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Notas para o debate sobre pesquisa-aciio* Michel Thiollent** Nas prosentes notas tentamos esclarecer diversos problemas teéricos € metodolégicos retacionados com a concepedo da pesquisa- agflo. Na situagio atual, achamos que ninguém pode pretender ter formulado uma concepgto definitiva, acabada ou comprovada, Pre~ clsamos acurmular os resultados de muitas experigneias, avaliagies & 18 ¢, também, suscitar uma ampla discussao, Apresentaremos aqui um trabalho de “reconhecimento” ¢ de reflexdo acetca de alguns aspectos problematicos da pesquisa-agao, inclusive seu envol- vyimento no plano valorativo e a questo dos fundamentos tebricos esse tipo de pesquisa, Distingio entre pesquisa part inte € pesquisa-aciig vezes as expressdes “pesquisa participate” (PP) ¢ “pesquisa-acio” (PA) so dadas come sinGnimas ov quese sind- nimas. A partir do exame dos seus princfpios, tais como aparecem na literatura disponivel, podemos considerar que existem diversos ‘presontado ns it Conteréncs Brasileira de Edcagdo, de 1982, Socielogie ps isator da COPPE/ Uni Enquete Opertria, Sic Paulo, Polis, 1950. Tr bblemas de metodologia voltede para estudea de tecnal ‘comurieas30. Universidade do Paris. Atwalmente & i, organizacto @ REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANTE 3 tipos de PP e diversos tipos de PA. Uma clara distingto é necesséria, ‘APA éuma forma de PP, mas nem todas as PP sko PA, A PP se preocupou sobretudo com 0 papel do investigador dentro da situagio investigada e chegou a problematizar a relagio pesquisador/pesquisado no sentido de estabelecet a confianga ¢ outras condig6es favordveis a uma melhor captagio de informago, No entanto, os partidarios da PP no concentraram suas preocu. pagSes em torno da relagao entre investigaglo e aco dentro da si- ‘tuagtio considerada. F justamente esss tipo de relaglo que & es- pecificamente destacado em varias concepedes da PA. A PA nao € apenas PP, € um tipo de pesquisa centrada na questio do gic. Diversos autores concebem a PP como uma técnica de “obser vagio participante" que fot elaborade principalmente no contexto a pesquisa antropolégica ov etnogratica, Trata-se de estebelecer soma adequada participagio dos pesquisadores dentro dos grupos observados de modo a reduzir a estranheza resiproca. Os pesquisa- Gores sto levados a compartilhar, pelo menos superficielmente, os 1Paptis ¢ os habitos dos grupos observados para estarem em condig20 de dbservar fatos, situagdes e comportamentos que nilo ocorreriam ‘ou que seriam alterados na presenga de estranhos. Embora esse tipo de pesquisa seja, muitas vezes, conduzide de modo intuitivo e sem sistematicidade, ele pode também seguir regras do cléssica procedi- mento de formulagdo de hipdteses, coleta de dados © comprova- gto? Na PP, a preoeupagdo pasticipativa esti mais concentrada no Pélo pesquisador do que no pélo pesquisado. Além disso, nko se trata de “agio” na medida em que os grupos investigados no sto suas atividades comuns. O fato de os pesquisadores participarem ‘nas situagcs observadas no é uma condigaa suficiente para se falar em PA. Pois, além da participacio dos investigedores, a PA supoe uma participage dos interessades na propria pesquisa organizada em tomo de uma determinada a¢do. Que tipo de ago? Em geral, trata-se de uma agdo planejada, de uma interveng&o com mudangas dentro da situagdo investigad 4 pesquisa estar ligada a ‘¢H0 no corresponde ape ples objetivo de methorar a ja descriglo dos procedimentos da observagto participante, no ‘cant \oprético, em James P. Spradley, Participant observation, Neva lorque, Hon, Rinehart & Winston, 1580, 195 phginas 4 CARLOS RODRIGUES BRANDAO Core.) ‘qualidade da observacio. As expresses PA ¢ PP nfo sto sindnimas, embora na prética a PA requeita uma forma de observagdo parti cipante associada & agio cultural, educacional, organivacional, poll- fica ou outra. Ao recorrermos a métodas de PA, € preciso definir melhor o contetido da proposta. Pois PA poderie designar qualquer forma de pesquisa ligada a qualquer forma de aga, Se fosse 0 caso, seria uma proposta indeterminada e, logo, inti Variedade dos objetos da PA Uma das caracteristicas da PA consiste no fato de que seu dispositive, concebide de acordo com a sua dimensio social, esta- belece uma rede de comunicagdo a0 nivel da eaptagao de informagZo ¢ de divulgagdo. A PA fax parte de um projet de ago so ‘da resolugdo de problemas coletivos. Em ambos os casos os inyesti- ¢gados precisam de um certo informago. A PA supde que haja apoio, pelo menos em termos relativos, do movimento, da organizagdo social, cultural, educacional, sindi- cal ou politica na qual esté concentrada, Muitas vezes, nao se trata de um completo apoio institucional por parte da organizacdo, e sim de um apoio limitado oferecido por alguns grupos ou ele- ‘ments. A variedade das propostas de PA & proporcional a variedade de projetos sociais inscritos em diversas conjunturas e sociedades. Nocontexto da América Latina, a pesquisa-agao € sobrotudo ligada 4 visio emancipatéria, (anto no meio rural como no urbano € espe~ cialmente aplicada em projetos de educagiio popular ou de com nicagio social. Quando a PA é centrada num movimento popular dotado de autonomia, a investigngdo relativa A acto pode consistir na eluci- dado da estratégia, da tética, das decistes e dos atos efetivos, Mas hnem sempre & assim, Pois existe toda uma tradigo de PA instra- mentalizada dentro de priticas sociais ou organizacionais sem preo- cupardo popular. Desde as suas origens, nos anos 40, um tipo de PA € ulilizado no contexto da psicossociologia norte-americana de uina (2) Maris Cristina Mat popular”, Cultura Popular, 2: investigacién asociada a ta educacién 581. REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANTE 8s maneira que nfo é autocentrada nem emancipatéria. Por meio da PA, grupos pretendem estudar e transformar as a ‘grupos e pessoas para coin determinadas fatos social consumo, formas de autoridade, comportamentos orga etc,). Muitas vezes, esse prética leva a uma psc quela que é procurada pela concepgao critica da PA. Dentro de uma vyisdo de “mudanga controlada”, a psicossociologia das organizaydes 4 chamada sociotécnica propoem programas de PA que sto respec- tivamente empenhados no “Desenvolvimento Organizacional” ¢ na methoria da organizagéo do trabalho ou da qualidade de vida no trabalho? Os objetivos dessas praticas sto bastante fungfo dos interesses empresariais relatives & moder tizacto e humanizagfo do trabalho ¢ das organizagbes. Na Europa do Norte, existem propostas de PA no contexto da sociotécnica associadas A visio reformista de democratizagio das “relagbea in- dustriais” (relagdes entre trabathadores e empresdrios). Essas expe- rigncias ndo podem ser consideradas como verdadeiras alternativas de conhecimento social. Todavia, merecem ser estudadas ¢ ava- tipo de PA instrumentalizada ise de sistemas, Trata-se de uma metodologia de resolucdo de problemas de natureza informacional ¢ \écnico-organizacional com a participagie dos analistas © dos usud- rios dentro de ums estrutura de aprendizagem conjunta,* E provavel que certos tipos de PA venham participar do espi- rito das tecnologias ¢ das metodologias alternatives. Isto 6, de uma as as condigdes concretas de ume atuagao técnicas “apropriados” as necessidades das Populactes ou coletividades. Nesta perspectiva, so procuradas ‘maior autonomia ou independéncia para com as tecnologias impos- ‘as pelo “sistema dominante”. Reduz-se assim a “importagio” de ‘écnicas e aparelhagens custosas e as correspondentes concepgses (G Michel Thiotent, “problemas de Metodologia”, in: Vérlos autores, nganizacdo do Trabalho, So Paulo, Atlas, 1982 (4¥ Poul Jobim Filho, Uma metodalogio pare a planejamento eo desen- Volvimento ae sistemas de informecic, Sto Paule, Blucher, MEC/SEPLAN, 1979, 47 piginas. % CARLOS RODRIGUES BRANDAO (org) tecnoburocréticas. Além disso, evita-se parte da dependBncia finan- ceira ¢ seu decorrente controle burocritico-politico. Aspectos valoratives Todos 0$ métodos e téenicas de pesquisa sto utilizados em determinadas concepetes da investigacso de pretensio cientifica mais ou menos acentuada. De acordo com o ideal cientifico, pre- le-se que seja nevesshria a demarcagllo entre os aspectos cognos- ros das exigéncias cientificas © os aspectos valorativos. No en- + devemos reconhecer que esses iltimas ndo podem ser to facilmente descariados. Sempre estio relacionados, de algums ma- neira, com a orientagio ea selegio dos ivo, moral ou politico. Nao pre~ fendemos que a investigacdo soja possivel de modo totalmente sepa- ado dos valores, 0 que, no caso, seria mais uma afirmagto de e paradoxal, na medida em que ela mesma corres: onde a certos prineipios va APP ea PA entretém relacdes com certas posigdes filoshficas e Yalorativas. Lendo diversas contribuigdes & PP, podemos reparar que hi ume relepto predileta com a concepgdo humanista, mais freqientemente crist do que marxista, embora haja, em certos casos, uma afinidade entre certos aspectos da filosofia cristi ¢ elementos de marxismo ou de gramseismo, PP é uma proposta que suscite légica ou até roligio- izam certos valores comunitarios. Podemos identifi- car varios principios gerais. A idéia de participagto ou de acto coletiva relacionada com a pesquisa evoca, para certos pesquisa- dores, a possibilidade de “comungat”, de estabelecer uma comuni- cagdo efetiva, cultural ¢ social que 6 transponivel com bast facilidade nos planos simbético, afetivo ou até mistico, Outras valorizadas seriam as de estar do iado dos humildes, fazer part of humildades da geragio do conhecimento de que precisam, co- ‘hecer sua prépria situagdo ete. O comprometimento com os humil- des, a comunhao com 9 poyo ¢ outras expressdes semelhantes tém @ ver também com 0 fate de minimizar a relagto dirigentes/dirigidas, Na mesma linha, 6 desejado que a agdo seja a expressto da comu- nidade, desenvotva o sentimento de solidaricdade, de autodefesa, de compreensto miitua ete, REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANTE a Hé ainda outros aspectos tavordveis ao encaminamento das Propostas de tipo PP ou PA. Principalmente no tocante aos valores associndos a0 modo de utilizacdo dos resultados e do conhecimento em geral. A pesquisa académica e suas convencionais técnices de pesquisa predispdem a uma forma de corthecimento codificado de acordo com regras do mundo universitario sem retorno em diregio 20 povo.* De acordo com esse tipo de critica, a pesquisa académica & Pouco utilizada concretamente, s6 seive para a obtengio de titulos entre uma pequena minotia privilegiada. A PA ¢ também certas formas de PP seriam um meio de melhor adequar a pesquisa aos temas ¢ problemas encontrveis no seio do povo. Além disso, gragas 805 sanais de comunicagio estabelecides pela propria pesquisa, seria possivel divulgar imediatamente os resultados considerades como utilizaveis dentro do meio social que ds gerou. Da nossa parte, abordareiios 2 questo da sclegdo ov da justi- ficagdo da PA distinguindo duas posturas: 2) A primeira consiste em propor especialmente a PP por estar de acordo com uma ideologia da participagio popular, ou a PA por estar de acordo com uma ideologia da ago coletiva ou da “comurihao" de espicitos. 8) A segunda faz decorrer a PA de uma alternativa metodo- logica diferente das convenctonais técnicas de pesquisa e a ser cienti- icamente controlada, mesmo dentro dé uma concepgo geral da ficidade que seja diferente do padrao positivista. A primeira postura se situa principalmente no plano dos valo- Tese a segunda no plano metodolégico e espistemologico. Nés opta- mos exclusivamente pela segunda. O que requer, de um iado, uma reflexto eritiea a respeito dos envolvimentos valorativos da PP e da PA (mesmo quando nos parecem “simpSticos”) e, por outro lado, ‘uma melhor fundamentagio no plano metodol6gico ¢ tedrico, fico, a PA no nos parece menos outros procedimentos e, sem diivida, exige muito intelectual do que os pacotes de perguntas da co- le opinito. Para seu préprio fortalecimento, a PA deveria ser objeto de muitas experiGncias préticas como também de um amplo programs de pesquisa metodolégica e de critica de even- tuais desvios ideotdgicos. {51 Esse aspecto ¢ enfatizado no lvro arganizedo por Carlus Rodrigues Brando, Pesquisa particpente, So Paulo, Brestiense, 1981, 211 pagnas 8 ‘CARLOS RODRIGUES BRANDAO (org.) Contra o “ideologismo” Certos autores encaram a PA como sendo uma proposta de carder i Seria apenas um tipo de atividade de agitagio ifusa no sei letividade sem que haja requistios ou pos- cionamento sientificos, Deve-se reconhecer que, em certos casos, 4 PA.e também 2 PP podem estar absorvidas por uma proposta ideotégies. No caso, seria sobretudo uma maneira de atuar dentro de uma coletividade © de captar acriticamente a informagio ideo- légica gerada por ela. © aspecto “atuaglo” pode inclusive consistir num tipo de propaganda dos pesquisadores em dirego aos mem- bros da coletividade considerada. Certos partidfrios da PP recusam esse tipo de atuagao e dao privilégio a uma atitude de “escuta” do pessoal observado. A PP é algumas vezes apresentada como sendo uma mancira de desconfiar das pretensbes cientificas proclamadas pelos convencionais modos de investigag2o ¢ como maneira de ex- Pressar o saber popular, o folclore, as crencas, a cultura ¢ as téc- nieas populares, enfim, tudo 0 que se manifesta espontaneamente 10 seio do povo. A negacio do “cientificismo” deve ser culdadosa para que no hos love @ negar a propria idéia de pesquisa cientifiea, 0 que & sempre perigoso porque a deixa aberta a qualquer manobra id logica. Além disso tal posigio pode levar & negagio do papel da teoria dentro da investigacdo social. Deve-se; entio, A participagao dos investigadores em “interveng4io" dentro de organizaghes ou de movimentos sociais no significa que haja adesio aos valores ou ideologias dessas entidades. Esse ponto é sublinhado por A. Touraine: “O socidloge deve reco- nhecer sua solidariedade com as agdes coletivas sem as quais the seria impossivel capt it ideologia ¢ submete-se a exi- ticas © estratégicas, deixando no segundo plana as exi- ‘Encias do conhecimento e da pesquisa”’.* (6) Alsin Touraine, bo voix e¢ Je regord, Peris, Sout, 1978, p. 251. REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANTE 9 Nese quadro, a situagiio dos investigadores, aparentomente paradoxal, supe uma constante avaliagao dos seus envolvimentos 1a ago observada. Outros aspectos de um eventual “ideotogismo”’ t as condig6es de participago dos investigadores ¢ dos im PP ¢ da PA. A nosso ver, um dos riscos que ta a novo de PP consiste no fato de referir-se & nogko de “participagio", sempre bastante ideologizada. Desde os anos 60, em varios paises, as ideologias da participago se espalham nos dis- cursos do poder como forte ai ‘anipulagdo € de esca- moteamento das relagdes soci relagtes de poder. © uso da nogto de “p sempre sujelto a inter: retacdes equivocadas, Esse uso pode trazer para dentro do carapo investigacdo as manipulagdes que ocorrem na coneepgao da poli- tica, O pesquisador deve ficar atento aos riscos associados as ideo- mos 0 participacionismo, isto nko wor de uti relacionamento sem parti- inlateral, exclusivo ou autoritério. Trata-se sobretudo de reproduglo de certas ambigGidades — ou até paradoxos 8 has propostas ce participagy elementos da situagdo se opdem a ela. Em cada pesquisa, as ses da participagdo devem ser cuidacdosamente esclarecidas. 0s procedimentos da PA devem ser avaliadas por parie dos investigadores ¢ elo fato de i a PA supde que todos sobreiudo nas siteagBes westigados. Mesmo quando no hi contito aparente, os membros da - los por rigidas relagdes de autoridade on per- e ruragao da PA € varidvel em fungdo do contexto da aplicagio. Nio so divididas em classes ¢ as aplicages organizadas por grupos homogé- eos com autonomia de decisio.e agio, No primeiro caso, hé sempre risco de enval gBes heterdnomas, especialmente entre dirigentes ciso questionar 0 que significa « agfo (ou a partic dir gids quendo, no fundo, todas as decisbes Ao monopolizadas ¢ 0 ‘CARLOS RODRIGUES BRANDAO (org.) tomadas por ditigentes. Isto é patente nas organizagbes industriais, educacionais ou outras, No seguitdo caso, o problema principal consiste na elucidago da apio do grupo animado por um objetivo consensualmente defi- nido. No contexto sindical e politico ou em associagSes volunidrias, as relagdes dicotOmicas também existem, o que deve ser levado em consideraedo na concepetio da pesquisa. Talver a PA possa contri- buir para cvidenciar os fendmenos de monopolizagiio de informagio ede podere, também, as condigdes de exeeugao da agio. Dentro do molde empresarial ou organizacional, que remete 20 primeiro caso, 0 tipo de PA utilizada em “desenvolvimento organizacional” e em andlises “sociotéenicas" encontra certas limi tages devido & heteronomia das relagbes sociais. Em certos casos, 4 a¢do se limita ao nivel dos executives ou chetes de nivel interme: diario que esto inseridos no processo de PA para que, conjunta- meate com os analistas, possam formular a soluedo de problemas ligados a geréncia e sobre os quais eles tém uma “parcela” de poder. Procedimentos semelhantes podem envolver também os trabatha- dores, 36 que sus acio € filtrada e canalizada no sentido de se conformarem aos objetivos da empresa: cratividade, produtivie dade, qualidade dos produtos etc. A PA aplicada nesse contexto ‘estabelece, a0 nivel da investigasao, uma forma de participagto todas as ambighidades da participagto dos dirigidos no Plano politics. A questiio do “misticismo” As propostas de PP ¢, em alguns casos, de PA, séo conside- radas como "por parte de certos socidtogos. E 0 caso, em particular, de P. Bourdieu, que € conhecido por te: nicas de pesquisa convencional sem considerar que formas semelhantes sejam uma altemnativa valida. Segundo esse PP teria mais a ver com uma “participagio mistica na A idéia de PP nao satisfatia as exigencias da cifncia social, as quais & necessAria a “andlise te6rica” da pratica de investigacio e de sua relagiio com 0 objeto investigado.” (7) Plarre Bourdiou, Questions de Suciologie, Pari, Minuit, 1980, p.€8 REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANTE ot A respeito do risco de misticismo, podemos observar que este do é inerente as propastas de PP ou PA. Certas formas de misti- cismo existem em obras positivistas, por definigao contrérias ‘© que € metafisico ou mistico, e também se manifesta até mesmo de modo paradoxatmente associacto a0 espirito de rigor légico.* Mesmo quando certos autores ou pesquisadores possuem cer- tas inclinagies misticas, isto nfo é suficiente para considerar que a PP ea PA sio essencialmente misticas. E necessario investigar com mais cuidados formas de mistcis ou da educacEo. Transportada para o plano mistico, @ relagdo comunicativa abelecida pela pesquisa remete aos fantasmas do vivido comuni- 40 espirito de eomunhio, Nao se trata de criticar 0 sentido mmanista que anima cortos pesquisadores nessas areas. Nao se de negar as razdes de ser dessas concepgdes. B preciso evi- denciar methor certas implicagdes extracientifieas. Seria perigoso propor uma PP como se fosse mero instramento fica, neutra no plano valorativo, ou como mera doldgica auto-suficiente, sem pano de fundo met ‘i tem a ver com normase valores humanos ¢ iado com visbes religiosas da sociedade. Nio se ficada” do mundo social. Quaiquer confusio entre esses planos prejudica a clareza dos Projetos de investigacio ¢ da argumentos as pessoas que, por di- ‘versos motivos politicos e ideoldgicos, sto hostis PPe a PA. Filosofia da Ciéncia De acordo com as nossas avaliagSes precedentes, pensamos que 0 desenvolvimento da PA mio deva recair necessariamenie nas posturas espontancistas e ideolSgicas e que é possivel manter a idéia de PA dentro de uma concepydo da investigagao socioldgica, da Pesquisa educacional e da pesquisa em comunicagao embasadas em elementos te6rico-cientificos. }_O tome & sbordado por Burtiand Russot, Misticiemo e Légica, fa, Zohar, 1977, p.26 ef passin. 2 CARLOS RODRIGUES BRANDAO (org.) A postura cientifica a respeito da PA existe ¢ j6 foi especifi- ‘camente formulada no contexto das chamadas “cigncias da organi- ‘zagao” tais como sfo coneebidas pela corrente sociotéenica. E fortau- Jada, entre outros, por M. Liu, que justificon a PA dentro desse campo de estudo como sendo uma ativo da investigagto ja existe no proprio campo das natureza come condigdo de observagao. No campo socioorganiza- sional, a PA possui um aspecto “catatisador” objetivamente neces- séxio para observar os fendmenos significatives, De acordo com atuais discussdes da filosofia da ci ode ser vista como ume orientag3o adaptada as especifi ‘campo social, orgenizacional e comunicacional. Trata ra elucidago de processos complexos e siio-seqi esté contida uma capacidade de inovacio ou de processes mareados por uma grande diversidade qu Hoje em dia, tanto no campo das cincies da natureza quanto mo campo das cigneias sociais, essas estio ganhando mais tado pelos positivistas A area das cigncias 5. Essas idgias, 6 claro, nko sio objeto de unanimidade, mas sto discutidas por unt sresconte niimero de cientistas, sobretudo entre aqueles que ainda possuem sentido eritico ¢ independéncia intelectual para com as ideologias dominantes, Do ponto de vista sociolégico, podemos salientar a irroversi- bitidade dos fendmenos sociais, seu cardter holistico, niio-repetitivo, ‘num processo social e pretende dar conta dessas quatidades que os investigadores tradicionais costumam negligen ciar. Especialmente quando as pessoas ou grupos esto om situagio de agir, de tomar decisdes, manifestam-se fenémenos q inclusive no plano da significagto ¢ da elucidagio que os instru. mentos nfo apreendem, Entre outros aspectos, a presenca do pélo investigador faz parte da situagio investigada e interfere na signifi- cagdo © nas possiveis interpretagies. Na concepga0 dominante dos métodos de pesquisa, as propriedades emergentes e significasivas (9) Michel Lis, Réflesions sur a Recherche-Action en tant que démar- ‘he de racherche, mimeo, sd, 17 pogines REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANTE 2 das situagdes de investigagao sto mal equacionadas, ou até mesmo negadas. No campo da investigagio social, qualquer ago, manépulago ‘ow medida exeree um efeito tornando ambiguo o significado dos resuitados, © qual est relacionado tanto com o fato observado 5, fatos de signifi- Wo podemos ficar apegados ao quadro uantitativista dos positivistas. Apesar dos adestramentos escolisticos, devemos reaprender a estudar a vida social na sua “diversidade qualitative” adtto de quantilicacio de performances (pesos, freailéncias, ‘dades etc.) nfo seja considerado como nec plus ultra da cien- servagao. Os fatos evoluem, Nesta evolugio, no se trata apenas de fendmenos cumulativos ou aditivos, Ha também mudanga na significago que adquirem os fatos observados pelos vois. Nao se pode entender esse tipo de complexidade somente a partir de um procedimento de medigfo de varidveis isotadas inde- Pendentemente dos fatos de significagio no qual interfere o proprio Aispositivo de pesquisa, De acordo com o espfrito da “Nova Alianga” de Prigogine ‘Stengers, precisamos superar 0 padrio da ciéncia cldssica no qual 0 observador & eliminado a obsetvago concebida de um ponto de vista exterior a0 mundo,” Segundo esses autores, particularmente ‘vao nos entregar a chave universal ciéneias da natureza, as cit formas de saber. Segundo Prigogine, nao é mais privilégio das cién- clas da sociedade 0 fato de reconhecer como necessirio 0 como os saberes preexistentes a respeito de situagdes familiares de cada um". Continua o autor: “Como jé econtece nas ciéncias da. (10) fia Prigogine & Isabella Stongors, La Nouvelle Alience. Méta- ‘morphose des science, Paris, Galimnard, 1978, 305 pAgines.. 9 (CARLOS RODRIGUES BRANDAO (ors.) sociedado, as ciéncias da natureza ndo poderko mais esquecer o enraizamento social ¢ histérico que supde a familiaridade necesséria para a modelagem febrica de uma situagdo concreta, Mais do que importa que no fagamos deste enraizamento um obsté- A disposigao ativa do observador na situagéo observada, seu logo com as formas de conhecimento familiar ¢ outros temas semethantes so de maior relevancia na concepgde da metodologia as cincias sociais e adquirem res si 80 to familiar, nl como “capitulagio tedrica” ou “diluigéo” mo senso comum e sim como condigéo de uma modelagem ou de uma teorizago mais adequadas. A nosso ver, independentomente das sugestées especificas dos referidos autores, mas de acordo com uma orientagla convergente, a formulagio de propostas alternativas em metodologia das ciéncias sociais pode apoiar-se em certos principios discutides na filosofia da cigncia ativa, segundo a qual é possivel encontrar um caminho espagos para a teorizagdo. Esta concepeao, teral ¢ antidialbgica dos pesquisadores adestrados em moldes con- vvencionais, adquire particular releyo no contexto educacional e co- municacional. As suas diferencas encontram maior signiticagio entre os préprios interessados. Essa concepedo nos parece bastante sugestiva no contexto da discussio acerca de novos métodos de pesquisa de tipo PA. Uma vex afastadas 2s confusses relativas & visio ideotégica ou mistica, trata- sar a PA como sistema de expressio ¢ de “escuta” inseride ‘ho movimento ou na pratica social. Trata-se de captar expresses ou discursos que se manifestam em diversos momentos ou em diver- sas situagdes sociais. Os atores dessus situagbes nio seriam mantidos em posislo de simples informantes ¢ sim interessados na prd ‘conduta da pesquisa. Nesse sentido, mais do que uma técnica parti- cular, a PA seria uma vislo de conjunto contraria a reificante obser- ‘vacdo passiva que oferece possibilidades de utilizagio de tipo buro- critico. Em lugar deste tipo de utilizagao prevatecente, a PA oferece (111 folder, p. 280. REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANTE 95 ‘outras possibitidades que sto principalmente relacionadas com os interesses das populagies consideradas. Deacordo com a nossa concepgHo geral da metodologia, a PA uma proposta de investigagZo a ser articulada dentro de uma ampla visio da ago e da interagao social. A investigaglo nfo pode mais ser concebida de modo indiferente aos aspectos de interagéo entre investigadores e investigados. A PA insere-se num proceso exprestivo, interativo, inovador e conscientizedor. E uma orientagao de metodologia sociolégica, podendo ser esiendida a outras discl- plinas e concretizada no contexto particular das pesquisas em edu- cagio, comunicagao e organizagao, Numa certa medida, 6 uma proposta de ruptura com as concepgtes e adestramentos dos pesqui- sadores convencionais, embora haja muitas posstbilidades de “con- fica e sim uma proposta apenas diferente do que, hoje em dia, est sendo contestado, inclusive por parte de grandes cientistas da natureza Sociologia da agio Mais do que uma simples técnica de pesquisa, a PA pode ser abordada como tema metodoligica dentro do conbiecimento socio- ogico. No estudo da sociologia, nado existe ponte intermedidria entre as teorias gerais ¢ as técnicas de pesquisa empirica. Como E, Verén: “A grande teoria traduz-se ao nivel da téenicn pelo mé- todo de entrevista”. Como tema metodolégico, a PA remete a uma série de proble- who entre elaboragdes teéricas © itwaria © tema da PA no isa de campo. Ao Indo desta delimitacdo, € preciso também especificar a questo da ago, ou da relagdo entre pesquisa social ¢ 2%, E bom lembrar que, independente de uma preccupagio estri- tamente metodolégico-empirica, existe na tradigio sociolégica am- plas problematizagdes da ago social, uma das mais conhecidas sendo a de Max Weber. A ago social & central na sociologia (12) Eliseo Varén, 4 produgao do sentido, S80 Pavio, Cultrix/EDUS?, 1901, p. 48, 9% CARLOS RODRIGUES BRANDAO (org.) weberlana ¢ permanecc central em diversas propostas sociolégicas tes, tal como, por exemplo, a tend ie desembocou numa metodologia itimamente relacionada com a PA." caso dos discursos influenciados pelo functor a cibernética. Noutros casos, a andlise da 4irea organizacional sob forma de praxi ‘comunicago, sob forma de “pragmitica da comunicagio”, fi inte- ressante notar que certos autores inf uenciados por essas diversas tendéncias chegam « formular propostas relacionadas com a PA sem. reproduzirem, é claro, a radjcalidade da PA, quando concebida a partir de orientaglcs criticas, A referéncia a nogto de PA, por si s6, naoestabelece uma ruptura com certas formas de positivismo on de instramentalismo, Em estudos recentes, pode-se notar uma nitida preocupagtio te6rica em torno da acdo e também uma preccupagio observacional, Apesar da diversidade das abordagens, vé-se a possibilidade de um ‘hove espago de problematizacto da relagio entre teoria sociolégica e procedimentos de investigagilo emptrica. O dispositive de pesquisa associado & acto seria um meio importante para levar a cabo esse problematizagio, © que precede pode ser discutido ao nivel goral da saciologia ¢ também nos contextos especificos da pesquisa em educagio, comu- nicagao e organizagio. Os aspectos educativos, comunicativos e or- ganizativos teriam a ver com formas de ago social a serem anali- sadas com do aspectos qualitativamente diversos, mas pos suem fortes ias a partir das quais delincia-se a aplicagao de uma metodologia relativamente homogéuea relacionando teoria © agko ¢ pesquisa sobre a ago, Em todos eles, a forma de agio envolve informagto¢ diregao, Capacidade de aprendizagem Na PA, uma capacidade de aprendizagem 6 associada 20 Processo de investigaeio. Isto pode ser pentado no contexto das (13) A. Touraine, op. cit. REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANT 9 pesquisas em educagio, comunicagio ¢ organizagte. O fato de associar PA ¢ aprendizagem sem divida possui maior relevaneia na pesquisa cducacional, mas é também valido nos outros casos. ‘As pesquisas em educaglio, comunicagio ¢ organizago acom- panham as ages de educar, comunicar ¢ organizar. Os “atores”” sempre {ém de gerar, utilizar informagies ¢ também orientar a ago, fax parte tanto de atividade plangjada quanto da atividade cotidiana, e nfo pode deixar de ser diretamente observado dentro da PA. As agbes investigadas envolvem produgio ¢ cireulago de in- formagio, elucidagio ¢ tomada de decisio © outros aspectos su- pondo uma capacidade de aprendizagem dos participantes. Estes ié possuem essa capacidade adquirida na atividade normal. Nas cir- cunstancias particulares da PA, essa capacidade tem de ser apro- veitacia e enriquecida em fungio das exigéncias da aco em torno de qual se desenrola a investigacio. . ‘© processo de pesquisa insere-se na ago. Sua orientagio remete a consideragdes estratégicas e titicas, a partir das quais, geracdo de infor: em determinadas decisBes so tomadas. Sua efotivagio consist Numa telagdo de investigagio convencional pretende-se, em idade, fechar 20 méximo o mecanisio de captacdo, para que as respostas das pessoas interrogadas sejam emitidas sem ‘feito de apendizagem ¢ sejam diretamente “encaixdveis” naguile ‘que a investigador deseja mostrar ou justificar. Assim, perde-se de vista a questo da aprendizagem e da criagdo 20 nivel das pessoas ou ‘grupos implicados na situacéo. Se fosse aproveitada, a capacidade de aprendizagem permitiria produzir uma informacio niuito mais, i a. Seria possivel superar o caréter individualizado & das respostas e possibilitar uma informagge mals Os efeitos de aprendizagem podem ser observados em ambos os sen- idos. Entre os objetivos da investigagdo, podemos considerar que (14) Em outro contaxto, a interligagio desses sepecto Visio sistémica tal como # dlecutda por Jacques Méldse, "L'approche systt> ‘mique: Une transition?", in: La rencontre de Fngénieur et du philnsophe, (AX), Pati, Edtionsd Grganization, 1890, pp, 89-103, 38 CARLOS RODRIGUES BRANDAO ots.) direcionamento estratégico da comunicagio seja um dos Portantes, especialmente no caso dos meios de comuni ‘massa ¢ das outras formas de comunicagio explicitamente dirigidas, Os efeitos pragmiticas da agio comunicativa podem também ser ‘analisados em termos de aprendizagem. Numa concepgio da PA m: ico, cultural, politico ete.), criador que é recaleado pela De acordo com 2 visio confli- tual da organizagio do trabalho industrial, a “enquete operiria” seria um tipo de PA com participacao dos grupos de trabalhadores. E tipo de pesquisa eujos objetivos sao incompativeis com os das PA organizadas no contexto do “desenvolvimento organizacional” ou da “sociotéenica”. Cortos autores radicais criticam essas diltimas soncepsies como sencdo instrumentos de “‘cotaboracao” de classes, Lingnagem da ac&o A informasao sobre a agao é captada e analisada dentro de ‘grupos de base com a participagio dos pesquisadores. Esses grupos pela atuagio dos pesquisadores, Nesse quadro, a informagto pode ser classificada e analisada em varias categorias Ge elementos de linguagem utilizada na situacio, Por exemple, categorias de expressies remetentes A “agzo de" ou A “ago sobre”, Isto setia um primeira distingao a partir da qual é posstvel ordenar as expressbes geradas na situagio, Na linha da soci touraineana, existe no plano deseritivo outro agrupainento possfvel que é fundamentado em trés princi Pios:!* (18) Antonio Nogr, La efesse cuvridre contre Etat, Pvis, Galiée, 1977. ‘Nos anos 69, Negri penencis a0 grupo associ ‘da enquete of to “enquate do massa sobre rise prote (18) A"Touraine, op. REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANTE. de identidade: quem age? como o autor Gp autodefine? io de oposicio: agio contra quem? como é'definido o ade de totalidade: agdo sobre 0 qué? ago em que terreno? Independente de alguns de seus pressupostos tebricos, esses prin- cipios podem orientar, numa fase descritiva, o repertério das expres- sGes de linguagem dos atores em fungdo des elementos significativos designados na sitvagio investigada. Ha também todo um leque de outras expresstes da ago, relativas & radicalidade, novidade, extensio ou intensidade etc. Em ‘um nivel superior ao de usm simples repertorio, as expressdes da ago podem ser analisadas pelos pesquisadores dentro de consideragbes Pragntiticas. O estudo da comunicagao ¢, especialmente, da passa- gem da expressio ao ato remetem A pragmitica, inc intuito de evidenciar og frequentes paradoxos que se m rnesse setor.” O estudo da aio é muito diversificade, Abrange ele os com- portamentos conscientes ou no, no nivel das ‘educativo e comunicativo, ha também aspectos simbsticos da agio ‘ou, até mesmo, formas de acho simbélica, De modo geral, tos, comportamentos, projet simbélica sfio aspectos a serem consi @ partir das expresses da Jinguagem da agtio em situacio. Certas discussbes dc ordem socioldgica, lingtlistica e epistemolagica so aproveitiveis Para quem quiser conceber procedimentos de PA. Aspectos metodolégicos A PA pode ser concebida como procedimento de natureza exploratéria, com objetivos a serom determinados pelos pesquisa- dores conjuntamente com os interessados. Os resultados da explo- rago sio teis para elucidar a agdo e para desencadear outras pes- uisas. Na sua fungfo clucidativa, a PA pode contebuir a formu- (171 M, Thiollent, “A eaptacio ds infor ls eon: problemas de estoredoe retevane 1 0 nos dispositives de pes- ademas Ceru, 16:81-108, 100 CARLOS RODRIGUES BRANDAO (orp.) ivos, de reivindicagdes ¢ outros meios de ago. Ela pode funcionar conjuntamente com outras técnicas, mais convencio- najs, de menor profundidade e de maior extensio. ‘Numa concepsao de carater mais instrumental do que critico, a PA pode ser orientada em fungdo da resolugio de problemas com a participapdo de anclistas ¢ uswérios. Nesse caso, trata-se de: 1) iden- acompanhar os resultados da a¢o pot intermédio de diversos meios de controle (ver até que ponto © problema esté sendo “resalvido” ou apenas ‘“deslocado"); e 5) fazer uma sintese dos resultados obtidos em todas as fases. comparagio de varias sinteses pode chegar a favorecer uma generalizacao do conhecimento alcangado em todas elas. Esse procedimente de PA, ou algum semethante, 6 formal- ‘mente utilizado por especialistas em sociotécnica ¢ andlise de siste- mas e, nesse caso, no é incompativel com o prevalecente positi- vismo. A PA pode ser orientada especificamente para o contexte da ‘caso & necessario detectar todos os grupos, werferindo na decisio de uma acao. Esse istas de varias disciplinas (citncias sociais, economia, edueagio, comunicagto, organizagao e tecnolo- gia). Nos casos que nos interessam, a PA pode agrupar as disciplinas de base, de modo a privilegiar, em diversas situagdes, 0 equacio- namento dos aspectos educacionais, comunicacionais e organiza- A interpretagio dos fatos observados ¢ dos dados colhidas nto deve ser deixada ao senso comum nem aos impulsos dos partici- pantes. Os pesquisadores profissionais envolvides na PA trazem a bagagem tebrica que possuem para estabelecer explicagdes © inter- pretagdes adequadas. Estas sio expressadas sob forma popular para serem, pelo menos aproximadamente, entendidas pelos nfo-cientis- tas que, eventualmente, possam enriquect-las, A interpretagdo é praticada pelos especialistas, mas ndo € monopolizada por eles, pois sate submetida a0 entendimento dos membros dos dos. Todas as sugest6es destes tltimos sao levadas em ‘consideracao. oo REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANT. or ‘Terminaremos nosso rapido roteiro de questtes metodolégicas abordando.o papel das hipéteses e as condigbes de geragio de dados. 1} Certos autores consideram que, na PA, nao & aplicado o tradicional esquema: formulago de hipétese/coleta de dados/com- rovagdo da hipétese. De acordo com M. Liu, esse esquema nio & aplicdvel nas situagdes sociais de cardter emergente, com aspects de conscientizagio, criaglo ete. A PA seria um procedimento dife- rente, capaz de explorar situacSes ¢ problemas para os quais é , & formulagto de hipéteses retacionando Esse ponto de vista ndo & aceito por todos os idérios da observagio patticipante. Seja como for, podemos considerar que a PA opera a partir de certas instrugdes relativas aos problemas identifieados na stuaslo € relativos aos modos de ago. pesquisa com a situacdo investigada, Todas as fontes documentirias sho aproveitadas. Por sua vez, os participantes ¢ informants trazem ser confundidas com a descrigio da situagdo. Dependendo das ‘qualificagdes dos pesquisadores, diversos métodos ¢ téenieas, inde~ pendentes da PA, podem ser utilizados nela. Por exemplo, pesqui- sadores de formaciio psicologica podem aplicar téenicas de grupo ‘que sejam de natureza a f tidos © a coordenagao sadores de form: de aspectos ling! das, As precedentes observagdes relativas & formulagio de hipste- ses.¢ A gerago de dados, necessariamente incompletas, sto apenas indicagbes provisbrias, O estudo dos aspectos metodolégicos da PA abrange uma temdtica bem mais ampla que no podemos abordar aqui. ir @ elucidagdo dos problemas discu- refas. Por outro lado, com pesqui- ica, & possivel enfatizar a andlise iscursivos dentro das situacdes investiga- (184M, Lu, op. oft 402 CARLOS RODRIGUES BRANDAO (org.) Conelusiio ‘Sem retomarmos todos os aspectos abordados nas precedentes ‘otas, concluiremos com um posicionamento favordvel 4 PA. Embora essa concepgio da pesquisa, a ser distinguida da PP, 1possa ser invocada por pesquisadores pouco escrupulosos, conside- amos que, pelo menos no plano ideal, ela possui certas qualidades metodolégicas @ serem devidamente exploradas. A eventual incon- sisténcia de certas pesquisas no esta ligada 4 presenga ou A au- ia de uma preocupagio de tipo PA. Pois, nos meios contrétios a encontrarmos numerosos relatérios de pes- ides que, no seu género, sio obras-primas de inconsisténcia metodolégica e sociolbgica, APA ni consiste na adogao de uma simples participagao dos pesquisadores no meio investigado ¢ nao significe o abandono das Preocupacbes teéricas da sociologia ou das outras disciplinas envol- vidas no estudo da edu da comunicagio ou da organizagao. Boa parte da teoria sociolégica esta centrada na anélise da acao social. O desenvolvimento da PA mo pode ignorar os prinefpios da teoria da aco. Quando adequadamente direcionada no plano teb- rico, a PA pode contribuir para o estudo de situagbes, instituigdes, movimentos ou processos sociais nos quais esti em jogo uma ago coletiva. Além disso, a informacho captada nessas circunstncias ode ser objeto de diversos procedimentos cujos resultados seriam cotejados com as interpretagdes teériess, Parece-nos necessirlo evi- tar os riscos de uma eventual “demissfo tebrica’ que faria recair a investigagio no “espontaneismo” e noutras formas de desvio. Mesmo reconhecendo que, em certos contextos, a PA é asso- ciada a valores, ideologias ou até mesmo formas de misticismo, nlo podemos condenar as tentativas de tipo PA, na medida em que sto Portadoras de pos ‘convencional. A Algumas delas sao de grande relevancia de ponto de vista das atuais discussbes sobre a filosofia da ciéncia, cialmente no tecante & diversidade qualitativa no real eas exigéncias de didlogo entre diver- sas formas de saber que ndo se deixem mais enquadrar num padre tinico de abordagem. ‘Nos campos da educacko, comunicagio organizagio, a PA exige dos pesquisadores uma grande dedicagtio e o simultane do- minio das questdes tedricas e priticas da investigagio. A PA é 0 [REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANTE 103 contrarlo de uma “receita” ou de uma “panacéia”. E sobretude um orientagao de pesquisa cuja aplicagdo, experimentagfo ou interven- so nde exclui outros recursos técnicos mais convencionai: ‘manecem necessérios em determinadas circunstincias." O papet da metodologia consiste em descrever e avaliar as propriedades, quali- dades, insuficiéncias e distorgdes que séo inerentes a cada técnica. APA nao pretence substituir todas as outras. Em particular, els se aplica a grupos de pequena ou média dimensto; técnicas mais abrangentes sempre serdo necessatias, No entanto, o principal de- safio da PA consiste em produzir novas formas de conhecimento social ¢ novos relacionamentos entre pesquisadores e pesquisados, ‘novos relacionamentos de ambos com o saber. Para enfrentar tal desafio, 6 claro que a PA precisa ser utilizada dentro de uma probl mitica tebriea de orientagio eritica e nfo apenas instrumental. 19] Tema entetiormente abordada no nosto_artiga: “Inve Ascién', in Chasoui. Revists Latincamericana de Comuniceci6n, 1881. ‘Copyright © dos autores Capa: iodo Baptiste da Coste Aguiar Revisdo: José W. 8. Moraes, Nobuka Rachi 3edigo, 1987 Vreimpresso, 2000 na vantseapie (cr) | | | | | | Ennai: brasiiomeedit@uok cam tr Indice ipar-pesquisar — Carlos Rodrigues Brandao........ 7 4 participante: Propostas ¢ Projetos —- Marcela Ga- a 18 Pesquisa participante: Propostas e reflexbes metoolégicas — Guy Le Boterf ... . St Notas para o debate sobre pesquisa-acio — Michel Thiollent 82 Demo ..... ceeeeeneee ceeee Pesquisa participante em um contexto de economt nesa — Vera Gianotten e Ton de Wit Manuel Alberto Argumedo . A participagio da pesquisa no trabalho popular ~ Carlos Rodrigues Brandéo

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