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A cobranga crescente pela quantficacao do consumo de energia em edificios a0 redor do mundo fez das simulagbes computacionais de desempenho ener gético cambiental uma parte essencial do processo de projeto. Os métodos de avaliagdo de desempenho apoiados em técnicas de simulagio computacional Joana CaRta Sones Gor Noreesr0 Coats 08 ‘Suva Moura ERICA MITIE UMAKast Ku Vieram aprimorar o processo de projeto com a investigacao criteriosa sobre © impacto dos vérios aspectos arquitetOnicos e do programa de atividades no desempenho ambiental dos edificios. Desse modo, a eficiencia de solucdes projetuais derivadas da interpretacio arquiteténica dos principios da Fisica pode ser comprovada, quantificada e aprimorada Varidveis do desempenho térmico ¢ luminoso e edificios podem ser quantificadas ¢ visualizadas por meio de simulagées computacionais, incluindo temperatura, umidade, movimento do ar, insolagio, sombreamento e niveis de iuminagao (Fig. 11). Pro igramas de avaliagio do desempenho ambiental de pro- jeto arquitetonico oferecem uma sofisticada e clara co- saunicacto visual dos fendmenos da Fisica aplicada a0 ambiente construtdo, facilitando sua compreensto € aproveitamento no processo de projeto, Esse provesso, por sua ver, se beneficia da répida verificacio do de- sempenho comparativo de solugdes alternativas possi- Bilitadas pelas simulacoees No campo do desempenho térmico ¢ energetico, maiores vantagens das técnicas computaci- sssais, quando comparadas aos métodos analiticos ‘mais simplificados, & @ possibilidade da avaliagto Sermodinimica, que considera variagées do clime eexterno, bem como do padrio de ocupagio c, ainda, fe efeitos da inércia térmica da construgio 20 longo Ge tempo. Com relagdo aos resultados, no caso de difcios dependentes de sistemas de climatizagio wulagBes de termodindmica fornecem adios de carga térmica de resfriamento e/ou aqueci- ema das Bttificial, as : ‘2 desezemro Func de toro Fig. 11.1 Simule¢ao do deserpeniho luminoso da sala da Assem bleia do Elificio do Senado do Pas de Gales, no Reino Unio, no salstiio de vero (71 de uno) eno equinécio de outone ssterbo), Vsea boa distrbuigio da hz natu (sm ain ludncia da luzartficl eaauséncia de raios da luz rts, que fcam reser 2s paredes do grande cone que conecta a sala 20 ambiente 2 Fonte: DSP Partnership, mento, dependendo do clima em questo e dos requisitos de desempenho. }é para edificios cujas condicées ambientais sio determinadas por estratégias passivas, a simulasio de termodinamica viabiliza a quantificagao desse potencial, com identificagdo do total de horas em que os espacos internos apresentam condi de conforto térmico, de acordo com parametros especificos e preestabelecidos. Passando da etapa de quantifcagio do desempenho para uma abord: mais qualitativa da arquitetura, as simulagdes computacionais contribuem p: © entendimento das condigdes ambientais possiveis de serem aleancadas er corréncia de mudangas climéticas do dia ou do ano, assim como da utlizaczo & estratégias de adaptacio as condicoes ambientais ¢ das variagbes no uso dos 08. Dessa maneira, os beneficios das simulagdes computacionais para a aval do projeto arquiteténico vao além do célculo de cargas vérmicas ou temperatures extremas. Como apontado por Yannas (2011), trata-se aqui da caracterizacio ¢ visus lizacao de aspectos da qualidade ambiental interna, tomada pela perspectiva usuitio e alcangada por meio de recursos do projeto (ixos e/ou flexiveis para = adapta¢do ambiental), em condigdes climaticas no apenas criticas, mas tamb: tipicas do ano e do clima interno dos edificios. Nessa caracterizacio, reiiner-se informagées sobre temperaturas, umidade, movimento do ar, insolacdo, som ‘mento, luminosidade, vistas ao exterior, transigSes microclimaticas ¢ quaisque outros fatores importantes para a qualidade de um determinado ambiente. No entanto, pot outro lado, pode-se argumentar que qualidade ambiental fax parte da dimensio temporal da arquitetura, ou seja, é uma condicao dina petcebida durante experiéncia de uso e ocupagao do espaco. Por isso, éimposs de ser completamente capturada por imagens de simulagao. ‘Tanto do lado quantitativo das eargas térmicas ou das temperaturas como ds avaliagdo mais qualitativa do ambiente, é fandamental considerar que os métod: analiticos de simula¢o computacional no passam de simplificagdes da realid (mesmo nos modelos mateméticos mais elaborados). Jé 0 uso € a operagio de edificios, assim como a satisfaggo dos usudrios, so questoes mais complexas gu podem ser representadas pelos procedimentos de simulagao. Tal complexid into se refere a reprodugio dos fendmenos da Fisica ou aos modelos de calcu! ‘matemético, mas sim a imprevisibilidade e variagdes do clima, além das iniime possibilidades que definem o comportamento eas preferéncias dos usuarios. Metodologicamente, sabe-se que o maior beneficio dos procedimentos a ticos e das simulagdes computacionais para as anilises de desempenho ambic reside nas etapas iniciais de projeto, concomitante definigao do partido arquitet® nico. Quando aplicados somente nas etapas finals do projeto, o seu papel se resume em uma agdo corretiva e restrita, muitas vezes, resultando em uma contribu ‘marginal para o desempenho ambiental dos edificios. Ao contririo disso, qua incluidos nas etapas de concepgao e consolidacao do projeto, esses procedlimen ¢ simulagdes passam a fazer parte do processo de criagio das solugdes projetuais cefetivamente dando forma e qualidade & arquitetura 11.1 O DESEMPENHO AMBIENTAL DE ESTRATEGIAS ARQUITETONICAS Estudos paramétricos constituem a etapa inicial de avaliagdo do desempe ‘nho ambiental do projeto de arquitetura, Nessa etapa do processo, imp: de cada variével do projeto ¢ verificado isoladamente. Como exemplo diss toiricio Amatenrat Bhatla (2011) comparou a reducdo na carga térmica de resfriamento em um caso-base de uma unidade residencial localizada na cidade indiana de Chen. nai (latitude 13,0°N), de clima quente e imido, por efeto do sombreamento externo das dreas envidracadas, versus o uso de isolamento térmico das fa- chadas externas. As simulagdes de desempenho térmico mostraram que sombreamento resultou em aproximadamente 32% de redugdo contra 37% al «cangados com 0 isolamento. Jé o efeito conjunto das duas estratégias mostrou uma tedugdo de quase 50% (Fig. 1.2) 90 a3 Sombreamento lant Demand engin anual de tsiamento rieneags Norte Sul Ml owrasotateoore Sombreamenta dem cemeosem (U=08 wim) thimice Fig. 11.2 Simulaso da carga térmica de resfiamenco do cao-base de uma unidade residencil em Chena, na ind resuhonte eos he has etratgias de projeto: sombreamentoe iolamento cermieo Fonte: Bhatle (201) Complementando as anslises comparativas entre o Impacto de diferentes estratégias, anslises sensiti- as de desempenho mostram a relagdo entre vari- ages na especificagdo de uma determinada varié- el eos consequentes ganhos na eficiéncia da estra- gia. Voltando aos estudos analiticos para Chen- ai, Bhatla (201!) testou a variagio na redugio da carga térmica com o aumento da protecio horizon fal de 1 m para 3 m. Como resultado, o primeiro szctro de sombreamento mostrou uma redugio ex- Pressiva na carga térmica interna que, entretanto, mostrou set menos relevante a cada metro de som- Breamento adicionado (Fig. 11.3). Vale mencionar, ind, que tanto nos estudos paramétricos como ‘22s anilises sensitivas, a importancia da quantifica- s#0 do desempenho de determinadas solugoes esta Ssuito mais nas diferencas comparativas do que no salor numérico absoluto, Polanco srbrearenco 11.3 Impactode procegbes solares de diferentes profunciiades| a carga térmica de resriamenta da unicade residencial Fonce: Bhatia (201) 1_Avaliagio de desempenho,simulag3e computacional eo projetoarquiteténico ‘Além das analises paramétricas e sensitivas, a ea boragio de diretrizes de projeto para a busca de um me: lhor desempenho ambiental implica na verificagio do efeito cumulative de um conjunto de estratégias. Yannas (2008) demonstrou a reducéo da carga térmica anual de resfriamento em um ambiente tipico de escritorios em Dubai, de 230 kWh/m? para 36 KWh/m?, como con sequéncia do efeito cumulative de uma série de medi- das arquitetdnicas (em sequéncia): aumento da tempe- ratura de conforto (de 22 °C para 29 °C), redugio do percentual da drea envidragada em relacio & rea de en- voltoria (WWR de 100% para 50%), mudanca na orien- tagio predominante das aberturas de este ¢ oeste para norte ¢ su, introdagao de sombreamento contra a radi- acio direta, aumento do isolamento das paredes opacas (de1,0 W/m? K para 0,25 W/m? -K) e, por fim, a intro. dugio da ventilagio natural nos periodos mais amenos do ano (Fig. 114). Apesar de a ordem dos fatores nao alterar o resultado final, a verficagao da contribuicao cumulativa das varias estratégias parte daquela de maior impacto para a de menor impacto. Dessa forma, sio in- dicadas com clareza aquelas que ttm uma importancis maior no desemperiho energético do modelo, ‘No que tange a definicto do partido arquiteténico, ‘em principio, critérios de desempenho ambiental nao 2.comocasot i 2 & g 3 estabelecem uma forma dtima predefinida, tampouco 0 projeto de demais aspectos definidores da estética ar itetOnica, como componentes construtivos. Ao con- trio dss, oentendimento das quests fundamentas do desempenho ambiental, incluindo a influéncia do programa de atvidaes, das expectativase hbitos dos Liu ponurtenlpilinparinati iPM OU aa eaten bm PL mic aan oe cecaproe _tuidades para a exploragto arqultetnica,desafando aaa i ea dcasaaioenreaneade em ima instinca, deias preconcebidas ndo somente Jel caren de pao de arquiteara, mas também de desempenho ambiental Fonte: Yannas (2008). Estudos analiticos de desempenho ambiental realizados para o projeto da Escola de Economia de Toulouse (TSE), na Franca, representam som wR Fig. 11.4 Reclusio de 250 Whim" para 36 kWhim* da carga ter lum exemplo da aplicabilidade dessas técnicas para a geragao de uma diversidade de alternativas arquitetonicas (Fig. 115). Por outro lado, técnicas de simulagdo computacional para a avaliagio de va. sveis do desempenho ambiental constituem uma ferramenta importante de teste para o processo de projeto, contribuindo para a criagio de uma estética arqui tetOnica aclamada como ambiental. A forma curvilinea do edificio 30" St, Mary ‘Axe, em Londres (antiga sede da empresa Swiss Re), por exemplo, é fortemente justfcada pelo seu desempenho relacionado a0 padrao de venilagio geraclo no entorno imediato do edificio, sem a criagdo de turbuléncias tipicas das formas retangulares, e por suas vantagens para a ventilacdo natural dos espagos internos, em consequéncia da distribuico dos coeficientes de pressio do vento ao redor da Se __ Eoiricio Amouentat Fig. 1.5 Solucses do projerod Economia de Toulouse Franga. com visas 20 desempenho térmico © luminoso dos esos incernos A parce superior de gua mostra a resposta arquitetd as opsbes de aberturae protecio solr sugerdas com base em resultados de estudos Fonte: Grafton Architects envoltéria. Este foi o desempenho demonstrado em simulagoes computacionais de dinamica de fluidos (CFD, Computational Fluid Dynamics) (Figs. 1.6 ¢ 1.7). Entretanto, a justificativa da forma curvilinea do edificio exclusivamente pelo seu desempenho ambiental néo parece légico, uma vez que desempenho similar poderia ser alcangado com alternativas arquiteténicas mais simples e convencio- nais, Certamente, o projeto da antiga sede da empresa Swiss Re foi movido pela intengio de criagao de um {cone arquiteténico, de forma inusitada, da geragio de edificios altos, influenciada por critérios de desempenho ambiental ‘A principio, o uso da sirmulagao computacional de desempenhio ambiental na busca de formas arquiteténicas constitui um procedimento metodologicamente vi lido desde que o processo seja guiado por principios ¢critérios objetivos ¢ também Fig. 116 Simulagéo do impacto da forma do edifcio 30" st. Fig 1.7 Simulagio do pacdo de ventlacio no ambiente w ‘Mary Axe na ventiago do eneorna imediatofeita com programa do eifcio 30” St. Mary Axe, confrmando a ausncia de rurbulé computacional de dindmica de fuidos, mostrando a auséncia de as

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