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Embargos parcialmente acolhidos, nos termos da deliberação majoritária,

para:

1. Deferir o pedido de medida cautelar constante do item a da petição


inicial, a fim de determinar ao Estado do Rio de Janeiro que elabore e
encaminhe ao STF, no prazo máximo de 90 (noventa) dias, um plano
visando à redução da letalidade policial e ao controle de violações de
direitos humanos pelas forças de segurança fluminenses, que contenha
medidas objetivas, cronogramas específicos e a previsão dos recursos
necessários para a sua implementação;

2. Determinar que até que o plano mais abrangente seja elaborado,


atendido o domínio normativo do administração e consideradas as
peculiaridades locais, bem como assegurado às forças de segurança
examinarem diante das situações concretas a proporcionalidade e a
excepcionalidade do uso da força, que o emprego e a fiscalização da
legalidade do uso da força sejam feitos à luz dos Princípios Básicos sobre a
Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis
pela Aplicação da Lei, com todos os desdobramentos daí derivados, em
especial, em relação à excepcionalidade da realização de operações
policiais, a serem avaliadas, quando do emprego concreto, pelas próprias
forças, cabendo aos órgãos de controle e ao Judiciário, avaliar a
justificativas apresentadas quando necessário. Assim, no que tange à
aplicação dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de
Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, tal como
aqui consta (itens “2” e “4”), cabe às forças de segurança examinarem
diante das situações concretas a proporcionalidade e a excepcionalidade
do uso da força, servindo os princípios como guias para o exame das
justificativas apresentadas a fortiori.

3. Criar um grupo de trabalho sobre Polícia Cidadã no Observatório de


Direito Humanos localizado no Conselho Nacional de Justiça.

4. Reconhecer, nos termos dos Princípios Básicos sobre a Utilização da


Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação
da Lei, que só se justifica o uso da força letal por agentes de Estado quando,
ressalvada a ineficácia da elevação gradativa do nível da força empregada
para neutralizar a situação de risco ou de violência, (i) exauridos demais
meios, inclusive os de armas não-letais, e for (ii) necessário para proteger a
vida ou prevenir um dano sério, (iii) decorrente de uma ameaça concreta e
iminente. Cabe ao Executivo local sopesar, de um lado, a necessidade de
reduzir o risco de dano desnecessário aos direitos humanos nas operações
policiais nas favelas, e de outro, as ameaças enfrentadas pelos agentes
públicos no cumprimento de seus deveres estatais. Fica ressalvada a
possibilidade, desde que posteriormente justificada, que o agente do
Estado possa desde logo fazer uso de força potencialmente letal, quando
se fizerem necessárias e proporcionais à ameaça vivenciada no caso
concreto. Em qualquer hipótese, colocar em risco ou mesmo atingir a vida
de alguém somente será admissível se, após minudente investigação
imparcial, feita pelo Ministério Público, concluir-se ter sido a ação
necessária para proteger exclusivamente a vida e nenhum outro bem de
uma ameaça iminente e concreta. Aqui, por igual, como já salientado
acima, cabe às forças de segurança examinarem diante das situações
concretas a proporcionalidade e a excepcionalidade do uso da força,
servindo os princípios como guias para o exame das justificativas
apresentadas a fortiori.

5. Reconhecer, sem efeitos modificativos, a imperiosa necessidade de, nos


termos do art. 227 da Constituição Federal, haver prioridade absoluta nas
investigações de incidentes que tenham como vítimas quer crianças, quer
adolescentes.

6. Indeferir, o pedido constante do item “h” da petição inicial, mantendo o


sigilo dos protocolos de atuação policial no Estado do Rio de Janeiro.

7. Deferir, em parte, o pedido constante do item “d” da petição inicial para


determinar que, no caso de buscas domiciliares por parte das forças de
segurança do Estado do Rio de Janeiro, sejam observadas as seguintes
diretrizes constitucionais, sob pena de responsabilidade: (i) a diligência, no
caso específico de cumprimento de mandado judicial, deve ser realizada
somente durante o dia, vedando-se, assim, o ingresso forçado a domicílios
à noite; (ii) a diligência, quando feita sem mandado judicial, pode ter por
base denúncia anônima; (iii) a diligência deve ser justificada e detalhada
por meio da elaboração de auto circunstanciado, que deverá instruir
eventual auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente por
ato infracional e ser remetido ao juízo da audiência de custódia para
viabilizar o controle judicial posterior; e (iv) a diligência deve ser realizada
nos estritos limites dos fins excepcionais a que se destinam.
8. Deferir o pedido constante do item “e” da petição inicial, para
reconhecer a obrigatoriedade de disponibilização de ambulâncias em
operações policiais previamente planejadas em que haja a possibilidade de
confrontos armados, sem prejuízo da atuação dos agentes públicos e das
operações.

9. Considerando que a legislação estadual vai ao encontro da pretensão da


parte requerente, deferir o pedido constante do item j da petição inicial,
para determinar que o Estado do Rio de Janeiro, no prazo máximo de 180
(cento e oitenta) dias, instale equipamentos de GPS e sistemas de gravação
de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos agentes de
segurança, com o posterior armazenamento digital dos respectivos
arquivos.

10. Indeferir o pedido para que Conselho Nacional do Ministério Público


avalie a eficiência e a eficácia da alteração promovida no GAESP do
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

11. Indeferir o pedido para que eventual descumprimento da decisão


proferida por este Tribunal seja investigado pelo Ministério Público
Federal.

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