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Questão de sobrevivência

Olavo de Carvalho

Visão Judaica, 12 de junho de 2008

Arnold Toynbee dizia que as civilizações perecem estranguladas pela dupla


pressão de um “proletariado externo” e de um “proletariado interno”. Não sei se
como teoria histórica isso vale alguma coisa, mas Toynbee não foi somente um
filósofo da História: foi também e principalmente um colaborador dos círculos
globalistas interessados em criar um governo mundial. Se o esquema de A Study
of History não serve para explicar o que se passou ao longo dos milênios, vem
servindo muito bem como guia para o empreendimento de destruição sistemática
das soberanias nacionais – de todas as soberanias nacionais, mas especialmente
daquelas duas que mais podem oferecer obstáculo às pretensões globalistas: a
dos EUA e a de Israel.

Enquanto as demais nações cedem alegremente o controle de seus assuntos


internos mais importantes para organismos internacionais aos quais a sua
população não tem o menor acesso, aquelas duas continuam exercendo o direito
tradicional de tomar suas próprias decisões. Faltando o proletariado externo e
interno que possa destruí-las, o poder globalista se apressa em fornecer
artificialmente essa dupla carga explosiva, de um lado financiando a rede mundial
de ONGs com a função de gritar dia e noite slogans anti-americanos e anti-
israelenses, de outro fomentando a imigração legal e ilegal em termos
“multiculturais” que não podem ter como resultado senão a dissolução dos sensos
de identidade das nações hospedeiras, mais dia menos dia.

Os motivos para a resistência americana são bem claros: os EUA criaram a maior,
a mais estável, a mais próspera e a mais duradoura democracia que o mundo já
conheceu, e o fizeram sem nenhuma ajuda de organismos internacionais, os
quais, ao contrário, dependem da contribuição americana em quase tudo. E os
EUA têm uma Constituição que não permite ao seu presidente ceder um milímetro
cúbico da soberania nacional a quem quer que seja – Constituição que não é só
um documento jurídico, mas a fonte viva do senso de orientação dos americanos
em inumeráveis situações da vida.

Israel, porém, tem muito mais que isso: tem cinco milênios de História, tem a
consciência da sua missão no mundo e tem a lembrança de sofrimentos horríveis
que jamais teriam podido lhe ser impostos se não fosse a sua condição de povo
nômade, obrigado a lutar pela vida “in partibus infidelium“.

Embora muitos judeus hoje em dia, sobretudo nos círculos intelectuais elegantes,
sejam idiotas o bastante para ignorá-lo ou cínicos o bastante para fingir que o
ignoram, o fato é que a defesa da soberania territorial de Israel é uma questão de
sobrevivência não só para os seus habitantes, mas para todos os judeus
espalhados pelo mundo. E, junto com a soberania territorial, vêm todas as demais
formas de soberania: militar, jurídica, diplomática, etc. Qualquer concessão que
Israel faça às pressões do globalismo, por mínima que seja, coloca em risco o
futuro do povo judeu inteiro. Principalmente quando essas pressões, exercidas
por meio de um arremedo de “proletariado externo” regiamente subsidiado por
banqueiros internacionais, alegam agir em defesa de um “proletariado interno”
que por sua vez é uma farsa no sentido mais pleno da palavra. Os únicos
“palestinos” que algum dia existiram são os próprios judeus. Todos os outros são
uma fabricação grotesca inspirada na fórmula de Toynbee.

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