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#175
NATHALIE DE GOUVEIA,
GENERAL MANAGER DE
WELLA COMPANY NO BRASIL
LIVRE PARA
AVANÇAR
Quase 20 anos após ter sido
comprada pela P&G, a Wella
volta a ser uma empresa inde-
pendente, com foco em cabe-
los, no mercado profissional
e impulssionada pelos bons
resultados do Brasil
HORA DE OLHAR As maiores redes do varejo de beleza passaram os últimos anos se expandindo.
A GOVERNANÇA Agora, chegou a hora de preparar a casa para o próximo ciclo de crescimento
08. WELLA
Depois de quase 20 anos, a
Wella volta a ser uma em-
presa independente para
tocar o seu destino, com
foco no negócio de cabelos
e no mercado profissional.
#175
16.
grandes transformações, do qual pode emergir
uma indústria nova, mais sustentável e livre
de combustíveis fósseis.
CATEGORIA
MAQUIAGEM
O avanço da vacinação e a gradual retirada das
restrições de circulação decorrentes da pan-
demia acendem uma luz amarela para a catego-
ria de maquiagem, que agora pode, ao menos,
começar a vislumbrar uma mudança de rota
53. SUPPLY CHAIN
BIOSUSTENTABILIDADE
após dois anos bastante difíceis. Saber o que está acontecendo na origem da
cadeia de fornecimento passou a ser uma
questão inevitável para as grandes empresas
do setor. E os fornecedores estão tendo que
investir para tornar essa cadeia o mínimo im-
24.
pactante posível em termos ambientais e so-
ciais.
CANAL
VAREJO DE BELEZA
56.
Depois de crescer chegou a hora de botar a casa
em ordem para dar conta dos próximos passos.
Sim, as redes de perfumaria precisam evoluir MERCADO
com a sua governança para seguir crescendo de
DIVERSIDADE E INCLUSÃO
forma sustentável no futuro. A hora é agora.
As indústrias de beleza, depois de muitos
anos, passaram a enxergar a população negra
como chave para o consumo e o crescimento
dos seus negócios. Agora, é chegada a hora de
trazê-los para dentro de casa e trabalhar para
que as estruturas corporativas possam refletir
o peso dessa parcela da população em seus
quadros.
A IMINÊNCIA DO AGORA
O
leitor que honra esta página com a ça. De qualquer forma, é um caminho sem volta e ao
sua leitura já deve ter se dado conta qual todo o mercado irá se adaptar. Trata-se de uma
de algo. Ainda que sob diferentes as- demanda do mercado, que responde a demandas de
pectos, os últimos editoriais de Atu- consumidores e sociedade.
alidade Cosmética vêm tratando de No outro ponto da cadeia, lidando diretamente
forma reiterada do momento de rápi- com os consumidores, o varejo de beleza vive, tam-
da transformação pelo qual passa o mundo, o consu- bém ele, um momento de grande transformação. O ca-
midor, e por consequência, tudo o que gera ao redor nal é fundamental para as pequenas e médias indús-
dele: em suma, todos nós. trias brasileiras - particularmente nos segmentos de
Obviamente, cada negócio, cada cadeia de valor cabelos e higiene pessoal - e cresceu de forma acelera-
tem a sua dinâmica e a forma como vai responder a da nos últimos anos, mas sob bases pequenas. Agora,
essas necessidades de mudanças e transformações se os principais atores somam algumas dezenas de lojas
dará de formas distintas, a depender do papel que a e não dão nenhum sinal de que pretendem parar com
empresa ocupa na cadeia e do seu grau de interação esse processo.
com o consumidor. O desafio é que a estrutura que suportou o cres-
Pegue por exemplo o negócio de fragrâncias, um cimento deles até aqui, não tem condições de garan-
dos mais relevantes de toda a cadeia de abastecimen- tir um novo ciclo de expansão que pode nos levar às
to da indústria de higiene pessoal, perfumaria e cos- primeiras redes de perfumaria com mais de 100 lojas.
méticos. O negócio que há mais de 100 anos tem boa O caminho é um só: investir na governança corpora-
parte da sua cadeia produtiva baseada em combustí- tiva, instituindo novos mecanismos de controle, esta-
veis fósseis, vive um novo ciclo de investimentos que belecendo acordos societários adequados ao porte da
prometem transformar o negócio completamente nos rede, trazendo profissionais com experiência e capaci-
próximos anos. Se tudo correr como anunciado pelas dade de liderança para dividir o comando, ou mesmo
principais companhias do setor, ao fim desta década, comandar o novo ciclo de crescimento, além de pre-
a paleta de matérias-primas olfativas dessas casas de- parar a si mesmo e aos membros da sua família com
verá ser 100% obtida de fontes renováveis, livrando o alguma participação no negócio para assumir novos
mercado dos hidrocarbonetos e se convertendo numa papéis na estrutura da empresa.
cadeia muito mais limpa do ponto de vista da sua pe- É um movimento que demandará investimentos
gada de carbono. compatíveis ao atual porte dessas redes e que não
Além das fontes renováveis de origem vegetal, os irá gerar resultados de uma hora para outra. Mas, ele
principais nomes do setor mantêm um esforço parale- precisa ser iniciado já. Assim como as casas de fra-
lo, de mais longo prazo, mas que já consome boa par- grâncias vêm investindo há pelo menos uma década
cela dos esforços futuros de P&D do setor: a biotecno- preparando o negócio para as próximas décadas, os
logia. Tido como um caminho do futuro, a biotecno- empresários do varejo de beleza, guardadas as pro-
logia permite operar em alta escala de produção, com porções, devem ir na mesma direção para garantir um
níveis muito baixos de impacto ambiental. O desafio lugar de maior destaque no médio e no longo prazo.
a ser vencido diz respeito à complexidade que é ainda
é operar com essa tecnologia, além do fato de que não
existem certezas em relação aos riscos de biosseguran- Boa leitura!
E Q U I PA M E N T O S I N D U S T R I A I S
MOTORQUE
O MUNDO CONHECE
CAPA Nathalie De Gouveia
RETOMANDO
AS RÉDEAS
HÁ POUCO MENOS DE DOIS ANOS À FRENTE DA OPERAÇÃO DA WELLA NO
BRASIL, A EXECUTIVA NATHALIE DE GOUVEIA TEM COMO MISSÃO CONSOLIDAR
A LIDERANÇA DA EMPRESA NO MERCADO DE COLORAÇÃO PROFISSIONAL,
AVANÇAR NO VAREJO ESPECIALIZADO EM BELEZA E REFORÇAR A EXPERTISE E
O LEGADO DA MARCA WELLA TAMBÉM NA ÁREA DE CONSUMO. TUDO ISSO
PARA MANTER O PAÍS COM UM DOS GRANDES PILARES DE CRESCIMENTO DA
NOVA WELLA INDEPENDENTE >>> AÛANI CUSMA DE PAULA
Q
uando num longínquo 2003, gundo eles tinha uma estratégia clara para os próximos
a P&G, maior empresa de anos. De fato, a Wella sempre foi tida como uma empre-
bens de consumo do mundo, sa saudável e bem gerida. Em 2002, ano anterior à sua
adquiriu a companhia alemã aquisição, o faturamento foi de 3,7 bilhões de euros com
Wella, uma referência no mer- a venda de seus produtos de coloração e cuidados com
cado global de beleza e um os cabelos nas divisões de consumo e profissional, além
dos mais importantes nomes da Cosmopolitan, unidade da empresa responsável pela
da categoria de cabelos, não licença dos perfumes de marcas como Escada, Gucci e
se imaginou a odisseia que Hugo Boss. Mas isso não convenceu os integrantes das
seria vivida pela marca nos anos seguintes. famílias descendentes do fundador Franz Ströher, que
O negócio de US$ 7 bilhões foi realizado num con- desde 1880 mantiveram o controle da empresa.
texto no qual a P&G operava como uma máquina de A Wella ajudaria a empresa norte-americana a se po-
aquisições no segmento de beleza e higiene pessoal. sicionar com força no mercado da Europa e da América
Particularmente com esse movimento, a dona da Pan- Latina. A marca mantinha uma posição sólida no Brasil,
tene buscava consolidar sua liderança do mercado de desde sempre um mercado-chave para a categoria. Na
haircare frente às outras duas únicas companhias re- verdade, a companhia foi uma das grandes “escolas”
almente grandes na categoria do ponto de vista glo- do mercado de beleza no Brasil, um grupo de empresas
bal, a inglesa Unilever e a francesa L’Oréal. Dois anos que ajudavam a forjar profissionais que depois acaba-
antes, a P&G já havia comprado a Clairol, que tinha vam por levar sua expertise e conhecimento para ou-
forte presença nos segmentos de consumo e profissio- tras companhias do setor. No caso da Wella, a empresa
nal no mercado norte-americano em segmentos como tinha operações comerciais e de trade marketing que
coloração e shampoo e pós-shampoo, com a marca eram referência para o setor, sem falar em todo o traba-
Herbal Essences. lho relacionado com a educação profissional. A empresa
O comitê executivo da companhia alemã se opôs também foi das primeiras multinacionais a tropicalizar
frontalmente ao negócio, alegando que este não era um a imagem e a comunicação de suas marcas para a con-
passo necessário para a evolução da empresa, que se- sumidora brasileira, trazendo atrizes locais para serem
AÇÃO DE WELLA EM
PERFUMARIA: a empresa vem
investindo para chegar com
sua linha profissional, de forma
controladal, até o consumidor final.
embaixadoras de suas marcas quando isso não era pra- sem muito destaque.
xe entre as multinacionais do mercado. Hoje, quase duas décadas depois, a Wella finalmente
Ao deixar de ser o negócio principal para passar voltou a ser Wella, uma operação independente (ainda
a ser parte de um negócio muito maior e complexo, a que a Coty siga com 40% das ações da companhia. Os
Wella viu suas divisões profissionais e de consumo se outros 60% pertencem ao fundo de investimentos KKR),
distanciarem, a força de sua marca ser diluída e viveu livre para desenvolver seus negócios e alocar esforços e
um duro choque de realidade. A começar pelo choque recursos naquilo que é importante para a companhia,
cultural. Enquanto a Wella era uma empresa totalmen- sem precisar dividir atenções com outras dezenas de
te focada em beleza, e isso se refletia na sua cultura e marcas e divisões.
na forma como se relacionava e abordava o mercado; a A nova Wella tem receita estimada em mais de US$
visão de negócios da P&G sempre foi muito mais a da 2 bilhões, a maior parte dela oriunda do segmento pro-
realidade de uma grande empresa de bens de consumo fissional (no ano fiscal da Coty de 2019, a divisão profis-
norte-americana, muito objetiva na forma de realizar sional gerou US$ 1,8 bi em vendas líquidas). A compa-
negócios, com foco na gestão de produtos e no canal nhia, com cerca de seis mil funcionários, atende milhões
alimentar. Restava pouco espaço para as nuances que de cabeleireiros e manicures em mais de 100 países. No
envolvem o métier da beleza. portfólio, além dos itens de coloração e cuidados com
Além disso, o negócio profissional, uma histórica os cabelos da Wella, estão marcas como Sebastian (par-
fortaleza da Wella, nunca foi prioridade e, muito me- te do portfólio original da Wella), Vidal Sasson, Nioxin,
nos, uma área de expertise para os americanos. Isso fez Clairol (compradas pela P&G antes da própria Wella)
com que a operação fosse vendida em 2016 como parte além da marca de eletrônicos ghd e dos esmaltes OPI
do pacote de 42 marcas que migraram para a Coty. Em- (comprados pela Coty), entre outras. É justamente na
bora tenha mantido o negócio de cabelos de consumo área profissional que a General Manager de Wella Com-
como um dos seus grandes focos, a P&G não quis ficar pany no Brasil, Nathalie de Gouveia, tem centrado seus
com as colorações, o que explica a venda do portfólio foco e atenção no País.
de Wella como um todo. Nos anos sob gestão dos ame- De origem francesa, mas tendo vivido a maior par-
ricanos, o peso do nome Wella na área de consumo foi te de sua vida profissional nos países ibéricos, Natha-
deixado de lado, com a empresa tratando Koleston qua- lie construiu sua carreira em companhias de varejo em
se que de forma dissociada da marca mãe. Como a linha Portugal e na Espanha. Foi lá que adentrou ao mercado
de coloração mantinha bons resultados, essa perda de de beleza quando assumiu, em 2011, a direção da ope-
identidade não chegou a ser encarado como uma gran- ração de varejo da The Body Shop – então um negócio
de questão. da L’Oréal – para Espanha e Portugal. Foi também pela
Os anos sob controle da Coty não mudaram radi- The Body Shop que a executiva veio à América Latina,
calmente a condição da marca Wella, que seguia como em 2015. Quando a Natura comprou a empresa em
mais uma no seu portfólio intrincado e disfuncional. 2017, ela assumiu seu comando no Brasil até que em se-
Embora respondesse por quase um terço das vendas, tembro de 2019, se mudou para a Coty, justamente para
a verdade é que a divisão profissional nunca chegou a tocar a divisão profissional da companhia. A contrata-
fazer parte realmente do coração da Coty (assim como ção de Nathalie se deu apenas um mês antes de a sua
não o foi na P&G). Na seara do consumo, embora Koles- nova empregadora comunicar que colocaria a divisão à
ton tenha se mantido relevante, a marca mãe continuou venda, o que aconteceu em maio de 2020.
CERTIFIC
institutolife.or
EVENTO PROFISSIONAL: investimentos em formação e educação dos profissionais, público prioritário para a marca, avançaram.
Apesar do pouco tempo, a chegada de Nathalie foi mais no período da pandemia que teve o mercado de
importante para injetar ânimo e energia na operação salões como um dos mais atingidos. “Atendemos quase
profissional da Coty. Em pouco tempo no cargo, Natha- 400 mil salões e milhões de cabeleireiros. Nós temos nos
lie ajudou a divisão a retomar o seu foco em serviços, comunicado com eles e aproveitado esse período para
educação e inovação, trazendo agilidade para a agenda oferecer ainda mais informação e treinamento sobre os
de lançamentos e, principalmente, reforçando os víncu- produtos”, disse Annie à agência Reuters no início deste
los com profissionais e varejistas especializados. A mar- ano. Quando as portas dos salões se abriram, as pessoas
ca também reforçou sua presença no ambiente digital e estavam mais preparadas para servir aos seus clientes.
mergulhou de cabeça no influente mundo das influen- Se os profissionais seguem como o pilar central do
cers digitais. Mas é agora, à frente de uma operação jo- negócio profissional, hoje, não se questiona mais que as
vem e independente, que Nathalie terá a oportunidade marcas desse segmento precisam estar mais acessíveis
de colocar a Wella numa posição mais forte no mercado. para os consumidores que as querem comprar em outro
A missão como primeira comandante da nova Wella ambiente que não o dos salões de beleza. Por anos, isso
no Brasil não é pouca coisa. foi um dilema crucial para as marcas que operam nesse
Com vendas que superam os US$ 100 milhões e ten- segmento, principalmente para as grandes multinacio-
do sido o mercado que mais contribuiu nos últimos anos nais, que primeiro relutaram e, depois, passaram atuar
para o crescimento dos negócios que hoje compõem a de forma um tanto envergonhada, sem assumir publica-
Wella, o Brasil tem uma posição central na estratégia mente sua presença em outros locais que não os salões.
da empresa. Tanto que a operação local é uma unidade Nesse novo contexto, a Wella é uma das companhias
totalmente independente. Ainda que exista um gerente- que mais rapidamente tem se expandido e ocupado os
-geral para a América Latina, Nathalie responde dire- espaços nas gôndolas das redes do varejo especializado
tamente a CEO da companhia, Annie Young-Scrivner. em beleza (e na home dos seus respectivos e-commer-
Atualmente, do portfólio profissional, a operação local ces). Essas lojas representam um canal-chave para que a
trabalha além da Wella, com as marcas Sebastian, Nio- companhia possa chegar diretamente a um maior núme-
xin, SP System Professional, além dos esmaltes de OPI. ro de consumidores finais. Embora ainda seja um canal
Com a separação da Coty, a operação profissional pulverizado, hoje o Brasil dispõe de ao menos algumas
da nova Wella passou a cuidar da própria vida. Toda a dezenas de redes de perfumaria que somam 10 lojas ou
operação comercial, de marketing e comunicação dos mais espalhadas por todas as regiões do País, tornando
negócios profissionais está sendo tocada pela empresa, o canal um participante importante não só pelo volume
assim como a operação logística para salões, distribui- de vendas, mas também pela possibilidade que a pre-
dores e varejistas. sença nessas lojas oferece de colocar a marca em contato
direto com mais consumidores, num ambiente de lojas
MAIS PERTO DO PROFISSIONAL, no qual a marca consegue ter um mínimo de controle da
MAIS PERTO DA CONSUMIDORA sua exposição.
Independente, a Wella também pode reforçar sua es- Além da presença no varejo multimarca e nos pró-
trutura educacional e o relacionamento com o público prios salões, a empresa tem o seu próprio e-commerce,
profissional, um pilar fundamental do negócio, ainda que concentra a venda de todo o portfólio de produtos
artofperfumeryatIFF
CATEGORIA Maquiagem
Foto: Koldo_Studio/AdobeStock
A
categoria de maquiagem vem pontuou a excutiva da empresa.
sofrendo como poucas o im- Na Kiss New York, marca de origem norte-america-
pacto econômico e as mu- na, especialmente no caso de produtos labiais, base e pó
danças comportamentais im- compacto, os efeitos da crise foram bem perceptíveis.
postas pela crise sanitária. As “O primeiro semestre foi desafiador, porque ainda não
restrições de distanciamento e tínhamos perspectivas palpáveis de retomada da eco-
isolamento social, somadas ao nomia, com o consumo mais racional e tímido”, explica
agravamento da crise socioe- Regina Jung, Head da Kiss New York. Do outrolado, ela
conômica no País impactaram conta que a empresa viu oportunidades de crescimen-
significativamente esse segmento do mercado. Com as to em itens para autocuidado em casa, como skincare,
rotinas mais centradas no lar, em especial entre os bra- além de produtos para olhos, como máscaras de cílios,
sileiros que aderiram ao trabalho e ensino à distância, lápis e itens para as sobrancelhas”, reforça.
houve mudança no comportamento em relação ao uso Pesquisa recente conduzida pela Mintel, uma das
de maquiagem. principais agências de inteligência de mercado do mun-
Um dos dos fundadores da companhia L21cosmeti- do, aponta que 23% dos brasileiros afirmaram ter usado
cos, dona da marca Lacre21 e que também comercializa maquiagem com menos frequência durante a pandemia,
as marca BT21 e Hello Beauty, Daniel Galvão conta que- além de 41% ter mudado para marcas de maquiagem
os primeiros meses do ano não foram nada promissores mais baratas, num esforço para economizar o dinheiro.
para os resultados da categoria. “No primeiro semestre Ainda segundo a pesquisa, mais da metade dos brasi-
tivemos uma movimentação maior apenas no e-com- leiros passaram a usar maquiagem só em ocasiões espe-
merce”, diz o empresário, que tambem responde pela ciais, como encontros virtuais com familiares e amigos,
gesão de Marketing Comercial. O empresário revela apontando também que um em cada três consumidores
que nesse cenário adverso, o desempenho melhor da passou a usar maquiagem durante videoconferências.
companhia se deu por conta de uma linha licenciada, Outro dado interessante da pesquisa mostrou que
a BT21, que deu à empresa a vantagem de lidar com as dentre os consumidores usuários, uma parcela signifi-
fãs do grupo com fãs – a marca faz referência ao gru- cativa busca por produtos de maquiagem que ofereçam
po coreano, BTS. A linha é fruto de uma parceria com a benefícios funcionais, isto é, de cuidados ou tratamento
Big Hits, gravadora da boy band. “É uma marca de forte para a pele do rosto. Os dados sugerem a oportunida-
apelo comercial. Agora na linha de maquiagem regular, de para que as marcas ofereçam produtos que estejam
tivemos uma queda nas vendas. Em torno de 30% no alinhados com o novo estilo de vida dos consumidores,
primeiro semestre”, lamenta Galvão. e que além de colorir e disfarçar imperfeições, reúnam
Na Dailus, a diretora de Marketing, P&D e Novos benefícios de skincare.
Negócios, Carolina Bertelli, conta que com o mercado É Algo que já vinha sendo notado pela equipe da
adotando uma postura conservadora de compra, a per- Simple Organic, marca cujo portfólio é dividido entre
formance da empresa foi estável no primeiro semestre, produtos de maquiagem e skincare. De acordo com
estimulada por produtos para olhos e esmaltes. “Itens Patricia Lima, CEO e fundadora da empresa, nos últi-
multifuncionais ganharam força, o público sentiu a ne- mos anos, o negócio de skincare cresceu mais do que
cessidade de readequar o nécessaire e suas finalidades”, a própria maquiagem, no sentido de as pessoas têm
RELAXAMENTO DE
RESTRIÇÕES E RETOMADA
Embora ainda lento, o programa de imunização da po-
pulação adulta do País já dá abertura para vislumbrar
um processo de retomada o mais próximo possível da
normalidade. Aos poucos, algumas das ordens de res-
trição impostas pela pandemia começam a relaxar. O
que não representa exatamente uma retomada imediata
aos níveis do mercado pré-pandemia, conforme alerta
Amanda, da Mintel.
“Apesar da vacinação da população adulta ter atin-
gido níveis satisfatórios em alguns estados, os brasi-
leiros seguirão impactados financeiramente, adotando
um comportamento de consumo mais sensível a preço
e pautado pela busca por opções mais acessíveis. O ce-
nário representa uma oportunidade para que marcas
entendido cada vez mais que é muito importante cui- locais ganhem competitividade e invistam em produ-
dar da pele para que ele esteja saudável antes de se tos multifuncionais que reflitam as novas rotinas dos
aplicar uma base cobrindo imperfeições. “Todo esse consumidores brasileiros”. A declaração da analista
comportamento de consumo veio se fortalecendo e, baseia-se na informação da pesquisa da Mintel, de que
quando chegou na pandemia, cresceu ainda mais, 40% dos brasileiros afirmaram que têm usado mais pro-
com o fato de as pessoas estarem em casa, utilizando dutos de maquiagem multiuso para economizar tempo
máscara, não utilizando tanta maquiagem”, acredita em sua rotina durante a pandemia, sendo esperado que
a CEO. continuem a dar preferência pelo uso de produtos que
Como o momento ainda é de incerteza, o que se sejam mais versáteis e ofereçam diferentes funções.
busca é a adaptação à realidade dos tempos atuais. E, Na mesma linha, Galvão, da Lacre21, também está
como lemba Daniel Galvão, da Lacre21, batom e más- entre queles que acredita que, mesmo com a vacinação
cara, definitivamente, ainda não combinam com o mo- e relaxamento das restrições, o momento não abre es-
mento. “Temos procurado manter o foco em cremes paço para grandes expectativas. “Mesmo com algum
para a pele e cílios. Estamos lançando uma segunda relaxamento que estamos vendo, não houve percepção
marca, chamada Hello Beauty, focada em skincare, de minha parte no aumento de vendas. Na verdade, as
que deve ser a tendência do momento”, aposta Galvão. vendas continuam caindo. Dependemos muito do pes-
Segundo Amanda Caridad, Senior Analyst Beauty soal voltar a sair, voltar a frequentar as baladas. Além
& Personal Care da Mintel Brasil, o uso da máscara do mais, o uso de máscara não ajuda muito também”,
facial tem sido uma barreira importante para o uso de pontua o empresário.
maquiagem, sobretudo considerando que os brasilei- Apesar dos impactos econômicos da crise – desem-
ros têm a pele predominantemente mista ou oleosa, prego e redução do poder de compra do consumidor –
e o uso mais frequente da máscara pode levar ao au- ainda estarem evidentes, alguns dos entrevistados estão
mento de acne e até sensibilidade da pele. De acordo otimistas para o último período do ano e já percebem
com a empresa de inteligência de mercado, 51% dos alguma melhora nas vendas, embora ainda pequena.
brasileiros têm usado menos maquiagem e investido Na Simple Organic, as vendas de seus produtos ti-
mais em produtos de cuidados faciais. Para a analis- veram um aumento considerável nos últimos meses. A
ta da Mintel, as marcas de maquiagem poderiam au- marca, no entanto, já vinha crescendo em ritmo acele-
mentar seu alcance ao incluírem em suas formulações rado, mesmo durante o momento mais crítico das res-
ingredientes que ofereçam benefícios à pele acneica. trições de isolamento. “Atuamos com um público mui-
“Além disso, é provável que produtos que tragam to jovem, que procura marca consciente e está muito
maior duração e resistência à água, incluindo testes adaptado ao digital. Ele não está sempre na loja física,
de resistência com o uso da máscara, atraiam um nú- mesmo a marca tendo feito as estratégias digitais para
mero cada vez maior de consumidores, visto que ape- as lojas físicas também. Então sim, seguimos expan-
sar da vacinação ter sido acelerada, estamos longe de dindo. Mas não dá para dizer até que ponto esse cres-
vislumbrar um futuro sem o uso da máscara facial no cimento está ligado ao fim das medidas de restrição e
Brasil”, complementa Amanda. a gradual volta à normalidade. Seguimos no mesmo
Muito prazer,
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CANAL Varejo de Beleza
Hora de pensar
no próximo passo
AS REDES DE PERFUMARIAS BRASILEIRAS CRESCERAM RAPIDAMENTE NOS
ÚLTIMOS ANOS. AGORA, MUITAS “OSTENTAM” DEZENAS DE LOJAS E NAO
DÃO SINAIS DE QUE PRETENDEM PARAR POR AÍ. SÓ QUE PARA SUSTENTAR O
PRÓXIMO CICLO DE EXPANSÇAO, SERÁ NECESSÁRIO QUE ELAS DÊEM ATENÇÃO
À SUA GOVERNANÇA >>> AÛANI CUSMA DE PAULA
A
s grandes redes do va- Essa movimentação acelerada faz com que hoje,
rejo de beleza viveram a o País conte com algumas dezenas de redes com
maior parte dos últimos mais de uma dúzia de lojas em operação. Algumas
anos abrindo lojas novas, em vários estados, o que implica lidar com mais do
atualizando as antigas e que um regime tributário e maiores complexidades
cuidando do básico em logísticas. Pelo menos cinco bandeiras já superam a
termos de gestão e infra- marca emblemática das 50 lojas.
estrutura para suportar Tudo o que aconteceu nos últimos anos só foi possível
seus respectivos proces- porque os empresários e empresárias à frente dessas re-
sos de expansão. des tiveram a visão de que para seguir firme no jogo era
T
ema do momento no ambiente corpora- ESG, é que as indústrias vêm ofertando ao mer- istem outras prioridades, inclusive na área social,
tivo, a temática ESG – sigla em inglês cado mais produtos sócios ambientalmente cor- que também engloba a relação da empresa com
que designa um conjunto de práticas retos. E aos poucos (bem aos poucos mesmo) os seus funcionários. “A gente vem focado no
ambientais, sociais e de governança – o varejo de beleza começa a dedicar mais es- time interno, anunciamos vale-alimentação para
começa a ser discutida no ambiente do varejo paço no mix e na loja para produtos naturais ou todos os colaboradores. Hoje são 700 e, pelo me-
de beleza brasileiro, mas ainda de forma em- orgânicos, por exemplo. nos 500, não recebiam esse benefício. Esse é o
brionária. “É um movimento sem volta e as re- Na operação das lojas, aplicar preceitos am- ponto: olhar para dentro, estabelecer plano de
des sabem que precisam encarar isso, mas não bientais, relacionados ao consumo inteligente de carreiras para os times, criamos um EAD para que
sabem como fazer”, acredita Cesar Tsukuda, que energia, por exemplo, é muito mais desafiador. eles possam se capacitar para subir de cargo. É
vê justamente na questão da governança atual “Quantos prédios tem condições de receber en- uma preocupação nossa”, explica Kamachi.
do canal, hoje, como a necessidade mais latente. ergia solar? Às vezes, tem que colocar estrutura Outro tema que diz respeito ao aspecto so-
“Nos quesitos social e ambiental alguns já fazem abaixo para implantar isso. Não é uma decisão cial nas relações entre os varejistas e seus colab-
isso pela essência da pessoa, do dono. Mais redes fácil. Agora, querer é o começo”, pontua Tsu- oradores diz respeito aos próprios salários pagos
podem estar de olho nisso, ter essa vontade, mas kuda. “Hoje o varejo de beleza faz muito pouco no canal. Historicamente e de forma generaliza-
ainda não é uma realidade”, acredita o diretor em relação ao ESG. Somos muito tímidos nessas da, o trabalho no varejo, principalmente no chão
da Beauty Fair. práticas, mas existe uma expectativa e uma co- da loja, não é uma escolha, mas sim a falta dela.
Como neste momento, as indústrias, espe- brança para entrarmos com mais força nessas Em parte, isso se deve a falta de perspectivas
cialmente as grandes companhias do setor, têm questões. Falamos muito em logística reversa para subir na carreira (algo que com a expansão
dado grande peso à execução dessa agenda, de embalagens e como implementar isso. Temos das redes evoluiu), e aos salários pagos. “É pre-
isso vai acabar chegando ao varejo de beleza, muito a avançar”, reconhece o diretor da Mona- ciso pensar nisso”, concorda Augusto Cardoso,
que pelo seu porte, teria mais dificuldades mie. A loja mais recente inaugurada pela Soneda da Monamie. “Temos um momento de defasagem
de liderar todas as transformações que essa na capital paulista é toda de vidro e conta com no salário por conta da pandemia, e o poder de
temática implica. Entre as mais óbvias, e que drivers de iluminação que regulam o consumo compra foi perdido. É um problema de fato e se
refletem novos hábitos e atitudes do consumi- de energia. Agora, embora Minoru Kamachi diga fala muito pouco em relação a isso. Pode haver
dor, um dos elementos que têm fortalecido o que o tema ambiental esteja no radar, ainda ex- um movimento positivo”, emenda.
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LOJA DA MUNDO DO CABELEIREIRO: com a evolução da governança, é natural que o apetite por aquisições e fusões no setor cresça.
jas, o que configura uma espécie de teto para lojas anos. “Quem sabe até comece a ter algo de fusão en-
da bandeira no estado. Embora hoje não tenha nada tre redes, algo que nesse canal ainda não tivemos”,
acertado, a Monamie já analisou alguns mercados questiona Marques.
fora do Rio de Janeiro. Para Tsukuda, com o início do processo da cons-
A governança do negócio para dar conta de um trução de uma governança mais sofisticada para o
novo ciclo de expansão pelas redes do varejo de be- negócio, junto com a própria expansão das redes, que
leza é algo que vai muito além de botar a casa em or- devem seguir inaugurando lojas nos próximos anos,
dem. “Vejo algumas redes se estruturando com uma num período entre três e cinco anos, abre-se uma jane-
preocupação bastante grande de fazer a expansão de la bastante interessante para fundos de investimentos
maneira organizada e profissional. Isso possibilita tes- e, também, compradores estratégicos, como redes in-
tar o modelo. Uma vez validado, é possível acelerar ternacionais ou mesmo as próprias redes locais. “Isso
o crescimento”, diz Piccoli, da Cless, lembrando que vai acontecer”, garante o diretor da Beauty Fair, mas
alguns empresários do setor também estão procu- ele também acredita que é necessário ao canal enfren-
rando fundos de investimentos, para levantar capital tar um desafio futuro de rediscutir o seu papel no mer-
novo que possa acelerar essas expansões. “Vemos com cado de beleza. “A perfumaria precisa se reinventar, se
bons olhos a entrada de um parceiro. Mas não nesse reencontrar... A pandemia deu uma chacoalhada com a
momento”, pontua Cardoso. Para ele, é preciso antes chegada forte de e-commerce, multicanal, marcas que
amadurecer os processos internos antes de pensar em não vendiam seus produtos em outros canais e passa-
aderir a algum fundo ou mesmo uma fusão com algu- ram a vender. Vejo com bons olhos o futuro, mas nos
ma outra rede. próximos meses e anos existe uma questão importan-
Na outra ponta, Lázaro Marques acredita que mes- te de discutir a conexão e a proximidade nas relações
mo as maiores empresas do setor ainda têm condições entre indústria e varejo, porque o consumidor tem um
de crescerem sozinhas. Para ele, essas empresas têm comportamento diferente”, complementa o executivo.
as condições financeiras necessárias para expandir e Na mesma linha, Piccoli, da Cless, acredita que um
melhorar seus negócios com recursos próprios, algo ponto importante para o crescimento de qualquer pes-
que eles gostam de reforçar e que lhes dá mais segu- soa ou empresa é “entender o outro”. “Essa reflexão e
rança “O sonho mudou. Você percebe isso conversan- o diálogo minimizam conflitos, elimina ruídos, eviden-
do com eles. Até poucos anos atrás, eles almejavam cia oportunidades, gera confiança e compromisso com
que suas empresas tivessem 20 lojas, 30 lojas. Agora, parcerias reais. Transforma o interesse-interesseiro, num
você escuta dos grandes que eles querem ter 300 lojas, interesse-interessado - de construções de pontes e cresci-
500 lojas e estão se movimentando muito forte para mento”, reforça o CEO da Cless, para quem, neste diálo-
isso”, afirma o executivo da Salon Line. Passadas es- go é possível alinhar estratégias, construir mix mais inte-
sas dificuldades e evoluindo da forma que evoluiu, ligentes, buscar mais rentabilidade, e relacionamentos de
quem se preparou para vai estar pronto para avançar longo prazo, o que realmente gera riqueza. “Penso que
num ambiente que tende a melhorar nos próximos estamos neste caminho. Estou animado!”, conclui.
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O NEGÓCIO
ESTÁ MUDANDO.
PARA ONDE VAI?
O NEGÓCIO DE FRAGRÂNCIAS ESTÁ EM PLENO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO,
INVESTINDO PESADO PARA ESTABELECER INGREDIENTES À PARTIR DE FONTES
RENOVÁVEIS E BIOTECNOLOGIA E DAR ADEUS AO PETRÓLEO, QUE POR MAIS DE
UM SÉCULO VEM SERVINDO DE BASE PARA SUA CADEIA PRODUTIVA
>>> AÛANI CUSMA DE PAULA
A Robertet, conhecida mundialmente pela sua fragrâncias, aromas e ativos, mantendo a premissa
sólida trajetória de mais de 170 anos, eleva aindade enaltecer o DNA Robertet em todos os detalhes,
mais sua posição global extraordinária como casa reforçando o potencial criativo e triplicando a
de fragrância criativa, renomada, premiada e lídercapacidade de produção e armazenamento. Todo
em matérias-primas naturais levando sua expertise este investimento destaca a grande importância
ao mercado brasileiro. dos negócios da subsidiária, em solo brasileiro
há quase 60 anos, como uma região de grande
Um investimento de mais de R$50 milhões deu destaque para o grupo.
vida a uma inovadora e tecnológica planta fabril
projetada com base no programa global Robertet Para os nossos clientes levamos o que existe de
CSR (Corporate Social Responsability) que garante mais moderno, sofisticado, nobre e da mais alta
o mais alto nível de qualidade, rastreabilidade e qualidade em matérias-primas, o que deriva em
transparência na fabricação de seus ingredientes, criações inigualáveis.
Cynthia Crespo
Fragrances Director
ESPECIAL Casas de Fragrâncias
ropeias exigem um nível bastante profundo de rastre- que, eventualmente, aparece um ou outro cliente com
abilidade. Para mim não é clara a razão”, pontua Ma- a demanda por uma fragrância que alcance patamares
toso, da Kaapi. Para ele, que vem desenvolvendo suas mais elevados de biodegradabilidade ou a fonte dos in-
cadeias de fornecimentos em lugares de difícil acesso ao gredientes naturais aplicados na composição, especial-
longo dos últimos anos, ao mesmo tempo em que existe mente quando isso está aderente ao propósito da marca
um movimento das grandes empresas comprando esses da empresa. “De uma forma ou outra, ao restringir o
pequenos. Matoso receia o risco de se caminhar para a uso de commodities (de base fóssil), essa fragrância aca-
formação de um ambiente mais concentrado e de menor ba ganhando valor agregado. Mas, diria que a maioria
concorrência. “Eles querem saber de quem você compra, das empresas ainda não tem essa mentalidade” pontua
quanto paga, qual o seu processo... Aí ele vai lá e compra o CEO da Ginger,
direto”, lamenta o empresário, que reconhece a necessi- Para além dos custos, o mercado atendido pelas casas
dade de controles. locais também têm de enfrentar alguns velhos dogmas,
que acabam reduzindo as oportunidades de mitigação
COISA DE GENTE GRANDE? de impactos ambientais. Um exemplo clássico disso diz
AINDA SIM. MAS SÓ POR UM TEMPO respeito ao nível de dosagem aplicado às aplicações. Dá
Se os maiores fabricantes de cosméticos do mundo e seus para diminuir o uso de solventes (derivados de petró-
principais fornecedores de fragrâncias estão indo nessa leo) se o cliente estiver disposto a entender melhor a es-
direção, isso vai cascatear para todo o mercado de algu- trutura de custo do produto dele. Ele pode receber uma
ma forma. “Ficamos muito felizes em ver as empresas fragrância não diluída em solvente e vai aplicá-la a 0,2%
não só globais, mas também nacionais preocupadas em e não a 1%, por exemplo. É óbvio que existe uma dife-
oferecer ao consumidor produtos que carregam esta res- rença no custo nominal de uma e de outra composição.
ponsabilidade’’, pontua Cynthia, da Robertet, que aqui E é nela que muitos clientes menores costumam parar
no Brasil compete com casas locais em muitos clientes a discussão. Ainda enfrentando problemas de abasteci-
nacionais de médio porte. mento, o custo dos solventes cresceu muito, tornando as
Agora, se a jornada para as grandes ainda será lon- fórmulas mais baratas, inviáveis. “O cliente quer uma
ga, o caminho deve se estender por alguns anos a mais fórmula de US$ 10, principalmente os de saneantes. E
até que as pequenas e médias casas de fragrâncias, espe- não se consegue fazê-los entender que estão comprando
cialmente as casas locais, tenham à disposição boa parte solvente, que não tem cheiro”, diz Mendes. “Alguns co-
desse novo portfólio de ingredientes de base tecnológica meçam a ver isso e começam a comprar fragrâncias con-
e renovável. Logicamente, uma primeira etapa, vai ge- centradas, mas não é fácil convencer”, emenda. Além do
rar certa diferença dos grandes com respeito aos demais ganho ambiental ao não usar solvente, reduz-se o custo
que não produzem moléculas ou matérias-primas ainda. também com os solubilizantes, que no caso do bisfenol,
Pode ser que às menores percam um pouco de mercado. também não é um produto biodegradável.
Porém, essas matérias-primas ainda não têm o mesmo Outro tema ambiental e que também vem sendo en-
custo das matérias-primas de petróleo. Isso deve man- dereçado pelas indústrias de fragrâncias diz respeito à
ter um espaço importante para as casas menores que redução no uso de água no processo de produção, um
operam num segmento onde a maior parte dos clientes, tema para o qual todas as empresas estão olhando. “Vai
longe da escala das gigantes multinacionais, tem o custo requerer investimento e inovação para oferecer produ-
como ponto central. “Tudo isso é parte de um processo, tos no mercado que permitam o mínimo desperdício de
logicamente. Mas como tudo, com o tempo o próprio água”, pontua Ulhoa, da Cramer.
mercado tende a se regular e os ingredientes de fonte Em meio a todas as discussões que no final vão im-
renovável chegarão a todo o mercado”, acredita Ulhoa. pactar no portfólio de matérias-primas para a produção
A faixa de mercado no qual concorrem as casas lo- de fragrâncias, um reflexo esperado por Josiane, da IFF,
cais, formada principalmente por pequenos e médios nesse processo e que pode ser estendido para o mercado
clientes das áreas de higiene pessoal, cosméticos e sane- de forma mais abrangente, é que o número de ingredien-
antes, é orientada primeiro por preço, segundo por pre- tes deve ser reduzido. “Não sei dizer se isso é bom ou
ço e terceiro por disponibilidade e serviço rápido. Ques- ruim. Mas, falamos tanto em minimalismo, que menos
tionamentos sobre rastreabilidade e cadeia de custódia é mais, que talvez esse seja um bom caminho”, acredita.
não costumam ser feitos por esses clientes. “Temos uma
demanda um pouco maior por informações desse tipo FRAGRÂNCIAS QUE ENTREGAM MAIS
quando acessamos os grandes clientes, que buscam isso Mesmo com todo impacto das questões ambientais (e
cada vez mais. Mas, no geral, no máximo perguntam o sociais) afetando o portfólio de ingredientes utilizados,
nome do produtor e de que país vem à matéria-prima”, e mesmo com todas as restrições de uso e de custo para
explica Matoso, da Kaapi. “Alguns clientes maiores se criação, o olfato ainda é o que move a indústria de fra-
preocupam um pouco com isso, mas a grande maioria grâncias em sua relação com a indústria de higiene e
não. É guerra de preço, por custos e a parte de meio am- beleza. Mas se criar uma fragrâncias que conquiste as
biente fica de lado, muitas vezes mais no marketing”, pessoas pelo seu cheiro segue sendo a parte mais im-
corrobora Mendes, da Vollmens. Na Ginger, Grou diz portante do negócio (embora, como já foi dito, levando
Foto: Symrise/Divulgação
PALETA DE INGREDIENTES DE PERFUMARIA: em meio a tantas transformações e novas restrições, é provável
que a paleta de ingredientes à disposição dos criativos e técnicos das casas diminua num futuro próximo.
Muito além da
sustentabilidade
COM UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA, A SYMRISE VEM CRIANDO UM PORTFÓLIO
DE INGREDIENTES NATURAIS E BOTÂNICOS QUE OLHA PARA A SUSTENTABILIDADE
SEM ABRIR MÃO DOS OUTROS PILARES DO BIOCOMÉRCIO ÉTICO E OLHANDO PARA
CUSTO, EFICÁCIA E OS ANSEIOS E DEMANDAS DOS CONSUMIDORES
O
s ingredientes botânicos são parte da his- Cristiane de Moraes, gerente global da Symrise Amazon,
tória da criação e do desenvolvimento da a operação da empresa no Pará dedicada a produção de
indústria cosmética. Matérias-primas que ativos da biodiversidade local, e responsável para América
remontam a rituais e tradições, muitas Latina pelo negócio de Botanical da companhia.
ancestrais e que não raro remetem a sen- Para além dos benefícios gerados pelas suas proprie-
sação de conforto. Quem é que já não tomou um chazi- dades físico-químicas, essas novas matérias-primas bo-
nho pra relaxar, se esquentar ou tentar aplacar alguma tânicas obtidas da biodiversidade, permitem às marcas
condição que nos derruba? contarem histórias bonitas e reais sobre os ingredientes
Isso é sem duvida um dos motivos que ajuda a ex- presentes na fórmula. “Junto com a eficácia, olhamos
plicar porque a busca dos consumidores por esse tipo cada vez mais para os aspectos sociais e culturais que se
de ingrediente durante a pandemia cresceu tanto. relacionam com aquele ingrediente e a região no qual ele
A longa história do uso desses ingredientes pela in- está inserido”, assegura a executiva.
dústria dá a eles uma boa posição no mercado em ter- Com mais de duas décadas de vivência nos temas de
mos de aplicabilidade, custo, segurança e eficácia. Mas, biodiversidade e sustentabilidade, Cristiane reforça um
para manter-se relevante para o consumidor de beleza aspecto importante, nem sempre compreendido pelas pes-
de hoje e de amanhã, que continua demandando sem- soas: a biodiversidade não é intocável. “Desde o ano 2000
pre novidades e respondendo a modismos, é preciso todo meu trabalho vem nesse sentido de trabalhar com
ter condições de apresentar sempre algo de novo. Só comunidades extrativistas, fortalecendo aspectos como o
que esse mesmo consumidor é, também, cada vez mais biocomércio ético, rastreabilidade, qualidade de produtos
consciente em relação aos impactos que as suas ações e a própria relação com os povos locais”, diz a executiva.
de consumo geram e, por isso, exige cada vez mais ver- A executiva, que por anos esteve à frente da operação
dade e transparência das marcas que consomem. latino-americana da UEBT (Union for Ethical BioTrade),
Isso obriga os fabricantes de ingredientes botânicos entidade não governamental que promove e certifica o
a ir além, muito além, para tornar esses ingredientes fornecimento sustentável de ingredientes da biodiversida-
uma opção cada vez mais relevante e central na concep- de – aponta que o trabalho com a biodiversidade mudou
ção, formulação e comunicação das marcas de beleza. realidades de comunidades inteiras no Brasil e na África.
A multinacional Symrise, uma das líderes globais no “Veja quanta coisa se construiu ao longo desse trajeto. Co-
segmento de ingredientes cosméticos, é dona de um dos meçamos a observar que existem formas de se fazer ne-
mais extensos portfólios de ingredientes botânicos do mer- gócio mantendo a floresta em pé. Hoje, posso dizer que
cado, com itens de diferentes biodiversidades do mundo e usamos a biodiversidade como fonte de matérias-primas e
que atendem aos diferentes segmentos do mercado, incluin- conseguimos fazer o uso sustentável dela”, conta.
do uma oferta de novos botânicos original e inovadora.
Ao longo dos últimos dois anos, a Symrise vem ajudan- SUSTENTABILIDADE NÃO É SÓ AMBIENTAL
do o mercado a estabelecer um novo olhar e se reposicio- Na abordagem 360º da empresa para os ingredientes bo-
nar em relação ao uso dos ingredientes botânicos em suas tânicos, a sustentabilidade é um dos vértices para o suces-
formulações graças a uma nova abordagem 360º. “Nossa so e deve ser compreendida além da questão ambiental. É
visão é a de ajudar as marcas a desenvolverem produtos preciso equilíbrio entre o ambiental, o econômico, o social
e conceitos que se apoiem na biodiversidade, não só a e o cultural. “Se ferimos um desses pilares ou algum deles
brasileira, mas de diferentes regiões do mundo”, explica estiver prevalecendo é por que alguma coisa está errada e
SYMRISE.COM
Fotoi: Symrise
SALA DE AULA EM COMUNIDADE PRODUTORA DE MADAGÁSCAR: empresas devem se preocupar com os aspectos ambientais e de qualidades
e rastreabilidade dos ingredienres. Mas é preciso contribuir tambpem com evolução e o bem estar das pessoas que forma a comunidade
o negócio não se sustentará ao longo do tempo”, reforça. seria sustentável), assim como os aspectos humanos, se
Mas não só. A Symrise agrega outros interesses do todas as pessoas e organizações envolvidas nesse sistema
negócio para permitir que cada novo ingrediente botâni- produtivo estão sendo ouvidas e consideradas.
co possa gerar valor e novos valores para as marcas. “As A abordagem 360º contempla, por exemplo, como
propriedades físico-químicas desses ingredientes são im- aquele ingrediente botânico se insere num contexto de
portantes e eles são comprovadamente eficazes, tem toda mercado e consumo, além de questões como garantia de
uma documentação científica e publica a respeito”, lem- qualidade e abastecimento contínuos, evitando que ao
bra Cristiane. Mas tudo o que pode ser contado sobre esse invés de solução, a escolha pelo ingrediente se converta
ingrediente para o consumidor, a história, a cultura é tão numa potencial dor de cabeça. “É preciso que realmente
valioso para as marcas quanto o produto em si, particular- haja um engajamento de todos os atores para conseguir
mente nos dias de hoje, não se pode contar uma história produzir isso ao longo do tempo. Sem rastreabilidade
sem que ela esteja calcada na realidade. Daí que é impor- e sem conhecer a população que me ajuda a fazer isso
tante o envolvimento da fabricante de ingredientes com a eu não posso garantir a sustentabilidade do negócio”,
população que a ajudou a fazer. afirma a executiva.
Pelos preceitos do biocomércio ético, todo o trabalho
desde o desenvolvimento até a colocação do produto no OBSERVANDO PARA CRIAR
mercado, deve observar aspectos relacionados tanto aos Quando o assunto é trabalhar com a biodiversidade, o
critérios ambientais, como elaborar os planos de manejo ponto de partida para encontrar ingredientes que po-
de um determinado ingrediente corretamente para não dem gerar novas soluções e inovação é a observação da
impactar o desenvolvimento de outras espécies (o que não própria biodiversidade.
SYMRISE.COM
Apresentado por:
UPCYCLING.
Um bom exemplo de como a Symrise aborda o pro-
cesso de criação vem da África. O Tamanu é uma planta
DESPERDÍCIO ZERO
que forma um paredão verde na costa de Madagascar,
diminuindo a velocidade dos ventos que atingem a ilha.
Mas essa planta tem uma frutinha e um pesquisador da
M
Symrise, em visita à região, viu que esse fruto era uma ole-
esmo dentro da fábrica, a observação permanece
aginosa. Dessa observação inicial, levada aos laboratórios
sendo importante para agregar valor no que talvez
para entender o potencial daquele fruto, a empresa desen-
hoje gere um resíduo. A Diana, empresa dedicada
volveu um óleo. Agora, além de proteger a ilha, o fruto do
Tamanu gera renda para 300 famílias da região. a nutrição animal e humana que é parte da Symrise, produz
Cristiane explica que hoje, a Symrise emprega seus antioxidantes para nutrição derivada do cranberry. Ao fim do
esforços em várias cadeias. “Existe uma potencialidade processo de extração, restam polpa, casca, semente e uma
muito grande da Symrise nisso tudo. Novos produtos, água que é riquíssima em alfa-ácidos. Mas isso era tratado
novos conceitos, tendências para o mercado”, diz. Mais como resíduo, o que levou o time de Cosmetics Ingredients
do que uma fonte de ingredientes, a Symrise trabalha da Symrise a questionar a como usar aquela frutinha que saiu
dentro de diferentes regiões do mundo em vários pro- do pé na totalidade. “Conseguimos transformar todo resíduo
gramas de integração com as comunidades locais dando industrial em matérias-primas riquíssimas para a indústria cos-
a empresa uma vivência e agregando ao portfólio diver- mética, três produtos fantásticos para o mercado e com eficá-
sidade cultural também, não só de espécies.
cia comprovada para uso em pele e cabelos: o Actipone Alfa
Existe também a abertura e a disposição da Symrise
Cranberry; o Óleo de Cranberry; e o extrato em pó Neoactipone
para criar novas opções para viabilizar óleos que já estão
Cranberry”, comemora. Nesse processo, deixamos de gerar
no portfólio, gerando volumes ainda mais interessantes.
A partir dos estudos das propriedades de diferentes óle- resíduo como grupo, agregamos valor para o fornecedor, que
os da coleção africana, a empresa desenvolveu um blend conseguiu atribuir mais valor ao produto dele.
para cabelos cacheados e ondulados. “Se você pensa em
sustentabilidade, em biocomércio ético, não se pode sim-
plesmente tirar de linha algum item de volume baixo. Isso facilitar a secagem das sementes. Tenho que poder promo-
geraria implicações pela cadeia, nas comunidades. É preci- ver que toda a cadeia esteja feliz e equilibrada”, afirma.
so ser criativo e observar as oportunidades”, acredita. Des- Se há 20 anos, apenas algumas poucas empresas en-
se desafio, a Symrise desenvolveu um blend com a melhor dereçavam essas questões de forma efetiva em suas es-
composição para atender as necessidades das consumido- tratégias de negócios, hoje, os clientes estão mais abertos
ras cacheadas e onduladas, um mercado gigantesco. “De para olhar as proposta que a Symrise oferece em termos
quebra, as marcas levam um produto que tem uma história de sustentabilidade e biocomércio ético. “Hoje temos mais
verdadeira por trás”, comemora Cristiane. empresas grandes fazendo esse movimento e vemos mui-
Aliás, sobre o preço de ingredientes, a executiva da tas pequenas empresas interessadas”, comemora.
Symrise diz que a realidade do mercado impõe a neces-
sidade de um preço que o próprio mercado considere DESENVOLVENDO VALOR PARA TODOS
aceitável. Mas ela também é enfática ao dizer que um Com um portfólio extenso, a Symrise tem um grande de-
ingrediente botânico sustentável não é mais caro. O que safio em ter cada um dos seus ingredientes botânicos sob
acontece muitas vezes, segundo ela, é que é provável os princípios do biocomércio ético. Mas a forma como a
que se esteja comparando esses ingredientes com outros empresa opera vai sempre ao sentido de estabelecer um
que talvez tenham problemas para serem resolvidos nas legado. O próprio estandar da UEBT estabelece critérios
suas cadeias produtivas. “Eu não posso deixar de remu- mínimos que devem ser atendidos ao longo da cadeia
nerar as comunidades produtoras para vender mais ba- produtiva, além disso planos de trabalho são estabele-
rato. Eu preciso melhorar a minha operação e otimizar cidos para cada ingrediente, seguindo uma prioridade.
os processos envolvidos em toda a cadeia”, diz Cristia- A vai se certificar sobre onde e como esse material é
ne. Isso passa por atuar em parceria com os produtores, obtido,se as leis locais de acesso à biodiversidade fo-
clientes e com órgãos governamentais. ram respeitadas, assim como sobre o uso sustentável da
Na Amazônia, um tema importante é buscar soluções biodiversidade e qual a relação com o produtor local. O
e tecnologias que permitam resolver aspectos relacionados mais importante nesse trabalho é que se busca sempre
à qualidade dos insumos, como por exemplo a secagem melhorar a cadeia produtiva. “Às vezes, não consegui-
das sementes. Como chove muito na região, a secagem das mos a rastreabilidade completa, porque chegamos até a
sementes pode demorar e implicar em aumento de custos, cooperativa, mas não até o pequeno produtor. Nós va-
atrasos, ou pior, mofar as sementes. A Symrise trabalha mos sentar com a cooperativa e desenvolver isso juntos.
para ajudar no desenvolvimento de novas tecnologias Se a qualidade não é tão boa, como podemos melhorar?
para o campo. “Como mitigar esse risco? Trabalhamos O segredo é a transparência. Expor, compartilhar, ouvir
junto com eles, vendo que tipo de equipamento poderia a outra parte”, conclui Cristiane de Moraes.
SYMRISE.COM
SUPPLY CHAIN Sustentabilidade
VETORES DA
TRANSFORMAÇÃO
PRÁTICAS DE NEGÓCIO ATENTAS AO RESPEITO PELA SUSTENTABILIDADE
AMBIENTAL, SOCIAL E CULTURAL SÃO CADA VEZ MAIS COMUNS NA INDÚSTRIA
DA BELEZA >>> CESAR ALVES
N
ão se trata de um movimento novo. Na green washing. A prática consiste em dar um verniz am-
verdade, trata-se de uma realidade que bientalista nos produtos de uma determinada marca que,
vem se desenvolvendo há, pelo menos, muitas vezes, existe no marketing, mas não se confirma
duas décadas. Cada vez mais, ter uma na prática. Por isso, Kehrwald conta que a empresa foi
visão sistêmica de toda a cadeia pro- buscar uma chancela externa em relação ao seu trabalho
dutiva, com respeito às questões ambientais, sociais e na área. “Não queríamos ser confundidos com esse tipo
culturais, torna-se obrigatórias para as práticas de ne- de empresa que só é verde na propaganda”, declara.
gócios dos mais diversos setores. A preocupação com Recentemente a empresa recebeu a Certificação LIFE,
a rastreabilidade das matérias primas e seu impacto criada pelo Instituto LIFE – Lasting Initiative for Earth,
em relação à biosustentabilidade deixam de ser apenas que reconhece a eficácia do sistema de gestão ambiental
uma bandeira de marca para se tornar uma prática ne- e distingue as organizações que incluem uma agenda vo-
cessária para se sustentar no mercado. luntária em prol da conservação da biodiversidade.
Se já havia uma crescente busca do consumidor por Reconhecida pela Convenção da Diversidade Biológi-
produtos naturais e preferência por marcas que utili- ca (CDB) da ONU, a metodologia LIFE vai além do cum-
zassem como matéria prima ingredientes com baixo primento da legislação e busca compensar os impactos
impacto ambiental em embalagens recicláveis, hoje eles residuais das organizações ao definir um desempenho
também levam em conta as origens desse produto a par- mínimo em conservação da biodiversidade, estabelecido
tir de todos os elos da cadeia produtiva. Ou seja, conta de forma proporcional aos impactos ambientais, levan-
também a relação da marca com as comunidades extra- do em conta cinco aspectos em seu cálculo: geração de
tivistas, com os catadores e recicladores, e até mesmo a resíduos, emissão de gases de efeito estufa, consumo de
estrutura da fábrica. água, utilização de energia e ocupação da área.
E para além do comportamento e das exigências dos “Muita gente considera a certificação LIFE a mais
consumidores, o conjunto de boas práticas ambientais, séria do mundo. Eles são referência global no segmen-
sociais e de governança (ESG), tornou-se critério impor- to, devido ao nível criterioso do seu processo”, explica
tante para os investidores. o executivo da C-Pack. Após o mapeamento , o impac-
“Eu acho que a sustentabilidade é uma questão de to gerado pela companhia, numa escala de zero a mil,
compromisso ético e o mercado está ciente disso. Do era de apenas 2,61. “Imagina uma empresa de plásticos
meu ponto de vista, quem não estiver em conformidade com impacto quase zero à biodiversidade”, celebra.
com os compromissos sustentáveis está fora do merca- A ação fundamental para obtenção da certificação
do. E em todos os seguimentos. Desde a fabricação de foi o Projeto C-Pack Conserva, desenvolvido no Par-
camisetas até a geração de energia. Tem que ter sustenta- que Estadual da Serra do Tabuleiro, maior unidade de
bilidade. As empresas, cada vez mais, estão se tornando conservação de Santa Catarina, que atende à estratégia
ESG. A sustentabilidade não é mais apenas ambiental, de restauração e ações de manejo do parque. O foco da
é também social. É um padrão internacional”, declara ação está em manter a biodiversidade do local, buscan-
André Michel Kehrwald, diretor de Inovação e Quali- do a conservação do patrimônio natural. Por meio do
dade da C-Pack Creative Packaging, empresa líder na C-Pack Conserva, a empresa adotou uma área perto de
América Latina na produção de bisnagas plásticas para sua operação, na Serra do Tabuleiro, região sensível à
a indústria de cosméticos. degradação. “Fizemos lá um trabalho de corte de pilos,
Em meio a esse novo cenário, o executivo chama aten- uma espécie invasora que queima muito fácil. Por conta
ção para algo que também não é novo, mas que, infeliz- disso, o parque pegava fogo com frequência. Inclusive,
mente, é uma tendência crescente no seto: a prática do acabando com a vegetação nativa”, conta Kehrwald.
O EXEMPLO PRECISA
VIR DE DENTRO
GRANDES EMPRESAS DE BELEZA SE ENGAJAM EM PROJETOS QUE VISAM DAR
MAIS ESPAÇO EM SEUS QUADROS DE FUNCIONÁRIOS A PROFISSIONAIS NEGROS
>>> CESAR ALVES
A
diversidade étnico-racial não é uma nico-racial dentro de seus quadros de funcionários,
pauta exatamente nova para a in- promovendo projetos que visam aumentar de forma
dústria dos cosméticos e beleza no considerável a participação de pessoas negras em
Brasil. Já faz algum tempo que as suas equipes de trabalho, em especial em posições de
marcas vêm se dedicando à pesqui- maior relevo e liderança.
sa e desenvolvimento de produtos A operação local da francesa L’Oréal, por exemplo,
que correspondam às características vem reforçando suas ações de diversidade e inclusão
específicas dos diversos tons de pele que marcam o para valorizar talentos negros e promover mais igual-
Brassil. Embora essa seja uma agenda um tanto quanto dade racial no quadro de colaboradores da companhia.
atrasada, especialmente quando se leva em conta o que As iniciativas, idealizadas ao longo do ano de 2020, fa-
essa população representa em termos de consumo, essa zem parte do programa L’Oréal Plural e envolvem a
agenda começa a andar por aqui. Um exemplo disso é a abertura do banco de talentos para profissionais negros
representatividade retratada nas campanhas de comu- e negras e a reformulação da rede interna de afinidade
nicação das marcas, que hoje tem uma presença maior e de pessoas negras. “Diversidade e inclusão estão no
mais frequente de afrodescendentes. DNA da L’Oréal e são uma prioridade estratégica da
Mas, disponibilizar produtos específicos e promover companhia. Nosso propósito é criar a beleza que move
essa diversidade em campanhas de marketing está lon- o mundo. Não existe um modelo único de beleza, por
ge de ser o suficiente para combater um monstro como isso diversidade e inclusão são tão importantes”, de-
o racismo estrutural, que felizmente, fica cada vez mais clara a diretora de Diversidade & Inclusão da empresa,
escancarado por aqui. Basta olhar para o mundo cor- Renata Dourado. Ela conta que a L’Oréal Brasil tem
porativo para ter certeza disso. A falta de representa- área e recursos dedicados ao tema há alguns anos e,
tividade de pessoas negras em funções de liderança é que como qualquer outro tema prioritário e estratégi-
evidente: apesar de aproximadamente 56% da nossa po- co, D&I é desenvolvido com planejamento, metas rele-
pulação ser composta por pessoas que se autodeclaram vantes, ambiciosas e específicas e um alto senso de res-
negras – de acordo com dados do IBGE –, menos de 5% ponsabilidade de toda a liderança, e não apenas do RH
dos cargos gerenciais são ocupados por negros e negras Um dos programas promovidos pela empresa é o
(Instituto Ethos). que leva o nome L’Oréal Plural, voltado à diversidade
Globalmente, a agenda de diversidade e inclusão e inclusão dentro dos quadros da empresa, está basea-
(D&I) passou a ocupar um lugar central nos discur- do em quatro pilares: equidade de gênero, LGBTQIA+,
sos dos CEO´s, que parecem dispostos a tratar o tema étnico-social e inclusão de pessoas com deficiência.
de forma sistêmica. Como no Brasil, a questão racial Segundo o time que compõe o L’Oréal Plural, a
sempre foi um tabu e, também, um processo de franca empresa acredita que a pluralidade é o caminho para
negação (forjada sob a influência do conceito da mis- construir uma empresa ainda mais disruptiva e inova-
cigenação e da democracia racial). Na prática, o que dora. A diversidade gera vantagens competitivas reais,
se concebeu foi a ideia de que no Brasil pessoas de to- a começar pelo fato de que se a empresa for um espelho
das as raças e credos convivem em paz e harmonia... da sociedade ao qual ela serve, a probabilidade de que
Desde que cada um saiba exatamente qual o papel e demandas dos seus diferentes grupos de consumidores
o lugar que lhe cabe na sociedade: a Casa Grande ou possam ser mais facilmente percebidas, compreendidas
a Senzala. e endereçadoa. O estudo “Diversity Matters: América
Pois bem, nos últimos anos, as empresas do mer- Latina”, produzido pela consultoria McKinsey, aponta
cado de beleza vêm buscando meios para se engajar que times diversos são 152% mais inovadores.
nessa agenda em busca de uma maior equidade ét- Em 2020, a L’Oréal acelerou sua agenda de D&I
w w w. k a a p i f r a g r a n c i a s . c o m . b r
+55 (19) 3288.0502