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Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia sem a
autorização escrita da Editora. Os infratores estão sujeitos às penas da
lei.
Capa
Fabio Voinichs Imamura
Foto da capa
Bruno Melo Santiago
Diagramação
Gustavo S. Vilas Boas
Preparação de textos
Lilian Aquino
Revisão
Bruno Rodrigues
ISBN 978-65-5541-021-1
EDITORA CONTEXTO
Diretor editorial: Jaime Pinsky
contexto@editoracontexto.com.br
www.editoracontexto.com.br
SUMÁRIO
Introdução
O acidente
Bahjet, o braço
Cristian, a voz
Rodrigo, o cérebro
O pacto de Lisboa
O resgate do Sensei
Potência mundial
Pra lá de Marrakesh
O Instituto Camaradas Incansáveis em números
Os autores
INTRODUÇÃO
pode não ter ficado com o título, mas o judô levou ao menos
o ponto da modalidade no cômputo geral. A fase técnica era
boa. Rodrigo era competitivo, a ponto de ter conseguido
algumas vitórias importantes. Na final do Paulista
Universitário de 1990, por exemplo, Rodrigo foi campeão
derrubando na final ninguém menos que Henrique
Guimarães, que, seis anos depois, conquistaria em Atlanta o
bronze olímpico para o Brasil.
A primeira oportunidade profissional veio logo na
sequência. Rodrigo estava se formando, com uma boa
experiência esportiva e, principalmente, de gestão da
Atlética da FGV. Surgiram três propostas, cada uma com seus
atrativos. Uma da construtora Camargo Corrêa, que parecia
assegurar estabilidade futura, outra do Grupo Garantia, que
vinha com o fascínio do mercado financeiro, e a outra da
Procter & Gamble (P&G), que oferecia um mundo de
possibilidades com suas mais diversas marcas. A opção foi
pela P&G. Lá, Rodrigo conheceria Manoel Machado, seu
chefe, mentor, carrasco e, anos mais tarde, padrinho de
casamento.
Manoel, com uma rígida formação militar, cercou-se de
jovens no departamento que montava na área de vendas de
São Paulo. Dois deles vieram da FGV, Rodrigo e seu irmão
Alfredo Motta, dois anos mais novo. Ele tirava o couro dos
inexperientes vendedores. No início de 1992, encomendou
aos irmãos um relatório a ser entregue na sexta-feira,
véspera do Carnaval. Já se passava das 16 horas e nada de
o relatório aterrissar em sua mesa. Manoel descobriu com a
secretária que os irmãos tinham saído mais cedo da
empresa. Telefonou e soube pela avó Laís que os netinhos já
tinham partido para a casa de praia da família em São
Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo. Nem deu tempo de
Manoel manifestar grande desapontamento, pois a
despachada avó já tinha a solução. Ligou para a Polícia
Rodoviária de São José dos Campos, no meio do caminho, e
passou a placa do carro dos fujões. A dupla retornou à
capital e passou parte do feriado terminando o relatório,
que foi por fim entregue.
Se o Carnaval de 1992 ficou marcado como um mico
completo, o episódio se mostrou fundamental na trajetória
profissional de Rodrigo. A partir de então tornou-se
comprometido com prazos e metas. Numa outra sexta-feira,
semanas depois, o chefe chamou Rodrigo em sua sala. E o
descascou. “Você é moleque, porra-louca, faz coisas de sua
cabeça”. Rodrigo empalideceu, esperou pela demissão.
“Mas tem tudo para dar certo. Antes, precisa virar homem,
precisa amadurecer. Eu vou transferir você para Porto
Alegre na segunda-feira. Tem cinco minutos para decidir” No
susto, topou. Venderia a linha da Phebo, o xampu Pert Plus e
as fraldas Pampers. O convite era um voto de confiança
travestido de provocação. Sozinho, em um ambiente
desconhecido, Rodrigo tinha tudo para amadurecer. Ou não.
O espírito competitivo do judô e a criatividade para achar
soluções na Atlética da FGV se mostraram úteis na nova
missão em terras gaúchas. As metas de vendas na Procter
eram agressivas e estimuladas por “desafios” e
“concursos”. Não era apenas a remuneração variável que
estimulava a voracidade dos vendedores, mas o
reconhecimento entre os pares. Manoel Machado fazia
questão de premiar e destacar publicamente os melhores
vendedores. Tinha troféu, cerimônia e pompa para quem
vendesse mais Pampers e assemelhados. Rodrigo Motta
adorava tudo aquilo e entrava de cabeça em cada um dos
desafios.
Em um desses concursos, disputou pau a pau com um
representante de Minas Gerais o título de melhor vendedor
do ano. A briga estava praticamente empatada, os números
eram divulgados diariamente, e Rodrigo estava com uma
vantagem mínima até o último dia da competição. O maior
cliente da sucursal da Procter era o Atacado Macroeconomia
de Santo Ângelo, região das missões gaúchas. Naqueles
dias, no entanto, havia uma restrição de gastos na empresa,
viagens e hospedagens estavam proibidas, mas Rodrigo não
teve dúvidas. Acordou às cinco horas da manhã, pegou o
próprio carro e dirigiu seis horas para tentar fechar um
pedido. Não conseguiu convencer o comprador – que não
precisava de produto algum naquele momento –, e voltou
resignado para Porto Alegre em mais seis horas de estrada.
Para sua sorte, o vendedor mineiro também não conseguiu
nada naquele último dia e Rodrigo terminou como o melhor
vendedor.
Outra situação curiosa aconteceu no “Concurso Colônia
Seiva de Alfazema”. A chance de vitória do escritório
gaúcho era próxima de zero. Na época, o produto vendia
feito água na Bahia. Em shows, a banda Cheiro de Amor
chegava a jogar a essência no público com uma mangueira.
Ninguém vendia tanto quanto os baianos. Rodrigo sabia do
tamanho da encrenca, mas a vontade de ganhar era maior.
Precisava de uma sacada. Percebeu, caminhando pela Rua
Voluntários da Pátria, no centro de Porto Alegre, que
existiam várias lojas de produtos para religiões de matriz
africana. Lembrou-se dos despachos nas esquinas. Rodrigo
não vendia velas, nem galinha, nem farofa. Mas tinha uma
boa colônia para oferecer. Talvez o preço da Seiva de
Alfazema nem fosse competitivo nesse mercado. Só que
ninguém da área de colônias atendia às lojas de produtos
para umbanda. Rodrigo foi o primeiro, vendeu até dizer
chega e ganhou o improvável concurso.
O caso Seiva de Alfazema era a materialização do
conceito que Rodrigo mais defendia em vendas: atitude,
visão, estratégia, execução e trabalho em equipe. De nada
adiantava ter uma boa ideia se ela não fosse bem planejada
e nem fosse impecavelmente executada. A filial mexicana
da P&G havia lançado o xampu campeão de vendas Pert
Plus em versão sachê. Sucesso no México, fracasso no
Brasil. O tamanho reduzido parecia não fazer sentido para
os brasileiros. Outro concurso foi lançado entre os
vendedores para tentar solucionar o problema que o
marketing não conseguia resolver. Rodrigo, de novo, tentou
fugir do raciocínio de varejo tradicional. Quem usa shampoo
em pequenas quantidades? Motéis. E lá se foi Rodrigo
percorrer a Zona Sul da cidade batendo de porta em porta.
Acompanhado de um vendedor, ouvia buzinadas e todo o
tipo de gracinhas quando chegava com outro rapaz no
carro. Achou mais graça ao descobrir que tinha vencido o
concurso.
O entusiasmo, a criatividade e os resultados na filial
gaúcha renderam a Rodrigo um novo convite. Seu chefe
Manoel Machado estava sendo contratado para comandar a
italiana Ferrero, que montava a sua operação no Brasil.
Resolveu se cercar dos seus homens de confiança em
marketing e vendas, e Rodrigo era um deles. O convite
significava a volta para São Paulo e também a volta aos
treinos de alto nível. Antes de mudar para Porto Alegre,
Rodrigo frequentava a academia de Chiaki Ishii na Lapa,
Zona Oeste de São Paulo, e treinava diretamente com o
sensei Rioiti Uchida. Mas os negócios de Ishii não andavam
bem e ele precisou fechar quatro das cinco unidades,
ficando apenas com a sede do bairro da Pompeia. Uchida
acabou ficando com a academia da Lapa. E pela afinidade
com seu professor e pela facilidade geográfica, já que
morava perto, Rodrigo optou por continuar treinando com
Uchida na Lapa.
Na Ferrero do Brasil, a missão era tão desafiadora quanto
vender sachê para motel. Um dos produtos que a empresa
se propunha a lançar no país era um sucesso no resto do
mundo. Um ovo de chocolate chamado Kinder Ovo, com um
brinquedinho dentro. Uma novidade no Brasil. Mais inovador
ainda era tentar vender ovo de chocolate o ano todo e não
apenas no período da Páscoa. Foi complicadíssimo
convencer lojistas brasileiros a venderem um produto com
conceito tão diferente.
Outro problema era a própria resistência do produto. Na
Itália, matriz da Ferrero, as temperaturas são bem mais
baixas do que no Brasil. Era preciso fazer um teste de
campo para ver como o Kinder Ovo resistiria em um
supermercado sem refrigeração em algum grotão quente do
Brasil. Rodrigo tinha autonomia para escolher o mercado
teste e resolveu unir o desafio profissional com uma
questão pessoal. No ano anterior, quando ainda morava em
Porto Alegre, tinha passado o carnaval em Porto Seguro e
conheceu uma moça. Acabaram se desencontrando, ficou
apenas com o endereço dela. Tentou algumas cartas, a
conexão fracassou. Sintya era de Montes Claros, Minas
Gerais, um lugar indiscutivelmente quente. A cidade estava,
portanto, escolhida.
Rodrigo fez tudo ao seu estilo, sem avisar nada para a
menina que conhecera em uma única noite na Bahia.
Chegou a Montes Claros e tocou a campainha. A mãe de
Sintya deixou o desacautelado forasteiro entrar. Um ano
após a visita inesperada, Rodrigo voltava para Montes
Claros com um terno na mala. O chefe e agora padrinho
Manoel também estava no ônibus que transportou os
convidados do casamento de São Paulo para Montes Claros.
Foram morar em São Paulo e, logo depois, em Curitiba,
para dar o passo seguinte na sua caminhada profissional na
Nutrimental. A terrível lesão no Clube Curitibano, sobre a
qual contamos no início deste capítulo, marcou o período
em que trabalhou no Paraná. Foram cirurgias, dores,
limitações, uma reabilitação que parecia fazer a vida andar
em câmera lenta. Todos os médicos que analisavam o caso
davam a entender que o paciente deveria estar satisfeito
por contar ainda com duas pernas. Convencido pela mãe,
Maria Alice, Rodrigo voltou a São Paulo para se consultar
com um médico famoso no mundo do judô. Wagner
Castropil foi judoca de alto rendimento e participou da
equipe brasileira nos Jogos de Barcelona em 1992.
Apaixonado por medicina, esporte e performance, montou o
Vita Ortopedia e Fisioterapia, uma das principais referências
brasileiras em medicina e reabilitação esportiva. Rodrigo
chegou ao consultório, mais de seis meses após a lesão, de
cadeira de rodas. Ao examinar sua perna e ver os exames,
Castropil foi sincero. “A situação é feia, você ainda precisará
de várias cirurgias. Mas você quer voltar a lutar? Vamos
fazer um plano pra isso. É difícil, mas dá.”
Castropil foi o primeiro médico a mencionar o retorno ao
esporte. Era preciso, portanto, dar um jeito de voltar a
morar em São Paulo. Um ex-colega de FGV, José Vicente
Marino, tinha um convite para trabalhar nas Refinações de
Milho Brasil, que depois seria incorporada pela Unilever. A
vaga era em Curitiba, mas a matriz estava em São Paulo.
Em seis meses, Rodrigo já tinha conseguido sua
transferência para a capital paulista. Ficaria perto do Vita e
poderia fazer o tratamento. No final das contas, foi um
calvário de 12 cirurgias. Quanto ao rompimento do nervo
ciático não houve jeito. Rodrigo perdeu a sensibilidade do
joelho esquerdo para baixo. No pé, apenas a sola é sensível,
já que há ali outra terminação nervosa. Precisa ficar o resto
da vida atento a qualquer ferimento na região, sob pena de
não perceber quando uma infecção começa. Além de não
sentir dor, perdeu parte da mobilidade do pé também. Ficou
com o chamado “pé equino”, sem a capacidade de estender
e contrair.
A reabilitação foi demorada: quatro anos para estar em
condições de treinar. Tempo para voltar a estudar, ao
menos. Fez pós-graduação em marketing, MBA em varejo e
um mestrado. Tempo também para trocar mais uma vez de
emprego. Recebeu uma ótima proposta para ser gerente de
unidade de negócios da franquia da Coca-Cola, onde ficaria
pelos sete anos seguintes. Em um almoço, perto da sede da
empresa, encontrou um velho companheiro do judô que
tinha se bandeado para o jiu-jítsu. O amigo Max Trombini
conseguiu convencer Rodrigo a experimentar a modalidade.
A ideia era boa. O jiu-jítsu poderia melhorar as suas técnicas
de solo no judô. E, por um tempo, treinou simultaneamente
jiu-jítsu e judô. Apesar das tribos serem diferentes e as
regras distintas, os dois esportes se mostravam
complementares.
Em 2003, aos 34 anos, já não tinha mais condições de
competir no alto rendimento do judô sênior. Mas poderia
recomeçar na categoria master, que mudara suas regras e
passava a admitir atletas a partir de 30 anos (pela regra
antiga da Federação Internacional de Judô, era de 35 anos
para cima. E o nome da categoria mudaria também, de
Masters para Veteranos). Rodrigo já foi logo encarando o
Campeonato Brasileiro Master em Araraquara, interior de
São Paulo. A campanha foi dura. Na estreia, venceu por um
shidô, a advertência recebida pelo oponente. Na segunda
luta e na semifinal, vitórias suadas por yuko, um golpe
intermediário. Estava na final, e se viu diante de Marcos
Morita, um adversário cascudo que havia ganhado todas as
suas lutas no Brasileiro por ippon. Rodrigo não se intimidou
e partiu para cima. Foi campeão justamente por demonstrar
mais combatividade, venceu pelo placar mínimo, por uma
advertência a mais tomada pelo adversário.
O atleta incansável, definitivamente, estava de volta.
Tinha perdido quase cinco anos em mesas de cirurgia e
salas de fisioterapia, é verdade. Podia não ser mais
competitivo no judô adulto, portanto. Mas tinha uma boa
chance na categoria veterana. E agora havia também o jiu-
jítsu. A evolução no novo esporte era a jato. Trocava
sucessivamente de faixa e vencia o que aparecia pela
frente. Da azul até a faixa marrom, encarou 55 lutas em
competições, perdeu apenas uma única vez. Foi campeão
paulista nas faixas azul, roxa e marrom, campeão brasileiro
na roxa e do internacional master nas faixas azul, roxa e
marrom, além de campeão mundial na marrom.
Só que a prioridade seguia sendo o judô. Aos poucos foi
deixando o jiu-jítsu de lado e voltando a focar no judô
veterano. Em 2007, o Brasil organizaria o primeiro Mundial
da categoria. Rodrigo se empolgou e... se frustrou. Chegou
até a semifinal e perdeu. Teria mais uma chance contra
quem vinha da repescagem. Uma vitória e ficaria com o
bronze. Achou um yuko, tomou yuko. Deu um koka, levou
koka. Aí Rodrigo ficou em vantagem com uma punição do
adversário. Faltando três segundos para o fim, tomou o
wazari e perdeu. Ficou em quinto lugar na categoria até 73
kg.
As atividades paralelas iam se acumulando na época. Em
parceria com o sensei Rioiti Uchida, escreveu a trilogia O
espírito do judô, três livros com 800 páginas no total,
mostrando história, princípios, golpes e técnica. Com o
médico judoca Wagner Castropil, escreveu Esportismo,
misturando esporte e gestão. E não era só teoria.
Profissionalmente, cada vez mais usava os fundamentos do
judô na gestão. Criou o “Programa Faixa Preta” e
transformou isso em palestras, mais tarde em consultoria.
Tudo estava interligado, só faltava um detalhe: as
medalhas. Rodrigo não havia recuperado a confiança dos
tempos anteriores à lesão. O quadro só começou a mudar
quando, na Espanha, esbarrou quase por acaso com dois
sujeitos que tinham as mesmas ansiedades e vontades.
O PACTO DE LISBOA
Bahjet Rached Kassem Said El Hayek. Com esse nome, já
desconfiava, simples não seria. Pela primeira vez na vida
tentaria entrar nos Estados Unidos. Era novembro de 2012,
11 anos após terroristas explodirem as torres gêmeas em
Nova York. Bahjet queria levar a família no ano seguinte
para passar as férias na Disney, mas temia ser barrado na
imigração. A viagem para disputar o Mundial, em Miami,
funcionaria também como um teste.
Não deu outra. Bastou apresentar o passaporte no
guichê da imigração e foi levado para uma salinha. Por uma
hora e meia, contou a sua vida. Explicou que era atleta, que
estava ali para disputar o Mundial veterano de judô, que
voltaria em seguida ao Brasil. Não disse, mas pensou: por
que diabos vocês imaginam que toda a pessoa de origem
árabe é um terrorista em potencial? Recebeu, enfim, o
carimbo de entrada nos Estados Unidos e foi para o hotel.
No dia seguinte haveria pesagem, no outro competiria na
categoria até 73 kg.
Rodrigo Motta e Cristian Cezário desembarcaram em
Miami sem precisar passar pela tenebrosa “salinha” que
aborreceu Bahjet. Eles ainda não eram um trio, mas
carregavam expectativas semelhantes. Desconfiavam que
poderiam medalhar, mas não carregavam qualquer
favoritismo até pela inexperiência internacional. Rodrigo, de
fato, ganhou duas lutas, perdeu outras duas, terminou em
7º lugar e ficou em 3º na categoria Absoluto. Bahjet foi mais
longe, conseguiu um 3º lugar. Na categoria Absoluto,
quando os atletas de todos os pesos são misturados,
chegou até a final. Para seu azar, o adversário seria a carne
de pescoço dos últimos anos: Denison Santos. E o resultado
foi o costumeiro, vitória do algoz brasileiro. Decepção
pequena, afinal a categoria Absoluto nunca foi encarada
pelos judocas como algo de suma importância. Seria quase
como o torneio de duplas para os tenistas que valorizam
muito mais as simples. No judô é semelhante, o que
realmente importa acaba sendo a vitória na faixa de peso
de cada um.
Cristian era o mais confiante dos três, no ano anterior
tinha sentido o gostinho da vitória em Frankfurt. Ficou com o
russo comilão entalado na garganta. Agora teria outros
quatro adversários que competiriam no formato de “poule”,
uma espécie de pontos corridos, todos contra todos. Havia
um americano, um ucraniano, um colombiano e um outro
campeão russo, ainda melhor tecnicamente do que o seu
rival do ano anterior. A estreia seria justamente contra o
russo Ilya Kolchev. E a luta começou enroscada. Cristian
tomou um wazari logo no início, depois se recuperou e
resolveu o assunto com um ippon. Na segunda, o revés,
Cristian perdeu para o ucraniano Sergiy Morokhovets por 2 x
1 em shidôs. Nesse sistema de todos contra todos, perder
por diferença mínima é importante como critério de
desempate, caso haja empate em número de vitórias. Foi
ruim, mas não uma tragédia. Poderia haver empate.
Foi justamente o que aconteceu. Cristian venceu o
americano por ippon enquanto o russo derrotou o ucraniano
por vantagem menor. Se Cristian vencesse o colombiano
pelo golpe perfeito, seria campeão mundial veterano. A
chance era boa, o colombiano Wilson Alzate era um dos
mais fracos da chave. Se vencesse por qualquer outro
resultado, ficaria com o vice e o russo levaria o título por ter
conseguido mais ippons na campanha. Em caso de derrota
por qualquer pontuação, exceto o ippon, Cristian ficaria com
o bronze. Para sair com as mãos abanando de Miami, só
mesmo tomando um ippon do adversário mais fraco e de
um país com pouca tradição no esporte. Ao contrário da
primeira vez em Frankfurt, Cristian sabia muito mais dos
adversários. Havia estudado vídeos dos possíveis oponentes
antes de sair do Brasil. O colombiano tinha vindo do jiu-jítsu
e faria o possível para levar a luta para o chão. O início foi
promissor: um wazari para Cristian logo de cara. O
colombiano não conseguia reagir, tomou duas punições por
falta de combatividade. Era pouco, o resultado só estava
rendendo a medalha de prata.
Cristian seguia martelando pelo ippon e pelo ouro.
Derrubou o adversário, já sabendo que precisaria tomar
cuidado com o chão. O colombiano, porém, foi mais rápido e
conseguiu a chave de braço. Faltavam 23 segundos para o
final da luta. Cristian conseguiu livrar braço e o ex-lutador
de jiu-jítsu foi para o pescoço. Cristian escapou de novo,
mas tomou uma nova chave no outro braço. Dessa vez, o pé
do colombiano ficou no rosto de Cristian, que assim não
conseguia enxergar o tempo restante no placar. A dor era
enorme, e Cristian acabou batendo no tatame, perdendo a
luta. Só então viu o tempo que faltava, míseros 3 segundos.
Se soubesse, teria resistido. Se resistisse, teria vencido a
luta e ficaria com a prata. Estava saindo de mãos abanando
do Mundial de Miami, possesso. Essa luta seria um divisor
de águas na sua carreira. Nunca mais perderia de forma tão
tola. Fez questão de guardar a foto dele emburrado ao lado
dos medalhistas. Colocaria a maldita foto na tela de fundo
do seu computador para que a derrota jamais fosse
esquecida e servisse como um eterno alerta contra
bobeadas.
No ano seguinte, nenhum dos três foi ao Mundial de
Veteranos. Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos, era longe
demais, cara demais. Bahjet, Rodrigo e Cristian se
encontrariam em Málaga, na Espanha, em 2014. E aí tudo
seria diferente, em todos os sentidos, a começar pela
relação entre eles. Cristian havia conhecido Rodrigo em
Frankfurt e se aproximado em Miami. Eles, então,
estreitaram para valer o contato devido à organização de
competições veteranas no Brasil. Bahjet e Cristian eram
parceiros de treino de infância e se reaproximaram também
por conta dos veteranos. Treinos, competições, palestras, as
conversas ficaram mais frequentes.
Em Málaga, Bahjet estava voando. Forte, em plena
forma, nunca se sentira tão bem. Talvez até demais,
beirando a arrogância. Aos 55 segundos da primeira luta,
perdeu por ippon. Rodrigo também bobeou e foi derrotado
logo na estreia. Restava torcer pelos amigos, em especial
por Cristian. Valeu a pena. Cristian encarou na primeira luta
um francês casca-grossa de nome quase impronunciável,
Amine Benabdelouahed. Saiu perdendo, tomou um yuko de
cara, não conseguia reverter. Faltando 32 segundos, deu um
wazari, tentou a imobilização, enrolou no tempo que faltava.
Vitória suada.
O ucraniano das quartas não foi páreo, perdeu por ippon.
O suíço da semifinal, Mael Chatagny, nem conseguiu anotar
a placa do caminhão brasileiro que o atingiu. Mais um ippon.
E quem estava esperando na final? Rustam Mukhametdinov,
o russo comilão que o havia derrotado três anos antes em
Frankfurt. Era a chance da vingança. Dessa vez tinha
acompanhado a pesagem dele, estava tudo certo. A luta foi
rápida. Uma troca de pegadas no princípio e Cristian calçou
o pé do russo. Ele caiu naquele limite entre o wazari e o
ippon. O árbitro central apontou wazari, mas Cristian
percebeu que o árbitro de vídeo estava sinalizando o ippon.
Cristian só se lembrava de Miami, aquilo o havia ensinado
muito. Uma derrota contundente também poderia ser
pedagógica. Cristian passaria quase cinco anos invicto
depois do ouro em Málaga. Era o momento de comemorar. E
não foi a única conquista naquele final de ano. Em
dezembro, mais festa. Casou-se com Amanda, sua
namorada havia oito anos.
Os atletas ainda teriam tempo antes de voltar ao Brasil e
alguém sugeriu três dias em Lisboa. Cristian convidou
Rodrigo para se juntar ao grupo. Com Bahjet, dividiram o
alojamento, comeram, beberam, passearam. E
conversaram, sem parar. Havia muito em comum entre eles.
O jeito de encarar o esporte e a vida. Os três tinham feito
sacrifícios pessoais enormes pelo judô. Os três eram
incapazes de desistir da competição, não aceitavam
pacificamente as derrotas. Os três eram gregários,
valorizavam o trabalho em equipe, eram líderes natos. Cada
um a sua maneira. Cristian era a voz, convencia os outros,
engajava os companheiros. Bahjet era mais o exemplo, a
força, o braço. E Rodrigo o mais estratégico, o planejador, o
cérebro. Mas o que os unia era o espírito incansável. A
viagem para Lisboa selou um pacto para os anos seguintes.
O Instituto Camaradas Incansáveis até tem um estatuto de
fundação com outra data, mas ele nasceu, de verdade,
naquele novembro de 2014.
O RESGATE DO SENSEI
Cristian Cezário voltou da Europa como se fosse
celebridade. Assim se sentia, ao menos. Não era um atleta
profissional, não era um campeão olímpico, mas não parava
de ganhar tapinhas nas costas. As dezenas de alunos que
acumulava nas sete escolas em que trabalhava podiam não
entender exatamente o peso de sua conquista, mas sabiam
que o feito em Málaga havia sido pra lá de importante. E
rendia homenagens. Os parceiros de treino e competição no
Brasil celebravam a vitória de um sujeito muito querido no
meio. E Cristian olhava a vida em retrospectiva. Fez de tudo
para ser um atleta. Abriu mão de boas oportunidades
profissionais, venceu as dificuldades financeiras da família,
apostou tudo na vida do tatame. O ouro simbolizava um
pouco de tudo aquilo.
Os parceiros Bahjet e Rodrigo experimentavam uma
situação diferente. Conheciam o próprio potencial e tinham
certeza de que poderiam obter melhores resultados. Logo
após o retorno do Mundial, tinham o Brasileiro veterano
para disputar em Mauá, na Grande São Paulo. Bahjet passou
por cima dos adversários e ficou com o ouro. Rodrigo
chegou bem até a semifinal, quando disputou contra o
amigo Carlos Salto. Luta dura, Rodrigo tentou encaixar um
golpe com a perna direita e sentiu a torção de joelho. Dor
miserável e abandono. Não bastasse o resultado ruim do
Mundial, mais isso agora, na beiradinha de mais uma final.
Tetracampeão sul-americano, tetracampeão brasileiro,
em vários momentos primeiro do ranking nacional, Rodrigo
não queria saber de abandonar uma competição sem
medalha. Foi ao departamento médico e o diagnóstico foi
categórico. “Seu ligamento cruzado anterior (LCA) está
rompido, talvez o colateral. Vai precisar de cirurgia”. No
acidente de Curitiba, o problema fora na perna esquerda,
agora era a direita. Ao menos isso. Mas mesmo com um
diagnóstico tão eloquente, Rodrigo ficou na dúvida.
Resolveu se aconselhar com Bahjet, que tinha virado quase
um treinador informal depois de Lisboa. Rodrigo havia
perdido a semifinal e, se vencesse quem viesse da
repescagem, ficaria com o bronze. Tudo muito simples se...
não estivesse com ligamentos rompidos. “Bahjet, já ferrou
tudo mesmo, quero tentar lutar pela medalha”. O amigo
apenas sorriu, não tentou dissuadi-lo, entendia
perfeitamente aquele espírito indomável.
Bahjet o ajudou a trocar o quimono, pois a regra agora
era o azul, não o branco. O adversário vinha da Vila Sônia e
tinha toda a torcida do ginásio. Amílcar Key, que nunca
tinha medalhado em Brasileiro, gelou quando percebeu que
Rodrigo não faria o óbvio, que seria desistir. Situação
desagradável, ainda mais pela camaradagem entre os
adversários. Derrubar um adversário machucado ganha
certo ar de covardia, por mais que não seja nada disso.
Perder para um adversário machucado é a suprema
incompetência. Não há final feliz para essa história, olhando
pelo ponto de vista do atleta que não está lesionado.
Rodrigo entrou no tatame mancando e com o rosto
crispado de dor. Na primeira tentativa de pegar no quimono,
Rodrigo caiu sozinho no tatame. Tempo médico. O doutor
recomendou a desistência. Rodrigo tentou de novo. Caiu de
novo sozinho. Paralisação do confronto. Ouviu mais uma vez
do médico que não havia a menor condição. Rodrigo
levantou chorando para continuar. Da arquibancada, alguém
da Vila Sônia gritou: “Porra, quebra esse cara logo”.
A luta não acontecia, Rodrigo não conseguia. Tomou a
primeira advertência. Passou um tempo, veio a segunda
advertência. Mais uma e seria fim de luta para Rodrigo.
Hora do tudo ou nada. Tentou dar um balão, uma técnica de
sacrifício que saiu desengonçada, nenhuma pontuação. Só
que Amílcar foi parar na guarda de Rodrigo, ao seu alcance.
A única chance que apareceu na luta inteira. Ele aproveitou
sua técnica desenvolvida no jiu-jítsu e agarrou o adversário
para uma chave de braço. Faltavam 30 segundos para o
final. Amílcar não suportou a dor e bateu no tatame. Perdeu
a medalha de bronze para Rodrigo. Bahjet estava perto da
torcida da Vila Sônia e ouviu os gritos: “Não acredito, você
perdeu para esse saci, você é um bosta!”
Amílcar caiu aos prantos diante da mulher e filhos que
assistiam à luta. Rodrigo pegou a medalha e foi para o
hospital ser operado de novo por Wagner Castropil. Assim
que se restabeleceu, organizou um evento na academia que
treinava na Lapa e convidou Amílcar e família. Comprou
uma elegante caneta e o presenteou. Naquela situação em
Mauá, Amílcar poderia ter castigado Rodrigo só com
pancadas e golpes no joelho dos ligamentos rompidos. Não
fez isso, lutou com dignidade. Merecia também um
tratamento digno na frente dos filhos, para eles se
orgulharem do pai que tinham.
O ano de 2015 foi de reconstrução de ligamentos e de
ligações importantes. Rodrigo estava comandando a Grand
Masters Judô Brasil (GMJB), uma associação de atletas com
mais de 30 anos que buscava colocar o Brasil em um lugar
de destaque no mapa-múndi do judô. A associação fazia
treinões e pequenos eventos para tentar conectar uma
turma muito próxima do judô sênior que tinha se
dispersado, devido aos compromissos profissionais de cada
um. Em uma conversa com outro amigo, Bahjet lembrava os
grandes mestres da modalidade que não recebiam a devida
atenção. “E o sensei Ishii? Onde anda? Como está agora?”
Bahjet foi até Rodrigo sugerir um treino da GMJB comandado
por Ishii. Sugestão aceita na hora, com entusiasmo. E o
treino foi um sucesso absoluto. O evento na academia do
veterano judoca na Pompeia lotou. Muitos só o conheciam
de nome. Seria impossível não tirar nada de bom de uma
lenda como ele.
Chiaki Ishii, de fato, abriu caminho para o judô brasileiro.
Japonês de Ashikaga e filho de um professor de judô que
preparou os sete filhos no esporte, Ishii se empolgou no
início dos anos 1960, quando descobriu que o judô se
tornaria modalidade olímpica nos Jogos de Tóquio em 1964.
Foi para a seletiva japonesa e perdeu para Isao Okano. A
decepção foi tanta que decidiu deixar o judô para lá e
abandonar o Japão. Pegou carona na onda migratória e
embarcou de navio no Brasil com planos de fazer a vida
como fazendeiro. Não conseguiu se desvencilhar do judô e
estranhou o fato de se treinar tão pouco no Brasil. Duas ou
três vezes por semana era insuficiente para quem queria
realmente vencer uma competição.
Com treinos duríssimos todo o dia, mostrou outra
maneira de encarar o esporte. E destacou-se pela disciplina,
pelo conhecimento, a ponto de cogitar a naturalização para
representar o Brasil em competições internacionais. A
polêmica foi grande. A própria colônia japonesa rejeitou a
ideia, mas Ishii queria muito. Lutando nos meio pesados, foi
bronze em 1971, no Mundial da Alemanha. Era o
representante olímpico brasileiro em um esporte dominado
pelos japoneses e europeus.
Nas Olimpíadas de Munique, em 1972, disputou o bronze
contra Paul Barth, da Alemanha Oriental. Luta dura, torcida
totalmente contra, mas venceu com um ippon. Não
comemorou, mal sorriu. Chiaki Ishii sempre achou que
tatame não era lugar de festa. As emoções mais fortes das
Olimpíadas para ele foram outras. Estava no prédio vizinho
ao da delegação israelense quando terroristas palestinos
fizeram a invasão em 11 se setembro de 1972. Ishii chegou
a ver um amigo saltando do prédio e quebrando a perna na
tentativa de escapar. Extremamente contido, é um dos raros
momentos que Ishii se emociona quando relembra o
passado. O atentado custou a vida de 18 pessoas em uma
tentativa atrapalhada de resgate. Os Jogos continuaram, o
terrorismo não venceu o esporte.
De volta ao Brasil, Ishii conseguiu comprar seu sítio,
criou vaca, ovelha, cavalo. Plantou verduras, frutas e
chegou a ter mais de 3 mil orquídeas. Mas o que mais
semeou foram judocas. Dezenas de faixas pretas brasileiros
passaram pelas suas academias, absorveram seus
conhecimentos e entenderam o valor da disciplina. Suas
três filhas, Luíza, Tânia e Vânia, principalmente. Tânia foi
atleta olímpica e bronze nos Jogos Pan-Americanos de 1983.
Vânia representou o Brasil em duas Olimpíadas, cinco
Mundiais e foi ouro nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg,
em 1999.
O tempo tinha passado. Ishii, que chegou a ser dono de
cinco academias, só havia ficado com a sede da Pompeia.
Não estava fácil tocá-la. Ele estava com diabetes, poucos
alunos. Precisava de ajuda. O treinão da GMJB, sugerido por
Bahjet e organizado pelo seu antigo discípulo Rodrigo,
mostrou o poder de mobilização daqueles judocas. Ishii
necessitava de gente de confiança e competente ao seu
lado para levantar a academia. Pensou em dois ex-alunos
seus com capacidade gerencial, Sérgio Lex e Rodrigo Motta.
Sérgio estava se mudando para o Canadá, teve de declinar
da missão. Rodrigo andava bem ocupado na época, era um
dos sócios da indústria Sucos do bem. Em nome da
gratidão, claro, faria o que fosse possível pelo mestre,
mesmo com o tempo escasso. Só precisava de mais gente
nisso. Lembrou-se de Málaga, das conversas de Lisboa e
sugeriu os amigos Bahjet e Cristian. Ishii não os conhecia,
não sabia se tinham conhecimento, disciplina e princípios.
Antes de mais nada, queria testá-los. E assim Cristian e
Bahjet começaram uma espécie de “estágio informal” de
seis meses treinando e dando aulas na academia.
Deu liga. Ishii gostou dos “garotos”, que também eram
seus fãs. Assim como o japonês, adoravam treinar pesado.
Quando foi pela primeira vez ao tatame com Cristian
Cezário, se impressionou ao saber que ele era faixa preta
primeiro dan. “Não pode ser, está errado, você já é quarto
dan”. No judô, o dan (“nível”, em japonês) determina o grau
de maestria dos faixas pretas. Ishii, bem mais pesado que
Cristian, reparou na maneira como o ele pegava a sua
manga. Esse controle de manga sempre foi uma das bases
do que o sensei apregoava. Ali estava a vitória na maioria
das lutas. Segurar a manga do quimono com força,
limitando os movimentos de braço do adversário, era meio
caminho andado. E se Cristian já fazia isso com maestria, no
futuro aprimoraria ainda mais a técnica com Ishii. Com
Bahjet não foi diferente. Aí, além da técnica, havia força
física e muita mobilidade. Naquele momento estava claro
que, sim, os “meninos” reuniam as condições técnicas para
tocar a academia.
Enquanto isso, Rodrigo foi tomando pé das questões
administrativas da academia. Havia muito a fazer. Um novo
nome nasceu nessas conversas do quarteto: Instituto Chiaki
Ishii, o ICI. Os primeiros meses foram dedicados mais às
instalações. Reforma dos tatames, pintura geral, conserto
de telhado, um tapa nos banheiros. Rodrigo e Bahjet
estavam se afastando do Grand Master Judô Brasil, mas os
masters não se afastavam deles. Pelo contrário. O judô
veterano brasileiro passava a ter um ponto de encontro,
agora na Zona Oeste de São Paulo.
A academia da Pompeia passou a ficar repleta de gente
em muitos horários. Além de crianças, atletas amadores e a
turma do veterano, um povo diferente também passou a
frequentar o pedaço. Rodrigo havia desenvolvido anos antes
um programa chamado “Faixa Preta”, que utilizava a lógica
do judô como ferramenta de aprimoramento gerencial. A
metáfora da passagem de faixas era aplicada em vendas; a
cada meta alcançada, uma troca de faixa. E, em um
determinado momento desse programa, a metáfora ia parar
no tatame. Gente que nunca tinha antes colocado um
quimono na vida passava a treinar animadamente no ICI.
Em outubro de 2015, houve uma pequena pausa no
processo de reestruturação da academia. Os Mundiais de
Veteranos tinham definitivamente entrado no calendário
anual de cada um. Dessa vez, a caravana partiu para
Amsterdã. Bahjet bobeou na estreia e perdeu para um
português. Cristian estava em outro patamar,
transbordando confiança. Vencia toda competição de que
participava, Brasileiro, Sul-Americano, o que viesse pela
frente. Tudo certo, quer dizer, não exatamente... Na véspera
do embarque para a Holanda, recebeu a notícia de que seu
pai estava sendo internado no hospital com um quadro de
broncopneumonia. Pensou em cancelar tudo, seu pai não
deixou. “O que você vai fazer por mim aqui? Não, você
precisa ir. Vai e ganha. Precisa ganhar”. Seu Salvador
parecia entender Cristian melhor do que o próprio. Competir
e dar tudo pela vitória no tatame era a razão de viver do
filho.
Quando desembarcou em Amsterdã, o quadro do pai se
agravou. Foram achados tumores no fígado, mas, antes de
tudo, era preciso vencer a broncopneumonia. Já na UTI,
4 ouros 4 ouros
6 ouros 5
4 3
Campeonato Paulista de 1 prata ouros
pratas pratas
Veteranos 1 1
2 7
bronze bronze
bronzes bronzes
3
4 ouros ouros
3 ouros 3 ouros
Campeonato Brasileiro de 1 prata 4
3 1
Veteranos 1 pratas
pratas bronze
bronze 1
bronze
2
Campeonato Sul-americano de ouros 3 ouros
Veteranos 1 1 prata
bronze
2
4 ouros
Campeonato Panamericano de ouros
1 prata 2
Veteranos 1
pratas
bronze
2 ouros 2
1 ouro 2 ouros
Campeonato Mundial de 1 prata ouros
1 1
Veteranos 3 1
bronze bronze
bronzes bronze
O BRASIL NOS MUNDIAIS DE VETERANOS
O país chegou ao top 5 com o surgimento
do ICI.
ANO CLASSIFICAÇÃO
2016 3
2017 5
2018 1
2019 3
ANO ALUNOS
2015 10
2016 30
2017 50
2018 100
2019 250
ESQUADRÃO FAIXA PRETA
Os 43 atletas faixas pretas do ICI.
Silvio Tardelli Uehara Vermelha e branca 6° dan