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UNIOESTE – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CECE – CENTRO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS EXATAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO “STRICTO SENSU” EM
ENGENHARIA QUÍMICA – NÍVEL DOUTORADO

CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUOS

TOLEDO – PARANÁ

ABRIL/2019
JÉSSICA CAROLINE ZANETTE BARBIERI

CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUOS

Trabalho apresentado ao Programa de


Pós-Graduação em Engenharia Química
em cumprimento parcial aos requisitos da
disciplina de Processamento de Resíduos
ministrada pelo Prof. Dr. Camilo Freddy
Mendoza Morejon.

Orientadora: Profª. Dra. Márcia Teresinha


Veit.

TOLEDO – PR / BRASIL

Abril/2019
1 GENERALIDADES

Antes da destinação final todo resíduo deverá ser processado


apropriadamente e a caracterização de resíduos tem papel importante nessa
etapa ao determinar os principais aspectos físico-químicos, biológicos,
qualitativos e/ou quantitativos da amostra. Estes resultados analíticos auxiliam
na classificação do resíduo para a escolha da melhor destinação do mesmo.
Resumindo, a caracterização de resíduos é um processo que identifica a
composição de determinado resíduo e, depois de identificado quais os
componentes, o material poderá destinado adequadamente, sendo a
caracterização constituída de três fases:
Na primeira fase de caracterização é feita a descrição detalhada da
origem do resíduo: em qual estado físico se encontra; o seu aspecto; cor; se
possui odor; e o grau de heterogeneidade.
Na segunda fase da caracterização o resíduo é denominado com base
em qual processo originou-se; de qual atividade industrial pertence; e qual o
seu principal constituinte.
Na terceira fase é definida a destinação do resíduo se será em: aterro
para resíduo perigoso; aterro sanitário; aterro de resíduo inerte (solubilidade);
ou se será destinado para tratamento térmico (Compostagem, Incineração, Co-
processamento, etc.).

2 FUNDAMENTAÇÃO

Os resíduos apresentam-se nos estados sólidos, gasoso e líquido e


podem ser classificados quanto à suas características físicas, quanto à
composição química, quanto à sua origem ou grau de periculosidade (ABNT,
2004; BRASIL, 2012).
Classificação quanto à origem - Lei nº 12.305/2010 (BRASIL, 2012)
• Domiciliar: originado da vida diária das residências, constituído por
restos de alimentos (tais como cascas de frutas, verduras, etc.), produtos
deteriorados, jornais, revistas, garrafas, embalagens em geral, papel higiênico,
fraldas descartáveis e uma grande diversidade de outros itens. Pode conter
alguns resíduos tóxicos.
• Comercial: originado dos diversos estabelecimentos comerciais e de
serviços, tais como supermercados, estabelecimentos bancários, lojas, bares,
restaurantes, etc.
• Serviços públicos: originados dos serviços de limpeza urbana, incluindo
todos os resíduos de varrição das vias públicas, limpeza de praias, galerias,
córregos, restos de podas de plantas, limpeza de feiras livres, etc, constituído
por restos de vegetais diversos, embalagens, etc.
• Hospitalar: descartados por hospitais, farmácias, clínicas veterinárias
(algodão, seringas, agulhas, restos de remédios, luvas, curativos, sangue
coagulado, órgãos e tecidos removidos, meios de cultura e animais utilizados
em testes, resina sintética, filmes fotográficos de raios X). Em função de suas
características, merece um cuidado especial em seu acondicionamento,
manipulação e disposição final. Deve ser incinerado e os resíduos levados para
aterro sanitário.
• Portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: resíduos
sépticos, ou seja, que contêm ou potencialmente podem conter germes
patogênicos. Basicamente originam-se de material de higiene pessoal e restos
de alimentos, que podem hospedar doenças provenientes de outras cidades,
estados e países.
• Industrial: originado nas atividades dos diversos ramos da indústria, tais
como: o metalúrgico, o químico, o petroquímico, o de papelaria, da indústria
alimentícia, etc. O resíduo industrial é bastante variado, podendo ser
representado por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos,
papel, madeira, fibras, borracha, metal, escórias, vidros, cerâmicas. Nesta
categoria, inclui-se grande quantidade de lixo tóxico. Esse tipo de lixo necessita
de tratamento especial pelo seu potencial de envenenamento.
• Radioativo: resíduos provenientes da atividade nuclear (resíduos de
atividades com urânio, césio, tório, radônio, cobalto), que devem ser
manuseados apenas com equipamentos e técnicas adequados.
• Agrícola: resíduos sólidos das atividades agrícola e pecuária, como
embalagens de adubos, defensivos agrícolas, ração, restos de colheita, etc. O
lixo proveniente de pesticidas é considerado tóxico e necessita de tratamento
especial.
Entulho: resíduos da construção civil: demolições e restos de obras, solos de
escavações. O entulho é geralmente um material inerte, passível de
reaproveitamento.

Classificação ABNT 10.004 (2004)

A Norma Brasileira (NBR) da ABNT 10.004 (2004) classifica os resíduos em


Perigosos (classe I) e Não perigosos (classe II) em inertes e não inertes. Os
resíduos classificados como perigosos são aqueles que apresentam algum
grau de periculosidade, ou seja, são os resíduos que, em função de suas
propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas, podem apresentar riscos
à saúde pública e/ou riscos ao ambiente. Estes resíduos podem apresentar,
pelo menos, uma das seguintes características: inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade e patogenicidade (ABNT, 2004).

Classificação de acordo com as características físicas

 Seco: Papéis, plásticos, metais, couros tratados, tecidos, vidros,


madeiras, guardanapos e tolhas de papel, pontas de cigarro, isopor, lâmpadas,
parafina, cerâmicas, porcelana, espumas, cortiças.
 Molhado: Restos de comida, cascas e bagaços de frutas e verduras,
ovos, legumes, alimentos estragados, etc.

Classificação de acordo com as características químicas

 Orgânico: é composto por pó de café e chá, cabelos, restos de


alimentos, cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos, legumes, alimentos
estragados, ossos, aparas e podas de jardim.
 Inorgânico: composto por produtos manufaturados como plásticos,
vidros, borrachas, tecidos, metais (alumínio, ferro, etc.), tecidos, isopor,
lâmpadas, velas, parafina, cerâmicas, porcelana, espumas, cortiças, etc.
Com base na literatura encontrada, a primeira fase da caracterização dos
resíduos envolve a classificação do mesmo de acordo com quanto à suas
características físicas, quanto à composição química, quanto à sua origem ou
grau de periculosidade.

A segunda fase da caracterização processo originou-se; de qual atividade


industrial pertence; e qual o seu principal constituinte. Para verificar a
composição do resíduo existem várias formas analíticas que podem ser
aplicadas de acordo com o estado físico do resido. A seguir são citadas
algumas técnicas analíticas utilizadas na caracterização de resíduos.

2.1 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE RESÍDUOS


SÓLIDOS

Algumas técnicas utilizadas para caracterizar resíduos sólidos incluem


(CALLISTER, 1997):
- A Microscopia (óptica, eletrônica de transmissão - MET e eletrônica de
varredura - MEV) é uma técnica muito utilizada para a caracterização de
materiais sólidos em geral, fornecendo informações sobre as características
físicas da superfície do resíduo sólido, como o diâmetro, a porosidade,
homogeneidade da superfície, dentre outras.
- O EDS (energy dispersive x-ray detector, EDX ou EDS) é um acessório
essencial no estudo de caracterização microscópica de resíduos metálicos e
cerâmicos. Por EDX podem ser caracterizados elementos com número atômico
superior a 11. Quando o feixe de elétrons incide sobre um mineral, os elétrons
mais externos dos átomos e os íons constituintes são excitados, mudando de
níveis energéticos. Ao retornarem para sua posição inicial, liberam a energia
adquirida a qual é emitida em comprimento de onda no espectro de raios-X.
Um detector mede a energia associada a esse elétron. Como os elétrons de
um determinado átomo possuem energias distintas, é possível, no ponto de
incidência do feixe, determinar quais os elementos químicos que estão
presentes naquele local e assim identificar em instantes que mineral está
sendo observado. O uso em conjunto do EDX com o MEV é de grande
importância na caracterização de materiais. Enquanto o MEV proporciona
nítidas imagens o EDX permite sua imediata identificação.
- Para caracterizar a estrutura porosa dos resíduos e obter dados tais como a
área superficial e volume de poros, uma das técnicas mais utilizadas é a
adsorção física de gases e vapores, onde geralmente, utiliza-se a adsorção e
dessorção de N2, podendo também ser utilizado o CO 2 (TEIXEIRA et al., 2001).
- Difratometria de Raios – X (DRX) também podem ser utilizadas para a
caracterização física dos resíduos como a estrutura cristalina do material
(TEIXEIRA et al., 2001).

2.2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE RESÍDUOS LÍQUIDOS

Efluentes industriais sofrem grandes variações em composição e concentração,


já que a diversidade de indústrias é enorme, sendo assim, todos devem ser
avaliados individualmente, podendo haver grandes variações até mesmo em
indústrias do mesmo ramo, devido a variação de matérias primas.
 Para lançamento direto no corpo receptor também são adotados, ainda, os
parâmetros das Resoluções 430/2011 e 357/2005, do Conselho Nacional do
Meio Ambiente – CONAMA. Os principais parâmetros analisados nos efluentes
industriais são:
- Matéria Orgânica: Considerado o principal composto poluente de corpos
d’água, já que pode causar consumo de oxigênio através de microrganismos.
Os principais elementos da matéria orgânica são carbono, hidrogênio e
oxigênio, dependendo de sua origem podem apresentar outros elementos
como nitrogênio, fósforo, enxofre e ferro. A quantidade de matéria orgânica
normalmente é levantada através de análises de DBO ou DQO. Onde DBO
(Demanda Bioquímica de Oxigênio) é a quantidade de oxigênio necessária
para oxidar a matéria orgânica biologicamente; DQO (Demanda Química de
Oxigênio) é a demanda de oxigênio necessária para oxidar quimicamente a
matéria orgânica, na DQO também é oxidada a matéria orgânica não
biodegradável e alguns compostos inorgânicos. A DBO/DQO é muito
importante para o estudo dos possíveis tipos de tratamento.
- Sólidos Totais: São os sólidos que permanecem como resíduos após a
amostra ser exposta a determinada temperatura.
- pH – Potencial Hidrogeniônico: O pH tem grande interferência nas
interações eletrostáticas nas águas residuais, sendo primordial a análise do
mesmo para determinar as formas de tratamento.
- Turbidez: Representa o grau de interferência com a passagem da luz através
da água, conferindo uma aparência turva à mesma.
- Condutividade elétrica: Expressa a capacidade do meio de transmitir a
corrente elétrica, logo é uma forma indireta de indicar a concentração de sais
dissolvidos.
- Oxigênio dissolvido: Principal variável controladora das reações
metabólicas nos sistemas aquáticos e indiretamente traduz a qualidade da
água.
- Temperatura: No tratamento biológico, a temperatura pode alterar a
concentração de oxigênio dissolvido e interferir na velocidade de degradação
dos compostos. Podendo acelerar ou retardar o processo de digestão. Já no
físico-químico por coagulação-floculação pode interferir na formação de flocos.
- Compostos Tóxicos: Podem ser cianetos, sulfetos ou até mesmo uma série
de metais pesados. Esses compostos podem ser encontrados em grandes
concentrações, o que torna inviável o tratamento biológico.
As análises físico-químicas para determinação dos parâmetros citados
normalmente seguem a metodologia descrita em American Public Health
Association (APHA, 1998).

Na análise de compostos tóxicos constituintes de são utilizadas técnicas


analíticas tais como: Titulometria, Espectrometria, Espectrofotometria de
absorção atômica, técnicas cromatográficas, dentre outras (SILVA, 2007).

2.3 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE RESÍDUOS GASOSOS


Alguns resíduos gasosos que podem prejudicar sérias consequências ao
meio ambiente:

Dióxido de carbono/gás carbônico: é liberado na atmosfera através dos


automóveis ou ainda por meio da queima de combustíveis fósseis..

Dióxido de enxofre – A emissão de dióxido de carbono pode ocasionar a


chuva ácida.

Óxido de nitrogênio – Assim como o dióxido de enxofre, a grande emissão


de óxido de nitrogênio também pode ocasionar a chuva ácida.

Algumas análises que tornam possível a caracterização da composição dos


resíduos gasosos são: Cromatógrafia gasosa (CG); Analisadores de
infravermelho (CO, CO2, NOx, SOx e Etanol); Analisadores de
quimioluminescencia (NOx), dentre outros.

3 ESTUDO DE CASO

CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTE TÊXTIL E AVALIAÇÃO DA


CAPACIDADE DE REMOÇÃO DE COR UTILIZANDO O FUNGO
Laslodiplodia theobromae MMPO

Everton Pizato, Aline Chitto Lopes, Raquel Dalla Costa Rocha, Aneli de Melo
Barbosa, Mário Antônio Alves da Cunha

Revista: Eng. Sanit. Ambient. | v.22 n.5 | set/out 2017 | 1027-1035

(ARTIGO em anexo)

4 REFERÊNCIAS
APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for
the examination of water and wastewater. 20. ed. Washington: American Public
Health Association, 1998. 1268 p

BRASIL, CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) - RESOLUÇÃO n o


430, Padrões De Lançamento De Efluentes, MAIO DE 2011.

BRASIL, CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) - Resolução Nº


357/2005 - "Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e
padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências,” 2005.

CALISTER JR., W. D. Materials science and engineering: an introduction, 4 ed,


New York: J. Wiley & Sons, 1997.

PIZATO, E., LOPES, A. C., ROCHA, R. D. C. R., BARBOSA, A. de M., da


CUNHA, M. A. A. Caracterização de efluente têxtil e avaliação da capacidade
de remoção de cor utilizando o fungo Lasiodiplodia theobromae MMPI. Eng.
Sanit. Ambient., v.22, n.5, pp. 1027-1035, 2016.

SILVA, K. K. O. S. Caracterização do efluente líquido no processo de


beneficiamento do índigo têxtil. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, 2007.

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