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Fundações – ENG01142 -1-

FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS EM ROCHAS

O método usual de determinação de capacidade de suporte utiliza tabelas que


relacionam valores aceitáveis com os tipos de rocha. No entanto, para situações onde as
condições da rocha não se enquadram nas descrições das tabelas, é mais apropriado
utilizar equilíbrio limite ou métodos numéricos incorporando parâmetros de resistência
apropriados da massa de rocha. O método a ser utilizado dependerá de alguns fatores
como: tolerância de deslocamentos, e a complexidade das condições geológicas do
local. Então, para uma construção rasa sobre um tipo de rocha uniforme é comum
utilizar-se as tabelas publicadas para a determinação da capacidade de suporte, enquanto
para uma barragem ou uma grande ponte em rocha fraturada contendo emendas de
rocha compressível uma análise mais detalhada pode ser necessária.
Para fundações em rocha onde a rocha tem resistência maior que o concreto do
qual a sapata é construída, a capacidade de suporte da rocha não tem importância. Sabe-
se que o problema da capacidade de suporte está usualmente relacionado com detalhes
da estrutura geológica.

1-NORMAS EXECUTIVAS

Para muitas estruturas, as dimensões requeridas para a capacidade de suporte


podem ser determinadas de tabelas que listam pressões de capacidade de suporte para
vários tipos de rochas. A Tabela 1 lista possíveis pressões de carregamento para uma
variedade de condições geológicas definidas pelo tipo e idade da rocha.
As pressões de carregamento listadas na Tabela 1 foram obtidas a partir da
observação de estruturas estáveis existentes e incorporam um fator de segurança
substancial, de forma que o recalque deva ser mínimo. No entanto, os valores
apresentados estão relacionados principalmente a resistência da rocha, e precisam ser
reduzidos quando a rocha é intemperizada, fraturada, ou é não homogênea e contêm
emendas de rocha fraca e decomposta. Usualmente, em rochas, pressões de
carregamentos possíveis são determinadas a partir do recalque permitido, o qual é
principalmente relacionado com características de descontinuidades. Os recalques
resultam do fechamento de descontinuidades abertas e compressão de emendas
contendo preenchimento de baixa resistência. Onde a rocha é sã, mas fraturada, a
capacidade de suporte dada na Tabela 1 pode ser ajustada para assegurar recalques

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mínimos. O efeito da intensidade do fraturamento na capacidade de suporte pode ser


estimado pelo RQD (Designação da Qualidade da Rocha) de acordo com:
- RQD>90%: nenhuma redução;
- RQD>50% e <90%: redução de 0,25 a 0,7;
- RQD<50%: redução de 0,25 a 0,1.

A aplicação dos valores de capacidade de suporte referidos na Tabela 1 e seus


fatores de redução necessitam de informações da condição do subsolo e de algum
julgamento. Se as condições da rocha em questão não se adequarem as condições gerais
aplicáveis na Tabela 1, existem outros métodos de cálculo da capacidade de suporte que
serão descritos a seguir.

Tabela 1 – Capacidade de suporte para rochas de acordo com Thorburn (1966),


Woodward et al. (1972) e Ministério dos transportes e comunicações de Ontário
(1983). *Aplicar os critérios de redução (RQD) citados acima quando houver
fraturas ou intemperismo.

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Existem também, tabelas correlacionando o estado da rocha com valores


aproximados de resistência a compressão, como mostra a Tabela 2.

Tabela 2 – Classificação das resistências dos materiais rochosos (ISRM, 1981).


Intervalo de resistência a
Descrição
compressão aproximado (MPa)
Rocha extremamente resistente >250
Rocha muito resistente 100-250
Rocha resistente 50-100
Rocha mediamente fraca 25-50
Rocha fraca 5-25
Rocha muito fraca 1-5
Rocha extremamente fraca 0,25-1
Argila dura >0,5
Argila muito rija 0,25-0,5
Argila rija 0,1-0,25
Argila firme 0,05-0,1
Argila mole 0,025-0,05
Argila muito mole <0,025

2-CAPACIDADE DE SUPORTE EM ROCHAS FRATURADAS (Hoek & Brown)

A Figura 1 mostra uma fundação sobre uma superfície horizontal de uma rocha.
Em pressões abaixo da capacidade de suporte da rocha ela se comportará elasticamente.
No entanto, em tensões maiores que se aproximem da capacidade de suporte da rocha,
fraturas surgirão e se formarão cunhas e zonas de rocha fraturada (Figura 1). Esta
condição resulta na dilatância da rocha e na formação de fraturas radiais que podem se
expandir e eventualmente alcançar a superfície formando cunhas de rocha. O
deslizamento dessa cunha de rocha pode ocasionar a ruptura da fundação.

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Figura 1 - Capacidade de suporte de uma sapata sobre uma superfície de rocha:


formação de rocha fraturada (A) abaixo da fundação contida por cunhas de rocha
intacta(B).

O cálculo da capacidade de suporte, nesse caso, pode ser feito através de uma
análise simplificada que assume linhas retas para as superfícies de ruptura e ignora o
peso da rocha na fundação e a tensão cisalhante que se desenvolvem ao longo da
interface vertical entre as duas cunhas (Terzaghi, 1943).
A análise assume que as cunhas ativa e passiva, definidas por linhas retas,
ocorrem na rocha sob a fundação e que os parâmetros de resistência ao cisalhamento
destas superfícies são os da maciço rochoso (Figura 2).

Cunha A Cunha B

Figura 2 – Análise da capacidade de suporte de rocha fraturada: cunhas ativa


(A) e passiva(B).

A capacidade de suporte admissível (qadm) está relacionada a resistência do


maciço rochoso pelo fator de segurança (FS) e pelo fator de correção (C1) e pode ser
definida pela equação:

qadm =
[
C1 s × σ u ( r ) 1 + (ms −1 / 2 + 1) −1 / 2 ]
(1)
FS

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Onde:

m e s = constantes que dependem do tipo de rocha e do grau de fraturamento


e estão apresentados na Tabela 3;
σ u (r ) = tensão de compressão não confinada da rocha intacta (obtida através
de ensaios de laboratório);
C1 = fator aplicado para levar em conta a forma da fundação no cálculo da
capacidade de suporte cujos valores são apresentados na Tabela 4
(Sowers, 1970).

Tabela 3 – Relação aproximada entre qualidade do maciço rochoso e constantes


dos materiais (m e s).
ROCHAS METAMÓRFICAS
ROCHAS CARBONÁTICAS

Andesito, riolito, diabásio,


Xisto limoso, xisto, siltito,

Anfibolito,gabro, gneisse,
ROCHAS ARENITICAS

(granulometria grossa)
ROCHAS IGNEAS E
Dolomita, calcária e

(granulometria fina)
ROCHAS IGNEAS
Arenito, quartizito
TIPO DE ROCHA

MAGMÁTICAS

granito, diorito
mármore

dolerito
ardósia

QUALIDADE
m 7 10 15 17 25
ROCHA INTACTA
s 1 1 1 1 1

MUITO BOA m 2,4 3,43 5,14 5,82 8,56


Rocha sã com juntas não
intemperizadas espaçadas 1-3m
s 0,082 0,082 0,082 0,082 0,082

BOA m 0,575 0,821 1,231 1,395 2,052


Rocha levemente intemperizada
com juntas espaçadas 1-3m
s 0,00293 0,00293 0,00293 0,00293 0,00293
RAZOÁVEL m 0,128 0,183 0,275 0,311 0,458
Vários padrões de juntas
moderadamente intemperizadas s 0,00009 0,00009 0,00009 0,00009 0,00009
espaçadas 0.3-1m
BAIXA m 0,029 0,041 0,061 0,069 0,102
Muitas juntas intemperizadas
espaçadas 30-500mm
s 0,000003 0,000003 0,000003 0,000003 0,000003
MUITO BAIXA m 0,007 0,010 0,015 0,017 0,025
Muitas juntas fortemente
intemperizadas espaçadas s 0,0000001 0,0000001 0,0000001 0,0000001 0,0000001
<50mm

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Tabela 4: Fator de correção de forma da fundação (L=comprimento, B=largura).


Forma da Fundação C1 C2
Corrida 1 1
Retangular
L/B=2 1,12 0,9
L/B=5 1,05 0,95
Quadrada 1,25 0,85
Circular 1,2 0,7

Um procedimento de cálculo mais compreensivo de capacidade de suporte para


rochas fraturadas é descrito por Serrano e Olalla (1994). Neste método a resistência do
maciço rochosos é definida pelo critério de resistência de Hoek e Brown. O método
pode ser aplicado a sapatas embutidas, cargas inclinadas e a sapatas assentes sob
superfícies inclinadas.
Para a maioria dos casos de carregamentos em rochas fraturadas o fator de
segurança estará entre 2 e 3 (podendo haver pequeno risco de recalque).

2.1 – FUNDAÇÕES EMBUTIDAS EM ROCHA

No caso em que a sapata está embutida na rocha, é necessário modificar a


Equação 1 para levar em conta o aumento nas tensões devido ao confinamento aplicado
pela rocha que circunda a sapata embutida (qs). O valor modificado da capacidade de
suporte admissível é então:

q adm =
[
C1 (mσ u ( r )σ '3 + sσ u ( r ) )1 / 2 + σ '3 ]
(2)
FS

Onde:

(
σ '3 = mσ u ( r ) q s + sσ u ( r ) 2 )
1/ 2
+ qs (3)

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EXEMPLO:

Determine a capacidade de suporte através do método de Hoek & Brown.


Considere uma sapata de 2m de largura (B=2m) sobre uma superfície de uma rocha
calcária moderadamente forte na qual os espaçamentos das descontinuidades são de 400
mm e as descontinuidades contem argila.

Propriedades da rocha:
ƒ Resistência a compressão não confinada da rocha intacta: 75 MPa
(Tabela 2)
ƒ Parâmetros da Envoltória de Resistência curva: m=0,128 e
s=0,00009 (Tabela 3)

ƒ Densidade da rocha: γ = 0.022 MN/m3


ƒ Os fatores de correção de forma para uma sapata corrida são:
C1=C2=1 (Tabela 4)

Critério de Resistência de Hoek-Brown:


A capacidade de suporte admissível para um maciço rochoso com as
propriedades definidas por uma envoltória de ruptura curva é calculado pela Equação 1.
Considerando:
FS=3
m=0,128
s=0,00009
σ u (r ) = 75MPa
A capacidade de suporte admissível calculada é:

qadm = 1,14MPa

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