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perspectivas decoloniais
VOLUME 2
Ana Carla Barros Sobreira
Fabiane Lemes
(Orgs).
TUTÓIA-MA, 2021
EDITOR-CHEFE
Geison Araujo Silva
CONSELHO EDITORIAL
Bárbara Olímpia Ramos de Melo (UESPI)
Diógenes Cândido de Lima (UESB)
Jailson Almeida Conceição (UESPI)
José Roberto Alves Barbosa (UFERSA)
Joseane dos Santos do Espirito Santo (UFAL)
Julio Neves Pereira (UFBA)
Juscelino Nascimento (UFPI)
Lauro Gomes (UPF)
Letícia Carolina Pereira do Nascimento (UFPI)
Lucélia de Sousa Almeida (UFMA)
Maria Luisa Ortiz Alvarez (UnB)
Marcel Álvaro de Amorim (UFRJ)
Meire Oliveira Silva (UNIOESTE)
Rosangela Nunes de Lima (IFAL)
Rosivaldo Gomes (UNIFAP/UFMS)
Silvio Nunes da Silva Júnior (UFAL)
Socorro Cláudia Tavares de Sousa (UFPB)
2021 - Editora Diálogos
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O conteúdo do livro é de total responsabilidade de seus autores e autoras.
C968
Culturas, corpos e linguagens híbridas [livro eletrônico] : perspectivas
decoloniais: vol.2 / Organizadoras Ana Carla Barros Sobreira, Fabiane
Lemes. – Tutóia, MA: Dialogos, 2021.
192 p.
Formato: PDF
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Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 978-65-89932-19-2
1. Linguagem e cultura. 2. Linguística. 3. Análise do discurso. I. Sobreira,
Ana Carla Barros. II. Lemes, Fabiane.
CDD 410
https://doi.org/10.52788/9786589932192
Editora Diálogos
contato@editoradialogos.com
www.editoradialogos.com
Sumário
Prefácio....................................................................................................... 8
Elaine Pereira Andreatta
Apresentação..........................................................................................10
Sobre as organizadoras....................................................................163
Índice remissivo..................................................................................168
Prefácio
Eliana Ladeira
Fabiene de Oliveira Santos
Rogério de Castro Ângelo
Introdução
Fundamentação teórica
muitas coisas podem ser feitas a fim de negociar, modificar e até mesmo
contrabalancear o poder imperial [da língua inglesa] – pelo menos em domínios
limitados – criando no processo relações mais igualitárias (CANAGARAJAH,
1999, p. 211).
Referências
Introdução
1 O afeto aqui é pensado pela perspectiva spinozana. Assim, relaciona-se o afeto ao que move as pessoas, ao que as afeta,
aumentando ou diminuindo a potências delas de agir.
2 As aspas aqui são para sinalizar outros corpos em reconhecimento, e como se diz da posição de um corpo marcado no
quadro colonial como tal, a letra “M” maiúscula, busca afirmar um corpo vivido, sem, portanto, deixar de reconhecer a
história das mulheres e a luta feminista; posicionando-se, sobretudo, em prol da igualdade e libertação dos corpos/órgãos
oprimidos, reprimidos, marginalizados.
3 Inspiração, reconhecimento de e em igualdade, equiparação, respeitando as singularidades.
4 A esse respeito ver QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do Poder e Classificação Social, 2009, p. 73-117.
7 Sobre isso ver também, por exemplo, a matéria disponível em: <https://umbigomagazine.com/pt/
blog/2021/01/22/juliana-notari-revoluciona-a-usina-de-arte-com-diva/>. Acesso em: 25 abr. 2021
e a matéria disponível em: <https://br.noticias.yahoo.com/artista-pl%C3%A1stica-recebe-ataques-
ap%C3%B3s-122131232.html>. Acesso em: 25 abr. 2021.
8 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lrJfDP5dQSA>. Acesso em 25 abr.2021.
'Diva’ é muito mais ferida que vulva. Como essa já é uma imagem que eu trabalho
há um tempo, tive a ideia de colocar naquela grande ferida histórica, geográfica e
social do local, que passa desde a escravidão à monocultura da cana. São muitas
feridas. Isso abriu uma caixa de Pandora de discussões sobre gênero, classe social
e raça. São feridas que o Brasil não curou10
Considerações finais
Introdução
- Edgar Morin
Fonte: https://diaadia.jp/wp-content/uploads/2020/02/1400.jpg
A divulgação de um acontecimento
Referências
Diversidade étnico-racial na
educação infantil: vozes docentes1
Introdução
1Um recorte deste estudo foi apresentado no evento VII Seminários de Educação para as Relações
Étnico-raciais IFG 2021.
Metodologia
Fundamentação teórica
É preciso mostrar na sala de aula que o Brasil é um país formado por misturas de
raças, crenças e costumes e independente disso, devemos respeitar e valorizar a cultura
que cada pessoa traz, Já que somos todos iguais e temos os mesmos direitos e deveres.
(Professora C)
Para aprender, as crianças devem ter seus desejos, suas vidas, suas histórias e suas
culturas consideradas. Para que isso ocorra, o currículo, necessariamente, precisa
estar articulado às práticas culturais dos grupos sociais dos quais são membros as
diferentes crianças que frequentam o espaço de educação infantil (TRINIDAD,
2012, p. 121).
Não é possível o Brasil construir uma política educacional igualitária, que eduque
crianças e jovens para valorizarem a diversidade e construírem uma sociedade em
que a democracia racial seja um fato e não um mito, sem a participação efetiva
dos profissionais da educação.
Considerações finais
Referências
Introdução
A colonização da Nigéria
To serve their colonizing interests in Nigeria, it was expedient for the British to register
more than a fleeting presence. They needed to be able to verbally communicate with
their subjects; to be manifestly in control (administratively and politically); to be able
to exploit, process up to a point and store raw materials; to be able to move with ease
around their colony, and to be physically resident to superintend all these (and other)
activities. As such, the English language was taught and became the lingua franca.
Schools were instituted to disseminate Western education and, hand-in-hand with
this, the Christian religion was propagated (as, invariably, missionaries constituted
the teaching staff and ensured the curriculum was Bible-based). Part of the ‘education’
that came with colonization was grooming in ‘court manners’, covering dress, table
manners, and general etiquette. A common feature of the colonial occupation was
the conferment of English names on the indigenes – either to replace local ones that
were found ‘unpronounceable’, or in the wake of actual christening ceremonies,
after conversion to Christianity. Missionaries used not only the platform of formal
education (as distinct from the informal, oral-tradition-based indigenous approaches
hitherto in place) to spread the gospel; their healthcare delivery missions of mercy were
also a popular vehicle for evangelization (OSASONA, 2012, p. 81)1.
1 Para servir aos seus interesses colonizadores na Nigéria, foi conveniente para os britânicos registrar mais do que uma
presença passageira. Eles precisavam ser capazes de se comunicar verbalmente com seus sujeitos; estar manifestamente
no controle (administrativa e politicamente); ser capaz de explorar, processar até certo ponto e armazenar matérias-
primas; poder mover-se com facilidade pela colônia e ser residente fisicamente para supervisionar todas essas (e outras)
atividades. Como tal, a língua inglesa foi ensinada e tornou-se a língua franca. As escolas foram instituídas para disseminar
a educação ocidental e, junto com isso, a religião cristã foi propagada (já que, invariavelmente, os missionários constituíam
o corpo docente e garantiam que o currículo fosse baseado na Bíblia). Parte da ‘educação’ que veio com a colonização
foi a preparação de ‘modos da corte’, incluindo roupas, modos à mesa e etiqueta geral. Uma característica comum da
[...] those who knew the additional African value of English exploited their knowledge
for selfish ends: it was often used as an instrument of invective and intimidation.
Thus, where two persons had any disagreement (and quarreled), the candidate with
much or more competence in English had an advantage over his rival as he could
readily invoke his mastery of English to intimidate the rival. He could speak English,
sometimes challenge the rival to speak English in return, and win the applause of the
audience, regardless of how ungrammatical the English would be, especially as few, if
any, in the environs would know better2 (TEILANYO, 2011, p. 149).
ocupação colonial foi a atribuição de nomes ingleses aos indígenas - seja para substituir os locais que foram considerados
“impronunciáveis”, ou na sequência de cerimônias de batismo reais, após a conversão ao cristianismo. Os missionários não
usaram apenas a plataforma de educação formal (diferente das abordagens indígenas informais baseadas na tradição oral até
então em vigor) para espalhar o evangelho; suas missões de misericórdia de prestação de cuidados de saúde também foram
um veículo popular para a evangelização. (tradução nossa)
2 Aqueles que conheciam o valor africano adicional do inglês exploravam seu conhecimento para fins egoístas: era
frequentemente usado como um instrumento de injúria e intimidação. Assim, quando duas pessoas tinham qualquer
desacordo (e brigavam), o candidato com maior competência em inglês tinha uma vantagem sobre seu rival, pois ele podia
invocar prontamente seu domínio do inglês para intimidar o rival. Ele falava inglês, às vezes desafiava o rival a falar inglês
em troca e ganhava os aplausos do público, independentemente de quão não gramatical fosse o inglês, especialmente porque
poucos, se é que algum, nos arredores sabiam mais (tradução nossa).
It was the colonial service that offered good pay more than the indigenous occupations,
and some competence in English was a sine qua non to such employment. Thus,
Herbert Igboanusi considers it pertinent for us to note that the Igbo and Africans in
general “were eager to learn the English language primarily because it guaranteed a
paid employment for them, which was far preferred to the less rewarding but more
tasking farm-work” (Igboanusi, 2002: 19). Even today some mastery of English –
through certified formal education – is necessary for one to engage in the white- collar
jobs that could place one in the middle class3 (TEILANYO, 2011, p. 149).
3 Era o serviço colonial que oferecia bons salários, mais do que as ocupações indígenas, e alguma competência em inglês
era condição sine qua non para esse emprego. Assim, Herbert Igboanusi considera pertinente notar que os igbo e os africanos
em geral “estavam ansiosos por aprender a língua inglesa principalmente porque lhes garantia um emprego remunerado, o
que era preferível ao menos gratificante, mas mais exigente trabalho agrícola” (Igboanusi, 2002: 19). Mesmo hoje, algum
domínio do inglês - por meio de educação formal certificada – é necessário para que alguém se engaje em empregos de
colarinho branco que poderiam colocá-lo na classe média (tradução nossa).
6 Mignolo (2017) retoma uma discussão iniciada pelo sociólogo peruano Aníbal Quijano, do final da década de 1980
início da década de 1990, sobre a colonialidade, que é um padrão/matriz de poder que persiste nas colônias mesmo após o
fim da relação de dominação colonial. Essa matriz colonial de poder teve início na invasão das Américas no século XV/
XVI e estabeleceu um padrão de poder mundial no qual os europeus (e seus modos de ser/estar no mundo) são tidos
como o padrão “natural”/neutro, enquanto as outras populações mundiais e suas formas de ser/estar são racializadas e
discursivizadas como inferiores.
7 O inglês é a língua que aparentemente conferirá civilização, conhecimento e riqueza às pessoas e, ao mesmo
tempo, é a língua na qual elas são definidas racialmente (tradução nossa).
Falar uma língua é assumir um mundo, uma cultura. O antilhano que quiser ser
branco tanto mais o será quanto mais tiver assumido como seu o instrumento
cultural que é a linguagem. [...] Historicamente, é preciso entender que o negro
quer falar o francês porque é a chave capaz de abrir as portas, que, para ele, há
meros cinquenta anos estavam interditadas (FANON, 2020, p. 52).
8 Departamento ultramarino é um departamento da França que está fora da França Metropolitana. Entendemos essa
denominação como uma espécie de atualização do termo colônia, tendo em vista que o território, que se situa na América
Central, é subordinado à França.
9 Conforme consta em nota do tradutor, tibandes refere-se às crianças que trabalhavam nos canaviais recolhendo os
pedaços menores de cana que escapavam dos fardos atados pelas canavieiras. Trata-se de uma nomeação, também colonial,
que posiciona essas crianças como seres inferiores, “menos humanos”.
sei que não é a língua inglesa que me machuca, mas o que os opressores fazem
com ela, como eles a moldam para transformá-la num território que limita e
define, como a tornam uma arma capaz de envergonhar, humilhar, colonizar
(HOOKS, 2017, p. 224).
Aprender o inglês, aprender a falar a língua estrangeira, foi o modo pelo qual os
africanos escravizados começaram a recuperar seu poder pessoal dentro de um
contexto de dominação. De posse de uma língua comum, os negros puderam
encontrar de novo um modo para construir a comunidade e um meio para criar
a solidariedade política necessária para resistir (HOOKS, 2017, p. 226).
Em alguns dos trechos do livro analisado no escopo deste capítulo,
veremos como os personagens se inscrevem em discursividades que ora
apontam para a sujeição à colonialidade ora para resistência a essa matriz
colonial de poder.
Trecho 01: 'Aquilo era um mau sinal. Papa quase nunca falava em igbo e, embora
Jaja e eu usássemos a língua com Mama quando estávamos em casa, ele não
gostava que o fizéssemos em público. Precisávamos ser civilizados em público, ele
nos dizia; precisávamos falar inglês. A irmã de Papa, tia Ifeoma, disse um dia que
Papa era muito colonizado.' (p. 20).
Mesmo o igbo sendo uma das línguas mais populares na Nigéria (com
cerca de 24 milhões de falantes), ela é colocada por várias instâncias como
uma língua indesejada e inadequada. De acordo com Ogunwale (2013), a
negação ao uso das línguas indígenas é uma forma de as pessoas se tornarem
colonizadas linguísticamente e de perderem sua cultura independente.
Vamos perceber como essa “perda” da cultura independente acontece por
meio da língua, no livro, mais à frente.
Em vários momentos no decorrer da estória, os personagens se utilizam
do code-switching – ou seja, a alternância de códigos linguísticos entre
línguas ou variedades de uma língua – de acordo com o seu interlocutor
e do contexto. No momento da estória destacado no trecho 02, Eugene
altera o seu sotaque para conversar com o padre, autoridade religiosa na
cidade:
A escolha por tentar mudar o seu sotaque para que ele pudesse soar mais
britânico reforça a representação de que i) o inglês é uma língua superior
e ii) o inglês “correto” e ideal é o britânico, em detrimento do inglês com
sotaque local. O desejo por agradar – e não somente os religiosos, mas
especialmente os religiosos brancos – também pode ser considerado uma
influência do período colonial, apontando para uma materialização na
língua dessa relação de hierarquização. Além disso, identifica-se a tentativa
de performar uma identidade outra, menos estigmatizada.
Em outro momento, quando um morador da cidade visita Eugene,
Kambili descreve o esforço realizado por ele para falar inglês perto do pai:
Trecho 03: Ele falava inglês com um sotaque igbo tão forte que até as palavras
mais curtas vinham decoradas com vogais extras. Papa gostava que o povo de Abba
se esforçasse para falar inglês perto dele. Dizia que mostrava que tinham bom senso.
(p. 67).
Trecho 05: Quando contei isso a Jaja, ele deu de ombros e disse que Papa devia
estar falando em línguas, embora nós dois soubéssemos que Papa não gostava
que as pessoas falassem em línguas, porque era isso que os pastores falsos das igrejas-
cogumelo pentecostais faziam. (p. 220)
Trecho 06: Entregou um pedaço de papel a Amaka e disse a ela que escrevera ali
alguns nomes adequados mas sem graça para sua crisma, e que tudo o que ela
precisava fazer era escolher um para que ele pudesse ir embora. Depois de o bispo
usar o nome na crisma, Amaka jamais precisaria mencioná-lo de novo. O padre
Amadi revirou os olhos, falando de forma bem lenta e deliberada. Amaka riu,
mas não pegou o papel.
- Já disse que não vou escolher um nome inglês, padre - insistiu ela.
- E eu já lhe perguntei por que não?
- Por que eu preciso fazer isso?
- Por que é assim que as coisas são feitas. Vamos esquecer se é certo ou errado
por enquanto - disse o padre Amadi, e percebi que havia sombras sob seus olhos.
- Quando os missionários chegaram aqui, eles achavam que os nomes do povo igbo
não eram bons o suficiente. Insistiam para que as pessoas escolhessem um nome inglês
antes de serem batizadas. Nós não devíamos ter progredido? - Hoje é diferente,
Amaka, não transforme isso em alguma coisa que não é - disse o padre Amadi
calmamente. - Ninguém precisa usar o nome. Veja o meu caso. Eu sempre usei
meu nome igbo, mas fui batizado como Michael e crismado como Victor.
Tia Ifeoma ergueu os olhos dos formulários que estava lendo. - Amaka, ngwa,
escolha um nome e deixe o padre Amadi ir trabalhar. - Mas então qual é o
objetivo? - perguntou Amaka a padre Amadi, como se não houvesse escutado o
que sua mãe dissera. - O que a Igreja está dizendo é que só um nome inglês torna
válida a nossa crisma. O nome “Chiamaka” diz que Deus é belo. “Chima” diz que
Considerações finais
10 Sugerimos a leitura do texto de Ballestrin (2013), no qual a autora faz um panorama sobre o giro decolonial,
a constituição, a trajetória e o pensamento do grupo Modernidade/Colonialidade.
A utopia da demodiversidade em um
contexto de discurso de ódio perante
a comunidade LGBTQ+
Introdução
Sobre o corpo de José Renato dos Santos, os peritos contaram 26 facadas. Sobre
o de Sandro Almeida Lúcio, 30. Jurandir Leite foi estrangulado. Seu cadáver
trazia marcas de luta corporal. Laís Martins sofreu violências sexuais antes de
ser assassinada. Seu rosto foi completamente desfigurado por pedradas. Severino
Antônio, esfaqueado e estuprado antes da morte, levou um golpe de faca peixeira
no ânus. Djalma Matos morreu por espancamento. Teve a face deformada.
Carlos de Lima recebeu diversos tiros, antes ou depois da morte. A cabeça de
Jeová Albino foi esmagada por uma pedra; disparos de arma de fogo, contudo,
causaram o homicídio. Assassinado, Ronaldo Carvalho teve seu pênis decepado.
(FILHO, 2016).
Eu não sei
por que o universo
me escolheu
para ser fêmea
tanta beleza
& dor,
tanta coisa
acontecendo
por dentro
de toda essa
mudança
(MYLES, 2019).
Referências
Introdução
O Aspecto Social
O aspecto ambiental
Para além dos aspectos que já citamos até aqui, o impacto ambiental
causado pela geada também foi bastante significativo no sentido em que
modificou de maneira drástica toda a paisagem das fazendas do Estado do
Considerações finais
4 Seguindo a abordagem sociocognitiva da ADC, é preciso explicar que os tópicos desempenham um papel fundamental
na situação de comunicação. São macroestruturas semânticas derivadas de estruturas locais. Eles representam aquilo “sobre
o que versa” o discurso. São expressos frequentemente pelos títulos, manchetes de notícias, sumários, resumos, orações
temáticas (VAN DIJK, 2017, grifos nossos).
5 “A noção de macroproposição é relativa, definida em relação a uma sequência de proposições (locais ou globais) da
qual é derivada’ (VAN DIJK & KINTSCH, 1983, p. 190). Para se construírem macroproposições, aplicam-se às proposições
transformações semânticas chamadas de macrorregras (VAN DIJK, 1977, grifo nosso), que têm a função de transformar as
proposições de um texto num conjunto de macroproposições que o representem.
CONSTRUÇÃO/GUERRA É CONSTRUÇÃO/GUER-
CONSTRUÇÃO/GUERRA É
POSICIONAMENTO RA É TERRITÓRIO
ESTRATÉGIA:
(de sujeitos e materiais)
ESTRUTU-
ESTRUTU- ESTRUTURAS
CON- RAS DIS-
CONCEITO RAS DIS- CONCEITO DISCURSIVAS
CEITO CURSIVAS
METAFÓRI- CURSIVAS METAFÓRI- (Retiradas do
METAFÓ- (Retiradas
CO (Retiradas do CO corpus)
RICO do corpus)
corpus)
6 Frames são estruturas mentais que moldam a maneira com que vemos o mundo. Como resultado, eles moldam os
objetivos que traçamos, os planos que fazemos, a maneira que agimos e o que conta como resultados bons ou ruins de
nossas ações. Na política, nossos frames moldam nossas políticas sociais e as instituições que formamos para implementar
nossas decisões. Mudar nossos frames é mudar tudo isso. Reframing é mudança social. (LAKOFF, 2004, p.15, tradução nossa,
grifos nossos).
Em geral, nossos olhos vão na direção na qual normalmente nos movemos (para
frente, em frente). Quando um objeto se aproxima de uma pessoa (ou a pessoa se
aproxima do objeto), o objeto parece ficar maior. Uma vez que o chão é percebido
como fixo, o topo do objeto parece se mover para cima no campo de visão da
pessoa (LAKOFF; JOHNSON, 2002, p. 63).
Além disso, o status social de uma pessoa pode se referir a essa metáfora
orientacional se em dada cultura o status alto seja algo bom e o status baixo
seja algo ruim. Os autores comentam que “status social é correlacionado ao
poder (social), e poder (físico) é PARA CIMA” (LAKOFF; JOHNSSON,
2002: p.63). Quanto a isso, os autores complementam:
Priscilla Gershon
Introdução
1 Importante ressaltar a existência, no pensamento do autor, de duas violências relativas ao direito. Além da
violência fundadora (violência mística), que institui e instaura o direito, há uma violência que mantém, confirma
e assegura a permanência e a aplicabilidade do direito (violência conservadora). Outra distinção importante
que vale a pena mencionar: violência mística, que funda e instaura o direito, e violência divina, destruidora do
direito. Enquanto o poder se relaciona à primeira violência, porque ligado a toda instauração mística do direito,
a segunda violência se relaciona à justiça, princípio de toda colocação divina do direito.
3 Ainda que cada um dos autores atue em campos teóricos distintos, é possível estabelecer diálogos entre suas propostas: os
estudos culturais de Stuart Hall e as formulações pós-estruturalistas de Jacques Derrida reconhecem em comum o caráter
múltiplo do sujeito, do seu discurso, da heterogeneidade dos sentidos produzidos, partindo, ambos, do entendimento de que
a língua não se resume a um constructo abstrato, não existindo independentemente de um sujeito, cuja identidade, acima
de tudo, é um sistema de significação. Do mesmo modo, partilham também o entendimento dos processos de formações
identitárias como construções discursivas em permanentes deslocamentos (FERREIRA; SILVA, 2014, p. 213).
o que faz com que o movimento da significação não seja possível a não ser que
cada elemento dito ‘presente’, que aparece sobre a cena da presença, se relacione
4 Enquanto “combinação seletiva de elementos invariáveis” (CEVASCO, 2003), a linguagem corta nossa ligação
com as coisas (MERLEAU-PONTY, 2007), mas dela não se escapa, porque, segundo Gadamer, o mundo é
linguagem, e nosso contato com a realidade encontra-se, desde sempre, linguisticamente estruturado.
6 Para Derrida, um texto é texto somente quando ele esconde a lei de sua concepção e a regra de seu jogo, ou seja, somente
quando, a partir do mascaramento de seu sentido, de sua dissimulação, seu conteúdo jamais se oferece pleno e presente
(SANTIAGO, 1976, p. 93). De certo modo, a ideia de texto remete ao conceito de violência mística do direito, no que ele
tem de ocultação e esquecimento.
Conclusão
uma distinção entre a justiça e o direito, uma distinção difícil e instável entre, de
um lado, a justiça (infinita, incalculável, rebeldes às regras, estranha à simetria,
heterogênea e heterotrópica) e, do outro lado, o exercício da justiça como direito,
legitimidade ou legalidade, dispositivo estabilizável, estatutário e calculável,
sistema de prescrições regulamentadas e codificadas. (DERRIDA, 2010, p. 41).
Referências
Priscilla Gershon
Introdução
A desconstrução exige que toda leitura de um texto possa ser submetida a uma
nova leitura, em um movimento que une presente e passado, futuro e presente.
O sentido deve permanecer aberto, permitindo a própria desestabilização
do direito e consequentemente a possibilidade da sua transformação, como
condição de justiça. Sendo assim, qualquer decisão, para ser justa, deve traduzir
um novo julgamento, algo que surge com nova força e que atende ao fato de
que, se o direito e a lei são gerais, a justiça deve atender sempre à singularidade.
(KOZICKI, 2000, p. 211).
A história é incrível, mas aconteceu, e não uma única vez, quem sabe, e sim
muitas, com diversos atores e diferenças locais. Nela está a síntese perfeita de uma
época irreal, e é como o reflexo de um sonho ou como aquele drama no drama que se
vê em Hamlet.
(Jorge Luis Borges, O Simulacro, em O Fazedor)
Referências
BHABHA, Homi. K. O local da cultura. Trad.: Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima
Reis, Gláucia Renate Gonçalves. Belo horizonte: editora UFMG, 2013.
CASTELO BRANCO, Felipe. A Democracia Por Vir: Reconciliação e Promessa entre
Jacques Derrida e Jürgen Habermas. Revista EMERJ, Rio de Janeiro, v.18, n. 57, 2015.
CONTINENTINO, Ana Maria. Horizonte Dissimétrico: onde se desenha a ética radical
da desconstrução. In: DUQUE-ESTRADA, Paulo Cesar (org). Desconstrução e ética. Ecos
de Jacques Derrida. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2004.
CHUEIRI, Vera Karam. Agamben e Derrida: a escrita da lei (sem forma). Pensar, Fortaleza,
v. 16, n. 2, p. 795-824, jul./dez. 2011. pp. 795-824.
CHUEIRI, Vera Karam. A força de Derrida: para pensar o Direito e a possibilidade da
justiça. In Revista CULT – Revista Brasileira de Cultura. São Paulo. Número 117. Ano 10,
2007, p. 49.