Recebido em agosto/2009
Aceito em setembro/2009
mento da pesquisa é basicamente bibliográfica, pau- cionadas, espera-se do professor universitário uma
tada na análise, leitura e fichamento de obras perti- postura diferenciada de diálogo entre estas questões,
nentes ao assunto em pauta. em contínuo movimento de construção social e cul-
tural.
Educação e ensino superior na contemporaneida- Assim, visualiza-se uma prática pedagógica
de corporificada nos sujeitos que a fazem, professores e
universitários, ensinando e aprendendo, nos proces-
A Educação Superior, até bem pouco tempo, sos de ensinar e aprender, situando-se nos conheci-
tinha um caráter humanístico, era privilégio de poucos, mentos plurais de seu campo em suas especificida-
quase todos provenientes de famílias dominantes no des e nos diálogos que fazem com outras ciências,
cenário político e econômico do país. Seus estudan- numa perspectiva interdisciplinar e dialógica. Na vi-
tes buscavam mais um “aprimoramento pessoal” do são de Zabalza (2004), o docente universitário deve
que uma profissão. Mas, as questões relativas à im- ser inovador e criativo, devendo tratar os conteúdos
portância dada à ciência, tecnologia e comunicação, de forma coerente com os seus objetivos, rompendo
no mundo globalizado, provocam sensíveis transfor- com a fragmentação na sua ação didática.
mações nas sociedades contemporâneas em todos Tais reflexões nos fazem perceber como é
os sentidos, sinalizando a construção de uma nova importante o professor universitário determinar, de
sociedade, uma nova realidade social, obrigando a início, o que o universitário será capaz de fazer ao
educação escolar a vincular-se às práticas sociais e final do aprendizado.
ao mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, provo- Autores como Freire (1996); Libâneo (1999);
cando mudanças significativas na Educação Superior Pimenta; Anastasiou (2002); Massetto (2003); Alar-
brasileira. cão (2003); Zabalza (2004); Veiga; Araújo; Kapuziniak
No que se refere à formação de professores (2005); Passos et al. (2006), entre outros, comentam
para o Ensino Superior, as pesquisas recentes na acerca da necessidade de que o professor universitá-
área da educação mostram que os docentes são pro- rio tenha a habilidade de construir o próprio processo
fissionais essenciais nos processos de mudança das pedagógico, articulando o ensino e a pesquisa, de
sociedades. Por conseguinte, é preciso investir em acordo com os avanços científico-tecnológicos e as
sua formação e desenvolvimento profissional. Acre- necessidades e capacidades dos universitários.
dita-se que, como a Educação Superior está inserida Na realidade, o professor universitário deve
no contexto social global, faz-se necessário situá-la, estar atento ao fato de que o sistema social faz exi-
analisá-la e criticá-la como instituição social que tem gências ao sistema educacional, que acaba por de-
compromissos historicamente definidos. terminar os fins da educação. A partir daí, cabe-lhe
Diante desse quadro, a relação professor- a importante missão de refletir sobre tais exigências,
aluno se funda na criatividade epistemológica, no identificando aquelas que devem ser satisfeitas e
compromisso com o rigor metódico e ético com os aquelas que devem sofrer influências transformado-
sujeitos que interagem a teia de relações que envol- ras por parte do seu trabalho. Posteriormente, de-
vem o conhecimento como categoria nos processos verá pensar na formulação de objetivos, seleção e
de ensinar e aprender. Há um entendimento similar planejamento de conteúdos e metodologias adequa-
entre autores como Arroyo (2000); Pimenta; Anasta- das para o desenvolvimento do processo de ensino-
siou (2002); Souza (2003); Gasparian (2005); Zabal- aprendizagem.
za (2004); Passos et al. (2006), entre outros, de que o Reportamo-nos a autores como Mello (1994);
ato de aprender a aprender é uma das principais fun- Freire (1996); Libâneo (1999); Arroyo (2000) Pimenta;
ções do ato de ensinar, ou melhor, do ato de educar. Anastasiou (2002); Massetto (2003); Alarcão (2003);
O educador democrático não pode negar-se Zabalza (2004); Veiga (2005); Passos et al. (2006),
ao dever de, na sua própria prática docente, refor- ao enfatizarem a necessidade de levar em conta o
çar a capacidade crítica do educando, sua curiosi- contexto da educação e suas relações com a socie-
dade, suas tarefas primordiais, e trabalhar junto aos dade, para a melhoria dos cursos de formação. Os
mesmos a rigorosidade metódica com que devem autores concordam com o fato de que o espaço ins-
se “aproximar dos objetivos cognoscíveis” (FREIRE, titucional que o professor ocupa é dinâmico, atraves-
1997, p. 28). sado por tensões, onde acontece um intensivo jogo
Portanto, entendendo a Didática como um de poder gerador de conflitos e lutas. Não é neutro e
campo de conhecimentos e saberes de pluridade reflete carências, expectativas, desejos, fragilidades,
epistêmica, em que questões de teoria e prática, en- pensamentos, dependência, enfim, tudo o que afeta
sino e aprendizagem, conteúdo e forma estão rela- o professor como profissional e pessoa.
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