Você está na página 1de 4

Ruy Castro (/colunas/ruycastro/)

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

SEGUIR

A Semana, um menos um
Um de seus membros hoje mais amados foi o primeiro a pôr abaixo os que fizeram
parte dela

27.jan.2022 às 16h13


EDIÇÃO IMPRESSA
(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2022/01/28/)

Leitores às vezes me criticam por "tentar desmerecer" a Semana de Arte


Moderna de 1922. Na verdade, tenho apenas proposto que se aproveite seu
centenário, a se comemorar em fevereiro, para examiná-la sem os antolhos de
sempre. Além disso, seus participantes não eram intocáveis. Veja o que disse
deles por escrito, 30 anos depois, um dos membros hoje mais amados da
Semana.

Sobre Mario de Andrade: "Invertido [gay], mas fecundo"; "Miss Macunaíma";


"Suas únicas relações com o Estado foram através da Força Pública, seção de
Cavalaria, no Jardim Público e em outros coretos noturnos". Menotti del
Picchia: "Um caipira perdido na cidade". Villa-Lobos: "O músico mais
barulhento e vazio do Brasil". Guilherme de Almeida: "Sórdido". Manuel
Bandeira: "Salafra". Brecheret: "Escultor de túmulos" e "Peidava [durante a]
sobremesa, dizendo 'Com licença'".
colunas e blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha; exclusiva para assinantes.

Blaise Cendrars: "Palhaço da burguesia". Paulo Prado: "Mulato aristocrata".


René Thiollier: "Agressivo burro". Cassiano Ricardo: "Ratazana ao molho
pardo". Candido Motta Filho: "Frouxo oportunista". Antonio de Alcantara
Machado: "Cretino de ouro". Augusto Frederico Schmidt: "Tubarão gordo e
boçal". Faculdade de Direito de São Paulo: "O cancro do Brasil". A de Filosofia,
Ciências e Letras: "Um ninho de muares".

Ninguém foi poupado. Monteiro Lobato: "Um asno atrelado à carroça da


reação". Jorge Amado, "Um cavalo". Graciliano Ramos: "Como se pode ter
talento sendo burro?". Alvaro Lins: "Crítico branco ou professor mulato?". Caio
Prado Jr.: "Que cavalgadura!". Julinho de Mesquita Filho: "Um bom filho da
puta". Outros foram chamados de viadão, pederasta, cachorro, mentiroso,
crápula, pústula, mongol, puta pública, turcada boçal, judiada, negro e tarado
imundo.

O autor desses epítetos, Oswald de Andrade, tornou-se, de há muito, a voz


incontestável da Semana de Arte Moderna. Talvez por ter desmerecido todos os
outros que fizeram parte dela.
Participantes da Semana de Arte Moderna de 1922, realizada no teatro Municipal, em São Paulo
(SP)
- Museu da Imagem e do Som

sua assinatura pode valer ainda mais


Você já conhece as vantagens de ser assinante da Folha?
Além de ter
acesso a reportagens e colunas, você conta com newsletters exclusivas
(conheça aqui (https://login.folha.com.br/newsletter)).
Também pode baixar nosso
aplicativo gratuito na Apple Store (https://apps.apple.com/br/app/folha-de-s-paulo/id943058711?
utm_source=materia&utm_medium=textofinal&utm_campaign=appletextocurto) ou na Google Play

(https://play.google.com/store/apps/details?

id=br.com.folha.app&hl=pt_BR&utm_source=materia&utm_medium=textofinal&utm_campaign=androidtextocurto)

para receber alertas das principais notícias do dia.


A sua assinatura nos
ajuda a fazer um jornalismo independente e de qualidade. Obrigado!

notícias da folha no seu email

Você também pode gostar