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Se o Senhor Não Guardar a

Cidade, Em Vão Vigia a


Sentinela
 Daniel Conegero

O versículo que diz: “Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a


sentinela” fala sobre a soberania de Deus no governo de todas coisas. O seu
significado enfatiza que o esforço humano é inútil sem a intenção providencial do
Senhor.
Esse versículo faz parte do Salmo 127, um salmo atribuído ao rei Salomão. No verso
2 desse salmo, Salomão usa duas imagens para falar da soberania de Deus: a
construção de uma casa e a proteção de uma cidade. Por isso ele escreve: “Se o
Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não
guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Salmo 127:2).
É fácil notar que com o uso dessas duas imagens nesse verso, o escritor bíblico tem
mente duas das principais preocupações humanas: o trabalho de construir e o
trabalho de preservar. Mas ele também deixa claro que sem a ação do Senhor,
ambos os trabalhos serão inúteis.

Se o Senhor não guardar a cidade


Nos tempos antigos, uma boa cidade era sempre cercada de fortes muros e
portões resistentes. Além disso, havia a vigilância constante das sentinelas que
eram capazes não apenas de montar guarda armada num posto, mas também de
avisar o restante da força militar da cidade ao sinal de qualquer perigo. O trabalho
das sentinelas na guarda de uma cidade era algo realmente fundamental. Se as
sentinelas falhassem em sua tarefa, a cidade podia ser destruída.

Além das sentinelas, as cidades-estado também tinham suas próprias divindades.


Os povos antigos, por mais que fossem pagãos, tinham a consciência de que
dependiam de uma proteção que estava além de suas capacidades. Como parte
da imagem de Deus que restou no homem após o pecado, faz parte da natureza
humana essa busca pelo religioso, esse “censo do divino”; embora seja verdade que
o homem caído rejeita a verdade de Deus em troca da mentira dos falsos deuses
que ele mesmo criou para si (Romanos 1:18-23).
Mas o versículo bíblico não diz: “Se os deuses não guardarem a cidade, em vão vigia
a sentinela”. Em vez disso, o versículo diz de forma clara: “Se o Senhor não guardar
a cidade, em vão vigia a sentinela”. O título “Senhor”, normalmente escrito em caixa
alta nas traduções em português, “SENHOR”, indica o nome pessoa de
Deus, Yahweh. Esse é o nome que Deus revelou em sua aliança com Israel ao tirar a
nação do Egito (cf. Êxodo 3).
De fato, algumas cidades da Antiguidade conseguiram alcançar a posição de
capitais de grandes impérios. Porém, tudo isso ocorreu de acordo com o propósito
soberano do Senhor. Foi assim que Deus levantou, por exemplo, a Babilônia, sob
o rei Nabucodonosor, ou a Pérsia, sob o rei Ciro.
Mas sem a proteção divina, até mesmo uma imponente cidade, por mais poderoso
que fosse o seu exército, podia ser conquistada. Foi assim com a cidade da
Babilônia. Da mesma forma que o Senhor a levantou, o Senhor também a abateu.
Aquela superpotência foi tomada pela coalisão medo-persa de forma sorrateira e
sem ter chance de esboçar qualquer reação (Daniel 5).

Em vão vigia a sentinela


Após mostrar que o Senhor é quem de fato protege, Salomão olha para o trabalho
das sentinelas da perspectiva divina. Então ele diz: “Se o Senhor não guardar a
cidade, em vão vigia a sentinela”. Em outras palavras, o trabalho das sentinelas só
pode ser bem-sucedido, se estiver apoiado sob a proteção divina.
Aqui não podemos ignorar o fato de que esse versículo faz parte de um dos
chamados “Salmos de Romagem”, que eram os cânticos de peregrinação. Isso
significa que esse verso era parte das canções entoadas pelos peregrinos que se
dirigiam à cidade de Jerusalém para participarem das festividades anuais.
Então quando os viajantes cantavam: “Se o Senhor não guardar a cidade, em vão
vigia a sentinela”, obviamente eles estavam se referindo especialmente à cidade de
Jerusalém. Então essa era uma verdadeira confissão de fé em Deus.
Isso porque, à luz do que já foi exposto aqui, esse verso indica que a verdadeira
proteção de Jerusalém não dependia da habilidade de suas sentinelas. Na verdade,
antes de ser tomada pelos israelitas, Jerusalém era a fortaleza dos jebuseus, era
uma cidade praticamente impenetrável. Mas mesmo assim Deus entregou a cidade
nas mãos dos israelitas sob a liderança do rei Davi.
Além disso, a proteção de Jerusalém também não repousava na crença em falsos
deuses, ou em ideias místicas, como supostos poderes mágicos. Absolutamente
tudo dependia do Senhor. Por isso, em outro Salmo de Romagem podemos
ler: “Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel” (Salmo 121:4).

Se o Senhor não guardar a cidade, em vão


vigia a sentinela: o que isso não significa?
É verdade que esse versículo pode muito bem ser aplicado à vida do povo de Deus
em qualquer época e lugar. Então sim, dizer que “se o Senhor não guardar a cidade,
em vão vigia a sentinela”, é um princípio válido para nós aqui e agora.
Porém, muita gente aplica esse versículo de forma completamente inadequada. Por
exemplo: algumas pessoas acabam sendo negligentes com a segurança dos bens
de sua família alegando que eles estão sob a proteção de Deus e, portanto, não há
nada que possa ser feito por nós.

Sim, sem dúvida tudo o que temos está sob o governo do Senhor. Mas essas
pessoas se esquecem que muitas vezes Deus cumpre os seus propósitos através de
nossas ações. Isso quer dizer que muitas vezes a proteção do Senhor para com os
bens da família do crente é cumprida através do cuidado e do zelo do próprio
crente como um bom chefe de família que não coloca em risco os frutos de seu
trabalho.

Além do mais, a própria história de Jerusalém mostra de forma clara esse princípio.
Quando os muros de Jerusalém estavam sendo reconstruídos nos dias de Neemias,
houve grande oposição dos povos vizinhos que queriam impedir a obra. Inclusive,
esses povos ameaçaram usar força militar contra os judeus.
Mas, sob a orientação do Senhor, os homens de Neemias seguravam as
ferramentas de trabalho com uma das mãos, e carregavam com a outra a espada
para protegerem a cidade (Neemias 4:17,18). Isso significa que sob a disposição
corajosa daqueles homens, Deus estava guardando a cidade, e o trabalho deles não
foi vão. Então saber que “se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a
sentinela”, não é desculpa para sermos negligentes.

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