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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Turma: CPI C 12022


Disciplina/Matéria: DIREITO PENAL
Sessão: 01 - Dia 31/01/2022 - 20:10 às 22:00
Professor: PAULO BRAGA CASTELLO BRANCO

01 Tema: Princípios Constitucionais Penais I. 1) Importância do tema para o direito penal moderno:
limitação do jus puniendi estatal. 2) Princípio da legalidade: definição, origem histórica,
fundamento legal, relação com a tipicidade, aspectos principais, formas de violações indiretas. 3)
Princípio da intervenção mínima: definição, precedente histórico, fundamento constitucional, o
"Direito Penal Simbólico" como consequência do uso desmedido das leis penais. 4) Princípios da
lesividade, da proporcionalidade, da bagatela e da adequação social: definição, fundamento legal
e importância.

1ª QUESTÃO:
Policiais Militares estavam em operação na comunidade Beira-Rio quando tiveram a atenção voltada
para MATEUS, que apresentava sinais claros de que estava escondendo um objeto.
Ao realizarem a abordagem, arrecadaram em poder de MATEUS 03 (três) carregadores de pistola
calibre 9mm, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Em razão do ocorrido, o Ministério Público denunciou MATEUS como incurso nas penas do art. 14
da Lei nº 10.826/03.
A defesa de MATEUS não negou os fatos narrados na denúncia, mas pretende a sua absolvição pela
atipicidade da conduta, com base no princípio da lesividade, pois entende que não houve lesão ou
perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela Lei nº 10.826/03, uma vez que os carregadores sem as
respectivas armas de fogo não são capazes de configurar nenhum dano social efetivo.
Você, na qualidade de juiz, como decidiria? Fundamente a sua resposta.

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RESPOSTA:
TJRJ
APELAÇÃO 0068616-71.2014.8.19.0021
Des(a). ADRIANA LOPES MOUTINHO DAUDT D' OLIVEIRA
Julgamento: 03/02/2021
OITAVA CÂMARA CRIMINAL
APELAÇÃO CRIMINAL - PORTE ILEGAL DE ACESSÓRIO DE ARMA DE FOGO -
SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DEFENSIVO BUSCANDO A ABSOLVIÇÃO PELA
ATIPICIDADE DA CONDUTA.
1. Trata-se de Apelação interposta em face da Sentença da Juíza de Direito da 3ª Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias, que CONDENOU o Réu pela prática do crime previsto no "artigo 16,
caput, da Lei 10.826/03", à pena de 02 (dois) anos de reclusão, em regime aberto, e ao pagamento de
10 (dez) dias-multa, calculados pelo valor mínimo legal. A pena privativa de liberdade foi substituída,
na forma do artigo 44 do CP, por 02 (duas) restritivas de direitos, nas modalidades prestação de
prestação de serviços à comunidade por igual período da sanção corporal e prestação pecuniária no
valor de 01 (um) salário mínimo (indexador 000188).
2. Razões de Apelação da Defesa Técnica pleiteando, em resumo, a absolvição pela atipicidade da
conduta, com base no princípio da lesividade ou ofensividade, pois entende que não houve lesão ou
perigo ao bem jurídico tutelado pela Lei nº 10.826/03. Subsidiariamente, requer a aplicação da
atenuante da menoridade relativa (artigo 65, I do CP), tendo como consequência a redução da pena
aquém do mínimo legal e prequestionou.
3. Segundo consta da Denúncia, Policiais Militares em operação na comunidade Beira-Mar tiveram a
atenção voltada para o Réu e o nacional Ualace Dias. Ao realizarem a abordagem, arrecadaram em
poder do Réu 03 (três) carregadores de pistola calibre 9mm, que estavam na sua bermuda e com
Ualace um sacolé de maconha e a importância de R$ 137,00 (cento e trinta e sete reais).
4. Incialmente cumpre-me ressaltar que ocorreu um erro material no dispositivo da sentença atacada
no que se refere à adequação típica, eis que a Magistrada fez referência ao artigo 16, caput, do Estudo
do Desarmamento. No entanto, nos termos do art. 383 do CPP, adequadamente alterara a classificação
dos fatos, nos seguintes termos: "Com efeito, tendo em vista o decreto presidencial de n. 9785/19, que
regulamenta questões relacionadas ao porte de arma de fogo, algumas arma que antes eram
consideradas como de uso restrito, passaram a ser consideradas como de uso permitido, tratando-se de
verdadeira novatio legis in mellius, e forçando a readequação do tipo penal imputado ao réu. Desse
modo, procedo à Emmendatio Libelli, prevista no artigo 383 do Código de Processo Penal, de forma
que atribuo aos fatos classificação jurídica diversa, qual seja, a prevista no artigo 14 da Lei
10826/03". E, quando do mérito, registrou: "Depreende-se do contexto probatório que o réu, com
plena consciência da ilicitude de seus atos, portava três carregadores de pistola calibre 9 mm,
conforme Laudo de Exame de material acostado às fls. 88/89, sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, amoldando-se tal conduta ao tipo previsto no artigo 14 da Lei n°
10.826/03". A despeito do equívoco, a fixação da pena observou o disposto no artigo 14, caput, da Lei
nº 10.826/06.
5. Restou devidamente comprovado que o Réu portava os três carregadores desmuniciados, não
havendo negativa a este respeito. Masa <

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b>Defesa Técnica pretende o reconhecimento da atipicidade da conduta, com base no princípio da


lesividade ou ofensividade, pois entende que não houve lesão ou perigo ao bem jurídico tutelado
pela Lei nº 10.826/03. A tese não prospera.
Primeiramente, eis os termos do art. 14 da Lei 10.826/03: "Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter
em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo
com determinação legal ou regulamentar: (...)". Por outro lado, a doutrina e a jurisprudência pátrias
são uníssonas, no sentido de que a conduta de possuir ou transportar munição e/ou acessório de uso
permitido ou restrito sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar
configura crime de perigo abstrato ou de mera conduta, sendo despiciendo o fato de haver ou não
arma à disposição do agente, haja vista que a Lei n.º 10.826, de 22.12.2003 pauta, como objetividade
jurídica, assegurar a proteção da incolumidade pública, representada pela segurança coletiva.
Assim, tem-se que os crimes de perigo abstrato previsto na referida Lei revelam-se consumados
com a mera realização de qualquer um dos núcleos verbais contidos no caput dos artigos 12, 14 e 16
da Lei nº 10.286/03, independentemente do advento de resultados que configurem danosocial

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efetivo, eis que se trata de lesividade presumida, afastando-se, com isso, o argumento de
atipicidade material pela ausência de lesividade. Assim, mantém-se a condenação do Réu nas
penas do artigo 14, caput, da Lei 10.826/03.

2ª QUESTÃO:
MARCO, durante o repouso noturno, levantou a porta de aço do Restaurante Explosão de Sabor para
entrar no estabelecimento e furtar produtos.
Após ingressar no referido restaurante, MARCO subtraiu, em proveito próprio, R$ 4,15 em moedas,
01 (uma) garrafa de Coca-Cola, 02 (duas) garrafas de cerveja e 01 (uma) garrafa de pinga, no valor
total de R$ 29,15 (vinte e nove reais e quinze centavos).
Na ocasião em que saía do estabelecimento, MARCO foi abordado por policiais militares, que
realizaram a busca pessoal, ocasião em que localizaram os objetos do furto dentro da mochila que
MARCO portava.
Em razão dos fatos narrados, o Ministério Público denunciou MARCO como incurso nas penas do
art. 155, § 1º, do Código Penal.
A defesa de MARCO pretende o reconhecimento do princípio da insignificância.
O parquet se manifestou no sentido do seu não cabimento, pois a folha de antecedentes criminais de
MARCO comprova que ele é portador de maus antecedentes e, ao mesmo tempo, é multirreincidente.
Você, na qualidade de juiz, como decidiria? Fundamente a sua resposta.

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RESPOSTA:
STF

1º entendimento) Informativo 973 - abril/2020


HC 181389 AgR/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14.4.2020. (HC-181389)
Princípio da insignificância: reincidência e furto cometido no período noturno
A Segunda Turma negou provimento a agravo regimental interposto de decisão na qual concedida a
ordem em habeas corpus para determinar a absolvição do paciente.
Na espécie, trata-se de furto de R$ 4,15 em moedas, uma garrafa pequena de refrigerante, duas
garrafas de 600 ml de cerveja e uma de 1 litro de pinga, tudo avaliado em R$ 29,15. Nas outras
instâncias, o princípio da insignificância não foi aplicado em razão da reincidência do paciente e do
fato de o furto ter sido cometido no período noturno.
Prevaleceu o voto do ministro Gilmar Mendes (relator) e foi mantida integralmente a decisão
agravada, que reconheceu a atipicidade da conduta em razão da insignificância. O ministro levou em
conta que o princípio da insignificância atua como verdadeira causa de exclusão da própria tipicidade.
Considerou equivocado afastar-lhe a incidência tão somente pelo fato de o recorrido possuir
antecedentes criminais.
Reputou mais coerente a linha de entendimento segundo a qual, para a aplicação do princípio da
bagatela, devem ser analisadas as circunstâncias objetivas em que se deu a prática delituosa e não os
atributos inerentes ao agente. Reincidência ou maus antecedentes não impedem, por si sós, a
aplicação do postulado da insignificância.
A despeito de restar patente a existência da tipicidade formal, não incide, na situação dos autos, a
material, que se traduz na lesividade efetiva e concreta ao bem jurídico tutelado, sendo atípica a
conduta imputada.
Em uma leitura conjunta do princípio da ofensividade com o princípio da insignificância, estar-se-á
diante de uma conduta atípica quando a conduta não representar, pela irrisória ofensa ao bem jurídico
tutelado, um dano (nos crimes de dano), uma certeza de risco de dano (nos crimes de perigo concreto)
ou, ao menos, uma possibilidade de risco de dano (nos crimes de perigo abstrato), conquanto haja, de
fato, uma subsunção formal do comportamento ao tipo penal. Em verdade, não haverá crime quando o
comportamento não for suficiente para causar um dano, ou um perigo efetivo de dano, ao bem
jurídico - quando um dano, ou um risco de dano, ao bem jurídico não for possível diante da mínima
ofensividade da conduta.
O relator compreendeu também não ser razoável que o Direito Penal e todo o aparelho estatal
movimentem-se no sentido de atribuir relevância à hipótese em apreço. Destacou que sequer houve
prejuízo material, pois os objetos foram restituídos à vítima. Motivo a mais para a incidência do
postulado.
Noutro passo, reportou-se a precedentes da Turma segundo os quais furto qualificado ou majorado
não impede a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância.
Além disso, assentou que as circunstâncias do caso demonstram a presença dos vetores traçados pelo
Supremo Tribunal Federal para configuração do mencionado princípio (HC 84.412).

2º entendimento) RHC 172532


Primeira Turma
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO
Julgamento: 26/10/2020
Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO. PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. ABRANDAMENTO DO REGIME INICIAL

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DECUMPRIMENTO DA PENA. VIABILIDADE.


1. Não se mostra possível acatar a tese de atipicidade material da conduta, pois não há como afastar o
elevado nível de reprovabilidade assentado pelas instâncias antecedentes, ainda mais considerando os
registros dando conta de que o paciente é reincidente.
2. Quanto ao modo de cumprimento da reprimenda penal, há quadro de constrangimento ilegal a ser
corrigido. A imposição do regime inicial semiaberto parece colidir com a proporcionalidade na
escolha do regime que melhor se coadune com as circunstâncias da conduta, de modo que o regime
aberto melhor se amolda à espécie (cf. HC 123533, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, DJe de 18/2/2016; e HC 119885, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:
Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, DJe de 1º/8/2018). 3. Recurso Ordinário
parcialmente provido, para fixar o regime inicial aberto.

RHC 198201
Segunda Turma
Min. GILMAR MENDES
Julgamento: 31/05/2021
Ementa: Agravo regimental no habeas corpus. 2. Agravo da PGR. 3. Equívoco na compreensão do
caso. 4. Acusado confessou a prática do furto mediante arrombamento. Confissão confirmada pelos
registros das câmeras de segurança do local. Pedido de afastamento da qualificadora no furto, em
razão da ausência de exame pericial para se confirmar o arrombamento. Desnecessidade de perícia. 5.
O exame de corpo de delito direto pode ser suprido, quando desaparecidos os vestígios sensíveis da
infração penal, por outros elementos de caráter probatório existentes nos autos do processo-crime,
notadamente os de natureza testemunhal ou documental. Precedentes. 6. Inviável a aplicação do
princípio da insignificância a furto qualificado por arrombamento. 7. Agravo provido para negar
provimento ao recurso ordinário em habeas corpus.

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