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MINICURSO BENTO XVI

10 ideias-chave do seu pontificado


Dr. Rudy Albino de Assunção
Aula 1
No início do ser cristão está um
Encontro com Jesus
1ª ideia-chave:
O Cristianismo é uma mensagem positiva
“Nós cremos no amor de Deus — deste
modo pode o cristão exprimir a opção
fundamental da sua vida. Ao início do ser
cristão, não há uma decisão ética ou uma
grande ideia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa que dá à
vida um novo horizonte e, desta forma, o
rumo decisivo” (Deus caritas est, n. 1).
1ª ideia-chave:
O Cristianismo é uma mensagem positiva
1 Ts 4, 13: não deveis “entristecer-vos como os outros que não têm
esperança”.

“Aparece aqui também como elemento distintivo dos cristãos o fato de estes terem
um futuro: não é que conheçam em detalhe o que os espera, mas sabem em
termos gerais que a sua vida não acaba no vazio. Somente quando o futuro é certo
como realidade positiva, é que se torna vivível também o presente. Sendo assim,
podemos agora dizer: o cristianismo não era apenas uma «boa nova», ou seja, uma
comunicação de conteúdos até então ignorados. Em linguagem atual, dir-se-ia: a
mensagem cristã não era só «informativa», mas «performativa». Significa isto que o
Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas
uma comunicação que gera factos e muda a vida. A porta tenebrosa do tempo, do
futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe
dada uma vida nova” (Spe salvi, n. 2).
1ª ideia-chave:
O Cristianismo é uma mensagem positiva
Entrevista a representantes de canais televisivos alemães e da Rádio Vaticano
em preparação para a viagem à Alemanha, 05/08/2006

Tema: a família. Há cerca de um mês, Vossa Santidade foi a Valência para o encontro
mundial das famílias. Quem ouviu com atenção como procurámos fazer na Rádio
Vaticano observou que Vossa Santidade jamais pronunciou a palavra "matrimônios
homossexuais", nunca falou de aborto e nem de contracepção. Alguns observadores
atentos exclamaram: que interessante! Evidentemente, a sua intenção consiste em
anunciar a fé e não em dar voltas ao mundo como "apóstolo da moral". Pode fazer um
comentário sobre isto?
1ª ideia-chave:
O Cristianismo é uma mensagem positiva
Bento XVI: Sem dúvida. Em primeiro lugar, é necessário recordar que, no total, eu
dispunha duas vezes de vinte minutos de tempo para falar. E quando se tem tão pouco
tempo, não se pode começar imediatamente dizendo “não”. É preciso que saibamos
sobretudo o que é que verdadeiramente queremos, não é verdade? E o cristianismo, o
catolicismo não é uma série de proibições, mas uma opção positiva. E é muito importante
voltar a considerar isto, porque hoje em dia tal consciência desapareceu quase
completamente. Ouvimos falar tanto sobre o que não é permitido, que agora é necessário
dizer: mas nós temos uma ideia positiva a propor: o homem e a mulher são feitos um para
o outro; existe por assim dizer uma escala: sexualidade, eros e ágape, que são as
dimensões do amor, e assim forma-se primeiro o matrimônio como encontro repleto de
felicidade do homem e da mulher, e depois a família, que garante a continuidade entre as
gerações, em que se realiza a reconciliação das gerações e em que se podem encontrar
também as culturas.

Entrevista a representantes de canais televisivos alemães e da Rádio Vaticano


em preparação para a viagem à Alemanha, 05/08/2006
1ª ideia-chave:
O Cristianismo é uma mensagem positiva
Ponto de partida: Rito do Batismo –
renúncia a Satanás (pompa diaboli) e Profissão de fé.
1ª ideia-chave:
O Cristianismo é uma mensagem positiva
Festa do Batismo do Senhor, 8 de junho de 2006

“Agora, depois da bênção da água, seguir-se-á um segundo diálogo de grande


importância. O conteúdo é este: o Batismo como vimos é um dom; o dom da vida.
Mas um dom deve ser acolhido, deve ser vivido. Um dom de amizade exige um
‘sim’ ao amigo e um ‘não’ a tudo o que não for compatível com esta amizade, a
tudo o que não está em sintonia com a vida da família de Deus, com a verdadeira
vida em Cristo. E assim, neste segundo diálogo, o ‘não’ e o ‘sim’ são pronunciados
três vezes. Diz-se ‘não’ e renuncia-se às tentações, ao pecado, ao diabo.
Conhecemos bem estas coisas, mas talvez porque as ouvimos demasiadas vezes,
estas palavras não nos dizem muito. Então devemos aprofundar um pouco os
conteúdos destes ‘não’. A que dizemos ‘não’? Só assim podemos compreender ao
que desejamos dizer ‘sim’”.
1ª ideia-chave:
O Cristianismo é uma mensagem positiva
Assim como naquele diálogo batismal o "não" se
desenvolve em três renúncias, também o "sim" se
desenvolve em três decisões: "sim" ao Deus vivo,
isto é, a um Deus criador, a uma razão criadora
que dá sentido à criação e à nossa vida; "sim" a
Cristo, ou seja, a um Deus que não permaneceu
escondido mas que tem um nome, que tem
palavras, corpo e sangue; a um Deus concreto que
nos dá a vida e nos mostra o caminho da vida;
"sim" à comunhão da Igreja, na qual Cristo é o
Deus vivo, que entra no nosso tempo, entra na
nossa profissão, entra na vida de todos os dias.
1ª ideia-chave:
O Cristianismo é uma mensagem positiva
Também poderíamos dizer que o rosto de Deus, o conteúdo desta cultura da vida,
o conteúdo do nosso grande "sim", se expressa nos dez Mandamentos, que não são
um pacote de proibições, de "não", mas na realidade apresentam uma grande visão
de vida. São um "sim" à família (quarto mandamento); "sim" à vida (quinto
mandamento); "sim" ao amor responsável (sexto mandamento); "sim" à
solidariedade, à responsabilidade social, à justiça (sétimo mandamento); "sim" à
verdade (oitavo mandamento), "sim" ao respeito do próximo e do que lhe é próprio
(nono e décimo mandamentos). É esta a filosofia da vida, a cultura da vida, que se
torna concreta, praticável e bela na comunhão com Cristo, o Deus vivo, que
caminha conosco na companhia dos seus amigos, na grande família da Igreja. O
Batismo é dom de vida. É um "sim" ao desafio de viver verdadeiramente a vida,
dizendo "não" ao ataque da morte que se apresenta com a máscara da vida; e é
"sim" ao grande dom da verdadeira vida, que se fez presente no rosto de Cristo, o
qual se doa a nós no Batismo e depois na Eucaristia”.
Leituras complementares:

Catequeses sobre os Apóstolos


Livro Introdução ao Cristianismo
2ª ideia-chave:
Jesus é o Senhor, a Igreja é o Seu Corpo

“O Bispo de Roma [...] deve proclamar constantemente: "Dominus Iesus" - ‘Jesus é o


Senhor’. Com efeito, a potestas docendi comporta a obediência à fé, a fim de que a
Verdade que é Cristo continue a resplandecer na sua grandeza e a ressoar para
todos os homens na sua integridade e pureza, de tal forma que haja um só rebanho
reunido ao redor do único Pastor”.

Discurso aos participantes na Assembleia Plenária da


Congregação para a Doutrina da Fé, 15 de Janeiro de 2010.
2ª ideia-chave:
Jesus é o Senhor, a Igreja é o Seu Corpo
“O Espírito Santo é Aquele que nos faz reconhecer em Cristo o Senhor,
levando-nos a pronunciar a profissão de fé da Igreja: «Jesus é o Senhor» (cf. 1
Cor 12, 3b). Senhor é o título atribuído a Deus no Antigo Testamento, título que
na leitura da Bíblia tomava o lugar do seu nome impronunciável. O Credo da
Igreja mais não é que o desenvolvimento daquilo que se diz com esta simples
afirmação: «Jesus é o Senhor». Desta profissão de fé, são Paulo diz-nos que se
trata precisamente da palavra e da obra do Espírito. Se quisermos estar no
Espírito Santo, temos que aderir a este Credo. Fazendo-o nosso, aceitando-o
como nossa palavra, acedemos à obra do Espírito Santo. A expressão «Jesus é
o Senhor» pode ser lida nos dois sentidos. Significa: Jesus é Deus e,
contemporaneamente: Deus é Jesus.
2ª ideia-chave:
Jesus é o Senhor, a Igreja é o Seu Corpo
O Espírito Santo ilumina esta reciprocidade: Jesus tem dignidade divina, e Deus
tem o rosto humano de Jesus. Deus mostra-se em Jesus e, assim, oferece-nos a
verdade sobre nós mesmos. Deixar-se iluminar no profundo desta palavra é o
acontecimento do Pentecostes. Recitando o Credo, nós entramos no mistério do
primeiro Pentecostes: da confusão de Babel, daquelas vozes que vociferam
umas contra as outras, deriva uma transformação radical: na multiplicidade faz-
se unidade multiforme, a partir do poder unificador da Verdade cresce a
compreensão. No Credo que nos une de todos os recantos da Terra que,
mediante o Espírito Santo, faz com que nos compreendamos apesar da
diversidade das línguas, através da fé, da esperança e do amor, forma-se a nova
comunidade da Igreja de Deus.
Capela Papal na Solenidade de Pentecostes, 12/06/2011
2ª ideia-chave:
Jesus é o Senhor, a Igreja é o Seu Corpo
Moisés: “ele havia se relacionado com Deus ‘face a face’. [...] Decisivo é que
ele tenha falado com Deus como um amigo: era somente daqui que podiam
vir as suas obras, era somente daqui que podia vir a lei que devia ensinar a
Israel o caminho no curso da história” (p. 23).

Jesus: “‘Ninguém jamais viu a Deus: o Filho unigênito que repousa no seio
do Pai é que no-lo deu a conhecer’ (Jo 1, 18). Em Jesus cumpriu-se a
promessa do novo Moisés. N’Ele se realiza agora plenamente o que em
Moisés se encontrava apenas de um modo fraturado: Ele vive diante do
rosto de Deus, não apenas como amigo, mas como Filho; ele vive na mais
íntima unidade com o Pai” (p. 25).
RATZINGER, J.-BENTO XVI. Jesus de Nazaré. Primeira Parte.
Do Batismo no Jordão à Transfiguração. São Paulo: Planeta, 2007.
2ª ideia-chave:
Jesus é o Senhor, a Igreja é o Seu Corpo
1 Cor: “‘O cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do
sangue d Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão do corpo
de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos,
formamos um só corpo, porque todos nós participamos do mesmo
pão’ (10, 16-17).
Na Eucaristia, Cristo entrega-nos o seu corpo, doa-se a si mesmo no
seu corpo e assim faz-nos seu corpo, une-nos ao seu corpo
ressuscitado. Se o homem come o pão normal, este pão no processo
da digestão torna-se parte do seu corpo, transformado em substância
de vida humana. Mas na sagrada Comunhão realiza-se o processo
oposto. Cristo, o Senhor, assimila-nos a si, introduz-nos no seu Corpo
glorioso e assim todos juntos nos tornamos seu Corpo. Quem lê
somente o cap. 12 da primeira Carta aos Coríntios e o cap. 12 da Carta
aos Romanos, poderia pensar que a palavra sobre o Corpo de Cristo
como organismo dos carismas é apenas uma espécie de parábola
sociológico-teológica.
2ª ideia-chave:
Jesus é o Senhor, a Igreja é o Seu Corpo
Realmente, na politologia romana esta parábola do corpo com
diversos membros que formam uma unidade era usada para o
próprio Estado, para dizer que o Estado é um organismo em
que cada qual tem a sua função, a multiplicidade e diversidade
das funções formam um corpo e cada um tem o seu lugar.
Lendo somente o cap. 12 da primeira Carta aos Coríntios, poder-
se-ia pensar que Paulo se limita a transferir apenas isto à Igreja,
que também aqui se trata só de uma sociologia da Igreja. Mas
tendo em consideração este capítulo 10, vemos que o realismo
da Igreja é bem diferente, muito mais profundo e verdadeiro
que o de um Estado-organismo. Porque realmente Cristo doa o
seu corpo e faz de nós o seu corpo. Tornamo-nos realmente
unidos ao corpo ressuscitado de Cristo e, assim, unidos uns aos
outros. A Igreja não é somente uma corporação como o
Estado, mas é um corpo. Não é simplesmente uma organização,
mas um verdadeiro organismo”.
Audiência geral, 10/12/2008 (São Paulo [16], O papel dos Sacramentos)
Leitura complementar:
Catequeses sobre São Paulo (a partir de 02/07/2008)
https://www.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/audiences/2008/documents/hf_ben-xvi_aud_20080702.html
Ou veja a lista completa:
https://www.veritatis.com.br/catequeses-de-bento-xvi-sobre-sao-paulo-
apostolo/
3ª ideia-chave:
Fé e razão andam juntas
“‘alargar os horizontes da racionalidade’: Gostaria de partir de uma profunda
convicção, que várias vezes expressei: "A fé cristã fez a sua opção clara: contra os
deuses da religião pelo Deus dos filósofos, ou seja, contra o mito unicamente dos
costumes pela verdade do ser" (J. Ratzinger, Introdução ao cristianismo, cap. III). Esta
afirmação, que reflete o caminho do cristianismo desde o seu alvorecer, revela-se
plenamente atual no contexto histórico-cultural que estamos a viver. De facto, só a
partir desta premissa, que é ao mesmo tempo histórica e teológica, é possível ir ao
encontro das novas expectativas da reflexão filosófica. O risco que a religião,
inclusive a cristã, seja instrumentalizada como fenómeno sub-reptício hoje é muito
concreto.
3ª ideia-chave:
Fé e razão andam juntas
Mas o cristianismo, como recordei na Encíclica Spe salvi, não é apenas uma
mensagem informativa, mas performativa (cf. n. 2). Isto significa que desde sempre a
fé cristã não pode ser fechada no mundo abstrato das teorias, mas deve descer a uma
experiência histórica concreta que alcance o homem na verdade mais profunda da
sua existência. [...]
A proposta de ‘alargar os horizontes da racionalidade’ não deve ser, portanto, incluída
entre as novas formas de pensamento teológico e filosófico, mas deve ser
compreendida como o pedido de uma nova abertura à realidade à qual a pessoa
humana está chamada na sua unitotalidade, superando antigos preconceitos e
reducionismos, para se abrir também assim o caminho para uma verdadeira
compreensão da modernidade”.
Discurso aos participantes do VI Congresso Europeu de
Professores Universitários, 07/06/2008.
3ª ideia-chave:
Fé e razão andam juntas

Destaque:
Discurso na
universidade de Regensburg,
12/09/2006
3ª ideia-chave:
Fé e razão andam juntas
“... a convicção de que o agir contra a razão estaria em contradição com a natureza
de Deus, faz parte apenas do pensamento grego ou é válida sempre e por si mesma?
Penso que, neste ponto, se manifesta a profunda concordância entre o que é grego
na sua parte melhor e o que é a fé em Deus baseada na Bíblia. Modificando o
primeiro versículo do livro do Génesis, o primeiro versículo de toda a Sagrada
Escritura, João iniciou o prólogo do seu Evangelho com estas palavras: «No
princípio era o λόγος». Ora, é precisamente esta a palavra que usa o imperador:
Deus age «σὺ ν λόγω», com logos. Logos significa conjuntamente razão e palavra –
uma razão que é criadora e capaz de se comunicar, mas precisamente enquanto
razão. Com este termo, João ofereceu-nos a palavra conclusiva para o conceito
bíblico de Deus, uma palavra na qual todos os caminhos, muitas vezes cansativos e
sinuosos, da fé bíblica alcançam a sua meta, encontram a sua síntese. No princípio
era o logos, e o logos é Deus: diz-nos o evangelista. Este encontro entre a mensagem
bíblica e o pensamento grego não era simples coincidência. A visão de São Paulo –
quando diante dele se estavam fechando os caminhos da Ásia e, em sonho, viu um
macedónio que lhe suplicava: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!» (cf. Act 16, 6-
10) – esta visão pode ser interpretada como a «condensação» da necessidade
intrínseca de aproximação entre a fé bíblica e a indagação grega”.
Leitura complementar:
O texto que o Papa Bento XVI teria lido durante a visita à Universidade
de Roma "La Sapienza", prevista para o dia 17 de Janeiro, depois
anulada em 15 de Janeiro de 2008:

https://www.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2008/january/documents/hf_ben-
xvi_spe_20080117_la-sapienza.html

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