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FAVENI – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

PÓS-GRADUAÇÃO EM TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

KELLY OLIVEIRA DE PAULA

SATISFAÇÃO E SOFRIMENTO: A SÍNDROME DE BURNOUT NO OFÍCIO DO


DOCENTE

LARANJAL
2020
SATISFAÇÃO E SOFRIMENTO: A SÍNDROME DE BURNOUT NO OFÍCIO DO
DOCENTE

Kelly Oliveira de Paula1,

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO- O trabalho do docente, dentro da perspectiva de saúde mental, é comumente ligado a


problemas psicológicos. De uma forma geral, os docentes enfrentam salários baixos, são impedidos de
participarem das escolhas da instituição, precisam estar constantemente atualizados, carga horaria
excessiva, entre outros problemas encontrados nas instituições e em suas histórias de vida. Esses
problemas enfrentados por esses profissionais são considerados fontes potenciais de estresse. Burnout é
a síndrome que se resulta de um estresse crônico. Desta forma, este estudo busca realizar uma revisão
bibliográfica das pesquisas mais recentes sobre esse assunto, para que se possa compreender a relação
desta síndrome e a vida profissional dos professores. Conclui-se que existe uma escassez de pesquisas
e estudos referente à saúde mental dos professores e, consequentemente, pouco se tem a respeito de
soluções para esta síndrome.

PALAVRAS-CHAVE: Burnout. Saúde mental. Docente.

1
psy.kellyoliveira@gmail.com
1 INTRODUÇÃO

O ofício em suas diversas formas ocupa a maior parte do tempo dispínivel do


indivíduo e sua vida comum em sociedade. Entretanto, de acordo com os autores Trigo,
Teng e Hallak (2007), a realização profissional do individuo nem sempre depende
apenas do seu trabalho, além de ser capaz de causar problemas e levar o trabalhador a
exaustão.
No cenário atual, são diversas as obrigações dos professores, além de seu
interesse e, até mesmo, de sua carga horária. Além da responsabilidade de cumprir o
seu horário dentro das salas de aula, sempre buscando entregar o melhor conteúdo
para seus alunos, o docente também é responsável por planjear suas aulas, manter-se
em constante reciclagem, atender os pais e orientar os alunos, trabalhos
administrativos da instituição, entre outros (CARLOTTO e PALAZZO, 2006).
Diante de tantas atividades dentro e fora de sala de aula, durante o horário de
trabalho e fora dele, é notório que na rotina do docente existem diversos fatores que
podem o levar a doenças e, se pesistirem, levar a síndrome de burnout. Esta síndrome
é caracterizada como “um tipo de estresse de caráter duradouro vinculado às situações
de trabalho, sendo resultante da constante e repetitiva pressão emocional associada ao
intenso envolvimento com pessoas por longos períodos de tempo” (CARLOTTO e
PALAZZO, 2006, p. 1018).
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a profissão de
professor é considerada uma das mais estressantes, com uma alta ocorrência de
componentes que conduzem o profissional a desenvolver a síndrome de burnout. Esse
fato não é exclusividade do Brasil, o mesmo é observado em diversos outros países e
parece carregar em si características epidemiólogicas no âmbito mundial,
ultrapassando as fronteiras dos países (CARLOTTO, 2011).
A falta de entusiamos e energia, a sensação de esgotamento mental
caracterizam a exaustão emocional que, somado ao sentimento de impotência por não
conseguirem desempenhar suas tarefas com excelencia, causam grande sensação de
frustação aos professores. O trabalhador possui uma tendência a realizar uma
autoavaliação, a qual percebe que sua realização profissional está diminuindo, ao
compreender essa situação em que está inserido e o declínio do seu desempenho
profissional, sua capacidade de interação com alunos e outros profissionais também
tendem a diminuir (MORENO, GIL, et al., 2011).
Com o advento da tecnologia, no inicio dos anos 90, a rotina de vários
profissionais foram impactadas de forma direta, aumentando assim o trabalho e a
complexidade das atividades. Diante disso, o estresse já é considerado uma epidemia
global pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que se justifica pela enorme
cobrança por produção e desempenho vividos pelos profissionais atualmente. Ao ser
pressionado, o docente pode desenvolver sintomas como, insônia, irritação, tensão,
sofrimento, aumento do adoecimento e até a morte. Na atualidade já são registradas
mortes súbtas por trabalho em demasia. Dessa forma, a qualidade do serviço do
trabalhador e sua produção são diretamente afetados, podendo gerar até diminuição na
lucratividade da instituição e diminuição no nivel de aprendizado dos discentes
(ANDRADE e CARDOSO, 2012).
Este artigo possui como objetivo geral realizar uma revisão bibliográfica sobre a
relação do trabalho do docente e o que pode levá-lo a síndrome de burnout. O estudo
também busca apresentar os fatores que podem desencadear está síndrome nesses
profissionais e o que pode ocasionar de malefícios para a instituição em que este
profissional trabalha e para os individuos atingidos por ela.
A revisão bibliográfica foi realizada através de buscas pelo site Google
Acadêmico e SciELO, utilizando termos como: “síndrome de burnout”, “síndrome de
burnout e docentes” e “síndrome de burnout em professores”. Para realizar esta busca
foi delimitado um período de 2002 a 2020 e foram selecionados somente os artigos em
português que se relacionavam com este tema.
Os artigos selecionados para o estudo foram feitos por meio de revisões
bibliográficas, usando métodos empíricos e epidemiológicos, além dos conceituais,
todos eles relacionados a síndrome de burnout.
Artigos que envolviam a síndrome burnout, mas se relacionavam a outras
profissões foram excluidos.
2 O TRABALHO DOCENTE

Todo trabalho apresenta grande relevância tanto para sociedade quanto para o
indivíduo de maneira pessoal. Com o passar dos anos, a palavra trabalho recebeu
diversos significados, pode ser visto como a única forma de se garantir o sustento da
família e pessoal, também pode ser percebido como meio de realização profissional e
fonte de prazer, e a docência não foge dessa perspectiva (BENEVIDES-PEREIRA,
2012).
Docência possui como significado indicar, mostrar, instruir, ensinar, e passou a
ser usada por volta de 1916. O trabalho dos professores vai muito além das salas de
aula, com o passar do tempo e com novas tecnológicas e pesquisas, novas condições
de ensino, tendem a aumentar a complexidade do trabalho do docente (UTIYAMA e
OLIVEIRA, 2013).
Nos tempos mais antigos, o ensino era considerado uma atividade nobre, em
que o professor era detentor de toda a sabedoria e, dessa forma, era respeitado e
venerado por ser a fonte de toda a sabedoria. Com o passar dos anos, principalmente
em nossa cultura, este prestígio foi sofrendo uma diminuição, além da remuneração
para esta profissão, o que ocasionou uma série de consequências, tanto nos discentes
quanto nos profissionais da educação (BENEVIDES-PEREIRA, 2012).
As práticas do docente apresentam alguns acontecimentos que podem ser fontes
geradoras de estresse, entre eles pode-se destacar: boatos no ambiente de ensino,
expectativas frustradas da carreira, idealidade no resultado do ensino, além do
sentimento de incapacidade diante das exigências das instituições que estão cada vez
maiores (PORTO-MARTINS e AMORIM, 2011).
Por muitas vezes a profissão do docente é considerada como talente e dom, uma
missão que este profissional deveria realizar, e não como uma profissão como todas as
outras. Tal fato, a remuneração do docente, chega a ser assemelhada a uma “ajuda de
custo” e não um salário como profissional (BENEVIDES-PEREIRA, 2012).
A profissão de professor, assim como as outras, tem sofrido diversas alterações,
que ocasionam o aumento da responsabilidade do docente, alteração nos contextos
sociais, modificando drásticamente o papel do profissional, sendo considerada como
“profissão impossível”. Essas alterações nos papéis desempenhados pelos docentes,
pode estar relacionada diretamente ao que se chama atualmente de “avanço contínuo
do saber”. Assim sendo, além da reciclagem contínua desses profissionais, os
professores devem absorver conteúdos que não foram revelados durante sua formação
como profissionais. Dessa forma, os docentes que ainda querem ser reconhecidos
como detentores do saber, podem sofrer questionamentos e ser gerados em sí,
sentimentos de mal-estar (CARLOTTO, 2002).

3 O DOCENTE E O ESTRESSE

Presente em qualquer profissão, o estresse se encontra quando o profissional é


exposto a condições de trabalho que contribuem para o cansaço, tanto mental quanto
físico. O esgotamento psicológico e físico aparece quando existe um sofrimento
constante, ocasionando o estresse ocupacional (WEBER, LEITE, et al., 2015).
A realidade vivida pelos professores da atualidade se baseia em um grande
contexto de incertezas, além de falas que foram silenciadas, aborrecimentos contidos,
mal-estares vividos em sua rotina, entre outros fatores responsáveis por desencadear
os sintomas de estresse (PAULA e NAVES, 2010).
As necessidades educacionais estão sofrendo mudanças constantemente, tal
fato exige que o profissional da educação tenha uma boa habilidade para se relacionar
com os alunos, colegas de trabalho e superiores. Quando o docente não consegue
acompanhar o ritmo e velocidade das mudanças, surgem conflitos que podem
desencadear o estresse no profissional (WEBER, LEITE, et al., 2015).
As principais fontes causadoras de estresse no docente são: conflitos com
alunos, conflitos no ambiente de trabalho/instituição de ensino, gestores da instituição
de ensino, as condições de trabalho ofertadas pela instituição, a carreira de professor,
história de vida do profissional, imprevistos na vida pessoal e famílias, entre outros.
Entretanto, a maior delas é, sem dúvida, a desmotivação e indisciplina oriunda dos
alunos (PORTO-MARTINS e AMORIM, 2011).
4 A SÍNDROME DE BURNOUT

No jargão inglês, a palavra burnout é definida como uma interrupção da atividade


laboral por falta total de energia. Representativamente, é aquele ou aquilo q atingiu seu
limite, gerando um alto dano em seu comportamento mental e em seu físico (TRIGO,
TENG e HALLAK, 2007).
Considerado como uma variação do estresse ocupacional, Burnout atinge
profissionais que são circundados em relações emocionais, contínuas e de atenção
direta. Entretanto, as profissões que são mais suscetíveis são as que abrangem
educação, tratamento ou serviços (CARLOTTO, 2002).
Quando o estresse se torna crônico, dá-se início a síndrome de Burnout.
Buscando responder a este estresse vivido pelo profissional e aos sintomas e
dificuldades, percebe-se o surgimento desta síndrome no indivíduo (BENEVIDES-
PEREIRA, 2012).
No momento atual, a definição mais usada para esta síndrome é baseada na
concepção do autor Maslach e coautores, que consiste em três fatores: declínio da
realização profissional e pessoal no ambiente de trabalho, perda da própria
personalidade (despersonalização) e exaustão emocional (CARLOTTO, 2002).
A despersonalização, também chamada de cinismo, que apresenta uma
caracteristica forte de burnout, pois esta síndrome é marcada pelo desenvolvimento de
condutas e ações destituidos de envolvimento e interesse emocional com as outras
pessoas do seu convívio, marcado pela desumanização no contato com os outros e uso
de ironia e cinismo nos relacionamentos (BENEVIDES-PEREIRA, 2012).
O estresse (tensão) excessivo e prolongado no ambiente do trabalho pode ser o
responsável pelo o início da síndrome de burnout. O diagnóstico é baseado em quatro
conceitos referentes à origem da síndrome: sócio-histórica, organizacional, sócio-
psicológica e a clínica, entretanto a mais comum é a sócio-psicológica. Neste conceito
as características individuais do profissional quando associada aos problemas do
trabalho, são fontes em potencial para o início do estresse (TRIGO, TENG e HALLAK,
2007).
O primeiro artigo sobre essa síndrome, no Brasil, foi no ano de 1987, e as
primeiras pesquisas datam meados da década de 1990. O principal desencadeador de
burnout tem sido apontado como a organização do trabalho, principalmente quando há
grandes demandas de trabalho e recursos limitados, assim como elevada
responsabilidade e pouca autonomia (BENEVIDES-PEREIRA, 2012).

5 O BURNOUT NA DOCÊNCIA

O esgotamento dos professores, também chamado de síndrome de burnout em


docentes, é uma manifestação multidimensional e complicada que resulta da relação
entre questões individuais e do trabalho. Este cenário não é relacionado apenas com as
classes de alunos ou a instituição, e sim com todos os elementos que fazem parte
desta relação (profissional, aluno e instituição), compreendendo os aspectos
macrossociais e sócio-históricos (CARLOTTO, 2002).
A síndrome de burnout, manifestada em docentes, são patologias
psicossomáticas e é o resultado da relação de processos mentais e psicológicos das
funções do corpo e dos órgãos internos. Um motivo preponderante para o
desenvolvimento dessa síndrome, sem dúvidas está relacionada à baixa valorização
dos docentes. Essa baixa valorização é resultado do próprio cenário vivido por estes
profissionais e das instituições de ensino, assim sendo, as expectativas pessoais do
docente e a realidade do cotidiano de trabalho não combinam (ANDRADE e
CARDOSO, 2012).
Burnout acontece quando o docente percebe que seu empenho não é
equivalente a sua gratificação, e os esforços realizados no futuro não serão justificados
ou comprovados. É preciso levar em consideração as particularidades nas atividades
dos docentes e nas características das instituições de ensino (CARLOTTO, 2002).
Diretamente ligado à exaustão emocional, a carga horária se comporta como um
fator primordial para o desencadeamento da síndrome. Com a expansão do ensino
privado e o aumento de alunos, pode gerar no professor um esgotamento mental e
emocional. A literatura aponta o cansaço mental como um fator de grande impacto
sobre o bem-estar dos docentes (ANDRADE e CARDOSO, 2012).
Para Benevides-Pereira (2012), mesmo que os docentes sejam conduzidos por
normas normais e desenvolvam o mesmo tipo de ensino, é preciso se atentar para qual
o método de gestão que é desempenhado na instituição de ensino, o apoio que a
instituição disponibiliza para o docente e demais funcionários, além do ambiente
encontrado na organização.

6 CONCLUSÃO

O problema da educação no Brasil é permanente e duradouro. É grande o


número de docentes que largam a profissão mesmo tendo dedicado anos de trabalho
aos alunos e instituições, ocasionando a perda de profissionais que levaram anos se
especializando e se preparando para oferecer a melhor qualidade de ensino aos
discentes, mas que se sentem sem ânimo por não encontrarem suporte para realizar
sua atividade laboral da melhor maneira possível.
A revisão de literatura realizada neste estudo verifica a ausência de análises
referentes a esse tema. Nas pesquisas encontradas verificou-se apenas a descrição
dos problemas e nenhum método para prevenir este problema, buscando cuidar da
saúde mental do docente.
Existem diversos perfis de profissionais no setor da educação, cada um com
características individuais distintas. Dessa forma, vários fatores interferem nessa
situação, assim como a história de vida do indivíduo, o que gera uma dificuldade para
que se defina a fonte causadora do problema e a relação entre os problemas no
ambiente de trabalho e a saúde mental.
Ao se levar em conta os sintomas da síndrome de burnout é possível inferir que
a maioria dos docentes atingidos por ela podem nem saber o que está acontecendo
com sua saúde mental. Dessa forma, é provável que exista um grande número de
profissionais afetados por essa síndrome. É preciso que exista um cuidado maior com a
saúde mental dos professores, proporcionando um salário adequado a classe,
condições apropriadas para desenvolvimento do trabalho, reconquistando a importância
diante da sociedade.

7 REFERÊNCIAS

ANDRADE, P. S. D.; CARDOSO, T. A. D. O. Prazer e dor na docência: revisão


bibliográfica sobre a Síndrome de Burnout. Saúde Soc., São Paulo, v. 21, p. 129-140,
2012.

BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. Considerações sobre a síndrome de Burnout e seu


impacto no ensino. Boletim de Psicologia, Maringá, v. LXII, p. 155-168, 2012.

CARLOTTO, M. S. A síndrome de Burnout e o trabalho do docente. Psicologia em


Estudo, Maringá, v. 7, p. 21-29, Jan./jun. 2002.

CARLOTTO, M. S. Síndrome de Burnout em professores: prevalência e fatores


associados. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 27, p. 403-410, out./dez 2011.

CARLOTTO, M. S.; PALAZZO, L. D. S. Síndrome de Nurnout e fatores associados: um


estudo epidemiológico com professores. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, p. 1017-
1026, Mai 2006.

MORENO, F. N. et al. Estratégias e intervenções no enfrentamento da síndrome de


Burnout. Rev. Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, p. 140-145, jan./mar. 2011.

PORTO-MARTINS, ; AMORIM, C. A. Estresse e engagement no trabalho docente. X


Congresso Nacional de Educação - Educere, Curitiba, p. 15963-15973, novembro
2011.

TRIGO, T. R.; TENG, T.; HALLAK, J. E. C. Síndrome de Burnout ou estafa profissional


e os transtornos psiquiátricos. Rev. Psiq. Clín., São Paulo, p. 223-233, 2007.
UTIYAMA, J.; OLIVEIRA, C. D. O trabalho docente sobre a ótica da síndrome burnout.
Espaço pedagógico, Passo Fundo, v. 20, p. 189-202, jan./jun. 2013.

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