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SOLUÇÕES DE TRATAMENTO DE TERRENOS ATRAVÉS DE

COLUNAS DE JET GROUTING

Pinto A.1; Falcão J. 2; Pinto F. 3; Barata C. 4; Ferreira S. 5; Pacheco J. 6; Durão J. 7

Resumo

O presente trabalho tem como objectivo principal divulgar a versatilidade que dispõem as soluções de jet grouting
vertical, permitindo a sua adopção com sucesso em campos de aplicação cada vez mais vastos. Destacam-se, em
particular, casos práticos de algumas obras em que os condicionamentos existentes aconselharam o recurso a soluções de
jet grouting vertical como técnica de tratamento dos terrenos de fundação. Nos casos apresentados, são destacados os
seguintes tópicos: cenário, incluindo condições geológicas e outros condicionamentos, e critérios de concepção e de
execução, em particular a descrição da solução e a análise comparativa com soluções tradicionais.

Abstract

The aim of this paper is to spread the versatility of the vertical jet grouting solutions, allowing its successfully
application in a wide number of scenarios. Some case histories where the existent restraints advised the adoption of
vertical jet grouting solutions as ground improvement techniques on foundations scenarios are presented. On each case the
following topics are pointed out: main scenario, including geological conditions and other restraints, and main design and
construction criteria, being emphasised the description of the adopted solutions as well as a comparative analysis with
traditional solutions.

Palavras – Chave

Jet grouting, Tratamento, Fundação

INTRODUÇÃO

A versatilidade das soluções recorrendo a corpos de jet grouting tem permitido a sua adopção em campos de
aplicação e cenários geotécnicos cada vez mais vastos, tornando-se uma solução competitiva face a algumas das soluções
tradicionais. Comprovando esta tendência e na sequência de trabalhos anteriores [1, 2, 3 e 4], no presente trabalho são
apresentados alguns casos práticos de soluções de tratamento de terrenos de fundação onde foram executadas colunas de
jet grouting vertical. Por último, é efectuada uma referência particular à importância da calibração prévia dos parâmetros
de execução, quando justificável, através de ensaios de carga à escala real, assim como ao controlo de execução de corpos
de jet grouting, um dos aspectos que nos últimos anos tem revelado maior desenvolvimento e que se afigura como
determinante para a consagração definitiva da técnica.

CASO PRÁTICO A - TRATAMENTO DAS FUNDAÇÕES DA PONTE DE SANTA LÚZIA

Cenário

A intervenção descrita refere-se às fundações da ponte de Sta. Luzia, localizada na ilha da Madeira, a qual dispõe
de dois tabuleiros geminados, com estrutura em betão armado pré-esforçado e com a seguinte repartição de vãos:
17+3x27+17m. Cada um dos 2 pilares centrais de cada tabuleiro transmite à fundação uma carga axial de serviço máxima,
devida à carga permanente e à sobrecarga rodoviária, estimada em cerca de 15 000kN (fig. 1 e 2).
A ponte encontra-se fundada nas formações aluvionares da ribeira de Sta. Luzia, com uma possança variável entre
12 a 24m, as quais recobrem o substrato rochoso de origem basáltica. As formações aluvionares envolvem blocos de
rocha basáltica de grandes dimensões e apresentam, superficialmente, matriz areno-siltosa, encontrando-se, a partir de

1
Tecnasol FGE, Fundações e Geotecnia; R. Fontaínhas, nº58, 2700-391 Amadora, Portugal; apinto@tecnasol-fge.pt
2
Tecnasol FGE, Fundações e Geotecnia; R. Fontaínhas, nº58, 2700-391 Amadora, Portugal; jfalcao@tecnasol-fge.pt
3
Tecnasol FGE, Fundações e Geotecnia; R. Fontaínhas, nº58, 2700-391 Amadora, Portugal; fpinto@tecnasol-fge.pt
4
Tecnasol FGE, Fundações e Geotecnia; R. Fontaínhas, nº58, 2700-391 Amadora, Portugal; jbarata@tecnasol-fge.pt
5
Tecnasol FGE, Fundações e Geotecnia; R. Fontaínhas, nº58, 2700-391 Amadora, Portugal; sferreira@tecnasol-fge.pt
6
Tecnasol FGE, Fundações e Geotecnia; R. Fontaínhas, nº58, 2700-391 Amadora, Portugal; jpacheco@tecnasol-fge.pt
7
Tecnasol FGE, Fundações e Geotecnia; R. Fontaínhas, nº58, 2700-391 Amadora, Portugal; jdurao@tecnasol-fge.pt
uma profundidade média de 6m, consolidadas e com matriz areno-argilosa compacta. As condições geológicas e
geotécnicas determinaram inicialmente o estudo de uma solução de fundações indirectas através de estacas moldadas no
terreno ∅1000mm, apoiadas no maciço rochoso, cuja execução se veio a tornar condicionada devido à dificuldade em
atravessar os blocos de rocha basáltica de grande dimensão que preenchiam as formações aluvionares (fig 1).

Caso Prático A - Cenário Solução: Corte e Planta


XII COBRAMSEG ICLBG III SBMR

N=15.000 kN

Formações aluvionares de
matriz areno-siltosa

Blocos de rocha basáltica 1 1

9m
-6m

Formações aluvionares 5x5m


consolidadas de matriz
areno-argilosa compacta
Corte 1-1 Planta

Figura 1. Cenário e secção tipo da solução.

Principais Critérios de Concepção e Execução

O tratamento das fundações de cada um dos pilares centrais foi efectuado através da execução de 37 colunas de jet
grouting ∅500mm, com comprimento médio de 9m (fig. 1). Cada coluna acomodou uma carga axial de serviço de 400kN,
correspondente a uma tensão de compressão máxima de cerca de 2,2MPa. A carga de cada coluna foi transmitida ao
terreno predominantemente por atrito lateral, através de uma tensão tangencial média, mobilizada em condições de
serviço, de cerca de 40kPa. Foram executados 1332m de colunas de jet grouting tipo 1, correspondendo a 148 unidades,
tendo o consumo médio de cimento sido de cerca de 400kg/m.

Ponte de Santa Lúzia após conclusão dos trabalhos Ensaio de carga - Estrutura de reacção
XII COBRAMSEG ICLBG III SBMR

Figura 2. Vista da Ponte e da estrutura de reacção do ensaio de carga.

Ensaio de Carga

Com vista à confirmação dos critérios gerais de concepção, em particular dos parâmetros de cálculo, foi efectuado
um ensaio de carga de compressão em colunas teste à escala real. O ensaio consistiu na aplicação de cinco ciclos de carga
e descarga, tendo a carga máxima atingido o valor de 1200kN, cerca de três vezes o da carga máxima de serviço. Os
resultados do ensaio permitiram validar os principais parâmetros de cálculo: Es≅8GPa e σcomp≅4MPa, τmáx≅90kPa,
confirmar o comportamento praticamente elástico da coluna em condições de serviço, assim como a mobilização
predominante de atrito lateral (fig. 2 e 3).
Caso Prático A - Ensaio de Carga
XII COBRAMSEG ICLBG III SBMR

Tensão tangencial de atrito coluna - solo (situação de carga)

Ponte de Sta. Luzia - Ensaio de carga


F coroamento F coroamento [kN]
Coroamento da coluna: carga - deslocamento vertical
0 300 600 900 1200

0,0
δtotal

)
Pa
0 200 400 600 800 1000 1200 Carga [kN]

a)
Deslocamento vertical [mm]

k
0

kP
a)

30
kP

45
5 a)

(τ =
Prof. [m]
1º ciclo
=7

=
-0,5 kP


86

iclo
2º ciclo lo

o
=

Ffuste
cic

cl
-1,0 lo

ci
4º c ic

c
3º ciclo



-1,5

1º,
4º ciclo
5º ciclo

6,0
-2,0

-2,5 0 300 600 900 1200


δcol F base = F coroamento - F fuste Fbase [kN]

Figura 3. Principais resultados do ensaio de carga, admitindo toda a carga transmitida ao terreno por atrito lateral.

CASO PRÁTICO B - RECALÇAMENTO DA E.T.A.R. DA UNICER EM LEÇA DO BAILIO

Cenário

No presente caso é descrita a intervenção efectuada em dois orgãos da Estação de Tratamento de Águas Residuais
de Leça do Bailio, correspondentes ao depósito de homogeneização e ao digestor e depósito de lamas, os quais dispõem
de uma capacidade para armazenamento de, respectivamente, cerca de 2850m3 e 2600m3. Ambos os orgãos dispõem de
estrutura em betão armado O depósito de homogeneização é coberto e a respectiva altura útil perfaz cerca de 4,8m. Todos
os orgãos citados encontravam-se fundados através de uma laje de ensoleiramento geral, constituída por painéis
estruturalmente independentes, com 0,50m de espessura. A intervenção foi motivada pelo facto dos orgãos em causa
apresentarem uma patologia correspondente a insuficiente capacidade de carga do terreno de fundação, traduzida por um
assentamento uniforme de cerca de 20cm (fig. 4). A intervenção no depósito de homogeneização foi efectuada no interior
do mesmo, numa zona de altura útil reduzida, determinado a demolição localizada da laje de cobertura para garantir o
acesso do equipamento ao interior deste orgão. Igualmente importante foi a necessidade de criar condições para o
saneamento do refluxo do interior dos orgãos (fig. 5). O facto dos painéis da laje de ensoleiramento serem estruturalmente
independentes condicionou igualmente a disposição das colunas.
O terreno de fundação era constituído por materiais arenosos e argilosos lodosos, pertencentes ao complexo
aluvionar do rio Leça, nos quais foram fundados os orgãos referidos. A uma profundidade de cerca de 8m aflorava o
substrato rochoso, de origem granítica. O nível freático situava-se a uma profundidade de cerca de 2m.

Caso Prático B - Cenário Solução: Secção Tipo


XII COBRAMSEG ICLBG III SBMR

Assent. Unif. Orgãos da E.T.A.R.


Orgãos da E.T.A.R.
= 20cm

-2m -2m
N.F. N.F.

Colunas
Complexo aluvionar do rio Leça: de jet
materiais arenosos e argilosos lodosos grouting

-8m -8m

Substrato rochoso de origem granítica

Figura 4. Cenário e secção tipo da solução.


Principais Critérios de Concepção e Execução

O tratamento das fundações dos orgãos foi efectuado através da execução de colunas de jet grouting ∅600mm,
apoiadas no maciço granítico. De forma a incrementar a eficiência da ligação das colunas à laje de ensoleiramento, as
primeiras foram armadas no seu coroamento com tubos metálicos, devidamente amarrados à laje (fig. 4). Cada coluna
acomodava uma carga axial de serviço máxima de cerca de 600kN, correspondente a uma tensão de compressão de
2,1MPa. Foram executados 1500m de colunas de jet grouting tipo 1, correspondentes a 230 unidades, tendo o consumo
médio de cimento sido de cerca de 265kg/m. No que se refere ao refluxo, este foi saneado por bombagem para um tanque
auxiliar (fig. 5). Durante e após a execução da obra o comportamento da nova fundação foi aferido através de controlo
topográfico.

Caso Prático B - Saneamento do refluxo Ensaio de carga - Estrutura de reacção


XII COBRAMSEG ICLBG III SBMR

Figura 5. Vista do saneamento do refluxo e da estrutura de reacção do ensaio de carga.

Ensaio de Carga

Com vista à confirmação dos critérios gerais de concepção, em particular dos parâmetros de cálculo, foi efectuado
um ensaio de carga à compressão em colunas teste à escala real. O ensaio consistiu na aplicação de três ciclos de carga e
descarga, tendo a carga máxima atingido o valor de 1200kN, cerca de duas vezes o da carga máxima de serviço. De forma
a permitir a verificação da carga transmitida ao terreno através da base da coluna, foi instalado na referida base um
extensómetro de vara. Os resultados do ensaio permitiram validar os principais parâmetros de cálculo: Es≅5GPa e
σcomp≅4MPa, e confirmar o comportamento praticamente elástico da coluna ensaiada em condições de serviço, assim
como o funcionamento predominantemente por ponta, principalmente após o primeiro ciclo, o qual terá funcionado como
um pré-carregamento (fig. 5 e 6). De acordo com a prática corrente neste tipo de tecnologia, o ensaio de carga foi
complementado pela realização, antes do início dos trabalhos, de colunas teste, as quais permitiram a observação da
geometria das colunas e a recolha de amostras para ensaios laboratoriais. Estes últimos, possibilitaram, por sua vez, a
caracterização da tensão de rotura à compressão e do módulo de deformabilidade do material.

Caso Prático B - Ensaio de Carga


XII COBRAMSEG ICLBG III SBMR

Tensão tangencial de atrito coluna - solo (situação de carga)

E.T.A.R. em Leça do Bailio - Ensaio de carga F coroamento F coroamento [kN]


Coroamento da coluna: carga - deslocamento vertical
0 200 400 600 800
0,0

0 200 400 600 800 1000 1200 Carga [kN]


δ total
Deslocamento vertical [mm]

0
)
Pa
a)

-5
5k
kP

Prof. [m]
a)
=2

)
16

1º ciclo
)

Pa

kP
kPa
F fuste

-10

=

2k

20

2º ciclo

lo
=5

=2
cic
lo

-15
cic

3º ciclo

lo (τ

lo
lo

c ic
cic

-20
ic

8,5

2º c

-25
0 200 400 600 800
δcol F base = F coroamento - F fuste Fbase [kN]

Figura 6. Principais resultados do ensaio de carga.


CASO PRÁTICO C - TRATAMENTO DAS FUNDAÇÕES DE EDIFÍCIOS EM VILA FRANCA DE XIRA

Cenário

A intervenção descrita foi motivada pela opção de realização de tratamento de fundações por colunas de jet
grouting, como forma de transmissão ao terreno dos carregamentos provenientes das estruturas do empreendimento,
denominado de “Novas Instalações do Entreposto Máquinas”, localizado em Castanheira do Ribatejo, na margem Norte
do rio Tejo, junto a Vila Franca de Xira. O empreendimento é constituído por três edifícios, com estrutura metálica
(armazém de vendas e oficinas) e em betão armado (edifício de escritórios), ocupando uma área total, em planta, de cerca
de 5445m2 (fig. 7 e 8).

Caso Prático C - Cenário Solução: Secção Tipo


XII COBRAMSEG ICLBG III SBMR

Edifício Oficinas e
0,0
Escritórios Armazém 0,0
-3,0 -3,0
NF Depósitos de aterro (2<NSPT <25) NF
-6,0 -6,0
Depósitos aluvionares (areias : 3<NSPT <13)

Troço em que a coluna


Depósitos aluvionares (areias lodosas e argilas: 0<NSPT <6) desempenha funções de
tratamento do terreno e
-16,0 -16,0
de protecção do tubo

Depósitos aluvionares (siltes argilosos e argilas siltosas: Tubos de microestaca


NSPT =20) (resistência à tracção /
ligação ao maciço) -26,0
-30,0 -30,0

Substrato Plio - Plistocénico (areias: NSPT >60)

Figura 7. Cenário e secção tipo da solução.

Do ponto de vista geológico e geotécnico, os terrenos sobre os quais se localiza o empreendimento faziam parte da
bacia aluvionar do rio Tejo, sendo constituídos por uma camada superficial de aterros areno-siltosos, com cerca de 3m de
espessura, recobrindo depósitos aluvionares com cerca de 27m de possança, constituídos, em profundidade, por camadas
arenosas, arenosas lodosas e silto-argilosas. Sob os depósitos aluvionares, a cerca de 30m de profundidade, localizava-se
o substrato Plio-Plistocénico, representado por areias de calibre variável, sendo os valores de NSPT obtidos superiores a 60
pancadas. A cota máxima do nível freático foi detectada a cerca de 3,0m de profundidade, na transição dos aterros para os
depósitos aluvionares (fig. 7).

Caso Prático C Planta Geral Esquemática


XII COBRAMSEG ICLBG III SBMR

Plantas
Carregado
Auto Estrada A1

Execução de colunas Armazém de


Rio Tejo

Vendas Oficinas
N
V.F.Xira

Edif. Escritórios

Edifício de Escritórios - Solução


Tubos de
ligação
aos
maciços

Figura 8. Vista da execução das colunas e planta esquemática de localização.

Principais Critérios de Concepção e Execução

Atendendo aos condicionamentos geológicos e geotécnicos existentes, associados à intensidade e ao tipo de cargas
a transmitir ao terreno, a solução adoptada consistiu na execução de colunas de jet grouting tipo 2, ∅800 e ∅1200mm
(fig. 7 e 8). De forma a garantir o seu funcionamento conjunto, as colunas foram solidarizadas no seu coroamento por
maciços e vigas de fundação em betão armado. Admitiu-se que as colunas acomodariam apenas esforços axiais, sendo os
esforços de flexão resistidos por efeito de binário ou por vigas de fundação. Os esforços de corte eram, em geral
desprezáveis. De forma a garantir uma maior eficiência na ligação aos maciços de encabeçamento, as colunas foram
armadas no seu coroamento com tubos metálicos, tipo TM80 (aço com tensão de cedência de 560 MPa). No caso das
colunas sujeitas a esforços axiais de tracção, resultantes da transformação, por efeito de binário, dos esforços de flexão
provocados por acções horizontais, o comprimento dos tubos coincidiu com o das colunas. Esta última situação ocorreu
nas fundações dos elementos estruturais de maior rigidez do edifício de escritórios, o qual, como já referido, dispõe de
estrutura em betão armado.
A solução adoptada para o tratamento dos terrenos e para a fundação constitui uma variante à solução tradicional
de estacas moldadas, encastradas no substrato Plio – Plistocénico, com vantagens económicas e de prazo. Poderá ser
considerada como vantagem técnica, relativamente à solução tradicional, uma maior vocação para acomodar cargas axiais
de tracção. Foram executadas 355m de colunas ∅800mm e 1386m de colunas ∅1200mm, todas em jet grouting tipo 2,
tendo o consumo médio de cimento sido de, respectivamente, cerca de 310 e 680 kg/m.

Ensaio de Carga

De forma a confirmar os critérios gerais de concepção, em particular os parâmetros de cálculo, das colunas
submetidas a esforços de tracção, armadas com tubos metálicos, foi realizado um ensaio de carga de tracção em colunas
teste à escala real. O ensaio consistiu na aplicação de quatro ciclos de carga a uma coluna com ∅1200mm, tendo a carga
máxima de tracção atingido o valor de 1200kN, cerca de duas vezes o da carga máxima de serviço. A carga foi aplicada
através de um macaco de pré-esforço e de cordões de aço, idênticos aos adoptados no tensionamento de ancoragens,
selados dentro do tubo metálico, colocado, por sua vez, no interior da coluna ensaiada. De forma a permitir a análise e
zonamento do valor da tensão tangencial de atrito (τ) em função da geologia, foram colocados extensómetros a várias
profundidades, coincidentes com o zonamento geológico (fig. 9).

Caso Prático C - Ensaio de Carga

Estrutura de Coroamento da coluna: carga - deslocamento vertical


reacção
Deslocamento vertical [mm]

25

20 1º ciclo
2º ciclo
15
3º ciclo
10 4º ciclo

5
Carga [kN]
0
0
200 400 600 800 1000 1200

Macaco Extensómetros Tensão tangencial de atrito coluna - solo (situação de carga)

F
300 600 900 1200 Carga - F [kN]
0,0
qs max = 22kPa NF
-3,0
qs max = 20kPa
-6,0

qs max = 5kPa
-11,0

1º ciclo qs max = 10kPa


-16,0
Profundidade [m]

2º ciclo
4º ciclo
qs max = 11kPa
-21,0

Defléctometro -26,0 qs max = 12kPa

Figura 9. Ensaio de carga.

A análise dos resultados permitiu validar os critérios de concepção, em particular o zonamento dos valores de τ, assim
como o comportamento quase elástico da coluna em condições de serviço. Constatou-se ainda que ao nível das camadas
inferiores, argilas margosas e arenitos argilosos, não terá sido mobilizada toda a sua capacidade resistente (fig. 9).
CASO PRÁTICO D - TRATAMENTO DAS FUNDAÇÕES DO EDIFÍCIO DA CAPITANIA DE AVEIRO

Cenário

O presente caso relata a intervenção num edifício de grande valor patrimonial para a cidade de Aveiro, o qual
dispõe de estrutura em alvenaria de pedra, fundada através de lintéis de fundação, com uma área em planta de cerca de
30x15m2 e dois pisos elevados. O edifício foi alvo de uma intervenção de reabilitação e recuperação que teve como
objectivo a construção de uma nova estrutura em betão armado, preservando as fachadas principais e aproveitando uma
laje de fundação em betão armado, fundada em microestacas, onde apoiavam as estruturas de contraventamento das
fachadas, montadas a quando da demolição do interior do edifício. A intervenção realizada foi assim motivada pela
necessidade de proceder ao tratamento das fundações da nova estrutura em betão armado. O terreno de fundação era
constituído à superfície por aterros e lodos siltosos, com cerca de 24m de possança máxima, recobrindo uma camada de
argilas margosas, com aproximadamente 5m de espessura, sob a qual se localizavam, a 28m de profundidade máxima, as
formações Cretácicas, constituídas arenitos argilosos, muito compactos. Devido à localização do edifício, em plena ria de
Aveiro, o nível freático situava-se praticamente à superfície. No que se refere aos restantes condicionamentos, destaca-se
o facto de grande parte da intervenção ter sido efectuada no interior do edifício, entre os contraventamentos das fachadas
a preservar, assim como a necessidade de garantir o saneamento do refluxo (fig. 10 e 11).

Caso Prático D - Planta esquemática da solução Secção Tipo: Situação em que o Novo pilar
XII COBRAMSEG ICLBG III SBMR

terreno não está em contacto com 0,0


Nova estrutura
Edifício vizinho a laje
N.A. (-1,0)
Laje existente
Aterro
Tubo PEAD -5,0

-6,0
Laje existente Tubo metálico
Lodo siltoso
(NSPT 0 a 3
pancadas)
Coluna jet grouting -20,0/-24,0

Argilas margosas min 3,0


(NSPT 13 a 45
-26,0/-28,0
pancadas)
Novas vigas Ria de Aveiro Colunas jet Arenitos argilosos min 1,0
e maciços grouting (NSPT 60 pancadas)

Figura 10. Planta esquemática e secção tipo da solução.

Principais Critérios de Concepção e Execução

Atendendo aos condicionamentos existentes, associados à intensidade e ao tipo de cargas a transmitir ao terreno, a
solução adoptada consistiu na execução de colunas de jet grouting tipo 1, ∅1000mm, com entrega mínima de 1m nas
formações Cretácicas competentes. De forma a garantir o seu funcionamento conjunto, as colunas foram solidarizadas no
seu coroamento à laje existente e aos maciços e vigas de fundação em betão armado. Admitiu-se que as colunas
acomodariam apenas esforços axiais, sendo os esforços de flexão e de corte resistidos pela laje e pelas vigas de fundação.

Caso Prático D - Vista do edifício antes da intervenção Trabalhos no interior do edifício


XII COBRAMSEG ICLBG III SBMR

Carotagem da laje Execução de colunas

Figura 11. Vista do edifício e da intervenção no seu interior.


De forma a garantir uma maior eficiência na ligação aos maciços de encabeçamento, as colunas foram armadas no
seu coroamento com tubos metálicos, tipo TM80 (aço com tensão de cedência de 560 MPa). Os tubos metálicos
colocados no interior das colunas localizadas nas zonas que confrontavam para a ria e em que a laje de fundação, por não
estar em contacto com o terreno, não permitia a realização das colunas até á face inferior da mesma laje, foram revestidos
com um tubo de polietileno de alta densidade (PEAD) de protecção anti-corrosão no troço desconfinado (fig. 10 e 11).
A solução adoptada para o tratamento dos terrenos e para a fundação constitui uma variante à solução tradicional
de microestacas, seladas nas formações Cretácicas competentes, com vantagens económicas e de prazo. Poderá ser
considerada como vantagem técnica, relativamente à solução tradicional, uma maior rigidez e consequentemente um
melhor comportamento em termos de resistência à encurvadura conferida pelas colunas de jet grouting. Foram executadas
1130m de colunas ∅1000mm, tendo o consumo médio de cimento sido de cerca de 390 kg/m.

CALIBRAÇÃO E CONTROLO DE EXECUÇÃO

Nos casos práticos descritos a calibração dos parâmetros de execução das colunas de jet grouting foi efectuada
através da realização prévia de ensaios de carga à escala real e de colunas teste, as quais, após escavação do terreno
envolvente, permitiram a observação para confirmação da respectiva geometria, assim como para a recolha de amostras
com vista à execução de ensaios laboratoriais. Estes últimos ensaios possibilitaram a caracterização das propriedades
mecânicas do material, em particular o valor das tensões de rotura e do módulo de deformabilidade. Refere-se ainda que
na generalidade das obras apresentadas, durante a fase de execução das colunas definitivas procedeu-se ao registo
contínuo dos referidos parâmetros através de hardware e software, instalado para o efeito, assim como através do controlo
permanente da continuidade e das características do refluxo.
O controlo de execução dos corpos de jet grouting, em particular a respectiva geometria, constitui presentemente
um desafio para continuar a assegurar a credibilização da técnica. Neste âmbito, para além da realização de ensaios de
carga e de corpos teste para calibração de parâmetros, assim como o registo permanente dos mesmos durante a fase de
execução, destacam-se ainda os métodos geofísicos e o método do hidrofone, actualmente em desenvolvimento [1].

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os casos práticos apresentados comprovam, para os respectivos cenários geotécnicos, as potencialidades e


versatilidade das soluções de tratamento de terrenos de fundação com recurso a colunas de jet grouting, comparativamente
com algumas das soluções tradicionais. Contudo, no contexto descrito, considera-se importante destacar que a opção, ao
nível da concepção, por soluções com recurso a corpos de jet grouting só deverá ser tomada após uma interpretação
rigorosa e cuidadosa dos cenários geológico e geotécnico e estrutural, associados a cada caso, em particular quando as
cargas a transmitir ao terreno não correspondem apenas a cargas do tipo axial. Por último, volta-se a fazer uma especial
referência à importância da realização de ensaios de carga à escala natural como ferramenta de validação de pressupostos
de concepção e de execução, contribuindo, conjuntamente com os procedimentos de controlo e verificação na fase de
execução, para a validação e consagração definitiva deste tipo de soluções.

AGRADECIMENTOS

Os autores da presente comunicação agradecem aos donos das obras, cujos casos são citados, a autorização
concedida para a respectiva apresentação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] PINTO, A.; FALCÃO, J.; BARATA, C.; FERREIRA, S.; PACHECO, J.; CEBOLA, D. - "Soluções de jet grouting
vertical: versatilidade e diversidade de campos de aplicação" - 8º Congresso Nacional de Geotecnia, Abril 2002,
L.N.E.C. - Lisboa, pp. 1609-1618 - Vol. 3, Tema 6.

[2] PINTO, A.; FERREIRA, S.; BARROS, V. – “Underpinning solutions of historical constructions” - III Seminário
Internacional “Possibilidades das técnicas numéricas e experimentais”, Novembro 2001, Universidade do Minho –
Guimarães, Consolidation and Strengthening Techniques, pp. 1003 - 1012.

[3] FALCÃO, J.; PINTO, A.; PINTO, F. - "Case histories of Ground Improvement Solutions using Jet-Grouting" –
GeoEng2000 – An International Conference on Geotechnical & Geological Engineering, Novembro 2000,
Melbourne - Austrália, pp. 349, Vol. 2: Extended Abstracts.

[4] FALCÃO, J.; PINTO, A.; PINTO, F. - "Case histories and work performance of vertical jet grouting solutions" – 4th
International Conference on Ground Improvement Geosystems, Junho 2000, Helsinquia, pp. 165 – 171.

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