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GRANDES
ESTRUTURAS
Distribuição dos
carregamentos
e determinação
dos esforços na
superestrutura
Igor José Santos Ribeiro
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A partir das análises econômica, estética e técnica, distintas soluções podem ser
aplicadas para transpor obstáculos com pontes. Para um bom projeto, você deve
partir do que conhece, da teoria e das normas vigentes, para, então, adequar sua
concepção.
A essa altura, você já deve ter chegado à conclusão de que é imprescindível
conhecer os distintos sistemas estruturais utilizados na engenharia, e vamos,
neste capítulo, apresentar alguns desses sistemas. Especificamente, vamos
mostrar como eles podem ser modelados e analisados para que informações
2 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura
a b
Figura 4. Distinção entre pontes (a) com vínculos articulados e (b) monolíticos em relação
à superestrutura.
Longarinas
As longarinas suportam, primariamente, o tabuleiro e os demais elementos
acessórios, bem como as cargas móveis do deslocamento dos veículos. Sobre
a disposição desses elementos e as condições de contorno, em similaridade
às demais estruturas, podemos classificar essas estruturas em simplesmente
apoiadas ou contínuas, em que existem diversos apoios, onde as longarinas
se apoiam.
Figura 6. Distinção entre pontes (a) sem balanço, (b) com balanço pequeno e (c) com um
balanço um pouco maior.
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 7
Muitos podem pensar que, quanto maior o balanço, melhor, mas isso
não é verdade. O aumento indiscriminado dos balanços na seção
longitudinal pode introduzir vibrações excessivas na estrutura, que podem levar
à fissuração das peças de concreto.
Vigas contínuas
Quando você aplica a solução em vigas contínuas, os apoios intermediários
estão sujeitos a momentos negativos, o que pode ser utilizado para uma
melhor distribuição dos momentos ao longo da estrutura. Outra solução
aplicada é o aumento da inércia das seções próximas aos apoios. Note, na
Figura 7, uma planta baixa em que, próximo ao apoio que se localiza no corte C,
ocorre o aumento da seção transversal.
Essa alteração permite uma redução dos momentos nos vãos, resultando
em menores alturas necessárias. Da análise estrutural, podemos pensar em
um dos problemas possíveis associados às vigas contínuas: os recalques.
Caso o estudo do terreno revele a possibilidade de deslocamentos da infra-
estrutura, provavelmente haverá uma redistribuição significativa de esforços,
corroborada pela extensão dos trechos. Um modo de tratar esse problema é
a utilização das vigas Gerber nos pontos de momento nulo, que introduzem
uma descontinuidade, diminuindo a interação solo-estrutura.
Transversinas
As transversinas colaboram para o aumento da rigidez da estrutura e para
a redução do comprimento destravado das estruturas, reduzindo a possibi-
lidade de torção.
Sobre o primeiro ponto, estudos demonstraram que, no caso de pontes
com várias vigas, a laje tinha rigidez suficiente, o que induziu a tendência da
utilização de transversinas apenas sobre os apoios. Sobre a segunda afir-
mação, podemos inferir que a utilização de seções compostas ou caixão (de
grande inércia à torção) tornam desnecessária a existência desses elementos
(MARCHETTI, 2018).
Caso o projeto da ponte não esteja apoiado sobre um encontro, as trans-
versinas entre os apoios da extremidade são dimensionadas para suportar
os empuxos dos maciços terrosos. Costumeiramente, autores consagrados,
como Marchetti (2018), definem as transversinas com essa função pelo nome
de “cortina”.
Cargas permanentes
O cálculo dessas cargas é mais simples, mas vale lembrar que podemos ter
dois modos como as cargas de peso próprio são transferidas às longarinas:
como cargas distribuídas ou concentradas. As cargas distribuídas provêm
daqueles elementos que se repetem ao longo de toda a seção transversal,
como as próprias longarinas, as lajes com as mísulas longitudinais, as defen-
sas, a pavimentação, as camadas de regularização, etc. Observe, por exemplo,
a seção transversal na Figura 8.
Como a maior parte das seções transversais das pontes é simétrica, você
pode calcular apenas metade da seção transversal.
Observe, na Figura 9a, um exemplo da distribuição das cargas permanentes
distribuídas e concentradas ao longo de uma ponte. Nas extremidades, estão
as cargas concentradas das cortinas de 120,41 kN, uma carga distribuída
triangular de ordenada máxima 8,5 kN/m, correspondente ao alargamento da
seção transversal da longarina, e as cargas de 45,5 kN, referente à transversina
de apoio, e de 32,2 kN, correspondente à transversina intermediária. Ao longo
de toda a estrutura, está a carga permanente distribuída de 51,5 kN/m. Para
esse conjunto de cargas, as reações de apoio podem ser calculadas, bem
como os esforços cortantes e os momentos máximos, sejam eles positivos
ou negativos, conforme pode ser visto na Figura 9b.
Figura 9. Longarina de uma ponte com (a) carregamentos aplicados e (b) esforços internos
resultantes.
Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 11
Cargas variáveis
A carga vertical variável predominante em pontes é devida ao deslocamento
dos móveis. O cálculo do trem-tipo para pontes é feito multiplicando as
cargas previstas no trem-tipo padrão pelos coeficientes prescritos na ABNT
NBR 7187:2003 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003). A carga
vertical variável é definida como o peso de um veículo de 45 t, adotado como
450 kN, com seis rodas, o que resulta em 75 kN de carga concentrada para a
pista por roda. A normativa ainda prescreve que os eixos do veículo devem
estar afastados entre si, da parte frontal e do fundo por 1,5 m. A área de
ocupação desse trem-tipo deve ser de 18 m², e uma carga distribuída adicional
de 5 kN/m² deverá ser considerada.
Após calcular o trem-tipo mediante a aplicação de todos os coeficientes
preconizados, devemos aplicá-lo na estrutura, de modo a obter os esforços
críticos. Para isso, você deve se perguntar: “Onde terei o maior momento
negativo? E o positivo? Onde será o maior esforço cortante? Onde obtenho a
maior reação para determinado apoio?”. E aqui está demarcada uma primeira
distinção sobre o tratamento que fizemos há pouco. Para cargas móveis,
diversos conjuntos de cargas e, consequentemente, reações de apoio e es-
forços internos são possíveis. No caso de vãos curtos simples, a alocação de
algumas posições e o cálculo por equilíbrio, da mesma forma como fizemos
para as cargas permanentes, podem ser o suficiente.
Entretanto, no caso de vãos extensos, deslocar esse trem-tipo, para que
seja possível um escalonamento de armadura (pois dimensionar toda a ponte
com o momento máximo não é economicamente viável), é muito trabalhoso.
Como solução, podemos utilizar um processo simplificado, designado “método
das linhas de influência”, que possibilita o cálculo de diversos conjunto de
cargas a partir da análise do deslocamento de uma carga unitária em relação
a uma seção.
Linhas de influência
Martha (2018) define uma linha de influência como um método gráfico no
qual uma carga unitária percorre a estrutura e a variação de determinado
esforço interno, ou reação de apoio em uma seção de interesse, é traçada
em função da posição.
Perceba que, no cálculo usual, as cargas são estáticas, e movemos a seção
para a determinação dos esforços. Por outro lado, as linhas de influência
são traçadas em uma seção fixa. A vantagem por trás desse processo é a
proporcionalidade guardada com o diagrama gerado pela carga unitária, que
simplifica o cálculo para diversas seções. A seguir, você aprenderá o traçado
para o cálculo das reações de apoio, esforços cortantes e momentos fletores.
x = 2,5 m Ay
l
l
l Ay = l – x
10
Ay By x
10 m 10
a b
Figura 10. (a) Viga simplesmente apoiada com carga unitária se deslocando e (b) linha de
influência da reação de apoio Ay.
Fonte: Adaptada de Hibbeler (2013).
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 13
a b
Figura 11. (a) Carga unitária e esforços internos na seção S e (b) construção da linha de
influência do esforço cortante na seção S.
Fonte: Adaptada de Martha (2018).
Na Figura 11a, vemos uma seção transversal muito comum para pontes em
vigas, com balanços nas extremidades, em que uma seção no vão S é marcada
para verificar os esforços máximos e mínimos devido a uma carga atuante.
Marcamos as dimensões a e b até os apoios, porque, ao utilizar cargas unitárias,
as linhas de influência para vigas isostáticas serão função apenas da proporção
entre os vãos. Na seção S, com a carga se aproximando pela esquerda, vemos
o momento MS no sentido anti-horário e a cortante QS para baixo. Quando a
carga se aproxima pela direita, vemos o sentido desses esforços invertidos.
Na Figura 11b, vemos a linha de influência construída mediante o deslo-
camento da carga. Cada ordenada da linha de influência representa o valor
da cortante em S quando a carga está naquele ponto. Por exemplo, quando a
carga unitária estiver na ponta do balanço da esquerda, o cortante em S será
positivo e de valor igual à ordenada nesse ponto. Quando o carregamento
chegar ao apoio, este absorverá toda a força, então a ordenada da linha de
14 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura
influência será zero, como você pode ver. Por fim, quando a carga estiver
sobre a seção, ocorrerá um “salto”, cuja variação será equivalente ao valor
da carga, ou seja, a ordenada variará 1.
Aqui se encontra um aspecto prático da utilização desse método. Como
dissemos anteriormente, as ordenadas das linhas de influência, no caso de
estruturas isostáticas, serão função apenas das proporções entre os vãos.
Por exemplo, se nossa seção S estiver no meio do vão e soubermos que o
salto será de 1, podemos afirmar que teremos 0,50 acima do eixo e 0,50 abaixo
do eixo. Então, podemos ligar aos apoios, sabendo que estes tem valor 0,
e como não existem outros saltos, seguir a mesma inclinação da linha e,
depois, calcular o valor a partir de relações de semelhança de triângulos.
No final deste capítulo, você verá um exemplo que esclarecerá algumas
dúvidas.
Figura 12. Linha de influência do momento fletor na seção S para estrutura hiperestática.
Fonte: Adaptada de Martha (2018).
Você deve der percebido que as linhas de influência, nesse caso, são curvas.
Se, para estruturas isostáticas, as linhas de influência para momento serão
retas e sua construção parte apenas das proporções entre os vãos, em que
podemos utilizar métodos gráficos, para estruturas hiperestáticas, existem
restrições de deslocamento. Por consequência, métodos hiperestáticos devem
ser aplicados para resolver essas estruturas.
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 15
Após construir as linhas de influência para uma dada ponte, como utilizá-
-las para determinar os esforços com as cargas móveis? Vamos aprender isso
na próxima seção.
Exemplo
Observe a seção longitudinal da ponte na Figura 14.
1. Reação de apoio
2. Esforço cortante
1. Do mesmo modo, para cada seção do esforço cortante, você deve traçar
a linha de influência, posicionar sobre os máximos e mínimos, e, então,
obter o resultado. Vejamos a seção 3, por exemplo.
2. Inicialmente, sabemos que o valor para essa seção será zero quando as
cargas estiverem sobre o apoio. Pelo exposto anteriormente, sabemos
que, na seção, teremos um salto e que as ordenadas serão proporcionais
aos vãos. A seção se encontra a 5 m do apoio da esquerda em um vão
de 25 m. Logo, a primeira ordenada a partir desse apoio será y1 = 5/25
= 0,2. Podemos marcar esse ponto.
3. Agora, saltamos 1 no outro sentido. Como saímos de –0,2, teremos y2 =
–0,2 + 1 = 0,8. Perceba que o mesmo valor seria obtido se utilizássemos
proporção, ou seja, a partir do apoio da direita, teríamos y2 = –20/25 = 0,8.
4. A partir dessas duas ordenadas, você pode traçar a linha até os apoios,
pois eles serão iguais a zero, e prosseguir no mesmo ângulo até o fim
da estrutura. O resultado é a linha de influência da Figura 17.
Você deve proceder similarmente para cada uma das seções de interesse,
até meia seção, no caso de pontes simétricas.
3. Momentos fletores
De modo similar aos esforços anteriores, você deve traçar as linhas de in-
fluência para o esforço em análise. Vamos exemplificar calculando o esforço
para a seção 4, no vão.
5,25 × 25
Máx. 4 = 119,01 × (5,25 + 4,8 + 4,35) + × 19,65 = 3.003,28 kNm
2
Mín. [
4 = − 119,01 (3,15 + 2,1 + 1,05) +
4,5 × 3,15
2
× 19,65 +
1,35 4,5
2
× 19,65 ]
Mín. 4 = −948,72 kNm
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Referências
ALBUQUERQUE, A. Á. de A. Implementação de elementos finitos de barra e placa para
a análise de esforços em tabuleiros de pontes por meio de superfícies de influência.
2014. 250 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) — Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2014. Disponível em: http://www.teses.
usp.br/teses/disponiveis/18/18134/tde-28072014-093844/. Acesso em: 19 maio 2021.
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Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 7188:2013: carga móvel
rodoviária e de pedestres em pontes, viadutos, passarelas e outras estruturas. Rio
de Janeiro: ABNT, 2013. (E-book).
LEONHARDT, F. Construções de concreto: princípios básicos da construção de pontes
de concreto. Rio de Janeiro: Interciência, 1979. v. 6.
MASOUMI, F.; MEHRABZADEH, A. Application of influence lines on static analysis
of cable-stayed bridges. International Journal of Engineering and Technology, v. 5,
nº 643, 2013. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Faraz-Masoumi/
publication/257062748_Application_of_Influence_Lines_on_Static_Analysis_of_Cable-
-Stayed_Bridges/links/00b7d5320670e840a9000000/Application-of-Influence-Lines-
-on-Static-Analysis-of-Cable-Stayed-Bridges.pdf. Acesso em: 19 maio 2021.
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