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HOMENS o FATOS dO SERIDO ANTIGO LO municipio ch Vile Ave. tha buinsiq, dipor chemude Laid PREFACIO O Seridé, vasta regiéo do territério norte-riograndense, abrangendo de inicio apenas um_municipio| e compreendendo hoje mais de uma dezena déles, alguns dos quais com indice elevado de desenvolvimento e de cultura, tem como sua principal fonte de vida econémica o algoddo, o famoso algoddo mocé, a caracteristica principal pela qual é conhecido nos meios agricolas, comerciais ¢ industriais néo sé no Brasil como no estrangeiro. Mas injustiga seria supor que sémente o algoddo de fibra tonga, rival da famosa malvdcea egipcia, dd prestigio e renome quele trecha das terras nordestinas. Por muitos outros aspéctos 9 Seridé vem se destacando através da historia. Um déles & de ordem moral e religiosa — a unidade cristii, especificamente catélica, que ali se mantém desde os primordios da sua trajetéria, devida em grande parte, ao que suponho, as altas qualidades intelectuais e morais dos sacerdotes que tém sido os seus guias e condutores espirituais, 0 maior dos quais, no pas- GF Aucwe sado, 0 Padre Francisco de Brito Guerra, foi um auténtico tider da vida aorte-riograndense nos fins do periodo colonial e co- méco da independéncia nacional, tendo sido o fundador do primeiro orl jornal editado em terras potiguares, o criador da cadeira de latin na antiga Vila Nova do Principe, hoje a. bela cidade de Caicé, onde foi vigdrio por muitos anos, politico de vasto prestigio, ten:to chegado a Senador do Império e o verdadeiro delimitador das fronteiras territoriais do Rio Grande do Norte com a Paraiba. ara bem avaliar quanto o ambiénte seridoense é dominado pelo espirito religioso e catdlico, basta assinalar que no Brasil atuat hd quatro principes da Igreja, quatro bispos, nascidos na regido ou descendentes de familias seridoenses, qual déles mais ilustre e mais dindmico no servic do bem do povo e¢ da salvagdo das almas: — Dom José de Mateiros Delgado, Arcebispo de So Luis do Ma- nhdo, Dom José te Medeiros Leite, Bispo de Oliveira, em Minas Gerais, Dom Eugénio de Aratijo Sales, Bispo auxiliar de Natal, 36 Adelino Dantas, Bispo de Garanhung g Dom Jose Adelino Dantas, Bispo de Garanhuns, em Pep co, este ultimo autor do livro: Homens e Fatos do Seriag nab =, cujo prefacio estou escrevendo nestas breves linhas, em Antig t lonvite com que me distinguiu e @ que atendg com a face “satisfac, pela oportunidade que me oferece de uma veg wis far do nosso Seridé, a minha e a sua terra muito amada, m . . : a Dom José Adelino Dantas é sem favor uma das figuras exponenciais do episcopado brasileiro, ndo sé pelas suas relevan. fissimas qualidades morais e civicas, como pela sug aprimorg- da cultura, | . ; Antes de the ser confiada a superintendéncig da Sua atual Diocese — Garanhuns, foi Bispo do Caicé, onde deixou marcas indeléveis da sua superioridade moral e intelectual. Néo cabe aqui enumerar quanto féz pelo meu Caicd, pelo meu e seu Serigs no dmbilo de suas atribuigdes e devéres religiosos. Quero apenas salientar que, sem esquecer nenhum dos seus devéres naquéle vastissimo campo de acao, Dom José Adelino ndo se deslembrou da pesquisa histérica no que se refere & nossa Zona, procurando estudar — e para isso revolvendo arguivos e mais arguivos — 9 que fizeram e 0 que foram os nossos antepassa- dos, os nossos patridrcas, @ os fatos relevantes que precisam ser sempre presentes ao espirito das geracdes novas, para que estas Possam pautar as suas agées em harmonia com @ nosso passado e em vista de um futuro cada vez mais auspicioso. __ 0 “Homens ¢ Fatos do Seridé Antigo” em breve estard sar baiedo dos seridoenses que, estou certo, néle encontrardo en- idle « dries gue lhes serdo do maior proveito, dando @ todas servir @ nos = admiracdo pelos que nos antecederam na faina fe revela peta sug aa We tanto mais castigada peta séca tanto mais {oes nordestinas, va gente @ sua capacidade de construir, nos set ii the vilizagio crisig uma auténtioa ci e Dom José Dom José. Ader, htonra que me ap eino Dantas os meus agradecimentos pela e1 te . te lente © veraz trabalt 2 convidando-me para prefaciar 0 sett exce 828 pelo muity Que jd ¢ Pesquisa histérica, e, com os meus aplau- Cmexer og arquivo, tem felto, 0 meu apélo para que continite 4 fer ttMaele pare «2, 29850 Seridé, para déles retirar manan- terra, “retonstituicéo da histéria da nossa querida Rio, 27-11-61. JOSE AUGUSTO fun Lon uu 1COWw mn? Justificando-me O presente optisculo enfeixa uma breve e despre- tenciosa série de crénicas sobre homens ¢ fatos do Seridé antigo que, ha poucos anos, ainda Bispo de Caicé, publi- quei no jornalzinho local «A Folhas. . Confesso sinceramente que 0 profundo sentimento de amor a terra mater Seridoense, A sua gente e as suas tradicées, constitii o motivo tinico de ousar apresenta-las agora. Ilustres conterraneos, do passado € do presente, mo- vidos também do mesmo telluris amore, como diria Virgilio, abriram ja, € por muitas vezes, 0 veio fecundo da historia do Seridé. E 4 frente déles a justica manda colocar ésse eminente e digno vardo _caicoense, qual mais 0 possa ser. que é Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros. O tesouro, entretanto, longe esta de ser de todo ex- plorado. Os arquivos do Serid6é, de Natal, da Paraiba e de Pernambuco estéo a espera de quem, um dia, Ihes sacuda a pocira secular. Néles ainda ha muita luz escondida, aguar- dando a mao libertadéra. O amor a terra mae faz parte de nossa vida. Todos queremos ama-la e cantd-la. Mas, para tanto, é mister co- nhecé-la primeiro, buscar-lhe as raizes. O conhecimento é a medida do amor. No Rio Grande do Norte, o Seridé, sdb as béncdos de ricas tradigdes patriarcalistas, surgiu e firmou-se, de ha muito, como o grupamento humano o mais homogéneo e 0 mais rico de beleza étnica, gerando, através dos tem- pos, essa admiravel unidade familiar, social e espiritual, rara, as vezes, noutras regides. As modestas crénicas aqui ordenadas, trazem, to- davia, o carater de simples registo, nao de estudo. O niimero delas nao corresponde, de modo nenhum. ao desejo de quem se propunha a estudar mais largamen- te os homens e as coisas do velho Seridé. Os tremendos encargos pastorais que, nos tempos presentes, envolvem, de todos os lados a vida de qualquer Bispo nordestino. nao me permitem distrair-me da érbita de meus devéres especificos, e ir mais além, E’ a minha excusa, que con- sidero justa e convincénte. D. José Adelino Dantas, Bispo de Garanhuns. BRASAO DA FAMILIA DANTAS (Monumento de Carnatba dos Dantas) ge go lorie Hl ds mouse dh jyry yo dit Ps bees, Lewes a (cl? p ergnt AB Milan Laslang 6 Zé © Gundader's Lenfulor dy i 4 Loy lomo Vince fee 3-9-1108, opie fs po dls aE bo hind © fundador de Caicé A pardquia de Sant’Ana do Seridé possui ainda os livros de 6bitos mais antigos da regio. Um deles registra os dbitos verificados do ano de 1788 a 1811. Um segundo, os do ano de 1811 a 1838. Um terceiro, os do ano de 1838 a 1857. O primeiro déstes que, por um milagre, chegou sao e salvo até os nossos dias, nao deve ser, entre- tanto, o primogenito da ilustre geracéo. Ha de ser 0 segundo, pelo menos. Seu irmao mais velho desapareceu nc turbilhao dos tempos, como desa- pareceram os de Batizados e os de Casamentos. Daqui, essa zona de siléncio, por quas? meio século, pela perda désses preciosos docu- mentos, que se desprezaram e Se transformaram em po, sob o olhar indiferente de muitos reve- rendos curas. O certo, porém, é que, da série acima enumerada, o primeiro traz a data de 1788, rico de cicatrizes e de mutilacoes gloriosas, é verdade, mas teimando em nfo perecer- Estive lendo e relendo ésses venerandos livros do Seridé antigo ¢ evocando, oe brie listas ordenadas, o cortejo inanimado oon ases meiros povoadores destas plagas _SerieNr ‘us tumulos, é certo, nao mais existem Po rees Pulverizaram-se. A morte, abatendo os me Jose Adelino Dantas, Bispo de Garanhuns 10 Dem Jes teria apagado para sempre da fixa- fc nao fora a mao do cura que os pumancs, el e nos restituiu na luz do do- ao histdrica. cao his! imprimiu no Pap cumento. ‘a mim um livro de dbitos é como um Par de ressurreicao, trazendo tecipado : en anvnensagem longinqua dos vultos ador- ate mecidos. sat Fs Nésses trés livros de Gbitos da paréquia de Caicé, que resistem ainda ao tempo, estéo lancados mais de dois mil térmos. Sao duas mil e muitas criaturas, crianc¢as, mocos e velhos; sacerdotes, comandantes superiores, capitées- mores, patridrcas e matriarcas; brancos, pretos ¢ indios; plantadores de currais, de fazéndas, de matrizes, de capelas, de cidades, de vilas e de povoacées, escravos e senhores, todo um cortéjo imobilizado pela morte, mas que a mao do padre escriba arrancou do esquecimento e fixou para perpetuidade. A historia do Seridé mergulha rai- zes profundas nessas fontes veneraveis, que a nossa curiosidade explora e devassa respeito- samente. Foi para mim dos mais amaveis o encon- ¥0 com ésse Manoel Fernandes J orge, persona- = ilustre do primeiro livro, e que, ao lado de intos outros de seu tempo, dorme, ha mais de — € meio, 0 sono eterno no chao sagrado 2 matriz de Sant’Ana. Ja 0 conheciamos de nome, de ha muito, crevenda cestalacéo da Freguesia Mater, subs- de, no memoravel ens, a ata da solenida- i 1 dia 26 ; lado dos ‘vel dia 26 de julho de 1748, ao Caics, cldadaos de melhor nota do lugar do — Homens e Fatos do Seridé Antigo — i Nove anos mais tarde, aparece compran- do terras na ribeira do Cupaud, e referendando a aquisicao do sitio Seridozinho, a pedido do cura Pedro Bezerra de Brito. Em 1774, surge, promovido a sargento- mor, como procurador e tesoureiro da Irmandade do Santissimo Sacramento da matriz de Caicé, re- cebendo terras do riacho Quixeré das mios do patriarca Martinho Soares de Oliveira. Mas, é através de seu térmo de dbito, que sua senhoria se identifica aos pdsteros. E aqui que se descobre que era portugués de origem. Que escolheu o Seridé para sta mo- rada. Que foi, sem duvida, um dos primeiros povoadores déstes sertdes e que aqui faleceu, aos 18 de setembro de 1789, rico e solteiro, e mais rico ainda de noventa e oito anos de idade. Mas, 0 que de mais precioso o documento nos re- vela é que foi ésse ilustre morto o fundador de Caicé. Recuemos no tempo e leiamos isto: — «Aos dezoito dias do més de Setembro de mil sete Centos, e oitenta, e nove annos nesta Matriz do Seridé, se deo Sepultura Eccleziasttica ao adulto Manoel Fernandes Jorge, com a idade de noventa, e oito annos, pouco mais, ou menos Solteiro natural de Portugal, e morador nesta dita Freguezia do Siridé: foi involto em habito de Sam Fran- cisco, e emcomendado pello Revedendo Coadjutor Manoel de Arahujo Correa, e faleceo com todos os Sacramentos da Santa Madre Igreja, e foi sepultado do arco da capella mér Para sima por Provizdo, que tinha de Sua Excelencia Reve- rendissimma, como fundador, e bemfeitor da dita Matriz. do que se fez este acento, que o assignei, Jozé Antonio Caetano de Mesquita, Cura». «Fundador e bemfeitor desta Matriz» eis a declaragao solene, ecoando no tempo, até ago- ra escondida e desconhecida, iluminando e proje- tando as raizes historicas da cidade de Sant’Ana. ispo de Garanhuns 4 Doat José Adeline Dantas, Bispo ! . drinhado a dos é elo fato de terem apac do Maia. ee Os receberam da futaridade Ecle- outa enti os titulos de Benfeitores e Fundadores er “Bae o caminho que se abria aos agrupamentos ra é dos primeiros nucleos humanos. _ - Caicé deu-se 9 mesmo. A criagao da pardquia. oe 1748, abriu caminho 4 fundacao da cidade. i ee de sant’Ana foi 0 marco inicial. E foi o sargento- Fe Mane Fernandes Jorge o herdi dessa jornada. i de Olinda, a cuja jurisdigao pertencia a asin eR Grande, conferiu-lhe © titulo honori- fico de Benfeitor da Matriz de Sant'Ana, como o confe- riria, depois aos fundadores da Conceicao do Azevédo e Currais Novos. Esse fato, Senhor Presidente, firmemente documentado nas arquivos paroquiais de Caicé, mas somen- te agora pesquisado e estudado, veio derramar luz abun- dante sobre a auténtica histéria do Caicé, até agora desme- recida e desvalorizada no dominio da lenda. Assim, sendo, Senhor Presidente, repetindo aquilo que em cronica publicada por mim na «A Félha» de 17 de agosto déste ano, sugeri, venho, nesta oportunidade diri- gir-me a essa respeitavel Camara de Vereadores, fazendo- Ihe um apélo no sentido de consagrar 0 nome désse funda- dor numa rua da cidade, ou numa instituigdo. Outrossim, nao posso ¢stas terras, passou um dia, nome, ligado as origens da ci honras da consagracao ptiblic cisco Alves Maia primeiro vigari deixar de lembrar que, por um outro personagem, cujo dade, merece igualmente as ‘a. Trata-se do padre Fran- io do Caicé e do Seridé. Ao que me cor continia offcalmen, nste, 0 nome désse homem de Deus mente ignorado i . rae Cesano € seridoense, = por aqui. Como Bispo dio. j 0 posso deixar de lembrar a injus- tiga, e proponho uma Teparacao. : Sao 5 is Momento, ae as Sugestes, Senhor Presidente, que, no > aves destas linhas, na Pessoa de Vossa Ex- Celencia, y; . teadores tte, Lazer 4 muito Tespeitavel Camara de Ve- sperancoso de que ela, exprimindo a so- erania © legitims shy 8 pal e a vontede deliberacao do Senhor Prefeito Munici- use das atribuigdes que Ihe com- Povo, Ec — Termo de 6bito do sargento-mér Manoel Fernandes Jorge fundador do Caicéd. Documento de 1789, do arquivo paroquial do Caicd. Contira-se 4 pagina 11. — Homens e Fatos do Serigg Antigo — 15 etem, para perpetuar os nomes do Sargento-mér Manoel Fernandes Jorge e do Padre Francisco Alves Maia, funda- dor da cidade e primeiro Cura da outra vasta Freguesia da Senhora Sant’Ana do Seridé, Caicé, 22 de Novembro de 1957, (a) D. José Adelino Dantas, Bispo de Caico _—_ Nota final — Esta carta nunca teve resposta. Nada se fez, e Caicé continia a ignorar os dois marcos maiores de sua historia. Ie A matriz de Sant’Ana No dia 26 de julho de 1748, o padre Francisco Alves Maia instalava a freguesia de Sant’Ana do Seridd, criada trés méses antes, na vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Pianco. Aqui viéra para celebrar a primeira fes- ta de Sant'Ana e erigir a primeira matriz. Esta histéria ficou gravada em ata so- léne, que éle mesmo lavrou e assinou com os primeiros freguéses. Deve-se ao Visitador Fer- nandes a perpetuidade désse documento, que va- le pela certidio de batismo de Caico. Ele o transcreveu de um livro velho que se perdeu. Informa o padre Alves Maia : — «Aos 26 dias do més de julho do ano do Nasci- cimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil sete- centos e quarenta e oito, em dia da Senhora Santa Ana, padroeira desta Freguesia, vim a este lugar do Caicé, onde todos os Fregueses desta dita Fre- an a maior parte deles de melhor nota areal = por voto unanime que fdsse fundada Santa Ana, matriz com a invocagdo da Senhora para onde » at ser este lugar o mais comodo & encia amine ia concorrer 0 povo com a conveni- Panhado de oat todos; e ai no dito lugar, acom- 8rande parte de povo e com o con- — Homens e Fatos do Seridé Antigo — 47 sentimento do Tenent vantei uma cruz no mi os Fregueses hao de fi le José Gomes Pereira, je- esmo lugar e terreno, onde lundar a Matrizs (a) — __E éste o documento numero um da Fre- guesia Mater do Seridd, que nascia naquelas ma- nhas remotas de 1748. Documento bem redigido, limpo, claro. Finda a procisséo naquela tarde de Sant’Ana, a primeira procissio historica de Sant’Ana nestas terras, escolheu-se o terre- no, assinalou-se o lugar, e uma cruz de madeira foi plantada no chao ainda virgem do gentio do Caicé. Poucos tempos depois, o milagre da fé, selando o da construcio, fazia surgir o primeiro marco de Deus, firmando os dominios da Senho- ra Sant’Ana. Sébre éste assunto muito ja se escreveu. No decorrer dos tempos, dtividas se foram sus- citando e, com elas, as discussdes. O amor 4 terra é assim mesmo. Gera a curiosidade his- torica. — Seria mesmo que, antes de 1748, ja nao existisse por aqui alguma pequena igreja? — A matriz de Sant’Ana sera mesmo a igreja mais antiga do Caicé ? Pelo que lemos nos arquivos da terra e nos de féra, somos de opiniio que a matriz da Senhora Sant’Ana é a igreja primitiva da cidade. Possivelmente iniciada naquéle ano de 1748, teria sido concluida dentro das possiveis proporcées, alguns anos mais tarde. Nao existe (a) — Do livro de Tombo da Pardquia. Dom José Adelino Dantas, Bispo de Garanhuns respeito. O processo ca- 18 documentacso a esse 6nico perdeu-se- , ee certo, porém, que. ja funcionava cinco anos mais tarde. No arquivo paroquial do Pi- anco, encontra-se wm livro de Batizados _ mes- ma época da criacao da Freguesia do Caico. Néle registram-se térmos de batizados feitos na «Freguezia de Sancta Anna do Serid6», pelo cura Francisco Alves Maya, de 1748 a 1752. Nésse periodo, porém, nao se faz qualquer alu- s4o a igreja ou capela em que se tivessem efe- tuado ésses batizados. Em dezembro de 1753, porém, no dia de Natal, o cura do Pianco infor- ma que uma crianga, de nome Inés, fora bati- zada pelo «Cura da vara do Serido, Francisco Alves Maya, na Matriz da Senhora Sancta Anna». Creio que é esta a mais antiga referéncia a ja construida matriz de Sant’Ana. Quatro anos mais tarde, em julho de 1757, o ouvidor Domingos Monteiro da Rocha, numa das relacées das freguesias da capitania da Pa- raiba, informava ao capitao-mdér Pedro de Albu- querque Mélo a respeito da de Caicé : — Quinta e ultima freguezia da gloriosa Senhora S. Ana, donde tem matriz e cura no lugar chamad9 Caicé, na ribeira do Seridé, nesta dita freguezia e ribeira: tem duas povoacées, uma na dita ma- triz, e outra no lugar chamado Acari.» (Nota b). Em 1769, 0 fazendeiro José , ; é Goncalves Rereira, paar no Quixeré, acha de passar critura de doacio ao «Senhor Santissimo —_ 6) — Revista a, Stee Vol. 12° ‘0 alta, Histérico Geografico da Paraiba, — Homens e Fatos do Serido Antigo — 19 Sacramento da Povoacio do Caicé», justifican- do-se que assim o fazia «para ajudar no azeite da alampada que se a de collocar nesta minha Matriz da Senhora Sancta Anna do Siridé». Quatro anos mais tarde, em 1773, insta- fn a ai lava-se a Irmandade de Nossa Senhora do Ro- do sario dos Homens de cér. Do acontecimento ne ficou ata famosa, que comeca assim : — «Aos vinte e sette dias do mes de Dezembro de mil sette centos e settenta e trez na Igreja Ma- triz da Senhora Sancta Anna da Freguezia do Si- Tidé». . . ban I Riki, Lpstetan Serna pel ok popes 37, 2 sllima a de 4: bd. Local da matriz Dessas fontes colhe-se, pois, a certeza de que, naquelas datas, a matriz de Sant’Ana ja se achava concluida. O documento da instalagao da freguesia, lavrado em forma de ata, reza que todos os fre- guéses combinaram que se escolhesse um local comodo para a fundacdo da matriz. Qué lugar cémodo teria sido ésse ? Sera paésmo em que atualmente se acha a catedral? ae ha ae Nem pode haver. Foi ali mesmo e 2 cidade nasceu, e ergueu-se a primitiva mati, ergueu-se a primit _ _Na verdade. (40 das igrejas m: tando 0 fato q Margens dog » 4 quem observa a localiza- als antigas do Seridé, ressal- © qué todas foram construidas as Tra Negra Tespectivos rios. Olhemos para a de Pitanhas Gj 7 Jardim do Seridé, Jardim faz excecay’ GUTAIS Novos. Em Caicd, nao se core Sua prime ~cegao houve, foi de outra na- ite ane masceu ma lgreja nao nasceu capela, buido desde 9 Matriz, titulo que lhe foi atri- ais Jemais eke Nenhum documento re- 8 fot Vezes, igrefaone S sempre matriz, pou- ua Matriz, e umas duas ve- — Homens e Fatos do Seridé Antigo — 21 O documento de 1748 alude a um lugar «onde os Freguéses hao de fundar a Matriz». Em agosto de 1785, trinta e sete anos apos, o Tenente Anténio Francisco dos Santos e sua mulher, dona Terésa de Jesus fizeram doagao de uma parte de terras & «Matriz da Senhora Sancta Anna da Povoacao do Caicé». Ao estabe- lacerem os limites, indicam «uma linha que, cor- rendo do Serrotinho, encontra um cordao de pe- dras que fica por detras da matriz». Essa informagao é assds valiosa, confir- madora da primitiva topografia. Esse cordaio de pedras ainda existe hoje, e cérre bem pertinho da querida matriz de Sta. Ana. — E a igreja do Rosario ? Ha quem pense e quem ja tenha escrito que a igreja do Rosério seja a mais antiga igreja do Caic6. Que tenha sido a primitiva matriz da fundagao da freguesia. Chega-se até a apontar 0 caso da atual igreja do Rosario do Acari que, até 1867, foi a matriz de Nossa Senhora da Guia. Escreveu-se tambem que a igreja do Ro- sario fora construida, em 1725, por Manoel de Souza Forte. Encontrei num velho livro da pa- roquia o térmo de ébito désse Souza Forte, nas- cido em 1750 e falecendo em 1793, com quarenta e trés anos de idade. Nao podia ter construido a igreja do Rosario, em 1725... O saudoso monsenhor Severiano de Fi- gueirédo, nascido na fazénda da Palma, em seu livro «A Diocese da Paraiba», da essa igreja como construida em 1742, mas nao indica a fon- te de que colheu a informacio. Seja como fér, a origem da igreja do Ro- Bispo de Garanhuns i -se ainda envdlta em misté- eario do Calcd alee que é mais antiga que ou apresentar provas dé. matriZ, § demais. Nega-lo tambem sim- ee ie ‘ae dificultar as vias de acesso as indagacees: 1. oa A atual igreja do Rosario substitui uma primitiva capela de igual invocagao, muito an- tiga, que ainda existia nas ultimas décadas do século 18’. Que essa primitiva capela do Rosario existiu no Caicd, nao pode haver duvida, na voz déste documento : — «Aos tres de Dezembro de mil sete centos e¢ oi- tenta e oito annos, falleceo da vida presente a adulta Luduvina Correia solteira filha légitima de Pedro Dias Ramalho e de Maria Pereira com a idade de vinte annos pouco mais ou menos: foi sepultada nesta Matriz da Gloriosa Sancta Anna do Siridé a quatro do ditto mes e anno, e falleceo com todos os Sacramentos: digo nao foi sepultada nesta ditta Matriz, sim foi sepultada na Capella de Nossa Senha do Rozario desta Villa do Principe, filial shin ditta Matriz; e foi encommendada por mim ac assignado e sepultada em mortalha branca: Jose Ay Se fes este acento que assigno. O Padre «Antonio Caetano de Mesquita Cura» (Nota c))- em 18 ne capela de 1788 nao existia mais Tid6 © padre José a ano, outro cura do Se- Va 0 seguinte térmo de dhe de Medeiros, lavra- 0: ~ tog yj taece a Ge hum de Novembro de mil oito centos Me Toi com Ree Wee Antonio Carlos cazado —_. aria, esta cridla e aquelle in- O ~ Livre de Obit Hs it — {8.8 y, NS da pardquia do Caicé, de 1788 a 1811, — Homens e Fatos do Seridé Antigo — 23 dio com a idade de cincoenta annos pouco mais ou menos, foi unicamente confecado por morrer quasi de repente esta sepultado no sitio determi- nado para a capella da Senhora do Rozario, en- comendado por mim, de que para constar fis este assento em que me assigno, O Cura José Goncal- ves de Medeiros» (Nota d). Em 1824, essa capela, que é a atual igreja do Rosario, nao tinha sido ainda construida. Em outubro désse ano, as legides de frei Cane- ca acampam na Vila do Principe, e aqui pas- sam uma semana. O belicoso carmelita, chefe e cronista da jornada épica, néo viu em Caicéd nenhuma. outra igreja, além da matriz de Sant’ Ana. Eis seu depoimento : — «A vila tem uma igreja pequena, nova e bem paramentada». No ano de 1826, aparece u’a mencao rapida. Um térmo de declaracaéo, passado em cartério, com data de 3 de fevereiro désse ano, alude a uma linha que «atravessa a Rua de Cima ea Igreja do Rosario». Parece entretanto que a atual igreja do Rosario sé foi concluida em 1853. Num livro an- tigo da Fabrica, o Visitador Fernandes, vigario da freguesia de Sant’Ana, informa : — «Dispendi com huma Imagem de N. S. da Conceig¢éo para o altar que foi do Rosario, para ser collocada no nixo, onde estava a de N, S. do Rosario, que foi transferida para a sua Capella propria, e collocada no dia 3 de abril de 1853, 50$000». A informagao é de principios de 1854. d) — Livro de Obitos citado. ispo de Garanhuns yg Dom José Adelina Dantas, Bispo & CONCLUINDO : as a existido qualquer capela em Caico, 1) é improve eno fermo «lugar» usado na ata do A Alves Maia, da a entender que o sitio era, na toed, inteiramente desabitado. 2) A atual catedral € outrora tinica e exclusivamente citada «Matriz da Gloriosa Sant'Ana», parece ser a igreja mater de Caicé. Pelo menos, é unica conhecida até o ano de 1788, Dela era filial a antiga capela do Rosario, citada no térmo de 6bito acima, 3) Essa primitiva capela do Rosdrio, ao que parece, nao existia no ano de 1773, porquanto é estranhavel que na matriz de Sant’Ana e nao na mesma, se tenha instalado a Irmandade do Rosario dos Homens de Cor, conforme ata existente. Mesmo assim, o campo fica aberto a futuras in- dagagées, Os primeiros Curas da freguésia de Sant'Ana A regiao seridoense comegou a ser Co- nhecida e explorada nas wltimas décadas do sé- culo dezessete, vinte e tantos anos apés a ex- pulsdo dos holandéses. As primeiras datas de terras conhecidas na regido e registradas nos livros da Capitania do Rio Grande do Norte, informa o dr. José Augusto, sao de 1676, e referem-se exatamente ao Acaua. Nao é sem motivo, pois, que os sertanis- tas de Domingos Jorge Velho, na década de 1680, tenham-se derramado pelo Boqueirao da 5 7%e ne ole 6 Serrota (Nota a), atravessando as Gargalheiras ,z: a Ch. e batido o gentio assanhado no Acaua, onde ja se haviam estabelecido as primeiras fazéndas de gado. Ao despontar do século dezoito, o sertao do Serid6, que o élho do Sertanista vira e grava- ra, foi se tornando alvo dos senhores do além- Borborema, do Piancé, e de outras latitudes, a) —O atual Boqueirdo de Parélhas. Citado jd nas primeiras datas de sesmarias. Dom José Adeline Dantas, Bispo de Garanhuns 6 Do z . , e penetracao, atraves do Pira- do Espinharas, do Cupauad, do abrindo rotas 4 qua, Vias naturals a0S aven- nhas de Cima, o Boqueirao € do Ac tureiros do Sul. A penetragao vinda d ter sido tao intensa. Os sesmeiros empreenderam corridas ser- tio a dentro. As vistas cresciam e, com elas, as disputas por uma terra ainda virgem e encan- tadora, perfumada nos invernos, atapetada de ricas pastagens, convidando a criagao de gado. As primeiras geragdes que aqui se es- tabeleceram, viveram e mantiveram-se por mercé exclusiva do trabalho pastoril. Isso fez com qué surgisse uma raca de Titas, afoitos e idealistas, mansos e ordeiros, leais e amantes da terra. Foi nas lides mais duras, em contato e combate com um clima por demais séco e agres- Slvo, que 0 sertanejo do Seridé argamassou a beleza e firmeza de um sistéma gregario o mais homogéneo, le Léste nao parece sional Unentando-lhe a fibra moral e profis- mitiguee ps a admiravel unidade étnica. estirpe, Na que para aqui veio, era da melhor mou no Sendg sozinho. A Borboréma derra- 00, da Paraiba muita gente, vinda de Pernambu- colonizar 1 ae até da Bahia. Raca forte para los, dos Dan a terra forte. Raca forte dos Arau- dos Nobregas’ dos Azevédos, dos Medeiros, jomes de yes Lopes Galvao, dos Garcias, 5 tros, diluidos qu 408 Batistas e tantos ou- SS tReada e epols, «numa familia tnica, en- “ra intérming de, Continuamente, numa teci- casamentos, perpetuando © oo \ bovecdow? Gort J d ways doe — Homens e Fatos do Seridd Antigo — 27 nome e a lembranca das velhas racas povoa- doras dos sert6es nordestinos», diria belamente o mestre Camara Cascudo. Mas, na vanguarda de batedores de ser- tdes, néo vieram somente plantadores de cur- rais. Apareceram tambem muitos reverendos curas, fascinados igualmente das coisas do rei- i no déste mundo. Nas listas de sesmeiros daqui 4 pai e dalém incluem-se centenas de padres, nao me- nos solicitos em requerer as costumadas trés le- guas de fundo e uma de largura para acomodar seus gados ou plantar lavouras. Joao de Lira Tavares informa que, no ano de 1707, o padre Manoel Timdéteo da Cunha, morador na capitania da Paraiba, requeria uma data de terras na ribeira do Serid6, no sitio Ca- tururé, barra do Acaua (b). Sera sua reve- rendissima o padre sesmeiro ntimero um do Seridé ? O livro de Datas e Sesmarias do Rio Gran- de do Norte, existente no Instituto Histérico e Geografico de Natal, registra o nome do padre David de Barros Regno, pedindo, em fins de 1711, terras na ribeira do Acu. No ano de 1745, nao era mais vivo. Nésse ano, um de seus herdei- ros, de nome Francisco de Oliveira, requeria con- firmacéo de uma posse no Riacho da Garganta ou Adequé de Cima, que pertencera aquéle sa- cerdote. (c). 6) —Sitio Catururé. Vizinko a cidade Jardim do Seridé, & mar- gem do rio Seridd. O topénimo resiste ainda ao tempo. ¢) —Garganta, riacho da Garganta, Garganta do padre David, caminho obrigatério para quem viaja de Florania a Ju- curuti: abrindo estreito vale entre serras abruptas. we" Dont José Adelino Dantas, Bispo de Garan huns ses dois padres i requerendo terras. "Tervingn, tos outros i s sotainas que o sertao sido essas quelas éras vira, a menos que o bu bravio da 10 as tives precedido, a frente os missiona- de Domingos Jorge Velho. s falanges 28 Além des aparece, as primeira | Em que ano teria surgido a pri- meira capela do Seridé ? Provavelmente na primeira década de 1700, e em Jardim das Piranhas. E’ noticia nova. Ao demolir-se uma parede da antiga igre- ja dessa cidade, em dias de 1956, encontrou-se um tijolo que trazia bem visivel esta inscric&o: — «20 de JL de 170X». — Esse tijolo mede trin- ta centimetros de comprimento e cinco de altu- ra, e 6 de cozimento muito antigo. A grafia da inscrigdo é rude e caracteristica da época. Cons- titti precioso documento e, por ser de barro cozido, deixa supor que, nos albéres do século dezoito ja florescia um nticleo humano na ribei- ra do Piranhas de baixo. (d). Mas, que indicara essa inscricaéo tésca ? Sera que se refira a uma primitiva capela, edifi- cada ali naquéles tempos e qué, désse modo, te- via precedido, por quarto de século, a de Nossa Senhora do 0 de Serra Negra ? E’ possivel. Dentro da certeza_histérica, porém, o pedago de chao que serviu para o primeiro al- d) — Esse tijoto deve achar-se na Curia Diocesana do Caicd, onde o deixamos. José Adeline Dantas, Bispo de Garanhuns 30 Bom Jo : . da fazenda Serra erras do geridd foi o G- 1962, g tar emt g Negra. 0 Manoel Pereira Monteiro 6, na + & g da © capitae nho da primeira igreja serido- x S verdade. adrir - verdade, 0 Ter he pode tomar ésse lugar. Doacio de patriménio em meados de 1735. Liegnca para Jevantar e benzer a capela, des- pachada em setembro do mesmo ano. Decorri- ¢ dos trés méses, capela pronta e paramentada informa a Olinda o vigario de todo o necessdrio, n lind: g” , do Pianco. (e). O nome désse vigario deve ser Foi, possivelmente, éle que celebrou “ " gag ense, © ningu guardado. en! a primeira missa no Seridé. Sua graca: Padre Domingos da Silva Ramalho, cura do Piancé. Construida a capela da fazénda Serra Ne- s gra, os dominios espirituais da Senhora do Bom ~ Sucesso do Piancé se estenderam ao Serid6, al- “3 cancando, dois anos mais tarde, as margens Su- periores do Acaua, onde o sargento Manoel Es- QF téves de Andrade teve a inspiragao de edificar a < querida capela de Nossa Senhora da Guia. O processo candnico para erecio dessa histérica ermida seguiu os tramites costumeiros. (f). - t's A96 '- mos o Noten a Ver os {14s magnitics trabathes de Camara Cascudo Re- , ‘0 Histdrico ¢ Geogrdfico da Rio G. do Norte, vols, XLVIII-XLIX, ‘pag. ng ‘nos. 1951 - 1952. Anfelizms ess init + - Infelicnente, essa primitiva capela foi demolida, Nada resta 1)—Idem idem : 1) Ainda ‘ext . mee Gs fe arauivo paroquial do Caicd, 9, assenta- solene yale to patriarea de Serra Negra. E’ de teor padrinko dg ipiht transcrevé-to, numa homenagem a0 <> Setembro de mia igreja do Seridd. — “Aas onze de Negra desta Frill ltocentos e vinte na Fazenda Serra Sacramento, {ebuezia do. Siridé, faleceo com todos 08 Pereira Montedeando Testamento aprovado, Manoel vivo que id era de Dade, de, naventa, e tantos annos, de Dona Thereza Maria da Conceicdo; 0 suagt a “w Gna ov Aw a. 4, sf bed Eade 2 prem oots + talwace (revert 4 — A primitiva igreja de Nossa Senhora da Guia do Acari, hoje igreja do Rosario, E’ atualmente 0 temp! mais antigo do Seridé. Néle estao sepultados os pa- triarcas mais ilustres da Ribeira do Acaua. ate ie. ole. Gites, d, dearr, 4 olual do (erinio (mote « 23-6 -4962) — Homens e Fatos do Seridé Antigo — 31 we Em abril de 1738, estava construida e ca- paz de servir ao culto. S6 dez anos mais tarde, seria criada a freguesia de Sant’Ana do Serid6é, nao havendo- do, nésse intervalo noticia da construgao de ou- tras capelas. A distancia, aliada 4 pentria de sacer- dites, limitava ao minimo a assisténcia ao re- banho nascente. Pelas alturas de 1740, foi se sentindo cada vez mais a urgente necessidade de ser criada uma freguesia no Serid6. Impunha-se atender as condig6es espirituais das populacées. A posigdo geografica de Serra Negra e do Acari nao atendia satisfatoriamente. Estudou-se e es- colheu-se um ponto, equidistante dos dois extre- mos, e ésse ponto recaiu num lugar chamado Caicé. A idéia, a urgéncia da criac&o de uma fre- guesia no Serid6 nao era alheia 4 Curia de Olin- da. Em feverciro de 1747, Dom Frei Luis de San- ta Terésa, o setimo bispo de Olinda, ordenava ao Visitador Geral dos Sertées do Norte, Ma- noel Alves Freire, qué, ao chegar ao Piancé ¢ ao Icé, desmembrasse os dois curatos pelas partes conveniéntes. Chegando ao Pianc6, em abril do ano seguinte, o Visitador chamou a sua presenca os homens mais categorizados da regiao e, perante os mesmos, em nome do Bispo de Olinda, lavrou e expediu o decreto da criagao 1 corpo por amortathado em habito de Carmelita, acom- Sano’ por mine sepiltado ra Capella de Fazenda, no dia seguin de O dq mesma : wha endo mo Testamento: e para constar fiz esas Sento vite. assigna, 0 Vigario. Francisco, de Britt Guerra” (Livro de Obitos, de 1811 @ 1838), Ils. 5 Sao bane bh ioc de baw , be dbo. Sears a wa he Need fot da mamavotie g “ fi rub oe rvenrgsg we, us oO : T (tite. Wete > dan Me Sotto ae a ob Salm holehime, pile Livre, pags fe ty Gar oO nr gga qua for driinin- Dom Jesé Adelino Dantas, Bispo de Garanhuns 32 fi Seridé, sdb o titulo e invocagao s eae oe ‘Ana. © calenddrio marcava : a S a 45 de abril de 1748. Trés méses depois, a nova freguesia se instalava e nela se impossava 0 primeiro vigario. Mais uma vez, reunem-Se 0S cidadaos de melhor nota, néo mais no Piancd, mas no lugar ~ do Caicé, escolhido para séde da freguesia. O relégio de Deus ia marcar o dia do grande acontecimento, dia para sempre memoravel na histéria e na alma dos caicoenses de todas as geracées : 26 de julho de 1748. A cidade e a paréquia nasceram irmas gémeas, nésse dia, buscando um mesmo des- tino, caminhando na mesma direcao. E’ um caso Unico nos fastos da terra. Caicé nao nas- ce & sombra de uma fazénda nem em térno de um curral, mas 4 sombra de u’a matriz. g 3 O padre que Deus manda para apascen- “Se 4 tar o rebanho menino, néo vem de muito lon- “gs Se e corre-lhe nas veias 0 sangue comum da - raca povoadora. Desce do Piancé e chama-se ‘“~$ Francisco Alves Maia. _ _ E' éle que vai iniciar a histéria e a sé- Tie dos vigdrios do Seridé antigo. Muito se fez, no sentido de colher ele- Thentos que permitissem compor a biografia oo cura do Caics. Houve devassa nos a oe terra, do Serid6 e do Pianc6, mas obey, se conseguiu. Logrou-se desco- PED ee qué pertencia a grande fa- nha dos Mae ee do Rocha, da mesma. li- og snl bdedd, ia da Conceicio do Azevé- aa: % howe wonrsbin’ = ee pein 18. Wels. a3. Fo am 153,

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