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Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
Sumário
Capítulo I - Memórias da gestão dos serviços de saúde 3
política pública 27
Referências bibliográficas 47
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Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
Capítulo I - Memórias da gestão dos saúde eram destinados àqueles que detinham
serviços de saúde conhecimentos ocultos derivados da vontade
e da maneira de atuações de divindades di-
versas. Assim, estar doente ou estar saudá-
vel, conforme o caso, dependeria da vontade
soberana e inquestionável de divindades.
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lice de Hígia, que, ainda nos dias atuais, foi esse episódio, Rá, o então deus-doente, fi-
adotado como símbolo da medicina e tam- cou aliviado dos males que o afligiam (JA-
bém da farmácia. Entre os romanos, a repre- MES, 1993, p. 15-21).
sentação simbólica de Hígia foi denominada
Sallus. No português, sallus mostra-se como Ao analisar os elementos mentais da civi-
fonte para a palavra saúde. lização a partir de fontes bastante remotas,
destaca Durant (1957, v. 1, p. 87):
Na maioria das mitologias, o ato de ado- Os truques dos antigos eram mais dra-
ecer era tipicamente humano. As divindades máticos que os dos seus colegas de hoje;
no panteão grego e romano não estavam su- procuravam assustar o espírito “encostado”
jeitas às doenças. Contudo, no Egito antigo, ao doente por meio de caretas e máscaras
encontramos relatos de divindades que ado- terrificantes, e gritos, barulho etc., ou aspi-
ravam o demônio por um canudo.
eceram em decorrência de encantamentos,
sendo que a cura também dependeu do ma-
Na Pérsia, de igual modo, o trato com a
nuseio de conhecimentos espirituais ocultos.
saúde estava inicialmente vinculado a poderes
Em dois papiros egípcios, datados entre espirituais ocultos e, por conseguinte, lidar
1320 e 1200 a.C, encontramos uma fabulo- com os serviços de saúde no plano social
sa narrativa de traição e fórmulas de encan- de então era um atributo específico dos
tamento envolvendo Ísis e Rá. Ísis, movida homens experientes na lida com o universo
pela busca de poder e domínio sobre todas sobrenatural.
as divindades egípcias, valeu-se do estrata-
Assim, entre os persas,
gema de uma serpente para envenenar Rá.
Este, quando ferido e sofrendo dores terrí- a medicina foi primeiramente uma fun-
veis, foi convencido a revelar o seu nome se- ção dos sacerdotes, que a praticavam com
creto àquela. Tão logo tomou conhecimen- a ideia de que o diabo havia criado 99.999
to do nome, Ísis proferiu algumas palavras, doenças, só tratáveis por meio duma com-
também secretas, de encantamento, e assim binação de magia e higiene. De preferência
ocorreu a cura da divindade enferma. Após recorriam a encantações, em vez de drogas,
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visto que a encantação, se não curasse, não terioranos. Assim, entendemos que o conte-
matava o doente – o que não se podia di- údo mostra bastante interesse para nossos
zer das drogas. Não obstante, a medicina propósitos.
leiga se desenvolveu com o crescimento da
riqueza, e no tempo de Artaxerxes II já ha- Um dos mistérios mais atraentes e respei-
via uma bem organizada corporação de mé- tados da cultura popular são as benzeções.
dicos e cirurgiões, com honorários fixados Benzer significa, antes de mais nada, aben-
em lei – como no Código de Hamurábi – de çoar. E o ato de benzer acompanha a huma-
acordo com a posição social do paciente nidade desde os seus primórdios, quando,
(DURANT, 1957, v. 2, p. 85). através do benzimento, se pedia a proteção
dos deuses. A mesma súplica acompanhou
Não é demais apontar que, ainda hoje, todas as culturas, em todos os tempos, sob
para muitas instâncias sociais, problemas de as mais variadas formas.
saúde estão vinculados às questões de or-
dem espiritual, motivo pelo qual os eventos
em que são prometidas curas divinas, com
seções destinadas a expulsão de demônios,
não são incomuns. No Brasil, multidões de
pessoas se reúnem com o propósito de ex-
pulsarem o mal causador de doenças.
Fonte: http://www.aprovincia.com.br/conversa-de-
pescador/folclore/benzecoes-bruxas-e-benzedeiras/.
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dores e, por conta disso, dominavam diversos Vale aqui registrar o ambiente em que se
conhecimentos científicos até então acumula- operavam os serviços de saúde no período
dos pela humanidade. À vista disso, grande medieval. Havia, em tal época, um misto de
parte dos serviços médicos desse período era ciências médicas nascentes com o misticismo
prestada à população por homens que faziam que, por consequência, culminava em uma
parte das fileiras eclesiásticas, embora, em tal distinta mancebia nos métodos terapêuticos
período, houvesse também uma medicina lei- utilizados no cuidado dos doentes. Por meio
ga que, pouco a pouco, ganhava relevância. de fontes históricas, vale observar:
Até o século XII, os serviços de saúde eram O quadro básico da medicina medieval é
ministrados com frequência pelo clero, que representado pela mãe com o seu pequeno
armazenava um grande conhecimento de depósito de remédios caseiros, por velhas
medicina e do trato com doenças sazonais. A que conheciam as propriedades de ervas
prática pelos clérigos não era atividade recen- e emplastos, e que recorriam também a
feitiçarias, ervanários às voltas com plantas
te, haja vista que “a partir da primeira metade
que curavam, com drogas infalíveis e pílulas
do século VIII inicia-se a preponderância da
milagrosas, parteiras prontas a ceifar a vida
medicina clerical, que considerava o doente
originada na ignomínia, charlatões dispostos
um homem que havia chegado a participar a curar e a matar em troca de uma ninharia,
da ‘graça’ de Deus. Cuidar do doente era, por monges que herdavam conhecimentos de
conseguinte, uma obrigação cristã” (NUNES, medicina monástica, freiras que, serenas,
1989, p. 55). confortavam os enfermos com orações e
ali e acolá gente de posses que aprendia
O processo de cuidar foi se desenvolvendo e exercia uma medicina mais ou menos
aos poucos nos conventos, que exerciam ati- científica (DURANT, 1957, v. 11, p. 261).
vidades de cuidado dos enfermos que neles
buscavam refrigério espiritual e corporal. Des- No diálogo entre a tentativa de cura das
se modo, nos referidos locais, abundantes no doenças ora por métodos racionais, ora por
medievalismo, procurava-se cuidar da alma e meios transcendentais, “floresciam drogas
do corpo dos doentes que neles adentravam horríveis e fórmulas fabulosas. Da mesma
em busca de serviços de saúde que pudes- maneira que se acreditava que certas pedras,
sem, pelo menos, aliviar-lhes os infortúnios. quando seguradas na mão, evitavam a gravi-
dez, também se acreditava que se obtinha a
Aos poucos, em conjunto com os conven- fecundidade comendo esterco de burro” (ibi-
tos, por volta do século XII, passamos a en- dem).
contrar hospitais. Há de se levar em conta
que o hospital na Idade Média tornou-se um A cena que observamos nos registros aci-
local destinado ao tratamento dos excluídos ma é, no mínimo, curiosa. Entretanto, a su-
pela sociedade. Nele, cuidava-se do pobre, do perstição nunca foi totalmente excluída das
fugitivo, do marginalizado que, na estrutura sociedades humanas. Às vezes, determinadas
social de então, era indesejado. Desse modo, práticas estão centradas ora em argumen-
os hospitais medievais eram um monturo de tos sobrenaturais, ora em construções ditas
excluídos e vulneráveis de toda a espécie científicas que não passam de mitos. Moder-
(ibidem). namente, a sociedade ainda constrói os seus
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mitos e neles procura encontrar saídas para Como observamos acima, na evolução dos
a complexidade da vida. serviços de saúde, os seus profissionais saí-
ram da condição social semelhante a escra-
vos, que ofereciam os seus préstimos, em
muitas oportunidades, apenas em troca da
refeição diária, agindo, na maioria das vezes,
como caixeiros viajantes.
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Os Estados modernos passaram, com efeito, a criar normas concernentes aos serviços de
saúde. Assim, mesmo que em alguns regimes jurídicos a saúde seja uma atividade eminen-
temente privada, o Estado toma providência de conceber normas mínimas de organização
da referida atividade, que hoje é responsável pela movimentação de enormes fortunas.
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_P1tK7jE5OU4/S-Dc_N8lFkI/AAAAAAAAANg/
iV0OLK2fJCo/s1600/Crise+na+Sa%C3%BAde+no+BLOG.JPG.
No Brasil, desde a época em que o colonizador aqui chegou, as questões de saúde passa-
ram à pauta, se não legislativa, pelo menos do âmbito social. Quando pensamos em gestão
de saúde, as grandes vítimas da colonização, como se sabe, foram os indígenas, que, não
dotados de anticorpos contra as doenças do europeu, sofreram os mais diversos males já
imunizados no agente colonizador. Entretanto, o manuseio das ervas pelos indígenas, até
os dias atuais, ainda é alvo de espanto por parte dos cientistas que lidam com os atributos
medicinais da botânica nacional.
em 1884, ano em que o Congresso paulista aprovara a lei da concessão de passagens gratuitas
para os imigrantes, foi nomeado por ato do presidente da Província de São Paulo, João Alfredo,
o primeiro inspetor de higiene pública, dr. Marcos de Oliveira Arruda. O cargo era exercido sem
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para observação e desinfecção dos imigran- De nossa parte, entendemos que a Revolta
tes e suas bagagens (ibidem). da Vacina foi impulsionada por um misto de
interesses políticos e ignorância dos destinatá-
No início do século XX, encontramos nos rios da campanha pública de vacinação. Nesse
anais da história do Brasil um episódio muito contexto, a negativa em tomar a vacina parece
marcante acerca de política pública de servi- apenas uma insurreição contra a maneira au-
ços de saúde. O então presidente da Repúbli- toritária e destituída de esclarecimento à po-
ca, Francisco de Paula Rodrigues Alves, que pulação à mercê da febre amarela. Contudo,
governou o país de 1902 a 1906, encarregou a Revolta da Vacina teve o mérito de trazer a
o médico sanitarista Oswaldo Cruz da missão gestão da saúde pública à discussão tanto nos
de erradicar a febre amarela na antiga capi- meandros da sociedade brasileira como nos
tal da República, Rio de Janeiro. bastidores políticos e, ainda, dentre os gesto-
res especializados, em uma nascente ideia de
Na época, a atuação do Poder Público foi
saúde pública.
mal recepcionada pelo povo, que não aceitava
submeter-se à vacina contra a doença. Além
da ignorância, aparentemente as massas eram
instigadas pela oposição ao governo. A situa-
ção ganhou proporções extremamente con-
flituosas, chegando a ares revolucionários, já
que as pessoas saíram às ruas para combater
os agentes de saúde ao som da Marselhesa e
da Internacional, respectivamente composi-
ções musicais da Revolução Francesa e do mo-
vimento socialista. O evento, que se potencia-
lizou em novembro de 1904, recebeu o nome Embora não estejamos em um modelo per-
de Revolta da Vacina. As manifestações foram feito, com o olhar na história, observamos que,
intensas e, como vemos na imagem abaixo, no transcurso do século XX, encontramos um
chegou a criar um clima de insegurança e vio- avanço significativo na gestão da saúde públi-
lência durante a atuação dos insurgentes con- ca, principalmente nas grandes cidades. É evi-
tra a política pública de vacinação. dente, no entanto, que os serviços ainda estão
extremamente deficitários e não atendem à
maioria da população brasileira. Ainda faltam
recursos para investimentos em recursos hu-
manos, instalações e tecnologia para que toda
a população pátria tenha acesso a serviços pú-
blicos de saúde de qualidade, sem filas imen-
sas para atendimento, pessoas amontoadas
em macas pelos corredores hospitalares, falta
de materiais básicos e outras aberrações que
encontramos nos periódicos.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
Assim, não é demais anotar que os servi-
commons/2/22/Revolta_da_Vacina.jpg ços públicos de saúde nacionais ainda deixam
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Fonte: http://www.mayowynnebaxter.co.uk/blog/wp-
É preciso ter centros de saúde e clínicas content/uploads/2013/05/Medical-negligence-1.jpg
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Infelizmente, em muitos momentos, o ce- litário do cidadão aos serviços e ações para
nário é outro, que, pela reiteração constan- sua promoção, proteção e recuperação. O
te, não é preciso narrar neste ensaio. No en- direito à saúde, como está assegurado na
tanto, fica aqui a nossa crítica à vergonhosa Carta, não deve sofrer embaraços impostos
gestão de serviços de saúde que impera em por autoridades administrativas, no sentido
vários espaços de nosso país, notadamente de reduzi-lo ou de dificultar o acesso a ele.
aqueles atrelados à saúde pública, sem dei- O acórdão recorrido, ao afastar a limitação
xar de lado o reconhecimento da existência da citada Resolução 283/1991 do Inamps,
que veda a complementariedade a qual-
de algumas anormalidades da saúde sob o
quer título, atentou para o objetivo maior
regime privado.
do próprio Estado, ou seja, o de assistência
à saúde” (STF. RE 226.835, Rel. Min. Ilmar
Em função disso, muitos destinatários dos
Galvão, julgamento em 14-12-1999, Pri-
serviços de saúde não veem alternativa se-
meira Turma, DJ de 10-3-2000). No mes-
não recorrer ao Poder Judiciário para a ob-
mo sentido: RE 207.970, Rel. Min. Moreira
tenção do mínimo de dignidade no trato de
Alves, julgamento em 22-8-2000, Primeira
seus direitos fundamentais. A discussão é Turma, DJ de 15-9-2000.
tão intensa que, não raro, as demandas são
levadas à Suprema Corte de nosso país. Se- Observe-se, ainda, que em julgado re-
guem algumas decisões paradigmáticas em cente, a decisão do Estado em autorizar ou
que o direito fundamental à saúde foi objeto não a importação de pneus usados, prática
de discussão no STF: outrora comum no Brasil, passou pelo crivo
constitucional da análise da atuação estatal
“O direito a saúde é prerrogativa constitu-
em temas de impacto à saúde pública.
cional indisponível, garantido mediante a im-
plementação de políticas públicas, impondo Constitucionalidade de atos normativos
ao Estado a obrigação de criar condições ob- proibitivos da importação de pneus usados.
jetivas que possibilitem o efetivo acesso a tal Reciclagem de pneus usados: ausência de
serviço” (STF. AI 734.487-AgR, Rel. Min. El- eliminação total dos seus efeitos nocivos
len Gracie, julgamento em 3-8-2010, Segun- à saúde e ao meio ambiente equilibrado.
da Turma, DJE de 20-8-2010. Fonte: http:// Afrontas aos princípios constitucionais da
www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd. saúde e do meio ambiente ecologicamente
asp?item=%201814, acesso em:). equilibrado. [...] Arguição de descumprimen-
to dos preceitos fundamentais constitucio-
Com igual ênfase, observe-se a ementa a nalmente estabelecidos: decisões judiciais
seguir: nacionais permitindo a importação de pneus
usados de países que não compõem o Mer-
Acórdão recorrido que permitiu a interna- cosul: objeto de contencioso na Organização
ção hospitalar na modalidade “diferença de Mundial do Comércio, a partir de 20-6-2005,
classe”, em razão das condições pessoais do pela Solicitação de Consulta da União Euro-
doente, que necessitava de quarto privati- peia ao Brasil. Crescente aumento da frota
vo. Pagamento por ele da diferença de custo de veículos no mundo a acarretar também
dos serviços. Resolução 283/1991 do extinto aumento de pneus novos e, consequente-
Inamps. O art. 196 da CF estabelece como mente, necessidade de sua substituição em
dever do Estado a prestação de assistência decorrência do seu desgaste. Necessidade
à saúde e garante o acesso universal e igua- de destinação ecologicamente correta dos
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pneus usados para submissão dos procedi- decorre não faltar matéria-prima a impedir a
mentos às normas constitucionais e legais atividade econômica. Ponderação dos prin-
vigentes. Ausência de eliminação total dos cípios constitucionais: demonstração de que
efeitos nocivos da destinação dos pneus a importação de pneus usados ou remolda-
usados, com malefícios ao meio ambiente: dos afronta os preceitos constitucionais de
demonstração pelos dados. saúde e do meio ambiente ecologicamente
equilibrado (arts. 170, I e VI e seu parágrafo
[...]
único, 196 e 225 da CB). Decisões judiciais
Direito à saúde: o depósito de pneus ao com trânsito em julgado, cujo conteúdo já
ar livre, inexorável com a falta de utilização tenha sido executado e exaurido o seu ob-
dos pneus inservíveis, fomentado pela im- jeto não são desfeitas: efeitos acabados.
portação é fator de disseminação de doen- Efeitos cessados de decisões judiciais preté-
ças tropicais. Legitimidade e razoabilidade ritas, com indeterminação temporal quanto
da atuação estatal preventiva, prudente e à autorização concedida para importação de
precavida, na adoção de políticas públicas pneus: proibição a partir deste julgamento
que evitem causas do aumento de doenças por submissão ao que decidido nesta ar-
graves ou contagiosas. Direito à saúde: bem guição (SFT. ADPF 101, Rel. Min. Cármen
não patrimonial, cuja tutela se impõe de for- Lúcia, julgamento em 24-6-2009, Plená-
ma inibitória, preventiva, impedindo-se atos
rio, DJE de 4-6-2012).
de importação de pneus usados, idêntico
procedimento adotado pelos Estados desen-
No julgado acima, destacou-se, no Poder
volvidos, que deles se livram.
Judiciário, a íntima relação entre os temas
[...] saúde e meio ambiente, sendo que tais valo-
res são considerados direitos fundamentais.
Demonstração de que: os elementos que O primeiro, a seu turno, faz parte do rol dos
compõem os pneus, dando-lhe durabilidade,
direitos fundamentais de segunda geração,
é responsável pela demora na sua decompo-
direitos sociais.
sição quando descartado em aterros; a di-
ficuldade de seu armazenamento impele a
sua queima, o que libera substâncias tóxi-
Por sua vez, o segundo está vinculado aos
cas e cancerígenas no ar; quando compac- direitos fundamentais de terceira geração,
tados inteiros, os pneus tendem a voltar à os direitos transindividuais, de interesse das
sua forma original e retornam à superfície, presentes e futuras gerações.
ocupando espaços que são escassos e de
grande valia, em especial nas grandes cida- Há de se anotar que, por conta da Juris-
des; pneus inservíveis e descartados a céu prudência do Supremo Tribunal Federal, a
aberto são criadouros de insetos e outros
técnica jurídica contemporânea elaborou, no
transmissores de doenças; o alto índice ca-
lorífico dos pneus, interessante para as in-
plano teórico e prático, o direito subjetivo à
dústrias cimenteiras, quando queimados a saúde.
céu aberto se tornam focos de incêndio difí-
ceis de extinguir, podendo durar dias, meses Desse modo, é reconhecida a possibilida-
e até anos; o Brasil produz pneus usados de de brasileiros e estrangeiros residentes
em quantitativo suficiente para abastecer as no Brasil postularem a concretude do direito
fábricas de remoldagem de pneus, do que fundamental à saúde nas vias judiciais.
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Mas, mesmo na condição de direito subje- ta, para garantir o seu direito à saúde, de
tivo, o litigante deverá demonstrar, em juízo, tratamento médico adequado, é dever so-
o fato de que o tratamento é prescrito por lidário da União, do Estado e do Município
providenciá-lo (STF. AI 550.530-AgR, rel.
profissional da saúde legalmente habilitado.
min. Joaquim Barbosa, julgamento em 26-6-
2012, Segunda Turma, DJE de 16-8-2012).
Com efeito, “para obtenção de medica-
mento pelo SUS, não basta ao paciente com-
O serviço público de saúde é essencial,
provar ser portador de doença que o justi-
jamais pode-se caracterizar como temporá-
fique, exigindo-se prescrição formulada por rio, razão pela qual não assiste razão à ad-
médico do Sistema” (STF. STA 334 - AgR, Rel. ministração estadual [...] ao contratar tem-
Min. Presidente Cezar Peluso, julgamento em porariamente servidores para exercer tais
24-6-2010, Plenário, DJE de 13-8-2010). funções (STF. ADI 3.430, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 12-8-2009,
Plenário, DJE de 23-10-2009).
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por meio do presidente da República, dos Poder Público deve reunir esforços huma-
governadores e dos prefeitos, está vincu- nos e recursos com vistas à prevenção do
lada à diretriz constitucional em tela. “A dano à saúde.
política de saúde como diretriz emanada
do poder político, deve orientar e con-
duzir o sistema de serviços de saúde na
consecução de seus objetivos” (CAMPOS;
PRESOTO, 2003, p. 23).
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Desse modo, mesmo diante da possibilida- portanto, àqueles prestados pela iniciativa pri-
de de exploração econômica dos serviços de vada.
saúde por meio do setor privado, é da essên-
cia da norma constitucional em tela a mani- Estabelece o art. 200 da Constituição Fe-
festação do poder-dever estatal (por meio de deral, em rol não exaustivo, que compete ao
União, estados-membros, Distrito Federal e Sistema Único de Saúde:
municípios) de promover a regulação, fiscali-
I. controlar e fiscalizar procedimentos, produ-
zação e controle de tais serviços à disposição
tos e substâncias de interesse para a saúde
em território nacional. e participar da produção de medicamentos,
equipamentos, imunobiológicos, hemoderi-
O art. 198 de nossa Carta Política de 1988 vados e outros insumos;
reitera a importância das ações e dos ser-
viços públicos de saúde ao determinar que II. executar as ações de vigilância sanitária e
fazem parte de uma rede regionalizada e epidemiológica, bem como as de saúde do
hierarquizada que, por sua vez, constitui um trabalhador;
sistema único, organizado a partir de sólida
III. ordenar a formação de recursos humanos
estrutura constitucional e infraconstitucional.
na área de saúde;
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II. integralidade de assistência, entendida como XIII.=> organização dos serviços públicos de
conjunto articulado e contínuo das ações e modo a evitar duplicidade de meios para fins
serviços preventivos e curativos, individuais idênticos.
e coletivos, exigidos para cada caso em to-
dos os níveis de complexidade do sistema; Os princípios acima não devem ser com-
preendidos apenas como norma ideológica,
III. preservação da autonomia das pessoas na destituída de qualquer opção pragmática. Ao
defesa de sua integridade física e moral; contrário, eles estão estampados na legisla-
ção de regência do SUS com vistas a orientar
IV. igualdade da assistência à saúde, sem pre- todas as manifestações no campo da saúde
conceitos ou privilégios de qualquer espé- pública.
cie;
A propósito, vale registrar que o Conselho
V. direito à informação, às pessoas assistidas, Nacional de Saúde, por meio de documen-
sobre sua saúde; to intitulado Carta dos direitos dos usuários
da saúde,2 bem estampa a necessidade de
VI. divulgação de informações quanto ao poten-
as estratégias estatais nos serviços de saúde
cial dos serviços de saúde e a sua utilização
se orientarem pelos princípios presentes na
pelo usuário;
LOS.
VII. utilização da epidemiologia para o estabele- 2
Sugerimos visualização do texto na íntegra: http://www.con-
cimento de prioridades, a alocação de recur- selho.saude.gov.br/biblioteca/livros/AF_Carta_Usuarios_Sau-
sos e a orientação programática; de_site.pdf, acesso em 9.set.2013.
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4. Todo cidadão tem direitos a atendimento Para que o termo princípio não se perca
que respeite a sua pessoa, seus valores e em uma percepção meramente teórica, vale
seus direitos. considerar que
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Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
Ressaltamos, por fim, que, não obstante os Art. 24. Quando as suas disponibilidades
princípios acima elencados, ainda há muito a forem insuficientes para garantir a cobertura
se fazer no sistema de saúde pública brasilei- assistencial à população de uma determina-
ro. As notícias na imprensa nacional denun- da área, o Sistema Único de Saúde (SUS)
ciam fatos grotescos que bem demonstram poderá recorrer aos serviços ofertados pela
iniciativa privada.
o descaso estatal com uma série de direitos
básicos da pessoa humana.4
Parágrafo único. A participação comple-
mentar dos serviços privados será formaliza-
2.2. Saúde complementar
da mediante contrato ou convênio, observa-
das, a respeito, as normas de direito público
Por meio da denominada saúde comple-
(grifo nosso).
mentar, a iniciativa privada, em regime de
Direito Público, prestará serviços de saúde Há diferenças entre os contratos e os con-
inseridos no modelo e nos princípios do SUS. vênios administrativos. Na lição de Hely Lo-
Ou seja, o setor privado, em cooperação com pes Meirelles (2008, p. 214), o contrato ad-
o Estado, promoverá serviços de saúde inte- ministrativo “é o ajuste que a Administração
gral gratuitos, sendo remunerado pelo Poder Pública, agindo nessa qualidade, firma com
Público. particular ou outra entidade administrativa
para consecução de objetivos de interesse
Em um país de dimensões continentais
público, nas condições estabelecidas pela
como o nosso, o Legislador Constitucional
própria Administração”. Por outro lado, os
presumiu que o Estado não daria conta de
convênios administrativos “são acordos fir-
atender a todas as demandas relativas aos
mados por entidades públicas de qualquer
serviços de saúde e, assim, permitiu que a
espécie, ou entre estas e organizações parti-
iniciativa privada, mediante contrato ou con-
culares, para realização de objetivos de inte-
vênio, atue em cooperação com o SUS. É o
resse comum dos partícipes” (ibidem).
que encontramos estampado no art. 199, §
1º, da Constituição Federal: Há de se considerar, ainda, que,
4
A título de exemplo de nosso apontamento, sugerimos a leitu-
ra crítica da seguinte reportagem: TELLES, Giovana et al. Falta
de médicos em hospital público prejudica atendimento. O dada a peculiaridade de organização do
Globo, 10.jan.2013. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal- SUS, em que as entidades privadas partici-
-hoje/noticia/2013/01/falta-de-medicos-em-hospitais-publicos-
pantes, complementarmente, do sistema,
-prejudica-atendimento.html, acesso em 9.set.2013.
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Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
são o próprio sistema prestando assistên- da CF), poucos monopólios ficaram reserva-
cia pública à saúde da população, o Estado, dos ao Estado. Nesse sentido, embora a saú-
como o Poder Público, responderá também de seja um direito de todos e um dever do
pelo dano ou lesão causada ao paciente por Estado, este não detém o monopólio desses
ato da equipe de saúde do estabelecimento serviços, permitindo-se, portanto, a sua ex-
privado contratado pelo SUS (União, Esta-
ploração pela iniciativa privada. Contudo, a
dos-membros, Distrito Federal e Municípios)
atuação desta estará sujeita a rigorosa fiscali-
(CARVALHO; SANTOS, 1992, p. 168).
zação, regulação e controle do Estado.
2.3. Saúde suplementar
A saúde suplementar terá seus custos ar-
cados pelos seus usuários. Essa variante dos
Ao lado dos sistemas de saúde pública e
serviços de saúde está sujeita, portanto, à
complementar, a Constituição Federal, por
precificação conforme políticas mercadológi-
meio do art. 199, disciplinou o sistema de
cas de oferta e procura, próprias da livre ini-
saúde suplementar, conforme segue:
ciativa. Não obstante, o Estado intervém de
Art. 199. A assistência à saúde é livre à maneira intensa em tais serviços, impondo
iniciativa privada. até mesmo os percentuais de aumento dos
planos privados de assistência à saúde.
§ 1º - As instituições privadas poderão
participar de forma complementar do siste- Por saúde suplementar, destarte, entende-
ma único de saúde, segundo diretrizes des- -se o regime participativo do particular n os
te, mediante contrato de direito público ou serviços de saúde, concomitantemente com
convênio, tendo preferência as entidades os serviços públicos prestados pelo Estado,
filantrópicas e as sem fins lucrativos. sob forma opcional e facultativa ao respec-
tivo beneficiário, como fim de ampliar o le-
§ 2º - É vedada a destinação de recursos que de serviços à disposição do cidadão, seja
públicos para auxílios ou subvenções às ins- para servir de aditamento ou para suprir as
tituições privadas com fins lucrativos. deficiências do sistema público.
26
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
seu art. 1º, I, apresenta a seguinte definição 1. Visita domiciliar: conceito e abrangência
dessa modalidade de serviços de saúde:
As diretrizes constitucionais no trato do
Art. 1º [...] direito fundamental à saúde impõem ao
Estado a criação de estratégias para atender
I - Plano Privado de Assistência à Saúde:
às necessidades dos seres humanos em seu
prestação continuada de serviços ou cober-
território. À vista disso, destacaremos neste
tura de custos assistenciais a preço pré ou
capítulo as visitas domiciliares como política
pós estabelecido, por prazo indeterminado,
com a finalidade de garantir, sem limite fi- pública de saúde de grande relevo para a
nanceiro, a assistência à saúde, pela faculda- instrumentalização dos direitos humanos
de de acesso e atendimento por profissionais atrelados à saúde.
ou serviços de saúde, livremente escolhidos,
integrantes ou não de rede credenciada, con- De longa data, encontramos a possibilidade
tratada ou referenciada, visando a assistên- de profissionais da área da saúde atenderem
cia médica, hospitalar e odontológica, a ser os clientes em seus domicílios, seja por opção
paga integral ou parcialmente às expensas da profissional ou em decorrência da debilidade
operadora contratada, mediante reembolso do paciente para dirigir-se até o local em que
ou pagamento direto ao prestador, por conta os serviços de saúde são oferecidos.
e ordem do consumidor.
É curioso observar que, para grande
A atuação das operadoras de planos pri- parte das pessoas, até pouco tempo atrás,
vados de assistência à saúde está sujeita àa possibilidade de o profissional de saúde
Agência Nacional de Saúde, concebida pela fornecer atendimento domiciliar mostrava-
Lei nº 9.961/00. se como uma hipótese bastante remota.
Entretanto, em função de políticas públicas
A ANS atua desde a autorização de fun-
destinadas à inclusão social, a população de
cionamento, passando pela fiscalização das
baixa renda pode contar com essa modalidade
operações econômicas e serviços de saúde,
de benefício.
até a aplicação de sanções administrativas
em desfavor das operadoras faltosas com a
Desde logo, é pertinente registrar que um
legislação em vigor.
dos projetos públicos de âmbito nacional que
muito modificou a rotina da prestação de
Capítulo IV – Saúde pública – visita serviços de saúde denomina-se Programa de
domiciliar dos profissionais da saúde Saúde da Família – PSF. “A visita domiciliar do
como política pública profissional da saúde faz uma busca ativa das
doenças, e também por informações sobre
as condições de vida e saúde” (FERRIOLI;
MARTURANO; PUNTEL, 2007, p. 30).
27
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
28
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
29
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
Os profissionais formadores da equipe fi- Com efeito, cada profissional faz parte da
cam radicados na Unidade Básica de Saúde equipe de visitas domiciliares do PSF. O agente
– UBS, de modo que os clientes da microárea, comunitário de saúde – ACS é de fundamen-
caso necessário, possam encontrá-los nesse tal importância até mesmo para apresentar
local, embora as consultas médicas sejam informações a toda a equipe multidisciplinar.
agendadas previamente. “As equipes do PSF, por sua vez, direcionam
suas ações a partir das informações geradas
Cada equipe tem autonomia para estabele- pelo ACS, analisadas e discutidas com os for-
cer os dias de visita domiciliar do médico, do necedores destes dados, visando uma práti-
enfermeiro e do auxiliar de enfermagem, haja ca social construtiva e catalisadora de novas
vista que esses profissionais optam pela visita vivências” (CIANCIARULLO, 2002, p. 22).
aos clientes mais necessitados de atendimen-
to de saúde. O agente comunitário de saúde (ACS) atua
como visitador mensal das famílias. Nessa vi-
A microárea é organizada por um conjun- sita, ele acompanha a saúde de cada pessoa
to de ruas interligadas que atingem cerca de dentro da família, levando assim as informa-
200 famílias para cada equipe. Dessa forma, ções para a equipe. Ele também orienta e
as nove pessoas da equipe formada mantêm educa a população.
contato periódico com as famílias formadoras
da região delimitada. Ainda quanto à função do ACS, é pertinen-
te anotar que
2.2. Atribuições profissionais
é preconizado que o agente comunitário
Em atividade, o profissional tem suas atri- de saúde (ACS) realize, no mínimo, uma vi-
buições dentro da equipe formada, ao passo sita por família da área de abrangência ao
que são realizadas diariamente visitas domi- mês, sendo que, quando necessário, estas
ciliares. Cada equipe programa sua rotina da podem ser repetidas de acordo com as situ-
melhor forma, sendo que existe a necessida- ações determinantes de cada realidade (MA-
RASQUIN et al., 2004, p. 15).
30
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
31
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
Desses, 40% se encontram fora das possi- A visita do profissional da saúde aos do-
bilidades terapêuticas de cura”.5 micílios tem uma amplitude relevante para
o desenvolvimento social e da qualidade de
Por outro lado, para os clientes serem be- vida dos cidadãos destinatários de tais servi-
neficiados dessa modalidade de atendimento ços, além de promover a redução de gastos
domiciliar, é necessário o preenchimento de com a saúde pública, na medida em que atua
alguns requisitos específicos. Vejamos as in- na prevenção. Assim sendo, os hospitais per-
formações disponibilizadas pelo Hospital das manecem apenas para receber pacientes
Clínicas de São Paulo: com casos mais graves.
Os pacientes admitidos pelo NADI devem
A visita domiciliar tem suas fases, de modo
seguir os seguintes critérios: 1) ser paciente
que “podemos observar que muitas famílias
do complexo HC/FMUSP; 2) dispor de
recebem muito bem o profissional da saúde
cuidado no domicílio; 3) ter uma moradia
com condições mínimas para a assistência
passando por fase inicial da desconfiança que
domiciliar, dentro do perímetro de 150 Km evolui para participação efetiva” (PEDROSA;
de distância (fonte: www.incor.usp.br/ TELES, 2001, p. 46).
conteudo-medico/geral/home%20care-
html, acesso em: 10.nov.2012). Concordamos plenamente com as ponde-
rações de Rosa e Labate (2005, p. 1027), no
5
Informações obtidas na Assessoria de Imprensa do Hospital
sentido de que
das Clínicas de São Paulo, por meio do endereço eletrônico
http://www.hcnet.usp.br/assessoria_imprensa/releaseshc/2006/ a saúde da família e da coletividade po-
nadi.htm, acesso em 10.nov.2012. O site do hospital disponibi-
derá desenvolver-se de forma mais plena
liza telefone para que os clientes obtenham mais informações
acerca do atendimento domiliciar do NADI. caso seja compreendida não como um pro-
32
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
grama para a saúde restrito a procedimen- ser utilizada para o controle de doenças que
tos organizacionais e financeiros, mas como atingem altos índices em decorrência de fa-
projeto concreto, provido de interesses, di- tores pontuais, tais como surtos de dengue,
versidade, desejos e intencionalidades com tuberculose, catapora, entre outros.
o objetivo de formular políticas que promo-
vam os movimentos de rever-se e dispor-seDesse modo, após a identificação de que
a mudar. determinada doença apresenta um cresci-
mento acentuado, é possível direcionar o
É possível, pois, demonstrar o reflexo am-
profissional da saúde a ações localizadas du-
plo das visitas domiciliares, na medida em
rante as visitas domiciliares.
que tais procedimentos permitem
Pelo que se observou neste capítulo, a vi-
avaliar, desde as condições ambientais e
sita domiciliar, em suas várias maneiras de
físicas em que vivem o indivíduo e sua fa-
mília, até assistir os membros do grupo fa-
se realizar, que pode se dar por uma equipe
miliar, acompanhar o seu trabalho, levantar multiprofissional ou por apenas um profissio-
dados sobre condições de habilitação e sa- nal da saúde, tem trazido à sociedade gran-
neamento, além de aplicar medidas de con- des melhorias e benefícios.
trole nas doenças transmissíveis ou parasi-
tárias (SOUZA; LOPES; BARBOSA, 2004). De nossa parte, entendemos que esse
modelo de assistência tem boa aceitação por
No mesmo foco, há de se registrar que a parte da população, pois se trata de uma as-
visitação domiciliar, na medida em que tem sistência que identifica o problema de saúde
a família como unidade central de atuação, antes de se tornar uma emergência ou ur-
ainda mostra-se hábil para “fazer a busca gência. Com essa modalidade de prestação
ativa de casos com intervenção oportuna e de serviços de saúde, os hospitais ficam li-
precoce, e dar ênfase à prevenção e à edu- vres de filas e casos que poderiam ser resol-
cação em saúde” (FERRIOLLI; MARTURANO; vidos nos postos de saúde – unidades.
PUNTEL, 2007, p. 2).
A iniciativa da visita domiciliar, além de
Ademais, proporcionar uma favorável relação entre
o cliente e o profissional da saúde, é eficaz
a visita domiciliar pode promover também para obter dados para compreender o co-
uma interface de vigilância de saúde e garantir
tidiano de seus beneficiários, utilizando-os
ações programáticas destinadas a dar maior
para melhorar até a atuação das equipes que
amparo à população de baixa renda que,
se lançam a essa atividade.
não fosse a visita domiciliar prestada pelo
serviço público, dificilmente teria acesso aos
Outra evidência da visita domiciliar centra-
serviços de saúde em suas residências, haja
-se no fato de que a sua atuação pode se
vista a impossibilidade financeira em custear
dar tanto na esfera preventiva quanto no tra-
a visita de saúde patrocinada por entidades
particulares (NASCIMENTO; NASCIMENTO, tamento de doenças já manifestas, com es-
2005, p. 133). pecial atenção para os clientes que não têm
condições de se locomover aos pontos de
Outra questão de relevo é que a visita do- atendimento fixos, por exemplo, acamados,
miciliar pode, em benefício da comunidade, puérpuras, pós-cirúrgicos e recém-nascidos.
33
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
Por fim, a visita domiciliar do profissional (2008, p. 29), “sintetiza-se no conjunto har-
da saúde vem efetivamente colaborar no mônico de princípios que regem os órgãos, os
processo de prevenção e de recuperação agentes e as atividades públicas tendentes a
da saúde de nossa sociedade, trazendo realizar concreta, direta e imediatamente os
mudanças nos atendimentos hospitalares, fins desejados pelo Estado”.
retirando o excesso de pacientes que não são
de urgência e emergência, trazendo novas
perspectivas de melhorias e contribuindo
para um futuro melhor. na lição de Marcelo Caetano (1951, p. 23),
o Direito Administrativo é “o sistema das nor-
Capítulo V - Sanções administrativas mas jurídicas que disciplinam as relações pe-
aplicáveis aos agentes que atuam no las quais o Estado, ou pessoa que com ele
coopere, exerça a iniciativa de prosseguir in-
sistema de saúde suplementar
teresses colectivos utilizando o privilégio da
execução prévia”.
Fonte: http://www.globalframe.com.
Por fim, não é demais fazer constar a de-
br/gf_base/empresas/miga/imagens/ finição de Gaston y Marín (apud CRETELLA,
f4b65721d16ccc70cd122d84c4b8ec4135b2_200160362-001.jpg
2000, p. 28):
1. Direito Administrativo – notas prelimi- O direito administrativo estuda a orga-
nares nização jurídica dos serviços públicos, as
relações da administração com os adminis-
Tendo em vista que as sanções adminis- trados, os meios jurídicos utilizados pelas di-
trativas constituídas pelo CNSP estão sujeitas ferentes pessoas morais de direito adminis-
ao Direito Administrativo, reservaremos o es- trativo para a satisfação das necessidades
paço deste item para tecermos comentários públicas, as garantias outorgadas aos cida-
acerca desse ramo do Direito. Essa opção dãos para a defesa de seus direitos peran-
deve-se ao fato de que a atividade securitá- te a administração, o sistema dos recursos
ria nacional guarda, em muitos momentos, jurídicos outorgados aos administrados para
íntima conexão com a atuação estatal. tal fim.
De início, convém anotar que o Direito Ad- Na lição de Edimur Ferreira de Faria (2007,
ministrativo, na lição de Hely Lopes Meirelles p. 24),
34
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
o Direito Administrativo, ainda novo, pois Neste sistema, todos os litígios podem
existe há pouco mais de um século e meio, ser apreciados pelo Poder Judiciário, que é
é modernamente o rado do Direito Público o único com competência para dizer o direi-
que maior atenção vem merecendo dos es- to de forma definitiva, com força de coisa
tudiosos da Ciência Jurídica. Principalmente julgada.
por ser ele o ordenamento jurídico que im-
prime dinâmica ao Estado. É o instrumento Este sistema não veda a existência da so-
responsável pela vida da Administração Pú- lução dos litígios em âmbito administrativo
blica, movimentando o Estado, criado pelo (que existe no Brasil, influenciado pelo sis-
Direito Constitucional enquanto responsável tema francês), mas permite que tais litígios
pela organização Administrativa. É também, possam ser levados à apreciação do Poder
ao mesmo tempo, meio de proteção dos ad- Judiciário.
ministrados.
B) SISTEMA FRANCÊS (ou DO CONTENCIO-
O intervencionismo não é característica SO ADMINISTRATIVO)
de Estado autoritário. É, ao contrário, de-
corrência de Estado Democrático de Direito. Este sistema veda o conhecimento dos
Depois do liberalismo inspirado na Revolu- atos da administração pública pelo Poder
ção Francesa, verificou-se que o Estado não Judiciário, ficando estes sujeitos à jurisdi-
poderia ser mero assistente do comporta-
ção especial do contencioso adminis-
mento da sociedade. Seria necessária a sua
trativo, formada por tribunais de natureza
intervenção sempre que se verificassem
administrativa.
abusos contra o interesse coletivo. O indi-
víduo quer o que é melhor para si e, com
Nota-se que neste sistema há uma duali-
esse objetivo, disputa com os outros. Para
dade de jurisdição:
vencer, normalmente, não importa o que
acontecerá com o próximo.
• Uma jurisdição administrativa, forma-
da pelos tribunais de natureza admi-
Ao que interessa a esta disciplina, ainda
nistrativa (com competência para ma-
a título de introdução ao Direito Administra-
tivo, vale considerar que o referido ramo do térias administrativas)
Direito pode ser compreendido a partir de
uma discussão sistêmica. Assim, temos os • Uma jurisdição comum, formada pelos
sistemas administrativos, conforme segue: órgãos do Poder Judiciário, com com-
petência para as demais matérias.
Sistema administrativo (ou sistema juris-
dicional da Administração) é o regime ado-
tado pelo Estado para o controle dos atos O Brasil adotou, desde a primeira Repú-
administrativos ilegais ou ilegítimos pratica- blica, o SISTEMA DA JURISDIÇÃO ÚNICA
dos pelo Poder Público. (o controle administrativo pela Justiça Co-
mum).
Existem dois sistemas administrativos: o
sistema inglês e o sistema francês: O sistema inglês obedece ao Princípio
da Inafastabilidade de Jurisdição, ou
A) SISTEMA INGLÊS (ou JUDICIÁRIO, ou Princípio da Unicidade de Jurisdição, que é
DE JURISDIÇÃO ÚNICA, ou DE CONTRO- garantia individual e encontra-se expresso
LE JUDICIAL) no inciso XXXV do art. 5º da CRFB/1988:
35
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, Quando nos deparamos com o poder dis-
sem distinção de qualquer natureza, garan- ciplinar exercido pelo Estado, este, em nome
tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros re-do bem comum, deverá exercê-lo com vistas
sidentes no País a inviolabilidade do direito àa promover a efetividade dos princípios do
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
Estado Democrático de Direito e a valoriza-
à propriedade, nos termos seguintes:
ção da dignidade humana, que, aliás, é o fim
[...] XXXV - a lei não excluirá da aprecia- último do Direito (art. 3º, Constituição Fede-
ção do Poder Judiciário lesão ou ameaça a ral).
direito.
Aponta Irene Patrícia Nohara (2010, p.
A administração pública, no entanto, tem 33), com respaldo em Di Pietro, que o Poder
o poder de decidir sobre a legitimidade (o Disciplinar é “o poder que compete à Admi-
controle dos seus próprios atos). Há órgãos nistração Pública para apurar infrações fun-
de natureza administrativa com competência cionais e aplicar penalidades aos seus servi-
exclusiva para decidir litígios de natureza ad-
dores e demais pessoas sujeitas à disciplina
ministrativa, mas tais decisões não são dota-
dos órgãos e serviços”.
das da força e da definitividade próprias dos
julgamentos do Poder Judiciário. Tais órgãos
decidem, mas suas decisões não têm caráter
Temos, assim, que o Estado poderá exer-
cer o seu poder disciplinar em duas frentes
conclusivo, definitivo (não fazem coisa julga-
da), ficando sempre sujeitas à revisão pelo do Direito: o Penal e o Administrativo. Temos,
Poder Judiciário. no primeiro, a sanção penal e, no segundo, a
sanção administrativa. É o que, aliás, encon-
No entanto, para a administração pública, tramos na lição de Rafael Munhoz de Mello
a decisão administrativa proferida ao térmi- (2008, p. 45), que assim se manifesta:
no do processo administrativo será definitiva
quando for favorável ao particular. A adminis- O poder punitivo estatal, portanto, pode
tração pública não pode recorrer ao Poder Ju- se manifestar através das sanções penais e
diciário contra uma decisão administrativa que
das sanções administrativas, as primeiras
ela mesma haja proferido (fonte: http://www.
impostas no exercício de função jurisdicio-
licoesdedireito.kit.net/administrativo/adm-in-
nal, as segundas no exercício de função ad-
troducao.html, acesso em 12.out.2012).
ministrativa. É dizer, tanto a sanção penal
como a administrativa são manifestações
2. Direito Administrativo Sancionador
de um mesmo poder estatal como a admi-
nistrativa são manifestações de um mesmo
poder estatal, o ius puniendi. Daí se falar
em unidade do poder punitivo estatal, poder
que abrange tanto as sanções penais (direi-
to penal) como as sanções administrativas
(direito administrativo sancionador).
36
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
37
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
38
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
dor, quando a infração for de menor potencial 3.2. Sanção de multa pecuniária
ofensivo ao mercado de saúde suplementar.
6
“Art. 17. Considera-se reincidência a prática pelo
mesmo infrator de infração da mesma espécie, punida por No âmbito da Resolução Normativa
decisão administrativa definitiva. 124/06, a norma acima é repetida no seu art.
§ 1º Ocorrerá a reincidência quando, entre a data do
trânsito em julgado e a data da prática da infração 12. Ainda em sede infralegal, os demais cri-
posterior, houver decorrido período de tempo não superior
a 1 (ano) ano.
térios para aplicação da multa são glosados
§ 2º Excepcionam-se ao disposto no parágrafo anterior nos arts. 9 a 13 da norma em destaque.
as infrações previstas no Capítulo II do Título II desta
Resolução, hipótese em que o decurso de tempo não
será superior a 2 (dois) anos.” As infrações relativas ao De outro lado, a RN 124/06, com vistas a
Capítulo II, do Título II, estão dispostas a partir do artigo
45 da RN 124/2006, e dizem respeito as infrações de adequada tipificação da conduta inadequada
natureza econômico-financeira.” das pessoas sujeitas a essas sanções admi-
7
Para melhor esclarecimento, segue o conteúdo do citado
art. 8º: “Art. 8º São circunstâncias que sempre atenuam a nistrativas, apresenta um extenso rol de in-
sanção: frações e os respectivos valores das multas
I - ser a infração provocada por lapso do autor e não lhe
trazer nenhum benefício, nem prejuízo ao consumidor; ou pecuniárias.
II - ter o infrator incorrido em equívoco na compreensão
das normas regulamentares da ANS, claramente
demonstrada no processo; A tipificação (repita-se: em extenso rol)
III – ter o infrator adotado voluntariamente providências das sanções pecuniárias está disposta do art.
suficientes para reparar a tempo os efeitos danosos da
infração.” 18 ao art. 88 da citada resolução.
39
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
40
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
1 (um) ano, exceto nos casos previstos nos Vale anotar que a sanção administrativa
arts. 308, 389 e 4510. em tela, assim como a anterior, tem um lap-
so temporal delimitado para que não adentre
De acordo com a vedação constitucional na vedação constituição de penas perpétuas.
de que não haverá pena de caráter perpé- Assim, a sanção de inabilitação temporária
tuo (Constituição Federal, art. 5º, XLVII), a oscilará entre o mínimo de um e o máximo
sanção pautada na suspensão de atividade de cinco anos em desfavor do infrator.
ou profissão encontrará uma limitação de or-
dem temporal que oscilará entre o mínimo
de 60 dias e o máximo de 180 dias. Por força do art. 16 da RN 124/06, a inabi-
litação do exercício de cargo aplica-se a ad-
Em decorrência do seu efeito devastador ministradores, membros de conselhos admi-
ao ente fiscalizado, a pena de suspensão do nistrativos, deliberativos, consultivos, fiscais
exercício de atividade ou profissão deverá ser e assemelhados de operadoras de planos pri-
aplicada de maneira excepcional pela ANS. vados de assistência à saúde.
Desse modo, essa modalidade punitiva está
reservada a práticas consideradas graves à
Exemplos de inabilitação temporária são
manutenção do sistema.
os casos previstos nos arts. 30, 38 e 45.
3.5. Inabilitação temporária
Capítulo VI – Elementos do processo
A Resolução Normativa 124/06 trata ainda
da pena administrativa de inabilitação tem-
administrativo sancionador de
porária em geral e também para o exercício competência originária da Agência
de cargo ou função no setor planos privados Nacional de Saúde Suplementar - ANS
de assistência à saúde.
1. O devido processo legal no processamento
“Art. 30. Incorrer em práticas irregulares ou nocivas à
8
do processo administrativo sancionador
política de saúde pública:
Sanção – multa de R$ 250.000,00;
suspensão do exercício de cargo por 180 (cento e oitenta) Foi-se o tempo em que não havia limites
dias.
Parágrafo único. Na hipótese de reincidência, será para o Estado processar e condenar os seus
aplicada a inabilitação temporária de exercício de cargo súditos. Embora a imagem a seguir seja uma
pelo prazo de 5 (cinco) anos, sem prejuízo da multa.”
9
“Art. 38. Fornecer à ANS, exceto na hipótese do art. 33, ilustração, é bem verdade que, em tempos
informações ou documentos falsos ou fraudulentos: pretéritos, muitas pessoas foram condena-
Sanção - multa de R$ 100.000,00;
suspensão do exercício de cargo por 180 (cento e oitenta) das às mais bizarras técnicas de tortura.
dias.
Parágrafo único. Na hipótese de reincidência, será apli- No entanto, vale considerar que técnicas
cada a inabilitação temporária de exercício de cargo pelo
prazo de 5 (cinco) anos, sem prejuízo da multa.” bárbaras como a representada não foram
10
“Art. 45. Realizar operações financeiras vedadas por utilizadas somente em períodos próximos à
lei:
Sanção - multa de R$ 100.000,00; Idade Média.
suspensão do exercício de cargo por 180 (cento e oitenta)
dias.
Parágrafo único. Na hipótese de reincidência, a ANS Para vergonha da historiografia brasileira,
poderá cancelar a autorização de funcionamento e alienar a tortura institucional também foi utilizada,
a carteira da operadora, bem como aplicar a inabilitação
temporária de exercício de cargo pelo prazo de 5 (cinco)
no Brasil, na terrível ditadura do século pas-
anos.” sado.
41
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
42
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
Importa anotar que o processo administra- Os atos processuais, por sua vez, obede-
tivo sancionador, como emanação da função cerão ao princípio da celeridade e economia
de fiscalização do Estado, deverá, natural- processuais, com vistas à garantia da efi-
mente, atender aos princípios constitucionais ciência da atividade administrativa (SILVA,
2012).
impostos à Administração Pública, dentre os
quais os de legalidade, impessoalidade, mo-
3. Modos de início do processo administra-
ralidade, publicidade e eficiência, como es-
tivo sancionador
tabelece o caput do art. 37 da Constituição
Federal. Nos termos da Resolução Normativa 48/03,
o processo administrativo sancionador, sujei-
to ao duplo grau de jurisdição administrativa,
poderá iniciar-se mediante (a) auto de infra-
ção, (b) representação ou (c) denúncia.
a) Auto de infração
43
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
44
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
45
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
[...].
46
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
tando-se do modelo adotado pelo Conselho BARCELLOS, Ana Paula de. A eficácia ju-
Administrativo de Defesa Econômica (CADE) rídica dos princípios constitucionais: o
para infrações cometidas no âmbito concor- princípio da dignidade da pessoa huma-
rencial, que permite também a fixação de na. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
multas (GONÇALVES; KASTRUP; MARTINS,
2002). BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as
consequências humanas. Rio de Janeiro:
Em que pese o fato de que o TAC encontra Zahar, 1999.
normatização bastante tímida, haja vista que
se encontra instituído em apenas um artigo BRANDÃO CAVALCANTI, Themístocles. Tra-
da resolução em tela, entendemos que as tado de Direito Administrativo. V. I. 4ª ed.
demais disposições desse instrumento cons- Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1949.
tantes em outras normas de direitos difusos
e coletivos deverão ser aplicadas de modo BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Fede-
supletivo e integrador à espécie. ral anotada: jurisprudência e legislação infra-
constitucional em vigor. São Paulo: Saraiva,
São essas as considerações que julgamos 2000.
mais relevantes ao processo administrativo
sancionador. Nosso objetivo, como se obser- CAETANO, Marcelo. Manual de Direito
vou, foi apresentarmos as diretrizes elemen- Administrativo. Coimbra: Coimbra, 1951.
tares do PAS no âmbito da ANS, fato esse
CAMPOS, Juarez de Queiroz; PRESOTO, Lúcia
que, naturalmente, não dispensa da leitura
Helena. Cidadania e burocracia na admi-
das resoluções em destaque.
nistração de saúde. São Paulo: Jotacê, 2003.
47
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
CASTILHO, Maria Augusta de. Roteiro ELIAS NETTO, Cecílio. Benzeções, bru-
para elaboração de monografia em ciên- xas e benzedeiras: benzimentos acom-
cias jurídicas. 2ª ed. rev. São Paulo: Suges- panham o povo desde os primórdios.
tões Literárias, 2000. Publicado em 5.set.2013. Disponível, em:
http://www.aprovincia.com.br/conversa-de-
CAVALEIRO NETO, Hermínio Mendes. A ile- -pescador/folclore/benzecoes-bruxas-e-ben-
galidade da negativa de atendimento do zedeiras/, acesso em: 10.nov.2013.
sinistro baseada no questionário de avalia-
ção de riscos, no contrato de seguro de au- ESMANHOTO, Rita; ALMEIDA, Nizam Perei-
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http://jus.com.br/artigos/5278/a-ilegalidade-da- tec, 1989.
-negativa-de-atendimento-do-sinistro-baseada-
-no-questionario-de-avaliacao-de-riscos-no-con- FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de Di-
trato-de-seguro-de-automovel#ixzz24qVbG9lC, reito Administrativo positivo. Belo Hori-
acesso em: 28.ago.12. zonte: Del Rey, 2007.
48
Direito e Estrutura da Saúde Pública e Privada
GAGLIANO Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, MAENSI, Voltaire. O seguro no Direito bra-
sileiro: doutrina, jurisprudência comenta-
Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: con-
da e legislação. Porto Alegre: Síntese, 2000.
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