença proferida em hipóteses tais é inexistente,
sendo possível à parte contrária resistir à pretensão executiva por embargos à execução,
exceção de pré-executividade ou querela nullitatis, em qualquer tempo, sendo despiciendo o
ajuizamento da ação rescisória, muito embora o legislador tenha reservado hipótese típica de
rescindibilidade para este caso (art. 485, IV, do CPC-73; art. 966, IV, do CPC-15), o que é
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 63
Sexta Turma, DJe 1/2/2010; REsp 598.148-SP, Segunda Turma, DJe 31/8/2009. REsp 1.524.123-SC,
Rel Min Herman Benjamin julgado em DJe
Desse modo, atualmente prevalece o entendimento da segunda corrente, qual seja, havendo
conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último, enquanto não
desconstituída mediante ação rescisória.
O que se entende fórum multiportas/sistema multiportas/tribunal multiportas?
O Tribunal Multiportas é uma instituição inovadora que direciona os processos que chegam a um
tribunal para os mais adequados métodos de resolução de conflitos, economizando tempo e
dinheiro tanto para os tribunais quanto para os participantes ou litigantes.
Segundo o criador, a ideia inicial seria examinar as diferentes formas de resolução de conflitos
mediação arbitragem conciliação e verificar qual seria a porta mais adequada para solucionar
aquele caso concreto, ou seja, os conflitos que chegassem aos tribunais (fórum) passariam por
uma triagem onde deveriam ser remanejados para a porta que melhor resolvesse
Desta forma, cada Tribunal deverá definir os métodos que serão disponibilizados de acordo com
as particularidades de cada localidade ou sociedade. Podendo ser utilizados a mediação, a
arbitragem, a conciliação, entre tantos outros, inclusive o processo tradicional.
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https://jus.com.br/artigos/36758/tribunal-multiportas e https://jus.com.br/artigos/51255/o-sistema-multiportas-como-politica-publica-de-acesso-a-justica-e-sua-
relevancia-na-esfera-criminal
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 65
Assim, a coisa julgada progressiva é aquela que vai se formando ao longo do processo, em razão
de interposição de recursos parciais. É como se a coisa julgada fosse sendo paulatinamente
formada a medida que os capítulos da sentença não são impugnados.
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http://blog.unipe.br/camara/saiba-o-que-e-clausula-compromissoria-e-compromisso-arbitral e https://jus.com.br/artigos/34382/arbitragem-conceito-natureza-
juridica-hipoteses-de-aplicacao-e-modalidades
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 66
De um lado, tendo como defensor Lenio Streck (2015, p. 34), estão os que defendem o fim do livre
convencimento com a entrada em vigor do NCPC. O autor supracitado é categórico ao defender a
ocorrência de extinção do princípio no CPC/2015. Eis os argumentos invocados:
Travei uma batalha contra o poder discricionário, travestido de livre convencimento, que infestava
o Projeto em sua redação original. Dizia eu que de nada adiantará exigir do juiz que enfrente todos
os argumentos deduzidos na ação (vejam-se os artigos 499 e seguintes do Projeto) se ele tiver a
liberdade de invocar a jurisprudência do Supremo que afirma que o juiz não está obrigado a
enfrentar todas as questões arguídas pelas partes. Dá-se com uma mão e tira-se com a outra
(STRECK, 2013).
Depois de muita discussão, o relator do Projeto, Dep. Paulo Teixeira, obtendo a concordância de
um dos protagonistas do Projeto, Fredie Didier, aceitou minha sugestão de retirada do livre
convencimento. Considero isso uma conquista hermenêutica sem precedentes no campo da teoria
do direito de terrae brasilis. O Projeto, até então, adotava um modelo solipsista stricto sensu,
corolário do paradigma epistemológico da filosofia da consciência (...).
Por outro lado, há os que adotam tese contrária. Fernando da Fonseca Gajardoni (2015) é um
deles. Para o professor da USP, a ausência, no CPC, de dispositivo correspondente ao art. 131 do
CPC/1973, não pode levar à conclusão de que no Brasil não mais vigora o princípio do livre
convencimento motivado. Ele afirma que
O fato de não mais haver no sistema uma norma expressa indicativa de ser livre o juiz para,
mediante fundamentação idônea, apreciar a prova, não significa que o princípio secular do direito
brasileiro deixou de existir. E não deixou por uma razão absolutamente simples: o princípio do
livre convencimento motivado jamais foi concebido como método de (não) aplicação da lei; como
alforria para o juiz julgar o processo como bem entendesse; como se o ordenamento jurídico não
fosse o limite. Foi concebido, sim, como antídoto eficaz e necessário para combater os sistemas da
prova legal e do livre convencimento puro, suprimidos do ordenamento jurídico brasileiro, como
regra geral, desde os tempos coloniais.
Em sentido estrito, o precedente pode ser definido como sendo a própria ratio decidendi, ou seja,
são os fundamentos jurídicos que sustentam a decisão; constitui a essência da tese jurídica
suficiente para decidir o caso concreto.
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 67
Para o Direito os precedentes mais propriamente os judiciais são resoluções em que a mesma
questão jurídica, sobre a qual há que decidir novamente, já foi resolvida uma vez por um tribunal
noutro caso LARENZ
São, do ponto de vista prático, decisões anteriores que servem como ponto de partida ou modelo
para as decisões subsequentes (MACCORMICK).
Nesse sentido, o precedente judicial abarca toda a decisão relatório, fundamentos e dispositivo
, não discriminando as parcelas mais importantes para a concretização do direito. Precedente,
aqui é o mesmo que decisão precedente e tem um inegável aspecto relacional, na medida em
que só pode ser aplicado quando existem casos análogos.
O overriding, por sua vez, também é técnica de superação do precedente, na qual a aplicação do
precedente é restringida. Neste caso o precedente é parcialmente superado mediante a limitação
de seu âmbito de incidência, ou seja, há uma releitura do raio de alcance do entendimento. O
overriding representa, de fato, uma modificação parcial da jurisprudência, que passa a ter a sua
aplicação restrita a determinadas hipóteses, seja em razão de mudanças supervenientes na
norma, seja por alterações no cenário fático e jurídico que motivaram a formulação do precedente
anterior.
No que tange a distinção (distinguishing), ensina Luiz Guilherme Marinoni que, para a adequada
aplicação da ratio decidendi ao novo caso concreto, é necessário que se faça um cotejo entre os
fatos que deram origem ao precedente e os fatos do caso em julgamento. Essa técnica de
aplicação do precedente é chamada de distinguishing, e só se faz necessária quando o caso em
julgamento está inserido no âmbito de incidência da tese jurídica firmada no precedente. Caso
contrário, não há que se falar em distinção.
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O distinguishing consiste na técnica utilizada para aferir se o precedente será ou não aplicado a
determinado caso. Para tanto, deve-se identificar a sua ratio decidendi, a fim de verificar se ela foi
formada a partir de fatos idênticos ou distintos dos fatos do caso em julgamento. A distinção,
contudo, só pode ser realizada em relação aos fatos materialmente relevantes para o julgamento
da causa. Apenas estes fatos, e não aqueles irrelevantes à resolução do caso, podem ser utilizados
como fundamento para a não aplicação do precedente.
Fontes.15
Trate brevemente sobre o art. 926 do CPC. Quais ferramentas práticas podem ser usadas para
maior aplicabilidade do dispositivo.
O art. 926, caput, do CPC/15 impõe aos tribunais o dever de manter sua jurisprudência estável,
íntegra e coerente. Tal determinação aplica-se não apenas aos pronunciamentos com força
vinculante. É uma diretriz a ser observada em toda e qualquer atuação de cada corte. Haverá
coerência se os mesmos preceitos e princípios que foram aplicados nas decisões o forem para os
casos idênticos. A coerência assegura a igualdade. Coerência significa igualdade de apreciação do
caso e igualdade de tratamento Coerência também quer dizer jogo limpo A integridade, por
sua vez, exige que os juízes construam seus argumentos de forma integrada ao conjunto do
Direito, constituindo uma garantia contra arbitrariedades interpretativas.
Para garantir a observância do art. 926 do CPC, além da seriedade de propósito dos integrantes
das cortes necessita-se de uma série de providências práticas, operacionais e de administração
judiciária.
Por sua vez, a coerência e integridade jurisprudenciais não se satisfazem com a simples
consistência nas reiteradas manifestações do tribunal a respeito de uma mesma e única questão
jurídica que se repita em vários casos. Mais do que isso, é preciso também que haja
correspondência, proporcionalidade, no trato de questões que, embora não idênticas, sejam
análogas; é necessário ainda que, quando uma mesma premissa puser-se para a solução de duas
questões, mesmo sendo essas distintas, aquela seja definida, em ambos os casos, nos mesmos
15
http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,precedente-judicial-conceitos-basicos-e-tecnicas-de-superacao,55339.html
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 69
termos, se não houver um fator que justifique a distinção e assim por diante. Vale dizer, não
bastam coerência e integridade sob o aspecto puramente formal, restrito a cada específica
questão jurídica. Esses atributos precisam pôr-se em termos substanciais, de modo que conceitos,
categorias gerais, institutos jurídicos sejam delineados e aplicados pelo tribunal de um modo
consistente, constante, homogêneo.
Fontes.16
A fundamentação per relationem continua a ser permitida com a entrada em vigor do NCPC?
Tema bastante controverso com a entrada em vigor do NCPC trata-se da possibilidade de o
julgador fazer uso da chamada fundamentação per relationem. Primeiramente, a fundamentação
per relationem consiste na motivação por meio da qual se faz remissão ou referência às alegações
de uma das partes, a precedente ou a decisão anterior nos autos do mesmo processo. Também é
denominada de motivação aliunde, referenciada, por referência ou por remissão
No novo CPC, o §3º do art. 1.021 do CPC/2015, vedou o relator de limitar-se a reproduzir a decisão
agravada para julgar improcedente o agravo interno, utilizando a fundamentação acima descrita.
Tal dispositivo foi idealizado em consonância com o art. 489, §1º, do CPC/2015, que estabelece os
casos em que se presume a falta da fundamentação da decisão, notadamente os incisos IV e V. Em
razão de tais disposições legais levantou-se corrente que defende o impossibilidade da motivação
per relationem pois elegam que o legislador não admite mais que o juiz se limite a transcrever
trechos de precedentes ou de decisões.
Ocorre que, o STJ possui decisões recentes permitindo tal tipo de fundamentação. Tal conclusão
pode ser extraída do seguinte trecho na decisão do REsp 1659078 PR 2017/0053517-9, veja:
16
https://www.conjur.com.br/2016-abr-23/observatorio-constitucional-jurisdicao-fundamentacao-dever-coerencia-integridade-cpc e
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI236482,21048Estabilidade+integridade+e+coerencia+jurisprudencial
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 70
Ressalte-se que a jurisprudência admite a chamada fundamentação per relationem, mas desde
que o julgado faça referência concreta às peças que pretende encampar, transcrevendo delas
partes que julgar interessantes para legitimar o raciocínio lógico que embasa a conclusão a que se
quer chegar.
Por isso, é nulo o acórdão que se limita a ratificar a sentença e a adotar o parecer ministerial, sem
sequer transcrevê-los, deixando de afastar as teses defensivas ou de apresentar fundamento
próprio. Isso porque, nessa hipótese, está caracterizada a nulidade absoluta do acórdão por falta
de fundamentação. STJ. 6ª Turma. HC 214.049-SP, Rel. Originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. Para
acórdão Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 557)
O que se entende por prova diabólica bilateral? O que deve o juiz fazer nesse caso?
A prova diabólica é tratada pela doutrina como sendo aquela impossível de ser produzida pela
parte, nesse caso poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por
decisão fundamentada, conforme o art. 373, §1°, do NCPC. Por consequência, a prova
bilateralmente diabólica é aquela que não pode ser produzida por nenhuma das partes, ante a sua
total impossibilidade.
EMPRESARIAL
O conjunto-imagem (trade dress) é a soma de elementos visuais e sensitivos que traduzem uma
forma peculiar e suficientemente distintiva, vinculando-se à sua identidade visual, de
apresentação do bem no mercado consumidor.
Aprofundando. Para analisar eventual violação do trade dress exige-se prova pericial?
Trata-se de tema polêmico, mas prevalece que não. Para a maioria, a faturizadora NÃO tem
direito de regresso contra a faturizada com base no inadimplemento dos títulos transferidos, uma
vez que esse risco é da essência do contrato de factoring e por ele a faturizada paga preço mais
elevado do que pagaria, por exemplo, em um contrato de desconto bancário, no qual a instituição
financeira não garante a solvência dos títulos descontados.
Na linha dos últimos precedentes desta Corte o faturizado não pode ser demandado
regressivamente pelo pagamento da dívida STJ ª Turma AgRg no REsp SP Rel Min
Sidnei Beneti julgado em
Assim:
Regra: NÃO. O risco assumido pelo faturizador é inerente à operação de factoring, não
podendo o faturizado ser demandado para responder regressivamente. Essa impossibilidade de
regresso decorre do fato de que a faturizada não garante a solvência do título.
Exceção: o faturizado pode ser demandado para responder regressivamente se tiver dado
causa ao inadimplemento dos contratos cedidos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1163201/PE, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 02/12/2014.
Ressalte-se o caso em que o título cedido não exista juridicamente ou seja inválido pois para a
imensa maioria, a faturizada, ao ceder os títulos, assume a garantia de que eles são existentes.
Trata-se de previsão expressa do art. 295 do CC, que pode ser aplicado aos contratos de factoring.
Desse modo, a faturizadora possui direito de regresso contra a faturizada quando estiver em
questão não um mero inadimplemento, mas sim a própria existência do crédito. Não reconhecer
tal responsabilidade quando o cedente vende crédito inexistente ou ilegítimo representa
compactuar com a fraude e a má-fé.
A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada que, por contrato de factoring
vinculado a nota promissória, tenha cedido duplicatas sem causa subjacente. STJ. 4ª Turma. REsp
1.289.995-PE, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em 20/2/2014 (Info 535)
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 72
Podemos conceituar a Governança Corporativa como sendo um movimento que tinha como
objetivo sistematizar e identificar as práticas mais eficientes de gestão de empresas e a relação
dessa com os acionistas.
Fontes.17
Discorra acerca do patrimônio de afetação. Como o TJSP tem decidido a respeito do tema em
recuperação judicial.
Patrimônio de afetação é um patrimônio separado, ou seja, um conjunto de bens (móveis,
imóveis, direitos) que não se misturam com os demais bens do seu titular ou, em outras
palavras, com o patrimônio pessoal deste.
Por meio da afetação patrimonial, determinados ativos ficam inteiramente destinados (afetados) à
realização de uma finalidade. Como decorrência, apenas os credores relacionados a essa
finalidade podem se valer dos bens que integram o patrimônio de afetação para a satisfação de
suas dívidas. Eis o fenômeno da blindagem patrimonial: pessoas estranhas aos negócios do
patrimônio de afetação não podem executar os ativos que o integram para satisfazer seus
créditos.
17
https://wemersonluna.jusbrasil.com.br/artigos/121334309/governanca-corporativa http://revistadireito.com/aspectos-gerais-sobre-a-governanca-corporativa/
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 73
Ao julgar o agravo de instrumento, o Tribunal fixou uma série de premissas (ainda é possível a
interposição de recurso). Dentre elas:
a proteção aos patrimônios de afetação prevista na situação de falência também se estende aos
casos de recuperação judicial.
Fontes.18
O e e e e de a a ba cá ia
A "trava bancária", ou cessão fiduciária de créditos recebíveis, é a garantia oferecida aos bancos
pelas empresas na obtenção de empréstimos bancários para fomentação de suas atividades. São
os recebíveis futuros - ou seja, o faturamento decorrente da produção financiada pela Instituição
Financeira, de modo que o empréstimo primordialmente pactuado é quitado através dos
pagamentos feitos à empresa recuperanda por seus parceiros, créditos estes que ficam
"travados", ou seja, não podem ser utilizados pela empresa para seu fluxo de caixa, passando
diretamente ao Banco.
No que toca o tema tem-se como novidade, no entanto, uma aparente sinalização da mudança de
entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo acerca do tema, cuja jurisprudência das
Câmaras Reservadas de Direito Empresarial costuma orientar a prática em torno dos instrumentos
de insolvência em todo o País.
18
http://www.secovi.com.br/coluna-secovi/patrimonio-de-afetacao-e-recuperacao-judicial/38
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 74
Foi entendido na hipótese que a retirada, neste momento, de todos os recursos disponíveis
pelas instituições financeiras, poderá inviabilizar o soerguimento das agravadas, principal objetivo
do pedido de recuperação e os julgamentos acabaram por confirmar decisões proferidas pelos
Juízos de origem que determinaram a liberação de recebíveis retidos no percentual de 30%.
Essas decisões assumem papel muito importante, não só pela sinalização da mudança de
entendimento na 2ª Câmara, mas por terem sido proferidas no âmbito do Tribunal de Justiça de
São Paulo, no qual costuma-se afirmar que o pedido de liberação de recebíveis não encontra
qualquer sorte (são inúmeros precedentes, dentre os quais, por exemplo, Agravo de Instrumento
2018142-33.2014.8.26.0000, de relatoria do desembargador Teixeira Leite)
Fontes.19
Assim, a dissolução parcial é a solução menos gravosa, assegurando aos acionistas que entendem
ser possível uma reviravolta na sorte da companhia a continuação de suas atividades.
Em casos que tais, porquanto reconhecida a existência da affectio societatis como fator
preponderante na constituição da empresa, não pode tal circunstância ser desconsiderada por
ocasião de sua dissolução. Do contrário, e de que é exemplo a hipótese em tela, a ruptura da
affectio societatis representa verdadeiro impedimento a que a companhia continue a realizar o
seu fim, com a obtenção de lucros e distribuição de dividendos, em consonância com o artigo 206,
II, "b", da Lei nº 6.404/76, já que dificilmente pode prosperar uma sociedade em que a confiança,
a harmonia, a fidelidade e o respeito mútuo entre os seus sócios tenham sido rompidos. (...) STJ.
ª Seção EREsp PR Rel Min Castro Filho julgado em
2) Sociedade que não atingi seu fim de auferimento de lucros e de distribuição de dividendos
aos acionistas
É possível que sociedade anônima de capital fechado ainda que não formada por grupos
familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito de não atingir seu fim
consubstanciado no auferimento de lucros e na distribuição de dividendos aos acionistas , restar
configurada a viabilidade da continuação dos negócios da companhia. STJ. 3ª Turma. REsp
1.321.263-PR Rel Min Moura Ribeiro julgado em Info
No que tange a necessidade de citação de todos os sócios, em decisão unânime no REsp 1400264,
a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve decisão que, em ação de
dissolução parcial de uma sociedade anônima fechada, dispensou a citação de todos os sócios por
entender que a legitimidade passiva era apenas da empresa.
A relatora do recurso, ministra Nancy Andrighi, reconheceu que a Terceira Turma já decidiu sobre
a indispensabilidade da formação de litisconsórcio passivo necessário na hipótese de dissolução
total de sociedade, mas observou que, no caso de dissolução parcial, a legitimidade passiva é da
própria companhia, não havendo litisconsórcio necessário com todos os acionistas.
CIVIL
Taxa SATI: valor cobrado pelas incorporadoras para ressarcir os custos que elas tem com a
manutenção dos serviços oferecidos nos seus estandes de vendas: funcionários para exame dos
documentos, análise de crédito, para prestar esclarecimentos técnicos e jurídicos acerca das
cláusulas do contrato, das condições do negócio , ou seja, é um percentual cobrado dos
promitentes-compradores( consumidores) a título de serviços de assessoria técnico-
imobiliária(SATI) (que são esses serviços prestados antes do contrato de promessa de compra e
venda de imóveis ser assinado)
Entende o Tribunal que não há prejuízo aos consumidores nesta prática ( transferir para o
consumidor a obrigação de pagar a comissão de corretagem) porque se a incorporadora pagasse a
comissão de corretagem, ela iria embutir este custo no preço final do produto.
Desse modo, em princípio, é válida a cláusula que transfere para o consumidor a obrigação de
pagar a comissão de corretagem, como o dever de informação.
Já no que toca a a a SATI entende o STJ que é abusiva a cobrança pelo promitente-vendedor
do serviço de assessoria técnico-imobiliária(SATI), ou atividade congênere, vinculado à
celebração de promessa de compra e venda de imóvel. STJ. 2ª Seção. REsp 1.599.511-SP, Rel. Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 589)
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 77
Por essa razão, a cobrança de mais esse valor (fora o preço que o consumidor já irá pagar pelo
bem) configura flagrante violação aos deveres de correção, lealdade e transparência, impostos
pela boa-fé objetiva. Em verdade, a imobiliária está cobrando para cumprir algo que já é seu dever
prestar por força do próprio contrato celebrado.
A cláusula contratual que impõe ao consumidor o pagamento da taxa SATI (ou qualquer outro
nome que tenha a mesma natureza) viola o art. 51, IV, do CDC:
Art São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
Ademais, essa assessoria é um serviço que envolve o elemento confiança (intuitu personae).
De forma pertinente, explica Paulo Lobo: Em suma, para fazer sentido, a publicização deve ser
entendida como o processo de intervenção legislativa infraconstitucional, ao passo que a
constitucionalização tem por fito submeter o direito positivo aos fundamentos de validade
constitucionalmente estabelecidos. Enquanto o primeiro fenômeno é de discutível pertinência, o
segundo é imprescindível para a compreensão do moderno direito civil.
Exemplo
Em litorais mais caros do país, como na região dos Lagos (RJ) ou em Santa Catarina, é comum que
sejam lançados empreendimentos em sistema de time-sharing. Normalmente, o imóvel é dividido
em 52 cotas (número de semanas do ano). Daí, o indivíduo que compra uma cota, torna-se
proprietário de 1/52 do imóvel e poderá utilizá-lo durante uma semana por ano.
Isso porque a CF/88 prevê não apenas a família decorrente do casamento (família matrimonial),
sendo protegidas outras modalidades de família e uma delas é a família derivada da união estável,
seja ela hetero ou homoafetiva.
Isso está expresso no § 3º do art. 226 do Texto Constitucional. Sendo assim, O Código Civil de
2002, no art regrediu no tratamento do tema e desequiparou para fins de sucessão o
casamento e a união estável, fazendo com que o(a) companheiro(a) do falecido tivesse uma
proteção bem menor do que aquela que é conferida ao cônjuge. Dessa forma, o CC-2002
promoveu verdadeiro retrocesso, criando uma hierarquização entre as famílias, o que não é
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 79
admitido pela Constituição, que trata todas as famílias com o mesmo grau de valia, respeito e
consideração, o que levou a incostitucionalidade do art. 1790 do CC.
O Direito de Laje é um direito real de propriedade e faculta ao seu titular todos os poderes
inerentes à propriedade (usar, gozar e dispor), conforme art. 1.510-A, § 3º, do Código Civil. Ele
terá, inclusive, uma matrícula própria no Registro de Imóveis, pois, conforme o princípio registral
da unitariedade ou unicidade matricial, a cada imóvel deve corresponder apenas uma matrícula
Esse instituto jurídico permite que o Poder Judiciário intervenha na propriedade, declarando a
perda do bem em favor de considerável número de pessoas que ocupam uma extensa área por
mais de cinco anos, realizando obras e serviços de interesse social e econômico relevante. Assim, o
magistrado, na sentença que determinar a desapropriação, arbitrará justa indenização devida ao
proprietário.
O que se entende por abandono afetivo? De acordo com o STJ, é possível haver indenização por
danos morais em razão do abandono afetivo?
Abandono afetivo pode ser definido como a omissão do genitor em cumprir os encargos afetivos
decorrentes do poder familiar, que geram danos emocionais merecedores de reparação.
Cite-se o entendimento recente da 4ª Turma do STJ: "O dever de cuidado compreende o dever de
sustento, guarda e educação dos filhos. Não há dever jurídico de cuidar afetuosamente, de modo
que o abandono afetivo, se cumpridos os deveres de sustento, guarda e educação da prole, ou de
prover as necessidades de filhos maiores e pais, em situação de vulnerabilidade, não configura
dano moral indenizável." STJ; AgInt-AREsp 492.243; Proc. 2014/0065381-8; SP; Quarta Turma; Rel.
Min. Marco Buzzi; Julg. 05/06/2018; DJE 12/06/2018.
Em que consiste o direito ao esquecimento? O STJ acolhe tal instituto? Cite os alguns
argumentos contrários à aplicação do tema.
O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato, ainda
que verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público em geral,
causando-lhe sofrimento ou transtornos.
SIM. Existem julgados do STJ nos quais já se afirmou que o sistema jurídico brasileiro protege o
direito ao esquecimento (REsp 1.335.153-RJ e REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgados em 28/5/2013). Contudo, o deferimento, ou não, do direito ao esquecimento depende da
análise do caso concreto.
O Min. Luis Felipe Salomão, no julgamento do REsp 1.335.153-RJ, apesar de ser favorável ao
direito ao esquecimento, colacionou diversos argumentos contrários à tese. Vejamos os mais
relevantes:
· o direito de fazer desaparecer as informações que retratam uma pessoa significa perda da
própria história, o que vale dizer que o direito ao esquecimento afronta o direito à memória de
toda a sociedade;
· é absurdo imaginar que uma informação que é lícita se torne ilícita pelo simples fato de que
já passou muito tempo desde a sua ocorrência;
são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral
principalmente a respeito da segurança quanto por diminuição na qualidade de vida. Os danos
sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa grave, especialmente, repetimos,
se atos que reduzem as condições coletivas de segurança, e de indenização dissuasória, se atos em
geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do índice de qualidade de vida da
população p
O dano social é, portanto, uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os
danos materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente reprováveis,
que diminuem o nível social de tranquilidade.
Alguns exemplos dados por Junqueira de Azevedo: o pedestre que joga papel no chão, o
passageiro que atende ao celular no avião, o pai que solta balão com seu filho. Tais condutas
socialmente reprováveis podem gerar danos como o entupimento de bueiros em dias de chuva,
problemas de comunicação do avião causando um acidente aéreo, o incêndio de casas ou de
florestas por conta da queda do balão etc.
Diante da prática dessas condutas socialmente reprováveis, o juiz deverá condenar o agente a
pagar uma indenização de caráter punitivo, dissuasório ou didático, a título de dano social.
Conforme explica Flávio Tartuce, os danos sociais são difusos e a sua indenização deve ser
destinada não para a vítima, mas sim para um fundo de proteção ao consumidor, ao meio
ambiente etc., ou mesmo para uma instituição de caridade, a critério do juiz (Manual de Direito do
Consumidor. São Paulo: Método, 2013, p. 58).
Ex: decisão do TRT-2ª Região (processo 2007-2288), que condenou o Sindicato dos Metroviários de
São Paulo e a Cia do Metrô a pagarem 450 cestas básicas a entidades beneficentes por terem
realizado uma greve abusiva que causou prejuízo à coletividade.
Na V Jornada de Direito Civil do CJF/STJ foi aprovado um enunciado reconhecendo a existência dos
danos sociais:
Explique: supressio, surrectio, venire contra factum proprium, exceptio doli e tu quoque.
Supressio: Cristiano Chaves de Farias, Nelson Rosenvald e Felipe Peixoto Braga Neto
definem a supressio como o fenômeno da perda, supressão, de determinada faculdade jurídica
pelo decurso do tempo Curso de Direito Civil Volume Salvador/BA: Editora JusPODIVM,
Um exemplo citado por referidos doutrinadores é o art do Código Civil que diz O
pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao
previsto no contrato
Surrectio: Na surrectio , por outro lado, o exercício continuado de uma situação jurídica ao
arrepio do convencionado ou do ordenamento implica nova fonte de direito subjetivo,
estabilizando-se tal situação para o futuro.
Venire contra factum proprium : Decorrente da boa-fé objetiva, a expressão latina venire
contra factum proprium, corresponde a proibição de comportamento contraditório de um
individuo na relação jurídica. Essa expressão pode ser traduzida literalmente como ´´agir contra
fato próprio´´, e busca impedir a prática de um ato que contraria comportamento anterior do
agente.
O indivíduo pratica reiteradamente certa conduta, provocando no outro uma expectativa de que
aquilo é o certo, e logo após assume comportamento contraditório ao anterior. Tem-se como base
a confiança na conduta que se estabeleceu no tempo, como se entende no Enunciado 362, da IV
Jornada de Direito Civil, CJF que diz A, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil .
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 83
Exemplo: caso do locador de um imóvel que, todo mês, aceita receber o aluguel com 5 dias de
atraso. Após meses, sem se opor a tal fato, resolve o locador mudar de conduta e passa a exigir a
multa moratória do período. Ora, essa mudança repentina frusta a legítima expectativa do
inquilino, já que durante meses o locador não se opôs (tolerou) o pagamento do aluguel com dias
de atraso.
Exceptio doli: Na linha da doutrina de Flávio Tartuce, exceptio doli é conceituada como
sendo a defesa do réu contra ações dolosas, contrárias a boa-fé Explica o professor que uma de
suas aplicações é verificada por meio da exceptio non adimpleticontractus, que, como é de
conhecimento, impede que se exija o cumprimento da obrigação pela parte que não conferiu
cumprimento ao que pactuou. Ou seja, a boa-fé objetiva não se observa quando determinada
parte de um contrato vale-se de atitude dolosa com o intuito não de preservar legítimos
interesses mas sim de prejudicar a parte contrária
Tu quoque: Sintetização da célebre frase de Júlio César (tu quoque, Brute, fili mi?), ao se
referir ao seu filho Brutus com surpresa, por também estar entre aqueles que o apunhalavam,
significa que a parte que tenha gerado violação a uma determinada norma não pode,
posteriormente, extrair proveito desta situação, por ela mesma criada, sob pena de conduta
antiética, ofensiva à boa-fé objetiva. Este sentido, embasado em doutrina, também foi exposto
pelo STJ, conforme trecho da ementa:
Fontes.20
20
https://blog.ebeji.com.br/funcoes-reativas-ou-aspectos-parcelares-da-boa-fe-objetiva-na-jurisprudencia-do-stj/
https://simonearagao.jusbrasil.com.br/artigos/448838290/desdobramento-da-boa-fe-objetiva-venire-contra-factum-proprium-supressio-surrectio-tu-quoque
TEMAS DA MODA TJSP - 188 - 84
cumprimento de uma obrigação. O Código Civil proíbe a estipulação do pacto comissório, que
consiste na inserção de uma cláusula no contrato de alienação fiduciária permitindo a
transferência da propriedade do bem dado em garantia ao credor caso a dívida não seja paga.
Fica permitido, apenas, que o credor aliene o bem a um terceiro e utilize os valores recebidos para
amortizar a dívida.
Pacto Marciano: Consiste o pacto Marciano no ajuste pelo qual as partes acordam, já no
contrato que serve de título à constituição da garantia , a apropriação do seu objeto pelo credor
diante do inadimplemento da dívida por valor arbitrado por terceiro , o que garante que se
atribua à coisa preço justo e condizente com as práticas de mercado, a afastar o risco de
qualquer prejuízo ao devedor.
Parte da doutrina já vinha defendendo a utilização do Pacto Marciano, que, conforme visto,
consiste na permissão para que o credor adquira o bem dado em garantia, condicionada à
avaliação do seu valor de mercado de forma independente por um terceiro à época do
vencimento da dívida garantida. Com isso, permite-se ao credor o pagamento da diferença entre
o valor de avaliação e o saldo devedor. Agora em 2018, na VIII Jornada de Direito Civil foi aprovado
o Enunciado 626, o qual aduz:
Não afronta o art. 1.428 do Código Civil, em relações paritárias, o pacto marciano, cláusula
contratual que autoriza que o credor se torne proprietário da coisa objeto da garantia mediante
aferição de seu justo valor e restituição do supérfluo (valor do bem em garantia que excede o da
dívida
Fontes.21
21
https://www.dicionarioinformal.com.br/significado/comiss%C3%B3rio/10615/ https://www.machadomeyer.com.br/pt/noticias-lexpress/a-utilizacao-do-pacto-
marciano-em-contratos-de-alienacao-fiduciaria https://www.conjur.com.br/2016-fev-08/direito-civil-atual-licoes-vii-jornada-direito-civil-tendencias-direito-coisas