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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2
1
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno,
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 O PROCESSO HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Fonte:www.unisinos.br
Para começar, considere o Brasil Colônia. O povo daquela época não possuía
autonomia enquanto nação e sofria uma intensa exploração (VINAGRE; PEREIRA,
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2008). Já na época do Império (1822–1889), se registraram vio- lações importantes
aos direitos humanos, especialmente no que se refere ao genocídio a que foram
submetidos os índios e negros. Nesse aspecto, uma primeira conquista ocorreu em
1888, com a abolição da escravatura. Para Vinagre e Pereira (2008, p. 35), “[...] a
escravidão é uma das maiores violações dos direitos humanos, posto que se refere à
apropriação total do produto do trabalho da pessoa a esse regime, sendo, também,
apropriação do seu corpo, da sua vida e do seu destino”. Com o fim da escravidão, os
negros adquiriram direitos civis, pois teoricamente deixaram de ser propriedade do
senhor e de ser considerados mercadorias (DORETO, 2018).
Ao longo da história de violação de direitos, sempre houve resistência e
enfrentamento. Um exemplo de movimento organizado e desenvolvido pela
resistência negra foi a experiência bem-sucedida do Quilombo de Palmares. No
entanto, apesar da resistência, essas vivências não eram favoráveis à efetivação de
direitos, uma vez que muitas pessoas ainda eram forçadas a realizar trabalhos em
grandes propriedades rurais, em que os proprietários determinavam limites ao próprio
Estado. VINAGRE e Pereira (2008, p. 36) complementam:
[...] no que se refere aos direitos políticos, estes eram restritos a uma elite; e
dos direitos sociais, ainda não se falava, uma vez que a garantia dos mínimos
sociais ficava a cargo da filantropia privada e da Igreja Católica,
prevalecendo, pois, o caldo cultural clientelista e patrimonialista (Apud,
DORETO, 2018).
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e de organização política ficaram bastante restritos. Sobre isso, Vinagre e Pereira
(2008, p. 37) consideram:
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direitos econômicos, O processo histórico da constituição dos direitos
humanos 3 sociais e culturais (como os direitos à educação, à saúde, a justas
condições de trabalho e ao acesso à cultura), reivindicados desde as lutas
operárias dos séculos XIX e XX e, em especial, após a Declaração dos
Direitos do Povo Trabalhador e Explorado de Janeiro de 1918, advinda da
Revolução Russa (VINAGRE; PEREIRA, 2008, p. 41 apud DORETO, 2018)
O autor ainda afirma que a Declaração Universal dos Direitos Humanos é uma
forma de confirmar, na prática, algo que até então não era reconhecido por toda a
sociedade.
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classificação, conhecida como primeira geração, está associada ao século XVIII, à
independência dos Estados Unidos, em 1787, e à Revolução Francesa, dois anos
depois. Essa geração traz ideias de liberdade relacionadas especialmente aos direitos
civis e políticos. Você deve considerar que nessa época se registrava uma luta da
burguesia por melhores condições de comércio (liberdade). Portanto, os direitos
conquistados restringiam-se a determinados indivíduos e não eram aplicados a toda
a sociedade. Nessa geração, o Estado deveria limitar sua intervenção na ação
humana, considerando o direito à liberdade de todos. São exemplos de direitos
assegurados a liberdade de expressão, o direito de ir e vir, o direito à privacidade,
entre outros.
Já os direitos humanos considerados de segunda geração têm como marco
oficial a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), crescendo paralelamente à ideologia
do estado de bem-estar social. Nesse percurso histórico, os trabalhadores também
começam a lutar pelos seus direitos, contrapondo-se à restrição dos direitos a uma
classe. Nessa lógica, a proposta é que os direitos até então limitados a uma classe
sejam expandidos para todos os indivíduos por meio de políticas públicas que
garantam saúde, trabalho, moradia, direito ao voto e a participar da vida pública, entre
outros. Nessa geração, fica evidente a necessidade de se exigirem do Estado
condições iguais para todos, com a finalidade de que tenham uma vida mais digna.
A terceira geração de direitos surge na década de 1960 e tem como foco
principal os ideais de solidariedade e fraternidade. Mediante o acirramento da luta de
classes, os trabalhadores começam a lutar por direitos mais específicos, aqueles das
chamadas “minorias sociais”, ou seja, grupos considerados em situação mais
desfavorecida. É o caso de mulheres, pessoas com deficiências e outras que
precisavam que seus direitos fossem mais detalhados, a fim de que suas
necessidades fossem de fato asseguradas. Além da proteção aos grupos mais
vulneráveis, inclui-se nessa proposta a proteção ao meio ambiente. Na atualidade, há
discussões entre os intelectuais sobre a inclusão de uma quarta geração de direitos,
que envolve informática e bioética, mas eles ainda divergem opiniões e tal geração
não está de fato estabelecida.
Marco (2006, p. 47) destaca que “[...] os avanços tecnológicos e as descobertas
científicas colocam o mundo em perplexidade com os valores sociais e éticos das três
gerações de direitos até aqui delineadas”, trazendo à tona a necessidade de
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considerar outra geração de direitos. Assim, ainda que esta não esteja de fato
consolidada entre os intelectuais, considerando a intensidade de discussões a
respeito do tema e sua viabilidade, falam-se hoje nos “direitos de quarta geração”.
Trata-se de uma geração que surgiu para acompanhar o desenvolvimento da
humanidade e ajudar o direito a encontrar soluções e impor limites para responder a
eventuais questionamentos decorrentes das inovações tecnológicas e do
aprimoramento genérico. Fazem parte dessa geração os direitos à democracia, à
informação e ao pluralismo (BONAVIDES, 1996 apud MARCO, 2006)
Isso posto, é importante você conhecer um pouco do conteúdo da Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Inicialmente, esse documento elenca alguns dos
objetivos que levaram à sua elaboração. O primeiro deles refere-se ao
reconhecimento de que a dignidade e a igualdade de direitos entre todos os indivíduos
constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Assim, o
desconhecimento sobre os direitos origina responsáveis por atos de barbárie, que
revoltam por seu elevado grau de crueldade. A Declaração possui 30 artigos. Entre
eles:
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desses direitos e de sua importância para que eles sejam de fato assegurados e para
que se possam evitar violações (DORETO, 2018).
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tratos ou arbitrariedades das autoridades policiais ou judiciárias (FREITAS,
2010 apud COSTA, 2017, p. 27).
Costa (2017) afirma também que a mídia muitas vezes coloca seus
interesses ligados à audiência e ao capital em primeiro lugar, em detrimento dos
interesses coletivos. Assim, ela deixa de atender à sua responsabilidade com o que é
repassado para a sociedade. São condutas dessa natureza que contribuem para a
criação de estereótipos e preconceitos que acabam sendo disseminados e aceitos na
sociedade.
Você deve considerar, então, que no contexto do capitalismo não é possível
conciliar a lógica da acumulação de riquezas, de capital e da exploração do
trabalhador com as lutas a favor da garantia dos direitos humanos. Isso acontece pois,
de acordo com essa lógica, os interesses pelo capital são individuais ou referem-se a
uma classe específica, o que não ocorre com os direitos humanos, que buscam
atender indistintamente a todos os indivíduos, sem discriminação de nenhum tipo.
Assim, como você viu, a sociedade brasileira vive situações que requerem a
defesa dos direitos humanos há muitos séculos. Sua história é marcada por
exploração, discriminação e violência contra muitos grupos. Nesse sentido, O
processo histórico da constituição dos direitos humanos os direitos humanos surgem
para proteger e garantir a igualdade entre todos os indivíduos. No entanto, a defesa
desses direitos nem sempre é vista como algo favorável. É por isso que a população
deve conhecer o verdadeiro valor desses direitos, para que possa lutar por eles e
valoriza-los. A mídia, enquanto importante instrumento de comunicação de massa,
pode contribuir para que isso ocorra. No entanto, são necessárias instituições de fato
comprometidas com a disseminação de informações corretas e com a sociedade.
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3 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
Fonte: wordpress.com
3.1 Introdução
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proteção, abrangência e universalização desses tão importantes direitos, cujo marco,
no plano internacional, deu-se com a positivação da DUDH (SEIXAS, 2018).
Assim, de uma forma geral, o estudo acerca dos direitos humanos apresenta
importantes características, como historicidade, universalidade, essencialidade,
irrenunciabilidade, imprescritibilidade, inviolabilidade e efetividade. Isso porque os
direitos humanos são fruto de um desenvolvimento social e jurídico, visto que tal
proteção surgiu de forma progressiva, à medida que se desenvolvia o conceito e o
reconhecimento de que todas as pessoas humanas são iguais e merecem, dessa
forma, isonomia de direitos e proteção mínima efetiva (SEIXAS, 2018).
Esse reconhecimento, apesar de parecer óbvio na contemporaneidade, não
aconteceu de forma igualitária nem simultaneamente ao redor do planeta. Na verdade,
esse reconhecimento e essa proteção são fruto de conquistas históricas, construídas
gradualmente, devido à luta de movimentos sociais em prol da dignidade da pessoa
humana (SEIXAS, 2018).
Sobre a genealogia dos direitos humanos, é importante citar as palavras de
Bobbio (1992, p. 30), que sintetiza essa importante discussão filosófica:
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direitos de cunho inclusive internacional, como explica Dallari (1993). O processo teve
início em 1945, por meio da Carta das Nações Unidas (1930), com uma norma
internacional “[...] destinada a fornecer a base jurídica para a permanente ação
conjunta dos Estados em defesa da paz mundial” (DALLARI, 1993, p. 178), que serviu
de pano de fundo para, em 1948, ser aprovada a DUDH (SEIXAS, 2018).
Segundo Silva (2000), os princípios da universalidade e da indivisibilidade dos
direitos individuais são os ideais da DUDH, que acabou por divulgá-los em todo o
mundo e por ressaltar a condição de pessoa como requisito para a dignidade de todos.
Portanto, com a DUDH, surgiu um novo conceito de proteção dos direitos humanos e
iniciou-se, por consequência, o desenvolvimento da positivação internacional das
normas relativas à proteção desses direitos mediante inúmeros tratados
internacionais. Assim surgiu o chamado sistema normativo positivo global de proteção
dos direitos humanos, composto por instrumentos de abrangência internacional
específicos e gerais (Apud SEIXAS, 2018).
3.5 Preâmbulo
Igualdade material não significa tratar todos de forma igual, mas tratar os
iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, de forma a igualar as possíveis
diferenças.
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O art. 12 proclama o direito à vida privada, à intimidade e à inviolabilidade de
correspondência e domiciliar:
Artigo 15º 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém
pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de
mudar de nacionalidade (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009).
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O art. 17 consagra um direito de primeira geração, que é o direito à propriedade
sem interferências do Estado:
Artigo 21º 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos
negócios públicos do seu país, quer diretamente, quer por intermédio de
representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de
acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A
vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve
exprimir-se através de eleições honestas a realizar-se periodicamente por
sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente
que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22º Toda a pessoa, como
membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente
exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis,
graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a
organização e os recursos de cada país (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES
UNIDAS, 2009)
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Os arts. 23º e 24º consagram os direitos trabalhistas, como o direito de ter um
trabalho em condições justas, de escolher o trabalho, de proteção contra o
desemprego involuntário, de igualdade de condições no trabalho, de remuneração
justa e satisfatória, de liberdade de associação em sindicatos, bem como o direito a
repouso e lazer, a uma jornada limitada e a férias periódicas e remuneradas.
Dos arts. 25º ao 29º são assegurados os direitos sociais; ou seja, esses artigos
estabelecem uma vida socialmente digna como um direito humano, incluindo o direito
à educação, inclusive gratuita, nos períodos elementares e fundamentais, assim como
a possibilidade de acesso a todos à instrução técnico-profissionalizante e à instrução
superior baseada no mérito. Asseguram também como direitos humanos a cultura e o
pleno desenvolvimento da personalidade, devendo os direitos e as liberdades serem
limitados apenas pela lei.
Artigo 25º 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe
assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à
alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda
quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no
desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos
de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua
vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito à ajuda e à assistência
especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam
da mesma proteção social. Artigo 26º 1. Toda a pessoa tem direito à
educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao
ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino
técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores
deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A
educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao
reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve
favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e
todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das
atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais
pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos
filhos. Artigo 27º 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na
vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso
científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à proteção
dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica,
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literária ou artística da sua autoria. 12 Declaração Universal dos Direitos
Humanos Artigo 28º Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e
no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efetivos os
direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. Artigo 29º 1. O
indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o
livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício deste
direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações
estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o
reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de
satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar
numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades
poderão ser exercidos contrariamente e aos fins e aos princípios das Nações
Unidas (ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS, 2009).
O art. 30, último dispositivo da DUDH, assegura uma interpretação ampla das
proteções asseguradas nessa Declaração pelos Estados, proibindo de forma
expressa a utilização das garantias e liberdades como forma de destruição dos direitos
assegurados na própria Declaração:
Fonte: oidiario.com.br
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Neste capítulo, você vai conhecer a trajetória da segurança pública no Brasil,
em especial você vai conhecer o papel dos entes federados no cenário do debate, da
construção e da implementação das políticas de segurança pública.
Como você vai ver, no contexto contemporâneo, a inovação na gestão da
segurança pública e a participação social são ferramentas fundamentais para que as
demandas do cidadão sejam atendidas de forma efetiva (MENDONÇA, 2020).
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social. Como seu poder ainda era submisso à coroa portuguesa, a instituição policial
exigiu esforços da nobreza e dos magistrados brasileiros para se tornar submissa ao
Poder Judiciário (MENDONÇA, 2020).
O período imperial trouxe inovações importantes para a descentralização do
poder policial. Com a promulgação do Código Processual Penal, em 1832, foram
criadas duas autoridades provinciais, que eram indicadas pelo governador e
coordenavam a polícia regionalmente: os chefes de polícia e os juízes de paz. Mas
esse modelo não foi bem-sucedido; afinal, ao regionalizar o controle, o Estado perdia
poder de decisão. Assim, o cargo de juiz de paz perde sua autonomia frente às forças
policiais em 1841, ficando tal autonomia concentrada nos chefes de polícia, agora
indicados diretamente pelo governo central (MENDONÇA, 2020).
Com a proclamação da República, em 1889, somada aos resultados da
abolição da escravidão, as relações sociais sofreram um impacto significativo. Os
escravos fugitivos, antes alvo da polícia, transformaram-se em uma classe subalterna
livre, e a classe dominante perdeu parte de seu poder. Além disso, a rápida
urbanização das cidades e o adensamento demográfico exigiram das instituições
policiais algumas adequações. Configurava-se a passagem do espaço rural para o
urbano, agora com diferentes demandas de vigilância e repressão (MENDONÇA,
2020).
O federalismo trouxe a descentralização de poderes, exigindo uma nova
dinâmica para exercer o controle social. Apenas a vigilância e a repressão já não eram
suficientes, e novos instrumentos precisavam ser pensados e implementados. O
Código Penal de 1890 foi um desses instrumentos. Segundo Holloway (1997), o novo
código voltou os olhos para as chamadas “classes perigosas”, tipificando como crimes
a vadiagem, a prostituição, a embriaguez e a capoeira (MENDONÇA, 2020).
É com o golpe de 1930 que a polícia começa a desempenhar um papel de
destaque na manutenção do regime autoritário. Getúlio Vargas amplia as tarefas
policiais para controlar as dissidências políticas e promove uma reforma no alto
escalão das polícias civis em todo o País. Desse modo, somente pessoas de sua
estrita confiança podiam ocupar cargos de comando (MENDONÇA, 2020).
Para Faoro (1997), Vargas fazia repressão política e colocava todo o aparato
policial sob suas ordens. Considere o seguinte:
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A Constituição Federal de 1934 outorga o controle direto das forças públicas
estaduais ao governo federal. É nesse texto constitucional que pela primeira
vez na história há a imposição formal de um caráter eminentemente
militarizado ao campo da segurança, tornando as forças estaduais, auxiliares
do exército. Com isso a segurança pública brasileira segue na tênue e
complexa dinâmica política e social que envolve o poder e a violência. Esse
princípio metamórfico atinge especialmente as polícias que passam a receber
uma espécie de upgrade em suas prerrogativas quanto ao uso do poder e do
exercício da prática violenta (BONAMIGO; CHAVES, 2014, p. 461).
A militarização das polícias toma corpo no regime militar. Assim como na Era
Vargas, a polícia tinha como missão principal conter a oposição política, daí o histórico
de abuso de autoridade, repressão violenta e tortura que marca esse período. Ainda
que, pela perspectiva do governo, as polícias estivessem garantindo a ordem pública,
os excessos cometidos no período da ditadura militar deixaram marcas profundas na
história da instituição policial (MENDONÇA, 2020).
No período seguinte, a centralização do comando começa a ser questionada,
bem como o papel da instituição policial como um órgão de prestação de serviços para
a sociedade. A Constituição Federal de 1988 reorganiza a estrutura das polícias,
atribuindo a cada uma competências capazes de atender às necessidades sociais.
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participativa como elo fundamental para a resolução dos crescentes violência e
criminalidade.
No seu art. 144, a Constituição estabelece os órgãos policiais e suas
competências. Veja (BRASIL, 1988):
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Por fim, os corpos de bombeiros militares são instituições de defesa civil, mas
também atuam como forças auxiliares do Exército quando necessário, assim como as
polícias militares. Seu caráter é mais protetivo, estando a serviço da população no
combate a situações de calamidade pública.
Fonte: escola.mpu.mp.br
Políticas e programas têm trazido bons resultados, embora ainda tímidos, nas
inovações em segurança pública no Brasil. Base comunitária, Unidades de Polícia
Pacificadora (UPPs), programas de prevenção ao uso de drogas, conselhos de
segurança, territórios de paz, entre tantas outras ações, destacam- -se como
iniciativas importantes para modificar a realidade dos índices de violência e
criminalidade do País (OLIVEIRA, 2020).
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Como exemplo, você pode considerar a Secretaria de Segurança Pública do
Estado de São Paulo, que criou em 2008 a Diretoria de Polícia Comunitária e de
Direitos Humanos (DPCDH). Com a DPCDH, a instituição constrói um rol de valores
para a aproximação com a comunidade. Isso passa pela capacitação profissional dos
agentes policiais e por ações e programas de estreitamento do vínculo com a
comunidade. Os valores da DPCDH são representados:
pelos pilares da hierarquia e da disciplina;
pela filosofia de polícia comunitária;
pelo mais absoluto respeito aos direitos humanos;
pela ação em defesa da vida, da integridade física e da dignidade das
pessoas;
pela ação com honestidade de propósitos, probidade, patriotismo, civismo
e coragem.
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imagem da polícia protetora e amiga;
aproximação entre a comunidade e a organização policial;
noção de que o agente policial tem função didático-pedagógica, orientando
e educando o cidadão;
respeito aos direitos humanos e direitos fundamentais garantidos pela
Constituição;
noção de que o policial é um cidadão íntegro, um representante do Estado
que atende às demandas sociais.
Fonte: gestaodesegurancaprivada.com.br
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Neste capítulo, você vai estudar a avaliação e o monitoramento das políticas
de segurança pública no Brasil. Ao longo do capítulo, você vai verificar como se
organiza a estrutura federalista do Brasil e conhecer o histórico das políticas nacionais
de segurança pública, com especial atenção aos planos nacionais de segurança
pública propostos nos governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio
Lula da Silva. Você deve ficar atento às políticas públicas de segurança relacionadas
aos diferentes níveis e segmentos de poder e à ramificação entre prevenção e
repressão (OLIVEIRA, 2020).
Por sua vez, o relacionamento entre a avaliação e o monitoramento deve ser
compreendido junto às questões de performance policial, aos planos nacionais de
segurança pública e aos apontamentos relativos aos direitos humanos. Também fique
atento ao seguinte: violência, corrupção, criminalidade e brutalidade policiais são
questões veementemente tratadas nos mais diversos planos nacionais, porém há
recuos, pressões e reações, o que gera um histórico negativo de aplicação de políticas
de segurança pública no Brasil (OLIVEIRA, 2020).
Em síntese, a ideia é que, a partir das discussões propostas, você compreenda
por que a segurança pública é uma das questões mais sensíveis no contexto
brasileiro, ainda que sua presença seja corriqueira nas agendas políticas nacionais
(OLIVEIRA, 2020).
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de proteção social, no âmago da sociedade civil, em conjunto com um sistema de
desenvolvimento nacional e um sistema de proteção nacional. A ausência de um
conceito de segurança pública na Constituição abre margem à interpretação. Assim,
a segurança pública ganha enfoques distintos: defesa ou garantia contra ameaças, ou
unicamente defesa contra a ameaça do crime e da contravenção penal (ESPÍRITO
SANTO; MEIRELES 2003).
As políticas de segurança pública no Brasil têm sido, de forma geral,
organizadas e implementadas de maneira fragmentada e pouco planejada. No final
dos anos 1980, houve a retomada da ordem democrática no País, e diversos direitos
foram respaldados e reformulados pela Carta Maior. Todavia, o direito à segurança e
à ordem, da mesma forma que a organização estrutural que deveria garanti-lo, acabou
limitado a uma lista de organizações policiais apresentada no Título V — Da Defesa
do Estado e das Instituições Democráticas. Com esse tratamento, a segurança ficou
longe de assumir o caráter cidadão conferido aos outros setores da vida social do
Brasil, que começava a se reajustar (BALLESTEROS, 2014 apud OLIVEIRA, 2020).
A insuficiência constitucional relativa à segurança pública é vista por inúmeros
autores como decorrência do abalo institucionalizado em relação à temática,
resultante das violações e arbitrariedades cometidas durante a ditadura militar.
Refrear o debate e afastar-se dessa temática na Constituinte teria permitido edificar a
conciliação indispensável para a transição ao regime democrático (BALLESTEROS,
2014). Veja:
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Ainda assim, alguns procedimentos governamentais indicam mudanças na
forma como a segurança pública vem sendo administrada nos últimos 30 anos no
Brasil. Embora o governo federal não tenha a competência legal para tratar do tema,
sua atitude política construída com base em propostas que superam as limitações da
normatividade tem sido utilizada para movimentar um ambiente baseado na inércia e
na reatividade. Ainda que não consumadas, essas alterações devem ser consideradas
significativas marcas da governança da segurança pública (BALLESTEROS, 2014).
Nesse sentido, a implementação de políticas públicas de segurança não
depende apenas do desenvolvimento de um bom planejamento, mas dos resultados
práticos que advêm da excelência na governança e da determinação de prioridades,
bem como do afastamento de pontos errôneos que podem gerar retrocessos. Assim,
manter programas de segurança pública em funcionamento depende de dois fatores
essenciais: a avaliação e o monitoramento (OLIVEIRA, 2020).
Conjuntamente, esses fatores são formuladores de índices de qualidade e/ou
ineficiência das ações e estratégias desenvolvidas pela atividade conjunta dos
governos federal, estadual e municipal para a aplicação de projetos vinculados à
segurança pública, ao combate ao crime e à violência, à reestruturação das polícias,
ao aprimoramento de tecnologias e conhecimentos, etc.
A avaliação de desempenho diz respeito à análise dos resultados atingidos por
meio de determinada ação, a qual, por sua vez, pressupõe a competência, que é
entendida como “[...] a capacidade de um indivíduo ou grupo em executá-la e, em
certos casos, a eficiência, que é a virtude de produzir algum efeito tendo em vista uma
relação de custos e benefícios [...]” (DURANTE; BORGES, 2011, p. 64). Assim, avaliar
o desempenho é o mesmo que lhe conceder um conceito em relação às expectativas
preestabelecidas. Dessa forma, a avaliação e, por conseguinte, o monitoramento são
instrumentos que possibilitam ao gestor ter conhecimento dos resultados e impactos
da ação de determinada política, programa ou plano. Por meio disso, ele pode
estabelecer, rotineiramente, contratos com os agentes vinculados ao projeto ou
política avaliada considerando os resultados que são esperados, procurando “[...]
acompanhar os desafios propostos, corrigindo os rumos quando necessário e avaliar
os resultados alcançados. [Estes] derivam do planejamento estratégico definido pelos
gestores da organização ou departamento avaliado [...]” (DURANTE; BORGES, 2011,
p. 65). Considere o seguinte:
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A avaliação em processo [...] tem a particularidade de ser preventiva da
eficiência e até mesmo da eficácia, dependendo da metodologia e dos
instrumentais que são utilizados. Este tipo de avaliação é fundamental para a
introdução da correção de rumos no decorrer do processo de implementação
de políticas públicas. Essa avaliação é muito sensível politicamente porque
afeta diretamente os responsáveis políticos e técnicos pela condução das
políticas. A avaliação em processo destina-se a problematizar, em
profundidade, a direção, os produtos e os resultados que a política esteja
produzindo, mas enquanto ela está́ sendo implementada (DURANTE;
BORGES, 2011, p. 66).
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Consideremos quatro exemplos da participação relativamente autônoma de
fatores negativos [...]: dinâmicas demográficas ou a qualidade da saúde
pública materno-infantil, ou o aperfeiçoamento das condições sanitárias, fruto
de processo de urbanização, levam ao aumento do número de jovens na
população. Sabemos que a magnitude da presença de jovens na população
constitui uma variável significativa para o panorama da criminalidade e da
violência. Eis aí um contexto favorável ao crescimento do número de crimes.
Desastres naturais, como enchentes e tornados, podem gerar
desabastecimento, desespero e uma onda de saques, de tal maneira que se
produza um ambiente propício à proliferação de práticas criminosas de tipos
diversos, contra a vida e o patrimônio. Crise econômica, provocando
desemprego em massa e aprofundando desigualdades, na contramão de
uma cultura hegemônica individualista e igualitária, pode funcionar como
vetor facilitador da difusão de práticas criminosas. Crescimento econômico e
elevação da renda média, universalização do acesso ao ensino público, em
ambiente de intenso desenvolvimento tecnológico, no contexto da expansão
do que se convencionou chamar “sociedade do conhecimento ou da
informação”, tornam simples a reprodução doméstica de obras culturais
(como filmes e gravações musicais) e incontrolável sua distribuição ilícita,
colocando em xeque os termos que tradicionalmente definem a propriedade
intelectual e alimentando verdadeira avalancha dos crimes apelidados
“pirataria” (SOARES, 2007, p. 78 apud OLIVEIRA, 2020).
[...] áreas que apresentam os dados mais graves, as taxas mais elevadas de
criminalidade, uma vez que a valorização pode tornar atrativo o fracasso;
tanto quanto fazer o inverso pode condenar [os locais com mais problemas]
ao abandono e ao círculo vicioso do agravamento que se retroalimenta [...]
(SOARES, 2007, p. 80).
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impasses às avaliações. Dessa forma, uma boa política tem de se manter aberta,
permitindo modificações contínuas quando elas se fizerem necessárias, como indicam
os exemplos práticos:
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Você deve ficar atento ao seguinte: os resultados não são os únicos fatores
necessários para que uma avaliação de um programa de segurança pública seja
exitosa. Procedimentos e propósitos intermediários, considerados especialmente
relevantes por métricas institucionais, têm de ser meios de acompanhamento crítico
sistemático. Destacam-se, por exemplo, a qualidade da formação de operadores de
segurança pública, a confiança e a real existência dos controles internos e externos,
entre outros. Nos casos de políticas preventivas, os programas propostos podem ter
valor segundo diferentes variáveis, independentemente de conclusões observadas a
curto prazo. Nesse sentido, o entendimento é necessário para a avaliação crítica, mas
não pode ser obtido a todo momento, tendo vista a natureza prática dos meios de
avaliação, proveitosos, em suma, para o monitoramento disciplinante do sistema
examinado. Assim, o aprimoramento não pode esperar um lapso temporal
consideravelmente longo para que estudos comparativos sejam realizados (SOARES,
2007 apud OLIVEIRA, 2020).
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sociais e ações comunitárias. A ideia era reprimir e prevenir o crime e reduzir a
impunidade, aumentando a segurança e a percepção de tranquilidade social do
cidadão (BRASIL, 2001).
É importante que você compreenda o contexto em que se deu a criação e a
publicação desse plano pioneiro. O governo FHC, com seus sucessivos ministros da
Justiça (contexto do segundo mandato do sociólogo), teve a ideia de compor um plano
nacional de segurança pública a partir de um fato específico. Em 12 de junho de 2000,
o sobrevivente da chacina da Candelária Sandro Barbosa do Nascimento sequestrou
o ônibus 174 (Central–Gávea) no Rio de Janeiro. O sequestro resultou na morte de
Geísa Firmo Gonçalves, que ficou refém do sequestrador e morreu depois de ele
disparar três tiros em suas costas. Como não havia outros reféns, a polícia imobilizou
Sandro, levando-o preso, porém o criminoso faleceu por asfixia enquanto os policiais
tentavam imobilizá-lo a caminho da delegacia. O crime chocou a população brasileira
e ficou marcado na história do País (OLIVEIRA, 2020).
Ato contínuo, FHC determinou aos seus assessores que tomassem uma
decisão quanto à agenda da segurança nacional, ao menos naquilo que se referia à
União. Após essa determinação, em poucos dias, a nação brasileira recebia seu
primeiro Plano Nacional de Segurança Pública, denominado “O Brasil diz Não à
Violência”. Esse plano, pela urgência de criação e por uma análise caduca, tomou
forma com uma série de intenções diversificadas e assimétricas. Salienta-se que, no
primeiro mandato de FHC, caminhos importantes foram traçados quanto à segurança
pública, com especial destaque para a criação da Secretaria Nacional de Direitos
Humanos e a formulação do primeiro Plano Nacional de Direitos Humanos (SOARES,
2007 apud OLIVEIRA, 2020).
Ao analisar o Plano Nacional de Segurança Pública de FHC, alguns autores
identificam na propositura de um plano baseado meramente em questões políticas um
motivo da estagnação do desenvolvimento de reformas interessantes no sistema de
segurança no País. Eles consideram que se trabalhou a temática como um
planejamento de governo, não se atendendo aos requerimentos demandados pelo
Estado (MESQUITA NETO, 2008 apud OLIVEIRA, 2020).
Embora o Plano Nacional de Segurança Pública de FHC tenha representado
um primeiro passo para os programas de políticas públicas pós-ditadura, ele não
detinha elementos suficientes e satisfatórios para sua execução. Afinal, faltou àquele
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documento uma estruturação de política, que requeria “[...] a identificação de
prioridades, uma escala de relevância, [bem como] a identificação de um conjunto de
pontos nevrálgicos condicionantes dos processos mais significativos [...]” (SOARES,
2007, p. 83). Assim, não houve mudanças impulsionais e estruturadas ou conjuntas e
brutas com elementos suficientes para modificar a realidade da segurança pública no
País, o que seria capaz de impulsionar conjunturas apropriadas para as alterações
estratégicas, baseadas em metas suficientemente delineadas. Não foi possível obter
um conceito estruturado dos problemas, em suas diversas proporções, sejam elas
sociais ou institucionais. Da mesma forma, sequer se delimitou uma qualificação —
na falta do estabelecimento de metas e critérios, métodos e mecanismos de avaliação
e monitoramento (SOARES, 2007 apud OLIVEIRA, 2020).
Não foi difícil para os estudiosos e pesquisadores perceber que aquele “plano
nacional” não era suficiente para a delimitação de propostas relativas à segurança
pública nacional, uma vez que lhe faltavam requisitos mínimos de direcionamento
(SOARES, 2007). Ademais, os estudiosos de segurança pública diagnosticaram que
o primeiro Plano Nacional de Segurança Pública tinha uma série de características
estabelecidas pelo jogo político delineado desde a época da constituinte, baseadas
em interesses corporativistas (MESQUITA NETO, 2008). Outra característica
imperiosa para a fraqueza da implementação desse primeiro documento formal de
segurança no País foi a falta de integração entre os entes federativos para o
desenvolvimento conjunto de políticas. Em termos de auxílio mútuo entre União,
estados, Distrito Federal e municípios, o poder de desenvolvimento das lideranças
locais era essencial. Essas lideranças eram fundamentais às negociações político-
partidárias. Sem considerar a integração entre elas e o governo federal, o Plano
Nacional de Segurança Pública de FHC deixava de lado o deslocamento categórico
no sentido da democratização e da ampliação de mecanismos para o
desenvolvimento de políticas harmonizadas de segurança pública no Brasil
(BALLESTEROS, 2014 apud OLIVEIRA, 2020).
Porém, o Plano Nacional de FHC não foi apenas um conjunto de ideias sem
possibilidade de aplicação; pelo contrário: foi um material inaugural das políticas de
segurança pública que o sucederam. Entre os pontos que merecem destaque, está a
importância atribuída à prevenção da violência, distanciando-se da falida ideia de
repressão. Para tanto, foi criado o Plano de Integração e Acompanhamento dos
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Programas Sociais de Prevenção da Violência, com o objetivo de promover a
cooperação e a interação local. Por conseguinte, tal plano buscava a recíproca
tonificação dos programas sociais implementados pelos governos federal, estadual e
municipal que, de maneira direta ou indireta, conseguissem auxiliar na redução dos
elementos vinculados aos delitos de natureza criminosa (OLIVEIRA, 2020).
Embora houvesse propostas interessantes, os obstáculos para a sua execução
eram muito maiores do que o documento previa. Considerando a estrutura do Estado
no Brasil, que é ensejada pela ramificação corporativa, nada é mais complicado do
que agregar programas setoriais, constituindo, pela coordenação, uma denominada
“política intersetorial”. Isso é verdadeiro em especial quando a vontade está além da
competência de uma única camada de governo e se estende para os três níveis da
Federação (SOARES, 2007). Mas, nesse sentido, diligências consideráveis foram
realizadas pela Secretaria Nacional de Segurança Pública:
Ainda no que compete à união entre os entes federados, não se poderia negar,
junto à ideia de execução do Plano Nacional fomentado no governo FHC, que havia
um constrangimento do pacto federativo no concernente à segurança pública. Afinal,
embora o governo federal sempre tenha tido papel de destaque na produção de
políticas de segurança pública, a execução dessas políticas recaía, e continua
recaindo, sobre os estados, que por sua vez encaram questões delicadas na esfera
de sua localidade. Entre essas questões, está a tarefa de desenvolver um trabalho
baseado nas características regionais de contenção ao crime e nas especificidades
do elo entre “[...] políticas, Ministério Público, Poder Judiciário e autoridades
penitenciárias com o governo civil e com as elites políticas locais [...]” (ADORNO,
2003, p. 141). Assim, esse vínculo é uma questão de sumária importância, uma vez
que a execução de qualquer plano político, incluindo aqueles de segurança pública,
depende das alianças estabelecidas entre governos estaduais e federal,
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intermediadas pelas relações entre os representantes estaduais e federais no
Congresso Nacional (BALLESTEROS, 2014 apud OLIVEIRA, 2020).
Mesmo diante desse ambiente hostil, o governo FHC cuidou, junto ao seu Plano
Nacional de Segurança Pública, de criar o Fundo Nacional de Segurança Pública, que
ficou sob responsabilidade da Secretaria Nacional de Segurança Pública, com o
objetivo de impulsionar as políticas públicas e suas adequações. Porém, diante da
falta de uma política nacional sistêmica, com prioridades delineadas, o fundo
enfrentou limitações que se vinculavam a antigos procedimentos, como o repasse de
recursos, que, em vez de ser instrumento político previsto para o estímulo de reformas
estruturais, na prática passou a ser utilizado para a compra de armas e viaturas. Logo,
o Fundo Nacional de Segurança Pública foi exaurido pela força da imobilidade e ficou
estagnado na antiga máxima de “fazer mais do mesmo”, sem prospectar as inovações
que vinham indicadas no Plano Nacional de Segurança Pública. O que se viu foram
estruturas gastas sendo beneficiadas por meio de políticas confusas e suportando a
convivência com organizações policiais resistentes à gestão racional, à avaliação, ao
monitoramento e ao controle externo (SOARES, 2007 apud OLIVEIRA, 2020)
O segundo mandato de FHC foi marcado por uma mudança positiva,
democrática e progressiva: o conteúdo da segurança pública ganhou status político
superior e se reconheceu “[...] sua importância, a gravidade da situação e a
necessidade de que o governo federal assuma responsabilidades nessa matéria [...]”
(SOARES, 2007, p. 85). Ademais, o governo firmou compromisso político com a pauta
dos direitos humanos; especificamente na seara da segurança pública, foi criada uma
agenda idônea, com destaque à prevenção de delitos, à integração entre os diferentes
entes da Federação e entre governos, ao reconhecimento das questões locais, à
qualificação das polícias, ao encorajamento ao policiamento comunitário, ao incentivo
ao programa de proteção às testemunhas e à criação de ouvidorias. Porém,
lamentavelmente, a pauta não foi conduzida com os meios indispensáveis à sua
consumação; em sentido amplo, “[...] faltaram verbas, orientação política adequada,
liderança e compromisso efetivos, e um plano sistêmico, consistente, que garantisse
uma distribuição de recursos correspondente às prioridades identificadas no
diagnóstico [...]” (SOARES, 2007, p. 86 apud OLIVEIRA, 2020).
Deve-se observar que, embora com apontamentos tímidos (porém incipientes)
do governo FHC, o âmbito da segurança pública, na esfera da União, foi marcado por
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insensibilidade e falta de mobilidade. Os gestores federais conformaram-se com dar
andamento às práticas tradicionais, adaptando-as ao novo contexto democrático,
marcado pela Constituição Federal de 1988. Porém, os esqueletos organizacionais se
mantiveram inalterados no processo de transição à democracia. As autoridades se
restringiram a recepcionar o legal da tradição brasileira autoritária que reproduz
características substanciais, trazendo apenas ajustes residuais. Isto é, as polícias e
suas práticas deixaram de focar com exclusividade a segurança do Estado, passando
à defesa dos cidadãos e à proteção de seus direitos (SOARES, 2007 apud OLIVERIA
2020).
Além disso, foram herdados inúmeros aspectos do primeiro mandato de FHC,
com o mesmo diagnóstico, por exemplo, para as causas de crescimento da violência
e dos crimes. Para além disso, os agentes e agências incumbidos de implementar a
obsoleta política da “lei e ordem” e de promover a segurança pública revelaram-se
resistentes às mudanças institucionais. Essa situação é um reflexo dos imponentes
interesses petrificados na burocracia estatal — alguns provenientes dos governos
autoritários no País —, os quais ainda tinham espaço significativo nos processos de
tomada de decisões. Os governos civis do período pós-ditadura não se esforçaram
para fomentar um novo quadro de operadores de segurança pública, isto é, um quadro
mais articulado às novas Avaliação e monitoramento das políticas de segurança
pública 13 ideias quanto ao trabalho no Estado Democrático de Direito (ADORNO,
2003). Logo, a brutalidade arbitrária continuou como forma peculiar do relacionamento
com as camadas populares, em especial com negros e mulheres, nas periferias e
favelas. O mesmo ocorreu com o sistema penitenciário e os cárceres no geral. Veja:
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O autor do Plano foi o então secretário nacional de Segurança Pública. A ele,
coube colocar em prática as primeiras etapas do Plano, que contemplavam, por
exemplo: a construção de um consenso com governadores em torno do próprio Plano;
a definição de pontos fundamentais para a celebração de um acordo para a
normatização do Sistema Único de Segurança Pública (Susp); a instalação de
gabinetes de gestão integrada de segurança pública em uma parceria do governo
federal com os governos estaduais; o não contingenciamento dos recursos do Fundo
Nacional de Segurança Pública; a desconstitucionalização das polícias; e, uma vez
endossado o Plano, a celebração, em conjunto com os 27 governadores de estados,
do Pacto pela Paz (SOARES, 2007).
A primeira gestão de Lula se baseou no reforço do caráter de articulação do
governo federal, associado ao destaque dado a políticas de prevenção e valorização
profissional dos agentes de segurança pública do País. Além disso, o
restabelecimento do vínculo federativo foi proposto pelo Comitê de Articulação
Federativa (CAF) do governo, que prospectava a harmonização no fomento de uma
fórmula para criar estratégias e ações de implementação coordenada e cooperativa
entre o governo federal e as esferas municipais, para suporte dos requerimentos
sociais e aperfeiçoamento das relações federativas (BRASIL, 2007).
Ademais, no Projeto Segurança Pública para o Brasil, de 2002, elaborado com
a participação de alguns setores da sociedade, foram propostas reformas estruturais
abrangentes, incluindo também reformas relativas às normas constitucionais
(BALLESTEROS, 2014). Nesse sentido, o Brasil esteve muito perto de atingir em nível
nacional a compreensão sobre as reformas, uma vez que os governadores se
dispuseram a ajudar, endossando a carta de adesão ao Plano Nacional. Porém, para
a surpresa de todos, o presidente Lula não confirmou a participação do governo
federal no pacto nacional. Ao revisar sua adesão ao Plano, o presidente acabou
desistindo do caminho previsto, uma vez que notou que realizá-lo “[...] implicaria
assumir o protagonismo maior da reforma institucional da segurança pública no país,
ou seja, implicaria assumir a responsabilidade pela segurança, perante a opinião
pública [...]” (SOARES, 2007, p. 88). Tal fator era de grande risco político, uma vez
que a responsabilidade por cada problema seria atribuída ao governo federal, o que
resultaria em um inevitável desgaste, dado que os efeitos práticos de uma
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reorganização institucional seriam percebidos apenas a longo prazo (SOARES, 2007
Apud OLIVEIRA, 2020).
As principais características do Plano Nacional de Segurança Pública do
primeiro mandato de Lula eram singulares: havia uma série de propostas articuladas
de modo sistêmico, com destaque para a reforma das polícias e do sistema
penitenciário, com a implementação integrada de políticas de prevenção pelos
diversos setores. Tais propostas tinham a capacidade de produzir efeitos significativos
e gerar uma enorme transformação, com potencial para impactar a realidade da
violência criminal. Em especial, operava-se com um plano baseado em objetividade e
consistência interna, com observância ao diagnóstico e à abrangência. Para que o
seu sucesso fosse alcançado, a sua implementação estaria vinculada a avaliações
regulares e sistemas de monitoramento com capacidade de identificar os erros; a ideia
era evitar que os erros se repetissem indefinidamente (SOARES, 2007 Apud
OLIVEIRA, 2020). Considere o seguinte:
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O governo de Luiz Inácio Lula da Silva retomou compromissos, ampliou
repertórios e adiou questões polêmicas. Em 20 de agosto de 2007, o governo federal
lançou o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), por
meio da Medida Provisória nº 384, comprometendo-se a investir R$ 6,707 bilhões, até
o fim de 2012, em um conjunto de ações que envolviam diversos ministérios em
intervenções articuladas com estados e municípios. O Pronasci era composto por um
conjunto de 94 projetos desenvolvidos pelo Ministério da Justiça (SOARES, 2007
Apud OLIVEIRA, 2020). Veja:
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(e das demais instituições do sistema de Justiça criminal) e da equidade no
acesso à educação.
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Porém, o Pronasci não apresentou apenas avanços. Ele também trouxe
retrocessos em relação ao Plano Nacional de Segurança Pública da primeira gestão
do presidente Lula:
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7 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, S. Lei e ordem no segundo governo FHC. Tempo Social, São Paulo, v.
15, n. 2, p. 103–140, 2003.
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ESPÍRITO SANTO, L. E.; MEIRELES, A. Entendendo a nossa insegurança. [S. l.]:
Instituto Brasileiro de Poli iologia, 2003.
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