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Capítulo 2

CICLO HIDROLÓGICO E BACIA HIDROGRÁFICA

André L.L. da Silveira

2.1 Introdução

o ciclo hidrológico é o fenômeno global de circulação fechada da água


entre a supetfície terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente
pela energia solar associada à gravidade e à rotação terrestre.
A superfície terrestre abrange os continentes e os oceanos, participando
do ciclo -hidrológico a camada porosa que recobre o's continentes (solos,
rochas) e o reservatório formadó pelos oceanos. Farte do ciclo hidrológico é
constituída' pela circulação da água na própria supetfície terrestre, isto é:
a circulação de água no interior e na supetfície dos solos e rochas, nos
oceanos e nos seres vivos.
A atmosfera também possui uma diversidade de condições físicas
importante. Entretanto, a maioria dos fenômenos meteorológicos acontece na
fma camada inferior da atmosfera com 8 a 16kni de espessura, chamada de
troposfera, onde está contida a quase totalidade da umidade atmosférica,
cerca de 90%. Logo açima da troposfera está situada a estratosfera, com
espessura entre AO e 70J:an, cuja importância reside no fato de conter a camada
de ozônio que é reguladora da radiação solar que atinge a supetfície
terrestre, principal fonte de energia do ciclo hidrológico. A água que
circula no interior da atmosfera constitui-se numa fase do' ciclo hidrológico.
Este processo é devidó às correntes aéreas, deslocando-se tanto no estado de
vapor como também nos estados líquido e sólido. A umidade no estado de vapor
é invisível, sendo as nuvens um conjunto de aerossóis visíveis de
microgotícolas de água, mais umidade, e, dependendo da região e estação do
ano, partículas de gelo.
O intercâmbio entre as circulações da supetfície terrestre e da
atmosfera, fechando o ciclo hidrológico, ocorre em dois sentidos: a) no
sentido supetfície-atmosfera, onde o fluxo de água ocorre fundamentalmente na
forma de vapor, como decorrência dos fenômenos de evaporação e de
transpiração, este último um fenômeno biológico; b) no sentido atmosfera-
supetfície, onde a transferência de água ocorre em qualquer estado físico,
sendo mais significativas, em termos mundiais, as precipitações de chuva e
neve.
O ciclo hidrológico só é fechado em nível global. Os volumes evaporados
36 Hidrologia

em um determinado local do planeta não precipitam necessariamente no mesmo


local, porque há movimentos contínuos, com dinâmicas diferentes, na
atmosfera, e também na superfície terrestre. Da precipitação que ocorre nos
continentes, por exemplo, somente parte é aí evaporada, com o restante
escoando para os oceanos. À medida que se considere áreas menores de
drenagem, fica mais caracterizado o ciclo hidro16gico como um ciclo aberto ao
nível local.
Entre os fatores que contrÍbuem para que haja uma grande variabilidade
nas manifestações do ciclo hidro16gico, nos diferentes pontos do globo
terrestre, pode-se enumerar: a desuniformidade com que a energia solar atinge
os diversos locais, o diferente comportamento térmico dos continentes em
relação aos oceanos, a quantidade de vapor de água, CO2 e ozônio na
atmosfera, a variabilidade espacial de solos e coberturas vegetais, e a
influência da rotação e inclinação do eixo terrestre na circulação
atmosférica, sendo esta última a razão da existência das estações do ano.

2.2 Descrição geral do ciclo hidrológico

Pode-se começar a descrever o ciclo hidro16gico a partir do vapor de


água presente na atmosfera que, sob determinadas condições meteoro16gicas,
condensa-se, formando microgotícolas de água que se mantêm suspensas no ar
devido à turbulência natural. ° agrupamento das microgotícolas, que são
visíveis com o vapor de água, que é invisível, mais eventuais partículas de
poeira e gelo, formam um aerossol que é chamado de nuvem ou de nevoeiro,
quando o aerossol forma-se junto ao solo. Através da dinâmica das massas de
ar, acontece a principal transferência de água da atmosfera para a superfície
terrestre que é a precipitação.
A precipitação, na sua forma mais comum que é a chuva, ocorre quando
complexos fenômenos de aglutinação e crescimento das microgotícolas, em
nuvens com presença significativa de umidade (vapor de água) e núcleos de
condensação (poeira ou gelo), formam uma grande quantidade de gotas com
tamanho e peso suficientes para que a força da gravidade supere a turbulência
normal ou movimentos ascendentes do meio atmosférico. Quando o vapor de água
transforma-se diretamente em cristais de gelo e estes atingem tamanho e peso
suficientes, a precipitação pode ocorrer na forma de neve ou granizo.
No trajeto em direção à superfície terrestre a precipitação já sofre
evaporação. Em algumas regiões esta evaporação pode ser significativa,
existindo casos em que a precipitação é totalmente vaporizada.
Caindo sobre um solo com cobertura vegetal, parte do volume precipitado
sofre interceptação em folhas e caules, de onde evapora. Excedendo a
capacidade de armazenar água na superfície dos vegetais, ou por ação dos
ventos, a água interceptada pode-se reprecipitar para o solo. A interceptação
Ciclo Hidrol6gico e Bacia Hidrográfica 37

é um fenômeno que ocorre tanto com a chuva como com a neve.


A água que atinge o solo segue diversos caminhos. Como o solo é um meio
poroso, há infiltração de toda precipitação que chega ao solo, enquanto a
superfície do solo não se satura. A partir do momento da saturação
superficial, à medida que o solo vai sendo saturado a maiores profundidades,
a infiltração decresce até uma taxa residual, com o excesso não mfiltrado da
precipitação gerando escoamento superficial. A infiltração e a percolação no
interior do solo são comandadas pelas tensões capilares nos poros e pela
gravidade. A umidade do solo realimentada pela infiltração é aproveitada em
parte pelos vegetais, que a absorvem pelas raízes e a devolvem, quase toda, à
atmosfera por transpiração, na forma de vapor de água. O que os vegetais não
aproveitam, percola para o lençol freático que normalmente contribui para o
escoamento de base dos rios.
O escoamento superficial é impulsionado pela gravidade para as cotas
mais baixas, vencendo principalmente o atrito com a superfície do solo. O
escoamento superficial manifesta-se inicialmente na forma de pequenos filetes
de água que se moldam ao microrrelevo do solo. A erosão de partículas de solo
pelos filetes em seus trajetos, aliada à topografia preexistente, molda, por
sua vez, uma microrrede de drenagem efêmera que converge para a rede de
cursos de água mais estável, formada por arroios e rios. A presença de
vegetação na superfície do solo contribui para obstaculizar o escoamento
superficial, favorecendo a infiltração em percurso. A vegetação também reduz
a energia cinética de impacto das gotas de chuva no solo, minimizando a
erosão.
Com raras exceções, a água escoada pela rede de drenagem mais estável
destina-se ao oceano. Nos oceanos a circulação das águas é regida por uma
complexa combinação de fenômenos físicos e meteorol6gicos, destacando-se a
rotação terrestre, os ventos de superfície, variação espacial e temporal da
energia solar absorvida e as marés.
Em qualquer tempo e local por onde circula a água na superfície
terrestre, seja nos continentes ou nos oceanos, há evaporação para a
atmosfera, fenômeno que fecha o ciclo hidrol6gico ora descrito. Naturalmente,
por cobrir a maior parte da superfície terrestre, cerca de 70%, a
contribuição maior é a dos oceanos. Entretanto o interesse maior, por estar
intimamente ligada a maioria das atividades humanas, reside na água doce dos
continentes, onde é importante o conhecimento da evaporação dos mananciais
superficiais líquidos e dos solos, assim como da transpiração vegetal. A
evapotranspiração, que é a soma da evaporação e da transpiração, depende da
radiação solar, das tensões de vapor do ar e dos ventos. Na figura 2.1 pode-
se visualizar um corte esquemático do continente com as diversas fases do
ciclo hidrol6gico.
Em certas regiões da Terra o ciclo hidrol6gico manifesta-se de forma
bastante peculiar. Por exemplo, nas calotas polares ocorre pouca precipitação
38 Hidrologia

e a evaporação é direta das geleiras. Nos grandes desertos também são raras
as precipitações, havendo água permanentemente disponível somente a grande
profundidade, sem trocas significativas com a atmosfera, tendo sido estocada
provavelmente em tempos remotos.
A energia calorífica do Sol, fundamental ao ciclo hidrológico, somente é
aproveitada devido ao efeito estufa natural causado pelo vapor de água e CO2'
que impede a perda total do calor emitido pela Terra originado pela radiação
solar (ondas curtas) recebida. Assim a atmosfera mantém-se aquecida,
possibilitando a evaporação e transpiração naturais. Como cerca da metade do
CO2 natural é absorvido no processo de fotossíntese das algas nos oceanos,
verifica-se que é bastante importante a interação entre oceanos e atmosfera
para a estabilidade do clima e do ciclo hidrológico.

CONDENSAÇÃO
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II III I PRECIPITAÇÃO
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OCe.A.NO

Figura 2.1. Componentes do ciclo hidrológico

2.3 Quantificação geral dos fluxos e reservas de água

A quantificação dos fluxos e reservas de água do ciclo hidrológico


global foi realizada por diversos pesquisadores e os trabalhos recentes não
Ciclo Hidrol6gico e Bacia Hidrográfica 39

apresentam entre si discrepâncias marcantes. Um exemplo destes trabalhos é o


apresentado por Peixoto e Oort (1990) cujos valores são comentados a seguir:
Para as reservas de água os valores apresentados são os seguintes:

3m1015
3 25
1.350
0,2
x mOceanosxx 1015 0,0006
0,0130
8,4 x 1015 m3
terrâneas
gos Atmosfera

Essa quantificação estática não deixa transparecer a importância


relativa de cada reserva na dinâmica do ciclo da água. Por exemplo, a
atmosfera armazena uma quantidade ínfima da água disponível no planeta, mas
dá origem à precipitação que é uma fase fundamental na dinâmica do ciclo
hidrol6gico. Outro exemplo de desproporção entre a importância dinâmica e a
quantidade armazenada é a que se observa nas camadas superiores dos solos,
15 3
normalmente não-saturadas: apenas 0,066 x 10 m (0,08% das águas
subterrâneas) estão presentes nestes locais, em contraposição à sua
importância no ciclo hidrol6gico, no fenômenó da infiltração. No que diz
respeito aos oceanos a quantidade de água armazenada (97%) é tão
significativa quanto o seu papel no ciClo hidrol6gico.
O equilíbrio médio anual, em volume, entre a precipitação e a
evapotranspiração, que são os dois fluxos principais entre a superfície
terrestre e a atmosfera, em nível global apresenta o seguinte valor:

12 3
P = E = 423 x 10 m/ano (2.1)

A evaporação direta dos oceanos para a atmosfera corresponde a 361 x


12 3
10 m, cerca de 85% do total evaporado, sendo os 15% complementares, 62 x
1012m3 , devidos à evapotranspiração dos continentes. No balanço da
precipitação os percentuais diferem um pouco, com a atmosfera devolvendo
aos oceanos 324 x 1012m3 por ano, cerca de 77% do total precipitado, cabendo
aos continentes receberem os restantes 23% ou 99 x 1012m3. A diferença entre
o que é precipitado anualmente nos continentes (99 x 1012m3) e o que é
evapotranspirado pelos continentes (62 x 1012m3) corresponde ao escoamento
40 Hidrologia

para os oceanos (37 x 1012m\ Na figura 2.2 é apresentado um gráfico com os


valores das reservas e fluxos de água:

2.4 Bacia hidrográfica

o ciclo hidrol6gico é normalmente estudado com maior interesse na fase


terrestre, onde o elemento fundamental de análise é a bacia hidrográfica. A
bacia hidrográfíca é uma área de captação natural da água da precipitação que
faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, seu exut6rio. A
bacia hidrográfica compõe-se basicamente de um. conjunto de superfícies
vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem
até resultar um leito único no exut6rio (figura 2.3).

m 0,013. 10" .'

62 f !99.1012m3/ono 3241 1361

oNT INc
GEL.
SUB.
BIO. --
SUP. 0,0006
25
0,2
8,4

37 ocS I:1.350
I
o
N

Figura 2.2. Fluxos e reservas de água globais (peixoto e Oort, 1990)

A precipitação que cai sobre as vertentes infíltra-se totalmente nos


solos até haver saturação superficial destes, momento em que começam a
decrescer as taxas de infiltração e a surgir crescentes escoamentos
superficiais, se a precipitação persistir. O escoamento superficial gerado
nas vertentes, no contexto da bacia hidrográfica, pode ser interpretado como
uma "produção" de água para escoamento rápido e, portanto, as vertentes
seriam vistas como as fontes produtoras. Seguindo com este enfoque, a água
produzida pelas vertentes tem como destino imediato a rede de drenagem, que
se encarrega de transportá-Ia à seção d~ saída da bacia. Na zona de inundação
dos cursos de água (leito maior) há um comportamento ambíguo, ora de
produção, quando os rios estão inicialmente com níveis de água baixos,
funcionando esta zona como vertente, ora de transporte, quando os rios estão
em cheia, com a zona de inundação usada para escoamento.
Ciclo Hídrol6gico e Bacia Hídrográfica 41

A mesma caracterização da vertente como fonte produtora e a rede de


drenagem como transportadora pode ser usada com respeito aos sedimentos. As
vertentes "produzem" os sedimentos por fenômenos de erosão e estes são
tranportados com a água pela rede de drenagem, junto com a carga
significativa de sedimentos produzida nos pr6prios leitos dos rios. Na
realidade, não é possível considerar as vertentes e os rios como entidades
totalmente separadas, uma vez que estão continuamente em interação para
adaptação da bacia hidrográfica' às solicitações da natureza.

Figura 2.3. Bacia hidrográfica do arroio Taboão/RS

Bacia como sistema

A bacia hidrográfica pode ser considerada um sistema físico onde a


entrada é o volume de água precipitado e a saída é o volume de água escoado
pelo exut6rio, considerando-se como perdas intermediárias os volumes
evaporados e transpirados e também os infiltrados profundamente. Em um evento
isolado pode-se desconsiderar estas perdas e analisar a transformação de
chuva em vazão feita pela bacia com a ajuda da figura 2.4, onde são
representados o hidrograma (saída) e o hietograma (entrada).
A figura 2.4 espelha bem o papel hidrol6gíco da bacia hidrográfica que é
o de transformar uma entrada de volume concentrada no tempo (precipitação) em
uma saída de água (escoamento) de forma mais distribuída no tempo. Na mesma
figura é feita uma diferenciação entre um escoamento mais lento e outro mais
42 Hidrologia

rápido, este facilmente identificável pela forte elevação das vazões em curto
espaço de tempo, que, ap6s atingir um pico, decresce também rapidamente, mas
geralmente em tempo maior que o da elevação. A este escoamento rápido
normalmente é atribuído o nome de escoamento superficial, embora esta
designação seja cientificamente inexata, dada as inúmeras oportunidades de
infiltração e afloramentos de água sucessivas nos diferentes caminhos que a
água pode percorrer até fazer parte do escoamento que passà no exut6rio. Em
termos práticos a separação' entre escoamento rápido, ou superficial e
escoamento lento, ou subterrâneo, é conveniente, porque permite quantificar e
analisar separadamente o escoamento geralmente de maior magnitude numa cheia,
o escoamento superficial, que é explicado mais facilmente numa relação de
causa e efeito com a precipitação. Isto é válido em bacias de régime pluvial.
As técnicas de separação de escoamentos em um hidrograma são apresentadas no
capítulo 11. A parcela da chuva total com mesmo volume de escoamento
superficial é denominada de chuva efetiva. A chuva efetiva e o correspondente
escoamento superficial estão representados na figura 2.4 como áreas
hachuradas.

Gênese do hidrograma de saída

Como o hidrograma de saída de uma bacia hidrográfica atinge determinado


formato, tal como o da figura 2.4, é uma questão científica ainda não
resolvida, mas que tem sido tratada por métodos práticos baseados na análise
do hist6rico de eventos (volumes precipitados e escoados) e características
físicas das bacias.

PRECIPITAÇÃO

FLUXOS INFilTRAÇÃO
~ VOLUME ESCOADO
SUPERFICIALMENTE

l~J
Tempo

VAZÃO DE SAíDA DA BACIA

SUPERFICIAL

TEMPO

Figura 2.4. Resposta hidrol6gica da bacia hidrográfica


Ciclo Hidrol6gico e Bacia Hidrográfica 43

Uma maneira consistente de explicar a dispersão do hidrograma no tempo é


considerar o efeito de translação. Analisando-se uma lâmina L precipitada
sobre uma bacia de área A em um pequeno intervalo de tempo, é razoável supor
que a precipitação ocorrida perto do exut6rio gerará um escoamento que
chegará mais cedo a este ponto, enquanto que o escoamento gerado em locais
mais distantes passará mais tarde pelo mesmo exut6rio. Desta maneira, há um
escalonamento de chegada dos volumes à seção de saída, que reproduz, em
parte, o efeito de "espauiamento" das vazões no tempo. Para ilustrar,
considere a situação da figura 2.5 onde a.1 representa uma faixa de área de
onde o volume de água leva um tempo entre t.1 e t.l-I para chegar
. ao exut6rio.
Os tempos t,1 identificam linhas de mesmo período de deslocamento até a saída,

ou, simplesmente, linhas is6cronas. Se o intervalo de tempo entre as


is6cronas é constante, quando as gotas de água que estavam na posição t 1

atingem o exut6rio, as gotas que estavam na posição t 2 atingem a posição t 1,


as que estavam em t 3 chegam a t 2 , e assim por diante.
Em termos de volume, o que passa inicialmente pelo exut6rio na figura
2.5 é La 1 , o que corresponde a uma vazão média de La 1Idt, sendo dt o

intervalo de tempo entre duas is6cronas sucessivas. No dt seguinte o volume


que passa pelo exut6rio é La2, pois no dt anterior este volume avançou uma
faixa. Sucessivamente a situação se repete com os volumes La3 ' La4 eLas
chegando à faixa a 1 e escoando pelo exut6rio.0 hidrograma assim resultante

pode ser visto na figura 2.6, onde claramente se verifica o efeito de


distribuição das vazões no tempo causado pela translação O volume escoado na
figura 2.6 tem o mesmo valor do volume precipitado LA. Portanto é uma
análise que se aplica ao escoamento superficial e à precipitação efetiva que
o causou.
Outro fenômeno que contribui para a conformação do hidrograma de saída
da bacia é o fenômeno hidráulico do armazenamento. Nas condições naturais,
com atrito, quanto maior o volume a escoar na bacia tanto maior é a carga
hidráulica necessária para haver este escoamento, e portanto, tanto maior é o
volume armazenado temporariamente na bacia. Uma analogia pode ser feita com
um vertedor que, para verter maiores vazões, necessita de maiores lâminas de
água sobre a soleira, isto é, necessita de maiores volumes armazenados sobre
a soleira. Numa bacia hidrográfica o efeito de armazenamento é mais
significativo na rede de drenagem, que promove um abatimento na onda de cheia
por armazenamento nos seus canais, fazendo chegar ao exut6rio um hidrograma
mais distribuído no tempo. O abatimento do hidrograma é mais intenso se o
escoamento atinge as zonas de inundação (leitos maiores) dos cursos de água.
44 Hidrologia

o efeito de armazenamento é um fator que impede a existência de is6cronas


estáveis na bacia.

t4

ti

Figura 2.5. Linhas is6cronas

Q
L03/ dt
Los/dt
L04/dt
-dt--

Lo 2 /dt

t,1 t2 t3 t4 ts

Figura 2.6. Hidrograma causado por translação

Tanto a translação como o armazenamento dependem profundamente da


topologia da bacia hidrográfica, isto é, de como estão dispostos no espaço as
vertentes e a rede de drenagem. Entretanto, os métodos clássicos da
hidrologia para cálculo do hidrograma de saída não explicitam os papéis das
vertentes e da rede de drenagem, preferindo tratar a bacia como um sistema
Ciclo Hidrol6gico e Bacia Hidrográfica 45

vertentes e a rede de drenagem. Entretanto, os métodos clássicos da


hidrologia para cálculo do hidrograma de saída não explicitam os papéis das
vertentes e da rede de drenagem, preferindo tratar a bacia como um sistema
que funciona à base da translação e/ou armazenamento. Baseado na translação
existe o método do "histograma tempo-área" de Ross (1921); no armazenamento
tem-se o método de Clark (1945), e, com ambos fenômenos implícitos, o método
do hidrograma unitário de Sherman (1932).
Mais recentemente Rodriguéz-Iturbe e Valdés (1979) desenvolveram uma
metodologia que introduz quantitativamente o efeito da geomorfologia da rede
de drenagem na teoria do hidrograma unitário instantâneo. O hidrograma
unitário instantâneo geomorfol6gico, HUIO, como passou a ser chamado, foi
interpretado como uma função densidade de probabilidade do tempo gasto por
uma gota de chuva até atingir o exutório da bacia, função esta que, por sua
vez, depende da geomorfologia. A geomorfologia é introduzida no HUIO
geralmente através de índices da rede de drenagem como os de Horton (1945) e
Strahler (1957). Índices deste tipo são obtidos da rede de drenagem desenhada
em planta nos mapas topo-hidrográficos. Como o HUIO é fundamentalmente um
operador de translação, normalmente é simulado o efeito de armazenamento nos
canais da rede de drenagem através de reservatórios lineares. Para levar em
conta também o funcionamento das vertentes, já que o HUIO contempla só a rede
de drenagem, é possível agregar à estrutura do HUIO uma função representativa
baseada nos mecanismos físicos de geração de escoamentos nas vertentes (Mesa
e Mifflin,1986).
Outra abordagem sobre a contribuição das vertentes na geração do
hidrograma de saída da bacia é dada por Beven e Kirkby (1979). A partir da
constatação de que diferentes partes da bacia têm normalmente diferentes
capacidades de infiltração e teores de umidade, fazendo com que as vertentes
gerem escoamentos de diferentes magnitudes, os referidos pesquisadores
relacionaram este fato com um índice topográfico de declividade. Este índice
topográfico é correlacionado com a umidade subsuperficial do solo e, quando
é obtido para diversas partes da bacia, conduz a um diagrama que identifica a
porcentagem da área da bacia que está efetivamente gerando escoamento
superficial.
A simulação matemática com modelos que discretizam a bacia de forma
distribuída, isto é, que calculam o escoamento na rede de canais, trecho a
trecho, e o aporte a estes trechos, considerando diversas sub-bacias, é outra
maneira de obter o hidrograma, levando em conta os efeitos de translação e
armazenamento e os papéis das vertentes e dos canais.

Fisiografia da bacia hidrográfica

Consideram-se dados fisiográficos de uma bacia hidrográfica todos


aqueles dados que podem ser extraídos de mapas, fotografias aéreas e imagens
46 Hídro1ogia

de satélite. Basicamente são áreas, -comprimentos, declividades e coberturas


do solo medidos diretamente ou expressos por índices. A seguir são comentadas
algumas destas medidas e índices mais utilizados.
Área da bacia - representada normalmente por A, a área é um dado fundamental
para definir a potencialidade hídrica da bacia hidrográfica, porque seu valor
multiplicado pela lâmina da chuva precipitada define o volume de água
recebido pela bacia. Por isso considera-se como a área da bacia hidrográfica
a sua área projetada verticalmente. Uma vez defmidos os contornos da bacia,
a sua área pode ser obtida por planimetragem direta de mapas que já
incorporam a projeção vertical. Também é possível determinar a área de uma
bacia por cálculos matemáticos de mapas arquivados eletronicamente através do
SIG (Sistemas de Informação Geográfica).

Índices de drenagem - à rede de drenagem podem ser atribuídos diveI:sos


índices. O mais simples trata apenas da medição em planta do comprimento L do
curso de água principal. Outros procuram representar a totalidade da rede de
drenagem como os resultantes do trabalho de Horton (1945) que demonstrou a
validade das seguintes relações empíricas, que tendem a ser constantes em uma
bacia:
N
Rb = ~ relação de bifurcação (2.2)
u +1

L
RL = ~ relação dos comprimentos (2.3)
u -I

sendo N u o número total de cursos de água da rede de drenagem com ordem u, e


Lu ,a média dos seus comprimentos em planta. Os subíndices u+ 1 e u-1

representam, respectivamente, uma ordem imediatamente superior e uma ordem


imediatamente inferior a u. O ordenamento é feito com números inteiros,
começando com 1. Schumm (1956) propôs uma lei análoga às de Horton para
relacionar áreas de contribuição correspondentes às ordens sucessivas dos
canais:
A

RA = ~ relação de áreas (2.4)


u -I

onde A é a média das áreas contribuintes dos canais de ordem u e A ,dos


u u-I
canais de ordem u-1.
Como critérios de ordenamento dos canais da rede de drenagem de uma
Ciclo Hídrol6gico e Bacia Hídrográfica 47

bacia hidrográfica, destacam-se os de Horton (1945) e Strahler (1957). No


sistema de Horton os canais de primeira ordem são aqueles que não possuem
tributários; os canais de segunda ordem têm apenas afluentes de primeira
orderri; os canais de terceira ordem recebem afluência de canais de segunda
ordem, podendo também receber diretamente canais de primeira ordem;
sucessivamente, um canal de ordem u pode ter tributários de ordem u-I até 1.
Isto implica atribuir a maior ordem ao rio priI}cipal, valendo esta designação
em todo o seu comprimento, desde o exut6rio da bacia até sua nascente. No
sistema de Strahler é evitada a subjetividade de classificação das nascentes.
Para Strahler, todos os canais sem tributários' são d'e primeira ordem, mesmo
que sejam nascentes dos rios principais ~ afluentes; os canais de segunda
ordem são os que se originam da confluência de ,d~is canais de primeira ordem,
podendo ter afluentes também de primeira ordem; Os ,canais de terceira ordem
originam-se da confluência de dois canais de segunda ordem, podendo receber
afluentes de segunda e primeira ordéns; sucessivamente, um canal de ordem u é
formado pela união de dois canais de ordem u-I, podendo receber afluência de
canais com qualquer ordem inferior. Portanto, no sistema de Strahler, o rio
principal e afluentes não mantêm o número de ordem na totalidade de suas
extensões, como acontece no sistema de Hofton que tem problemas práticos de
'. numeração. Na figura 2.7 estão presentes exemplos de ordenação dos canais de
úma rede de drenagem pelos dois sistemas apresentados.
Outros índices referentes à rede de drenagem, usados em regionalização
de vazões, são os que medem a densidade de drenagem de uma bacia. A densidade
de drenagem é definida como DD = LIA, onde L é o somat6rio dos comprimentos
de todos os canais da rede e A é a área da bacia. Uma forma mais simples de
representar a densidade de drenagem é calcular a densidade de confluências DC
= NC/A, onde NC é o número de confluências ou bifurcações apresentadas pela
rede de drenagem.
É importante salientar que qualquer índice ou medida de fisiografia
referente à rede de drenagem é profundamente dependente da escala do mapa
utilizado. Portanto, uma precisa identificação do mapa fonte e da sua escala
é um dado que deve acompanhar os índices de drenagem.

Índices de declividade - podem ser determinadas declividades referentes aos


cursos de água da rede de drenagem e às vertentes. Para os cursos de água
desenha-se o perfil longitudinal para detectar trechos com declividades
diferentes. No caso de ter-se que atribuir uma única declividade para todo o
curso de água deve-se desprezar os trechos extremos se estes apresentarem
declividades discrepantemente altas (cabeceiras) ou muito baixas (perto da
seção de saída). Para levar em conta todo o perfil pode-se usar o conceito de
declividade equivalente constante, isto é, aquela declividade constante cujo
tempo de translação, para o mesmo comprimento do curso de água em planta,
seria igual ao do perfil acidentado natural. Partindo da fórmula de Chezy que
48 Hidrologia

aponta o tempo como uma função do inverso da raÍz quadrada da declividade,


pode-se chc.;;ar a seguinte expressão para o cálculo da declividade equivalente
constante:

L
(2.5)

!, = [ L J
I.
J
rl/2 ]2

onde L é o comprimento total, em planta, do curso de água, e Ij e lj são o


comprimento e declividade de cada subtrecho, com j= 1, 2, .., n, sendo n
número de subtrechos considerado no cálculo. Uma forma indireta utilizada
para quantificar a declividade do curso de água principal da bacia é
apresentar separadamente as medidas do comprimento L e do desnível máximo H.

Figura 2.7. Sistemas de ordenamento dos canais

A declividade média das vertentes pode ser calculada para uma bacia
hidrográfica pela seguinte relação:

fi Ali
L - ai
i=l Wj
S=---nA (2.6)
49 Hidrologia

onde 4\1 é a diferença de altitude padrão entre duas curvas de nível;


Wj= largura entre duas curvas de nível; aj= a área entre as curvas de nível;
A= área total da bacia; n= número de intervalos de curva de nível.
A declividade das vertentes foi utilizada por Beven e Kirkby (1979) para
estabelecer um índice em diversos pontos da bacia, cujo mapeamento, segundo
comprovaram estes pesquisadores, se assemelha muito ao mapeamento da
tendência de maior ou menor saturação superficial nas diversas partes da
bacia. O diagrama resultante do mapeamento espacial na bacia desse índice de
referência foi utilizado por Beven e Kirkby para estimar a porcentagem da
área total da bacia que está saturada superficialmente num determinado
momento e, portanto, gera escoamento superficial. O índice de Beven e Kirkby,
calculado para cada vertente ou microbacia interna à bacia de interesse, é
dado por ln (a/tan P), onde a é a área por unidade de largura da vertente e
P o ângulo de inclinação da vertente. Classificando-se as vertentes segundo
diferentes faixas de valor, pode-se obter um mapa temático da bacia com
diversas regiões cada qual identificada por uma faixa 'de variação para
ln(a/tan P). Planimetrando-se as áreas abrangidas para cada uma destas faixas
pode-se construir um diagrama que relaciona a porcentagem da área da bacia
que tem um valor maior que determinado valor de ln (a/tan P). Uma vez
identificado o estado físico de saturação superficial da bacia bus,ca-se o
correspondente valor de ln (a/tan P), segundo modelo de escoamento de Beven e
Kirkby (1979), não descrito aqui, para determinar a área efetiva de
contribuição superficial. Na figura 2.8 é apresentado o diagrama do índice em
questão feita pelos autores para uma bacia da Inglaterra.

1,0

0,8

0,6
Ac
A 0,4

0,2

0,0
o 2 4 6 8 10 12 14 16
O

2n (ton ~ )
Figura 2.8. Índice de Beven e Kirkby (1979)

Modelo numérico de terreno - atualmente é possível arquivar eletronicamente a


Apresentação 50

superfície de uma bacia hidrográfica e, a partir das informações gravadas,


estudar sua fisiografia. Um arquivo digital representativo da variação real
contínua do relevo de um terreno costuma ser chamado de Modelo Numérico de
Terreno ou, simplesmente, MNT. O MNT mais simples constitui-se de uma grade
digital de células quadradas onde em cada nó é conhecida a altitude. A
obtenção de MNT pode ser feita diretamente por medições sobre pares
estereoscópicos de fotografias áereas ou por interpolações de levantamentos
topográficos. Pode-se obter o MNT a partir de imagens de satélite com limite
de resolução. Para qualquer a fonte, a representatividade de um MNT de uma
bacia está diretamente ligada à resolução espacial. Normalmente, quanto menor
a resolução mais representativo é o MNT, mas melhores equipamentos, softwares
informáticos e informações são exigidos. Como exemplo apresenta~se, na figura
2.9, um MNT da bacia do arroio Taboão/RS (105 Km2) feito por Risso e
Chevallier (1991), com resolução de 100 x 100m.

'"

Figura 2.9. MNT da bacia do Arroio Taboão (Risso e Chevallier, 1991)

REFERÊNCIAS

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area model of basin hydrology. Hydrological Sciences Bulletin, Oxford,
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