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O PRONATEC COMO FORMA SOCIAL E SUAS DETERMINAÇÕES NA REDE

FEDERAL DE EDUCAÇÃO

Bartolomeu L. de Barros Jr.*


Mestre em Educação (UFRRJ)
André Ricardo Dias Santos*
Doutorando em Filosofia (UFPB)

*Professores do Instituto Federal de Educação do Sertão Pernambucano

GT 05: Marxismo e debate contemporâneo (...).

Resumo: O estudo apresentado visa pautar uma discussão sobre o Programa


Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, desenvolvido pelo
governo da presidente Dilma Rousseff em 2011. A presente investigação dá-se no
âmbito da observação do desenvolvimento do Pronatec em nossa instituição de
origem. Pretendemos realizar uma análise crítica desta forma de ensino, na medida
em que identificamos na consolidação e ampliação do Pronatec no âmbito dos IFEs
a sedimentação de uma concepção de trabalho que se conforma nos discursos
hegemônicos da ordem política e econômica capitalista.

Palavras-chave: Educação, técnica, capitalismo, Pronatec.


Introdução
Segundo suas diretrizes, o Pronatec tem como objetivos institucionais a
expansão, interiorização e democratização da oferta de educação profissionalizante;
contribuir para a melhoria do ensino público através da articulação com a educação
profissional; ampliar as oportunidades educacionais dos trabalhadores por meio do
incremento da qualificação profissional; e, por fim, promover a articulação entre a
política de formação profissional e a geração de empregos. O programa prevê
atendimento para a oferta de cursos e bolsas de formação inicial e continuada (FIC),
como também de cursos técnicos concomitantes ao ensino médio e subsequentes
pelo sistema S, Institutos Federais e iniciativa privada.
Pretendemos realizar uma análise crítica desta forma de ensino, na medida
em que identificamos na consolidação e ampliação do Pronatec no âmbito dos IFEs,
a sedimentação de uma concepção de trabalho que se conforma nos discursos de
autoridades políticas e econômicas; é esta concepção que configura a forma social
resultante dos propósitos do referido programa. Neste, o ensino surge como uma
dimensão social necessária para “aprimorar” os modos de vida da população através
do aprofundamento da divisão do trabalho e de uma formação para a servidão
moderna. Nesta relação encontramos inconsistências e contradições importantes
capazes de nos apontar uma realidade corrente, na qual o trabalho é dominado pelo
capital, subjugando uma parte da população jovem trabalhadora no sentido de
conformar suas determinações históricas.
Acompanhando essa lógica identificamos um panorama político no país que
revela um projeto de educação que tem se configurado como arquétipo da
reprodução das necessárias investidas subjetivas de algumas formas sociais
capitalistas. Em nosso recorte, o Pronatec se constitui como forma por suas relações
com a forma mercadoria, quando da reprodução do fetichismo ou no estranhamento
que se funda pelas relações de trabalho no modo de produção atual. Daí que temos
a educação não apenas como campo disciplinar para acumulação de riqueza, mas
antes disso, como processo de alienação, ou melhor, como forma a ser subjetivada
e estranhada nas relações sociais.
Esperamos que seja possível responder a seguinte questão: no cenário
histórico vivido pela educação técnica profissionalizante no país, como os Institutos
Federais de Educação assumem e representam o Pronatec?
Uma primeira hipótese tenta traduzir essas contradições, na medida em que
compreendemos fazer-se necessária uma crítica ontológica como método, pois,
políticas como o Pronatec parecem aprofundar o estranhamento das relações de
formação para o trabalho, quando de suas repercussões derivadas do modelo de
produção que se serve da educação para sua reprodução e acumulação.
Compreendendo a escola pública atual como reprodutora dos mecanismos
do capital para a formação de uma classe trabalhadora explorada. Esta se constitui
em uma forma social necessária para a dinâmica do metabolismo social do capital.
Em seu movimento, enquanto objeto, a escola tende a ter relações com a forma
mercadoria, participando do conjunto generalizado dominado pelo capital. Como nos
lembra SAVIANI (1996) “Assim como a categoria ‘capital’ (...), a categoria ‘escola’
(...) opera como uma ‘iluminação geral que modifica as tonalidades particulares de
todas as cores’ (MARX)”.
Em relação a uma crítica ontológica necessária nos apoiamos em DUAYER
(2012) e MASCARO (2013); para o desenvolvimento deste estudo, adentramos em
referências consolidadas que atuam na relação agora pautada, seguindo o claro
delineamento dado à centralidade do trabalho para a compreensão da realidade. Por
este interim, os estudos apontados em ANTUNES (1999) devem nos balizar.
O Pronatec e a reprodução da mercantilização do ensino
Na sua caracterização, a forma de ensino que ampara o Pronatec parece ser
dada pela ausência de diálogo entre os movimentos sociais de educação e trabalho
e a comunidade acadêmica, confirmando sua concepção e implantação por decisões
burocráticas advindas de acordos entre Estado e capital. É característico destes
projetos o uso e alocação de recursos públicos para o mercado privado e o
fortalecimento do ensino privado; o caráter de uso eleitoreiro da disposição de vagas
em massa, cursos criados por supostas demandas de mercado local, dissociação
com o sistema educacional (ensino regular), tecnicismo e centralidade no emprego,
além da reprodução da precarização das condições de trabalho. Aspectos de uma
lógica própria que parte de interesses bem significativos junto ao desenvolvimento
das relações sociais capitalistas.
Ao observar os investimentos em educação no país nos últimos anos
constatamos um avanço significativo na alocação de recursos para as diversas
modalidades de ensino, a saber, desde a educação infantil, com o aumento do
número de creches, passando pela ampliação de vagas e as atuais políticas de
ensino integral para o ensino médio e a ampliação do ensino técnico
profissionalizante, subsidiados pelo Pronatec, além dos incentivos promovidos para
os cursos superiores de iniciativas privadas, a exemplo do Programa Universidade
Para Todos - Prouni e o Fundo de Financiamento Estudantil – FIES. Este misto de
investimentos incorpora a transferência de recursos para a iniciativa privada,
subsidiada agora com a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), com
perspectivas do aumento de investimentos atrelados ao Produto Interno Bruto (PIB)
nacional que passará de 6,4% para os 10% em dez anos. Assim, observamos que
pelo esforço da universalização da educação incidem questões importantes que
merecem atenção.
Atualmente o “setor da educação” tem se destacado no domínio financeiro
como um campo de investimentos que tem rendido bons lucros. Alguns grupos de
investimentos ampliaram suas ações pela aliança de empresas que atuam no
negócio da educação com perspectivas de retorno jamais percebidas no país. A
exemplo dessas transações, identificamos neste ano o destaque dado a dois grupos
de empresas apontados como os mais valorizados e bem geridos dentre diversos
outros setores:

Com mais de 1 milhão de alunos e valor de mercado superior a R$


26 bilhões, a Kroton é uma companhia de superlativos. Em junho, o
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e os
acionistas aprovaram a fusão com Anhanguera, criando o maior
grupo de ensino superior do mundo, considerando o volume de
matrículas e valor de mercado. A receita líquida estimada da nova
companhia para este ano é de R$ 4,7 bilhões. Antes da fusão, entre
2011 e 2013, o lucro líquido da empresa saltou de R$ 37 milhões
para R$ 516 milhões. Neste ano, o lucro da nova companhia deve
ultrapassar a casa de R$ 1 bilhão. A boa performance também é
percebida pelos investidores. Entre janeiro e agosto, o papel da
Kroton acumula uma valorização de 70,7% — percentual bem acima
dos 14,3% de alta do Ibovespa (KOIKE, 2014).

Nada difere frente às conquistas do Grupo Ser Educacional, conforme a


seguinte notícia,

O Grupo Ser Educacional registrou receita líquida de R$175,6


milhões no segundo trimestre de 2014, alta de 54,6% frente ao
resultado obtido no mesmo período do ano anterior. Considerando-se
o semestre completo, a companhia obteve receita líquida de R$330,1
milhões, alta de 49,7% em relação ao intervalo de janeiro a junho de
2013 (RIOS, 2014).

É neste mesmo cenário de investimentos e retornos financeiramente


atraentes que se localiza, notadamente, o ensino profissionalizante de nível médio.
Esta modalidade de ensino tem contribuído para justificar os arranjos políticos que
buscam viabilizar sua presença como elemento essencial para o desenvolvimento
econômico do país. Entendemos que a educação técnica profissionalizante tem sido
objeto de altos investimentos por possuir uma relação com a força de trabalho capaz
de garantir em tempo hábil o aprimoramento adequado às demandas do mercado de
trabalho.
Neste contexto, concordamos em afirmar a tese sobre as novas exigências
sobre a lei do valor que compreende o trabalho na contemporaneidade como
trabalho social que é, segundo Antunes,
Mais complexificado, socialmente combinado e ainda mais
intensificado nos seus rimos e processos. [...] a sociedade do capital
e sua lei do valor necessitam cada vez menos do trabalho estável e
cada vez mais das diversificadas formas de trabalho parcial ou part-
time, terceirizado, que são, em escala crescente, parte constitutiva
do processo de produção capitalista (ANTUNES, 1999, p. 119).

Destarte, encontramos uma contradição nessa relação que muito tem se


refletido na escola, caracterizando o que Kuenze (2007) trata por dualidade
estrutural. Este termo nos indica duas vias resultantes no processo de produção,
uma que se limita a simplificação do trabalho, outra que o traduz em sua
complexidade. A relação que se estabelece nessa dualidade tem demonstrado como
a sociedade tem se organizado por representações que, por um lado, se colocam a
preservar sua participação no direcionamento e no desenvolvimento das forças
produtivas, e outras representações nas quais se encontram resistências e
acomodações para operacionalizar o produto resultante do processo complexo
criado por aqueles que detêm o seu domínio.
Diante de um cenário como este, onde milhões de jovens 1 estão tendo a
oportunidade de usufruir de serviços de formação técnica profissionalizante, pelas
justificativas de qualificar urgentemente a mão de obra nacional para os desafios 2

1 Segundo matéria publicada pela BBC Brasil, o programa já matriculou cerca de 7,5 milhões de
brasileiros em cursos técnicos e profissionalizantes patrocinados pelo governo ao custo de R$ 14
bilhões em investimentos. A promessa do atual governo é chegar a 8 milhões de inscritos até o fim do
ano e 20 milhões - ou 10% da população - até 2018, se a presidente for eleita. Disponível em
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140821_salasocial_eleicoes2014_campanha_prona
tec_ru.shtml . Atualizado em 1 de setembro, 2014 - 06:54

2 Desde 2011, por exemplo, a folha salarial da indústria cresceu 12,7%, mas a produtividade do
trabalho no setor aumentou apenas 2,6%, o que prejudicou sua competitividade", diz Alessandra
Ribeiro, da consultoria Tendências, citada por Ruth Costas na matéria da BBC Brasil, disponível em
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140820_salasocial_eleicoes2014_pronatec_ru.shtm
que se impõem ao “desenvolvimento do país”, o governo brasileiro discursa em
avançar para instituir o Pronatec enquanto política educacional de Estado.
Neste sentido, as estratégias para atender tal demanda se configuram como
um pacto nacional que possibilita o surgimento de transações e articulações
necessárias para o desafio que se apresenta. Interessa-nos conhecer essa trama
envolvente na qual diversas representações de poderes se alinham, por uma certa
forma que molda tipos de interações econômicas e políticas, sobre nobres projetos
de qualificação e formação para o trabalho. A exemplo, acompanhamos a criação de
um canal de transferência de recursos do setor público para a iniciativa privada
expresso em montantes consideráveis, ainda não conferidos na história do ensino
técnico profissionalizante no país. Recursos esses que se somam ao sucesso atual
de grandes empresas, como as citadas acima. Conforme indica o Jornal Valor
Econômico:
A empresa de educação Kroton recebeu do Ministério da Educação
(MEC) autorização para oferecer 28,1 mil vagas no programa
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). O
número já considera as vagas oferecidas pela Anhanguera, que foi
incorporada ao capital da Kroton. [...] Essas vagas são referentes à
modalidade bolsa formação, a qual oferece bolsas de estudos
totalmente subsidiadas pelo governo federal. As matrículas começam
em 30 de julho e as aulas terão início entre 18 de agosto e 15 de
setembro de 2014. [...] A Ser Educacional, por sua vez, recebeu
autorização do MEC para oferecer 9,35 mil novas vagas no Pronatec
(MEIBAK, 2014)

Às vistas dos movimentos sociais, sindicatos e representação estudantil,


essas relações vêm desencadeando avaliações e análises críticas que buscam
traduzir o sentido destas, bem como suas derivações dentro do processo de
produção de riqueza. Alertam para as condições mediadas por um tipo de educação
que visa proporcionar o modelo de desenvolvimento concebido pela resultante
dessas relações sociais estabelecidas. A título de exemplo dessas análises, a
Federação Nacional de Estudantes do Ensino Técnico (FENET), em nota oficial de
seu último encontro destaca alguns pontos contraditórios dessas investidas:

O programa prevê, conforme estabelecido pelo art. 6°, § 1°, a


dispensa de auditorias para a realização de convênio, acordo,
contrato e ajuste para o pagamento das bolsas de formação às
Instituições de Educação do Sistema S. Permitindo assim, que
dinheiro público seja repassado à iniciativa privada sem que

l. Atualizado em 1 de setembro, 2014 - 06:53.


haja um controle efetivo, com exigências e contrapartidas
previamente estabelecidas. Assim, os recursos que poderiam ser
utilizados para o desenvolvimento de uma rede pública de educação
profissional passarão a ser utilizados para o fortalecimento das
instituições privadas (FENET, 2014. Grifo do autor).

Para o Sindicato Nacional dos Servidores da Educação Federal –


SINASEFE,

Ao falarmos de Pronatec, temos que ter consciência dessas


questões e entender que o nível de flexibilidade política,
orçamentária e pedagógica que vem pautando esse programa tem
atendido, sobretudo, aos interesses privatistas da educação
brasileira. (SINASEFE, 2014).
De alguma maneira esta reação se explica devido ao grande volume de
recursos que vem sendo mobilizado desde sua implantação no ano de 2011, com
cerca de 80% direcionados para o Sistema S, do total de bilhões 14 bilhões a serem
investidos até 2014. Enquanto isso, a rede federal, através dos Institutos Federais
de Educação, fica com 15% desse montante. Sobre esta realidade em particular,
somam-se ao processo de precarização os resultantes das duas greves nacionais
ocorridas desde a implantação do Pronatec na Rede, em 2012, as denúncias de má
qualidade da expansão, precarização dos serviços e do trabalho, terceirização e
perdas salariais.

O Pronatec como forma mercantil

Conforme as constatações realizadas até agora, no campo das relações


econômicas e da gama de políticas educacionais derivadas dessas relações, tanto
quanto da concepção de educação técnica profissionalizante que se entrevê nesses
contextos, buscamos delimitar nosso objeto de pesquisa caracterizando o Pronatec
como forma social de caráter exploratório agudo, que se estabelece no seio das
relações sociais de formação via setor educacional. Essas características são
simplesmente aspectos de uma lógica própria que parte de interesses bem
significativos no desenvolvimento das relações capitalistas. Neste aspecto, para
Mascaro,

É possível compreender um vínculo necessário entre o processo do


valor de troca e determinadas formas que lhe são necessariamente
correlatas, tanto no nível social quanto no político e no jurídico. [...] A
apropriação do capital, a venda da força de trabalho, o dinheiro, a
mercadoria, o valor são formas constituídas pelas interações sociais
dos indivíduos, mas são maiores que seus atos isolados ou sua
vontade ou consciência. Formas sociais são modos relacionais
constituintes das interações sociais, objetificando-as. Trata-se de um
processo de mútua imbricação: as formas sociais advêm das
relações sociais, mas acabam por ser suas balizas necessárias
(MASCARO, 2013, p.20-21).
Este recorte parte da relação necessária que por hora postulamos com a
forma mercadoria, pois temos como ponto de partida a forma Pronatec como
incremento para o aprofundamento das relações de estranhamento vividas no
trabalho e, nesta direção, a possibilidade de maior exploração da força de trabalho
em países periféricos diante da crise estrutural do capital. Daí que temos a
educação não diretamente como campo disciplinar para acumulação de riqueza,
mas antes disso, como processo de alienação, ou melhor, como forma a ser
subjetivada e estranhada nas relações sociais.

Nesta direção, é imprescindível identificar o contexto no qual os nexos


político-econômicos são articulados e como vem se dando as disputas entre os
interesses privatistas demandados pelos detentores do setor econômico e as
necessidades de inserção social, através do trabalho, pelo enorme contingente de
pessoas desprovidas de “formação e qualificação”.
Os números atuais do programa indicam que o governo e o setor
empresarial estão afinados em tratar este modelo de educação técnica
profissionalizante como um dos mais importantes pilares de um projeto de educação
para o país. É nesta perspectiva que se sustenta o modelo de educação derivado
dos acordos de financiamento para as políticas sociais entre as agências
internacionais, tais como o Banco Mundial e o BIRD (SABBI, 2012). Tanto como as
orientações de ensino-aprendizagem encontradas em documentos como o relatório
da comissão internacional da UNESCO, relatório Jacques Delors (DUARTE, 2011).
Com o Pronatec o governo brasileiro parece completar o ciclo da
privatização, precarização e aligeiramento da formação técnica de nível médio
iniciado nos anos 50 e aprimorado nas décadas de 1990 e 2000, tal qual a direção
tomada pelo Decreto 5154/2004, que revogou o decreto 2.208/1997, rearticulando o
ensino médio com o ensino técnico. Atualmente, este programa amplia suas
vertentes pois são pensados novos cursos que dariam conta de qualificar e formar
para a gestão de microempreendedores individuais e pequenos empresários,
compondo o que o governo chama de Pronatec 2.0, reforçando o que buscamos
tratar neste estudo como aprofundamento da alienação nas relações de trabalho.
No Instituto Federal de Educação do Sertão Pernambucano o Pronatec toma
dimensões gigantescas. Atualmente sua forma se insere em uma estrutura
deficiente, que não acompanha a velocidade em que são empregadas as políticas
atuais para o ensino técnico profissionalizante, entre elas a expansão, já dotada de
avaliações que apontam a precarização dos serviços e do trabalho de servidores,
bem como de sua infraestrutura.
Ao entrarmos neste universo surgem as contradições postas em aspectos
variados dessas políticas. No tocante ao volume de recursos, o Pronatec ultrapassa
os valores que são protocolados para a gestão dos cursos regulares. Esses valores
tem com base a quantidade de vagas por turmas ofertadas nos cursos. Em acessos
ao Bi Sistec, sistema de dados para avaliação e acompanhamento de dados do
Pronatec Bolsa Formação, constata o registro de 12.710 vagas paras as turmas de
cursos oferecidos pelo IF SERTÃO-PE em 2014. Cerca de R$20.433.100,00 (vinte
milhões, quatrocentos e trinta e três mil e cem reais) foram lançados para
homologação. Desses, R$5.799.100,00 (cinco milhões, setecentos e noventa e nove
mil e cem reais) já foram liberados pela Secretaria de Ensino Técnico e Tecnológico
(SETEC), indicados por demandantes nacionais, sobretudo o Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate a Fome. O plano interno de pactuação do IF
SERTÃO-PE revela que em 2014 ainda restam 10.364 vagas para homologação da
SETEC em diversos cursos.
As demandas locais apontadas pela prefeitura de Petrolina, responsável
pela captação da vagas, situa as matriculas para o IF SERTÃO-PE basicamente em
05 (cinco) eixos tecnológicos, são eles: desenvolvimento educacional e social,
gestão e negócios, informática e comunicação, turismo, hospitalidade e lazer e, por
último, recursos naturais. Este último caracteriza o perfil geral técnico-científico da
instituição, pela perspectiva econômica da região no âmbito do agronegócio.
Esta relação entre os chamados demandantes nacionais (ministérios
federais), demandantes locais (prefeituras e secretárias) e o IF SERTÃO-PE, tendo
como suporte as políticas educacionais e para o emprego, sugerem nexos que
podem explicar concepções e perspectivas políticas, econômicas e pedagógicas
interessantes sob o ponto de vista do domínio do capital sobre o trabalho. Em seu
cotidiano, os sujeitos envolvidos relacionam-se por interesses que podem nos dizer
algo sobre o funcionamento real deste programa, na medida em que são apontados
conflitos de interesses e relações de poderes que desenham a dinâmica desta
realidade; pautando, por exemplo, a oferta das vagas, dos cursos e das regiões e
setores produtivos. Com o montante expresso e pelas normas do programa, o
processo de matrículas sugere a possibilidade de criar arranjos políticos e se
tornarem instrumentos para a afeição de interesses privados. Pra se ter uma ideia, é
possível constatar o controle das matrículas por agentes públicos que amarram esse
direito como dependente de vontades e interesses de gestão.
Essas políticas vêm configurando o ensino técnico profissionalizante no país,
neste, acreditamos que o trabalho é concebido como fator determinante no
entendimento da trama capitalista e nas investidas político-social baseadas em
concepções de desenvolvimento que anulam a emancipação do homem e o ameaça
definitivamente para a margem da história. Em nosso século, esta classe-que-vive-
do-trabalho, vem perdendo seus direitos e, sob o controle do capital, submete-se
crescentemente ao trabalho precarizado, ao subemprego, ao desemprego e a
educação conjuntamente precarizada. É na trama dessas contradições que o
Pronatec se insurge e parece se cristalizar enquanto forma que dá corpo ao valor.
Conclusão

A contextualização política e econômica do Pronatec possibilita seu


entendimento por dinâmicas determinadas a considerar. A principal, por onde
passam suas funções programadas para o atendimento das necessidades do
mercado de trabalho, apontada em seus objetivos de saldar demandas do trato dado
para com o desenvolvimento econômico do país. Assim sendo, visto pelo viés
funcionalista de preparação para as relações de trabalho por uma educação técnica
profissionalizante a mercê dos controladores do capital. Nesta, a noção de trabalho
simples e complexo se distingue enquanto formação humana, mas expressam
mesmo sentido com o fim na produção de valor, quando transformados em trabalho
abstrato. Como esclarece Marx:
Os trabalhos determinados dos indivíduos em sua forma natural, a
particularidade, e não a generalidade do trabalho, isto é que constitui
neste caso o vínculo social. [...] O trabalho que se apresenta no valor
de troca é pressuposto como trabalho do indivíduo particularizado e
se torna social assumindo a forma do seu oposto direto: a forma da
generalidade abstrata (MARX, 1974, p. 148)
Acompanhando esta lógica identificamos um panorama no país que revela
um projeto de educação que vem se configurando como um arquétipo da
reprodução das necessárias investidas subjetivas de algumas formas sociais
capitalistas. Em nosso recorte, a forma Pronatec se constitui por relações com a
forma mercadoria, quando na reprodução do fetichismo ou no estranhamento que se
funda pelas relações de trabalho no modo de produção atual.Referências
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