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PROJUDI - Processo: 0001776-70.2021.8.16.0004 - Ref. mov. 17.

1 - Assinado digitalmente por Jailton Juan Carlos Tontini:12728


16/03/2021: NÃO CONCEDIDA A MEDIDA LIMINAR. Arq: decisao

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba
3ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJXRU U7L3Q Y3GLZ WE3CD


Autos n.º 0001776-70.2021.8.16.0004

Vistos.
Trata-se de ação ordinária proposta pelo SINDUSCON/PR em face do MUNICÍPIO
DE CURITIBA, no qual almeja “a concessão de tutela provisória inaudita altera parte, para declarar
provisoriamente, até o julgamento final da lide, a inaplicabilidade das restrições contidas no Decreto n.º 565/2021 ao
setor da construção civil, determinando-se ao Município que se abstenha de coibir de qualquer forma o exercício regular
de tais atividades construtivas”.
Argumentou-se que o Decreto Municipal n.º 565/2021, que impôs diversas medidas
restritivas em razão da pandemia de COVID-19, não enumera a atividade de construção civil como
essencial, deixando dúvida quanto à possibilidade de desenvolvimento da atividade, a qual
compreende não pode sofrer restrição.
Não lhe assiste razão.
O Decreto Municipal n.º 565/2021 não deixa dúvida.
Em seu art. 3º define o que é atividade essencial e, nos arts. 4 º e 5º, quais são as
atividades essenciais e, dentre elas, não está enumerada a construção civil.
Isto fica ainda mais claro quando se denota que o art. 16 suspendeu a vigência do
Decreto Municipal n.º 470/2020, o qual definia as atividades essenciais e que então previa a
construção civil entre elas, o que não ocorre neste momento de vigência do Decreto Municipal n.º
565/2021.
Frise-se que, no âmbito do Município de Curitiba, segundo o decidido pelo Supremo
Tribunal Federal, o administrador público possui competência para definir quais são as atividades
essenciais e estabelecer restrições ao enfrentamento da pandemia de COVID-19.
Não compete ao Poder Judiciário se imiscuir no mérito do ato administrativo,
definindo quais são as atividades essenciais, notadamente, quando não se vislumbra qualquer
ilegalidade, já que as medidas adotadas pelo Município de Curitiba estão pautadas no grave momento
que vivenciamos, com hospitais lotados, falta de leitos de enfermaria e de UTI, alta taxa de
transmissão da doença e grande número de pessoas infectadas, tudo potencializado pela falta de
vacina em quantidade suficiente para atender todos e pela circulação das novas variantes do
coronavírus.
A atuação do Poder Judiciário neste tema deve ser comedida, faltando-lhe a expertise
necessária para confrontar as decisões técnicas da autoridade sanitária e intervir nas delicadas escolhas
entre manter ou abrandar as medidas de distanciamento social, carecendo, ainda, de competência para
se imiscuir no juízo político do Poder Executivo, o que deve ser feito somente nas hipóteses de
flagrante ilegalidade ou inconstitucionalidade – o que não se vislumbra:
“AGRAVOS DE INSTRUMENTO JULGADOS CONJUNTAMENTE. COVID-19.
SUSPENSÃO DE DECRETO MUNICIPAL E DECRETAÇÃO DE LOCKDOWN.
1. ANÁLISE JUDICIAL QUE DEVE SE RESTRINGIR À LEGALIDADE DO
ATO. OBSERVÂNCIA À DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA. 2.
POSSIBILIDADE DE ESCOLHA PELO GESTOR DA MEDIDA MAIS
ADEQUADA AO ENFRENTAMENTO DA DOENÇA. PRESUNÇÃO DE
LEGITIMIDADE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS. RECURSOS CONHECIDOS
E DESPROVIDOS. “A análise judicial deve se restringir à legalidade do ato, respeitando-se a
PROJUDI - Processo: 0001776-70.2021.8.16.0004 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Jailton Juan Carlos Tontini:12728
16/03/2021: NÃO CONCEDIDA A MEDIDA LIMINAR. Arq: decisao

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba
3ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central

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discricionariedade administrativa assegurada pela Lei. Nesse sentido: “Apenas eventuais ilegalidades
ou violações à ordem constitucional vigente devem merecer sanção judicial, para a necessária correção de
rumos, mas jamais – repita-se – promover-se a mudança das políticas adotadas, por ordem de quem
não foi eleito para tanto e não integra o Poder Executivo, responsável pelo planejamento e execução
dessas medidas” (Suspensão de Tutela Provisória 401/BA. Rel. Min. Dias Toffoli, publicação no
DJe em 02/07/2020)” (TJPR - 5ª C.Cível - 0018623-96.2020.8.16.0000 - Cascavel -
Rel.: Juiz Luciano Campos de Albuquerque - J. 08.02.2021).
Por sinal, é difícil conceber possa o Poder Judiciário chamar para si a tarefa de,
substituindo-se à Administração, dizer se, quando e como poderão as atividades empresariais
funcionar presencialmente sem qualquer restrição ou mesmo tornar a limitá-las caso ocorra
intensificação de contágios ou redução acentuada dos leitos hospitalares (como está ocorrendo neste
momento). As decisões que se tomam a esse propósito dependem de assessoramento técnico e
monitoração constante de dados epidemiológicos, algo de todo impensável no âmbito de um processo
judicial. A visão mais panorâmica do problema, necessária para a adoção de medidas de combate à
pandemia, é própria do administrador, não do juiz.
Em outras palavras, como já referiu o Superior Tribunal de Justiça, “só o administrador,
em contato com a realidade, está em condições de bem apreciar os motivos ocorrentes de oportunidade e conveniência na
prática de certos atos” ou “só os órgãos executivos é que estão, em muitos casos, em condições de sentir e decidir
administrativamente o que convém e o que não convém ao interesse coletivo” (STJ – REsp 208893/PR, rel. Min.
Franciulli Netto, j. 19/12/2003, DJU 22.03.2004, p. 263).
Neste momento, aliás, no aparente confronto entre os direitos constitucionais à saúde
e à vida da coletividade e à liberdade econômica, a autoridade administrativa resguardou aqueles em
cenário absolutamente ímpar, já que é público e notório que nos encontramos no pior momento da
pandemia de COVID-19.
A medida adotada, assim como outras, tem um objetivo claro e notório, o de reduzir a
circulação e a aglomeração de pessoas e, com isso, atenuar o ritmo de contágio da doença de tal modo
que os hospitais tenham leitos suficientes para receber os pacientes mais graves e que necessitem de
internação. Receiam as autoridades sanitárias, baseadas em recomendações técnicas e científicas e
experiências ocorridas em outros locais, que, se não implementadas medidas de distanciamento social,
poderá haver uma catástrofe sem paralelo em termos de número de óbitos – hoje já nos aproximamos
dos 300 mil mortos em todo o país – de pessoas contaminadas pelo vírus. Aqui reside o fundamento
de razoabilidade e proporcionalidade ao decreto municipal questionado, já que se optou por restringir
o desenvolvimento da atividade empresarial, prestigiando o direito à vida e à saúde de toda a
coletividade.
Ademais, o agravamento recente da pandemia, cujos efeitos extrapolam as fronteiras
municipais, desvela a imperiosa necessidade de harmonia e coordenação entre as ações públicas de
saúde, as quais podem restar desestruturadas caso o Poder Judiciário, com conhecimento fracionado
da realidade fática, passe a ditar política pública que não lhe compete, assumindo o protagonismo das
ações de prevenção e enfrentamento ao coronavírus e privilegiando determinado segmento da
atividade econômica em detrimento de outro.
Ante o exposto, indefiro o pedido de tutela provisória de urgência.
Considerando a ausência de conciliador ou de mediador nesta vara, bem como que a
conciliação pode ser tentada a qualquer momento, inclusive em eventual audiência de instrução e
julgamento e mesmo no âmbito extrajudicial, e, ainda, o teor do art. 334, § 4°, II, do CPC, fica
postergada a designação da audiência prevista no art. 334 do CPC para momento oportuno.
PROJUDI - Processo: 0001776-70.2021.8.16.0004 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Jailton Juan Carlos Tontini:12728
16/03/2021: NÃO CONCEDIDA A MEDIDA LIMINAR. Arq: decisao

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba
3ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJXRU U7L3Q Y3GLZ WE3CD


Cite-se a parte ré para contestar no prazo de 30 (trinta) dias, nos termos dos arts. 183 e
335 do CPC, sob pena de, não o fazendo, ser considerada revel (art. 344 do CPC).
Cumpra-se a Portaria n.º 0001/2020, na qual se delegou à Secretaria Unificada das
Varas da Fazenda Pública do Foro Central desta Comarca os atos ordinatórios.
Intimem-se.

Curitiba, data da assinatura digital.

Jailton Juan Carlos Tontini


Juiz de Direito Substituto

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