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DO ENSINO DE
HISTÓRIA
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
ISBN 978-85-459-0733-6
CDD - 22 ed. 372-89
CIP - NBR 12899 - AACR/2
SEJA BEM-VINDO(A)!
Prezado(a) aluno(a),
Na primeira unidade deste material procuramos buscar pelas origens da palavra His-
tória, compreendendo seus diversos sentidos. Partiremos da análise da História como
ciência e depois enquanto disciplina escolar, buscando entender questões epistemoló-
gicas do conhecimento histórico na atualidade.
Na sequência, vamos compreender que ensinar História é criar a possibilidade de in-
vestigação, sem separar o ensino da aprendizagem e da pesquisa. Daremos ênfase no
professor, enquanto um sujeito histórico, inserido em um grupo social no qual interage
e, por isso, tem um papel fundamental na construção do conhecimento histórico por
parte dos alunos.
Isso porque o ponto de partida de qualquer trabalho voltado para o ensino-aprendi-
zagem de História envolve considerar o repertório dos alunos. As crianças participam
de inúmeros espaços de convívio em que se socializam, produzem e reproduzem uma
ininidade de regras, valores, hábitos e costumes. Além do convívio familiar, do bairro, da
escola, das festas e da Igreja, ainda contam com os meios de comunicação e informação
como a televisão, o rádio, o jornal, o cinema e o mais adorado de todos, a internet.
Na terceira unidade, aguçaremos em você, caro(a) aluno(a), o interesse pelas várias for-
mas de acesso ao conhecimento histórico e diferentes fontes e linguagens: fotograia,
vídeo, obras de arte, textos e documentos de época. Isto porque se faz necessário de-
senvolver as habilidades de observação, identiicação e compreensão, além da própria
linguagem (forma, estética, composição do todo), para estabelecer relação entre for-
ma e conteúdo nas fontes históricas, além, é claro, de aprender a utilizar didaticamente
estes documentos históricos em sala de aula. Em outras palavras, devemos considerar
nossos alunos como sujeitos que possuem um repertório cultural enorme e que exer-
cem a cidadania constantemente, daí a necessidade de considerar estes documentos
históricos como recursos que possibilitam a aprendizagem do alunado.
Dando continuidade, na quarta unidade apresentamos o planejamento e a avaliação con-
siderando suas características e especiicidades voltadas ao ensino de História. Além disso,
analisaremos o Parecer/Lei 10.639/03 – transformada na Lei 11.645 de 2008, que incluiu a
temática Cultura Afro-brasileira e Indígena, abrindo possibilidades à ediicação da igual-
dade e da repreensão às atitudes e posturas de discriminação no ambiente escolar.
Para inalizar, a última unidade traz a questão do tempo como categoria essencial para
se pensar a História. Aqui analisaremos o mundo e sua temporalidade, adquirindo a
capacidade de transcender os referenciais usados na divisão do tempo histórico, que
considera somente os marcos do poder e da dominação. Por im, daremos condições a
você, de identiicar e avaliar as etapas em que as crianças se encontram com relação ao
domínio das relações temporais.
Boa leitura!!
Professora Priscilla C. M. Paixão
09
SUMÁRIO
UNIDADE I
A HISTÓRIA TEM HISTÓRIA
15 Introdução
38 Considerações Finais
45 Referências
UNIDADE II
TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTÓRIA
51 Introdução
70 A Formação de Conceitos
85 Considerações Finais
93 Referências
95 Gabarito
10
SUMÁRIO
UNIDADE III
A UTILIZAÇÃO DOS DOCUMENTOS HISTÓRICOS EM SALA DE AULA
99 Introdução
125 Anotações
133 Referências
135 Gabarito
UNIDADE IV
A PRÁTICA PEDAGÓGICA E O ENSINO DE HISTÓRIA
139 Introdução
196 Referências
199 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE V
HISTÓRIA: A CIÊNCIA DO HOMEM NO TEMPO
203 Introdução
236 Referências
238 Gabarito
239 Conclusão
Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
I
UNIDADE
A HISTÓRIA TEM HISTÓRIA
Objetivos de Aprendizagem
■ Buscar pelas origens da palavra História, compreendendo seus
diversos sentidos.
■ Analisar a História enquanto ciência e disciplina escolar.
■ Entender questões epistemológicas do conhecimento histórico e a
problemática do conhecimento no ensino de História da atualidade.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Origem e sentido da palavra História
■ A História enquanto ciência
■ A História enquanto disciplina escolar
■ A História ensinada na atualidade
15
INTRODUÇÃO
Para iniciarmos nossas discussões, teremos que nos remeter à origem da pala-
vra História, visto que tudo tem uma História, um começo, uma origem. Com
esta palavra não poderia ser diferente. É por isso que dizemos que a História
tem história. Partiremos de sua deinição, buscando suas origens. Depois, pen-
saremos na História enquanto disciplina escolar. Talvez, neste momento, você
já esteja pensando que estudar tal disciplina seja um tanto monótono. Porém,
tenho certeza que ao inal desta leitura, você se dará conta do quão prazeroso é
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
estudar uma disciplina que por muito tempo icou relegada a um segundo plano.
A História é uma disciplina que faz parte das chamadas “humanidades”, termo
pelo qual os franceses designam estudos humanos superiores. Apesar disso, a
história teve seus foros de ciência negados por muito tempo, sendo considerada
uma disciplina de segunda categoria. Lembremo-nos que no Brasil dos séculos
XIX e XX, a educação escolar se limitou a ensinar a “ler, escrever e contar”. A
ênfase do trabalho docente restringia-se à “alfabetização”, na maioria das vezes
compreendida como aquisição da leitura, da escrita e do domínio das quatro
operações matemáticas. Assim, raramente havia lugar para o Ensino de História.
No entanto, compreendemos a alfabetização como a capacidade de leitura
não só do texto, mas também da experiência humana vivida por todos e como
construção da própria história. Nesta perspectiva, entendemos leitura/escrita
não somente como a habilidade mecânica, mas como uma manifestação de
cidadania. Estudar as informações históricas a partir da realidade social com o
objetivo de desenvolver o raciocínio histórico deve constituir o objeto das aulas
de História. Há vários encaminhamentos na defesa da disciplina. A História fas-
cina e é capaz de transformar o sujeito, por isto dizemos que cabe a ela “formar
um cidadão crítico, relexivo e atuante”.
Portanto, caro(a) aluno(a), podemos airmar que a História tem histó-
ria e que sua aplicação como disciplina escolar passa por uma revisão que lhe
confere um grande valor na atualidade.
Introdução
16 U N ID A D E I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nas três dimensões básicas do tempo – passado, presente e futuro – a História
tem seu destaque. Marc Bloch (1886-1944), um dos fundadores da escola dos
Annales francesa, deiniu a história como a ciência do homem no tempo. Este
historiador, vítima dos nazistas, foi executado por não concordar em por sua
história a serviço dos ideais de seus torturadores, e merece toda ênfase por ter
participado da revisão de conceitos e métodos da chamada Nova História.
Parece claro que, se todos os homens puderem perceber a realidade vivida
e compará-la com aquela que estão vivendo, seriam mais conhecedores de seus
destinos. É a nossa experiência posta a serviço de nossos “acertos” em nossas
escolhas de vida. É por isso que existe a necessidade de conhecer a “história”
que a disciplina histórica nos oferece, a sucessão de fatos passados fornecendo
exemplos a serem imitados ou rejeitados no presente.
Este resgate parcial da História, como uma “mestra” da vida, ainda persiste
como um dos meios mais eicazes para educar as novas gerações e a elas apre-
sentar o que o passado humano tem a oferecer de didático. Gosto muito de citar
a introdução da obra do historiador Leandro Karnal (2004), História na sala de
aula: conceitos, práticas e propostas para pensarmos sobre os sentidos da pala-
vra História.
Para o historiador, podemos entender o exercício proissional da História
de muitas formas. Karnal também faz opção pelo diálogo entre o passado e o
presente, porque não podemos reconstruir um passado exatamente como era,
nem tão pouco podemos nos remeter ao passado com “os olhos do presente”,
ou melhor, com “pré-conceito”. Uso o termo desta maneira, porque deinimos
o “pré” como sendo algo que antecipa o que está por vir, assim olhamos o pas-
sado com a concepção que temos do presente.
O passado existe e isto é inegável. Porém, quem lança o olhar sobre ele, faz
o recorte, escolhe, dimensiona e narra este passado é um sujeito do tempo pre-
sente. Para ilustrar tal airmação, Karnal (2004, p. 8) nos conta uma icção:
Imaginemos uma menina de 15 anos que esteja no seu baile de de-
butantes (será que ainda existem no século XXI?). Vestida de branco,
emocionada, ela vive um momento muito especial. Música, amigas, um
possível namorado, comida e muitos fatos para guardar e comentar.
A festa é densamente fotografada e ilmada. Passados dez anos, nossa
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protagonista iccional chegou aos 25. Ela olha os ilmes e as fotos e pode
vir a considerar tudo de extremo mau gosto. Abrindo o álbum em meio
a suspiros, poderia dizer: “Por que não iz uma viagem com esse di-
nheiro?”. Passado mais meio século do baile, eis nossa personagem aos
65 anos. Já de cabelos brancos, ela abre o álbum amarelado e comenta
com seus netos: ”Olhem como eu era bonita! Que noite maravilhosa
foi aquela”.
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constantemente; o fazer histórico é mutável no tempo, sendo assim, mudam-se
também seus agentes. Além disso, a ação pedagógica não pode icar presa ao pas-
sado, pelo contrário, precisa acompanhar tais mudanças sociais e de mentalidade.
Figura 1 - Heródoto
Fonte: Edukavita (2015, on-line) 1.
cos parece ter-se consagrado na época do
historiador Políbio, no século II a.C. “com a
reserva de que, como o saber histórico daqueles tempos não conhecia o rigor
atualmente exigido, associando-se ainda a fábulas e as lendas” a precisão dos
fatos cedia lugar a um termo empregado para deinir a disciplina, qual seja o
de “narrativa”.
O mesmo Glénisson (1961, p. 13-14) nos adverte que “hoje, ao pronunciar-
mos a palavra História”, temos de diferenciá-la entre “três sentidos possíveis: o
de realidade histórica (...), de conhecimento histórico e (...) de obra histórica”,
assim como ilustramos a icção da personagem em seu dia do baile de debutan-
tes (KARNAL, 2004).
Isto signiica que existe um conjunto de fenômenos a ser estudado na vida
passada da humanidade, a história representando a observação deste movi-
mento pelo historiador que, em seguida, registra tais observações em seu relato
de cunho cientíico numa obra histórica.
Por este ângulo, podemos deinir a palavra História como sendo:
■ A ciência que estuda as mudanças e as permanências.
■ O processo de transformação em que todos os homens são agentes.
■ A narração metódica dos fatos mais relevantes ocorridos na vida dos
povos, em particular, e na vida da humanidade, em geral.
■ O conjunto de conhecimentos (cultura) adquiridos por intermédio da
tradição e/ou por meio dos documentos, relativos à evolução, ao pas-
sado da humanidade.
A História atualmente é considerada uma ciência e tem seu devido valor reco-
nhecido nos meios acadêmicos, escolares entre outros. Essa estuda as mudanças
e as permanências dos fatos e acontecimentos por meio de um método próprio,
buscando compreender os caminhos traçados por um povo especíico ou pela
humanidade em geral. Além do mais, a História busca a cultura das sociedades
para entendê-las.
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Finalmente, temos de lembrar alguns comentários que dão o valor aos conhe-
cimentos históricos: “o proveito que se poderá tirar do conhecimento certo do
passado, para prejulgar acontecimentos análogos ou idênticos, a brotar futura-
mente no fundo comum da natureza humana” ou “a história é o estudo da ação
humana ao longo do tempo, concomitantemente ao estudo dos processos e dos
eventos ocorridos no passado” (GLÉNISSON, 1961, p. 17).
A aula de História “nasce da própria História”, pois a “análise da dimensão
temporal das relexões sociais” é o grande objetivo da disciplina. Isto equivale a
considerar a história uma “construção coletiva”. É para essa direção que Nemi e
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Martins (1996, p. 25) apontam quando fazem um comentário didático: “as aulas
de história para crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental têm por base
essa concepção de vida”, qual seja a “busca” de uma transformação “constante e
possível”. Esse aprimoramento do saber, oferecido pela história como um ins-
trumento de cidadania, só pode ser obtido se confrontarmos as experiências do
passado com as do presente, sempre visando um futuro melhor e de maior qua-
lidade de vida para todos.
É preciso que a escola deixe de ser aquilo que os crítico-reprodutivistas como
Bourdieu (1930-2002) assinalam, e caminhe, porque os novos tempos exigem
um melhor uso para os conhecimentos previamente acumulados. Por meio do
uso da noção de violência simbólica, Bordieu tenta desvendar o mecanismo que
faz com que os indivíduos vejam como “naturais” as representações ou as ideias
sociais dominantes. A violência simbólica é desenvolvida pelas instituições e
pelos agentes que as animam, sobre a qual se apoia o exercício da autoridade.
Bourdieu (1997), considera que a transmissão pela escola da cultura escolar (con-
teúdos, programas, métodos de trabalho e de avaliação, relações pedagógicas e
práticas linguísticas), própria à classe dominante, revela uma violência simbó-
lica exercida sobre os alunos de classes populares.
Bourdieu (1997) partia do conceito de que a dominação recobria formas
variadas de relações de poder, sendo a mais insidiosa a “violência simbólica”.
No livro “Les héritiers” (Os herdeiros, 1964), ele revela que o sucesso escolar é
condicionado à origem social dos alunos e, assim, torna-se o primeiro a reve-
lar os mecanismos cognitivos ligados às condições sociais. O termo violência
simbólica aparece como eicaz para explicar a adesão dos dominados: domina-
ção imposta pela aceitação das regras, das sanções, à incapacidade de conhecer
as regras de direito ou morais, às práticas linguísticas e outras.
Pierre Bourdieu (1997) elabora, assim, um sistema teórico que não cessará
de desenvolver: as condições de participação social baseiam-se na herança social.
O acúmulo de bens simbólicos e outros estão inscritos nas estruturas do pen-
samento (mas também no corpo), e são constitutivos do habitus por meio do
qual os indivíduos elaboram suas trajetórias e asseguram a reprodução social.
Esta não pode se realizar sem a ação sutil dos agentes e das instituições, preser-
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vando as funções sociais pela violência simbólica exercida sobre os indivíduos
e com a adesão deles.
A crítica de Bourdieu (1997) permanece atual como um alerta, ainda que outras
tendências e explicações sobre o fenômeno escolar a ela se acrescentem. Sua posição
contrária ao neoliberalismo e ao poder da mídia é, ainda hoje, muito comentada.
Construir o conhecimento junto com os nossos alunos parece ser uma urgên-
cia de nossos tempos. Isso inclui saber o que vem do cotidiano para elevá-lo ao
nível da ciência. Tal postura se faz necessária por parte do docente, seja qual for a
corrente por ele adotada, ressalvado que a História exige uma metodologia dife-
renciada daquela que foi característica da escola “positivista” no século XIX. Para
que possamos compreender melhor a escola “Positivista” passamos a analisá-la.
Remetemo-nos ao século XIX, quando a Europa presenciou amplo desenvolvi-
mento tecnológico e industrial, permitindo sua evolução econômica e a airmação
como o continente mais poderoso do mundo até a Primeira Guerra Mundial. Ao
mesmo tempo em que crescia internamente, o continente se expandia para fora
de seus domínios, conquistando terras, pessoas e novas riquezas na África e Ásia,
numa reedição do colonialismo do Antigo Regime. No entanto, não bastava con-
quistar tais territórios e impor uma dominação à força em suas populações: era
preciso justiicar a razão daquele domínio e gerar um argumento incontestável.
Para tal im, os pensadores e intelectuais europeus utilizaram-se do conceito de
ciência, entendida como conhecimento superior e acessível a poucas pessoas.
Nessa perspectiva, os europeus, donos da ciência e do desenvolvimento, se
dirigiam àquelas novas terras para “salvar” suas populações do estado de barbá-
rie e abandono em que estavam. Justiicava-se assim o Imperialismo por meio de
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1984, p. 99). Assim, para os positivistas que estudaram a História, essa assume
o caráter de ciência pura: é formada pelos fatos cronológicos e o que realmente
signiicam em si. São objetivos à medida que possuem uma verdade única em
sua formação (que é o seu sentido e sua única possibilidade de compreensão)
e não requerem a ação do historiador para serem entendidos: como já dito, o
papel deste é coletá-los e ajeitá-los, constatando pela análise minuciosa e liberta
de julgamentos pessoais sua validade ou não. O saber histórico, dessa forma,
provém do que os fatos contêm, e assume um valor tal qual uma lei da Física ou
da Química, ciência exatas.
Tão objetiva é a História para os positivistas que um de seus maiores ensi-
namentos é a busca incessante de fatos históricos, além de sua comprovação
empírica. Daí a necessidade, como pregavam, de se utilizar na pesquisa e aná-
lise o máximo de documentos possíveis para se obter a totalidade sobre os fatos
e não deixar nenhuma margem de dúvida no que se refere à sua compreensão. A
busca desses fatos deve ser feita por meio da neutralidade, pois qualquer juízo de
valor na pesquisa e análise altera o sentido e a verdade própria dos fatos, modii-
cando a própria História. Essa se tornaria uma ciência falha e totalmente fora de
seu caráter cientíico, e, portanto destituída de valor e validade. Coulanges che-
gou a airmar que a “História não é arte, mas uma ciência pura (...) a busca dos
fatos é feita pela observação minuciosa dos textos, da mesma maneira que o quí-
mico encontra os seus em experiências minuciosamente conduzidas” (BOURDÉ;
MARTIN, 1984, p. 100).
A objetividade, a minuciosidade, o detalhe e a dedicação impessoal são, por-
tanto, as grandes lições da escola positivista para o estudo da História no século
XIX e no início do século XX. Os historiadores que nessa época tentaram pro-
var outras formas de se estudar a disciplina foram desconsiderados e postos à
margem. Numa sociedade europeia que buscava seu próprio desenvolvimento e
avançava rumo a grandes descobertas na ciência e na tecnologia, a cientiização
que marcou a época também se espalhou para o campo dos estudos humanos,
reduzindo o papel do proissional desse campo para um mero coletor de infor-
mações. A implicação de opiniões externas aos sentidos dos fatos históricos
alterava a História, na opinião positivista, e eliminava assim sua legitimidade
como saber de importância social. Para positivistas como Fustel de Coulanges,
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a História é uma ciência pura (...) o historiador não deve ter outra am-
bição que a de ver bem os fatos e compreendê-los com exatidão. Não
é em sua imaginação ou lógica que ele os procura, mas sim na obser-
vação minuciosa dos textos, da mesma maneira que o químico encon-
tra os seus em experiências minuciosamente conduzidas (BOURDÉ;
MARTIN, 1984, p. 102).
A História deveria, sob essa perspectiva, ser tratada como a química e a matemá-
tica, por exemplo: sua compreensão estaria na perfeita observação dos fatos por
parte do historiador, e não em sua análise, visto que a opinião humana mudaria
o verdadeiro sentido do conhecimento histórico. Os fatos falam por si mesmos
e, além do mais, possuem uma verdade implícita que aparece quando postos
à tona. O trabalho e o ofício do pesquisador seria tão somente resgatá-los do
esquecimento e possibilitar sua divulgação, mas nunca interpretá-los ou propor
um entendimento para os mesmos: este seria conhecimento falho e mentiroso,
por se basear nos sentidos e na avaliação de um ser humano passível de erros e
que não possui a exatidão da verdade histórica.
Essa forma de se estudar a História nacional predominou até o início dos
anos 1930, quando a emergente Escola dos Annales francesa, que emergia na
Europa desde a década anterior, começou a inluenciar os autores e pensadores,
forçando uma renovação no pensamento histórico e social da nossa realidade.
Tratava-se de um novo olhar dado ao Humanismo, com a retomada do papel do
historiador na formação do saber histórico: ele reassumiria sua atuação na esco-
lha do que pesquisar, como o fazer e a linha que seu trabalho seguiria.
A partir da década de 60, com a Escola dos Annales, a História passou a dia-
logar também com a Literatura, revendo a forma com esta era escrita a partir da
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vida social a partir da luta de classes e considera as mudanças em função das
alterações no sistema produtivo das sociedades.
Atualmente, além de historiar na curta duração, com aquela orientação fac-
tual criticada por Fernand Braudel, não mais procuramos pelos heróis da pátria
nem ressaltamos apenas os acontecimentos políticos. Com tal ponto de partida,
procuramos evitar a parcialidade intencional que levou a esconder fatos que
manchavam o patriotismo, por exemplo. Foi a orientação “positivista” que levou
Rui Barbosa (1849-1923) a cometer um ato prejudicial contra o nosso patrimô-
nio histórico, ordenando a destruição de documentos (muitos deles) existentes
sobre a escravidão em nosso país.
Uma consideração que se pode fazer sobre atos como aquele, ordenado por
um dos luminares de nossa pátria, mas que representa um ato de “esconder a
cabeça” como o avestruz, para não ser visto, é que uma simples incineração não
pode apagar os fatos daquela à qual se chamava a “mancha negra” de nosso pas-
sado e nos fazia – e ainda nos faz – envergonhados.
Contudo, tal vergonha não promoveu a integração do negro liberto na socie-
dade e levou à formação de favelas, atualmente rotulada por alguns como as
grandes vilãs da violência urbana.
Ao historiar sobre a
História, veriicaremos que
seu desempenho como dis-
ciplina teve início na França,
em um cenário presidido
pelo “iluminismo”, onde
razão e ciência se uniam
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para promover a libertação
do homem e uma relativa
igualdade entre eles. Esse
era o ideal da educação bur-
guesa oferecida na França
de Napoleão, onde o ensino
público, gratuito e obriga-
tório foi a “novidade” do
século XIX.
Segundo a historiadora
Elza Nadai (1986, p. 106), “o
século XIX acrescentou, paralelamente aos grandes movimentos que ocorreram
visando construir os Estados Nacionais” a utilidade da História como uma dis-
ciplina que atendia à necessidade de se retornar ao passado “com o objetivo de
identiicar a ‘base comum’ formadora da nacionalidade”. Foi onde se começou a
falar em conceitos que ainda hoje existem em nossas histórias ensinadas: nação,
pátria, nacionalidade e cidadania.
Paralelamente a este requisito, tivemos a escola metódica ou positivista, sendo
posta a serviço da República Francesa pós-napoleônica quando ocorria aquela
que Bourdé e Martin (1984, p. 110) chamam de “exaltação permanente” da mãe
pátria: uma propaganda “nacionalista desenfreada” trazia em primeiro lugar o
que se esperava do aluno-soldado, inlamado por exemplos e cantos marciais:
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“Capistrano de Abreu, que não foi muito simpático à oratória do Padre Vieira,
escreveu a João Lúcio de Azevedo (historiador português) em 14 de abril de 1918:
entre os colonos e os jesuítas minha posição é bem deinida: sou pelos jesuítas”
(RODRIGUES, 1979, p. 478). Essa parcialidade, que pode ser vista como a par-
cialidade intencional dos positivistas para colocar a História a serviço de uma
exaltação de valores cívicos e nacionalistas, começou a ceder a outra “escola”,
desta vez a marxista, quando o historiador Caio Prado Júnior fez escola entre nós.
Por meio das leituras realizadas, percebemos que Capistrano de Abreu foi
um dos primeiros grandes historiadores do Brasil, o qual produziu ainda nos
campos da etnograia e da linguística. A sua obra é caracterizada por uma rigo-
rosa investigação das fontes e por uma visão crítica dos fatos históricos.
Hoje, ao lado desta explicação e de outras, entre as quais avultam as expli-
cações tiradas à Nova História, herdeira da escola dos Annales de Bloch (1976)
e Braudel (o historiador da longa duração), temos historiadores que pensam em
termos de descontinuidade e relação, uma outra história que procura analisar
mitos, textos e rituais, outros que como Henri Marrou, Paul Veyne ou Michel
de Certeau inserem pontos de dúvida sobre a história.
Para Braudel (1965), a duração pode ser distinguida em três ordens que não
são diferenciadas de maneira mecânica por medidas cronológicas. São três
ritmos diferentes:
Acontecimento (duração breve) – trata-se de um momento pontual, preci-
so: greve, nascimento, acordo etc.
Estrutura (duração longa) – são “marcos cronológicos que escapam à per-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Moral e Cívica.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 (Lei Federal n. 9.394) procu-
rou readequar os conteúdos das ciências na direção da democracia e verdadeira
cidadania. Sendo assim, há alguns anos tivemos a composição dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), programados para servirem de referência em
conteúdos e metodologias de ensino para a estruturação escolar brasileira. Na
área de história, os Parâmetros Curriculares Nacionais tiveram como proposta
fundamental a modiicação da estrutura dos conteúdos até então apresentados”.
Mais que isso, “a idéia básica era a transformação dos conteúdos organizados de
forma linear em eixos temáticos (SHMIDT; CANELLI, 2004, p. 14).
Atentando-se a este assunto, aguarde, pois ele será retomado na próxima
unidade.
O que é uma disciplina escolar e quais são suas especiicidades? Qual tem
sido a participação dos professores na constituição da disciplina de História
nas salas de aula?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
capacidades diversas de comparação, dedução, criatividade, argumen-
tação, lógica e habilidades técnicas, entre outras (BITTENCOURT,
2004, p. 41).
“Dar aula” é uma ação complexa, que demanda do professor o domínio de saberes
característicos e heterogêneos: o trabalho proissional que se deine como “saber
docente” traz a necessidade de liberar esses saberes do professor,
e submetê-los ao reconhecimento por parte dos grupos produtores de
saberes da comunidade cientíica, enquanto um saber original sobre o
qual detêm o controle é um empreendimento que lhe parece condição
básica para um novo proissionalismo (TARDIFF, 2002, p. 232).
sobre isso, Costa (1957 apud BITTENCOURT, 2004, p. 94) esclarece: “A exposi-
ção oral contribui para dar segurança ao aluno, domínio e controle de si mesmo,
hábito de falar em público. Diminui inibições. Dessa forma, estamos contri-
buindo para a formação de sua personalidade”.
Nesse ponto, a historiadora passa da informação para a ênfase à formação,
porém, outras aplicações para o conhecimento histórico que podem nos respon-
der sobre qual a melhor História a ser ensinada são expostas:
a História ainda pode também desenvolver o raciocínio indutivo. Edu-
ca a imaginação. Formulando problemas, analisando os porquês, as
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
razões, as condições que explicam um determinado fenômeno, pro-
blemas da sociedade. Enxergar soluções. Mas tudo isto sempre que a
História ensinada permaneça num plano explicativo e não se restrinja a
fastidiosa enumeração de fatos, dados, nomes, geralmente sem signii-
cado, e que são obrigatoriamente decorados pelos alunos (grifo nosso)
(COSTA, 1957 apud BITTENCOURT, 2004, p. 94).
Schmidt e Cainelli (2004) nos dão orientações sobre como efetivar uma aula de
História:
Abordagem magistral é um método tradicional que possibilita receber
muitas informações dadas pelo professor em pouco tempo. Porém, o aluno ica
em posição passiva e não se pode garantir que ele seja capaz de reproduzir os
conhecimentos fora da aula.
Abordagem dialogada parte de perguntas direcionadas aos alunos, mobi-
lizando o conhecimento apreendido em aulas anteriores. Os alunos precisam
estar motivados a participar para que surta o efeito desejado. Contudo, por apre-
sentar questões fechadas que não demandam uma relexão ou que não possam
ser colocadas em um conjunto de problemáticas, “traz o risco de dar ao aluno
uma concepção positivista da história, que signiica mais a restituição coletiva
de uma pseudoverdade histórica do que a reconstrução hipotética do passado”
(SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p. 39).
Por im, a Abordagem construtivista favorece a autoaprendizagem expe-
rimental, colocando o aluno como agente de sua própria formação. Entre os
métodos cientíicos desta abordagem, conforme Bittencourt (2004), encontramos:
■ Método Indutivo – sua aproximação dos fenômenos se encaminha do
particular para o geral, ou seja, parte das constatações mais especíicas
mas sim como uma disciplina que nos permite a apropriação de um conheci-
mento cientíico que tem um método e atende a uma inalidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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fatos, datas e personagens históricos considerados importantes durante o período
estudado. Há uma neutralidade do historiador, cabendo apenas analisar os fatos
de modo objetivo. O Marxismo, também chamado de Materialismo Histórico,
procura explicar as mudanças históricas mediante as condições materiais, modos
de produção ou disputa entre classes sociais existentes em um determinado perí-
odo histórico. Enquanto a Nova História, inluenciada pela Escola dos Annales,
objetiva o estudo da História do cotidiano de um povo, do modo como vivem,
se organizam, produzem ou se relacionam política e socialmente: aqui cabe ao
historiador realizar uma análise dos fatos sob um olhar mais crítico.
Devemos considerar, além disso, que a disciplina História percorreu um bom
caminho para chegar ao entendimento do que concebemos hoje. De origem tra-
dicional, apoiada no positivismo, essa matéria passou a ser concebida como uma
disciplina essencial na formação do cidadão consciente e participativo, embora
entendamos que cidadania seja um direito não possível de ser formado, mas sim
uma visão de conscientização ao exercício pleno dessa cidadania.
Na unidade seguinte nos remeteremos às mudanças e permanências dos
métodos do Ensino de História, bem como a ação docente, objetivando a for-
mação global de nossos educandos.
5. É comum escutarmos que a «História não serve para nada», desse modo, é im-
portante que os objetivos e limites da História enquanto Ciência e disciplina es-
tejam claros. Assim, analise as airmações a seguir e assinale V para as ver-
dadeiras e F para as falsas:
( ) Há uma expectativa de que a História possibilite um melhor direcionamento
social na atualidade, para que erros passados não se repitam no tempo presente.
Porém, esse não é o objetivo dessa ciência.
( ) Não se pode aplicar em uma sociedade da atualidade, ideias e ações desen-
volvidas em uma sociedade do passado, pois ideias e atitudes são determinadas
pelo contexto histórico de uma sociedade.
( ) A rapidez com que as informações têm sido difundidas na atualidade con-
tribui para a desvalorização da História. Assim, é fundamental que o professor
demonstre desde cedo que informação é diferente do Conhecimento Histórico,
pois este se conserva por anos.
( ) Sem História, perderíamos nossa identidade social, pois não seria possível
conservar o conhecimento acerca das ações de uma sociedade.
A sequência correta é:
a. V, V, V e V.
b. V, F, V e V.
c. V, V, F e V.
d. F, V, V e V.
e. V, V, V e F.
41
O século XIX foi o período em que a História se constituiu enquanto uma ciência. Em
um contexto de formação de Estados Nacionais, a História passou a servir enquanto
instrumento de airmação das identidades nacionais e da legitimação de poderes
políticos. Nesse sentido, a abordagem tradicional exaltou o feito de grandes “heróis”,
ou seja, esteve centrada na história de Estados e aqueles que teriam sido responsá-
veis por formá-los e/ou regê-los. O ensino de História foi sendo delineado seguin-
do as mesmas premissas, inclusive no Brasil. Contudo, essa prática foi questionada,
como podemos ver na crítica expressa no poema abaixo:
Tantas histórias
Quantas perguntas”
Fonte: Escritas.org ([2017], on-line)2.
Nesse sentido, no Brasil, somente a partir da década de 1980 é que novas abordagens
em torno da História como ciência e enquanto disciplina escolar foram sendo traçadas,
na busca de formar cidadãos críticos.
Fonte: a autora.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Que é história?
Edward H. Carr.
Editora: Saraiva.
Sinopse: Que é história? Que é fato histórico? Existem
verdades históricas ‘objetivas’? Mestre no ofício,
Edward Hallet Carr responde a essas indagações com
sutileza e sabedoria. Segundo Carr, o historiador não
pode relatar um fato histórico exatamente como
se passou. Seleciona uma infinidade de eventos,
tomados das mais diversas fontes, aqueles que, sob
sua ótica, merecem ser historiados. Este livro reúne
uma série de conferências proferidas pelo Prof. E. H.
Carr na Universidade de Cambridge, em 1961, onde
ele desvenda o ofício de historiador que ele próprio
exerce com dignidade, engenho e arte.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Noções de Coisas
Darcy Ribeiro
Editora: FTD
Sinopse: nesta obra, o autor apresenta a cultura como
sendo tudo que é feito pelos homens ou resultado do
trabalho deles. Diferencia cultural material de imaterial
nos levando a refletir sobre tais diferenças. Vale a leitura
até para os “grandinhos”.
45
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Disponível em: <https://edukavita.blogspot.com.br/2015/06/biograia-de-herodo-
to-historiador-grego.html>. Acesso em: 3 abr. 2017.
2
Disponível em: <http://www.escritas.org/pt/p/tema/perguntas%20de%20um%20
oper%C3%A1rio%20letrado>. Acesso em: 3 abr. 2017.
47
GABARITO
II
TENDÊNCIAS E
UNIDADE
PERSPECTIVAS DO ENSINO
DE HISTÓRIA
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender que ensinar História é criar a possibilidade de
investigação, sem separar o ensino da aprendizagem e pesquisa.
■ Reconhecer que o professor de História é um sujeito histórico,
inserido em um grupo social no qual interage e, por isso mesmo, tem
um papel fundamental na construção do conhecimento histórico por
parte dos alunos.
■ Destacar os conhecimentos prévios dos alunos como ponto de
partida e das metas de aprendizagem.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Mudanças e permanências nos métodos da História escolar
■ Concepções de conteúdos escolares de aprendizagem
■ A formação de conceitos
■ A formação do professor e o cotidiano de sala de aula
51
INTRODUÇÃO
Toda ciência tem seus métodos de abordagem e procedimento, e são eles que
mostram a nossa orientação ideológica e pedagógica. Um historiador que seja
herdeiro da escola dos Annales francesa, como vimos na primeira unidade (e que
consequentemente se inclua entre os neo-historiadores), obedece a uma linha
mestra que foi demarcada pelos “fundadores” da corrente, Marc Bloch e Lucien
Fèbvre, na década de 40 do século passado.
Estudamos que tanto Bloch (historiador) como Fèbvre (geógrafo) se insur-
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Introdução
52 UNIDADE II
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MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS NOS MÉTODOS DA
HISTÓRIA ESCOLAR
Por muito tempo, a escola denominada elementar ou escola primária era o lugar
de ensinar a “ler, escrever e contar”. Para o ensino da leitura, os professores deve-
riam utilizar, entre outros, a “Constituição do Império e a história Geral”. O
objetivo maior era o fortalecimento do senso moral por meio de deveres para
com a Pátria e seus governantes, o que segundo Bittencourt (2004, p. 64), se acen-
tuou no decorrer dos séculos XIX e XX.
Seguindo preceitos do Positivismo, a escolarização das classes popula-
res incluía ensinar a História para “inculcar determinados valores para
a preservação da ordem, da obediência à hierarquia, de modo que a
Nação pudesse chegar ao progresso, modernizando-se segundo o mo-
delo dos países europeus.
ensino, gabando-se na sala dos professores, dizendo que seus alunos já “termina-
ram mais um caderno” ou que “todos vão bem nas provas”, ainal, faz apenas uma
revisão dando-lhes um questionário para responder, e cobra tal e qual na prova.
A História, segundo o método catecismo, era apresentada por pergun-
tas e respostas, e assim os alunos deviam repetir, oralmente ou por es-
crito, exatamente as respostas do livro. Como castigo, pela imprecisão
dos termos ou esquecimento de algumas palavras, recebiam a famosa
palmatória ou férula. O sistema de avaliação era associado a castigos
físicos (BITTENCOURT, 2004, p. 67).
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Assim, infelizmente “aprender de cor” tem sido uma constante desde ins do
século XIX. O que nos chama a atenção é a perpetuação de um sistema que por
vezes sofreu críticas e continua perpetuando-se, muitas vezes, em nossas esco-
las. Entretanto, precisamos ainda considerar que memorizar conscientemente é
diferente de “aprender de cor”, ou memorizar mecanicamente.
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Se por um lado tal método nos incomoda até hoje, a situação se agravou ainda
mais quando, a partir dos anos de 1930, os Estudos Sociais passaram a cons-
tituir disciplina escolar nas “escolas primárias” em substituição à História, à
Geograia e ao Civismo. Tal substituição visava à integração do indivíduo na
sociedade, devendo os conteúdos auxiliar a inserção do aluno na comunidade
da qual fazia parte.
Os Estudos Sociais foram adotados em algumas escolas denominadas
“experimentais” ou “vocacionais”, no decorrer da década de 60, e depois
da reforma educacional na fase da ditadura militar, pela Lei 5.692 de
agosto de 1971, a área foi introduzida em todo o sistema de ensino – o
qual então passou a se chamar de primeiro grau -, estendendo-se para
as demais séries do antigo ginásio (BITTENCOURT, 2004, p. 73).
Vale ressaltar que tal mudança provocou um esvaziamento de cada uma das
disciplinas, uma vez que agora todas elas se diluíam, assim como as categorias
e conceitos básicos provenientes das ciências de referência. Dessa maneira, os
métodos, que antes eram destinados à memorização, passaram a se tornar vitais
Podemos perceber que todas as mudanças dos anos de 1970 para o ensino de
História estavam ligadas especiicamente aos métodos e técnicas, como deixamos
evidente em nossas discussões, e visavam adequar-se a um reduzido conheci-
mento histórico, sem que essencialmente os conteúdos fossem alterados, mas
apenas simpliicados e resumidos.
Contudo, todos os esforços por reformulações que se iniciaram no im dos
anos 80 do século passado ganharam força nos anos 90, graças à nova conigu-
ração mundial, que impunha um modelo econômico para submeter todos os
países à lógica do mercado.
Vale lembrar que esta série de reformulações curriculares não foi exclusiva
em âmbito nacional.
Outros tantos países também sofreram mudanças em seus currículos
oiciais, e muitas dessas propostas curriculares, como as dos países in-
tegrantes do Mercosul, a de Portugal e a da Espanha, possuem a mesma
estrutura na organização dos documentos oiciais e a mesma termino-
logia pedagógica (BITTENCOURT, 2004, p. 100).
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e procurando diluir formas de resistência aos documentos oiciais.
■ A redeinição do papel do professor, fornecendo-lhe maior auto-
nomia no trabalho pedagógico, concepção esta expressa na ausên-
cia de um rol de conteúdos estabelecidos de forma obrigatória para
cada série ou ciclo.
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Fonte: a autora.
Hobsbawm (1995, p. 13), na sua obra “Era dos Extremos”, lembra que a
destruição do passado é um dos fenômenos mais “lúgubres” enfrentados pelo
historiador hoje e recoloca a história no verdadeiro papel que também vem enfa-
tizado por autores nacionais como José Murilo Carvalho (1998, p. 454):
Nada do que é humano será agora alheio ao historiador. Daí a multi-
plicação de estudos sobre a cultura, os sentimentos, as idéias, as men-
talidades, o imaginário, o cotidiano. E também sobre instituições e fe-
nômenos sociais antes considerados de pequena importância, se não
irrelevantes, como o casamento, a família, organizações políticas e pro-
issionais, igreja, etnias, a doença, a velhice, a infância, a educação, as
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CONCEPÇÕES DE CONTEÚDOS ESCOLARES E DE
APRENDIZAGEM
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para o Ensino de História (BRASIL, 1997, p. 41). Assim, espera-se que ao longo
do Ensino Fundamental, os alunos gradativamente possam ler e compreender
sua realidade, posicionar-se, fazer escolhas e agir criteriosamente. Nesse sentido,
os alunos deverão ser capazes de:
■ Identiicar o próprio grupo de convívio e as relações que estabelecem
com outros tempos e espaços.
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Além de enfatizar que os conteúdos são um meio, e não um im em si mesmo,
o autor recomenda também a diversidade na apresentação dos conteúdos, não
obstante se imponha sempre a linearidade e a sequência cronológica, básicas à
apreensão do fato histórico.
EXEMPLIFICANDO:
Os habitantes eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes
cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas.
[...]
Nela, até agora, não pudemos saber se há ouro, nem prata, nem
coisa alguma de metal ou ferro... Porém a terra em si é de muitos
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bons ares...
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Figura 1 - 1ª missa do Brasil, Pintura de Victor Meirelles (1861).
Fonte: Infoescola ([2017], on-line)1.
■ Intenção do artista.
3. Imagine que você seja um escrivão, assim como foi Pero Vaz de Caminha,
e tenha que produzir uma carta caracterizando sua cidade e endereçada a turis-
tas. Como icaria?
A temporalidade cronológica, ao lado da temática, são importantes compo-
nentes daquela a qual chamamos hoje uma História integrada, que atende não
só ao conteúdo como im, mas também à necessidade de capacitação envolvida
na apreensão desses conteúdos.
Bezerra (2004, p. 40) lembra, ainda, alguns cuidados especiais com relação
aos conteúdos: “o primeiro se refere ao envolvimento do aluno com o objeto de
estudo que está sendo trabalhado” e, em seguida, jamais descuidar da preocu-
pação com o desenvolvimento das habilidades cognitivas que fazem parte dos
horizontes dessas propostas pedagógicas.
Trabalhar historicamente os temas e objetos em pauta parece ser a priori-
dade que se impõe quanto aos conteúdos de História. Neste sentido, passamos
a apresentar resumidamente as transformações do ensino de História no Brasil:
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histórico. Aluno sujeito de seu
próprio conhecimento e do
conhecimento histórico.
CONTEÚ- Organização de forma Fragilização do Recuperação da historicidade
DO linear, cronológica, conteúdo espe- do conhecimento histórico.
baseada principalmen- cíico da História. Conteúdo histórico como
te na periodização Valorização da produto do saber-fazer espe-
política e baseada em aprendizagem cíico. Novas possibilidades de
fontes escritas. História baseada no desen- organização curricular para
narrativa e descritiva. volvimento de o ensino de História, como a
Conteúdos selecio- atividades. Livros história temática e o ensino
nados com base em didáticos em que por conceitos. Valorização do
visões “oiciais” da His- predominam conteúdo e de visões plurais
tória. Valorização das ilustrações. Simpli- e críticas da História. Incorpo-
datas comemorativas. cação do conhe- ração de novas produções de
cimento histórico. historiadores.
Currículos organi-
zados em “círculos
concêntricos”:
família, escola,
bairro, cidade, país
e mundo.
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A FORMAÇÃO DE CONCEITOS
avançada;
A Formação de Conceitos
72 UNIDADE II
não tem consciência de seus conceitos (por exemplo, usa corretamente o con-
ceito de município, mas não é capaz de fazê-lo numa situação experimental),
ao passo que nos conceitos aprendidos na escola, em colaboração com o adulto,
consegue resolver melhor problemas que envolvem o uso consciente do conceito.
No entanto, seus estudos conirmaram a hipótese de que os conceitos espontâ-
neos e os conceitos cientíicos, inicialmente afastados, visto que se desenvolvem
em direções contrárias, terminam por se encontrar.
Pode-se dizer que o desenvolvimento dos conceitos espontâneos da criança
é ascendente (indutivo), enquanto o desenvolvimento dos seus conceitos cien-
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tíicos é descendente (dedutivo) (VYGOTSKY, 1991, p. 93).
Contudo, Vygotsky airma que é necessário que o conceito espontâneo
tenha alcançado certo nível para que o conceito cientíico correspondente seja
internalizado, levando em conta que eles
dependem e se constroem a partir dos con-
ceitos cotidianos.
Antes do ingresso na escola, a criança
já construiu um conjunto de conhecimento
informal, produto do desenvolvimento onto-
genético a partir de suas experiências, que
constitui o seu sistema de crenças sobre o
mundo, que inluenciará profundamente a
obtenção do conhecimento formal, que se dará
de forma planejada pela aprendizagem escolar.
Considerando então que o aluno traz
uma riqueza de conhecimentos sobre o
mundo e seu funcionamento, que na maio-
Figura 2 - Vygotsky
ria das vezes entram em conlito com o que é Fonte: Concepções (2012, on-line)2.
imposto pela escola e tem de ser aprendido,
como o professor pode agir para que os estudantes não rejeitem esses conheci-
mentos, não tenham diiculdades em assimilá-los ou, ainda e principalmente,
não deem “respostas corretas” apenas para cumprir tarefas escolares sem sen-
tido e inúteis?
Para os professores essa tarefa não é fácil, pois implica uma revisão tanto de
A Formação de Conceitos
74 UNIDADE II
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tica (airmações X contradições) com a sociedade ainda tem muito a contribuir,
pois contém elementos que permitem manter a ambiguidade em aspectos vitais
que dizem respeito dessa própria sociedade. É a tentativa de manter a ordem
antes do progresso, como ocorre na nossa bandeira de lema positivista. Em seu
título, a autora se apropria com autorização das ideias de Maria de Lourdes D.
Nosella, que se preocupa com as “belas mentiras” permitidas pela ideologia sub-
jacente aos livros didáticos.
Um ranço de autoritarismo em prejuízo da ciência como conhecimento é o
que ela procura diagnosticar, bem como a “sobrevalorização do conhecimento
dito cientíico” como mais importante do que “outros tipos de conhecimento pos-
síveis de serem adquiridos e vivenciados no cotidiano da vida social ou mesmo
da vida escolar” (PINSKY, 2004, p. 109).
Os fatos são “senhores de segredos que se deixam revelar com lentidão”
(AQUINO; FRANCO; LOPES, 1980, p. 41). Pensando desta forma, temos de
nos render ao fato de que as apreensões do conteúdo e sua consequente elabo-
ração em conceitos ou partes do entendimento em que se deinem palavras e
ideias envolvem não só a episteme ou ciência em si, mas também uma deter-
minada forma de tratar o objeto. Assim, a elaboração de conceitos exige um
planejamento de ação e depois um método (do grego methodo = caminho) para
se chegar ao que se pretende.
Nesta perspectiva, numa primeira fase teríamos a observação e a análise, e
essas se fariam seguir a partir da formulação de conceitos. Desse modo, é impor-
tante lembrar que:
o ponto mais importante de qualquer processo compreensivo está jus-
A Formação de Conceitos
76 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A ampliação das fontes históricas, bem como a percepção da complexidade
das relações sociais presentes no testemunho individual ou dos fatos é própria
da trama histórica.
Finalmente, a historicidade dos conceitos históricos envolve um senso muito
próprio. “Os conceitos históricos somente podem ser entendidos na sua histori-
cidade”, escreve Bezerra (2004, p. 46). “Isto quer dizer que os conceitos criados
para explicar certas realidades históricas têm seu signiicado voltado para essas
realidades, não sendo possível empregá-los indistintamente para toda e qual-
quer situação semelhante”. Mais que isso, “os conceitos, quando tomados em sua
acepção mais ampla, não podem ser utilizados como modelos, mas apenas como
indicadores de expectativas analíticas” e por isso mesmo quando permitem uma
compreensão geral podem receber o nome de “categoria” (BEZERRA, 2004, p.
47). E o autor exempliica: a categoria trabalho, continente, homem e revolução.
O conceito de cidadania, por exemplo, envolve o conjunto de preocupações
que informam o conhecimento histórico e suas relações com o ensino vivenciado
na escola, que por sua vez leva ao aprimoramento de atitudes e valores impres-
cindíveis para o exercício da cidadania, dotando de recursos para atuar e dispor
dos instrumentos que a cultura põe à nossa disposição.
Depois que Braudel (1965) demoliu o factual e a ênfase ao político, temos
de novo à volta do político, mas desta vez ao lado do social, do ideológico, do
econômico, num todo, como esferas. Em relação a essa nova visão, temos, sobre-
tudo, o conceito que permite a historicidade. Porém, evite o historicismo, como
escreve Jaime Pinsky (2004), quando comenta a ciência que Aristóteles consi-
derava apenas a ciência do particular.
A Formação de Conceitos
78 UNIDADE II
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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E O COTIDIANO
DE SALA DE AULA
Essa é uma importante indicação para um professor fazer sua escolha, dentre os
temas que considera relevantes para levar à sala de aula.
Prestigiar temas apenas do passado ou as irrelevâncias do presente são igual-
mente perigosos, pois o passado visto em si mesmo não ilustra e nem informa o
presente. Nem mesmo o presente se explica a partir de si mesmo, como escreve
a professora.
Do passado, devem ser destacados fatos que permitam a conexão com o
presente, e nenhum aspecto ou esfera deve ser desprezado, da política ao eco-
nômico, do social ao ideológico.
Isso tudo tem de ser lembrado, pois se “a História não é o terreno do ‘interes-
sante’ e do mundo privado enquanto tal”, ao mesmo tempo, “o perigo de ignorar
o passado público pode acarretar a perda da visão dialética da História”. Ainal,
conclui a professora (JANOTTI, 2003 apud BITENCOURT, 2004, p. 43), é “a von-
tade política que leva à crítica e à construção de projetos futuros”. Para operar a
transformação a partir da consciência individual de nossos alunos, cuja relexão
tem de ser convenientemente suscitada, temos de partir de suas próprias experi-
ências cotidianas, além de encaminhá-los à linguagem culta própria da ciência e
aos conhecimentos sistemáticos característicos da ciência, de forma planejada,
paulatina, onde os problemas sejam apresentados em forma crescente e ao mesmo
tempo cuidadosa, para não assustar ou causar desinteresse ao aluno pela incapa-
cidade de apreender.
Janotti cita Durmeval Trigueiro Mendes (2004, p. 44), quando alerta aos
gestores educacionais da necessidade que vem imposta pela compreensão de
que “toda ação eicaz, sobretudo no mundo de hoje, é antes de tudo a ação que
muda a consciência – a própria e a dos outros”. Eis aí um momento de relevân-
cia, visto que a professora da USP nos alerta para a necessidade de revisarmos
bem o nosso papel de intelectuais “orgânicos” assim como pensava Gramsci, que
ressaltava que os professores estão sempre, ainda que inconscientemente, enga-
jados num processo de construção de um Estado (que o Estado quer.)
O que Janotti (2004) pretende, ainal, é que ao professor não passem desper-
cebidos aqueles “segredos” que existem nas sociedades, ou que não caiam nas
armadilhas postas em seu caminho intelectual pelas ideologias vigentes.
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EXEMPLIFICANDO:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
imena” (“você é meu marido”).
o jovem toma a decisão: se quer casar
com ela, saboreia o alimento oferecido; Em seguida, o noivo oferece à noiva
se não quer casar, não o come. mel e carne de jabuti, alimentos muito
apreciados por esse povo.
Então o rapaz encarrega sua mãe de
devolver a vasilha cheia ou vazia à mãe Fonte: MUNDUKURU, D. Coisas de Ín-
da moça juntamente com a resposta. dio. São Paulo: Callis, 2000, p. 25.
Fonte: MELATTI, J. C. Índios do Brasil.
São Paulo: Hucitec, 1993, p. 126.
Ao comparar dois textos sobre o casamento entre o povo Bororo e Suruí, é neces-
sário levar os alunos a traçar diferenças e semelhanças, e, ainda, comparar as
cerimônias de casamento da atualidade e da comunidade da qual os alunos per-
tençam. Para isto pode-se, ainda, sugerir que façam uma entrevista com alguém
da família que tenha se casado para que este relate como foi a cerimônia.
Percebe-se que, fazendo este tipo de intervenção pedagógica, o professor está
sendo muito mais que um simples transmissor de conteúdo, ele passa a ser um
mediador entre o conhecimento histórico e o sujeito, no caso o aluno.
Os detalhes introduzidos em nossa prática didática em sala de aula podem
parecer insigniicantes à primeira vista, mas são os responsáveis pela nossa
eicácia docente.
O que e como ensinar é algo que passa muito além dos temas que envolve
nossa investigação e tratamento metodológico, mas, sobretudo, põe à prova a
nossa verdadeira capacidade de comunicação do que sabemos. “A produção his-
toriográica busca estabelecer diálogos com o seu tempo, reairmando o adágio
que ‘toda a história é ilha do seu tempo’, mas sem ignorar o fruto de muitas tra-
dições de pensamento” (KARNAL, 2004, p. 9). Assim, da mesma forma que não
Mas, o que tem essa proposta de diferente? Ela coloca o ser humano e o
planeta no centro do ensino. “É preciso aprender sobre a condição humana, a
compreensão e a ética, entender a era planetária em que vivemos e saber que
o conhecimento, qualquer que seja ele, está sujeito ao erro e à ilusão”, adverte
Edgar Morin (2003, p. 36-37).
O autor ainda acrescenta que é no cotidiano da sala de aula que tudo acon-
tece. Por esse motivo, a nossa responsabilidade enquanto professores aumenta.
Precisamos ser mais que professores, como nos lembra Rubem Alves. Temos
que ser EDUCADORES.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
86
IV. A ação pedagógica precisa se concentrar apenas no presente onde tudo aconte-
ce no exato momento em que nossos alunos estão estudando.
É correto o que se lê em:
a. I e II, apenas.
b. II e IV, apenas.
c. I, II e III, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.
5. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 (Lei Federal n. 9.394) procurou
readequar os conteúdos das ciências na direção da democracia e verdadeira ci-
dadania. Sendo assim, foram produzidos os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs, 1997) programados para servirem de referência em conteúdos e metodo-
logias de ensino para a estruturação escolar brasileira. Sobre o assunto é correto
airmar que:
I. Na área de História, os Parâmetros Curriculares Nacionais tiveram como proposta
fundamental a modiicação da estrutura dos conteúdos até então apresentados.
II. A ideia básica era a transformação dos conteúdos organizados de forma linear
em eixos temáticos.
III. Os PCNs são guias didáticos que, se seguido “ao pé da letra”, a aula se torna muito
mais signiicativa.
IV. Um dos objetivos do Ensino de História, segundo os PCNS, é levar o aluno a se
apropriar do patrimônio da humanidade e modiicá-lo sempre que necessário.
É correto o que se airma em:
a. I e II, apenas.
b. II e IV, apenas.
c. I, II e III, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.
88
Isabel Barca, historiadora portuguesa, fala sobre o ensino de História para a Revista Nova
Escola (2013)
Muitas pessoas ainda acham que a disciplina de História é uma complexa reunião de
datas, fatos, lugares e personagens de outrora. Talvez por isso se pense que a disciplina
trata do passado longínquo de sociedades das quais nem os estudantes nem os educa-
dores participaram. Isabel Barca mostra por que essa ideia é equivocada. Dedicada ao
estudo do ensino de História para a Educação Básica, ela defende a importância de um
trabalho em sala com recortes temáticos, que estabeleça ligações entre o ontem e o
hoje e faça dos alunos sujeitos históricos.
Faz sentido apresentar os fatos históricos em ordem cronológica ou esse é um
modo de trabalhar ultrapassado?
ISABEL BARCA Ensinar História de modo linear faz com que os estudantes lembrem so-
mente os marcos cronológicos. Com isso, a moçada se torna incapaz de relacionar tem-
pos distintos e compreender em profundidade o mundo em que vivemos. O ideal é que
o educador trabalhe em sala com recortes temáticos, estabelecendo relações entre o
passado e o presente, sem jamais negligenciar a temporalidade. Se essas duas questões
não forem levadas em conta, a turma pode ter uma compreensão limitada da disciplina
e da história propriamente dita, formulando ideias vagas e genéricas, o que contribui
para o não-entendimento das causas e consequências dos fenômenos estudados.
Como conduzir uma atividade de interpretação de objetos antigos?
ISABEL BARCA O professor deve propor uma observação cuidadosa do objeto. Depois
disso, ele tem de fazer perguntas não muito complicadas para os alunos sobre o passa-
do. Podemos convidá-los a imaginar a vida das pessoas a quem ele pertencia. Para que
era usado? De que maneira? De onde essas pessoas eram? A análise das respostas ajuda
a entender até que ponto as crianças ultrapassam a simples materialidade dos exempla-
res, se os relacionam com uma comunidade e um estilo de vida e de que forma o fazem.
É o início de um pensamento histórico.
Investigar objetos de família ajuda as crianças a relacionar a história de vida delas
com a História em geral?
ISABEL Sim, desde que aprendam a pensar historicamente com esses utensílios, saindo
do aqui e agora. Para isso, o professor tem de ajudar o grupo a relacionar as peças com
outros tempos e pessoas que podem estar próximas deles em termos geográicos e fa-
miliares, mas que tiveram outra forma de viver. No entanto, não é satisfatório estudar
somente o histórico da peça em questão. É necessário ensinar a garotada a generalizar
situações e conceitos.
O que é fonte histórica e documento histórico? Há diferenças entre eles?
ISABEL Segundo alguns especialistas, como o inglês Robin George Colingwood (1889-
1943) e o francês Marc Bloch (1886-1944), qualquer vestígio do passado é fonte. Cabe
89
aos historiadores e a qualquer pessoa que queira pensar historicamente fazer uma per-
gunta sobre a História e, em função dela, selecionar as fontes e extrair delas as respostas.
Esses traços do passado não são só os deixados pelos agentes do período estudado.
Outras fontes, construídas posteriormente, também são interessantes, incluindo o tra-
balho de estudiosos que já exploraram o mesmo tema. O termo documento histórico,
por sua vez, tem diversas acepções entre os especialistas. Preiro usá-lo para deinir fon-
tes históricas com valor legal ou institucional. Não signiica que os documentos tenham
mais valor que as fontes. Muitas vezes apresentam um ponto de vista conveniente para
a instituição que representam.
Qualquer fonte ou documento histórico pode ser analisado na escola?
ISABEL De modo geral, sim. Mas devemos usar o que for acessível aos alunos com os
quais trabalhamos. Os materiais não podem ser complexos a ponto de impedir a turma
de lidar com eles. Há estudos em Portugal que mostram que os alunos tendem a ter
mais facilidade de entender a História por meio de suportes escritos. No mais, há fontes
visuais superelaboradas, difíceis para jovens com pouca experiência. Por im, temos de
considerar o tempo disponível para a realização da atividade, fazendo uma adequação
realista das fontes às situações escolares.
Como planejar aulas que não desencadeiem uma interpretação parcial da história?
ISABEL É fundamental não só garantir a variedade de fontes, como considerar a pers-
pectiva de cada uma e planejar momentos diferentes para estudá-las. Por exemplo: o
imperador conhecido como dom Pedro I no Brasil e dom Pedro IV em Portugal tem uma
imagem muito mais positiva para os portugueses do que para os brasileiros. Apresentar
dois trechos da historiograia de cada país que mostrem as imagens contraditórias do
personagem e pedir que as crianças dissertem sobre isso não é tão rico. É mais interes-
sante que elas analisem os dois trechos de forma isolada para depois buscar similarida-
des e diferenças, questionando as distintas perspectivas.
Há fontes históricas mais indicadas para explorar em cada etapa da escolaridade?
ISABEL Não. Para eleger os materiais apropriados, que possibilitem o ensino dos conte-
údos e o pensar histórico, é preciso analisar a situação da classe. A decisão não tem a ver
com a idade dos estudantes, e sim com o letramento histórico alcançado por eles. Além
disso, o que é mais próximo da turma hoje não é só o que está no entorno. As crianças
e os jovens têm muito contato com a TV e com a internet e, por isso, algo que para os
adultos pode parecer longínquo no tempo e no espaço para eles é mais próximo.
Fonte: Revista Nova Escola (2013, on-line)4
MATERIAL COMPLEMENTAR
Sobre História
Eric J. Hobsbawm
Tradutor: Cid Knipel Moreira
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: nesta coleção de ensaios, muitos ainda
inéditos, Eric Hobsbawm relete sobre prática e teoria da
disciplina que fez sua justa fama como um dos maiores
historiadores contemporâneos. Em suas relexões sobre
o papel do historiador, Hobsbawm analisa problemas
da ordem do dia, como: a identiicação das identidades
nacionais na Europa e o uso ideológico do discurso
histórico naquele contexto; um balanço dos 150 anos
do Manifesto Comunista; as relações entre história e
economia; o signiicado da redução da narrativa histórica à mera variante da narrativa; as modas e
vertentes da historiograia contemporânea; a noção de progresso no conhecimento histórico.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
O Triunfo
Ano: 2006
Gênero: Drama
Direção: Randa Haines
Sinopse: Ron Clark é um jovem professor de História, criativo
e idealista, sai de sua pequena cidade da Carolina do Norte
para ensinar, em uma escola pública de Nova York. Através
da utilização apaixonada de regras especiais para a sua sala
de aula, ensinando técnicas altamente inovadoras e uma
inesgotável devoção aos seus alunos, Clark é capaz de fazer
uma notável diferença nas vidas de seus alunos.
PINSKY, J. O ensino de história e a criação do fato. 11. ed. São Paulo: Contexto,
2004.
SCHMIDITT, M. A.; CAINELLI, M. Ensinar História. São Paulo: Editora Scipione, 2004.
VYGOTSKY, L. Pensamento e linguagem. 3. ed. São Paulo: Martim Fontes, 1991.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/a-primeira-missa-no-bra-
sil/>. Acesso em: 3 abr. 2017.
2
Disponível em: <http://letrasppp320121.blogspot.com.br/2012/05/carta-ao-leitor-
-lev-vygotsky-philippe.html >. Acesso em: 3 abr. 2017.
3
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1414-32831999000100011>. Acesso em: 4 abr. 2017.
4
Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/930/isabel-barca-fala-sobre-
-o-ensino-de-historia>. Acesso em: 4. abr. 2017.
95
GABARITO
1) A resposta é subjetiva, contudo espera-se que você, caro acadêmico, possa rele-
tir sobre a sua própria prática pedagógica a partir do estudo desta unidade, bem
como a partir da leitura deste excerto.
2) São várias as habilidades que precisamos desenvolver em nossos alunos:
■ Identiicar o próprio grupo de convívio e as relações que estabelecem com
outros tempos e espaços;
■ Organizar alguns repertórios histórico-culturais que lhes permita localizar
acontecimentos numa multiplicidade de tempo, de modo a formular expli-
cações para algumas questões do presente e do passado;
■ Conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais, em di-
versos tempos e espaços, em suas manifestações culturais, econômicas,
políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças entre eles;
■ Reconhecer mudanças e permanências nas vivências humanas, presentes
na sua realidade e em outras comunidades, próximas ou distantes no tem-
po e no espaço;
■ Questionar sua realidade, identiicando alguns de seus problemas e rele-
tindo sobre algumas de suas possíveis soluções, reconhecendo formas de
atuação política institucionais e organizações coletivas da sociedade civil;
■ Utilizar métodos de pesquisa e de produção de textos de conteúdo histó-
rico, aprendendo a ler diferentes registros escritos, iconográicos, sonoros;
■ Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade, reconhecen-
do-a como um direito dos povos e indivíduos e como um elemento de for-
talecimento da democracia.
3) São vários os motivos, dentre eles podemos citar:
■ Contribui para a construção da cidadania;
■ Colabora no desenvolvimento de raciocínios historicamente corretos;
■ Permite formular questões que permeiam nosso cotidiano;
■ Possibilita a aquisição do diálogo entre presente-passado;
■ Analisa fatos cotidianos como processos históricos;
■ Localiza e identiica acontecimentos no tempo e no espaço;
■ Relete a atuação do homem em sociedade e as transformações no espaço
ocorridas em detrimento de suas necessidades.
4) Alternativa “C”.
5) Alternativa “A”.
Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
III
A UTILIZAÇÃO DOS
UNIDADE
DOCUMENTOS HISTÓRICOS
EM SALA DE AULA
Objetivos de Aprendizagem
■ Aguçar o interesse pelas várias formas de acesso ao conhecimento
histórico e diferentes fontes e linguagens: fotograia, vídeo, pintura,
textos e documentos de época.
■ Desenvolver habilidades de observação, identiicação e
compreensão, além da própria linguagem (forma, estética,
composição do todo), para estabelecer relação entre forma e
conteúdo das fontes históricas.
■ Aprender a utilizar didaticamente documentos históricos em sala de
aula.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Historiadores e professores: diferentes usos das fontes históricas
■ A análise didática de uma fonte histórica
■ Documentos escritos e não escritos
■ A construção do conhecimento por meio das fontes históricas
99
INTRODUÇÃO
documentos dos escritos aos arqueológicos, passando pelos artísticos entre outros.
(BOURDÉ; MARTIN, 1990).
Portanto, o autor levantou a hipótese de se consultar certidões de batismo e
outros documentos pessoais e oiciais, que constavam nos arquivos municipais,
estaduais e até nacionais, observar imagens pintadas ou esculpidas, o mobiliário
dos túmulos e inscrições das lápides, crônicas, cartas do passado, objetos retira-
dos de escavações arqueológicas entre outros.
O diferente uso das fontes históricas inclui a análise didática de uma fonte
histórica e a construção do conhecimento por meio dessas fontes. Por esse
motivo, Bloch insistia que a formação de um historiador deveria obedecer a um
cuidadoso processo, que o preparasse corretamente para aquele que chamava
de “ofício” de historiar.
Por isso, caro estudante, nesta nova unidade você compreenderá os diferentes
usos das fontes históricas pelos historiadores e professores. Além disso, conhe-
ceremos os processos de análise didática de uma fonte histórica, isto porque a
fonte em si não é produzida com ins didáticos. É preciso fazê-la “falar”, para ser
usada como um recurso didático, e desenvolver a aprendizagem em nossos alunos.
Ademais, faremos a distinção entre os documentos escritos e não escri-
tos e, para isso, utilizaremos como referência os estudos da historiadora Circe
Bittencourt.
Introdução
100 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
HISTORIADORES E PROFESSORES: DIFERENTES
USOS DAS FONTES HISTÓRICAS
Marc Bloch (1976) insistia não apenas em explorar novos documentos, mas tam-
bém em descobrir novos “domínios” para a História, ou seja, tentava alargar o
campo da História para outras direções.
Orientava seus estudos, por exemplo, para a análise dos fatos econômicos e,
nesse ponto, foi inluenciado “sem o reconhecer explicitamente, pela obra de Karl
Marx, que o incita a relacionar as estruturas econômicas e as classes sociais”. Ou,
ainda, foi inspirado por outros historiadores como Henry Hauser, com relação
aos estudos em que se ocupava da apreciação das lutuações econômicas, com
base em séries de preços (BOURDÉ; MARTIN, 1990, p. 226).
Aquilo que ele preconizava para todo aquele que aspirasse à ciência histórica,
ele aplicou aos seus próprios trabalhos, dos quais um dos maiores foi: “Os carac-
teres originais da história rural francesa, do século XI ao século XVIII” de 1931.
Além do culto às origens e do correto enquadramento no tempo que se exige
de toda obra histórica, Bloch observou as formas de ocupação do solo (espaço
Em sua obra “Introdução à História” (1976), Bloch traz a tona uma pergunta
feita a um pai historiador por seu ilho: “Para que serve a História?” e esclarece
que a obra se destinará a responder esta pergunta.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
p. 70) lembra que, para penetrar numa consciência alheia, é preciso que nos des-
pojemos “de nosso próprio eu”.
O saber objetivo, ainda que não absoluto, entra no rol de metas de um his-
toriador que procura “compreender o passado a partir do presente” (1976, p. 11)
ou, numa via de duas mãos, “compreender o presente à luz do passado” (1976,
p. 13). Aliás, o autor enfatiza sempre que é o perpétuo “vaivém entre passado e
presente” que permite “enriquecer o conhecimento das sociedades antigas e escla-
recer sobre ela mesma e a sociedade actual” (BOURDÉ; MARTIN, 1990, p. 128).
Dessa forma, perante manuscritos, escritos gráicos, epigráicos e materiais de
toda sorte, desde moedas até selos, o historiador tem de saber “conversar”, o que
equivale a “dialogar atentamente” com suas fontes, como recomenda Marc Bloch.
A metodologia do Ensino de História inclui, em seus capítulos mais impor-
tantes, o uso das fontes históricas e suas análises didáticas.
Na perspectiva histórica da Escola dos Annales, fundada por Frebvre e Marc
Bloch, é proposta a utilização de diversos tipos de fontes, não se restringindo
apenas à utilização da história política, dos grandes feitos, como propunham os
positivistas. Isto porque,
diante dessas considerações conigura-se a necessidade da utilização de
diversas metodologias, fontes e linguagens para a construção de uma
História mais atrativa para os jovens desinteressados e desmotivados
diante de repetições, decorações e nulidade analítica. Dentre as lingua-
gens que podem ser abordadas no estudo da História estão a literatura,
a música, a cultura material e imaterial, o teatro, as artes plásticas e o
cinema (FERRAZ; CAVALCANTI, 2006, p. 159).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Inovar quanto ao ensino de História, por meio de recursos pré-selecionados
que proporcionem aulas mais interessantes e atrativas, viabilizando assim a melhor
aprendizagem é, sem dúvidas, algo necessário para que o aluno compreenda a
História enquanto uma área do conhecimento em construção, e não apenas um
rol de informações quase sem valor sobre o passado. “O processo de conheci-
mento é a grande aventura e o grande desaio que o educador enfrenta quando
prepara suas aulas e quando as envolve com os seus alunos” (RUIZ, 2004, p. 75).
Ultimamente, generalizou-se entre nós o uso de livros didáticos, paradidáti-
cos, ilmes, excertos de jornais e revistas, mapas, dados estatísticos e tabelas, CDs,
DVDs e outros suportes informativos que produzidos (ou não) especialmente
para a escola, exigem dos professores uma análise de sua viabilidade quanto a
promover a verdadeira ciência a serviço da aprendizagem.
Bittencourt (2004) explica como fazer a análise destes suportes informati-
vos e, além do mais, pesquisadores do ensino de História e Geograia do Institut
National de Recherche Pédagogique (INRP) da França nos indicam alguns meios
para tal raciocínio, que decompõe em partes o que vem apresentado em tantos
instrumentos novos a nossa disposição.
Nossa sociedade atual, chamada de Sociedade ou Economia do Conhecimento,
ainda Sociedade Pedagógica, segundo pensadores como Peter Drucker (1993)
ou Michel Serres (1999), assinala a ascensão do conhecimento como um com-
ponente nuclear do capital.
Visto como um bem que gera outro bem, renda ou produção, o capital,
com todos seus componentes (equipamento, patrimônios, títulos, proprieda-
des...) ainda tem por centro de convergência o dinheiro. Ainda porque cada vez
mais se tem por máxima que a socialização da renda se fará por meio do conhe-
cimento. É fácil compreender isso se pensarmos que, sem dinheiro no bolso,
poucos adquirem conhecimento (donde o papel das escolas públicas é cada vez
mais enfatizado), porém sem conhecimento, o dinheiro no bolso escasseia na
mesma medida em que o conhecimento o enche.
Além disso, estamos em um tempo em que as novas tecnologias propiciam
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A abordagem holística nos permite ver o aluno como um ser anímico total, e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
não apenas uma máquina de aprender.
Segundo Antunes (2001, p. 30), “a aprendizagem signiicativa é o processo
pela qual uma nova informação se relaciona de maneira não arbitrária e substan-
tiva (não literal) à estrutura cognitiva do aprendiz”, ou seja, é uma aprendizagem
que tem signiicado para o aluno, dirigindo-o à construção do conhecimento.
Bittencourt (2004, p. 190) se serve dos ensinamentos de Paulo Freire para
lembrar que:
cabe ao professor [...] reconhecer e estabelecer um diálogo com esse co-
nhecimento, porque os alunos estão sempre em processo de aprender
mais e não são absolutamente sujeitos acomodados; ademais, adverte-
-nos o grande educador, o conhecimento não é um dado imobilizado
apenas transferido de um especialista para outra pessoa que ainda não
o possui.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
teligível, sem causar muitos obstáculos iniciais. É preciso cuidado para
que os documentos forneçam informações claras, de acordo com os
conceitos explorados, e não tornem difícil a compreensão das infor-
mações.
DOCUMENTOS ESCRITOS
O Jornal
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tos instrumentos que podem enriquecer o processo de ensino-aprendizagem.
Especiicamente a respeito do uso de textos jornalísticos, Bittencourt ressalta
que é importante considerar tais notícias como um discurso que jamais é neu-
tro ou imparcial. É isto que nos permite uma crítica mais cuidadosa “referente
aos limites do texto e aos interesses de poder implícitos nele” (BITTENCOURT,
2004, p. 337).
Um discurso que não seja neutro pode ser visto como um produto de uma
empresa capitalista, que então oculta estratégias tendentes a facilitar a recepção
da mensagem por parte dos leitores, ainda que as ideias veiculadas não expressem
a realidade em todas as suas faces possíveis. É o que Marilena Chauí (2000) nos
ensina quando airma que esse tipo de ideologia é “a arte de dizer meias-verda-
des”, pois se a verdade for dita inteira, a intenção de mascará-la não se completa.
O jornal, portanto, é um material didático de fácil acesso, com conteúdos
atualizados ou que permitem retrospecto histórico, porém tudo que envolve o
ato de educar pressupõe também cuidados que resguardam a responsabilidade
com a verdade. Acreditando no jornal como uma das formas mais acessíveis de
acompanharmos as mudanças vertiginosas dos fatos, (e aqui nos remetemos às
aulas de História), é fundamental que professores e alunos desenvolvam habi-
lidades e o hábito de ler, e descubram na leitura formas de ingressar no mundo
do saber e da cultura.
É importante que os educadores atentem à fatores básicos para o planeja-
mento de atividades com o jornal em sala de aula:
1. O tempo que se pretende dedicar ao jornal, no conjunto de atividades de
seu programa anual.
A Literatura
Outro tipo de documento escrito não oicial que pode ser trabalhado de maneira
interdisciplinar é a literatura, como romances, poemas ou contos. Tais textos
cabem como consulta não apenas nas aulas de Língua Portuguesa, mas também
para o ensino de História e outras disciplinas.
Os estudos de textos literários têm como objetivo não apenas desenvolver o
gosto pela leitura, mas também fornecer condições de análises mais profundas
para o estabelecimento de relações entre conteúdo e forma. Para analisar uma
literatura, é necessário também oferecer outros textos de apoio como informações
sobre o autor e a obra, dicionários, enim, complementos para a compreensão
do texto literário.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
za em diferentes épocas (FONSECA, 2003, p. 165-166).
Cabe aos professores uma escolha que permita não confundir história com ic-
ção ou aventura, ainda artigos e textos que contenham mais opiniões do que
análises e sínteses cientíicas, que não permitam que no educando se instalem
concepções fantasiosas a respeito do assunto em discussão.
A Fotograia
Antunes (2005, p. 122) acrescenta que é preciso selecionar documentos que esti-
mulem “os alunos a enxergar as entrelinhas das fotos, os detalhes da ilustração”,
para aprimorar sua acuidade visual e espacial “em aprendizagens mais estrutu-
radas e mais signiicativas”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 1: Na foto, uma menina vietnamita, Kim Phuc, de apenas 9 anos de idade corre pela estrada nua e
gritando em meio à indiferença dos soldados norte-americanos, logo após ter sua aldeia incendiada por
uma bomba de napalm.
Fonte: Bitaites (2007, on-line)1.
Portanto, ao observar uma foto, deve-se reletir sobre os elementos que ela com-
põe e o que signiicam. Seguem abaixo algumas perguntas que contribuem para
essa relexão:
a. Que pessoas aparecem na fotograia?
b. Descreva a aparência física e o vestuário das pessoas da foto.
c. Descreva o local onde foi tirada a fotograia.
d. O que as pessoas da foto estão fazendo?
e. Há alguma informação escrita no verso da fotograia?
f. Em que época ou data ela foi tirada?
g. Quem a tirou?
h. Quais as condições de preservação da fotograia?
O Cinema
O cinema pode ser visto como outra forma de registro, que amplia o foco do
professor interessado em utilizar o dinamismo de suas imagens, visto que um
programa de televisão ou um ilme nos despertam sensações, e o conhecimento
ocorre com profundidade quanto às emoções e percepções provocadas.
Bittencourt (2004) recomenda ao professor identiicar as preferências dos
alunos e conciliá-las com o tipo de imagens que permitirão o levantamento de
questões e incentivarão à curiosidade. O fundamentalismo, tal como acontece
no Irã, as sempre retomadas cenas da 2ª Guerra Mundial, o julgamento de Joana
d’Arc e a história de Abelardo e Heloísa, por exemplo, são excelentes para reme-
terem nossos alunos a uma realidade em seu contexto, com cores e impressões
duradouras. O cinema é uma instituição aberta ao público que conserva e exibe
evidências do passado, e têm a inalidade de promover a pesquisa e a educação,
valendo-se de um recurso prazeroso e de lazer.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As Músicas
Além do mais, entre os documentos não escritos, podemos citar as peças musi-
cais. Assim como a literatura, é comum airmar que elas são espelhos da sociedade
que as produziu.
Há mais de dois mil anos, ilósofos como Platão e Aristóteles já exaltavam
a sonoridade como veículo da educação. Era comum os jovens gregos declama-
rem seus poemas acompanhados de suas cítaras ou liras.
Anchieta, enquanto catequista dos curumins do Brasil, associava música e
dança, ensinando a esses indiozinhos com sons e passos de cateretê.
Fonseca (2003, p. 187) dá seu testemunho a esse respeito, lembrando que:
ensinar história por meio de canções foi meu maior desaio e minha
grande paixão desde o início da minha carreira docente. Nos primeiros
anos de magistério, procurava auscultar os interesses dos adolescentes
Com ela concorda Bittencourt (2004), quando airma que a música, erudita ou
popular, integra nossa cultura tão fortemente que pode ser classiicada entre os
mais atuantes dos documentos não escritos, considerando os que temos à dis-
posição em nossa docência.
Porém, fazer uso da música como mera ilustração do conteúdo não conduz
à relexão e tampouco ao conhecimento histórico, tão privilegiado atualmente,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
como vimos apresentando até aqui, pois não promove o pensamento crítico do
aluno e nem o leva a se interrogar sobre sua historicidade, já que o mesmo está
condicionado a olhar as canções como alegorias ilustrativas e até mesmo des-
prezá-las, desvinculando-as de seu período histórico.
Para Bittencourt (2004, p. 379), “o uso da música é importante por situar os
jovens diante de um meio de comunicação próximo de sua vivência, mediante
o qual o professor pode identiicar o gosto, a estética da nova geração”.
A historiadora propõe uma atividade ao trabalhar com músicas em sala de aula:
1. Colocar uma música atual ou de interesse da turma;
2. Questionar aos alunos a respeito do tema, do ritmo e da interpretação
que se pode ter a partir da primeira impressão da canção;
3. Chamar a atenção dos alunos para os instrumentos utilizados na canção;
4. Perguntar onde os alunos costumam ouvir músicas;
5. Então, levantar questões a respeito do ato de ouvir música sem as técni-
cas eletrônicas da atualidade.
6. A partir das respostas dos alunos na etapa anterior, o professor deve ofere-
cer documentos que respondam aos questionamentos ou que conirmem
o que foi mencionado pelos alunos;
7. Sempre indo além de uma primeira análise do que se propõe como docu-
mento histórico (BITTENCOURT, 2004).
Bittencourt não foi a única historiadora a estudar o “poder” que a música exerce
sob as pessoas. O historiador britânico Erick Hobsbawm foi um dos pioneiros
no estudo das canções, fazendo um estudo aprofundado sobre o jazz norte-ame-
ricano e observando suas inluências no mundo ocidental. Por ser materialista
histórico, ele analisou as condições sociais e também o contexto em qual este
gênero estava inserido.
Podemos destacar, portanto, que a música é um importante instrumento de
transmissão de mensagem, que consegue abranger uma gama de pessoas por todo
mundo. Devido a isso, não utilizá-la em sala de aula é o mesmo que o professor
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
não oferecer aos alunos materiais suicientes para seu desenvolvimento intelec-
tual e social, pois a música é presença constante na vida das pessoas.
Está icando cada vez mais óbvio o sentido que pretendemos dar à constru-
ção do conhecimento por meio das fontes históricas, sem desprezar nenhuma
delas, desde as manuscritas, tais como encontramos em arquivos antigos mais
difíceis de manusear, mas sempre interessantes como testemunho, até as escri-
tas impressas e não escritas de vários tipos e, ainda, os documentos virtuais que
a informática e a internet nos proporcionam.
O uso de documentos em sala de aula, independentemente de seu teor e forma,
permite que operemos a construção e reconstrução do conhecimento histórico.
Na visão positivista da História, o documento era encarado como prova
do real. A aplicação dessa visão ao livro escolar assumia um caráter teleoló-
gico – o documento cumpria a função de ressaltar, exempliicar e, sobretudo,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O trabalho com o documento histórico, independente da sua natureza, deve
ser pautado na interpretação. É evidente que as interpretações são relacionadas
a todo o conhecimento histórico acumulado, ou seja, às interpretações de histo-
riadores consagrados. Nesse sentido, docentes e alunos devem atuar não apenas
como consumidores, mas como cocriadores deste conhecimento.
Ao se trabalhar com documentos em sala de aula, principalmente os escri-
tos, devemos considerar algumas etapas:
1. Exploração inicial: permite ao aluno explorar o documento sem a inter-
venção do professor. Aqui vale a primeira impressão, o que marcou,
chamou a atenção, etc., buscando informações (internas ou externas ao
documento);
2. Identiicação da data e local: geralmente constam na fonte original.
Quando não, o professor deve fornecer condições para que os alunos iden-
tiiquem a data e o local de produção e difusão do documento;
3. Finalidade: identiicar o objetivo do documento a partir da leitura do
próprio documento. Deve-se questionar se o documento foi produzido
como registro para o futuro (documento) ou se tinha ins práticos para
resolver uma questão imediata (monumento);
4. Contextualização: visa estabelecer em qual conjuntura o documento foi
produzido. Isso pode ser notado tanto nas características explícitas, quanto
aquelas que conseguimos identiicar através da leitura nas “entrelinhas”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
les que estão lendo o documento.
A sala de aula pode ser vista como um ambiente ideal para a reconstrução
de tais conhecimentos por intermédio de fontes históricas, e aqui nos referimos
às que se encontram no sistema presencial ou que caracterizam a realidade vir-
tual de um ensino a distância.
Neste último caso, as telecomunicações unidas à informática proporcionam
um veículo rápido, que encurta distâncias para o conhecimento.
Em sua obra, em que os novos modelos que podem se estabelecer para o
ensino de História são abordados, Karnal (2004) parte do princípio que a História
linear está condenada ao desaparecimento e, depois do advento do fenômeno
da globalização – marcadamente na década de 1990, – temos de olhar em múl-
tiplas direções e atender a divergentes contextos.
“Até agora”, escreve, “a história era ensinada como se tratasse de quadros já
acabados”. Hoje já não é suiciente explicar como se chegou ao Renascimento
ou à Segunda Guerra Mundial, à construção do capitalismo ou ao desprestígio
do socialismo, que levou à hegemonia do neoliberalismo como política econô-
mica. “Ensinar a ediicar o próprio ponto de vista histórico signiica ensinar a
construir conceitos e aplicá-los diante das variadas situações e problemas”. Isso
equivale a “interpretar dados e informações de maneira a ter uma maior com-
preensão da realidade que estiver sendo estudada” (KARNAL, 2004, p. 77-78).
O autor parece preocupado com a retomada do humanismo em tempos
dominados pela tecnologia, e para valorizar o homem, nada melhor do que o
pensamento autônomo, construído pelo próprio indivíduo, produto de “uma
percepção mais abrangente possível da condição humana, nas mais diferentes
Os documentos não têm intenção didática e, por isso, são produzidos em di-
ferentes linguagens, por diversas formas de comunicação. Portanto, devem
ser analisados com antecedência para serem utilizados com ins didáticos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
124 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■ Desenvolver habilidades de pesquisar em arquivos e constituir os seus
próprios.
Imagem 2:
PLANO DE AULA
Conteúdo(s)
■ A ciência da Arqueologia.
■ Construção do conhecimento histórico.
■ Tempo estimado: 6 aulas
Material necessário
■ Luvas lexíveis de borracha, caderno, lápis.
■ Imagens de sítios arqueológicos e pinturas rupestres encontradas nos sites:
■ Instituto Itaú Cultural;
■ Fundação Museu do Homem Americano;
■ Portal ComCiência;
■ Museu de Arqueologia e Etnologia da USP;
■ Portal Arqueologia;
■ Desvendar
■ Artigos cientíicos no site do Museu Arqueológico de Sambaquis de Joinville
Desenvolvimento
1ª etapa: Quando os alunos entrarem na sala de aula, diga que aquele ambiente não
foi arrumado de propósito (para isso, certiique-se de que a área já tenha sido usada).
Proponha que procurem vestígios que informem sobre o que ocorreu ali. Explique que,
130
assim como pesquisadores, eles investigarão o passado - na lata de lixo, no que está
escrito no quadro, nas inscrições das carteiras, no mural, nos materiais espalhados e na
posição das mesas. Organize a turma em duplas: um aluno deve usar luvas para vascu-
lhar objetos e outro deve tomar notas. Em seguida, diga que respondam à pergunta: o
que houve na sala?
2ª etapa: No quadro, seja o escriba de um relato coletivo, procurando ligar os objetos
às interpretações dos alunos. Questões que podem ser respondidas: de qual disciplina
era a aula anterior a essa? Os estudantes parecem ter se concentrado? Saíram da sala
com pressa? Proponha que respondam à questão: como foi possível escrever um relato
histórico a respeito do que houve no passado sem que nós estivéssemos lá para ver?
3ª etapa: Apresente fotograias de escavações sendo realizadas por arqueólogos. Expli-
que que, de maneira semelhante ao que eles izeram na sala, há proissionais que procu-
ram vestígios das antigas sociedades. Discuta sobre como os arqueólogos podem saber
o que ocorreu perguntando: que vestígios eles podem encontrar e que interpretações
fazem? Como lição de casa, distribua cópias de uma fotograia de desenho rupestre e
solicite que descrevam e interpretem a imagem.
4ª etapa: Na sala de informática, visite com os jovens o site do Instituto Itaú Cultural
sobre Arqueologia Brasileira e acesse o link “linha do tempo”. Diga que analisem a ima-
gem do sítio arqueológico e as camadas de solo. Esse é o momento de aprenderem que,
quanto mais profundos os objetos estão, mais antigos são. Solicite que cada dupla entre
em um dos links e recolha informações a serem compartilhadas com a classe (caso você
não disponha de computadores, imprima as páginas do site).
Avaliação
Para avaliar a aprendizagem dos alunos, distribua um texto sobre a serra da Capivara,
um parque nacional e sítio arqueológico do sertão do Piauí. Peça que elaborem uma
linha do tempo nos moldes da vista no site do Itaú Cultural. Note se consideram que os
vestígios mais antigos devem estar na parte mais profunda, e os mais novos, na superior.
Fonte: Nova Escola Clube (2017, on-line)2.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Cibercultura
Pierre Lévy
Editora: 34
Sinopse: o que é a cibercultura? Que movimento social
e cultural encontra-se oculto por trás deste fenômeno
técnico? Podemos falar de uma nova relação com
o saber? Quais são as mutações que a cibercultura
gera na educação e na formação? Quais são as novas
formas artísticas relacionadas aos computadores e às
redes? Como o desenvolvimento do ciberespaço afeta
o espaço urbano e a organização do território? Quais
são as implicações culturais das novas tecnologias?
Da digitalização à navegação, passando pela memória,
pela programação, pelo software, a realidade virtual, a multimídia, a interatividade, o correio
eletrônico, etc, este livro apresenta as novas tecnologias, seu uso e suas questões.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
O Substituto
Ano: 2012
Sinopse: Henry Barthes (Adrien Brody) é um professor
de ensino médio, que apesar de ter o dom nato para se
comunicar com os jovens, só dá aulas como substituto, para
não criar vínculos com ninguém. Mas quando ele é chamado
para lecionar em uma escola pública, se encontra em meio
a professores desmotivados e adolescentes violentos e
desencantados com a vida, que só querem encontrar um apoio
para substituir seus pais negligentes ou ausentes. Sofrendo
uma crise familiar, Henry verá três mulheres entrando em sua
vida e vai começar a perceber como ele pode fazer a diferença,
mesmo que isso venha com um alto custo.
Nós da Educação
O programa “Nós da Educação” entrevista a professora Marlene Rosa Cainelli, Doutora em História
Social pela Universidade Federal do Paraná, abordando o ensino de História, a formação de
professores e alternativas para a prática em sala de aula. TV Paulo Freire.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TWGKFrIRcI0>. (Parte 1 de 3); <https://www.
youtube.com/watch?v=BfgP63HRvTQ>. (Parte 2 de 3)
<https://www.youtube.com/watch?v=uTamlVmRI8c>. (Parte 3 de 3).
Acesso em: 17 abr. 2017.
133
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1. Esta atividade permite a você, caro aluno, exercitar o que discutimos nesta uni-
dade, portanto, ela é subjetiva.
2. A segunda atividade também é subjetiva, mas aqui você ainda pode fazer uma
pesquisa pela internet para contextualizar o momento e a proposta que a can-
ção nos traz.
3. São vários os documentos históricos que podemos utilizar em sala de aula. Al-
guns deles são:
Documentos Escritos:
Expressam ideias, sentimentos e impressões do mundo por meio de registros escri-
tos. São subdivididos em oiciais e não oiciais. Ex: a carta de Pero Vaz de Caminha.
Documentos Iconográicos (imagens):
São utilizados para representar as ideias, objetos, pessoas e suas vestimentas, além
dos acontecimentos por meio de imagens, desenhos, pinturas e fotograias.
Documentos de cultura material:
Os objetos, as roupas, os brinquedos, os monumentos, ferramentas e móveis são
fontes valiosas, principalmente se tratando de sociedades que não deixaram regis-
tros escritos.
Documentos orais:
As entrevistas e depoimentos são reconhecidos como fontes históricas. Ex: todo o
conhecimento dos indígenas transmitido de geração em geração oralmente (tradi-
ção oral).
Documentos sonoros:
As músicas e os ritmos em geral informam sobre como pensavam os homens de
determinada época.
4. Alternativa “B”.
5. Alternativa “D”
Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
A PRÁTICA PEDAGÓGICA E
IV
UNIDADE
O ENSINO DE HISTÓRIA
Objetivos de Aprendizagem
■ Discutir o planejamento como ponto de partida de qualquer ação
didática, visando à aprendizagem por parte dos alunos.
■ Compreender as diferentes linguagens para o ensino de História.
■ Analisar o Parecer/Lei 10.639/03 – transformada na Lei 11.645 de
2008, que incluiu a temática Cultura Afro-brasileira e Indígena,
abrindo possibilidades à ediicação da igualdade e da repreensão às
atitudes e posturas de discriminação no ambiente escolar.
■ Estudar o processo avaliativo para a disciplina de História,
considerando suas características e compreendendo suas
especiicidades.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Efetivando a aprendizagem: o planejamento como ponto de partida
■ As diferentes linguagens no Ensino de História: uma proposta
interdisciplinar
■ Cultura Afro-brasileira e Indígena
■ Avaliação como processo de melhorias da ação docente e discente
139
INTRODUÇÃO
Autores como Bernard Charlot (1990; 1994), nos alertam sempre, em suas obras,
sobre o perigo de se enveredar por uma “mistiicação pedagógica”.
A diferença ou o abismo, que muitas vezes se abre entre o que se projeta e o
que se alcança é lagrante, e a se julgar pelo que airma Charlot, nas terras fran-
cesas ocorre o mesmo fenômeno frustrador que sentimos entre nós brasileiros.
Uma das grandes prioridades do mundo intelectual nas últimas décadas tem
sido a necessidade de planejar. Planejamento é a primeira atividade, sem a qual
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
140 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
EFETIVANDO A APRENDIZAGEM:
O PLANEJAMENTO COMO PONTO DE PARTIDA
Segundo Rafael Ruiz (2004, p. 77), existem dois princípios para estudar e
ensinar História:
■ Ediicar o próprio ponto de vista tão explicitamente quanto possível;
■ Realizar sempre uma abordagem comparativa.
Desse modo, não devemos ensinar o edifício da História em si, mas sim, ensinar
os alunos a ediicarem o edifício. Pois, até agora, a História era ensinada como se
já houvessem quadros acabados. Ensinar a ediicar é o mesmo que levar nossos
alunos a construir conceitos e aplicá-los diante das várias situações-problema
que a vida impõe. Signiica ainda ensinar a selecionar, relacionar, interpretar,
compreender e construir argumentos. Enim, “ensinar a ter uma percepção mais
abrangente possível da condição
humana, nas mais diferentes cul-
turas e diante dos mais variados
problemas” (RUIZ, 2004, p. 78).
Portanto, o desaio do profes-
sor não é saber se isso é possível,
mas sim fazê-lo ensinando História
e, por esse motivo, o planejamento
é um dos primeiros passos para
a aprendizagem eiciente e eicaz.
Planejar é um processo de
busca e equilíbrio entre meios e
ins, envolve recursos e objetivos,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
curriculares.
Vale lembrar que não devemos entender o planejamento como uma simples
tarefa burocrática, ou seja, realizá-lo somente porque a equipe diretiva exige. Muito
mais que isto, o planejamento é o momento inicial de qualquer ação docente,
pois sempre que acordamos planejamos nossas ações diárias e fazemos planos
para o futuro. Na escola não poderia ser diferente.
Esse processo de decisão sobre a atuação concreta dos docentes, envolvidos
no cotidiano de seu trabalho
pedagógico, não deve nunca
ser improvisado e, além disso,
o professor deve não só conhe-
cer os alunos para os quais
planeja tais atividades, como
também saber sobre o que irá
ensinar e como ensinar.
Campos e Nigro (1999, p.
99) se dedicam a explicar algo
sobre o planejamento de uma
unidade didática “de olho na
sala de aula”. Seus exemplos
são importantes para explicar
o que ocorre quando um professor desconsidera as concepções que as crianças têm
sobre o assunto abordado e faz um planejamento descuidado, que compromete
seus objetivos e torna as unidades didáticas frágeis e a aprendizagem supericial.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em sua obra “Uma didática para a pedagogia histórico-crítica”, de 2002,
Gasparin divide a nova didática em cinco passos: prática social inicial; proble-
matização; instrumentalização; catarse e prática social inal, com o intuito de
alcançar um único objetivo: a aprendizagem por parte do alunado.
como airmou Içami Tiba, em uma de suas palestras, lembrando que os alunos,
embora adorem estar na escola, não gostam de estudar.
Alguns professores falham na hora
de explorar a realidade e descobrir o
conhecimento acumulado historica-
mente pela humanidade com o aluno.
Esse fato ocorre principalmente na
disciplina de História, na escolha dos
conteúdos, quando o professor valoriza
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
somente o passado. Além disso, a frag-
mentação dos conteúdos, dos horários e
da estrutura burocrática na escola dii-
culta mais ainda esse aspecto.
Para alunos atualizados e moder-
nos, que têm acesso à internet, explorar signiica “navegar”. Já para o aluno
excluído desse processo, explorar a realidade signiica a busca pela sobrevivência
no mundo atual, com violência e violação da dignidade e direitos. Assim, para
ambos os alunos, “a realidade é mais dinâmica e mais urgente do que a exposi-
ção de uma aula” (NETO, 2004, p. 58).
Para superar o problema, há a proposta da transversalidade, atrelada aos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que já mencionamos na unidade
anterior.
A transversalidade apresenta uma proposta que ultrapassa a fragmen-
tação dos conteúdos e disciplinas, prevendo um trabalho cujo conheci-
mento seja construído em função dos temas e propostas apresentados.
Atrelado aos PCNs, publicados pelo Ministério da Educação, onde se
pretende obter um referencial de conteúdos das diversas disciplinas,
são apresentados temas que devem nortear a elaboração dos objetivos,
programas e conteúdos que serão desenvolvidos por professores e alu-
nos nas escolas brasileiras (NETO, 2004, p. 59).
Devemos capacitar nossos alunos para estarem aptos a viverem nestes tempos
que se impõem, ou seja, prepará-los para resolver situações-problema por meio
da autonomia. Dessa forma, o desenvolvimento dessas capacidades habilitará
o estudante a relacionar as informações e instrumentalizá-las na sua leitura de
mundo, que por sua vez deverá ser menos preconceituosa e mais plural e ética,
conforme os temas propostos pela transversalidade.
Para chegar a essa realização, todas as áreas têm compromissos que impli-
cam em maior participação no processo de formação dos alunos.
No processo de formação de estudantes, alguns menosprezam os saberes
tradicionais, como se a presença de formação ética e cidadã signiicasse a ausên-
cia do domínio de conteúdos e das ciências. Outros desprezam as formulações
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
em detrimento dos grandes feitos do passado, é ignorar a angústia dos
alunos e educar com o olho voltado para trás, com um saudosismo in-
justiicável que signiica dizer que as questões de outras gerações foram
mais importantes que as da atualidade.
Dessa forma, o ensino de História deve ser realizado de acordo com os temas
propostos pela escola, a im de se tornar presente e capaz de dizer sua função
no processo escolar.
Dois são os procedimentos utilizados no ensino de História:
■ A divisão em períodos da História: História do Brasil, História Geral ou
da América.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você é adepto a um ensino transversal? Como faria para que isto se tornasse
vivo em suas aulas?
A seguir, são citados alguns pontos que resumem a proposta de trabalho com
os temas transversais:
■ Valorizar o aluno e seu universo.
■ Estimular a oralidade, a produção textual e análise de documentos.
■ Selecionar o que falar e como falar para que o aluno possa fazer a articu-
lação entre sua individualidade e a história coletiva.
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para ouvi-las e questioná-las (NETO, 2004).
Nilbo Ribeiro Nogueira (1998) faz uma interessante distinção, que merece nossa
atenção, ao discutir sobre os termos multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade,
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.
A multidisciplinariedade, segundo ele, acontece quando há integração de
diferentes conteúdos de uma mesma disciplina. O professor de História pode
tratar de temas como a escola, integrando-os ao contexto da cultura.
Na pluridisciplinaridade, existem sinais de uma cooperação entre as disci-
plinas, ainda que pequena. Exemplo típico, segundo Nogueira (1998), é quando
trabalhamos com um mesmo tema nas diferentes disciplinas.
Já na interdisciplinaridade, a tônica é o trabalho de integração dos diferen-
tes áreas do conhecimento. As diferentes disciplinas não aparecem isoladas, visto
que a dinâmica conduz à uniicação. Neste momento, se propõe um sistema sem
fronteiras, em que a integração chega a um nível tão alto que é impossível dis-
tinguir onde começa uma disciplina e termina a outra.
Segundo Nogueira (1998), este nível beira a utopia. Ademais, Ivani Fazenda
(1995, p. 31), concordando com ele, considera o nível transdisciplinar “o mais
alto das relações iniciais nos níveis multi, pluri e interdisciplinares”. É assina-
lado, porém, que isso se trata de uma utopia, por apresentar uma incoerência
básica. E explica: “a própria ideia de uma transcendência pressupõe uma instân-
cia cientíica que imponha sua autoridade às demais, e esse caráter impositivo
da interdisciplinaridade negaria a possibilidade do diálogo, condição sine qua
non para o exercício efetivo da interdisciplinaridade”.
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O saber incorporado ao vivido é uma condição importante para a forma-
ção integral do aluno, pois estimula a atitude crítica e responsável, preparando-o
para se tornar um cidadão ativo na sociedade, membro integrante da comuni-
dade e possível agente transformador.
HISTÓRIA E LITERATURA
Esta relação que podemos estabelecer entre literatura e História merece destaque
nos últimos anos, por meio de estudos aproximando as duas áreas. Essa aproxi-
mação, pouco valorizada até a algum tempo atrás, oferece novas possibilidades
de trabalho aos professores polivalentes, como é o caso dos pedagogos que atuam
da Educação Infantil aos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Para estabelecer esta relação, é preciso “quebrar” as fronteiras entre o dis-
curso histórico e o discurso literário, sistematizando alguns elementos e propondo
novas formas de trabalho, principalmente nas salas de aula dos anos iniciais do
Ensino Fundamental, no momento da “hora do conto” em que, normalmente,
a professora da turma reúne seus alunos para ouvirem contos de fadas, lendas,
histórias infantis atuais ou obras de literatura infantil. Desse modo, propomos
que haja um trabalho conjunto, promovendo articulações entre o discurso lite-
rário e o histórico, problematizando as características das narrativas histórica e
literária. Para Sefner e Bicca Jr. (2002, p. 65),
Isto porque “a história foi por longo tempo considerada um ramo da retórica -
a arte de bem dizer- modalidade esta que admitia a proximidade entre ela e as
manifestações literárias em geral (HICKMANN, 2002, p. 65).
A aparente confusão entre História e literatura que hoje em dia parece existir,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Convém destacar que ambas as matérias narraram o mundo de formas diferen-
tes, pois enquanto a literatura trabalha com a convenção da iccionalidade, a
história trabalha com a convenção da veracidade.
Se adotarmos o modo de ver as coisas “ao pé da letra” como tratavam iló-
sofos e teóricos das ciências sociais até o início do século XIX, que acreditavam
que o fato real não se reduzia a si mesmo para constituir a “verdade”, e esta, por
sua vez, seria alcançada no momento em que se integrasse a um “conceito”, for-
mando o “discurso”, teremos problemas ao trabalhar História e literatura, tendo
em vista que, ao considerarmos a icção como “o que não é verdade”, teremos o
obstáculo da compreensão da realidade.
Devemos considerar equivocada uma pessoa que busca desqualiicar uma
obra de arte, procurando nela erros históricos. A obra literária é totalmente ic-
cional ou artística, mas também é totalmente histórica. De acordo com Sefner
e Bicca Junior (2002, p. 68), “analisada pelos olhos da história, uma obra de ic-
ção deixa perceber pistas e pegadas históricas que existem dentro dela”, podendo
proporcionar um debate em sala de aula. Muitas obras literárias inluenciam até
hoje gerações, sendo considerados documentos históricos de tal época.
Ao inal, deve-se aprofundar uma análise mais ampla da obra, com elementos
históricos e literários.
Assim, o objetivo da metodologia não é o de corrigir as obras literárias de
seus erros históricos, mas sim, estabelecer uma narrativa histórica que segue
e comenta as cenas descritas na literatura, até mesmo apontando divergências
entre o iccional e o histórico, no intuito de problematizar os diferentes cami-
nhos de produção das narrativas.
Deve-se, portanto, escolher uma narrativa rica em cenas que possam ser
comentadas a partir de um ponto de vista histórico, fazendo com que a narra-
tiva histórica preencha algumas lacunas que possam existir, como, acrescentar
informações a respeito de um determinado personagem histórico, permitindo
que o aluno se familiarize com conceitos como tempo, cultura, história, iden-
tidade, memória, guerreiro, cavaleiro, dinastia, casamento, cidade, passado,
presente, futuro etc., conceitos esses que lhes serão úteis quando estudarem a
disciplina de História na sua totalidade e especiicidade. Para Sefner e Bicca
Junior (2002, p. 70),
o trabalho de história sobre as literaturas infantis orienta-se no sentido
de recuperar os elementos históricos dispersos pelo texto, e aprofundá-
-los com leituras complementares, feitas pela professora e depois trans-
mitidas aos alunos através de contação de histórias, do uso de gravuras,
da leitura de pequenos textos, etc. conigurando a ‘hora da leitura.’
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
por exemplo, o povo trabalha, o clero reza e os nobres guerreiam. Ainda podemos
analisar os costumes do cotidiano, como: o que os personagens comem, quais
objetos possuem em suas casas, quais animais possuem, quais os meios de loco-
moção, onde moram etc. além da estrutura familiar, como o papel da madrasta,
localizando-os no tempo e no espaço.
Além disso, as gravuras e ilustrações também merecem destaque, conside-
rando sua importância para análise da obra. Podemos utilizar gravuras de épocas,
como as presentes em literaturas infantis clássicas, ou imagens atuais, reletindo
sobre o modo com que o ilustrador interpretou as situações e os personagens
presentes na obra. Além do mais, pode-se fazer uma comparação entre essas gra-
vuras com as gravuras históricas relacionadas ao mesmo tema.
A produção de uma aprendizagem signiicativa na aula de História é dada
pela capacidade de analisar situações históricas pelo aluno. E, assim, uma obra
literária fornece várias situações históricas, tanto do passado quanto do presente.
Para Sefner e Bicca Junior (2002, p. 72),
o ensino da história é um ensino de situações históricas [...] é a partir
de questões do mundo de hoje que o professor orienta seus alunos no
estudo de situações do passado [...] nesta medida torna-se importan-
te orientar o aluno a veriicar recorrências, mudanças e permanências
dentro de cada situação estudada.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Fatos Desconhecidos (2014, on-line)1.
HISTÓRIA EM QUADRINHOS
Um recurso didático que as crianças adoram e que pode ser usado também para
estudar conteúdos de História é a utilização das Histórias em Quadrinhos.
É fundamental que o professor selecione bem as HQs que serão utilizadas na
aula. Por sua grande variedade, a seleção deve ser feita tendo em mente o obje-
tivo da aula e atentando para os temas e a linguagem da história em quadrinhos,
bem como para o grau de desenvolvimento dos alunos e a faixa etária. Para os
primeiros anos do ensino fundamental, os alunos começam a socializar-se mais
e a ter mais atenção ao ambiente, identiicando características de pessoas e gru-
pos. Dessa forma, podem ser apresentadas diferentes HQs e incentivá-los a fazer
trabalhos que incorporem essa linguagem.
As HQs podem ser utilizadas para complementar as aulas de história, por
exemplo, com os conceitos das dimensões do tempo. No recordatório, que é um
texto que contextualiza as ilustrações para o leitor nas HQs, em que “se lê ‘mais
tarde... ’ ou ‘logo depois… ’ [no quadrinho] pode ser um exemplo de sucessão,
e aquele em que se lê ‘enquanto isso… ’ pode facilitar ao aluno a percepção da
A ATIVIDADE LÚDICA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
São inúmeras as vantagens dos jogos educativos que envolvem aspectos
motores, afetivos, morais e sociais. Cabe ao professor utilizar os jogos que deem
oportunidades aos alunos para desenvolverem esses aspectos que estão, na rea-
lidade, interligados.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Diferentes culturas e modos de vida sobrevivem lado a lado no território brasi-
leiro. Quais reações tem provocado o encontro dessas culturas? Como cada um
de nós interpreta o outro, o desconhecido? Leia a canção a seguir, escrita pelos
compositores e estudiosos da cultura popular Antonio Nóbrega e Wilson Freire,
que procura reproduzir a impressão dos habitantes do território brasileiro na
chegada dos portugueses (CABRINI; CATELLI; MONTELLATO, 2009).
CHEGANÇA
Sou Pataxó, sou Xavante e Cariri,
Ianomâmi, sou Tupi, Guarani, sou Carajá,
Sou Pancaruru, Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté, Ful-ni-ô, Tupinambá,
Depois que os mares dividiram os continentes,
Quis ver terras diferentes.
Eu pensei “vou procurar um mundo novo, lá depois do horizonte,
levo a rede balançante pra no Sol me espreguiçar”.
Eu atraquei num porto muito seguro, céu azul, paz e ar puro...
Botei as pernas pro ar.
Logo sonhei que estava no paraíso, onde nem era preciso dormir para sonhar.
Na primeira unidade do nosso material didático, foi abordado que a ciência his-
tórica procura compreender a cultura das sociedades. Nosso Brasil é rico tanto
em extensão quanto em culturas e sociedades. Na canção acima, é possível per-
ceber, por exemplo, que mesmo se tratando de indígenas há várias tribos, cada
qual com seus costumes, crenças, etc. Para tratar da temática, buscamos como
referência o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro.
O antropólogo Darcy Ribeiro (1913-1997) foi um dos maiores intelectuais
brasileiros do século XX. Em um passeio pela internet é possível encontrar vários
vídeos, que mostram os programas da série baseada na obra central de Darcy: O
Povo Brasileiro, em que o autor responde a questão “quem são os brasileiros?”,
investigando a formação do nosso povo. Coproduzida pela TV Cultura, a GNT
e a Fundar, a série conta com a participação de Chico Buarque, Tom Zé, Antônio
Cândido, Aziz Ab´Saber, Paulo Vanzolini, Gilberto Gil, Hermano Vianna entre
outras personalidades. O Povo Brasileiro é uma recriação da narrativa de Darcy
Ribeiro, e discute a formação dos brasileiros, sua origem mestiça e a singulari-
dade do sincretismo cultural que dela resultou.
Você já assistiu a um vídeo do Darcy Ribeiro? Que tal assistir antes de dar-
mos continuidade às nossas discussões?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cimentos, crenças, arte, moral e direito, além de costumes e hábitos adquiridos
pelos indivíduos em uma dada sociedade.
Tal conceito se faz importante para compreendermos porque cada um tem
uma visão de mundo, avalia determinado assunto sob certa ótica, nasce e con-
vive em uma classe social, pertence a uma etnia, etc. Todas estas são condições
que nos levam a pensar na diversidade cultural e, consequentemente, na alte-
ridade, isto é, no outro ser humano, que é igual a cada um de nós e, ao mesmo
tempo, diferente.
Se nos remetermos especiicamente à cultura brasileira, muitos foram aque-
les que tentaram determinar e entendê-la em suas múltiplas dimensões. Mas,
é certo que, embora com diferentes posições ideológicas e política, a grande
maioria concorda com o fato de que a característica marcante desta cultura é a
pluralidade cultural, o que é resultado do processo histórico-social e das dimen-
sões continentais de nosso imenso território. Desse modo, acredita-se que não
há somente uma cultura brasileira, mas sim várias culturas inseridas em uma,
fruto da multiplicidade étnica de sua concepção.
No Brasil, a miscigenação e a diversidade multicultural da sociedade foram
constituídas em suor e trabalho não remunerado de indígenas e africanos, que
receberam como fruto de seu esforço físico a segregação e os maus-tratos.
Foram séculos de dívida que marcaram nossa história, comemorada no dia 20
de novembro.
Fonte: a autora
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privada a obrigatoriedade do estudo da temática história e cultura africana e
afro-brasileira. Ferreira (2005, p. 1) expõe sobre o conteúdo da Lei:
de acordo com a lei, o conteúdo programático das diversas disciplinas
deve abordar o estudo de história da África e dos povos africanos, a luta
das pessoas negras no Brasil, a cultura negra brasileira e o(a) negro(a)
na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo
negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à história do
Brasil. Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira de-
vem ser ministrados no âmbito de todo o currículo escolar e, principal-
mente, nas áreas de educação artística, literatura e história brasileira.
Transcorremos abaixo o que a Lei vem nos explicitar para então darmos conti-
nuidade as nossas discussões:
LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pública.
negra e mestiça.
Esse segmento, com escolaridade insuiciente e padrão de vida bem abaixo da
média, precisa conhecer a história brasileira sob o ponto de vista não dos pseudo
vencedores, mas daqueles que realmente foram protagonistas dela.
A Lei explicita que não há uma disciplina ou série especíica para se traba-
lhar com a temática, pois esse tema deverá ser inserido no âmbito escolar nas
diversas disciplinas e séries a im de compreender, valorizar e integrar tal cul-
tura a própria cultura brasileira.
Contudo, Braga aponta que, embora decorridos quase dez anos da promul-
gação da Lei 10.639/04, “veriica-se que há muito para percorrer na trilha da
educação igualitária. Houve muita polêmica, e o que se constata é que as esco-
las não desenvolvem atividades concentradas no ensino de ‘História da Cultura
Afro-Brasileira’”. Continua justiicando este fato “pela ausência de material didá-
tico-pedagógico apropriado e de formação docente necessária à compreensão da
profundidade e importância desse tipo de aprendizagem ou mesmo pela resis-
tência pura e simples de alguns setores” (BRAGA, 2009, p. 3).
Percebe-se, então, que é necessário incentivo à aplicação da Lei, e não somente
sua iscalização, mas ambas, aplicadas conjuntamente, para resultados mais
efetivos na Educação Básica. Isso porque somos herdeiros de um pensamento
dominante que exclui a África, seus descendentes e os povos indígenas da pró-
pria história do Brasil, que foi oicializada pela versão lusitana.
Mas Ki-Zerbo (1982, p. 28) entende que é preciso resgatar essas histórias e
inseri-las no contexto escolar, por meio de atividades pedagógicas relexivas e compro-
metidas com fontes históricas ou documentos escritos, bem como pela tradição oral.
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experiências históricas do continente, mas num complexo mosaico de
experiências simultâneas em diferentes pontos do continente e não
raro díspares. Outra questão importante para o estudo da história afri-
cana e para análise das fontes é a interdisciplinaridade.
Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem
ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se po-
dem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.
(Nelson Mandela)
Quando se discute com estudantes a respeito das fontes mais utilizadas no pro-
cesso de construção da história de um povo, no caso, o africano, é interessante
introduzir os assuntos da espoliação e da dispersão destas fontes, que muitas
vezes foram desviadas do continente.
Questões instigadoras que levem à relexão destes processos são muito
valiosas, pois forçam a memorizar fatos importantes, por exemplo, no questiona-
mento: “Por que será que o Museu do Louvre, em Paris, possui um dos mais ricos
acervos de arte africana egípcia? Como estas peças passaram a integrar aquele
acervo?”. Dessa forma, há uma multidisciplinariedade no processo educacional.
Com esta única questão, retoma-se o contexto das “invasões napoleônicas, no
início do século XIX, quando uma quantidade enorme de produções artístico-
-culturais egípcias foram levadas para a França, constituindo parte importante
do acervo de arte egípcia do Louvre” (CENTRO DE REFERÊNCIA VIRTUAL
DO PROFESSOR, 2011, p. 3).
No que diz respeito às fontes arqueológicas, embora possuam variedade e
riqueza para compreensão da história, não há homogeneidade para seu estudo.
Desse modo, faz-se necessário ter em mente a importância da produção artística
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grande pluralidade cultural nas manifestações de dança. O Portal Brasil Escola
([2017], on-line)2 lista alguns tipos de danças folclóricas de origem africana:
Batuque – dança de origem africana, do ritual da procissão. É uma festa muito
popular nas cidades do interior de São Paulo, nas festas do Divino Espírito Santo,
ou nas festas juninas. O batuque é dançado em terreiro ou praça pública. Uma
ileira de homens ica a 15 metros de distância das mulheres, quando começa
a dança, os homens se aproximam das mulheres e encostam suas barrigas por
três vezes na companheira.
Samba de Lenço – é uma dança de origem africana, ele é sambado no meio
urbano (samba de salão), e no meio rural há três modalidades: samba de roda,
samba de campineiro e samba de lenço.
Festa de Iemanjá – Iemanjá é a mais prestigiada entidade feminina do
Candomblé, Umbanda e Macumba. O culto à Iemanjá é realizado na noite de
31 de dezembro para 1° de janeiro. Nesse dia os devotos vão prestar sua homena-
gem. Quando a noite vem chegando, milhares de iéis dirigem-se para a praia, e
todos festejam a Rainha do Mar, protetora das viagens marítimas e mãe de todos
os orixás. As pessoas levam presentes, lores, comidas e bebidas e fazem danças
temáticas, de origem africana.
Capoeira – Moreira (2007, p. 1) deine as raízes da capoeira:
a capoeira, essa arte de origem controversa e que ainda desperta muita
polêmica, emergiu no bojo das camadas populares e adentra as institui-
ções públicas e privadas de forma arrebatadora e efusiva, sendo capaz
de um pouco mais de quatrocentos anos de trajetória estar presente
na maior parte das escolas, clubes, universidades, academias, dentre
outros, se irmando com força em vários países do mundo, força esta,
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Recursos Didáticos
de um indivíduo e não de qualquer ação, pois ela se constrói por meio de uma
interação entre um sujeito e seu meio circundante, natural e social.
É o mesmo tema que Demo (2003) desenvolve quando propõe o educar pela
pesquisa. Este modo de ver parte da deinição da educação como processo de for-
mação da competência humana, dentro de um quadro renovador, que permita
ao aluno ser um pesquisador criterioso que enxergue o processo de aprendiza-
gem como algo que dele depende fundamentalmente.
Temos como sujeito nosso aluno, e nesta perspectiva o autor enfatiza que:
A proposta de educar pela pesquisa tem pelo menos quatro pressupostos
cruciais:
■ a convicção de que a educação pela pesquisa é a especiicidade mais pró-
pria da educação escolar e acadêmica;
■ o reconhecimento de que o questionamento reconstrutivo com qualidade
formal e política é o cerne do processo de pesquisa;
■ a necessidade de fazer da pesquisa atitude cotidiana no professor e no
aluno;
■ e a deinição da educação como processo de formação da competência
histórica humana (DEMO, 2003, p. 5).
é uma palavra que nos veio do espanhol. Este por sua vez herdou-se
do latim. Havia em latim o verbo perquiro, que signiicava “procurar;
buscar com cuidado; procurar por toda parte; informar-se; inquirir;
perguntar; indagar bem, aprofundar na busca”. O particípio passado
desse verbo latino era perquisitum. Por alguma lei da fonética histó-
rica, o primeiro r se transformou em s na passagem do latim para o
espanhol, dando o verbo pesquisar que conhecemos hoje. Perceba que
os signiicados desse verbo em latim insistem na idéia de uma busca
feita com cuidado e profundidade. Nada a ver, portanto, com trabalhos
supericiais, feitos só para “dar nota” (BAGNO, 1999, p. 17).
E, se pensarmos bem, a pesquisa faz parte do nosso dia a dia. Realizamos pes-
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quisa quando vamos ao supermercado fazer compras, buscamos nos classiicados
do jornal anúncios de produtos que desejamos etc.
Por outro lado, não é necessariamente desta pesquisa que nos propomos a
discutir. Sem pesquisa não há ciência, muito menos tecnologia. Um exemplo
disto é que todas as grandes empresas do mundo atual possuem um departa-
mento denominado “Pesquisa e Desenvolvimento” (P&D), ou seja, a pesquisa
possibilita o progresso intelectual de um indivíduo.
Na escola isso não poderia ser diferente. Quando lançamos mão de uma
pesquisa, precisamos antes ensinar nossos alunos a pesquisar. O que quere-
mos dizer é que antes de pedirmos a eles que façam por conta própria uma
pesquisa, devemos mostrar como se faz esse tipo de trabalho. Isso porque só
podemos obter um produto depois que tivermos conhecimento do processo
de produção (BAGNO, 1999).
Somente assim eles terão a oportunidade de enriquecer intelectualmente, e
hoje não nos falta possibilidades com o acesso à internet. O tema cultura afro-
-brasileira e indígena pode muito bem ser trabalhado partindo da pesquisa em
diversas fontes, mas o professor exerce papel indispensável. A tarefa de dire-
cionar nossos alunos à pesquisa não é fácil, pois requer orientação e mediação
pedagógica.
A utilização de ilmes educacionais é outra possibilidade da ação docente.
Esta, na concepção histórica, visa o exercício da desconstrução dos conteúdos
escolares estruturados, numa matriz eurocêntrica, além de ser fundamental como
material de apoio no processo ensino-aprendizagem.
O educador precisa ter em mente que não será sempre que o ilme escolhido
exprimirá a crítica que deseja incitar aos alunos, mas que a exibição do material
pode servir como um canal que leve à relexão da representação que se deseja
debater (DINIZ, 2009, p. 12).
Neste processo a intervenção do professor se faz necessária na promo-
ção do diálogo sobre o que está sendo abordado no ilme. Não há que
se ter, de certa forma, receios de direcionar o aluno à relexão proposta,
uma vez que este, sem nenhum preparo ou acompanhamento pedagó-
gico é “bombardeado” diariamente com representações sociais e espa-
ciais hegemônicas presentes nos veículos midiáticos (jornais, novelas,
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Estamos airmando que o uso de ilmes em sala de aula traz diversos bene-
fícios, assim passamos a listar alguns destes benefícios:
■ Reforça a capacidade de argumentação, melhorando o vocabulário, desen-
volvendo a imaginação, dando uma visão mais ampla de mundo.
■ Aproxima os conteúdos escolares do estudante por ser um recurso lúdico,
facilitando a compreensão de temáticas que por vezes podem ser bastante
complexas e difíceis de trabalhar em sala de aula.
■ Mobiliza as emoções, possibilitando aos alunos se envolverem e terem
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mais disposição para aprender.
■ Melhora o vocabulário.
■ Desenvolve a imaginação.
■ Dá uma visão mais ampla de mundo ao estudante.
■ Aproxima os conteúdos escolares do estudante por ser um recurso lúdico.
paradigmas são impostos aos novos professores, muitos dos quais formados sob os
moldes do ensino por transmissão-recepção” (CAMPOS; NIGRO, 1999, p. 162).
Os autores citados apresentam que, em meio à busca de novos caminhos,
a opção pelas provas escritas tem algumas vantagens. Entre elas: permite ava-
liar muitos alunos e conteúdos de uma só vez, além de ser um documento que
se pode rever e analisar. Ademais, a prova escrita é relativamente fácil de apli-
car e pode ser fácil de corrigir, pois sua execução exige um tempo relativamente
curto. Tudo isto, portanto, pode explicar sua deinitiva inserção no processo de
ensino-aprendizagem.
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No entanto, Campos e Nigro (1999) lembram que a memória é apenas uma
das capacidades relacionadas ao ensino-aprendizagem e fazem constar a neces-
sidade de contemplar, igualmente: a percepção quanto à clareza do conteúdo no
plano consciente, a percepção acentuada do mesmo conteúdo, a consciência crí-
tica ou posicionamento do sujeito em relação aos suportes do fenômeno. Por isso,
os autores sugerem algumas modiicações que levem ao incentivo das diferentes
capacidades relacionadas acima.
A correção “transparente” que
enuncia os valores das questões,
por exemplo, é outro momento
focalizado, com a sugestão de
uma correção “coletiva” das pro-
vas aplicadas (CAMPOS; NIGRO,
1999, p. 172). Os autores enfati-
zam, ainda, que a avaliação deve
cumprir diferentes inalidades,
“ocorre em diversos momen-
tos do ensino e não apenas ao
inal de uma unidade didática”
(CAMPOS; NIGRO, 1999, p.
173). Quanto ao importante momento de avaliar atitudes, eles sugerem crité-
rios para avaliar trabalhos em grupo antes de chegar à avaliação somativa.
■ Somativa
Para Schmidt e Cainelli (2004, p. 148), “as várias atitudes de avaliação têm carac-
terísticas que podem ser enumeradas com base em sua inalidade, sua utilização,
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seus objetivos e nos principais aspectos enfatizados por ela”. Neste sentido, a pri-
meira avaliação pode ser denominada inicial ou diagnóstica, e têm por objetivo
obter informações sobre os conhecimentos prévios dos alunos, seus gostos, inte-
resses e atitudes. Geralmente, ela é usada no início de um conteúdo novo, de um
período letivo ou de um projeto.
Em outras palavras, a avaliação diagnóstica é aquela realizada no início de
um curso, para veriicar os pré-requisitos necessários de cada aluno, ou seja: se
eles possuem ou não conhecimentos e habilidades imprescindíveis para as novas
aprendizagens. Ela subsidia o planejamento e a organização de sequências de
ações, e também permite estabelecer o nível de necessidades iniciais para a realiza-
ção de um projeto adequado. Luckesi (2005, p. 52) deine a avaliação diagnóstica:
com isso, queremos dizer que a primeira coisa a ser feita, para que a
avaliação sirva para a democratização de ensino, é modiicar a sua uti-
lização de classiicatória para diagnóstica. Ou seja, avaliação deverá ser
assumida como instrumento de compreensão do estágio de aprendiza-
gem do aluno, tento em vista tomar decisões suicientes e satisfatórias
para que ele possa avançar no seu processo de aprendizagem. Desse
modo avaliação não seria somente um instrumento para a aprovação
ou reprovação do aluno mais sim um instrumento de diagnóstico de
sua situação, tendo em vista a deinição de encaminhamentos adequa-
dos para sua aprendizagem.
A segunda forma de avaliar pode ser denominada formativa, e tem como principal
objetivo detectar problemas de ensino-aprendizagem. Por meio dela, o profes-
sor enfatiza os resultados da aprendizagem e estabelece um comparativo entre os
diferentes resultados obtidos pelo mesmo aluno, o processo de aprendizagem que
permitiu a obtenção dos resultados e as causas dos fracassos na aprendizagem.
A avaliação formativa é realizada no decorrer do ano letivo, com intuito de
veriicar se os alunos estão atingindo os objetivos de aprendizagem previstos.
Esse tipo de avaliação é basicamente orientadora, pois encaminha tanto o estudo
do aluno quanto os procedimentos do professor. Além do mais, essa avaliação
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fornece dados para uma tomada de decisão, com o objetivo de criar condições
de melhoria do ensino visando uma aprendizagem, considerando-se que o pro-
cesso não está acabado.
Esse tipo de avaliação desempenha um papel controlador, ou seja, localiza
deiciências no ensino e informa - professor e aluno - sobre o rendimento da
aprendizagem, além de possibilitar ao educador formas para que possa corrigir
as falhas e aperfeiçoar mais o processo.
A avaliação formativa é, então, uma importante fonte de informações para o
atendimento às diferenças culturais, sociais, psicológicas dos educandos, o que
se torna grande conquista na luta contra as desigualdades e o fracasso escolar
(PERRENOUD, 1999, p. 28).
Quando age relexiva e razoavelmente partindo de princípios morais,
transformamos aquela atividade espontânea, natural, em atividade
formativa. Pelo fato de que obtemos conhecimento a partir da avalia-
ção, podemos intervir inteligentemente de um modo justo, equânime,
eqüitativo para aumentar o conhecimento de quem aprende e de quem
ensina. O que não é racional, e menos razoavelmente sustentável, é que
sejam exames os que deinam o conhecimento, isso é a própria perver-
são do conhecimento. Trivializam-no e empobrecem-no, reduzindo-o
a um produto de consumo imediato para o êxito fugaz da prova, da
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eliminados. A avaliação formativa acompanha o processo de ensino-aprendiza-
gem, veriicando se os objetivos iniciais de um trabalho estão sendo atingidos.
A avaliação formativa está muito ligada ao mecanismo de “Feedback”, à
medida que permite ao professor detectar e identiicar deiciências na forma de
ensinar, possibilitando reformulações no seu trabalho didático, visando aperfei-
çoá-lo. Nesse sentido, Esteban (1997, p. 53)
enfatiza que avaliar signiica deixar de fazer julgamento sobre a apren-
dizagem do aluno, para constituir um momento capaz de expressar os
conhecimentos que os alunos já têm estruturado, o processo cognitivo
que realizou para alcançar tais conhecimentos, o que o aluno ainda não
sabe, o que pode vir a saber, as suas possibilidade de aprendizagem
e suas necessidades para que a superação sempre transitória, do não
saber, possa ocorrer.
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explícitas, esclarecendo o que é esperado, tanto para o professor como para o aluno.
Tão importante quanto a avaliação é o ato de corrigir. A correção pode ser
realizada a partir da problematização e discussão das respostas – as incompletas,
incompreensíveis, as que mostram que o aluno não entendeu o que foi solici-
tado, que reproduzem ielmente os assuntos tratados e as que mostram que não
havia uma resposta possível. As formas de correção, os critérios e a atribuição
de valores também devem ser discutidos com os alunos, principalmente entre
os dos 3°, 4° e 5° anos, considerando que os alunos desses anos já possuem uma
compreensão do processo.
Não se pode esquecer que, o retorno para os alunos sobre os resultados cor-
retos ou esperados é parte inseparável da prova, pois cada aluno precisa saber
em que e por que acertou ou errou. Isto dará oportunidade para que o aluno não
erre num segundo momento.
Aqui apresentamos os indicadores de compreensão por parte dos alunos dos
conteúdos de História, explicitados por Pluckrose (1996).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De tudo que até agora assinalamos sobre o ensino de História, que vise à eicácia
e à adequação aos nossos tempos, em resposta às novas exigências ora apresen-
tadas, avultam algumas considerações.
Uma das primeiras é que o conhecimento acontece como um todo, e que se
o fragmentamos é apenas para facilitar o entendimento. Para reagrupar a inte-
gralidade faz-se necessário, então, deixar de lado a posição característica de
décadas atrás, quando cada ciência era vista em si mesma ou, mais, a especiali-
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dade se impunha sobre a visão geral.
Hoje em dia, não existem mais compartimentos estanques e isolados quando
se trata do saber e do ensinar, para que haja realmente o aprender. Pelo contrá-
rio, as disciplinas têm de se comunicar e depois se complementar, chegar aos
princípios de aproximação e esclarecimento do todo.
São as diversas graduações deste processo que enfatizamos em nossa quarta
unidade, da qual consideramos a interdisciplinaridade como a mais recomen-
dada e viável no estágio em que nos encontramos, visto que compreendemos o
ser numa visão holística, e nunca de modo fragmentado.
Além disso, outro setor que merece exame e carece de modiicações é o que
diz respeito à avaliação. Pedra de toque e ao mesmo tempo pedra no sapato de
muitos educadores, avaliar é um processo difícil e doloroso, tendo em vista que
causa muitos problemas entre alunos e professores. Os primeiros querem ter a sua
opinião aceita sempre, e os professores têm diiculdades em estabelecer o que pre-
tendem como disciplina escolar e busca pelo conhecimento por parte dos alunos.
Novos critérios ou um número maior de “provas” levam em conta os aspectos
cognitivos, sem desdenhar os que representam as mudanças de comportamento obje-
tivadas, modiicar e diversiicar quanto a questões de provas, são sempre aventados.
O ideal que representa a convergência entre questões contextuais, que evi-
denciem a visão ampla e o especíico, que encaminhe à tônica da disciplina, ainda
está longe de ser atingido na nossa prática docente.
Portanto ica evidente que, quanto mais nos conscientizamos da realidade que
ora vivemos, mais nos aproximamos da realização de nossos objetivos enquanto
docentes, informando de forma clara a nossa metodologia e epistemologia.
Nessa Unidade IV, veriicamos o quanto a inovação na utilização dos recursos didáticos
tem trazido diversas contribuições para o processo ensino-aprendizagem de História.
Assim, apresentamos como leitura complementar a introdução de uma discussão pro-
posta por Selva Guimarães Fonseca sobre a utilização do cinema no ensino da História,
na Revista do Arquivo Público Mineiro.
Cinema e Ensino de História
(Selva Guimarães Fonseca)
Que o ilme, imagem ou não da realidade, documento ou icção, intriga autêntica ou
pura invenção, é história.
Cinema é história. Filme: imagem, documento, icção, intriga, invenção, história. Partin-
do dessas contribuições de Marc Ferro, apresentamos algumas relexões sobre as rela-
ções entre o cinema e o ensino da História. O texto é fruto de uma pesquisa bibliográica
e documental e, ainda, de minha experiência didática, tanto como professora de me-
todologia de ensino de História na educação superior, quanto no ensino de História na
escola fundamental e média.
Desde o im do século XIX e ao longo do XX, o cinema tornou-se arte, meio de expres-
são, de construção de sensibilidades, de comunicação, de entretenimento da socieda-
de. Distrai, fascina, inquieta, seduz, comove, inspira e provoca diversas sensações, como
medo, alegrias e tristezas. Alimenta nossa imaginação e sonhos, amplia o modo de ver,
sentir e compreender as pessoas e o mundo. Com o avanço das novas tecnologias, de-
senvolveu-se de forma rápida e soisticada, tornando-se uma poderosa indústria, capaz
de mobilizar milhões de espectadores, consumidores culturais em diferentes lugares do
planeta. Logo, o cinema detém um enorme poder de produção, difusão e introjeção de
valores, ideias, padrões de comportamento e consumo, modos de leitura e compreen-
são do mundo.
Nas últimas décadas do século XX e início do XXI, uma das principais discussões na área
da metodologia do ensino de História no Brasil tem sido a incorporação de diferentes
linguagens e fontes no estudo dessa disciplina. Como exemplos, imagens, obras de ic-
ção, jornais, canções, TV, internet, mídias em geral e o cinema. Esse debate se acentuou
no contexto de revisão dos currículos, de crítica aos livros didáticos tradicionais, pós-
-ditadura militar; do avanço tecnológico da indústria cultural brasileira, do desenvolvi-
mento das chamadas mídias educacionais e do movimento de ampliação documental
e temática das pesquisas nas áreas da história e da educação. Entre essas fontes mais
utilizadas no processo de ensino e aprendizagem de História, estão os ilmes.
Esse movimento pode ser apreendido em diversas publicações, revistas especializadas,
sites e livros, por exemplo, a coletânea A história vai ao cinema, na qual diversos histo-
riadores analisam, em uma perspectiva histórica, 20 ilmes brasileiros produzidos entre
os anos de 1970 a 1990. A coleção Cinema e educação apresenta vários títulos no campo
educacional, analisando diferentes aspectos (ideológicos, estéticos, psicológicos, edu-
192
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
196
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NOGUEIRA, N. R. Interdisciplinaridade aplicada. São Paulo: Érica. 1998.
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VASCONCELLOS, C. S. Avaliação da Aprendizagem: Práticas de Mudança - por uma
práxis transformadora. São Paulo: Libertad, 1995.
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1. O trabalho docente com diferentes linguagens, que podem ser recursos tecnoló-
gicos ou jogos e brincadeiras, possibilitam ao professor de História dinamizar as
suas aulas, tornando a compreensão dos conteúdos mais clara, além de romper
com uma metodologia tradicional muito praticada ainda hoje em nossas esco-
las. Esperamos que você apresente esta visão positiva da utilização destes recur-
sos à prática de ensino do professor.
2. O planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação
da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto
social. A escola, os professores e alunos são integrantes da dinâmica das relações
sociais; tudo o que acontece no meio escolar está atravessado por inluências
econômicas, políticas e culturais que caracterizam a sociedade de classe. Isso
signiica que os elementos do planejamento escolar - objetivos-conteúdos-mé-
todos – estão recheados de implicações sociais, têm um signiicado genuina-
mente político. Por essa razão, o planejamento é uma atividade de relexão acer-
ca das nossas opções e ações; se não pensarmos didaticamente sobre o rumo
que devemos dar ao nosso trabalho docente, icaremos entregues aos rumos
estabelecidos pelos interesses dominantes da sociedade.
3. Para responder a esta questão você poderá recorrer à própria interdisciplinari-
dade, partindo de uma literatura, uma música, uma arte indigena e/ou africana
para evidenciar a estratégia didática solicitada.
4. Alternativa “E”.
5. Alternativa “D”.
Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
HISTÓRIA: A CIÊNCIA DO
V
UNIDADE
HOMEM NO TEMPO
Objetivos de Aprendizagem
■ Analisar o mundo e sua temporalidade, adquirindo a capacidade de
transcender os referenciais usados na divisão do tempo histórico, que
consideram somente os marcos do poder e da dominação.
■ Identiicar e avaliar as etapas em que as crianças se encontram com
relação ao domínio das relações temporais.
■ Possibilitar a apreensão do objeto de estudo por meio da relação
entre presente e passado.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O tempo: categoria essencial para pensar a História
■ O tempo como aprendizagem social
■ Identiicando os diferentes tipos de tempo
■ A criança e as primeiras noções de tempo
■ O trabalho com linhas do tempo
203
INTRODUÇÃO
Introdução
204 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O TEMPO: CATEGORIA ESSENCIAL PARA PENSAR A
HISTÓRIA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O TEMPO COMO APRENDIZAGEM SOCIAL
Esta máquina fácil de carregar em dois dedos parece-se por dentro com as
máquinas que existem dentro dos grandes navios, que todos vós conheceis. Mas
também existem máquinas do tempo grandes e pesadas, que se colocam dentro
das cabanas, ou se suspendem bem alto para serem vistas de longe. Para indicar
que passou uma parte do tempo, há do lado de fora da máquina uns pequenos
dedos, ao mesmo tempo, a máquina grita e um espírito bate no ferro que está
do lado de dentro. Sim, produz-se mesmo muito barulho, um grande estrondo
nas cidades europeias quando uma parte do tempo passa.
Ao escutar este barulho, o Papalagui queixa-se: “Que tristeza que mais uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
hora tenha se passado”. O Papalagui faz, então, uma cara feia, como um homem
que sofre muito; e, no entanto logo depois vem outra hora novinha.
Só consigo entender isso pensando que se trata de doença grave. “O tempo
corre feito um corcel!”; “Dêem um pouco mais de tempo”: são as queixas do
Branco.
Digo que deve ser uma espécie de doença porque, supondo que o Branco
queira fazer alguma coisa, que seu coração queima de desejo, por exemplo, de
sair para o sol, ou passear de canoa no rio, ou namorar sua mulher, o que acon-
tece? Ele quase sempre estraga boa parte do seu prazer pensando, obstinado:
“não tenho tempo de me divertir”. [...]
Ó amados irmãos! Nunca nos queixamos do tempo; amamo-lo conforme
vem, nunca corremos atrás dele, nunca pensamos em ajuntá-lo ou parti-lo.
Nunca o tempo nos falta, nunca nos enfastia. Adiante-se aquele entre nós que
não tem tempo! Cada um de nós temos tempo a vontade e nos contentamos com
ele. Não precisamos de mais tempo do que temos e, no entanto, temos tempo
que chega. Sabemos que no devido tempo havemos de chegar ao nosso im e o
Grande Espírito nos chamará quando for sua vontade, mesmo que não saibamos
quantas luas nossas passaram. Devemos livrar o pobre Papalagui, tão confuso,
da sua loucura! Devemos devolver-lhe o verdadeiro sentido de tempo que per-
deu. Vamos despedaçar a sua pequena máquina de contar o tempo e lhe ensinar
que, do nascer ao por do sol, o homem tem muito mais tempo do que é capaz
de usar (SCHEURMANN, s.d.)
Para entender melhor: Na década de 1920, Tuávii, chefe de uma aldeia loca-
lizada numa ilha no arquipélago de Samoa, na Polinésia, decidiu conhecer a
civilização europeia, para veriicar como era a vida deste dito homem branco,
visto que, em sua cultura, havia uma grande integração do homem com a natu-
reza. A vida nesta aldeia estava organizada conforme o clima, as mudanças de
estação, a caça, o curso dos rios e outros elementos da natureza. Dessa forma, seu
modo de vida desconhecia noções como propriedade privada, dinheiro, roubo,
pobreza, falta de tempo e consumismo.
Pela leitura é constatado, a priori, que os níveis das durações estão relacio-
nados às mudanças ou permanências nas vivências humanas. Estas podem ser
identiicadas a partir dos acontecimentos ou das estruturas (aqui pensamos com
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Um provérbio árabe diz que os homens são mais ilhos dos seus tempos do
que dos seus pais. Em outras palavras, um Napoleão ou um Hitler, com todas
suas potencialidades não teriam logrado êxito em suas pretensões, se tivessem
nascido em uma conjuntura histórica – um tempo – diferente. É necessário todo
um arranjo de fatores que permitam que os novos valores substituam outros.
Georg Plekahnov escreveu que o grande homem é grande não porque suas
particularidades individuais imprimiram uma isionomia individual aos gran-
des acontecimentos históricos, mas porque é dotado de singularidades que o
tornam mais capaz de servir às grandes necessidades sociais de sua época, sob
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a inluência de causas gerais e particulares.
Tomando-se os calendários como formas socializadas de medida do tempo,
é possível imaginar que existam outras medidas da categoria que não sejam a
corrente em nossa cultura ocidental. Outras sociedades se valem de outros calen-
dários, ou seja, nem todos os povos do mundo utilizam o calendário cristão (o
gregoriano) para contar o tempo.
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IDENTIFICANDO OS DIFERENTES TIPOS DE TEMPO
povos primitivos e da Antiguidade, na qual o tempo era visto como uma ques-
tão cíclica, modernamente o tempo é, na maioria das vezes, tomado dentro de
uma perspectiva linear, como uma sucessão de fatos que não se repetem, sendo
a maneira mais concreta de compreendê-lo. Esse tempo passou, então, a ser
conhecido como tempo cronológico.
Mas, busquemos compreender os diferentes tipos de tempo. O tempo deno-
minado cíclico é o tempo da natureza. Esta noção diz respeito aos fenômenos que
ocorrem na natureza e que independem da vontade humana. Como exemplo,
teríamos a duração da Rotação da Terra, ocasionando o dia e a noite; das fases da
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A CRIANÇA E AS PRIMEIRAS NOÇÕES DE TEMPO
É bastante difundida a ideia de que a escola deva atuar na produção das identidades
socioculturais dos alunos, na perspectiva da cidadania. “Mas para constituírem-se
cidadãos é necessário o domínio de categorias e conceitos que permitam com-
preender e intervir no mundo” (HICHMANN, 2002, p. 21).
Quando o aluno inicia seu processo de escolarização, ele já domina alguns
referentes temporais, como noções de duração, pois são visões ideologicamente
construídas de temporalidade social. No entanto, o que se vê nas escolas é um
ensino de História numa perspectiva que se resume em festejar datas num des-
ile linear, anacrônico e sem signiicado, como airma Karnal (2004). Agindo
dessa forma, a escola está contribuindo para canonizar uma verdade absoluta,
na qual não cabe a multiplicidade tampouco a vida das crianças que as estudam.
Nessa perspectiva, cabe à escola levar a criança a compreender que, para o
senso comum, tempo e medida são a mesma coisa. Isso ocorre pela necessidade
de se normatizar de forma “exata” algo que é apreendido sensorial e intuitiva-
mente. Assim, não há sentido na observação empírica de se falar em dimensões
temporais compreendidas fora do espaço do calendário.
Você já parou para pensar que atualmente nossas vidas são regidas pelos
ponteiros do relógio?
A forma de contar o tempo é própria de cada cultura. Não basta destacar que
existiram outros calendários em outras culturas, mas sim localizar o aluno no
seu tempo e espaço, oportunizando lhe condições de relexão sobre a criação
histórica de seu tempo. Assim, na nossa cultura ocidental, o valor do tempo é
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ção como queria Braudel), ou
seja, quanto tempo durou a
ação. Além disso, devem ser
abordadas as permanências
e mudanças, as continuida-
des e descontinuidades, “o
que é mais antigo”, “o que é mais atual” e o que cada aluno entende por “antigo
ou por passado”.
Outra noção é a de sucessão, as coisas que acontecem uma após a outra, “o
muito antes”, “o muito depois” e os diferentes ritmos desse suceder, desse tempo
sequencial. Além do mais, é importante compreender a simultaneidade tempo-
ral, que permite ao aluno perceber que existem coisas que acontecem ao mesmo
tempo e, enquanto se está na escola, a mãe e o pai estão fazendo outras coisas.
Portanto, “a noção de tempo é uma aprendizagem processual e muito complexa
que exige a construção de conceitos” (HICHMANN, 2002, p. 36).
Apesar de, ao longo de todas nossas discussões, tenhamos feito referên-
cias à construção do conhecimento numa perspectiva dada por Vygotsky, agora
passamos a mencionar Piaget, pois defendemos a ideia de que ele, melhor do
que qualquer outro pesquisador, realizou estudos e chegou às constatações que
comungamos concernentes ao domínio do tempo na criança.
Considerando a teoria de Piaget (2002), a criança passa por períodos na
construção das noções temporais: após uma primeira fase – “tempo sensório-
-motor” – a criança passa pelo estágio do “tempo intuitivo”, até chegar ao “tempo
operatório”. Passemos a examinar cada uma destas etapas mais detalhadamente:
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cada vez maior, considerando a temporalidade e a espacialidade por intermédio
de um sistema de representação que ele virá a construir.
Para Antunes (1993), no estágio intuitivo ou pré-operatório, se englobarmos
todo o período, as primeiras intuições temporais são centradas sobre alguma
relação-privilegiada, ligada ao egocentrismo. Progressivamente, as centraliza-
ções primitivas se diluem por meio do processo de descentração.
Nesse estágio, cada movimento percebido caracteriza um tempo particular,
e os momentos sucessivos do tempo não podem, ainda, se relacionar entre si
por uma medida comum. A criança se apoia, por exemplo, na percepção espa-
cial para calcular o tempo: é mais velho quem é mais alto; correu mais tempo
quem foi mais longe. Ela ainda não consegue coordenar a duração e a ordem
de sucessão e age por tentativas empíricas, ou seja, por meio do ensaio e erro.
Esse período compreende aproximadamente dos dois aos sete anos. É um perí-
odo intermediário entre os esquemas sensório-motores e os esquemas conceituais,
constituído de estruturas semiconceituais que são chamadas de pré-conceitos.
O pré-conceito, no início do período representativo, ultrapassa os esquemas
sensório-motores, porque a criança coordena as experiências mentais e não sim-
plesmente os esquemas práticos. Por outro lado, ela ainda não consegue objetivar
a realidade, ou seja, não consegue reunir os objetos em classes, extrair relações
ou coordenar relações em raciocínios; ela simplesmente deforma a realidade
conforme seus desejos e interesses.
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operações formais, a partir dos doze anos em média, quando o adolescente é
capaz de operar sobre hipóteses. Ele é capaz, frente a uma situação problema,
operar sobre os dados empíricos (realizar operações concretas) e além do mais,
é capaz de pensar todas as possibilidades que poderiam ocorrer além daquelas
que ocorrem de fato e vice-versa (levantar todas as possibilidades para testar
qual é verdadeira). Ele toma os resultados das operações concretas como pro-
posições e depois opera sobre essas proposições, isolando todas as variáveis e
relacionando todas as possíveis combinações entre elas (por análise combinató-
ria). Seu pensamento diferencia o real do possível.
Analisando os períodos supracitados, podemos inferir, assim como fez Piaget
em sua obra “Noção de tempo na criança”, que o tempo não pode ser considerado
um conceito, visto que não é possível deini-lo, e ele está sempre em mutação.
Além disso, existem muitas variáveis para entendê-lo em toda a sua dimensão:
tempo físico, psicológico, vivido e histórico. Desse modo, a criança da faixa etá-
ria que aqui nos propomos a trabalhar, do zero aos dez anos em média, não é
capaz de elaborar o conceito de tempo. Ela apenas adquire noções que poste-
riormente se transformarão em conceitos.
Como exercício de análise do que nos propomos a discutir, leia os dois frag-
mentos abaixo:
■ Texto 1
Entrevistador (E) – Ivan, você pode contar pra mim a história do Descobrimento
do Brasil, o que você sabe?
R – Ah, é o Pedro Álvares Cabral, estava navegando no mar. Era barco à vela.
Daí o vento, o vento estava para um lado... Depois o vento foi para o outro.
Ele estava indo descobrir outro país não sei qual é. Aí o vento bateu para o
outro lado e ele foi para o Brasil e quando ele chegou no Brasil só tinha índio,
não tinha nenhuma pessoa assim, só índio.
E – Quando isso aconteceu?
R – Ah, eu não sei.
E – Em 1500. Está bem?
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E – Por quê?
R – Porque faz muito tempo que ele nasceu e que ele viveu e também faz
muito tempo que aconteceu isso, o descobrimento (OLIVEIRA, 2000, p. 121).
■ Texto 2
Todo ser humano tem consciência do passado (deinido como o período imedia-
tamente anterior aos eventos registrados na memória do indivíduo), em virtude
de viver com pessoas mais velhas. Provavelmente todas as sociedades que interes-
sam ao historiador tenham um passado, pois mesmo as colônias mais inovadoras
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são povoadas por pessoas oriundas de alguma sociedade que já conta com uma
longa história. Ser membro de uma comunidade humana é situar-se em relação
ao seu passado (ou da comunidade), ainda que apenas para rejeitá-la. O passado
é, portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, um compo-
nente inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana.
O problema para o historiador é analisar a natureza desse “sentido do passado”
na sociedade e localizar suas mudanças e permanências.
Fonte: Hobsbawn (1998, p. 22).
No primeiro texto – a entrevista – podemos veriicar os elementos da tem-
poralidade histórica que a criança possui, considerando sua idade e a teoria de
Piaget. Para o historiador Hobsbawn (1998), qual signiicado do passado? Quais
as relações entre a perspectiva do passado da criança e as ideias do historiador?
É possível estabelecer um paralelo? Tente você também realizar este exercício.
Uma boa parte dos historiadores compreende que a História da humanidade está
organizada em quatro grandes períodos, numa divisão chamada de quadripar-
tismo: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. O
início e o im de cada um desses períodos são marcados por um acontecimento
considerado de relevância do ponto de vista eurocêntrico, ou seja, da História
do Ocidente europeu.
Ao tratar do tempo histórico, os historiadores se deparam com um problema:
a divisão entre História e Pré-história, considerando que a Pré-História é com-
preendida como um período em que os povos não deixaram registros escritos.
Por outro lado, defendemos a ideia de que todos fazem história e deixam seus
registros das experiências cotidianas. Portanto, acreditamos que, embora haja
aqueles que simplesmente não consideram a Pré-história um período digno de
ser estudado, ele também é tão importante como qualquer outro.
Visto sob este ângulo, achamos pertinente deinirmos alguns conceitos que
permeiam os trabalhos com linhas do tempo. Um marco se refere ao fato que
delimita um período e outro. Este período é compreendido como um intervalo
de tempo que vai de um marco a outro.
Quando o professor trabalha com representações cronológicas pessoais,
comparativamente ao exercício de cronologias de uma dada sociedade, poderá
inferir e reletir sobre a continuidade ou ruptura dos movimentos sociais dessa
sociedade. O aluno, por exemplo, perceberá que sua história pessoal faz parte
da história de outras pessoas – simultaneidade – e que nasceram antes ou depois
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dele – ordenação e sucessão.
Dessa maneira, é possível construir uma linha do tempo para cada socie-
dade, organizando sua história. Quando se estabelece a linha do tempo de uma
sociedade, ou mesmo do mundo, não há apenas uma possibilidade. Com base no
estudo de momentos ou fatos amplamente aceitos, cada pesquisador julgará aquilo
que considera mais importante e que deve fazer parte de uma linha do tempo.
O trabalho com linhas do tempo possibilita desenvolver diferentes habilida-
des cognitivas. Cabe ao professor adequá-las a seus objetivos:
■ São organizadas dentro de uma ordem cronológica de fatos e ideias que
não se repetem.
■ São tomadas como períodos initos ou ininitos: tempo geológico, tempo
da vida de uma pessoa, de uma cidade, tempo da história humana.
■ É contada a partir de um referencial. Lembremo-nos da linha do tempo
tradicional da História que tem como marco o nascimento de Cristo, esses
referenciais assumem “valores” crescentes e decrescentes.
■ Pode apresentar diferentes unidades de medida de tempo: dias, semanas,
meses, anos, décadas, séculos, milênios, horas... adequando ao tamanho
do período de tempo que se deseja representar.
■ Existem diferentes formas de representações de linha do tempo: com
desenhos, com valores estatísticos, com fotos, com mais ou menos dados
explicativos, na forma espiral.
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tância e, por isso, deve ser bem aproveitado em todas as atividades escolares, pois
é a partir dele que melhor se estabelece relação com os tempos mais distantes e
não vividos pelo indivíduo. Assim, torna-se evidente valorizar os conhecimen-
tos cotidianos de cada aluno para estruturar o planejamento, de forma que este
se torne coerente e próximo da realidade da turma.
Podemos propor uma atividade para fazer e aprender mais sobre o tempo, como
no exemplo abaixo:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
230
1. As coisas estão sempre mudando. Crianças nascem todos os dias, pessoas en-
velhecem, cidades são construídas e outras são destruídas, enim, muita coisa
se ganha e outras se perdem. Tudo se transforma. E com isso, sentimos o tem-
po passar, às vezes mais rapidamente, quando há muitas mudanças, e outras
mais devagar, quando pouca coisa muda. Nesse sentido, vimos que as noções
de temporalidade precisam ser trabalhadas na criança desde a mais tenra idade
– pois não é um conceito inato e, por isso, precisa ser construído na escola com
a mediação do professor. Desse modo, discorra sobre a importância de se tra-
balhar noções temporais com crianças dos anos iniciais do Ensino Funda-
mental. Apresente um exemplo prático de como você abordaria a temática
em sala de aula.
Para auxiliá-lo em sua discussão, leia o artigo “O tempo histórico no ensino funda-
mental”, de Maria Aparecida Bergamaschi, no link: <http://www.pead.faced.ufrgs.
br/sites/publico/eixo4/estudos_sociais/O_tempo_historico_no_ensino_de_histo-
ria.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2017.
2. Uma professora da Educação Infantil quer desenvolver com seus alunos as no-
ções de temporalidade. O que ela deve considerar? Apresente seus conheci-
mentos sobre as etapas que as crianças vivenciam ao conceber a temporali-
dade, exempliicando.
3. Pesquise na Internet a biograia de um autor, escritor, músico etc. de sua
preferência. A partir de sua biograia, construa uma linha do tempo conside-
rando a ordem cronológica, a duração e a simultaneidade dos fatos. Para
isso, leia as instruções abaixo:
• Pegue um papel sulite e, no alto, escreva o título “Linha do tempo de (fulano
de tal)”.
• No meio do papel sulite, trace uma linha horizontal ocupando toda a sua ex-
tensão.
• Divida essa linha em partes iguais equivalentes ao número de anos que você
possui.
• Escreva nas divisões o ano em que nasceu e os principais fatos que marcaram a
vida da pessoa, até o ano atual ou até sua morte.
• É possível acrescentar fotograias ou ilustrações desses fatos.
• Lembre-se que os fatos que aconteceram simultaneamente devem vir na mes-
ma divisão da linha do tempo
4. A noção de tempo é uma aprendizagem processual e muito complexa, que exi-
ge abstrações e a construção e domínio de conceitos que não são inatos. Sobre
estes conceitos é correto airmar que:
231
Depois dessa apresentação, o professor poderá sugerir uma pesquisa de fatos importan-
tes que aconteceram no Brasil ou no Mundo nos períodos apresentados nas linhas do
tempo das crianças, podendo, assim, trazer para elas a visualização de que ao mesmo
tempo em que acontecia algo importante na vida dessas crianças, acontecia também
algum fato importante no mundo.
Recursos Complementares
Sugerimos o Parâmetro Curricular Nacional de História.
Avaliação
Ao inal da aula, o professor deverá observar se as crianças:
■ Participaram da construção do conceito de linha do tempo.
■ Conseguiram reconhecer as características essenciais de uma linha do tempo.
■ Participaram da construção da sua linha do tempo contextualizada.
Lolo Barnabé
Eva Furnari
Editora: Moderna
Sinopse: nesta história vocês vão ver que Lolo Barnabé era um sujeito
inteligente e criativo. Ele nasceu há muito tempo, no tempo das cavernas.
E caverna, vocês sabem, é um lugar úmido e escuro. A família do Barnabé,
com razão, queria um lugar melhorzinho para morar, com mais conforto.
Ainal, vocês vão concordar comigo: conforto é bom demais. Só que, nessa
busca, algo saiu errado. Você é capaz de entender o que foi que aconteceu?
Comentário: Para reletirmos sobre a relação do homem com o tempo e
o quanto isso afeta nossa visão de mundo, leia a literatura infantil “Lolo
Barnabé” de Eva Furnari. Você também poderá utilizar desta literatura com
seus alunos do Ensino Fundamental. Caso não tenha acesso à obra, pesquise na internet. Após a
leitura, registre sua impressão; isto é um bom exercício para a proissão docente.
Sobre o tempo
Norbert Elias
Editora: Jorge Zahar
Sinopse: o tempo não existe em si, airma Norbert Elias - não é nem dado
objetivo, como sustentava Newton, nem uma estrutura a priori do espírito,
como queria Kant. O tempo é antes de tudo um símbolo social, resultado de
um longo processo de aprendizagem. Nesta vasta exploração da experiência
do tempo ao longo das eras, Norbert Elias convida o leitor a reletir sobre um
aspecto fundamental do ‘processo civilizador’.
Dinâmicas de ensino de A a Z
CASTRO, R de C. S. Dinâmicas de ensino de A a Z. Disponível em: <http://livrariasbs.com.br/
dinamicasensino/indice.asp>. Acesso em: 7 abr. 2017
Material Complementar
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIA ON-LINE
1. Como o conceito de tempo não é inato e precisa ser desenvolvido com a ajuda
de uma pessoa adulta, no caso da escola, com a mediação do professor, o profes-
sor precisa planejar atividades práticas nos quais os alunos vão desenvolvendo
noções de sucessão, duração e simultaneidade, a partir de brincadeiras direcio-
nadas, atividades práticas, construção de linhas do tempo, etc.
2. Para Piaget, a criança passa por três grandes etapas no domínio da temporali-
dade. Sendo elas: Tempo sensório-motor: um tempo prático, ligado às ações e
experiências imediatas da criança. A criança só sente o tempo que durou a ação.
Tempo intuitivo: inicialmente ligado ao egocentrismo. O tempo é calculado atra-
vés da percepção espacial. Ex: o mais alto também é o mais velho. Tempo ope-
ratório: aquisição de reversibilidade e, portanto, uma compreensão do tempo
único.
3. Esta atividade é subjetiva, mas tenha atenção a todas as explicações dadas para
que possa fazer uma linha do tempo coerente com nossos estudos. Lembre-se
que para ensinar seus alunos, primeiramente precisa saber fazer.
4. Alternativa “B”.
5. Alternativa “D”.
239
CONCLUSÃO