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Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Direito e Estrutura da Saúde


Pública e Privada

Prof. Dr. Ivan de Oliveira Silva

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Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Sumário
Capítulo I - Memórias da gestão dos serviços de saúde 3

Capítulo II - Direito à saúde na Constituição Federal 12

Capítulo III – Ênfase e tipologia dos serviços de saúde na Constituição Federal 18

Capítulo IV – Saúde pública – visita domiciliar dos profissionais da saúde como

política pública 27

Capítulo V - Sanções administrativas aplicáveis aos agentes que atuam no

sistema de saúde suplementar 34

Referências bibliográficas 47

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Capítulo I - Memórias da gestão dos saúde eram destinados àqueles que detinham
serviços de saúde conhecimentos ocultos derivados da vontade
e da maneira de atuações de divindades di-
versas. Assim, estar doente ou estar saudá-
vel, conforme o caso, dependeria da vontade
soberana e inquestionável de divindades.

Fonte da Imagem: http://1.bp.blogspot.com/-l-


DmGAz3jno/T4sCCHlr3uI/AAAAAAAAAOI/qrj0nB-
Q6y0/s1600/enfermagem%2Bhistoria.png

1. Considerações prévias Fonte da Imagem: http://1.bp.blogspot.com/-


13egWt7-Ilk/Ton9BWru61I/AAAAAAAAAMQ/r_
No rastro histórico da humanidade, o trata- V8FRLsJNs/s1600/800px-Ephesus10.jpg

mento dispensado à saúde recebeu enfoques


dos mais diversos. Pretendemos neste tópico Na mitologia grega, a divindade da saú-
tecer algumas observações sobre essas varia- de era denominada Asclépio, a que, na mi-
ções para que, nesse exercício, seja possível tologia romana, correspondia Esculápio. De
verificarmos a evolução do trato com a saúde modo simbólico, fora ele retirado do ventre
desde momentos remotos até os dias atuais, materno quando sua mãe, Coronis, jazia em
em que, entre nós, ela passou a ser objeto de uma pira funerária. Desse modo, as narrati-
normatização constitucional. vas míticas dessa divindade comumente es-
tão vinculadas ao dualismo morte/vida, sim-
Abaixo, anotamos considerações a respei- bolizando a possibilidade e desejo humano
to dos serviços de saúde desde a compreen- de vencer o último desafio: a morte. Assim,
são do tema como uma questão meramente surge a ideia mítica da saúde relacionada
sobrenatural até o cuidado dos pacientes em como uma espécie de eterno duelo entre a
uma perspectiva científica. Observemos, pois, vida e a morte.
as fases evolutivas de maior significância para
o presente texto. Mais à frente, ainda na narrativa mitológi-
ca, a filha de Asclépio, Hígia, foi reconhecida
O tratamento dos enfermos por meio de como a divindade da preservação da saúde
encantamentos e conhecimentos espirituais ou, em compreensão semelhante, como a
deusa da prevenção da doença. A sua repre-
No passado, invariavelmente, as civiliza- sentação estética é a de uma mulher dando
ções costumavam creditar os problemas de um líquido em uma taça (ou cálice) a uma
saúde a manifestações maléficas de natureza serpente. Desse modo, entrou no imaginário
sobrenatural. Por conta disso, os serviços de popular a representação do denominado Cá-

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lice de Hígia, que, ainda nos dias atuais, foi esse episódio, Rá, o então deus-doente, fi-
adotado como símbolo da medicina e tam- cou aliviado dos males que o afligiam (JA-
bém da farmácia. Entre os romanos, a repre- MES, 1993, p. 15-21).
sentação simbólica de Hígia foi denominada
Sallus. No português, sallus mostra-se como Ao analisar os elementos mentais da civi-
fonte para a palavra saúde. lização a partir de fontes bastante remotas,
destaca Durant (1957, v. 1, p. 87):

É espantoso o número de curas que os


curadores primitivos realizavam, a despei-
to das suas teorias sobre as doenças. Para
aquela gente simples, a doença era a posse
dum corpo efetivada por um poder estranho,
ou espírito – concepção bem próxima da te-
oria microbiana de hoje. O método de cura
mais popular consistia na cerimônia mágica
de convite ao intruso largar o doente.

Ao discorrer sobre a vinculação da doença


com encantamentos originário do mundo so-
brenatural, continua Durant (ibidem) a ano-
tar:

Na maioria das mitologias, o ato de ado- Os truques dos antigos eram mais dra-
ecer era tipicamente humano. As divindades máticos que os dos seus colegas de hoje;
no panteão grego e romano não estavam su- procuravam assustar o espírito “encostado”
jeitas às doenças. Contudo, no Egito antigo, ao doente por meio de caretas e máscaras
encontramos relatos de divindades que ado- terrificantes, e gritos, barulho etc., ou aspi-
ravam o demônio por um canudo.
eceram em decorrência de encantamentos,
sendo que a cura também dependeu do ma-
Na Pérsia, de igual modo, o trato com a
nuseio de conhecimentos espirituais ocultos.
saúde estava inicialmente vinculado a poderes
Em dois papiros egípcios, datados entre espirituais ocultos e, por conseguinte, lidar
1320 e 1200 a.C, encontramos uma fabulo- com os serviços de saúde no plano social
sa narrativa de traição e fórmulas de encan- de então era um atributo específico dos
tamento envolvendo Ísis e Rá. Ísis, movida homens experientes na lida com o universo
pela busca de poder e domínio sobre todas sobrenatural.
as divindades egípcias, valeu-se do estrata-
Assim, entre os persas,
gema de uma serpente para envenenar Rá.
Este, quando ferido e sofrendo dores terrí- a medicina foi primeiramente uma fun-
veis, foi convencido a revelar o seu nome se- ção dos sacerdotes, que a praticavam com
creto àquela. Tão logo tomou conhecimen- a ideia de que o diabo havia criado 99.999
to do nome, Ísis proferiu algumas palavras, doenças, só tratáveis por meio duma com-
também secretas, de encantamento, e assim binação de magia e higiene. De preferência
ocorreu a cura da divindade enferma. Após recorriam a encantações, em vez de drogas,

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visto que a encantação, se não curasse, não terioranos. Assim, entendemos que o conte-
matava o doente – o que não se podia di- údo mostra bastante interesse para nossos
zer das drogas. Não obstante, a medicina propósitos.
leiga se desenvolveu com o crescimento da
riqueza, e no tempo de Artaxerxes II já ha- Um dos mistérios mais atraentes e respei-
via uma bem organizada corporação de mé- tados da cultura popular são as benzeções.
dicos e cirurgiões, com honorários fixados Benzer significa, antes de mais nada, aben-
em lei – como no Código de Hamurábi – de çoar. E o ato de benzer acompanha a huma-
acordo com a posição social do paciente nidade desde os seus primórdios, quando,
(DURANT, 1957, v. 2, p. 85). através do benzimento, se pedia a proteção
dos deuses. A mesma súplica acompanhou
Não é demais apontar que, ainda hoje, todas as culturas, em todos os tempos, sob
para muitas instâncias sociais, problemas de as mais variadas formas.
saúde estão vinculados às questões de or-
dem espiritual, motivo pelo qual os eventos
em que são prometidas curas divinas, com
seções destinadas a expulsão de demônios,
não são incomuns. No Brasil, multidões de
pessoas se reúnem com o propósito de ex-
pulsarem o mal causador de doenças.

Fonte: http://www.aprovincia.com.br/conversa-de-
pescador/folclore/benzecoes-bruxas-e-benzedeiras/.

[...] No mundo rural, as benzeções e ben-


zimentos nasciam da fé simples dos mora-
dores da roça que acreditavam nos poderes
sagrados de padres, de capelães, das ben-
zedeiras, dos rezadores e rezadoras de ter-
Nos rincões de nosso país, e também nos ço, incluindo parteiras. A partir dessa cultura
rural, a benzeção se estendeu ao cotidiano
grandes centros urbanos, os assuntos ati-
dos brasileiros de forma que pais benzem fi-
nentes à saúde ainda são tratados mediante
lhos, os mais velhos benzem os mais jovens,
ritos de benzedeiras ou pessoas que afirmam
padrinhos benzem afilhados, esportistas se
ser possuidoras de poderes sobrenaturais ca- benzem antes dos jogos, pessoas se ben-
pazes de expulsar a causa de doenças. As zem quando passam diante de igrejas ou de
pessoas submetem-se a tratamentos litúrgi- cruzes, benzem-se quando tem medos e re-
cos em que se compreende que o ataque à ceios. Há benzeções, também, para afastar
saúde seja uma investida espiritual. os maus espíritos, benzeções que funcionam
como exorcismos (ELIAS NETTO, 2013).
Segue um texto sobre a vinculação da con-
dição da pessoa diante de rituais mágicos. O O texto acima fala por si mesmo e, nesse
interessante é que o contexto das palavras sentido, fortalece nossas afirmações ante-
abaixo é, a princípio, destinado a leitores in- riores. É evidente que o imaginário popular

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é bastante pródigo na utilização de práticas tos homéricos, o médico estava classificado


terapêuticas por meio de encantamentos ou entre os homens livres, sendo identificado
invocações de divindades. como demiurgo, eis que prestava serviços à
comunidade em que estava inserido, motivo
3. Os serviços de saúde na Antiguidade pelo qual o referido termo grego (demiurgo)
e o paulatino afastamento das fórmulas é oriundo da junção das seguintes palavras:
mágicas demos – comunidade; ergon – trabalho. As-
sim, etimologicamente, os demiurgos eram
Na Antiguidade, não era reservada uma
aqueles que se dedicavam ao trabalho comu-
posição de destaque social para o médico
nitário (FLORENZANO, 1982, p. 18-20).
(ou outros profissionais da saúde), visto que
o seu trabalho era considerado manual e, por
conta disso, em que pese a importância de
sua atividade, a sua atuação costumava ser
enxergada com preconceito e em detrimento
das profissões consideradas intelectuais.

Não obstante, mesmo em épocas distan-


tes, os serviços de saúde tiveram marcantes
avanços. Tanto é que, já no Antigo Egito, os
profissionais da área, além de deterem co-
nhecimentos para embalsamamento de cor-
pos e tratamento de infecções, também re-
alizavam cirurgias até mesmo no crânio dos
enfermos, sendo que ainda se lançavam à
cura de males nos olhos e dentes dos pacien-
tes (ARRUDA; PILETTI, 2007, p. 22).

Por outro lado, em muitos momentos na


história de profissões vinculadas aos serviços
de saúde, encontramos tais profissionais na
condição social de escravos. Em outros, en-
contramos relatos históricos em que
Embora o profissional de saúde fosse ini-
a posição do médico também estava de- cialmente alvo de preconceitos culturais,
terminada pelo modo de produção prevalente o certo é que pouco a pouco as profissões
e, em consequência, não era muito elevada. da área da saúde passaram a ser objeto de
Por ser um trabalhador manual, pertencia à apreço pelos povos.
classe dos artesãos. A maioria deles viajava
de uma cidade para outra, batendo nas portas 3.1. A gestão dos serviços de saúde na Ida-
e oferecendo seus serviços, como faziam o de Média e na Modernidade
ferreiro e o sapateiro (Juan... p. 54).
Na Idade Média ocidental, a Igreja Católi-
Na Antiga Grécia, no entanto, conforme os ca deteve o domínio em vários ramos do sa-
vestígios que nos foram deixados nos rela- ber. Os clérigos revelaram-se grandes pensa-

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dores e, por conta disso, dominavam diversos Vale aqui registrar o ambiente em que se
conhecimentos científicos até então acumula- operavam os serviços de saúde no período
dos pela humanidade. À vista disso, grande medieval. Havia, em tal época, um misto de
parte dos serviços médicos desse período era ciências médicas nascentes com o misticismo
prestada à população por homens que faziam que, por consequência, culminava em uma
parte das fileiras eclesiásticas, embora, em tal distinta mancebia nos métodos terapêuticos
período, houvesse também uma medicina lei- utilizados no cuidado dos doentes. Por meio
ga que, pouco a pouco, ganhava relevância. de fontes históricas, vale observar:

Até o século XII, os serviços de saúde eram O quadro básico da medicina medieval é
ministrados com frequência pelo clero, que representado pela mãe com o seu pequeno
armazenava um grande conhecimento de depósito de remédios caseiros, por velhas
medicina e do trato com doenças sazonais. A que conheciam as propriedades de ervas
prática pelos clérigos não era atividade recen- e emplastos, e que recorriam também a
feitiçarias, ervanários às voltas com plantas
te, haja vista que “a partir da primeira metade
que curavam, com drogas infalíveis e pílulas
do século VIII inicia-se a preponderância da
milagrosas, parteiras prontas a ceifar a vida
medicina clerical, que considerava o doente
originada na ignomínia, charlatões dispostos
um homem que havia chegado a participar a curar e a matar em troca de uma ninharia,
da ‘graça’ de Deus. Cuidar do doente era, por monges que herdavam conhecimentos de
conseguinte, uma obrigação cristã” (NUNES, medicina monástica, freiras que, serenas,
1989, p. 55). confortavam os enfermos com orações e
ali e acolá gente de posses que aprendia
O processo de cuidar foi se desenvolvendo e exercia uma medicina mais ou menos
aos poucos nos conventos, que exerciam ati- científica (DURANT, 1957, v. 11, p. 261).
vidades de cuidado dos enfermos que neles
buscavam refrigério espiritual e corporal. Des- No diálogo entre a tentativa de cura das
se modo, nos referidos locais, abundantes no doenças ora por métodos racionais, ora por
medievalismo, procurava-se cuidar da alma e meios transcendentais, “floresciam drogas
do corpo dos doentes que neles adentravam horríveis e fórmulas fabulosas. Da mesma
em busca de serviços de saúde que pudes- maneira que se acreditava que certas pedras,
sem, pelo menos, aliviar-lhes os infortúnios. quando seguradas na mão, evitavam a gravi-
dez, também se acreditava que se obtinha a
Aos poucos, em conjunto com os conven- fecundidade comendo esterco de burro” (ibi-
tos, por volta do século XII, passamos a en- dem).
contrar hospitais. Há de se levar em conta
que o hospital na Idade Média tornou-se um A cena que observamos nos registros aci-
local destinado ao tratamento dos excluídos ma é, no mínimo, curiosa. Entretanto, a su-
pela sociedade. Nele, cuidava-se do pobre, do perstição nunca foi totalmente excluída das
fugitivo, do marginalizado que, na estrutura sociedades humanas. Às vezes, determinadas
social de então, era indesejado. Desse modo, práticas estão centradas ora em argumen-
os hospitais medievais eram um monturo de tos sobrenaturais, ora em construções ditas
excluídos e vulneráveis de toda a espécie científicas que não passam de mitos. Moder-
(ibidem). namente, a sociedade ainda constrói os seus

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mitos e neles procura encontrar saídas para Como observamos acima, na evolução dos
a complexidade da vida. serviços de saúde, os seus profissionais saí-
ram da condição social semelhante a escra-
vos, que ofereciam os seus préstimos, em
muitas oportunidades, apenas em troca da
refeição diária, agindo, na maioria das vezes,
como caixeiros viajantes.

Como vimos, foi no Medievo que o médico,


até então o mais notório agente de saúde,
passou a galgar ascensão social, embora isso
tenha sido um processo histórico cheio de al-
ternâncias. Assim é que

nos começos da Idade Média, o médico


– especialmente o clérigo – desempenhava
todas as funções de sua profissão: diag-
nosticava, preparava os medicamentos e
cuidava do doente. Pouco a pouco surgem
diversos ramos e especialidades, que se ins- Em decorrência da credibilidade alcança-
titucionalizam com a incorporação do ensino da, os profissionais da saúde passaram a se
médico à universidade. Atrás deste processo organizar em locais apropriados para o exer-
encontra-se a divisão social do trabalho em cício de suas relevantes atividades. O médico
manual e intelectual, presente já na antigui- e os demais profissionais da área da saúde
dade, porém, neste período, se consolida e passaram a constituir suas clínicas, nas quais
institucionaliza (NUNES, 1989, p. 56). eram procurados pelos doentes ou seus fa-
miliares. Deixaram, assim, a condição de
No início da era moderna, com o adven- peregrinos. Inverteu-se, portanto, a ordem
to do capitalismo, os serviços de saúde pas- da procura: os pacientes é que passaram a
saram a ser identificados como um produto buscar os profissionais da saúde, diferente-
passível de ser obtido mediante pagamento. mente do que ocorria em épocas anteriores.
O caráter pio desses serviços foi, aos poucos,
sendo deixado. Sugiram os agentes econô- No raiar da modernidade, contudo, os
micos exploradores dos serviços de saúde, serviços de saúde eram geridos e ofereci-
que, atualmente, exercem suas atividades dos pela iniciativa privada, notadamente por
sob critérios estabelecidos pelo Estado. Entre profissionais autônomos que se reuniam em
nós, estão eles sujeitos à legislação constitu- corporações de ofício com o propósito de
cional e infraconstitucional. atenderem em determinadas regiões previa-

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mente determinadas, conforme os interesses e comodidades daquele que oferecia a cura


por meio de contraprestação pecuniária. Nada impedia, porém, que os referidos profissio-
nais atendessem os doentes carentes apenas por motivações beneficentes, o que ainda hoje
verificamos – embora com mais raridade.

Os Estados modernos passaram, com efeito, a criar normas concernentes aos serviços de
saúde. Assim, mesmo que em alguns regimes jurídicos a saúde seja uma atividade eminen-
temente privada, o Estado toma providência de conceber normas mínimas de organização
da referida atividade, que hoje é responsável pela movimentação de enormes fortunas.

3.2. Gestão dos serviços de saúde no Brasil

Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_P1tK7jE5OU4/S-Dc_N8lFkI/AAAAAAAAANg/
iV0OLK2fJCo/s1600/Crise+na+Sa%C3%BAde+no+BLOG.JPG.

No Brasil, desde a época em que o colonizador aqui chegou, as questões de saúde passa-
ram à pauta, se não legislativa, pelo menos do âmbito social. Quando pensamos em gestão
de saúde, as grandes vítimas da colonização, como se sabe, foram os indígenas, que, não
dotados de anticorpos contra as doenças do europeu, sofreram os mais diversos males já
imunizados no agente colonizador. Entretanto, o manuseio das ervas pelos indígenas, até
os dias atuais, ainda é alvo de espanto por parte dos cientistas que lidam com os atributos
medicinais da botânica nacional.

No século XIX, alguns estados brasileiros adiantaram-se na tomada de decisões concer-


nentes à saúde pública. Ganhou relevância a atuação de São Paulo, uma vez que

em 1884, ano em que o Congresso paulista aprovara a lei da concessão de passagens gratuitas
para os imigrantes, foi nomeado por ato do presidente da Província de São Paulo, João Alfredo,
o primeiro inspetor de higiene pública, dr. Marcos de Oliveira Arruda. O cargo era exercido sem

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vencimentos e o local de funcionamento da O avanço seqüencial das epidemias –


Inspetoria de Higiene era o consultório do café, ferrovias e febre amarela -, seguindo
médico. Somente dois anos depois da no- o trajeto das ferrovias, indicava para as au-
meação, em 1886, a inspetoria foi instalada toridades sanitárias a íntima relação entre
em prédio próprio. Além do inspetor geral, o transporte ferroviário e a ocorrência das
a inspetoria contava com mais dois médicos moléstias. Essa é a origem da séria de me-
e um delegado de higiene nas cidades mais didas profiláticas relacionadas às ferrovias,
importantes. Sua atenção estava subordina- frequentemente adotadas durante as epide-
da à Inspetoria Geral de Higiene, com sede mias, tais como a instalação de estufas nas
no Rio de Janeiro. Pouca coisa a Inspetoria estações ferroviárias para a desinfecção de
de Higiene de São Paulo realizou no sentido roupas e bagagens dos passageiros e pulve-
de sanear a Capital e as principais cidades, rizadores para os objetos que não podiam
Santos e Campinas. Dependia de verbas da ser submetidos a esse processo. O isola-
Inspetoria Geral de Higiene, mais de uma mento e a vigilância dos passageiros pro-
vez negadas (RIBEIRO, 1993, p. 25). cedentes de locais onde grassava a doença
também foram medidas muito empregadas.
Como se observa, diante da grande mi-
gração de pessoas e, consequentemente, do As políticas públicas de saúde no Sudeste,
deslocamento de males regionais, o governo em especial São Paulo e Rio de Janeiro, ocor-
paulista entendeu pertinente a movimentação reram em função da constante migração de
da máquina pública com vista a garantir um pessoas que saíam de locais onde grassavam
mínimo de saúde à população. Contudo, a atu- vetores de doenças epidêmicas e, por conse-
ação do Estado mostrou-se um tanto tímida, guinte, dos malefícios que se disseminavam
com falta de alocação de recursos suficientes, principalmente nos pontos de embarque e
desembarque de passageiros que utilizavam
estado em que encontramos a evolução dos
as vias férreas, alcançando também os mo-
serviços públicos de saúde em São Paulo.
radores de seu entorno.

No período em tela, a epidemia que mais


assolava o país era a febre amarela. Para
combatê-la,

a reforma da legislação sanitária de 1896


inclui dispositivos voltados à prevenção da
propagação da febre amarela através das
ferrovias, prevendo a implantação de três
novos desinfectórios, em Santos, Campinas
e Rio Claro. Esses locais eram pontos-chave
É de se notar que, com o advento do avan-
para a disseminação da doença através do
ço da tecnologia em transportes ferroviários,
estado, o porto de entrada dos imigrantes
o que se deu no final do século XIX e início do e entroncamentos ferroviários importantes,
XX, os focos de epidemias disseminavam-se junto às principais regiões produtoras. Foi
com maior intensidade pelo Brasil, sobretudo prevista também a instalação de postos
nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. quarentenários entre Santos e a capital e
Relata-nos, nesse sentido, Rodolpho Telarolli outro junto à Estrada Central do Brasil, nos
Junior (1996, p. 41): limites de São Paulo com o Rio de Janeiro,

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para observação e desinfecção dos imigran- De nossa parte, entendemos que a Revolta
tes e suas bagagens (ibidem). da Vacina foi impulsionada por um misto de
interesses políticos e ignorância dos destinatá-
No início do século XX, encontramos nos rios da campanha pública de vacinação. Nesse
anais da história do Brasil um episódio muito contexto, a negativa em tomar a vacina parece
marcante acerca de política pública de servi- apenas uma insurreição contra a maneira au-
ços de saúde. O então presidente da Repúbli- toritária e destituída de esclarecimento à po-
ca, Francisco de Paula Rodrigues Alves, que pulação à mercê da febre amarela. Contudo,
governou o país de 1902 a 1906, encarregou a Revolta da Vacina teve o mérito de trazer a
o médico sanitarista Oswaldo Cruz da missão gestão da saúde pública à discussão tanto nos
de erradicar a febre amarela na antiga capi- meandros da sociedade brasileira como nos
tal da República, Rio de Janeiro. bastidores políticos e, ainda, dentre os gesto-
res especializados, em uma nascente ideia de
Na época, a atuação do Poder Público foi
saúde pública.
mal recepcionada pelo povo, que não aceitava
submeter-se à vacina contra a doença. Além
da ignorância, aparentemente as massas eram
instigadas pela oposição ao governo. A situa-
ção ganhou proporções extremamente con-
flituosas, chegando a ares revolucionários, já
que as pessoas saíram às ruas para combater
os agentes de saúde ao som da Marselhesa e
da Internacional, respectivamente composi-
ções musicais da Revolução Francesa e do mo-
vimento socialista. O evento, que se potencia-
lizou em novembro de 1904, recebeu o nome Embora não estejamos em um modelo per-
de Revolta da Vacina. As manifestações foram feito, com o olhar na história, observamos que,
intensas e, como vemos na imagem abaixo, no transcurso do século XX, encontramos um
chegou a criar um clima de insegurança e vio- avanço significativo na gestão da saúde públi-
lência durante a atuação dos insurgentes con- ca, principalmente nas grandes cidades. É evi-
tra a política pública de vacinação. dente, no entanto, que os serviços ainda estão
extremamente deficitários e não atendem à
maioria da população brasileira. Ainda faltam
recursos para investimentos em recursos hu-
manos, instalações e tecnologia para que toda
a população pátria tenha acesso a serviços pú-
blicos de saúde de qualidade, sem filas imen-
sas para atendimento, pessoas amontoadas
em macas pelos corredores hospitalares, falta
de materiais básicos e outras aberrações que
encontramos nos periódicos.

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
Assim, não é demais anotar que os servi-
commons/2/22/Revolta_da_Vacina.jpg ços públicos de saúde nacionais ainda deixam

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a desejar e, infelizmente, assolam parcela da Capítulo II - Direito à saúde na


população que não tem recursos suficientes Constituição Federal
para garantir acesso à rede privada.

Fonte: http://www.mayowynnebaxter.co.uk/blog/wp-
É preciso ter centros de saúde e clínicas content/uploads/2013/05/Medical-negligence-1.jpg

odontológicas, instalados em lugares aonde


a população não tenha medo de ir e ficar 1. A saúde como direito social constitucio-
mais doente ainda. Tem que ser um prédio nalmente tutelado
onde as pessoas se sintam bem. Portas abe-
ras, janelas abertas. O Poder Constituinte Originário deixou es-
tampado na Constituição de 1988 que o di-
É preciso garantir a funcionalidade da reito à saúde recebe status de direito funda-
estrutura, para que as pessoas venham até mental e, nesse sentido, está inserido no rol
estes equipamentos. Outro ponto importan- dos direitos sociais.
te é assegurar que os profissionais que os
atendem estejam presentes. Dispõe o art. 6º da Constituição Federal:
“São direitos sociais a educação, a saúde, a
A população tem que ter segurança de
moradia, o lazer, a segurança, a previdência
que, por exemplo, no período da manhã,
social, a proteção à maternidade e à infância,
assim como nos outros períodos, vai encon-
trar no posto um médico, um atendente, um a assistência aos desamparados, na forma
enfermeiro. Caso contrário, não vai, ou vai desta Constituição” (grifos nossos).
um dia e depois não volta mais – com razão
(ESMANHOTO; ALMEIDA, 1989, p. 19). Vale ressaltar que, no instante em que o
legislador constitucional elencou a saúde no
O interessante é que há um desejo cole- rol dos direitos sociais, essa técnica discursi-
tivo de melhoria dos serviços brasileiros de va não é de somenos importância. Pelo con-
saúde. trário, por meio do referido artigo, a saúde
passa a ser inserida no contexto dos direitos
No campo legislativo, a saúde ganhou im- fundamentais. Assim, trata-se de um direito
portância constitucional, de modo que há, fundamental, de natureza social.
entre nós, um direito fundamental a ela em
nosso sistema jurídico. Esse é o tema do pró- Com efeito, quando nos deparamos com o
ximo capítulo. direito fundamental social à saúde, eleva-se

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à opção hermenêutica de que se impõe ao entes federativos, desde que demonstrada


Estado o dever de tutelar esse direito em be- sua necessidade e a impossibilidade de cus-
nefício da pessoa humana, proibindo-se, por teá-los com recursos próprios. Isso por que,
uma vez satisfeitos tais requisitos, o ente
conseguinte, uma tutela insuficiente.
federativo deve se pautar no espírito de so-
lidariedade para conferir efetividade ao di-
reito garantido pela Constituição, e não criar
entraves jurídicos para postergar a devida
prestação jurisdicional.” (STF. RE 607.381-
AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 31-
5-2011, Primeira Turma, DJE de 17-6-2011.)
No mesmo sentido: AI 553.712-AgR,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamen-
to em 19-5-2009, Primeira Turma, DJE de
Com efeito, em que pese o reconhecimen-
5-6-2009; AI 604.949-AgR, Rel. Min. Eros
to constitucional de sua fundamentalidade, Grau, julgamento em 24-10-2006, Segun-
da Turma, DJ de 24-11-2006 (fonte: http://
o direito à saúde reclama, para sua efe-
www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd.
tivação, o cumprimento de prestações posi- asp?item=%201814, acesso em: )
tivas e prestações negativas. Pela primeira,
os Poderes Públicos devem tomar medidas Pelo que se observa do julgado acima, te-
preventivas ou paliativas ao combate e ao mos que o Supremo Tribunal Federal, reite-
tratamento de doenças. Já pela segunda,
radamente, tem reconhecido que o Estado
incumbe a eles abster-se, deixando de prati-
é devedor do direito fundamental à saúde.
car atos obstaculizadores do cabal exercício
Diante disso, nas palavras de Gilmar Ferrei-
desse direito fundamental (BULOS, 2000, p.
ra Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco
1170-1).
(2013, p. 614), há de se considerar que es-
Diante da problemática da gestão insufi- tamos diante de uma “nova dimensão dos
direitos fundamentais, fazendo com que
ciente dos serviços de saúde em território
o Estado evolua da posição de adversário
nacional, deparamo-nos com a denominada
(Gegner) para uma função de guardião des-
“judicialização da saúde”. Essa expressão,
ses direitos (Grundrechtsfreund oder Grun-
muito comum no contexto jurídico e clínico-
drechtsgarant)”.
-hospitalar, apresenta a perspectiva de que a
pessoa, diante da necessidade de obtenção 2. O problema da efetividade do direito
de efetividade da norma constitucional, vê- fundamental à saúde nos tribunais supe-
-se obrigada a postular a tutela de seu direito riores
à saúde nas vias judiciais. Esse, atualmen-
te, é o grande dilema na temática gestão de
serviços de saúde. A propósito, elucidativa é
a ementa da decisão do Supremo Tribunal
Federal disposta a seguir:

O recebimento de medicamentos pelo


Estado é direito fundamental, podendo o
requerente pleiteá-los de qualquer um dos

13
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

A condição do Estado de guardião do direi- nistração, incluindo aqui a correspondente


to à saúde pode se evidenciar na ementa do agência reguladora, não tenham se dado
julgado abaixo: conta de que o direito à saúde precede em
importância o direito de crédito. Em verdade,
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO.
o julgado acima transcrito mostra-se como
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA.
um libelo contra o interesse de grupos eco-
INVIABILIDADE DE SUSPENSÃO DO ABAS-
TECIMENTO NA HIPÓTESE DE DÉBITO DE
nômicos exploradores de serviços públicos
ANTIGO PROPRIETÁRIO. PORTADORA DO essenciais que, em seus intentos réprobos,
VÍRUS HIV. NECESSIDADE DE REFRIGE- não param para sopesar as consequências
RAÇÃO DOS MEDICAMENTOS. DIREITO À de interromper a energia elétrica de pessoa
SAÚDE. em grave condição de saúde.

1. A jurisprudência do Superior Tribunal


de Justiça é no sentido da impossibilidade
de suspensão de serviços essenciais, tais
como o fornecimento de energia elétrica e
água, em função da cobrança de débitos de
antigo proprietário.

2. A interrupção da prestação, ainda que


decorrente de inadimplemento, só é legíti- Observamos no julgado em comento que
ma se não afetar o direito à saúde e à inte- o comportamento da prestadora de serviços
gridade física do usuário. Seria inversão da
de energia elétrica foi, ao mesmo tempo, re-
ordem constitucional conferir maior prote-
provável e assustador. Felizmente, o Superior
ção ao direito de crédito da concessionária
que aos direitos fundamentais à saúde e à
Tribunal de Justiça reprovou o grotesco com-
integridade física do consumidor. Preceden- portamento.
te do STJ.
Mas repetimos: precisaríamos chegar ao
3. Recurso Especial provido. (STJ. REsp Tribunal da Cidadania para afastar essa fero-
1245812 RS 2011/0046846- 8. Relator: Min. cidade econômica da operadora de serviços
Herman Benjamin. Julgamento: 21/06/2011. de energia elétrica?
Publicação: DJe 01/09/2011).
Neste instante, vale ainda destaque o fato
Do ponto de vista de um jurista menos de que o Legislador Constituinte de 1988 es-
atento, seria possível apenas afirmar que o tabelece no art. 196 que a saúde é direito de
STJ reconheceu que o direito à saúde assu- todos e dever do Estado. Magnífico seria se a
me posição mais relevante que o direito de realidade de nosso país atendesse o precei-
crédito da concessionária de serviços elétri- to constante em sua diretriz constitucional. A
cos. Naturalmente, isso bastaria se não es- saúde seria um bem fundamental de acesso
tivéssemos atentos ao fato absurdo de que fácil a todos. Não haveria filas nas redes pú-
uma discussão como essa tenha necessida- blicas de atendimento. Profissionais da saú-
de de chegar ao Superior Tribunal de Justiça de, por sua vez, não estariam submetidos a
para que a concessionária de energia elétri- baixos salários e a plantões extenuantes, em
ca e todos aqueles envolvidos na sua admi- vários turnos.

14
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Infelizmente, em muitos momentos, o ce- litário do cidadão aos serviços e ações para
nário é outro, que, pela reiteração constan- sua promoção, proteção e recuperação. O
te, não é preciso narrar neste ensaio. No en- direito à saúde, como está assegurado na
tanto, fica aqui a nossa crítica à vergonhosa Carta, não deve sofrer embaraços impostos
gestão de serviços de saúde que impera em por autoridades administrativas, no sentido
vários espaços de nosso país, notadamente de reduzi-lo ou de dificultar o acesso a ele.
aqueles atrelados à saúde pública, sem dei- O acórdão recorrido, ao afastar a limitação
xar de lado o reconhecimento da existência da citada Resolução 283/1991 do Inamps,
que veda a complementariedade a qual-
de algumas anormalidades da saúde sob o
quer título, atentou para o objetivo maior
regime privado.
do próprio Estado, ou seja, o de assistência
à saúde” (STF. RE 226.835, Rel. Min. Ilmar
Em função disso, muitos destinatários dos
Galvão, julgamento em 14-12-1999, Pri-
serviços de saúde não veem alternativa se-
meira Turma, DJ de 10-3-2000).  No mes-
não recorrer ao Poder Judiciário para a ob-
mo sentido: RE 207.970, Rel. Min. Moreira
tenção do mínimo de dignidade no trato de
Alves, julgamento em 22-8-2000, Primeira
seus direitos fundamentais. A discussão é Turma, DJ de 15-9-2000.
tão intensa que, não raro, as demandas são
levadas à Suprema Corte de nosso país. Se- Observe-se, ainda, que em julgado re-
guem algumas decisões paradigmáticas em cente, a decisão do Estado em autorizar ou
que o direito fundamental à saúde foi objeto não a importação de pneus usados, prática
de discussão no STF: outrora comum no Brasil, passou pelo crivo
constitucional da análise da atuação estatal
“O direito a saúde é prerrogativa constitu-
em temas de impacto à saúde pública.
cional indisponível, garantido mediante a im-
plementação de políticas públicas, impondo Constitucionalidade de atos normativos
ao Estado a obrigação de criar condições ob- proibitivos da importação de pneus usados.
jetivas que possibilitem o efetivo acesso a tal Reciclagem de pneus usados: ausência de
serviço” (STF. AI 734.487-AgR, Rel. Min. El- eliminação total dos seus efeitos nocivos
len Gracie, julgamento em 3-8-2010, Segun- à saúde e ao meio ambiente equilibrado.
da Turma, DJE de 20-8-2010. Fonte: http:// Afrontas aos princípios constitucionais da
www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd. saúde e do meio ambiente ecologicamente
asp?item=%201814, acesso em:). equilibrado. [...] Arguição de descumprimen-
to dos preceitos fundamentais constitucio-
Com igual ênfase, observe-se a ementa a nalmente estabelecidos: decisões judiciais
seguir: nacionais permitindo a importação de pneus
usados de países que não compõem o Mer-
Acórdão recorrido que permitiu a interna- cosul: objeto de contencioso na Organização
ção hospitalar na modalidade “diferença de Mundial do Comércio, a partir de 20-6-2005,
classe”, em razão das condições pessoais do pela Solicitação de Consulta da União Euro-
doente, que necessitava de quarto privati- peia ao Brasil. Crescente aumento da frota
vo. Pagamento por ele da diferença de custo de veículos no mundo a acarretar também
dos serviços. Resolução 283/1991 do extinto aumento de pneus novos e, consequente-
Inamps. O art. 196 da CF estabelece como mente, necessidade de sua substituição em
dever do Estado a prestação de assistência decorrência do seu desgaste. Necessidade
à saúde e garante o acesso universal e igua- de destinação ecologicamente correta dos

15
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

pneus usados para submissão dos procedi- decorre não faltar matéria-prima a impedir a
mentos às normas constitucionais e legais atividade econômica. Ponderação dos prin-
vigentes. Ausência de eliminação total dos cípios constitucionais: demonstração de que
efeitos nocivos da destinação dos pneus a importação de pneus usados ou remolda-
usados, com malefícios ao meio ambiente: dos afronta os preceitos constitucionais de
demonstração pelos dados. saúde e do meio ambiente ecologicamente
equilibrado (arts. 170, I e VI e seu parágrafo
[...]
único, 196 e 225 da CB). Decisões judiciais
Direito à saúde: o depósito de pneus ao com trânsito em julgado, cujo conteúdo já
ar livre, inexorável com a falta de utilização tenha sido executado e exaurido o seu ob-
dos pneus inservíveis, fomentado pela im- jeto não são desfeitas: efeitos acabados.
portação é fator de disseminação de doen- Efeitos cessados de decisões judiciais preté-
ças tropicais. Legitimidade e razoabilidade ritas, com indeterminação temporal quanto
da atuação estatal preventiva, prudente e à autorização concedida para importação de
precavida, na adoção de políticas públicas pneus: proibição a partir deste julgamento
que evitem causas do aumento de doenças por submissão ao que decidido nesta ar-
graves ou contagiosas. Direito à saúde: bem guição (SFT. ADPF 101, Rel. Min. Cármen
não patrimonial, cuja tutela se impõe de for- Lúcia, julgamento em 24-6-2009, Plená-
ma inibitória, preventiva, impedindo-se atos
rio, DJE de 4-6-2012).
de importação de pneus usados, idêntico
procedimento adotado pelos Estados desen-
No julgado acima, destacou-se, no Poder
volvidos, que deles se livram.
Judiciário, a íntima relação entre os temas
[...] saúde e meio ambiente, sendo que tais valo-
res são considerados direitos fundamentais.
Demonstração de que: os elementos que O primeiro, a seu turno, faz parte do rol dos
compõem os pneus, dando-lhe durabilidade,
direitos fundamentais de segunda geração,
é responsável pela demora na sua decompo-
direitos sociais.
sição quando descartado em aterros; a di-
ficuldade de seu armazenamento impele a
sua queima, o que libera substâncias tóxi-
Por sua vez, o segundo está vinculado aos
cas e cancerígenas no ar; quando compac- direitos fundamentais de terceira geração,
tados inteiros, os pneus tendem a voltar à os direitos transindividuais, de interesse das
sua forma original e retornam à superfície, presentes e futuras gerações.
ocupando espaços que são escassos e de
grande valia, em especial nas grandes cida- Há de se anotar que, por conta da Juris-
des; pneus inservíveis e descartados a céu prudência do Supremo Tribunal Federal, a
aberto são criadouros de insetos e outros
técnica jurídica contemporânea elaborou, no
transmissores de doenças; o alto índice ca-
lorífico dos pneus, interessante para as in-
plano teórico e prático, o direito subjetivo à
dústrias cimenteiras, quando queimados a saúde.
céu aberto se tornam focos de incêndio difí-
ceis de extinguir, podendo durar dias, meses Desse modo, é reconhecida a possibilida-
e até anos; o Brasil produz pneus usados de de brasileiros e estrangeiros residentes
em quantitativo suficiente para abastecer as no Brasil postularem a concretude do direito
fábricas de remoldagem de pneus, do que fundamental à saúde nas vias judiciais.

16
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Mas, mesmo na condição de direito subje- ta, para garantir o seu direito à saúde, de
tivo, o litigante deverá demonstrar, em juízo, tratamento médico adequado, é dever so-
o fato de que o tratamento é prescrito por lidário da União, do Estado e do Município
providenciá-lo (STF. AI 550.530-AgR, rel.
profissional da saúde legalmente habilitado.
min. Joaquim Barbosa, julgamento em 26-6-
2012, Segunda Turma, DJE de 16-8-2012).
Com efeito, “para obtenção de medica-
mento pelo SUS, não basta ao paciente com-
O serviço público de saúde é essencial,
provar ser portador de doença que o justi-
jamais pode-se caracterizar como temporá-
fique, exigindo-se prescrição formulada por rio, razão pela qual não assiste razão à ad-
médico do Sistema” (STF. STA 334 - AgR, Rel. ministração estadual [...] ao contratar tem-
Min. Presidente Cezar Peluso, julgamento em porariamente servidores para exercer tais
24-6-2010, Plenário, DJE de 13-8-2010). funções (STF. ADI 3.430, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 12-8-2009,
Plenário, DJE de 23-10-2009).

Por fim, ainda no sentido de imposição


aos entes da federação da observância do
direito fundamental à saúde, vale registrar a
ementa abaixo:

Doente portadora do vírus HIV, carente


Não fosse o reconhecimento da existência de recursos indispensáveis à aquisição dos
do direito subjetivo à saúde, não seria pos- medicamentos de que necessita para seu
sível a postulação de sua efetividade junto tratamento. Obrigação imposta pelo acór-
ao Poder Judiciário, pois ficaríamos à mercê dão ao Estado.
da criação de políticas públicas de saúde, ao
alvitre do Poder Executivo. Alegada ofensa aos arts. 5º, I, e 196 da
CF. Decisão que teve por fundamento central
Assim, não seria possível sequer questio- dispositivo de lei (art. 1º da Lei 9.908/1993)
nar a ineficiência de tais serviços. por meio da qual o próprio Estado do Rio
Grande do Sul, regulamentando a norma do
Nesse sentido, observamos que a juris- art. 196 da CF, vinculou-se a um programa
prudência contemporânea do STF tem se de distribuição de medicamentos a pessoas
inclinado a designar ao Estado a condição carentes, não havendo, por isso, que se falar
de devedor do direito fundamental à saúde. em ofensa aos dispositivos constitucionais
Verifiquemos, a propósito, algumas ementas apontados.” (STF. RE 242.859, Rel. Min. Il-
mar Galvão, julgamento em 29-6-1999, Pri-
paradigmáticas:
meira Turma, DJ de 17-9-1999.)
Consolidou-se a jurisprudência desta
Corte no sentido de que, embora o art. 196 Destarte, pelo que se observa das anota-
da Constituição de 1988 traga norma de ca- ções acima, em decorrência da diretriz cons-
ráter programático, o Município não pode titucional do art. 6º, em que a saúde é eleva-
furtar-se do dever de propiciar os meios da à condição de direito fundamental social,
necessários ao gozo do direito à saúde por todos os entes federativos (União, estados-
todos os cidadãos. Se uma pessoa necessi- -membros, Distrito Federal e municípios)

17
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

estão obrigados a ele, constitucionalmente tuição a serviço desse bem inestimável do


considerado indisponível. indivíduo que é a sua própria higidez físico-
-mental (STF. ADI 3.510, Rel. Min. Ayres
Caso o direito fundamental à saúde seja Britto, julgamento em 29-5-2008, Plená-
objeto de desrespeito por meio de agentes rio, DJE de 28-5-2010).
públicos ou privados, felizmente há reiterada
jurisprudência dos Tribunais Superiores des- Capítulo III – Ênfase e tipologia dos
tinada a forçar o Estado e também a iniciati- serviços de saúde na Constituição
va privada a atender à vocação constitucio- Federal
nal da saúde, que se apresenta como direito
de todos e dever do Estado. 1. Ênfases constitucionais da proteção à
saúde
O Supremo Tribunal Federal, em interpre-
tação do art. 196 da Constituição Federal,
afirmou que o Estado deve conceber um con-
junto de políticas públicas para a garantia de
adequados serviços de saúde.

De outro modo, as ações deverão permi-


tir um diálogo sustentável entre a saúde e a
biotecnologia. Veja-se, nesse sentido, a ma-
nifestação abaixo:
Fonte da imagem:http://advocaciaoperaria.com.
O § 4º do art. 199 da Constituição, ver- br/wp-content/uploads/2013/10/stf1.jpg
sante sobre pesquisas com substâncias hu-
manas para fins terapêuticos, faz parte da A Constituição Federal, em seu art. 196,
seção normativa dedicada à “Saúde” (Seção apresenta seis ênfases da proteção à saúde.
II do Capítulo II do Título VIII). Segue a transcrição do artigo em referência,
oportunidade em que destacamos esses seis
Direito à saúde, positivado como um dos
âmbitos por meio de cores diferenciadas. As-
primeiros dos direitos sociais de natureza
fundamental (art. 6º da CF) e também como
sim, cada cor do texto do artigo abaixo re-
o primeiro dos direitos constitutivos da se- presentará uma ênfase e diretriz imposta pelo
guridade social (cabeça do artigo constitu- legislador constituinte.
cional de nº 194). Saúde que é “direito de
todos e dever do Estado” (caput do art. 196 Art. 196. A saúde é direito de todos e de-
da Constituição), garantida mediante ações ver do Estado, garantido mediante políticas
e serviços de pronto qualificados como “de sociais e econômicas que visem à redução
relevância pública” (parte inicial do art. 197). do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e ser-
A Lei de Biossegurança como instrumen- viços para sua promoção, proteção e recupe-
to de encontro do direito à saúde com a pró- ração (grifos nossos).
pria Ciência.
a) Primeira ênfase: demonstra que a
No caso, ciências médicas, biológicas e saúde é direito de todos, o que equi-
correlatas, diretamente postas pela Consti- vale a dizer que o direito fundamental

18
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

à saúde é um direito transindividual, de dos direitos fundamentais, incluindo nestes o


natureza difusa, que, por conseguinte, direito à saúde.
diz respeito às presentes e futuras ge-
rações. Envolve, assim, pessoas do-
entes e também não doentes. Basta,
portanto, ser pessoa humana para ser
destinatária do direito fundamental à
saúde.

b) Segunda ênfase: na perspectiva cons- Desse modo, o dever do Estado de garantir


titucional, a saúde é um dever do serviços de saúde a todos os humanos sob seu
Estado. Logo após a promulgação da espaço territorial não está destituído de força
Constituição de 1988, questionou-se impositiva. Assim, podemos dizer que, atual-
qual seria o alcance da expressão em mente, reconhece-se que o Estado está obri-
tela. Desse modo, deparamo-nos com gado às seguintes medidas para a garantia do
teses ultrapassadas de que, por conta direito social à saúde:
da expressão “dever do Estado”, não
havia em nosso ordenamento jurídico (i) o Poder Público não pode tomar decisões
a possibilidade de se exigir do ente fe- prejudiciais à saúde da população, que pode-
derado um direito a serviços de saúde.1 rão ser anuladas pelo Judiciário (negativa);
No entanto, como já anotarmos acima,
(ii) dentre várias interpretações de um ato nor-
essa tese foi rejeitada pelos Tribunais
mativo que tenha disposto sobre o assunto,
Superiores, de modo que hoje podemos
deverá ser escolhida aquela que mais ampla-
falar em um direito subjetivo à saúde.
mente realiza o propósito de atender a saúde
da população em geral e dos indivíduos em
particular (interpretativa); e, por fim,

(iii) não poderá o Poder Público extinguir uma


ação, ou revogar uma norma, que proporcio-
ne um determinado benefício ou prestação
na área de saúde, sem uma medida corres-
pondente ou substituta, sob pena de agir in-
constitucionalmente (vedativa do retrocesso)
(BARCELLOS, 2002, p. 273).

c) Terceira ênfase: por meio dessa diretriz,


Atualmente, podemos sustentar, nos termos o dever do Estado de prover à saúde é
da realidade do instante hermenêutico em que
constitucionalmente garantido me-
estamos inseridos, que há direito subjetivo à
diante políticas sociais e econômi-
saúde, realidade essa em que o processo civil,
cas. Isso implica dizer que o Estado deve
sobretudo, é um instrumento para a efetivação
se apresentar como o garante da efetivi-
1
  Por todos, citamos os principais expoentes da tese de que não dade do direito à saúde por meio de po-
assiste à pessoa humana qualquer direito subjetivo para postu-
lar, diante do Estado, o direito à saúde: Ferreira (1995, p. 17) e
líticas públicas de impactos sociais e eco-
Cretella (1991, p. 884). nômicos. Assim, a administração pública,

19
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

por meio do presidente da República, dos Poder Público deve reunir esforços huma-
governadores e dos prefeitos, está vincu- nos e recursos com vistas à prevenção do
lada à diretriz constitucional em tela. “A dano à saúde.
política de saúde como diretriz emanada
do poder político, deve orientar e con-
duzir o sistema de serviços de saúde na
consecução de seus objetivos” (CAMPOS;
PRESOTO, 2003, p. 23).

Entendemos que a incumbência ao Estado


de criar políticas públicas destinadas à redu-
ção do risco de doença e de outros agravos
estabelece uma ideia de que o Poder Públi-
co deve apresentar à sociedade brasileira re-
sultados satisfatórios no trato com a saúde.
Nesse particular, convém ressaltar que “as
Com efeito,
diretrizes constitucionais, que estabelecem
a garantia mediante políticas sociais e obrigação de resultado, vinculam o aplicador
econômicas ressalva, justamente, a ne- ou intérprete, condicionando a legalidade da
cessidade de formulação de políticas que norma à submissão aos fins nelas declarados”
concretizem o direito à saúde por meio de (DALLARI, 1999, p. 29).
escolhas alocativas. É incontestável que,
além da necessidade de se distribuírem re- Essa ênfase ora em destaque estabelece a
cursos naturalmente escassos por meio de necessidade de o Estado atuar, sobretudo, na
critérios distributivos, a própria evolução da prevenção de males à saúde.
medicina impõe um viés programático ao
direito à saúde, pois sempre haverá uma e) Quinta ênfase: essa imposição constitu-
nova descoberta, um novo exame, um novo
cional fortalece a ideia de igualdade pre-
prognóstico ou procedimento cirúrgico, uma
sente no art. 5º da Constituição Federal,
nova doença ou a volta de uma doença su-
postamente erradicada (MENDES; BRANCO, uma conquista do Estado Democrático de
2013, p. 623). Direito. Desse modo, a consideração de
políticas públicas que garantam o acesso
d) Quarta ênfase: o art. 196 da Constituição universal e igualitário às ações e ser-
Federal, assim como no item anterior, im- viços de saúde mostra que o legislador
põe ao Estado a concepção de políticas pú- constituinte estava guiado pela orienta-
blicas que tenham por objetivo a redução ção de que o fim primeiro e último do
do risco de doença e de outros agra- sistema jurídico é a tutela da pessoa hu-
vos. Uma das principais dimensões desse mana, independentemente de variações
item constitucionalmente previsto é que o acidentais tais como grau de formação,

20
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

condição econômica, origem, posições incluídas aqui as normas de organização e


ideológicas etc. procedimento.

Como se observa nas seis ênfases cons-


titucionais acima comentadas, temos cons-
ciência de que as diretrizes constantes do
art. 196 da Constituição Federal são metas
traçadas pelo Legislador de 1988 que, con-
tudo, impõem atuações imediatas do Estado
e de toda a sociedade, haja vista a impossi-
bilidade de a saúde ficar em segundo plano,
pois não há de se falar em dignidade huma-
Por meio dessa quinta ênfase, a saúde é na sem ações efetivas para a disponibilidade
preconizada como um direito de toda pes- de serviços de saúde eficientes e contínuos,
soa humana em território nacional, seja ela dentro dos critérios de generalidade e uni-
brasileira ou estrangeira. Não há distinção,
versalidade dispostos na legislação constitu-
de tal sorte que as políticas de saúde são
cional em vigor.
direcionadas à pessoa humana, sem discri-
minação.

f) Por fim, a sexta ênfase é pautada na atu-


ação estatal destinada à promoção, pro-
teção e recuperação da saúde. Essa ên-
fase, por sua vez, está atrelada ao art. 3º
da Constituição Federal, que aponta como
um dos objetivos da República Federativa
do Brasil a construção de uma sociedade 2. Tipologia constitucional e infraconstitu-
justa e igualitária, com redução das desi- cional da saúde
gualdades sociais e regionais.
Como vimos em momento anterior, o Es-
Nas palavras de Gilmar Mendes e Paulo tado está obrigado ao dever de prestar ser-
Branco (2013, p. 624) em análise do disposi-
viços de saúde de qualidade a toda pessoa
tivo em tela, tem-se que,
humana em território nacional.
numa visão geral, o direito à saúde há de
se efetivar mediante ações específicas (di- Reza o art. 197 da Constituição Federal:
mensão individual) e mediante amplas polí-
São de relevância pública as ações e ser-
ticas públicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos (dimensão viços de saúde, cabendo ao Poder Público
coletiva). Nessas perspectivas, as preten- dispor, nos termos da lei, sobre sua regula-
sões formuladas e formuláveis tanto pode- mentação, fiscalização e controle, devendo
rão dizer respeito a atos concretos como a sua execução ser feita diretamente ou atra-
políticas e ações administrativas que contri- vés de terceiros e, também, por pessoa físi-
buam para a melhoria do sistema de saúde, ca ou jurídica de direito privado.

21
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Desse modo, mesmo diante da possibilida- portanto, àqueles prestados pela iniciativa pri-
de de exploração econômica dos serviços de vada.
saúde por meio do setor privado, é da essên-
cia da norma constitucional em tela a mani- Estabelece o art. 200 da Constituição Fe-
festação do poder-dever estatal (por meio de deral, em rol não exaustivo, que compete ao
União, estados-membros, Distrito Federal e Sistema Único de Saúde:
municípios) de promover a regulação, fiscali-
I. controlar e fiscalizar procedimentos, produ-
zação e controle de tais serviços à disposição
tos e substâncias de interesse para a saúde
em território nacional. e participar da produção de medicamentos,
equipamentos, imunobiológicos, hemoderi-
O art. 198 de nossa Carta Política de 1988 vados e outros insumos;
reitera a importância das ações e dos ser-
viços públicos de saúde ao determinar que II. executar as ações de vigilância sanitária e
fazem parte de uma rede regionalizada e epidemiológica, bem como as de saúde do
hierarquizada que, por sua vez, constitui um trabalhador;
sistema único, organizado a partir de sólida
III. ordenar a formação de recursos humanos
estrutura constitucional e infraconstitucional.
na área de saúde;

A estrutura do sistema de saúde brasileiro


IV. participar da formulação da política e da
é organizada em três vertentes, quais sejam: execução das ações de saneamento básico;
saúde pública, saúde complementar e saúde
suplementar. Verifiquemos cada uma dessas V. incrementar em sua área de atuação o de-
manifestações organizacionais. senvolvimento científico e tecnológico;

2.1. Saúde pública – SUS VI. fiscalizar e inspecionar alimentos, compre-


endido o controle de seu teor nutricional,
bem como bebidas e águas para consumo
humano;

VII. participar do controle e fiscalização da pro-


dução, transporte, guarda e utilização de
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos
e radioativos;

VIII. colaborar na proteção do meio ambiente,


nele compreendido o do trabalho.

http://www.ijui.com/upload/arquivos/artigo_editor/ A regulamentação das competências acima


grande-imagem-sus-fotonova-logomarca26122011.jpg registradas no plano infraconstitucional ficou
a cargo da lei nº 8.080, de 19 de setembro
Quando falamos de saúde pública, estamos de 1990 – Lei Orgânica da Saúde (LOS). Essa
nos referindo aos serviços de saúde presta- norma, com 55 artigos, dispõe sobre as con-
dos, sob o regime de Direito Público, na deno- dições para a promoção, proteção e recupe-
minada rede pública de saúde, em oposição, ração da saúde, a organização e o funciona-

22
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

mento dos serviços correspondentes, além de VIII. participação da comunidade;


dar outras providências.
IX. descentralização político-administrativa, com
Conforme o art. 4º da LOS, o denomina- direção única em cada esfera de governo:
do Sistema Único de Saúde é constituído pelo
“conjunto de ações e serviços de saúde, pres- a. ênfase na descentralização dos serviços para
tados por órgãos e instituições públicas fede- os municípios;
rais, estaduais e municipais, da Administração
direta e indireta e das fundações mantidas b. regionalização e hierarquização da rede de
pelo Poder Público”. serviços de saúde;

Naturalmente, a gigantesca proposta do X. => integração em nível executivo das ações de


Sistema Único de Saúde, centrada em ofere- saúde, meio ambiente e saneamento básico;
cer serviços de saúde em território nacional,
reclama a sua organização centrada em prin- XI. => conjugação dos recursos financeiros, tec-
cípios balizadores para que, por conseguinte, nológicos, materiais e humanos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
os objetivos e metas sejam atendidos. Esses
cípios na prestação de serviços de assistên-
princípios balizadores são apresentados no
cia à saúde da população;
art. 7º da LOS:
XII.=> capacidade de resolução dos serviços em
I. universalidade de acesso aos serviços de
todos os níveis de assistência; e
saúde em todos os níveis de assistência;

II. integralidade de assistência, entendida como XIII.=> organização dos serviços públicos de
conjunto articulado e contínuo das ações e modo a evitar duplicidade de meios para fins
serviços preventivos e curativos, individuais idênticos.
e coletivos, exigidos para cada caso em to-
dos os níveis de complexidade do sistema; Os princípios acima não devem ser com-
preendidos apenas como norma ideológica,
III. preservação da autonomia das pessoas na destituída de qualquer opção pragmática. Ao
defesa de sua integridade física e moral; contrário, eles estão estampados na legisla-
ção de regência do SUS com vistas a orientar
IV. igualdade da assistência à saúde, sem pre- todas as manifestações no campo da saúde
conceitos ou privilégios de qualquer espé- pública.
cie;
A propósito, vale registrar que o Conselho
V. direito à informação, às pessoas assistidas, Nacional de Saúde, por meio de documen-
sobre sua saúde; to intitulado Carta dos direitos dos usuários
da saúde,2 bem estampa a necessidade de
VI. divulgação de informações quanto ao poten-
as estratégias estatais nos serviços de saúde
cial dos serviços de saúde e a sua utilização
se orientarem pelos princípios presentes na
pelo usuário;
LOS.
VII. utilização da epidemiologia para o estabele- 2 
Sugerimos visualização do texto na íntegra: http://www.con-
cimento de prioridades, a alocação de recur- selho.saude.gov.br/biblioteca/livros/AF_Carta_Usuarios_Sau-
sos e a orientação programática; de_site.pdf, acesso em 9.set.2013.

23
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Observemos, nesse sentido, os seis prin-


cípios constantes no citado documento dos
Usuários da Saúde, que reproduzem a ideia
constante nos princípios da LOS.

1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordena-


do e organizado aos sistemas de saúde.

2. Todo cidadão tem direito a tratamento ade-


quado e efetivo para seu problema.

3. Todo cidadão tem direito ao atendimento


humanizado, acolhedor e livre de qualquer
discriminação.

4. Todo cidadão tem direitos a atendimento Para que o termo princípio não se perca
que respeite a sua pessoa, seus valores e em uma percepção meramente teórica, vale
seus direitos. considerar que

5. Todo cidadão também tem responsabilidade princípio é, por definição, mandamento


para que seu tratamento aconteça de forma nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce
adequada. dele, disposição fundamental que se irradia
sobre diferentes normas compondo-lhes o
6. Todo cidadão tem direito ao comprometi- espírito e servindo de critério para sua exata
mento dos gestores da saúde para que os compreensão e inteligência, exatamente por
princípios anteriores sejam cumpridos.3 definir a lógica e a racionalidade do siste-
ma normativo, no que lhe confere a tônica e
Entendemos que, por força da diretriz lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento
constitucional de universalidade e igualdade dos princípios que preside a intelecção das
dos serviços de saúde, reforçada pela LOS, ao diferentes partes componentes do todo uni-
invés da expressão cidadão, melhor seria que tário que há por nome de sistema jurídico
o Conselho Nacional de Justiça, por meio do positivo (MELLO, 1996, p. 545).
correspondente do Ministério da Saúde, utili-
zasse a expressão pessoa humana. Convém anotar ainda:

Assim, ao invés da expressão “todo cida- Princípio é um enunciado lógico, implícito


dão” que inaugura cada um dos princípios ou explícito, que, por sua grande generalida-
acima, o mais adequado seria a opção pela de, ocupa posição preeminência nos vastos
expressão “toda pessoa humana”, esta última quadrantes do Direito, e por isso mesmo,
mais abrangente, incluindo brasileiros, estran- vincula, de modo inexorável, o entendimen-
geiros e turistas em território nacional. to e a aplicação das normas jurídicas que
com ele se conectam (CARRAZZA, 1999, p.
31-2).
3 
Tais princípios orientam a Portaria 1.820/09 do Conselho Na-
cional de Saúde, disponível em http://www.conselho.saude.gov.
br/biblioteca/livros/AF_Carta_Usuarios_Saude_site.pdf, acesso
Com apoio em De Plácido e Silva (1993, p.
em 9.set.2013. 447), há de se considerar o seguinte:

24
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

No sentido jurídico, notadamente no plu- Art. 199 [...]


ral, quer significar as normas elementares
ou os requisitos primordiais instituídos como § 1º As instituições privadas poderão
base, como alicerce de alguma coisa. E, participar de forma complementar do
assim, princípios revelam o conjunto de re- sistema único de saúde, segundo diretrizes
gras ou preceitos, que se fixaram para servir deste, mediante contrato de direito público
de norma a toda espécie de ação jurídica, ou convênio, tendo preferência as entidades
traçando, assim, a conduta a ser tida em filantrópicas e as sem fins lucrativos.
qualquer operação jurídica. [...] Princípios
jurídicos, sem dúvida, significam os pontos Na legislação ordinária, o sistema de saúde
básicos, que servem de ponto de partida ou complementar é estabelecido no art. 24 da
de elementos vitais do próprio direito. LOS, conforme segue:

Ressaltamos, por fim, que, não obstante os Art. 24. Quando as suas disponibilidades
princípios acima elencados, ainda há muito a forem insuficientes para garantir a cobertura
se fazer no sistema de saúde pública brasilei- assistencial à população de uma determina-
ro. As notícias na imprensa nacional denun- da área, o Sistema Único de Saúde (SUS)
ciam fatos grotescos que bem demonstram poderá recorrer aos serviços ofertados pela
iniciativa privada.
o descaso estatal com uma série de direitos
básicos da pessoa humana.4
Parágrafo único. A participação comple-
mentar dos serviços privados será formaliza-
2.2. Saúde complementar
da mediante contrato ou convênio, observa-
das, a respeito, as normas de direito público
Por meio da denominada saúde comple-
(grifo nosso).
mentar, a iniciativa privada, em regime de
Direito Público, prestará serviços de saúde Há diferenças entre os contratos e os con-
inseridos no modelo e nos princípios do SUS. vênios administrativos. Na lição de Hely Lo-
Ou seja, o setor privado, em cooperação com pes Meirelles (2008, p. 214), o contrato ad-
o Estado, promoverá serviços de saúde inte- ministrativo “é o ajuste que a Administração
gral gratuitos, sendo remunerado pelo Poder Pública, agindo nessa qualidade, firma com
Público. particular ou outra entidade administrativa
para consecução de objetivos de interesse
Em um país de dimensões continentais
público, nas condições estabelecidas pela
como o nosso, o Legislador Constitucional
própria Administração”. Por outro lado, os
presumiu que o Estado não daria conta de
convênios administrativos “são acordos fir-
atender a todas as demandas relativas aos
mados por entidades públicas de qualquer
serviços de saúde e, assim, permitiu que a
espécie, ou entre estas e organizações parti-
iniciativa privada, mediante contrato ou con-
culares, para realização de objetivos de inte-
vênio, atue em cooperação com o SUS. É o
resse comum dos partícipes” (ibidem).
que encontramos estampado no art. 199, §
1º, da Constituição Federal: Há de se considerar, ainda, que,
4
  A título de exemplo de nosso apontamento, sugerimos a leitu-
ra crítica da seguinte reportagem: TELLES, Giovana et al. Falta
de médicos em hospital público prejudica atendimento. O dada a peculiaridade de organização do
Globo, 10.jan.2013. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal- SUS, em que as entidades privadas partici-
-hoje/noticia/2013/01/falta-de-medicos-em-hospitais-publicos-
pantes, complementarmente, do sistema,
-prejudica-atendimento.html, acesso em 9.set.2013.

25
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

são o próprio sistema prestando assistên- da CF), poucos monopólios ficaram reserva-
cia pública à saúde da população, o Estado, dos ao Estado. Nesse sentido, embora a saú-
como o Poder Público, responderá também de seja um direito de todos e um dever do
pelo dano ou lesão causada ao paciente por Estado, este não detém o monopólio desses
ato da equipe de saúde do estabelecimento serviços, permitindo-se, portanto, a sua ex-
privado contratado pelo SUS (União, Esta-
ploração pela iniciativa privada. Contudo, a
dos-membros, Distrito Federal e Municípios)
atuação desta estará sujeita a rigorosa fiscali-
(CARVALHO; SANTOS, 1992, p. 168).
zação, regulação e controle do Estado.
2.3. Saúde suplementar
A saúde suplementar terá seus custos ar-
cados pelos seus usuários. Essa variante dos
Ao lado dos sistemas de saúde pública e
serviços de saúde está sujeita, portanto, à
complementar, a Constituição Federal, por
precificação conforme políticas mercadológi-
meio do art. 199, disciplinou o sistema de
cas de oferta e procura, próprias da livre ini-
saúde suplementar, conforme segue:
ciativa. Não obstante, o Estado intervém de
Art. 199. A assistência à saúde é livre à maneira intensa em tais serviços, impondo
iniciativa privada. até mesmo os percentuais de aumento dos
planos privados de assistência à saúde.
§ 1º - As instituições privadas poderão
participar de forma complementar do siste- Por saúde suplementar, destarte, entende-
ma único de saúde, segundo diretrizes des- -se o regime participativo do particular n os
te, mediante contrato de direito público ou serviços de saúde, concomitantemente com
convênio, tendo preferência as entidades os serviços públicos prestados pelo Estado,
filantrópicas e as sem fins lucrativos. sob forma opcional e facultativa ao respec-
tivo beneficiário, como fim de ampliar o le-
§ 2º - É vedada a destinação de recursos que de serviços à disposição do cidadão, seja
públicos para auxílios ou subvenções às ins- para servir de aditamento ou para suprir as
tituições privadas com fins lucrativos. deficiências do sistema público.

§ 3º - É vedada a participação direta ou A prestação suplementar de serviços de


indireta de empresas ou capitais estrangei- saúde é atividade econômica stricto sensu,
ros na assistência à saúde no País, salvo nos regendo-se, exclusivamente, por normas e
casos previstos em lei. regras de direito privado, não havendo como
considerá-los modalidade de serviço público,
§ 4º - A lei disporá sobre as condições em que pese a essencialidade da atividade
e os requisitos que facilitem a remoção de para a coletividade (FIGUEIREDO, 2006, p.
órgãos, tecidos e substâncias humanas para 120).
fins de transplante, pesquisa e tratamento,
bem como a coleta, processamento e trans- O sistema de saúde suplementar é apre-
fusão de sangue e seus derivados, sendo sentado população sob a expressão planos
vedado todo tipo de comercialização. privados de assistência à saúde, vulgarmen-
te denominados planos de saúde.
Em função da opção constitucional em es-
tabelecer como fundamento da República Fe- A Lei de Regência dos Planos Privados de As-
derativa do Brasil a livre iniciativa (art. 1º, IV, sistência à Saúde é a de nº 9.656/98, que, em

26
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

seu art. 1º, I, apresenta a seguinte definição 1. Visita domiciliar: conceito e abrangência
dessa modalidade de serviços de saúde:
As diretrizes constitucionais no trato do
Art. 1º [...] direito fundamental à saúde impõem ao
Estado a criação de estratégias para atender
I - Plano Privado de Assistência à Saúde:
às necessidades dos seres humanos em seu
prestação continuada de serviços ou cober-
território. À vista disso, destacaremos neste
tura de custos assistenciais a preço pré ou
capítulo as visitas domiciliares como política
pós estabelecido, por prazo indeterminado,
com a finalidade de garantir, sem limite fi- pública de saúde de grande relevo para a
nanceiro, a assistência à saúde, pela faculda- instrumentalização dos direitos humanos
de de acesso e atendimento por profissionais atrelados à saúde.
ou serviços de saúde, livremente escolhidos,
integrantes ou não de rede credenciada, con- De longa data, encontramos a possibilidade
tratada ou referenciada, visando a assistên- de profissionais da área da saúde atenderem
cia médica, hospitalar e odontológica, a ser os clientes em seus domicílios, seja por opção
paga integral ou parcialmente às expensas da profissional ou em decorrência da debilidade
operadora contratada, mediante reembolso do paciente para dirigir-se até o local em que
ou pagamento direto ao prestador, por conta os serviços de saúde são oferecidos.
e ordem do consumidor.
É curioso observar que, para grande
A atuação das operadoras de planos pri- parte das pessoas, até pouco tempo atrás,
vados de assistência à saúde está sujeita àa possibilidade de o profissional de saúde
Agência Nacional de Saúde, concebida pela fornecer atendimento domiciliar mostrava-
Lei nº 9.961/00. se como uma hipótese bastante remota.
Entretanto, em função de políticas públicas
A ANS atua desde a autorização de fun-
destinadas à inclusão social, a população de
cionamento, passando pela fiscalização das
baixa renda pode contar com essa modalidade
operações econômicas e serviços de saúde,
de benefício.
até a aplicação de sanções administrativas
em desfavor das operadoras faltosas com a
Desde logo, é pertinente registrar que um
legislação em vigor.
dos projetos públicos de âmbito nacional que
muito modificou a rotina da prestação de
Capítulo IV – Saúde pública – visita serviços de saúde denomina-se Programa de
domiciliar dos profissionais da saúde Saúde da Família – PSF. “A visita domiciliar do
como política pública profissional da saúde faz uma busca ativa das
doenças, e também por informações sobre
as condições de vida e saúde” (FERRIOLI;
MARTURANO; PUNTEL, 2007, p. 30).

Além do mais, há de se levar em conta que


“para o sucesso de uma visita domiciliar é
necessário planejamento, execução, registro
de dados e avaliação” (MARASQUIN et al.,
2004, p. 13).

27
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

O programa de políticas públicas destina- com o cliente, são importantes as colocações


das a implantar esse sistema permitiu a uma a seguir:
grande parcela de pessoas beneficiarem-se
da visita domiciliar de uma equipe multidisci- A Visita Domiciliar é um dos instrumentos
plinar de profissionais da saúde. Nesse sen- mais indicados à prestação de assistência à
tido, pretendemos abordar a sistemática e saúde, do indivíduo, da família e comunida-
os efeitos da visita domiciliar, bem como a de e deve ser realizada mediante processo
impressão que os clientes têm dessa moda- racional, com objetivos definidos e pautados
lidade de prestação de serviços públicos de nos princípios de eficiência. Apesar de an-
saúde. tiga, a Visita Domiciliar traz resultados ino-
vadores, uma vez que possibilita conhecer
Não há como desvincular a visita domici- a realidade do cliente e sua família in locu,
liar da educação à saúde, de modo que ela contribuir para a redução de gastos hospita-
lares, além de fortalecer os vínculos cliente
deve ser considerada no contexto de – terapêutica – profissional (SOUZA; LOPES;
educação em saúde por contribuir para a BARBOSA, 2004).
mudança de padrões de comportamento e,
consequentemente, promover a qualidade Em acréscimo à probabilidade de forta-
de vida através da prevenção de doenças lecimento dos vínculos entre o profissional
e promoção da saúde. Garante atendimento da saúde e o cliente, há de se destacar, por
holístico por parte dos profissionais, sendo outro lado, que a visita domiciliar é um dos
portanto, importante à compreensão dos as- métodos utilizados mais eficientes para pro-
pectos psico-afetivo-sociais e biológicos da piciar uma ação prevencionista à família (VI-
clientela assistida (SOUZA; LOPES; BARBO- LAÇA et al., 2005, p. 225).
SA, 2004).

A título de conceito, é importante destacar:

A visita domiciliar é um conjunto de ações


de saúde voltadas para o atendimento, tanto
educativo como assistencial. A visita, como
é realizada no âmbito domiciliar, proporcio-
na uma dinâmica aos programas de atenção
à saúde. A visita domiciliar constitui uma ati-
vidade utilizada com o intuito de subsidiar
a intervenção no processo de saúde-doença
Além do mais, é notório o fato de que a
de indivíduos ou no planejamento de ações
visando a promoção da saúde da coletivida-
visita domiciliar apresenta uma forte marca
de (MARASQUIN et al., 2004, p. 9). de prevenção a uma série de doenças, no-
tadamente àquelas que são decorrentes de
Não é incomum encontrarmos na literatura desinformação da população carente. Assim,
defesas da visita domiciliar, sob o fundamen- “não há de ignorar que a visita domiciliar
to de que ela é capaz de trazer benefícios ao promove uma busca ativa de casos com in-
indivíduo, à família e, ainda, à comunidade. tervenção oportuna e precoce e, ainda, per-
Nesse sentido, com destaque para os resul- mite a ênfase à prevenção e à educação em
tados de interação do profissional da saúde saúde” (GOLDBAUM et al., 2005, p. 90).

28
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

2. O Programa Saúde da Família e a visita sobre esse programa público destinado à


domiciliar inclusão social e à promoção de educação
preventiva direcionada à melhoria da saúde
dos destinatários da referida política pública.

Dentro de uma dimensão com fundamento


na Constituição Federal de 1988,

o Programa Saúde da Família (PSF) surgiu


em 1994. Ele vem se caracterizando como
uma das estratégias adotadas na maioria
dos Estados como modelo para a garantia
de oferta das ações e serviços na atenção
básica em saúde, hoje sob responsabilidade
dos municípios (NEVES et al., 2004, p. 41).

Visando à garantia de promoção da digni-


Como registramos acima, o Programa de
dade da pessoa humana, o Programa Saúde
Saúde da Família mudou, pelo menos nos lo-
da Família tem como proposta propiciar as-
cais em que ocorreu a sua implantação, o
sistência integral, universal e contínua à po-
contato dos serviços públicos de saúde com
pulação brasileira. Com efeito,
o profissional da área médica. É claro que
o PSF não solucionou todas as mazelas re- o PSF foi idealizado para aproximar os
lativas à falta de inclusão social, bastante serviços de saúde da população, cumprir o
presente em nosso país. Contudo, esse pro- princípio constitucional do Estado de garan-
grama público de serviços de saúde trouxe tir ao cidadão seu direito de receber aten-
algumas novidades ao cotidiano de parcela ção integral à saúde, com prioridade para
da população brasileira. as atividades preventivas, mas sem prejuízo
para os serviços assistenciais e permitir que
É de rigor ressaltar que foi por conta do os responsáveis pela oferta de serviços de
Programa Saúde da Família que a visita domi- saúde, os gestores do SUS, aprofundem o
ciliar se tornou mais intensa na realidade na- conhecimento sobre aqueles a quem devem
cional, sendo certo que o papel do programa servir (NEVES et al., 2004, p. 41-2).
público em destaque acabou por universali-
zar o atendimento, transmudando a atuação É certo que o PSF, com grande incidência
passiva do Estado em uma proposta de ação. nos municípios brasileiros, é uma proposta
Com o PSF, o Estado, ao invés de aguardar política que muito tem contribuído para o
o cidadão nas unidades de atendimento, vai atendimento domiciliar de pessoas que, por
ao encontro dele por meio da visita domiciliar não contarem com recursos financeiros para
realizada por profissionais da saúde. usufruírem da rede particular de saúde, de-
positam todas as suas esperanças na equipe
Logo, considerando que o PSF contém em multidisciplinar que até, em alguns casos,
suas diretrizes a visita domiciliar formada por consegue estabelecer com os pacientes uma
uma equipe da área da saúde, reservaremos interação bastante benéfica para a promoção
este tópico para tecermos alguns comentários da saúde coletiva.

29
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

2.1. Profissionais da saúde que realizam de de reuniões periódicas a fim de discutir as


visitas domiciliares no Programa de Saúde necessidades da comunidade e os procedi-
da Família mentos realizados.

Os profissionais da saúde que atuam em vi-


sitas domiciliares pelo Programa de Saúde da
Família são: médico, enfermeiro, auxiliar de
enfermagem e agente comunitário de saúde.

Para melhor disposição e perseguição de


sua finalidade, o PSF organiza-se em equipes,
cada uma composta por um médico, um enfer-
meiro, dois auxiliares de enfermagem e cinco
agentes comunitários de saúde, que atendem
uma área específica chamada de microárea.

Os profissionais formadores da equipe fi- Com efeito, cada profissional faz parte da
cam radicados na Unidade Básica de Saúde equipe de visitas domiciliares do PSF. O agente
– UBS, de modo que os clientes da microárea, comunitário de saúde – ACS é de fundamen-
caso necessário, possam encontrá-los nesse tal importância até mesmo para apresentar
local, embora as consultas médicas sejam informações a toda a equipe multidisciplinar.
agendadas previamente. “As equipes do PSF, por sua vez, direcionam
suas ações a partir das informações geradas
Cada equipe tem autonomia para estabele- pelo ACS, analisadas e discutidas com os for-
cer os dias de visita domiciliar do médico, do necedores destes dados, visando uma práti-
enfermeiro e do auxiliar de enfermagem, haja ca social construtiva e catalisadora de novas
vista que esses profissionais optam pela visita vivências” (CIANCIARULLO, 2002, p. 22).
aos clientes mais necessitados de atendimen-
to de saúde. O agente comunitário de saúde (ACS) atua
como visitador mensal das famílias. Nessa vi-
A microárea é organizada por um conjun- sita, ele acompanha a saúde de cada pessoa
to de ruas interligadas que atingem cerca de dentro da família, levando assim as informa-
200 famílias para cada equipe. Dessa forma, ções para a equipe. Ele também orienta e
as nove pessoas da equipe formada mantêm educa a população.
contato periódico com as famílias formadoras
da região delimitada. Ainda quanto à função do ACS, é pertinen-
te anotar que
2.2. Atribuições profissionais
é preconizado que o agente comunitário
Em atividade, o profissional tem suas atri- de saúde (ACS) realize, no mínimo, uma vi-
buições dentro da equipe formada, ao passo sita por família da área de abrangência ao
que são realizadas diariamente visitas domi- mês, sendo que, quando necessário, estas
ciliares. Cada equipe programa sua rotina da podem ser repetidas de acordo com as situ-
melhor forma, sendo que existe a necessida- ações determinantes de cada realidade (MA-
RASQUIN et al., 2004, p. 15).

30
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

O auxiliar de enfermagem desenvolve de Saúde, onde realiza consultas mediante


suas visitas na medida em que a família ne- agendamento. Aqui, ressalte-se que os clien-
cessita, geralmente os acamados e idosos. tes atendidos em seu ponto fixo são do posto
Quando necessário, colhe exames laborato- de saúde.
riais na residência, leva vacinas (em épocas
de campanhas, por exemplo, vacina da gri- Nada impede, porém, que o médico, até
pe), faz curativos etc. Também realiza ações mesmo para conhecer o perfil das famílias da
educativas. comunidade, estabeleça uma agenda mais
ampla para atender pessoas com necessida-
A atuação do auxiliar de enfermagem nos des diferenciadas.
domicílios em nada difere de suas atividades
realizadas no posto de saúde ou em outro 3. Núcleo de Assistência Domiciliar Inter-
local de atendimento em que há a presença disciplinar – NADI – uma iniciativa do Hos-
de tais profissionais. pital das Clínicas de São Paulo

Temos ainda as visitas do enfermeiro, que


as realiza conforme as necessidades da famí-
lia, sendo certo que a preferência é dada a
acamados, idosos e puérperas. “A visita de
puerpério deve ser realizada no primeiro mo-
mento da assistência à criança, constituin-
do o trinômio ‘mãe-filho-família’, quando são
observados e abordados fatores relacionados
à puérpera, ao bebê e à família” (MELLO;
ANDRADE, 2006, p. 90).
Encontramos também em nossa pesquisa
O enfermeiro realiza consulta de enferma- o NADI – Núcleo de Assistência Domiciliar
gem, leva informações educativas, acompa- Interdisciplinar do Hospital das Clínicas de
nha a evolução dos diabéticos e hipertensos São Paulo, que também realiza visitas domi-
para o controle desses enfermidades. Para ciliares. Esse núcleo visita mensalmente, em
Carvalho e Campos (2000, p. 136), “o corpo média, cerca de 150 pacientes com atendi-
de enfermagem tem sido fundamental para mento diferenciado, visando melhorar a qua-
o bom funcionamento das equipes, tendo lidade de vida deles.
sido observado que esse setor vem desem-
penhando diferentes atividades”. Quando se fala em visita domiciliar, ou es-
truturas públicas e privadas para a promoção
O profissional médico, para atender me- desse serviço de saúde, muito se fala a res-
lhor às necessidades da comunidade, deve peito da formação de equipes multidisciplina-
ser generalista e ter uma aptidão específica res. Vale, nesse sentido, destacar que
para se lançar a campo na realização de vi-
sitas domiciliares em localidades, às vezes, discussões a respeito da equipe multipro-
de difícil acesso. O médico tem uma atua- fissional para atenção básica à saúde conside-
ção estática e também dinâmica. Assim, ele ram divisão de trabalho, status da profissão,
tem um ponto fixo, que é a Unidade Básica posição no processo de trabalho, aspectos

31
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

organizacionais, relações informais, redes Como se observa, a proposta do NADI é


de poder, valores e normas como fatores re- propiciar um atendimento diferenciado aos
lacionados ao desempenho do trabalho (PE- clientes portadores de doenças graves ou
DROSA; TELES, 2001, p. 45). sequelas de doenças que os impossibilitam
de comparecerem ao Hospital das Clínicas.
O NADI é composto por uma equipe mul- Entretanto, para que os serviços sejam pres-
tidisciplinar composta por médicos, assis- tados, será imprescindível que o paciente te-
tentes sociais, enfermeiros, fisioterapeutas, nha alguém para acompanhá-lo em seu do-
fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, micílio, geralmente membro da família.
nutricionistas, odontologistas, farmacêuticos
e psicólogos. Conforme a necessidade, dis- 4. Projeção social da visita domiciliar
ponibiliza um ou alguns dos integrantes da
equipe para procederem à visita domiciliar. Não há como negar que a visita domiciliar
provoca um impacto social de relevante re-
Ao contrário do PSF, o NADI não cuida da percussão. “Trazer os cuidados necessários
família, mas dedica a sua atenção ao pacien- às famílias a fim de que as famílias falem
te que é portador de “doenças graves ou com claramente dos problemas que as afligem
sequelas de doenças que os impossibilitam no seu viver diário, procurando resolvê-los
de comparecerem ao hospital para darem da melhor forma possível” (SOUZA; LOPES;
continuidade aos seus tratamentos. BARBOSA, 2004).

Desses, 40% se encontram fora das possi- A visita do profissional da saúde aos do-
bilidades terapêuticas de cura”.5 micílios tem uma amplitude relevante para
o desenvolvimento social e da qualidade de
Por outro lado, para os clientes serem be- vida dos cidadãos destinatários de tais servi-
neficiados dessa modalidade de atendimento ços, além de promover a redução de gastos
domiciliar, é necessário o preenchimento de com a saúde pública, na medida em que atua
alguns requisitos específicos. Vejamos as in- na prevenção. Assim sendo, os hospitais per-
formações disponibilizadas pelo Hospital das manecem apenas para receber pacientes
Clínicas de São Paulo: com casos mais graves.
Os pacientes admitidos pelo NADI devem
A visita domiciliar tem suas fases, de modo
seguir os seguintes critérios: 1) ser paciente
que “podemos observar que muitas famílias
do complexo HC/FMUSP; 2) dispor de
recebem muito bem o profissional da saúde
cuidado no domicílio; 3) ter uma moradia
com condições mínimas para a assistência
passando por fase inicial da desconfiança que
domiciliar, dentro do perímetro de 150 Km evolui para participação efetiva” (PEDROSA;
de distância (fonte: www.incor.usp.br/ TELES, 2001, p. 46).
conteudo-medico/geral/home%20care-
html, acesso em: 10.nov.2012). Concordamos plenamente com as ponde-
rações de Rosa e Labate (2005, p. 1027), no
5
  Informações obtidas na Assessoria de Imprensa do Hospital
sentido de que
das Clínicas de São Paulo, por meio do endereço eletrônico
http://www.hcnet.usp.br/assessoria_imprensa/releaseshc/2006/ a saúde da família e da coletividade po-
nadi.htm, acesso em 10.nov.2012. O site do hospital disponibi-
derá desenvolver-se de forma mais plena
liza telefone para que os clientes obtenham mais informações
acerca do atendimento domiliciar do NADI. caso seja compreendida não como um pro-

32
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

grama para a saúde restrito a procedimen- ser utilizada para o controle de doenças que
tos organizacionais e financeiros, mas como atingem altos índices em decorrência de fa-
projeto concreto, provido de interesses, di- tores pontuais, tais como surtos de dengue,
versidade, desejos e intencionalidades com tuberculose, catapora, entre outros.
o objetivo de formular políticas que promo-
vam os movimentos de rever-se e dispor-seDesse modo, após a identificação de que
a mudar. determinada doença apresenta um cresci-
mento acentuado, é possível direcionar o
É possível, pois, demonstrar o reflexo am-
profissional da saúde a ações localizadas du-
plo das visitas domiciliares, na medida em
rante as visitas domiciliares.
que tais procedimentos permitem
Pelo que se observou neste capítulo, a vi-
avaliar, desde as condições ambientais e
sita domiciliar, em suas várias maneiras de
físicas em que vivem o indivíduo e sua fa-
mília, até assistir os membros do grupo fa-
se realizar, que pode se dar por uma equipe
miliar, acompanhar o seu trabalho, levantar multiprofissional ou por apenas um profissio-
dados sobre condições de habilitação e sa- nal da saúde, tem trazido à sociedade gran-
neamento, além de aplicar medidas de con- des melhorias e benefícios.
trole nas doenças transmissíveis ou parasi-
tárias (SOUZA; LOPES; BARBOSA, 2004). De nossa parte, entendemos que esse
modelo de assistência tem boa aceitação por
No mesmo foco, há de se registrar que a parte da população, pois se trata de uma as-
visitação domiciliar, na medida em que tem sistência que identifica o problema de saúde
a família como unidade central de atuação, antes de se tornar uma emergência ou ur-
ainda mostra-se hábil para “fazer a busca gência. Com essa modalidade de prestação
ativa de casos com intervenção oportuna e de serviços de saúde, os hospitais ficam li-
precoce, e dar ênfase à prevenção e à edu- vres de filas e casos que poderiam ser resol-
cação em saúde” (FERRIOLLI; MARTURANO; vidos nos postos de saúde – unidades.
PUNTEL, 2007, p. 2).
A iniciativa da visita domiciliar, além de
Ademais, proporcionar uma favorável relação entre
o cliente e o profissional da saúde, é eficaz
a visita domiciliar pode promover também para obter dados para compreender o co-
uma interface de vigilância de saúde e garantir
tidiano de seus beneficiários, utilizando-os
ações programáticas destinadas a dar maior
para melhorar até a atuação das equipes que
amparo à população de baixa renda que,
se lançam a essa atividade.
não fosse a visita domiciliar prestada pelo
serviço público, dificilmente teria acesso aos
Outra evidência da visita domiciliar centra-
serviços de saúde em suas residências, haja
-se no fato de que a sua atuação pode se
vista a impossibilidade financeira em custear
dar tanto na esfera preventiva quanto no tra-
a visita de saúde patrocinada por entidades
particulares (NASCIMENTO; NASCIMENTO, tamento de doenças já manifestas, com es-
2005, p. 133). pecial atenção para os clientes que não têm
condições de se locomover aos pontos de
Outra questão de relevo é que a visita do- atendimento fixos, por exemplo, acamados,
miciliar pode, em benefício da comunidade, puérpuras, pós-cirúrgicos e recém-nascidos.

33
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Por fim, a visita domiciliar do profissional (2008, p. 29), “sintetiza-se no conjunto har-
da saúde vem efetivamente colaborar no mônico de princípios que regem os órgãos, os
processo de prevenção e de recuperação agentes e as atividades públicas tendentes a
da saúde de nossa sociedade, trazendo realizar concreta, direta e imediatamente os
mudanças nos atendimentos hospitalares, fins desejados pelo Estado”.
retirando o excesso de pacientes que não são
de urgência e emergência, trazendo novas
perspectivas de melhorias e contribuindo
para um futuro melhor. na lição de Marcelo Caetano (1951, p. 23),
o Direito Administrativo é “o sistema das nor-
Capítulo V - Sanções administrativas mas jurídicas que disciplinam as relações pe-
aplicáveis aos agentes que atuam no las quais o Estado, ou pessoa que com ele
coopere, exerça a iniciativa de prosseguir in-
sistema de saúde suplementar
teresses colectivos utilizando o privilégio da
execução prévia”.

Para Brandão Cavalcanti (1949, p. 5), o Di-


reito Administrativo deve ser compreendido
como

[...] uma parte do Direito Público que


compreende as relações jurídicas decorren-
tes das organizações administrativas, do seu
funcionamento, das relações que nascem
das atividades estatais, não compreendidas
na esfera legislativa ou jurisdicional.

Fonte: http://www.globalframe.com.
Por fim, não é demais fazer constar a de-
br/gf_base/empresas/miga/imagens/ finição de Gaston y Marín (apud CRETELLA,
f4b65721d16ccc70cd122d84c4b8ec4135b2_200160362-001.jpg
2000, p. 28):
1. Direito Administrativo – notas prelimi- O direito administrativo estuda a orga-
nares nização jurídica dos serviços públicos, as
relações da administração com os adminis-
Tendo em vista que as sanções adminis- trados, os meios jurídicos utilizados pelas di-
trativas constituídas pelo CNSP estão sujeitas ferentes pessoas morais de direito adminis-
ao Direito Administrativo, reservaremos o es- trativo para a satisfação das necessidades
paço deste item para tecermos comentários públicas, as garantias outorgadas aos cida-
acerca desse ramo do Direito. Essa opção dãos para a defesa de seus direitos peran-
deve-se ao fato de que a atividade securitá- te a administração, o sistema dos recursos
ria nacional guarda, em muitos momentos, jurídicos outorgados aos administrados para
íntima conexão com a atuação estatal. tal fim.

De início, convém anotar que o Direito Ad- Na lição de Edimur Ferreira de Faria (2007,
ministrativo, na lição de Hely Lopes Meirelles p. 24),

34
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

o Direito Administrativo, ainda novo, pois Neste sistema, todos os litígios podem
existe há pouco mais de um século e meio, ser apreciados pelo Poder Judiciário, que é
é modernamente o rado do Direito Público o único com competência para dizer o direi-
que maior atenção vem merecendo dos es- to de forma definitiva, com força de coisa
tudiosos da Ciência Jurídica. Principalmente julgada.
por ser ele o ordenamento jurídico que im-
prime dinâmica ao Estado. É o instrumento Este sistema não veda a existência da so-
responsável pela vida da Administração Pú- lução dos litígios em âmbito administrativo
blica, movimentando o Estado, criado pelo (que existe no Brasil, influenciado pelo sis-
Direito Constitucional enquanto responsável tema francês), mas permite que tais litígios
pela organização Administrativa. É também, possam ser levados à apreciação do Poder
ao mesmo tempo, meio de proteção dos ad- Judiciário.
ministrados.
B) SISTEMA FRANCÊS (ou DO CONTENCIO-
O intervencionismo não é característica SO ADMINISTRATIVO)
de Estado autoritário. É, ao contrário, de-
corrência de Estado Democrático de Direito. Este sistema veda o conhecimento dos
Depois do liberalismo inspirado na Revolu- atos da administração pública pelo Poder
ção Francesa, verificou-se que o Estado não Judiciário, ficando estes sujeitos à jurisdi-
poderia ser mero assistente do comporta-
ção especial do contencioso adminis-
mento da sociedade. Seria necessária a sua
trativo, formada por tribunais de natureza
intervenção sempre que se verificassem
administrativa.
abusos contra o interesse coletivo. O indi-
víduo quer o que é melhor para si e, com
Nota-se que neste sistema há uma duali-
esse objetivo, disputa com os outros. Para
dade de jurisdição:
vencer, normalmente, não importa o que
acontecerá com o próximo.
• Uma jurisdição administrativa, forma-
da pelos tribunais de natureza admi-
Ao que interessa a esta disciplina, ainda
nistrativa (com competência para ma-
a título de introdução ao Direito Administra-
tivo, vale considerar que o referido ramo do térias administrativas)
Direito pode ser compreendido a partir de
uma discussão sistêmica. Assim, temos os • Uma jurisdição comum, formada pelos
sistemas administrativos, conforme segue: órgãos do Poder Judiciário, com com-
petência para as demais matérias.
Sistema administrativo (ou sistema juris-
dicional da Administração) é o regime ado-
tado pelo Estado para o controle dos atos O Brasil adotou, desde a primeira Repú-
administrativos ilegais ou ilegítimos pratica- blica, o SISTEMA DA JURISDIÇÃO ÚNICA
dos pelo Poder Público. (o controle administrativo pela Justiça Co-
mum).
Existem dois sistemas administrativos: o
sistema inglês e o sistema francês: O sistema inglês obedece ao Princípio
da Inafastabilidade de Jurisdição, ou
A) SISTEMA INGLÊS (ou JUDICIÁRIO, ou Princípio da Unicidade de Jurisdição, que é
DE JURISDIÇÃO ÚNICA, ou DE CONTRO- garantia individual e encontra-se expresso
LE JUDICIAL) no inciso XXXV do art. 5º da CRFB/1988:

35
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, Quando nos deparamos com o poder dis-
sem distinção de qualquer natureza, garan- ciplinar exercido pelo Estado, este, em nome
tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros re-do bem comum, deverá exercê-lo com vistas
sidentes no País a inviolabilidade do direito àa promover a efetividade dos princípios do
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
Estado Democrático de Direito e a valoriza-
à propriedade, nos termos seguintes:
ção da dignidade humana, que, aliás, é o fim
[...] XXXV - a lei não excluirá da aprecia- último do Direito (art. 3º, Constituição Fede-
ção do Poder Judiciário lesão ou ameaça a ral).
direito.
Aponta Irene Patrícia Nohara (2010, p.
A administração pública, no entanto, tem 33), com respaldo em Di Pietro, que o Poder
o poder de decidir sobre a legitimidade (o Disciplinar é “o poder que compete à Admi-
controle dos seus próprios atos). Há órgãos nistração Pública para apurar infrações fun-
de natureza administrativa com competência cionais e aplicar penalidades aos seus servi-
exclusiva para decidir litígios de natureza ad-
dores e demais pessoas sujeitas à disciplina
ministrativa, mas tais decisões não são dota-
dos órgãos e serviços”.
das da força e da definitividade próprias dos
julgamentos do Poder Judiciário. Tais órgãos
decidem, mas suas decisões não têm caráter
Temos, assim, que o Estado poderá exer-
cer o seu poder disciplinar em duas frentes
conclusivo, definitivo (não fazem coisa julga-
da), ficando sempre sujeitas à revisão pelo do Direito: o Penal e o Administrativo. Temos,
Poder Judiciário. no primeiro, a sanção penal e, no segundo, a
sanção administrativa. É o que, aliás, encon-
No entanto, para a administração pública, tramos na lição de Rafael Munhoz de Mello
a decisão administrativa proferida ao térmi- (2008, p. 45), que assim se manifesta:
no do processo administrativo será definitiva
quando for favorável ao particular. A adminis- O poder punitivo estatal, portanto, pode
tração pública não pode recorrer ao Poder Ju- se manifestar através das sanções penais e
diciário contra uma decisão administrativa que
das sanções administrativas, as primeiras
ela mesma haja proferido (fonte: http://www.
impostas no exercício de função jurisdicio-
licoesdedireito.kit.net/administrativo/adm-in-
nal, as segundas no exercício de função ad-
troducao.html, acesso em 12.out.2012).
ministrativa. É dizer, tanto a sanção penal
como a administrativa são manifestações
2. Direito Administrativo Sancionador
de um mesmo poder estatal como a admi-
nistrativa são manifestações de um mesmo
poder estatal, o ius puniendi. Daí se falar
em unidade do poder punitivo estatal, poder
que abrange tanto as sanções penais (direi-
to penal) como as sanções administrativas
(direito administrativo sancionador).

Desse modo, no âmbito da sanção


administrativa, o poder disciplinar do Estado
encontra-se albergado nas normas e princípios
http://www.acuz.net/html/img20269.jpg do Direito Administrativo Sancionador.

36
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Não obstante haver dois instrumentos tural, da irretroatividade da norma penal,


punitivos do Estado, o certo é que há uma da inadmissibilidade de provas ilícitas, do
unidade entre ambos, uma vez que tanto contraditório e da ampla defesa, do devido
uma como outra forma de sanção emanam processo legal, da legalidade, moralidade,
do poder punitivo estatal. Com efeito, eficiência, publicidade, etc), 

a mais importante e fundamental conse- [3] penal (conceito de crime contra a Adminis-


quência da suposta unidade do ius puniendi tração Pública como falta disciplinar passível
do Estado é aplicação de princípios comuns de pena demissória, contagem da prescri-
ao Direito Penal e ao Direito Administrativo ção das faltas administrativas pelos prazos
Sancionador, reforçando-se, nesse passo, as prescricionais do Código Penal - art. 142, Lei
garantias individuais. O objetivo é fazer, de federal n. 8.112/1990, idéias de excludentes
imediato, uma incursão teórica e histórica de ilicitude e de culpabilidade, inimputabili-
na formulação doutrinária – posteriormen- dade, etc), 
te incorporada à jurisprudência das Cortes
[4] processual civil e penal (procedimentos em
Constitucionais europeias – em torno aos
audiências e para coleta de provas, etc), 
paradigmas da unidade do Direito Público
Punitivo (OSÓRIO, 2009, p. 105).
[5] comercial (conceitos de comércio e gerên-
cia, de atividade comercial incompatível com
Considere-se, ainda, que
a função pública, para fins de demissão do
agente transgressor), dentre outros tantos
porque una vez integrada la potestad
exemplos (CARVALHO, 2008, p. 163).
sancionadora de la Administración en el
ius puniendi del Estado, lo lógico sería que
aquélla se nutriera de la sustancia de la po-
Entretanto, ainda persiste a vinculação,
testad matriz, y, sin embargo, no sucede así, para alguns quase que exclusiva, do Direito
sino que la potestad administrativa a quien Administrativo Sancionador com o Direito Pe-
realmente se quiere subordinar es a la acti- nal. No entanto, o primeiro, embora se utilize
vidad de los Tribunales penales y de donde dos princípios garantistas do segundo, nota-
se quiere nutrir al Derecho Administrativo damente o devido processo legal, apresenta-
Sancionador es del Derecho y no Del De- -se como um ramo do Direito que reclama
recho público estatal (NIETO, 2008, p. 26). autonomia, em que pese a sua interdepen-
dência.
O denominado Direito Administrativo San-
cionador é um segmento do Direito Adminis- Por fim, com apoio na lição de Cristina
trativo que se consolidou nos idos da década Krussewski (2010), registramos:
de 60 do século XX. Em corte interdisciplinar,
ele relaciona-se com vários ramos do Direito. Na sociedade pós-industrial houve um
Desse modo, encontramos as suas relações: aumento na utilização do Direito Administra-
tivo em sua vertente sancionadora. O Direi-
[1] com o direito civil (noções de domicílio, de to Administrativo Sancionador passou a ser
pessoa jurídica), visto, ao mesmo tempo, como uma resposta
alternativa à funcionalização extrema da tu-
[2] constitucional (princípios e garantias consti- tela penal, diante da demanda por seguran-
tucionais incidem diretamente no processo ça advinda da sociedade – que é interpreta-
administrativo disciplinar, como do juiz na- da como necessidade de maior punição – e

37
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

como instrumento de preservação do prin- dades seguradoras, corretoras de seguros e


cípio da subsidiariedade e da intervenção instituições financeiras.
mínima do Direito Penal, preservando – na
medida do possível – a concepção clássica VI - cancelamento da autorização de funciona-
garantista e iluminista deste ramo do direito. mento e alienação da carteira da operadora.

Nesse contexto o instituto da sanção ad- Diante do rol de sanções administrativas


ministrativa passa a ter maior relevância no acima exposto, atualmente encontra-se em
estudo do direito, motivo pelo qual serão vigor a Resolução Normativa 124/06, que es-
apresentadas, a seguir, algumas noções so- tabelece os critérios materiais para a imposi-
bre o assunto. ção do regime de disciplina aos entes econô-
micos sujeitos à fiscalização da ANS.
3. Espécies de sanções administrativas
aplicáveis aos entes sujeitos à fiscalização Com o propósito de delimitar o campo de
da Agência Nacional de Saúde Suplemen- abrangência e as pessoas sujeitas às suas
tar – ANS penalidades, a Resolução Normativa 124/06,
em seu art. 1º, caput, estabelece que estão
sujeitas à sua incidência as operadoras que
atuam no segmento dos planos privados de
assistência à saúde, bem como

seus administradores, membros de conse-


lhos administrativos, deliberativos, consulti-
vos, fiscais e assemelhados, quando violarem
os contratos de planos privados de assistên-
cia à saúde ou a legislação do mercado de
O art. 25 da Lei 9.656/98 impõe uma série saúde suplementar, estão sujeitos às penali-
de sanções administrativas aplicáveis às ope- dades instituídas pela Lei nº 9.656, de 1998,
e graduadas nesta Resolução, sem prejuízo
radoras de planos privados de assistência à
da aplicação das sanções de natureza civil e
saúde sujeitas a fiscalização da ANS. São elas:
penal cabíveis, conforme especificado.
I - advertência;
Seguem os apontamentos mais relevan-
II - multa pecuniária; tes relativos às sanções administrativas em
espécie. Registramos a necessidade de o
III - suspensão do exercício do cargo; pesquisador da temática planos privados de
assistência à saúde não deixar de lado a im-
IV - inabilitação temporária para exercício de car- portância de se reportar, diretamente, à ínte-
gos em operadoras de planos de assistência gra da Resolução 124/06 em destaque.
à saúde; 
3.1. Sanção de advertência
V - inabilitação permanente para exercício de
cargos de direção ou em conselhos das ope-
radoras a que se refere esta Lei, bem como A sanção de advertência será aplicável, no
em entidades de previdência privada, socie- âmbito do Processo Administrativo Sanciona-

38
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

dor, quando a infração for de menor potencial 3.2. Sanção de multa pecuniária
ofensivo ao mercado de saúde suplementar.

Ela será aplicada por escrito sempre que


não se constatar o cometimento de reinci-
dência por parte da operadora6. Segue-se,
no que interessa, o conteúdo do art. 5º da
resolução em tela:

Art. 5º A sanção de advertência poderá


ser aplicada, a critério da autoridade jul-
gadora, nos casos previstos nesta norma
e desde que atendida ao menos uma das
seguintes condições circunstâncias descritas
nos incisos I a III do art. 8º7, ou uma das
condições abaixo previstas: Por força do art. 27 da Lei 9.656/98, a
multa pecuniária em desfavor dos agentes
I – ter ocorrido o cumprimento da obri- econômicos que exploram planos privados
gação até o décimo dia contado da data do de assistência à saúde está sujeita aos se-
recebimento da intimação pela operadora
guintes limites:
para ciência do auto; ou

• Valor mínimo da multa: R$ 5.000,00.


II – não ter havido lesão irreversível ao
bem jurídico tutelado pela norma infringida.
• Valos máximo da multa: R$ 1 milhão.

6
  “Art. 17. Considera-se reincidência a prática pelo
mesmo infrator de infração da mesma espécie, punida por No âmbito da Resolução Normativa
decisão administrativa definitiva. 124/06, a norma acima é repetida no seu art.
§ 1º Ocorrerá a reincidência quando, entre a data do
trânsito em julgado e a data da prática da infração 12. Ainda em sede infralegal, os demais cri-
posterior, houver decorrido período de tempo não superior
a 1 (ano) ano.
térios para aplicação da multa são glosados
§ 2º Excepcionam-se ao disposto no parágrafo anterior nos arts. 9 a 13 da norma em destaque.
as infrações previstas no Capítulo II do Título II desta
Resolução, hipótese em que o decurso de tempo não
será superior a 2 (dois) anos.” As infrações relativas ao De outro lado, a RN 124/06, com vistas a
Capítulo II, do Título II, estão dispostas a partir do artigo
45 da RN 124/2006, e dizem respeito as infrações de adequada tipificação da conduta inadequada
natureza econômico-financeira.” das pessoas sujeitas a essas sanções admi-
7 
Para melhor esclarecimento, segue o conteúdo do citado
art. 8º: “Art. 8º São circunstâncias que sempre atenuam a nistrativas, apresenta um extenso rol de in-
sanção: frações e os respectivos valores das multas
I - ser a infração provocada por lapso do autor e não lhe
trazer nenhum benefício, nem prejuízo ao consumidor; ou pecuniárias.
II - ter o infrator incorrido em equívoco na compreensão
das normas regulamentares da ANS, claramente
demonstrada no processo; A tipificação (repita-se: em extenso rol)
III – ter o infrator adotado voluntariamente providências das sanções pecuniárias está disposta do art.
suficientes para reparar a tempo os efeitos danosos da
infração.” 18 ao art. 88 da citada resolução.

39
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

3.3. Do cancelamento da autorização de 3.4. Sanção de suspensão do exercício do


funcionamento e alienação da carteira da cargo
operadora

Por força do art. 196 e seguintes da Cons-


tituição Federal, o Estado tem o poder-dever
de exercer a fiscalização, normatização e
controle da exploração econômica dos servi-
ços de saúde por parte da iniciativa privada.

Em decorrência disso, observado o devido


processo legal, o Estado, por meio da ANS,
poderá cancelar a autorização de funciona-
mento das operadoras que desatenderem a
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_8usOdprQu5s/S6neJuisvKI/
legislação em vigor.
AAAAAAAAB1A/urZd6YQr0QY/s1600/opress%C3%A3o.jpg.

Em consequência, a ANS poderá ainda de-


No art. 15 da RN 124/06, encontramos su-
terminar a alienação de carteira de planos
porte normativo para a suspensão do exercí-
privados a outra operadora idônea que seja
cio do cargo.
capaz de realizar a promoção de serviços de
saúde dotados de qualidade aos clientes- Naturalmente, essa sanção será aplicada
-consumidores da que não teve condições de aos gestores da operadora de planos privados
atender os preceitos legais. de assistência à saúde. Vamos diretamente ao
conteúdo da norma em destaque:
A respeito, segue o teor da RN 124/06:
Art. 15. A suspensão do exercício de
Art. 14. O cancelamento da cargo, pelo prazo mínimo de 60 (sessenta)
autorização de funcionamen- e máximo de 180 (cento e oitenta dias),
to, para efeito desta Resolu- aplica-se aos administradores, membros
ção, é a sanção que implica de conselhos administrativos, deliberativos,
o impedimento do exercício consultivos, fiscais e assemelhados de ope-
da atividade de operadora de radoras de planos privados de assistência
planos de assistência à saúde à saúde, na hipótese de práticas infrativas
e somente ocorrerá após a previstas nesta Resolução.
alienação da carteira de bene-
§ 1º A suspensão do exercício de cargo
ficiários da operadora.
será aplicada em dobro na hipótese de rein-
cidência, observado o limite de 180 (cento e
A medida acima, como se observa, é uma
oitenta dias).
exceção ao princípio da livre iniciativa e, por-
tanto, deverá ser utilizada como uma san- § 2º A reincidência em infração punida
ção capital. Vale dizer, quando não houver com suspensão do exercício de cargo pelo
alternativa de sanção mais adequada ao caso prazo máximo implicará a aplicação da san-
concreto. ção de inabilitação temporária pelo prazo de

40
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

1 (um) ano, exceto nos casos previstos nos Vale anotar que a sanção administrativa
arts. 308, 389 e 4510. em tela, assim como a anterior, tem um lap-
so temporal delimitado para que não adentre
De acordo com a vedação constitucional na vedação constituição de penas perpétuas.
de que não haverá pena de caráter perpé- Assim, a sanção de inabilitação temporária
tuo (Constituição Federal, art. 5º, XLVII), a oscilará entre o mínimo de um e o máximo
sanção pautada na suspensão de atividade de cinco anos em desfavor do infrator.
ou profissão encontrará uma limitação de or-
dem temporal que oscilará entre o mínimo
de 60 dias e o máximo de 180 dias. Por força do art. 16 da RN 124/06, a inabi-
litação do exercício de cargo aplica-se a ad-
Em decorrência do seu efeito devastador ministradores, membros de conselhos admi-
ao ente fiscalizado, a pena de suspensão do nistrativos, deliberativos, consultivos, fiscais
exercício de atividade ou profissão deverá ser e assemelhados de operadoras de planos pri-
aplicada de maneira excepcional pela ANS. vados de assistência à saúde.
Desse modo, essa modalidade punitiva está
reservada a práticas consideradas graves à
Exemplos de inabilitação temporária são
manutenção do sistema.
os casos previstos nos arts. 30, 38 e 45.
3.5. Inabilitação temporária
Capítulo VI – Elementos do processo
A Resolução Normativa 124/06 trata ainda
da pena administrativa de inabilitação tem-
administrativo sancionador de
porária em geral e também para o exercício competência originária da Agência
de cargo ou função no setor planos privados Nacional de Saúde Suplementar - ANS
de assistência à saúde.
1. O devido processo legal no processamento
  “Art. 30. Incorrer em práticas irregulares ou nocivas à
8
do processo administrativo sancionador
política de saúde pública:
Sanção – multa de R$ 250.000,00;
suspensão do exercício de cargo por 180 (cento e oitenta) Foi-se o tempo em que não havia limites
dias.
Parágrafo único. Na hipótese de reincidência, será para o Estado processar e condenar os seus
aplicada a inabilitação temporária de exercício de cargo súditos. Embora a imagem a seguir seja uma
pelo prazo de 5 (cinco) anos, sem prejuízo da multa.”
9
  “Art. 38. Fornecer à ANS, exceto na hipótese do art. 33, ilustração, é bem verdade que, em tempos
informações ou documentos falsos ou fraudulentos: pretéritos, muitas pessoas foram condena-
Sanção - multa de R$ 100.000,00;
suspensão do exercício de cargo por 180 (cento e oitenta) das às mais bizarras técnicas de tortura.
dias.
Parágrafo único. Na hipótese de reincidência, será apli- No entanto, vale considerar que técnicas
cada a inabilitação temporária de exercício de cargo pelo
prazo de 5 (cinco) anos, sem prejuízo da multa.” bárbaras como a representada não foram
10
  “Art. 45. Realizar operações financeiras vedadas por utilizadas somente em períodos próximos à
lei:
Sanção - multa de R$ 100.000,00; Idade Média.
suspensão do exercício de cargo por 180 (cento e oitenta)
dias.
Parágrafo único. Na hipótese de reincidência, a ANS Para vergonha da historiografia brasileira,
poderá cancelar a autorização de funcionamento e alienar a tortura institucional também foi utilizada,
a carteira da operadora, bem como aplicar a inabilitação
temporária de exercício de cargo pelo prazo de 5 (cinco)
no Brasil, na terrível ditadura do século pas-
anos.” sado.

41
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Não é demais ressaltar que, iniciado o


PAS, em decorrência dos ideais do Estado
Democrático de Direito, por força da Cons-
tituição Federal de 1988, serão garantidos
aos fiscalizados a ampla defesa e o contra-
ditório, corolários do devido processo legal,
em suas dimensões material e processual. É
o que estatui o art. 5º, LV, da Constituição
Federal, que assim prescreve: “Aos litigan-
tes, em processo judicial ou administrativo,
e aos acusados em geral, são assegurados o
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_TF35nq2enUQ/ contraditório e ampla defesa, com os meios
TG_vmO1RNDI/AAAAAAAAA7g/Iy6Z1nlJMuU/ e recursos a ela inerentes”.
s320/devido-processo-legal.jpg.
Por força da cláusula pétrea em destaque,
No termos da legislação de regência da os processos administrativos sancionadores
saúde suplementar, a ANS é o órgão admi- de competência da ANS atenderão a ampla
nistrativo destinado ao processamento do defesa e o contraditório como emanações do
processo administrativo sancionador em des- devido processo legal prescrito no inciso LIV
favor dos entes profissionais que exploram do já citado art. 5º de nossa Magna Carta. A
economicamente os serviços de saúde em não observância de tais preceitos implicará a
território nacional. nulidade do referido processo.

Com efeito, a ANS é designada a primei- 2. Estrutura elementar do processo admi-


ra instância administrativa para o trâmite do nistrativo sancionador de competência ori-
processo administrativo sancionador, que, ginária da ANS
atendido o devido processo legal, objetiva
punir os entes profissionais que desatende- Nosso objetivo neste item é de apresentar
rem a legislação securitária em vigor. A se- os elementos básicos do trâmite do processo
gunda instância administrativa para o trâmi- administrativo sancionador. Há de se conside-
rar, a propósito, que a Resolução Normativa
te, atendidos os requisitos de admissibilidade
específicos, é denominada Diretoria Colegia- 48/03 regula esse processo, estabelecendo
da da ANS. orientações gerais, prazos, regime de cons-
tituição das provas, instrução, comunicação
Nosso objetivo neste capítulo é destacar dos atos processuais, suspensão do proces-
os principais aspectos do denominado pro- so, nulidades, instâncias administrativas, re-
cesso administrativo sancionador – PAS. cursos, eficácia e execução das decisões etc.
Como suporte normativo elementar deste
capítulo, nos valeremos da Resolução Nor- Com efeito, constatada a infração a pre-
mativa 48/03, que, por sua vez, dispõe sobre ceito legal ou infralegal, a ANS, por meio do
o processo administrativo para apuração de processo administrativo sancionador, definirá
infrações e aplicação de sanções no âmbito a sanção administrativa disciplinar a ser im-
da Agência Nacional de Saúde Suplementar. posta ao infrator.

42
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

Importa anotar que o processo administra- Os atos processuais, por sua vez, obede-
tivo sancionador, como emanação da função cerão ao princípio da celeridade e economia
de fiscalização do Estado, deverá, natural- processuais, com vistas à garantia da efi-
mente, atender aos princípios constitucionais ciência da atividade administrativa (SILVA,
2012).
impostos à Administração Pública, dentre os
quais os de legalidade, impessoalidade, mo-
3. Modos de início do processo administra-
ralidade, publicidade e eficiência, como es-
tivo sancionador
tabelece o caput do art. 37 da Constituição
Federal. Nos termos da Resolução Normativa 48/03,
o processo administrativo sancionador, sujei-
to ao duplo grau de jurisdição administrativa,
poderá iniciar-se mediante (a) auto de infra-
ção, (b) representação ou (c) denúncia.

a) Auto de infração

O auto de infração, previsto nos arts. 4º


a 7º da resolução em destaque, é uma peça
inaugural de fiscalização in loco, de caráter
Por outro lado, é relevante sublinhar que as privativo dos servidores que tenham compe-
diretrizes firmadas na Resolução Normativa tência institucional para a fiscalização dos en-
48/03, por serem normas infralegais, estão tes que atuam em mercado de seguros, previ-
em nível inferior a outros preceitos legais, de dência complementar aberta, capitalização e
modo que, quando houver antinomias, vale corretagem de seguros. Diante disso, o auto
o comando hierarquicamente superior, com de infração é um dos procedimentos hábeis
destaque, como não poderia ser diferente, para desencadear o processo administrativo
aos ditames constitucionais. sancionador.

Há de se considerar O auto de infração poderá ser acompanha-


do da apreensão de documentos que sejam
que o Processo Administrativo Sanciona- pertinentes à fundamentação do procedimen-
dor é o procedimento administrativo disci- to fiscalizatório. Nos termos do art. 6º da RN
plinar que tem por escopo a apuração de 48/03, segue o conteúdo mínimo dos elemen-
eventuais infrações a dispositivos legais ou tos que deverão constar no auto de infração:
infralegais regentes da atividade securitária
desenvolvida em território nacional. I – numeração sequencial do auto;

Em consonância com o teor da Resolu- II - nome, endereço e qualificação do autuado;


ção em destaque, o Processo Administrativo
Sancionador, que tramitará na sede ou nas III - local, data e a hora da lavratura;
unidades regionais da SUSEP, poderá iniciar-
-se de ofício ou por qualquer interessado no IV - descrição circunstanciada do fato ou do ato
resguardo da lisura nas atividades do mer- constitutivo da infração, incluindo o período
cado segurador. da ocorrência;

43
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

V – indicação da disposição legal ou infralegal § 1º O processo deverá conter:


infringida e a sanção aplicável;
I- nome, endereço e qualificação do represen-
VI - prazo e local para apresentação de defesa; tado;

VII - assinatura do autuado, seu representante II - descrição circunstanciada do fato;


legal ou preposto;
III - indicação da disposição legal ou infralegal in-
VIII - identificação do autuante, com nome, cargo
fringida;
ou função, número de matrícula e assina-
tura, ressalvada a hipótese de emissão por
IV - qualquer outra informação ou documento
processo eletrônico; e
considerado relevante para caracterização da
IX – determinação de cessação da prática infrati- infração;
va, se for o caso, sob pena da aplicação de
multa cominatória. V - folha de cadastro referente ao registro da
operadora perante a ANS; e
b) Representação
VI – cópia da representação com assinatura e iden-
Enquanto o particular tem a faculdade de tificação da autoridade signatária.
apresentar informações decorrentes de in-
fração a norma legal ou infralegal dos en- § 2º Concluída a instrução da representa-
tes sujeitos a fiscalização, o servidor públi- ção, o processo será encaminhado à Direto-
co é obrigado a comunicar o ato infracional ria de Fiscalização - DIFIS para providências.
de seu conhecimento. Portanto, enquanto o
particular tem uma mera opção, o servidor Por óbvio, a representação, em atenção ao
tem a obrigação de zelar pela moralidade do devido processo administrativo, deverá cons-
mercado securitário. tar dos seguintes elementos:

Com efeito, o servidor que verificar a exis- • A qualificação do representado e, sen-


tência de indícios de infração administrati- do o caso, do responsável solidário.
va deverá comunicar o fato, em documento
circunstanciado, ao órgão responsável pela
análise dos indícios de irregularidade, que • A descrição circunstanciada do fato
adotará as providências cabíveis para instau- punível.
rar o processo administrativo sancionador. É
o que, aliás, estabelece o art. 8º da Resolu- • A narrativa do fato que demonstre a
ção 48/03: materialidade da infração apurada.
Art. 8º Constatada a ocorrência de indí-
cios de infração às disposições legais ou in- • A análise de autoria e da responsabili-
fralegais disciplinadoras do mercado de saú- dade pela infração apurada.
de suplementar, a área técnica responsável
instruirá o procedimento de representação,
para conseqüente instauração de processo • O dispositivo legal ou infralegal infrin-
administrativo sancionador. gido.

44
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

• Os documentos ou quaisquer outros • O endereço do denunciante ou outro


elementos de prova em que se baseie. local para recebimento de intimação.

• A ocorrência de quaisquer circunstân- • A data da denúncia.


cias que possam afetar a dosimetria e
a fixação da pena. • A assinatura do denunciante ou de
quem o represente.
• A assinatura do servidor, a indicação
do seu nome por extenso, cargo ou • No caso de denúncias feitas por con-
função e o número da matrícula. sumidores, os documentos listados em
norma editada pela SUSEP.
c) Denúncia
Importa ressaltar que a denúncia pode-
rá ser verbal, sendo obrigatória a sua pos-
terior redução a termo. Por outro lado, em
decorrência de poder de polícia da ANS, não
contendo ela elementos sólidos de convicção
para a instauração do PAS e não sendo hipó-
tese de arquivamento, incidirá o poder-dever
Fonte: http://valeindependente.files.wordpress. da citada autarquia para realizar diligências
com/2010/12/topo_denuncia.jpg. para a apuração dos fatos narrados.

A denúncia é uma forma em que os pró- Na letra da RN 48/03, tem-se as seguintes


prios consumidores podem levar ao conheci- diretrizes concernentes à denúncia:
mento da ANS eventuais irregularidades no
mercado de saúde suplementar. Assim, como Art. 9º A reclamação, a solicitação de
ocorre no Sistema Nacional de Seguros Pri- providências ou petições assemelhadas que
vados, entendemos que a denúncia deverá por qualquer meio derem entrada na ANS e
que contiverem indícios de violação da lei ou
conter os seguintes elementos:
de ato infralegal por parte das operadoras,
poderão ser caracterizadas como denúncia
• A qualificação do denunciante ou de
após avaliação inicial dos Núcleos Regionais
quem o represente e seus dados para
de Atendimento e Fiscalização – NURAFs -
contato.
ou das Unidades Estaduais de Fiscalização
- UEFIs ou da DIFIS.
• A indicação, com a maior precisão
possível, do infrator, dos fatos e da in- Parágrafo único. A denúncia de violação
da lei ou de ato infralegal por parte das ope-
fração cometida.
radoras, apresentada por terceiros perante
qualquer das Diretorias da ANS, será enca-
• Os elementos de prova em que o de- minhada diretamente à DIFIS para as provi-
nunciante se baseie. dências cabíveis.

45
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

À vista disso, o art. 12 da resolução de- Reza o art. 29 da RN 48/03:


termina que, “quando na investigação pre-
liminar da denúncia for constatada violação O processo administrativo, antes de apli-
da lei ou de norma infralegal por parte das cada a penalidade, poderá, a título excepcio-
nal, ser suspenso pela ANS, se a operadora
operadoras, será lavrado o competente auto
assinar termo de compromisso de ajuste de
de infração”.
conduta, perante a Diretoria Colegiada, que
terá eficácia de título executivo extrajudicial

[...].

4. Termo de ajustamento de conduta

Diante da norma acima transcrita, há de


Fonte: http://intrometendo.com/wp-content/ se levar em conta que
uploads/2009/09/termo-de-ajuste-de-conduta.jpg.
os TAC´s caracterizam-se por terem na-
Grande novidade no processo administra- tureza contratual e poderão ser firmados
tivo sancionador, além da severa majoração com agentes supervisionados, ou seja, os
das multas pecuniárias, diz respeito à insti- agentes do mercado e por estipulantes de
tuição do Termo de Ajustamento de Conduta apólices coletivas de seguro. Aqueles que
incorrerem em infrações por atuarem no se-
(TAC) para o âmbito dos procedimentos dis-
tor securitário sem a devida habilitação não
ciplinares no contexto da ANS.
terão o benefício de poder firmar um TAC
com a SUSEP.
Com o TAC, a normatização em vigor abre
a oportunidade para uma maior efetividade A implementação dos TAC´s no âmbito
dos processos administrativos sancionado- do mercado de seguro segue a linha ado-
res. tada pela Comissão de Valores Mobiliários
(‘CVM’) para infrações cometidas no âmbito
Desse modo, há ainda de se considerar do mercado de capitais, buscando a cessa-
que este ganha força para uma maior aten- ção da prática ilícita e o ressarcimento dos
ção aos interesses transindividuais relaciona- danos dela decorrentes. O CNSP preferiu li-
dos ao mercado securitário. mitar dessa forma o objeto dos TAC´s, afas-

46
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada

tando-se do modelo adotado pelo Conselho BARCELLOS, Ana Paula de. A eficácia ju-
Administrativo de Defesa Econômica (CADE) rídica dos princípios constitucionais: o
para infrações cometidas no âmbito concor- princípio da dignidade da pessoa huma-
rencial, que permite também a fixação de na. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
multas (GONÇALVES; KASTRUP; MARTINS,
2002). BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as
consequências humanas. Rio de Janeiro:
Em que pese o fato de que o TAC encontra Zahar, 1999.
normatização bastante tímida, haja vista que
se encontra instituído em apenas um artigo BRANDÃO CAVALCANTI, Themístocles. Tra-
da resolução em tela, entendemos que as tado de Direito Administrativo. V. I. 4ª ed.
demais disposições desse instrumento cons- Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1949.
tantes em outras normas de direitos difusos
e coletivos deverão ser aplicadas de modo BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Fede-
supletivo e integrador à espécie. ral anotada: jurisprudência e legislação infra-
constitucional em vigor. São Paulo: Saraiva,
São essas as considerações que julgamos 2000.
mais relevantes ao processo administrativo
sancionador. Nosso objetivo, como se obser- CAETANO, Marcelo. Manual de Direito
vou, foi apresentarmos as diretrizes elemen- Administrativo. Coimbra: Coimbra, 1951.
tares do PAS no âmbito da ANS, fato esse
CAMPOS, Juarez de Queiroz; PRESOTO, Lúcia
que, naturalmente, não dispensa da leitura
Helena. Cidadania e burocracia na admi-
das resoluções em destaque.
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