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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

CURSO DE MUSEOLOGIA

GABRIEL ANDRADE DE FREITAS

REDE LGBT DE MEMÓRIA E MUSEOLOGIA SOCIAL: análise do impacto na produção


acadêmica nacional (2012-2022) - Título provisório baseado no problema

Brasília, DF

2022
Introdução
O problema de pesquisa escolhido para o desenvolvimento desse projeto é: Analisar a
"Rede LGBT de Memória e Museologia Social" e suas repercussões na produção acadêmica
nacional (2012 - 2022). O Eixo Curricular 1: Teoria e Prática Museológica, inserido no fluxo
curricular da graduação em Museologia da Universidade de Brasília (UnB), dialoga com o
potencial do tema escolhido. Por se voltar especificamente para a pesquisa em museologia e a
teoria museológica, este eixo congrega as características necessárias que se relacionam às
discussões teóricas dessa área na contemporaneidade, abarcando com isso a temática LGBT.
A abertura conceitual da museologia e das ciências humanas em geral, a partir das
efervescências sociais e culturais presentes no Ocidente, culminando em eventos-chave como
a Mesa Redonda de Santiago em 1972, proporcionou ao campo uma integração das pautas dos
movimentos sociais bem como um rompimento com um fazer ultrapassado e tradicional.
Mário Chagas aponta como se constituiu uma nova forma de se pensar os processos museais:
A musealização, como prática social específica, derramou-se para fora dos
museus institucionalizados. Tudo passou a ser museável, ainda que nem tudo
pudesse em termos práticos ser musealizado. A imaginação museal e seus
desdobramentos museológicos e museográficos passaram a poder ser lidos
em qualquer parte onde estivesse em jogo um jogo de representações de
memórias corporificadas. (CHAGAS, 2007, p. 220)
A função social da museologia e dos profissionais da informação em geral deve voltar-
se para a "promoção da cultura, da leitura e de ações de competência em informação, bem
como ligadas à operacionalização da valorização identitária da população LGBTQIA+ e à
transformação dos espaços socioculturais." (MATA; NASCIMENTO, 2021 p. 2). Essa
necessidade visa contrapor a violência histórica e ainda presente contra indivíduos cuja
sexualidade e/ou identidade de gênero fujam do padrão heterocisnormativo estabelecido.
Mesmo com essa maior abertura conceitual ao que poderia ser pesquisado e exposto
em museus, as narrativas relacionadas à cultura produzida pela comunidade LGBT ainda não
conseguiram se integrar às discussões do campo. Como pontuado por Jean Baptista e Tony
Boita (2017, p. 135) “No que se refere ao direito à memória, atualmente a comunidade LGBT
brasileira tem um único direito, o de não ter nenhum”.
Entre os anos 2000 a 2020, "5.046 cidadãs e cidadãos brasileiros foram vítimas
mortais da intolerância, ódio e descaso das autoridades" segundo dados do Relatório
Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil (2020), compilados pelo Grupo Gay
da Bahia (GGB) e da Acontece Arte e Política LGBTI+. Essa extrema violência reflete no
processo de invisibilização dessa temática específica de pesquisa, suavizado por iniciativas
pontuais, como a organização da própria Rede LGBT de Memória e Museologia Social.
Segundo consta em sua carta de fundação, a Rede foi criada no "5° Fórum Nacional de
Museus em Petrópolis - Rio de Janeiro, 22 de novembro de 2012, em busca de
reconhecimento e da salvaguarda da memória e luta da comunidade LGBT."(Revista
Memória LGBT, Ed. 2, p. 38). Além disso, a Rede ambiciona a "geração de políticas,
programas, encontros, espaço no fórum nacional de museus e inclusão da temática e práticas
LGBT nos museus brasileiros" como forma de superação das fobias e silenciamentos
historicamente impostos.
São apontados também, nesse mesmo documento de criação, quatro ações principais
que o grupo almeja implementar, são eles: "1 - um programa específico dentro do IBRAM
enfatizando as políticas públicas voltadas para as ações museológicas de gênero – políticas de
estímulo – como editais/premiações; 2 - espaços, principalmente nos museus tradicionais,
para a exploração de acervos já existentes nos museus brasileiros, propondo um trabalho
voltado para a perspectiva de gênero; 3 - problematização no interior dos museus a partir da
perspectiva LGBT, tendo em vista que, em sua maior parte, os museus trabalham a questão de
gênero pelo ponto da heteronormatividade; 4 - que os pontos de memória, pontos de cultura,
instituições culturais, museus comunitários, ecomuseus e museus tradicionais se articulem, ao
menos uma semana ao ano, para divulgar e enfatizar o movimento LGBT e as questões de
gênero nas instituições brasileiras”. (Ibid.)
Uma das principais repercussões da Rede é a concepção e publicação da Revista
Memória LGBTIQ+, cujo primeiro número foi lançado em 2013 e continua até a atualidade,
contabilizando 13 edições no total. A Revista consegue abarcar um grande leque de
discussões a respeito dos mais variados temas através da colaboração em forma de texto e
imagens de inúmeros intelectuais, enriquecendo o debate e apresentando ao público geral
informações atualizadas do nível no qual o debate das identidades de gênero e orientações
sexuais se encontra.
Além disso, dado seu caráter coletivo e colaborativo, a Rede possui em articulação
algumas redes regionais e estaduais, como o Instituto Cultura e Arte LGBT, no Centro-oeste,
a Rede LGBT Sul e o Coletivo Memória e Resistência em São Paulo. É incentivado no
site da revista (https://memoriaslgbt.wpcomstaging.com/rede-lgbt/) a criação de outras
redes, colocando-se o contato a disposição para auxiliar nessa articulação contínua.
Outros exemplos de ações articuladas pela Rede são: o I Seminário Museus,
Memória e Museologia LGBT realizado em 2015, no Rio de Janeiro, em parceria com o
Museu de Favela Pavão, Pavãozinho e Cantagalo (MUF); o IV Seminário de Política de
Acervos - Memória e Patrimônio LGBT, no Museu Victor Meirelles/Ibram, em
Florianópolis (SC); o II Seminário Museus, Memória e Museologia LGBT+ Feminismo,
efetuado na internet por conta da pandemia de covid-19; e o Seminário Museus, Memória
e Museologia LGBT+ Resistências: IV Museus e Resistências III Seminário Brasileiro de
Museus, Memória e Museologia LGBT, em Outubro de 2021 também de forma remota.
Há importância em pesquisar a temática LGBT para o fortalecimento da bibliografia
dentro da academia, principalmente na museologia. Os esforços de membros da Rede em
consolidar uma Museologia LGBT, que será tratado mais à frente neste projeto, pretende não
apenas a superação de fobias mas também a inclusão narrativa de memórias subjugadas, bem
como a demonstração de que realidades não normativas são possíveis e válidas.
Este projeto congrega temas cuja importância em se discutir é de máxima urgência
dado o contexto político e social do país. A violência simbólica e o assassinato narrativo que
as lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e afins sofrem diariamente
precisam ser combatidas com uma museologia preocupada com as causas sociais.
Justificativa
A delimitação temática relaciona-se diretamente com minhas vivências pessoais.
Como homem gay cisgênero e estudante de museologia percebo o reflexo da LGBTfobia
dentro dos discursos museológicos, principalmente referente a certa resistência em inserir
essas narrativas diversas e no aprofundamento da discussão na academia. Além disso, apesar
da previsão legal dispor que a valorização da diversidade cultural e o respeito são princípios
fundamentais dos museus, é ainda observado um apagamento histórico de memórias que
fujam ao status quo heterocisnormativo, como a da comunidade LGBT.
Possuo experiência em pesquisa relacionada a essa temática, com dois anos seguidos
de iniciação científica (PIBIC). O primeiro, com título "Revista Memória LGBT:
Museologias dissidentes e memórias corporificadas", efetuei uma análise qualitativa de onze
edições da Revista Memória LGBT (RMLGBT), periódico digital de metodologia
compartilhada, participativa e colaborativa, criado pela Rede LGBT de Memória e
Museologia Social e disponibilizado em domínio digital próprio gratuitamente. Dentro dessa
análise constatei a forma na qual os textos publicados ao longo dessas edições abordaram os
conceitos de Museologias Dissidentes e Memórias Corporificadas.
A partir dessa primeira experiência e dado o contexto geral de início da pandemia de
covid-19, observei a importância de publicações que seguem esse padrão informativo aberto e
disponível, principalmente na abordagem da temática relacionada as indentidades de gênero e
orientações sexuais. A RMLGBT exibe uma potencialidade virtual no cumprimento do tripé
fundamental da museologia, a preservação, pesquisa e comunicação das informações,
propiciando um protagonismo das memórias discriminadas, algo que pode acarretar em maior
justiça social.
No segundo trabalho de iniciação científica, de título "Museologias indisciplinadas e
tendências de pesquisa: repercussões da temática LGBT no Seminário Brasileiro de
Museologia", no qual faço uma análise quantitativa através de metodologia descritiva e
exploratória dos anais do Seminário Brasileiro de Museologia (SEBRAMUS). O objetivo
central era demonstrar a repercussão do discurso LGBT na pesquisa sobre museologia no
Brasil.
A ilustração dos números em gráficos demonstra que em comparação a totalidade de
trabalhos apresentados nesse evento a ocupação da temática LGBT ainda é bastante tímida,
apesar de apresentar evolução na comparação com outros anos. O retrato dessa construção
teórica representado no SEBRAMUS demonstra como é necessária a organização do
pensamento acadêmico em redes, como a Rede LGBT de Memória e Museologia Social, na
qual seus membros se destacam numericamente na apresentação da temática.
A escolha em analisar a Rede e suas repercussões como fonte principal desse projeto
condiz com a necessidade em entender a capilaridade de um discurso voltado ao respeito à
diversidade de gêneros e orientações sexuais. Os produtos desenvolvidos pela mesma
conseguem demonstrar de que forma o campo museológico aceitou essa integração de pautas
sociais bem como o avanço relativo à visibilidade dessas narrativas insurgentes.
Há ainda diversas dificuldades impostas neste campo, como o caráter heterogêneo das
narrativas LGBT+, justificado pela abrangência de subjetividades que convergem em virtude
da negação à heterocisnormatividade, em que é marginalizada a cultura produzida por seus
integrantes pela academia e sociedade em geral. Ao pesquisar essa temática pretendo não
apenas enriquecer o debate e a bibliografia, mas também demonstrar como a museologia
consegue congregar uma infinidade de possibilidades.
Objetivos
O objetivo geral da pesquisa é analisar a "Rede LGBT de Memória e Museologia
Social" e suas repercussões na produção acadêmica nacional, entre os anos de 2012 e 2022.
Sendo os objetivos específicos: (i) contextualizar a Rede LGBT de Memória e Museologia
Social; (ii) sistematizar conceitos decorrentes da discussão teórica e metodológica, como
letramento informacional e revisão integrativa; (iii) discorrer sobre a relação teórica entre
museologia e a discussão sobre identidades de gênero e orientações sexuais.
Revisão de literatura
A abertura conceitual da museologia proporciona uma maior disposição na geração de
variações necessárias para a evolução teórica da disciplina. É proposto por Jean Baptista,
Tony Boita e Camila Wichers (2020) em artigos publicados na Revista Memórias
LGBT+Feminismo e na Museum International, revista do Conselho Internacional de Museus
(ICOM), a concepção de uma Museologia LGBT. Essa proposição visa promover as
narrativas que divergem da matriz heterossexual e cisgênera por meio da criação de políticas
públicas culturais responsáveis na inclusão.
Para os autores, a Museologia LGBT é definida, resumidamente, como:
"[...]um conjunto de concepções e práticas realizadas por pessoas que
pertencem aos extratos populares dissidentes da matriz heterossexual latino-
americana, interessada na salvaguarda dos patrimônios de suas comunidades
sem se desconectar do campo da política pública e, consequentemente, da
superação da realidade opressora a que nossos corpos minoritários são
cotidianamente submetidos pelas elites brancas e detentoras das riquezas
nacionais."
A importância em nomear e particularizar uma forma de museologia está no fato de
que a discussão acarretada pelas mudanças paradigmáticas da Nova Museologia não
conseguir abarcar essas realidades não normativas, o que acarreta em sistemático apagamento
das memórias dissidentes. Esse fator é denominado "homolesbotranfobia museológica"
(BOITA, 2020). O autor define essa expressão como "todo e qualquer procedimento da cadeia
operatória que é utilizado como argumento para invisibilizar e/ou ignorar as pessoas LGBT,
priorizando, escondendo ou até estimulando a desinformação ou a deterioração dos bens
culturais museológicos." (p. 107)
Dos mais de 3000 (três mil) museus registrados no Brasil, segundo dados do IBRAM
(http://museus.cultura.gov.br/), apenas 46 destinaram algum tipo de ação para a comunidade
LGBT (Ibid, p. 110). Boita pontua com base nesse universo possibilidades reais de como
museus tido como tradicionais transformam suas narrativas para abarcar sua função social, na
inclusão e respeito a todos independente da orientação sexual e identidade de gênero.
Instituições como Museu das Bandeiras, no qual exerce função de diretor atualmente,
Museu Histórico Nacional, Museu Victor Meirelles, Museu da República, CCBB Rio de
Janeiro, British Museum e Victoria & Albert Museum (Ibid.), demonstram que através de
seminários, exposições físicas ou virtuais e até mesmo de tipos diferenciados de visitas
guiadas, é possível conjugar as narrativas não normativas.
Conceitos chave particulares da Ciência da Informação podem também auxiliar na
construção de uma base epistemológica sólida na inclusão narrativa de pessoas LGBT. O
letramento informacional, entendido aqui através da definição de Kelley Cristine Gasque
(2012) como: "corresponde[nte] ao processo de desenvolvimento de competências para
localizar, selecionar, acessar, organizar, usar informação e gerar conhecimento, visando à
tomada de decisão e à resolução de problemas." (p. 28) serve como principal guia para
execução dos objetivos deste projeto de pesquisa.
A capacidade na qual o letramento tem em qualificar indivíduos na busca e utilização
da informação de forma eficiente converge para a função social da Ciência da Informação,
trabalhada aqui anteriormente, na busca da "democratização social" (MATA;
NASCIMENTO, 2021 p.8) em relação às "lacunas informacionais" (Ibid. p.7) que
possibilitam preconceitos e violências.
É escolhido a palavra "letramento" em detrimento de termos como "competência",
"literacia", "alfabetização" e afins pelas mesmas razões apresentadas por Kelley (2012), que
defende esta como a mais adequada tradução de information literacy…
Metodologia
(estudo de caso sobre trajetória e repercussão da Rede/ o que é estudo de caso/ mapeamento
das repercussões/ revisão integrativa/ entrevista com os coordenadores)
Cronograma
Etapas que serão executadas ao longo do período de um semestre são:
1 – Diálogos com orientador;
2 – Levantamento bibliográfico, leitura, fichamento e produção textual;
3 - Mapeamento dos cursos de museologia e dos repositórios institucionais, elaboração de
instrumento para coleta e organização dos dados;
4- Análise dos dados com produção final da monografia;
5- Revisão (português e forma/ABNT);
6- Banca (entrega do trabalho e defesa);
7- Parte administrativa final (secretaria FCI).

Etapas Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril

1 X X X X X

2 X X X

4 X X

5 X X

6 X

7 X
Referências bibliográficas
AYRES, Carla Simara Luciana da Silva; GASTALDI, Alexandre Bogas; MOTT, Luiz;
OLIVEIRA, José Marcelo Domingos de; SOUZA, Wilians Ventura Ferreira; SILVA; Kayque
Virgens Cordeiro da. Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil - 2020:
Relatório da Acontece Arte e Política LGBTI+ e Grupo Gay da Bahia. 1. ed. –
Florianópolis: Editora Acontece Arte e Política LGBTI+, 2021.

BAPTISTA, Jean; BOITA, Tony; WICHERS, Camila Moraes. Existe uma Museologia
LGBT? In: Museologia LGBT: Cartografia das Memórias LGBTQI+ em Acervos, Arquivos,
Patrimônios, Monumentos e Museus Transgressores. Rio de Janeiro. 2020. Editora Metanoia.
No Prelo.

BOITA, Tony W.. LGBTFOBIA Museológica: algumas reflexões sobre as estratégias


simbólicas utilizadas nos museus para invisibilizar pessoas LGBT. Ventilando Acervos, v.
1, p. 104-115, 2020.

CHAGAS, Mário. Casas e portas da memória e do patrimônio. Em questão. Porto Alegre,


v. 13, n. 2, p. 207-224. Jul/Dez 2007.

GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Letramento Informacional: pesquisa, reflexão


e aprendizagem. Brasília: Faculdade de Ciência da Informação / Universidade de Brasília,
2012.

MATA, Marta Leal da; NASCIMENTO, Marcela Aguiar da Silva. O comportamento


informacional e a competência em informação: uma abordagem a partir do contexto das
pessoas trans e travestis. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo,
v. 17, n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-19, 2021.

Rede LGBT de Memória e Museologia Social. Revista Memória LGBT. Ano 1, vol. 2, p.
38-39, jan./mar. 2014.
Proposta de Sumário
1. Letramento/ competência da informação
a. geral
b. pesquisas sobre LGBT/gênero
2. Teoria LGBT
3. redes
a. definição/exemplos/debate com Ciência da Informação
b. historicizar a Rede
4. letramento e Rede (revisão integrativa)

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