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PONTES E

GRANDES
ESTRUTURAS
Distribuição dos
carregamentos
e determinação
dos esforços na
superestrutura
Igor José Santos Ribeiro

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever os principais sistemas estruturais utilizados em pontes.


>> Explicar a distribuição dos carregamentos de pontes em vigas.
>> Classificar as linhas de influência em vigas e respectivos esforços solicitantes.

Introdução
A partir das análises econômica, estética e técnica, distintas soluções podem ser
aplicadas para transpor obstáculos com pontes. Para um bom projeto, você deve
partir do que conhece, da teoria e das normas vigentes, para, então, adequar sua
concepção.
A essa altura, você já deve ter chegado à conclusão de que é imprescindível
conhecer os distintos sistemas estruturais utilizados na engenharia, e vamos,
neste capítulo, apresentar alguns desses sistemas. Especificamente, vamos
mostrar como eles podem ser modelados e analisados para que informações
2 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

para o dimensionamento sejam extraídas. Focaremos a discussão em um dos


tipos específicos de pontes, as denominadas “pontes em vigas”.

Sistemas estruturais das pontes


Existem inúmeras soluções de sistemas estruturais que você poderá aplicar a
partir do contexto do local de implantação. Uma das possibilidades é a utili-
zação de pontes em arco. Esse sistema apresenta uma redução dos esforços
de tração devido à flexão por causa de sua forma. Isso é particularmente
interessante ao pensarmos na utilização de materiais que têm propriedades
mecânicas de resistência à compressão adequadas, mas reduzida resistência
à tração, como algumas rochas, além do já amplamente utilizado concreto.
Em contrapartida, as exigências associadas aos empuxos gerados pelas
componentes de forças transmitidas ao solo pelos arcos, juntamente aos
custos relativos às técnicas construtivas, têm gerado uma redução na aplicação
dessa solução. Uma possibilidade de alívio desses empuxos ocorre quando
a solução concebida é em arco com tabuleiro inferior (Figura 1), de modo que
a componente de tração do tabuleiro alivia as cargas transferidas ao solo.

Figura 1. Ponte em arco com tabuleiro inferior.


Fonte: Succhi (2006, documento on-line).

Outro tipo possível de solução são as pontes em lajes, que se trata de um


sistema estrutural em lajes, sem vigamentos. Elas podem ser simplesmente
apoiadas nos encontros das pontes ou contínuas, com apoios intermediá-
rios. Pela rigidez dos tabuleiros utilizados, esse sistema apresenta uma boa
resistência à torção (MATTOS, 2001).
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 3

O dimensionamento dessas peças pode ser efetuado por meio de diversos


métodos, entre os quais a teoria das placas, bastante difundida. A situação
mais desfavorável para o projeto pode ser extraída a partir de métodos como
o das superfícies de influência, ou por meio das tabelas de Rüsch. Albuquerque
(2014) expõe os principais conceitos associados ao dimensionamento das
lajes de pontes, bem como implementa o método de elementos finitos por
meio de teorias das placas espessas para o dimensionamento de pontes de
concreto, visando a obter uma melhor aproximação das deformações reais
que ocorrem. Observe, na Figura 2, a saída da modelagem de uma laje por
elementos finitos.

Figura 2. Laje modelada por elementos finitos.


Fonte: Araújo e Araújo (2013, documento on-line).

Quando o vão a ser transposto é aumentado, devido ao peso próprio da


seção necessária, você pode aplicar lajes alveolares, obtendo, assim, maior
leveza e o alívio das cargas. Além disso, caso a laje tenha apoios intermediários,
existe uma tendência do pilar em “furar” a estrutura, fenômeno conhecido
como “punção”. Esse fenômeno deve ser levado em consideração para que
eventuais detalhamentos necessários na área crítica do apoio do topo do
pilar sejam efetuados ou mesmo que soluções com capteis sejam pensadas.
Observe, na Figura 3, uma ilustração desse efeito.
4 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

Figura 3. Punção possível em pontes de lajes de concreto armado continuamente apoiadas.


Fonte: Kaestner (2021, documento on-line).

Pontes em laje apoiadas diretamente sobre o topo dos pilares (la-


jes lisas) podem sofrer punção. As verificações simplificadas ou
completas deverão ser feitas de acordo com o item 19.5 da ABNT NBR 6118:2014.

Outro sistema é designado por pontes em pórtico. A ideia é bem simples:


a superestrutura tem uma vinculação com a mesoestrutura que permite a
transmissão de momentos, o que pode ser obtido por meio de peças mo-
nolíticas sem os aparelhos de apoio. Como você já deve imaginar, de modo
similar a qualquer pórtico, essa transmissão de momentos reduz a deflexão
na parte superior, que, nesse caso, é a superestrutura da ponte, e gera flexão
nos pilares, que deve ser propriamente considerada no cálculo. Veja a Figura
4. Por outro lado, o comprimento efetivo de flambagem para essa solução
(engastado em ambas as extremidades), de acordo com a ABNT NBR 6118:2014,
é superior à condição usual (engaste-rótula), tornando essa solução não de-
sejável para cenários em que sejam necessários pilares esbeltos (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). O conceito, porém, pode ser aplicado
a diversos vãos, desde que feitas as devidas adaptações.
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 5

a b

Figura 4. Distinção entre pontes (a) com vínculos articulados e (b) monolíticos em relação
à superestrutura.

Busque, na web, pela dissertação “Pontes em pórtico de pequenos


vãos com superestrutura formada de elementos pré-moldados:
estudo de caso”, de Bruno de Morais Pretti, para ver um exemplo de cálculo de
ponte em pórtico.

Finalmente, a solução mais amplamente aplicada no Brasil é denominada


pontes em vigas. Nesse sistema, a superestrutura é apoiada por aparelhos
de apoio sobre o topo dos pilares, de modo que as ligações são rotuladas,
sem transmissão de momentos. A conhecida ponte Rio-Niterói ilustra esse
sistema estrutural (Figura 5).

Figura 5. Ponte Rio-Niterói, em viga.


Fonte: Caminhões... (2021, documento on-line).
6 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

Com relação às partes da superestrutura, o tabuleiro é suportado por


vigamentos longitudinais, cujas peças são chamadas de “longarinas”, e viga-
mentos transversais, que atendem pelo nome de “transversinas”.

Longarinas
As longarinas suportam, primariamente, o tabuleiro e os demais elementos
acessórios, bem como as cargas móveis do deslocamento dos veículos. Sobre
a disposição desses elementos e as condições de contorno, em similaridade
às demais estruturas, podemos classificar essas estruturas em simplesmente
apoiadas ou contínuas, em que existem diversos apoios, onde as longarinas
se apoiam.

Vigas simplesmente apoiadas


As vigas simplesmente apoiadas podem ser de tramo único, com apenas um
vão, ou de tramos sucessivos, quando não há continuidade sobre os apoios.
Da análise de estruturas, você sabe que vigas simplesmente apoiadas têm
o diagrama de momento fletor, ilustrado na Figura 6a. Perceba que, nesse
caso, a magnitude dos momentos que atuam na configuração limita os vãos
que esse sistema estrutural pode vencer. Como, então, você poderia melhorar
isso? A utilização de balanços é uma das soluções possíveis para aliviar as
cargas nos apoios. Observe a Figura 6b, em que o momento positivo é aliviado
conforme aumentamos a fração em balanço.

Figura 6. Distinção entre pontes (a) sem balanço, (b) com balanço pequeno e (c) com um
balanço um pouco maior.
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 7

Muitos podem pensar que, quanto maior o balanço, melhor, mas isso
não é verdade. O aumento indiscriminado dos balanços na seção
longitudinal pode introduzir vibrações excessivas na estrutura, que podem levar
à fissuração das peças de concreto.

Vigas contínuas
Quando você aplica a solução em vigas contínuas, os apoios intermediários
estão sujeitos a momentos negativos, o que pode ser utilizado para uma
melhor distribuição dos momentos ao longo da estrutura. Outra solução
aplicada é o aumento da inércia das seções próximas aos apoios. Note, na
Figura 7, uma planta baixa em que, próximo ao apoio que se localiza no corte C,
ocorre o aumento da seção transversal.

Figura 7. Aumento da seção transversal da longarina próxima ao apoio.


Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).
8 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

Essa alteração permite uma redução dos momentos nos vãos, resultando
em menores alturas necessárias. Da análise estrutural, podemos pensar em
um dos problemas possíveis associados às vigas contínuas: os recalques.
Caso o estudo do terreno revele a possibilidade de deslocamentos da infra-
estrutura, provavelmente haverá uma redistribuição significativa de esforços,
corroborada pela extensão dos trechos. Um modo de tratar esse problema é
a utilização das vigas Gerber nos pontos de momento nulo, que introduzem
uma descontinuidade, diminuindo a interação solo-estrutura.

A utilização de vigas Gerber pode auxiliar a reduzir o efeito de re-


calques diferenciais. Todavia, as rótulas e os detalhamentos devem
ser cuidadosamente executados.

Transversinas
As transversinas colaboram para o aumento da rigidez da estrutura e para
a redução do comprimento destravado das estruturas, reduzindo a possibi-
lidade de torção.
Sobre o primeiro ponto, estudos demonstraram que, no caso de pontes
com várias vigas, a laje tinha rigidez suficiente, o que induziu a tendência da
utilização de transversinas apenas sobre os apoios. Sobre a segunda afir-
mação, podemos inferir que a utilização de seções compostas ou caixão (de
grande inércia à torção) tornam desnecessária a existência desses elementos
(MARCHETTI, 2018).
Caso o projeto da ponte não esteja apoiado sobre um encontro, as trans-
versinas entre os apoios da extremidade são dimensionadas para suportar
os empuxos dos maciços terrosos. Costumeiramente, autores consagrados,
como Marchetti (2018), definem as transversinas com essa função pelo nome
de “cortina”.

Distribuição dos carregamentos:


pontes em vigas
Após conhecer os pormenores de alguns modelos estruturais aplicados, você
pode estar se perguntando: “Certo, eu já sei o que acontece quando eu aplico
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 9

as cargas, mas, quais cargas eu aplico? E qual é a posição delas?”. Vamos


responder essas perguntas nesta seção, demonstrando os carregamentos
considerados nas longarinas de uma ponte de vigas. Seguindo a classificação
da ABNT NBR 7187:2003, vamos dividir as ações atuantes sobre a estrutura
em dois grupos: cargas permanentes e cargas acidentais.

Cargas permanentes
O cálculo dessas cargas é mais simples, mas vale lembrar que podemos ter
dois modos como as cargas de peso próprio são transferidas às longarinas:
como cargas distribuídas ou concentradas. As cargas distribuídas provêm
daqueles elementos que se repetem ao longo de toda a seção transversal,
como as próprias longarinas, as lajes com as mísulas longitudinais, as defen-
sas, a pavimentação, as camadas de regularização, etc. Observe, por exemplo,
a seção transversal na Figura 8.

Figura 8. Seção transversal de uma ponte.


Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).

Basta calcular a área de cada um dos elementos presentes e multiplicar


por seu peso específico, de 25 kN/m³ para o concreto armado e 24 kN/m³ para
concreto simples ou pavimentação.
Já para o cálculo das cargas concentradas, levaremos em consideração
os elementos que se localizam apenas em uma região da ponte em análise.
Integram essa categoria os alargamentos das transversinas, as transversinas
intermediárias, de apoio e cortinas, e, por fim, o alargamento das longarinas.
Todas essas cargas, já calculadas, são aplicadas à ponte, obedecendo às
respectivas seções transversais, pois estamos lidando com cargas estáticas.
10 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

Como a maior parte das seções transversais das pontes é simétrica, você
pode calcular apenas metade da seção transversal.
Observe, na Figura 9a, um exemplo da distribuição das cargas permanentes
distribuídas e concentradas ao longo de uma ponte. Nas extremidades, estão
as cargas concentradas das cortinas de 120,41 kN, uma carga distribuída
triangular de ordenada máxima 8,5 kN/m, correspondente ao alargamento da
seção transversal da longarina, e as cargas de 45,5 kN, referente à transversina
de apoio, e de 32,2 kN, correspondente à transversina intermediária. Ao longo
de toda a estrutura, está a carga permanente distribuída de 51,5 kN/m. Para
esse conjunto de cargas, as reações de apoio podem ser calculadas, bem
como os esforços cortantes e os momentos máximos, sejam eles positivos
ou negativos, conforme pode ser visto na Figura 9b.

Figura 9. Longarina de uma ponte com (a) carregamentos aplicados e (b) esforços internos
resultantes.
Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 11

Cargas variáveis
A carga vertical variável predominante em pontes é devida ao deslocamento
dos móveis. O cálculo do trem-tipo para pontes é feito multiplicando as
cargas previstas no trem-tipo padrão pelos coeficientes prescritos na ABNT
NBR 7187:2003 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003). A carga
vertical variável é definida como o peso de um veículo de 45 t, adotado como
450 kN, com seis rodas, o que resulta em 75 kN de carga concentrada para a
pista por roda. A normativa ainda prescreve que os eixos do veículo devem
estar afastados entre si, da parte frontal e do fundo por 1,5 m. A área de
ocupação desse trem-tipo deve ser de 18 m², e uma carga distribuída adicional
de 5 kN/m² deverá ser considerada.
Após calcular o trem-tipo mediante a aplicação de todos os coeficientes
preconizados, devemos aplicá-lo na estrutura, de modo a obter os esforços
críticos. Para isso, você deve se perguntar: “Onde terei o maior momento
negativo? E o positivo? Onde será o maior esforço cortante? Onde obtenho a
maior reação para determinado apoio?”. E aqui está demarcada uma primeira
distinção sobre o tratamento que fizemos há pouco. Para cargas móveis,
diversos conjuntos de cargas e, consequentemente, reações de apoio e es-
forços internos são possíveis. No caso de vãos curtos simples, a alocação de
algumas posições e o cálculo por equilíbrio, da mesma forma como fizemos
para as cargas permanentes, podem ser o suficiente.
Entretanto, no caso de vãos extensos, deslocar esse trem-tipo, para que
seja possível um escalonamento de armadura (pois dimensionar toda a ponte
com o momento máximo não é economicamente viável), é muito trabalhoso.
Como solução, podemos utilizar um processo simplificado, designado “método
das linhas de influência”, que possibilita o cálculo de diversos conjunto de
cargas a partir da análise do deslocamento de uma carga unitária em relação
a uma seção.

A análise por linhas de influência tem sido utilizada mesmo para


análise dos esforços normais, cortantes e momentos fletores nas
diferentes conexões possíveis dos cabos, na solução em pontes estaiadas.
Implantando o método computacionalmente, Masoumi e Mehrabzadeh (2013)
determinaram qual configuração de cabos gerava mais esforços nas longarinas
e transversinas de determinada ponte.
12 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

Linhas de influência
Martha (2018) define uma linha de influência como um método gráfico no
qual uma carga unitária percorre a estrutura e a variação de determinado
esforço interno, ou reação de apoio em uma seção de interesse, é traçada
em função da posição.
Perceba que, no cálculo usual, as cargas são estáticas, e movemos a seção
para a determinação dos esforços. Por outro lado, as linhas de influência
são traçadas em uma seção fixa. A vantagem por trás desse processo é a
proporcionalidade guardada com o diagrama gerado pela carga unitária, que
simplifica o cálculo para diversas seções. A seguir, você aprenderá o traçado
para o cálculo das reações de apoio, esforços cortantes e momentos fletores.

Traçado das linhas de influência das reações


de apoio
Inicialmente, vamos observar um exemplo simples, uma viga biapoiada.
Vamos deslocar a carga unitária para diferentes valores do eixo x, marcado
na Figura 10a. Para x = 0 m, o valor da reação será um, e esse, portanto, será
o valor da ordenada da linha de influência. O valor da reação, então, decairá;
conforme a carga se move, o valor da reação cairá, até atingir zero, quando
estiver sobre o apoio da direita. A partir dos valores obtidos das ordenadas,
a linha de influência para a reação de apoio pode ser traçada, conforme você
pode verificar na Figura 10b.

x = 2,5 m Ay
l
l
l Ay = l – x
10

Ay By x
10 m 10
a b

Figura 10. (a) Viga simplesmente apoiada com carga unitária se deslocando e (b) linha de
influência da reação de apoio Ay.
Fonte: Adaptada de Hibbeler (2013).
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 13

Nem sempre teremos situações simples de análise, por isso é recomen-


dável fazer uma tabela para registrar o valor do esforço em análise, na seção
desejada, conforme desloca a carga. Caso o cálculo não seja de uma reação
de apoio, mas uma seção qualquer, o procedimento será similar. Veja a seção
a seguir.

Traçado das linhas de influência do esforço cortante


Para o traçado da linha de influência do esforço cortante, procederemos de
modo similar à reação de apoio, com a distinção de que, para a seção em
análise, deveremos considerar a resposta do esforço interno à direita e à
esquerda da seção. Acompanhe a explicação a partir da Figura 11.

a b

Figura 11. (a) Carga unitária e esforços internos na seção S e (b) construção da linha de
influência do esforço cortante na seção S.
Fonte: Adaptada de Martha (2018).

Na Figura 11a, vemos uma seção transversal muito comum para pontes em
vigas, com balanços nas extremidades, em que uma seção no vão S é marcada
para verificar os esforços máximos e mínimos devido a uma carga atuante.
Marcamos as dimensões a e b até os apoios, porque, ao utilizar cargas unitárias,
as linhas de influência para vigas isostáticas serão função apenas da proporção
entre os vãos. Na seção S, com a carga se aproximando pela esquerda, vemos
o momento MS no sentido anti-horário e a cortante QS para baixo. Quando a
carga se aproxima pela direita, vemos o sentido desses esforços invertidos.
Na Figura 11b, vemos a linha de influência construída mediante o deslo-
camento da carga. Cada ordenada da linha de influência representa o valor
da cortante em S quando a carga está naquele ponto. Por exemplo, quando a
carga unitária estiver na ponta do balanço da esquerda, o cortante em S será
positivo e de valor igual à ordenada nesse ponto. Quando o carregamento
chegar ao apoio, este absorverá toda a força, então a ordenada da linha de
14 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

influência será zero, como você pode ver. Por fim, quando a carga estiver
sobre a seção, ocorrerá um “salto”, cuja variação será equivalente ao valor
da carga, ou seja, a ordenada variará 1.
Aqui se encontra um aspecto prático da utilização desse método. Como
dissemos anteriormente, as ordenadas das linhas de influência, no caso de
estruturas isostáticas, serão função apenas das proporções entre os vãos.
Por exemplo, se nossa seção S estiver no meio do vão e soubermos que o
salto será de 1, podemos afirmar que teremos 0,50 acima do eixo e 0,50 abaixo
do eixo. Então, podemos ligar aos apoios, sabendo que estes tem valor 0,
e como não existem outros saltos, seguir a mesma inclinação da linha e,
depois, calcular o valor a partir de relações de semelhança de triângulos.
No final deste capítulo, você verá um exemplo que esclarecerá algumas
dúvidas.

Traçado das linhas de influência do momento fletor


Ao deslocar a carga unitária, o momento fletor em uma seção específica é
dada pelo diagrama disposto na Figura 12. Quando a carga se encontra sobre o
apoio da esquerda, toda a carga é absorvida, e o momento em S é igual a zero.
O valor do esforço aumenta gradualmente com valor máximo quando a força
está sobre a seção. A seção estará submetida ao maior momento negativo
em algum ponto no segundo vão. Por fim, o momento devido à carga unitária
em S, quando esta se localizar no último vão, terá valores muito pequenos.

Figura 12. Linha de influência do momento fletor na seção S para estrutura hiperestática.
Fonte: Adaptada de Martha (2018).

Você deve der percebido que as linhas de influência, nesse caso, são curvas.
Se, para estruturas isostáticas, as linhas de influência para momento serão
retas e sua construção parte apenas das proporções entre os vãos, em que
podemos utilizar métodos gráficos, para estruturas hiperestáticas, existem
restrições de deslocamento. Por consequência, métodos hiperestáticos devem
ser aplicados para resolver essas estruturas.
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 15

Para linhas de influência de estruturas hiperestáticas, os valores


das ordenadas são obtidos por meio da aplicação dos métodos dis-
poníveis para essas estruturas.

Após construir as linhas de influência para uma dada ponte, como utilizá-
-las para determinar os esforços com as cargas móveis? Vamos aprender isso
na próxima seção.

Como utilizar as linhas de influência


A aplicação dos traçados construídos é simples, estando relacionada apenas
ao tipo de carga das reais atuantes na viga, isto é, se concentradas ou dis-
tribuídas. Após construir o seu trem-tipo, você obterá cargas concentradas,
com espaçamento entre os eixos de acordo com o preconizado, e uma carga
distribuída a considerar na área do veículo e na parte externa. Um exemplo
de trem-tipo calculado encontra-se disposto na Figura 13a. É possível, ainda,
simplificar considerando a mesma carga distribuída atuante. Para isso, basta
subtrair a diferença gerada pelas cargas concentradas (Figura 13b).

Figura 13. (a) Trem-tipo calculado padrão e (b) trem-tipo simplificado.


Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).

Com o trem-tipo em mãos, posicionaremos as cargas de modo a ob-


ter o maior esforço para uma seção, olhando para sua linha de influência.
Em seguida, obteremos o parâmetro em análise multiplicando as cargas
concentradas do trem-tipo pela respectiva ordenada da linha de influência
e as cargas distribuídas pela área sobre a qual essa carga se estende no
diagrama das linhas de influência. E pronto, sem mais cálculos.
16 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

Ainda está difícil compreender? Acompanhe o exemplo a seguir, baseado


em Marchetti (2018), para o mesmo trem-tipo considerado.

Exemplo
Observe a seção longitudinal da ponte na Figura 14.

Figura 14. Seção longitudinal da ponte.


Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).

Temos as lajes de aproximação, na dimensão de 300 cm, nas extremidades,


que não farão parte de nossa análise. A partir delas, temos os balanços,
de 450 cm, e um vão de 2.500 cm. Podemos, então, dividir em seções de
interesse para o cálculo de esforços.

1. Reação de apoio

1. Inicialmente, devemos construir as linhas de influência para o esforço


desejado. Por exemplo, para o apoio A, teremos a seção S nesse ponto
enquanto percorremos a estrutura. Sabemos que, quando a carga
unitária estiver sobre o apoio em análise, o valor da ordenada será 1.
Quando a carga estiver sobre o apoio da direita, será 0, pois toda a
carga será absorvida por este.
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 17

2. Podemos, então, traçar uma linha ligando a ordenada 1 ao ponto zero.


Como não existem saltos, podemos prosseguir a linha para os balan-
ços da esquerda e da direita, e calcular as ordenadas restantes por
semelhança de triângulos. Observe a Figura 15.

Figura 15. Linha de influência traçada.


Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).

3. De posse dessa linha de influência, podemos posicionar o nosso trem-


-tipo. Como o valor para A tem maior ordenada à esquerda (1,180),
alocaremos as cargas concentradas no balanço e o restante da carga
distribuída prolongada até o apoio da direita, onde cessam as contri-
buições à reação de apoio A para o máximo valor positivo.
4. A partir da mesma argumentação, para o máximo valor negativo ou
valor mínimo, devemos pôr o trem tipo onde as linhas de influência têm
menor ordenada, ou seja, do balanço após o apoio da direita. A partir
dessa lógica, obtemos a Figura 16. Observe que o posicionamento da
carga está separado em máximo e mínimo, marcados abaixo da linha
de influência no eixo da direita.
18 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

Figura 16. Posicionamento da carga.


Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).

5. Agora, basta multiplicarmos o valor das respectivas ordenadas onde


cada uma das cargas concentradas se encontra e somarmos o resul-
tado ao cálculo da área sob a linha de influência (para esse exemplo,
equivalente à área de um triângulo) correspondente à carga distribuída
multiplicada pelo valor desta. Portanto:

Máximo valor positivo da reação A =


119,01 × (1,18 + 1,12 + 1,06) + (1,18 × 29,5)/2 × 19,65
Máximo valor positivo da reação A = 741,88 kN

Máximo valor negativo da reação A =


119,01 × (0,18 + 1,12 + 1,06) + (1,18 × 29,5)/2 × 19,65
Máximo valor negativo da reação A = 50,80 kN
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 19

2. Esforço cortante

1. Do mesmo modo, para cada seção do esforço cortante, você deve traçar
a linha de influência, posicionar sobre os máximos e mínimos, e, então,
obter o resultado. Vejamos a seção 3, por exemplo.
2. Inicialmente, sabemos que o valor para essa seção será zero quando as
cargas estiverem sobre o apoio. Pelo exposto anteriormente, sabemos
que, na seção, teremos um salto e que as ordenadas serão proporcionais
aos vãos. A seção se encontra a 5 m do apoio da esquerda em um vão
de 25 m. Logo, a primeira ordenada a partir desse apoio será y1 = 5/25
= 0,2. Podemos marcar esse ponto.
3. Agora, saltamos 1 no outro sentido. Como saímos de –0,2, teremos y2 =
–0,2 + 1 = 0,8. Perceba que o mesmo valor seria obtido se utilizássemos
proporção, ou seja, a partir do apoio da direita, teríamos y2 = –20/25 = 0,8.
4. A partir dessas duas ordenadas, você pode traçar a linha até os apoios,
pois eles serão iguais a zero, e prosseguir no mesmo ângulo até o fim
da estrutura. O resultado é a linha de influência da Figura 17.

Figura 17. Linha de influência até o fim da estrutura.


Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).

5. A partir daí, com semelhança de triângulos, você pode determinar todas


as ordenadas de interesse.

Na sequência, os passos serão os mesmos (3, 4 e 5) do item anterior.


Observe, na Figura 18, que a carga distribuída se encontra apenas para o
trecho positivo para combinação máxima e apenas sobre o trecho negativo
para combinação mínima.
20 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

Figura 18. Carga distribuída.


Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).

Você deve proceder similarmente para cada uma das seções de interesse,
até meia seção, no caso de pontes simétricas.

3. Momentos fletores

De modo similar aos esforços anteriores, você deve traçar as linhas de in-
fluência para o esforço em análise. Vamos exemplificar calculando o esforço
para a seção 4, no vão.

1. Para vigas isostáticas, é possível obter a relação para a ordenada má-


xima da linha de influência, que, em um vão positivo, sempre ocorrerá
quando a carga estiver sobre a seção:

máx 7,5 × 17,5


= → máx = ∴ máx = = 5,25
ℓ ℓ 25
Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura 21

2. Como temos vigas isostáticas e sabemos que os momentos são nulos


em apoios de 2° gênero, você pode ligar a ordenada máxima aos apoios
e, então, prosseguir com a reta até ambas as extremidades.
3. Por semelhança de triângulo, você pode calcular os valores das demais
ordenadas de interesse (Figura 19).

Figura 19. Semelhança de triângulo.


Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).

4. Em seguida, siga os passos 3, 4 e 5 do item “Reações de apoio”, resultado


na distribuição de cargas (Figura 20). O que resulta em:

5,25 × 25
Máx. 4 = 119,01 × (5,25 + 4,8 + 4,35) + × 19,65 = 3.003,28 kNm
2

Mín. [
4 = − 119,01 (3,15 + 2,1 + 1,05) +
4,5 × 3,15
2
× 19,65 +
1,35 4,5
2
× 19,65 ]
Mín. 4 = −948,72 kNm
22 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

Figura 20. Distribuição de cargas.


Fonte: Adaptada de Marchetti (2018).

De modo similar, você conseguirá obter os máximos e mínimos de cada


uma das seções desejadas.
Uma vez que tenha obtido, para cada seção de interesse, os esforços
máximos e mínimos gerados pela carga móvel, você poderá combinar o valor
da carga permanente e, por fim, obter a chamada “envoltória de esforços”, em
que estarão sumarizadas as informações necessárias para o dimensionamento.

Referências
ALBUQUERQUE, A. Á. de A. Implementação de elementos finitos de barra e placa para
a análise de esforços em tabuleiros de pontes por meio de superfícies de influência.
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MARCHETTI, O. Pontes de concreto armado. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2018.
MARTHA, L. F. Análise de estruturas: conceitos e métodos básicos. 2. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2017. (E-book).
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Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 7188:2013: carga móvel
rodoviária e de pedestres em pontes, viadutos, passarelas e outras estruturas. Rio
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de concreto. Rio de Janeiro: Interciência, 1979. v. 6.
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publication/257062748_Application_of_Influence_Lines_on_Static_Analysis_of_Cable-
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-on-Static-Analysis-of-Cable-Stayed-Bridges.pdf. Acesso em: 19 maio 2021.
24 Distribuição dos carregamentos e determinação dos esforços na superestrutura

PFEIL, W. Pontes em concreto armado. Rio de Janeiro: LTC, 1979.


PRETTI, B. de M. Pontes em pórtico de pequenos vãos com superestrutura formada de
elementos pré-moldados: estudo de caso. 1995. 233 f. Dissertação 1995. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18134/tde-02052018-103454/publico/
Dissert_Pretti_BrunoM.pdf. Acesso em: 19 maio 2021.

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