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MUSCULAÇÃO NA GRAVIDEZ
Introdução
Mesmo sabendo dos benefícios que a prática regular de atividades físicas pode trazer à
mulher grávida, alguns cuidados devem ser adotados durante a prescrição dos exercícios no
sentido de promover uma completa adequação as condições específicas apresentadas pela
gestante. Neste contexto, alguns importantes fatores devem ser considerados. São eles:
segurança, meio ambiente e tipo de exercício.
O tipo de atividade física talvez seja o fator mais importante a ser considerado na
prescrição de exercícios para gestantes. A escolha da atividade deve ser precedida por uma
avaliação médica, para que somente assim haja a segurança correta. Após a aprovação do
médico especializado, a mulher grávida deve ingressar em atividades que lhe garantam
prazer e bem estar, assim como também em atividades que apresentem baixo risco.
Segundo Matsudo e Matsudo (2000), as atividades físicas para gestantes podem ser
classificadas em três tipos: atividades de baixo risco, atividades de médio risco e atividades
desfavoráveis. O primeiro tipo refere-se aos exercícios mais convenientes e benéficos para
a gestante, pois comportam pequenos riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Incluem-
se neste grupo a caminhada, ciclismo em bicicleta ergométrica, a natação e a hidroginástica
leve. As atividades de médio risco são aquelas que podem ser praticadas pela mulher
grávida, porém quando tomadas certas precauções; ginástica aeróbia, musculação e os
esportes de raquete (tênis, squash) estão incluídos neste grupo. Por fim, temos as atividades
desfavoráveis, que são totalmente contra indicadas para todas as mulheres em gestação.
Neste grupo estão as atividades de esportes de contato físico ou de grande probabilidade de
trauma, entre as quais podemos destacar o voleibol, basquetebol, esqui aquático, ginástica
de alto impacto e hipismo (Matsudo, 2004).
O presente trabalho dará ênfase sobre uma das atividades citadas anteriormente: a
musculação. Nosso objetivo principal será apresentar, através de uma revisão de literatura,
considerações levantadas a respeito da prática da musculação durante a gestação, com
enfoque especial sobre os efeitos orgânicos na saúde da gestante e no crescimento fetal.
Para que o objetivo geral acima citado seja atingido, alguns objetivos específicos foram
delimitados. São eles: apresentar as principais adaptações fisiológicas em repouso que
ocorrem com a gravidez, verificar as prescrições de cargas corretas para o trabalho de
musculação com gestantes, analisar as contra indicações da musculação durante a gravidez
e apresentar os principais benefícios biológicos e psicológicos que podem resultar da
prática de musculação para mulheres grávidas.
Cardiovasculares
• Aumento no débito cardíaco de repouso de até 50 %
• Aumento no volume sanguíneo circulante
• Aumento no tamanho diastólico terminal do ventrículo esquerdo
• Aumento na freqüência cardíaca de repouso e no volume de ejeção
• Aumento no fluxo sanguíneo em direção ao útero
Pulmonares
• Aumento na ventilação-minuto acarretando uma ligeira queda na PCO2 arterial
• Aumento no volume corrente
Outras
• Aumento no VO2 em repouso, aproximando-se no terceiro trimestre de 30% acima dos
valores das mulheres que não estão grávidas
• Aumento nos hormônios estrogênios e relaxina
• Aumento no peso corporal total de 10-14 kg
• Aumento no dispêndido energético em repouso em aproximadamente 150 kcal/dia durante
o primeiro trimestre e de aproximadamente 350 kcal/dia durante o segundo e terceiro
trimestres.
A musculação pode ser definida como sendo a utilização de exercícios contra resistência
objetivando atuar nos ambientes competitivo, profilático, terapêutico, recreativo, estético e
de preparação física (Bittencourt, 1986). Segundo Santarém (2000b), o trabalho de
musculação pode ser realizado através de dois tipos de sobrecarga: tensional e metabólica.
A sobrecarga tensional representa o grau de tensão que ocorre nos músculos durante a
contração, e do ponto de vista prático é dada pela carga de trabalho; quanto maior for a
carga, maior será a sobrecarga tensional. Já a sobrecarga metabólica representa a solicitação
acentuada dos processos de produção de energia, principalmente a partir da glicólise
anaeróbia. Do ponto de vista prático é dada pelo alto número de repetições e pelo intervalo
curto entre as séries.
Após uma extensa revisão bibliográfica, acreditamos que o trabalho de musculação para
gestantes pode sim ser realizado, porém somente quando é utilizado com objetivos
recreativos, ou seja, quando representa uma forma de lazer através do exercício com pesos
(Bittencourt, 1986). A prática de atividades resistidas que visa o aperfeiçoamento da
preparação física desportiva e da capacidade competitiva deve ser desencorajada entre as
gestantes, já que a gravidez não é o momento apropriado para competições sérias de alto
nível de rendimento.
Assim sendo, a prescrição dos exercícios de musculação para mulheres grávidas, segundo
Matsudo e Matsudo (2000), deve privilegiar o treinamento com número de repetições em
torno de 10, com estimulação de 10-15 grupos musculares, duas vezes por semana. A
recuperação das fontes energéticas entre cada exercício deve ser completa e a intensidade
das cargas deve ser bastante moderada; algo em torno de 1,5 a 2,5 Kg.
Uma forma bastante simples e correta de controlar a intensidade das cargas é através da
escala de percepção de esforço subjetivo proposta por Borg (1998). No trabalho de
musculação com gestantes, os valores devem variar entre 9 e 11 nesta escala, o que
corresponde a atividades com estímulos de carga muito leves e leves, respectivamente (ver
quadro 02).
A seguir, a escala de Borg está representada no quadro 02 para que haja melhor
entendimento sobre o assunto em discussão.
06
07 Extremamente leve
08
09 Muito leve
10
11 Leve
12
13 Moderadamente forte
14
15 Forte
16
17 Muito forte
18
19 Extremamente forte
20
Quadro 02 - escala de percepção de esforço subjetivo
(adaptado de Borg, 1998)
No trabalho de musculação existem algumas situações específicas que devem ser evitadas
quando os exercícios são realizados por uma mulher grávida, sob pena de colocar a mesma
em riscos potencialmente prejudiciais. Estas situações contra-indicam a prática da
musculação na gestação, e por este motivo devem ser estudadas detalhadamente pelos
profissionais de Educação Física que trabalham na área.
A primeira situação refere-se aos tipos de respiração durante a execução dos exercícios de
musculação. Neste contexto, as respirações do tipo bloqueada e combinada não devem em
hipótese alguma ser aplicadas no trabalho com gestantes. O primeiro tipo é aquele em que a
praticante, antes de iniciar o movimento, inspira, realiza os movimentos concêntrico e
excêntrico, e só depois expira o ar, ou seja, ela bloqueia a circulação de oxigênio durante
toda a execução do movimento; já a respiração combinada é aquela em que a praticante,
antes de iniciar o movimento, inspira, realiza o movimento concêntrico e expira durante a
realização do movimento excêntrico. Tanto uma quanto a outra envolvem a chamada
"Manobra de Valsalva", a qual provoca aumento do percentual isométrico da atividade, o
que conduz a uma elevação da resistência periférica na passagem sanguínea, fazendo com
que a pressão arterial apresente-se mais alta, tendo como conseqüência uma solicitação
cardíaca maior e uma elevação da freqüência cardíaca. Em outras palavras, os tipos de
respiração anteriormente descritos provocam sobrecarga ao coração e problemas de
circulação sanguínea, principalmente no que se refere a obstrução do retorno venoso,
sendo, portanto, não recomendadas para a prática com gestantes, já que estas devem
apresentar uma circulação sanguínea estável para proporcionar um fluxo de sangue
adequado ao feto em desenvolvimento.
Além das situações práticas do dia-dia, existem também algumas situações de saúde que
contra-indicam a prática da musculação na gravidez. Baseados em Artal, Wiswell,
Drinkwater e Jones (1991), podemos dividir estas situações de contra indicações em dois
tipos: absolutas e relativas.
Assim como qualquer outra atividade física, a musculação proporciona diversos benefícios
à gestante, porém desde que os exercícios sejam prescritos de forma individualizada e com
cargas adequadas. De acordo com Matsudo e Matsudo (2000), tais benefícios podem ser
divididos em dois tipos: biológicos e psicosociais. Os benefícios biológicos incluem as
alterações físicas, fisiológicas, posturais, entre outras, sendo representados pelos principais
efeitos orgânicos dos exercícios sobre a gestante (O'Toole, 2003). Já os benefícios
psicosociais incluem as alterações de comportamento e sensações, exercendo influência
direta sobre as atitudes da mulher grávida durante a gestação.
Um terceiro benefício biológico que podemos analisar consiste na menor duração da fase
ativa do parto. Neste contexto, Matsudo (2004) indica que os exercícios que promovem o
fortalecimento, alongamento e relaxamento dos músculos que são utilizados no processo de
parturição, podem facilitar a chegada do bebê, auxiliando a gestante no momento do parto e
contribuindo para sua recuperação no período pós-parto, diminuindo assim os riscos de
complicações obstétricas.
Enfim, os benefícios são múltiplos e mais variados possíveis. Abaixo segue um pequeno
quadro resumindo todos estes benefícios proporcionados pela musculação e demais
atividades físicas, sejam eles biológicos ou psicosociais.
Benefícios biológicos
• Maior nível de independência funcional
• Prevenção da lombalgia
• Menor duração na fase ativa do parto
• Menor ganho de massa corporal e adiposidade materna
• Diminuição de complicações obstétricas
• Melhoria da capacidade física
• Diminuição da incidência de cesárea
• Menor tempo de hospitalização
• Menor risco de parto prematuro
Benefícios psicosociais
• Melhoria da auto-imagem
• Melhoria da auto-estima
• Melhoria da sensação de bem estar
• Diminuição da sensação de isolamento social
• Diminuição da ansiedade
• Diminuição do estresse
• Diminuição do risco de depressão
Conclusão
Perante a literatura pesquisada, verificamos que a musculação não se constitui em uma das
atividades físicas mais recomendadas pelos profissionais de saúde durante a gravidez,
sendo classificada como uma prática de médio risco para a gestante. A hidroginástica,
caminhada, natação e outras atividades de características predominantemente aeróbias, são
as atividades priorizadas e normalmente recomendadas para mulheres grávidas. No entanto,
verificamos também que a musculação, quando ambientada em um contexto recreativo e
com prescrições adequadas de cargas, pode proporcionar importantes benefícios à gestante.
Referências bibliográficas
2) ARTAL, Raul., CLAPP, James F., VIGIL, Daniel V. Exercícios durante a gravidez:
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URL: htpp://www.efartigos.hpg.com.br/otemas/artigo53.html . Acesso: 16 jul. 2004
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1998.
6) FOSS, Merle L., KETEYIAN, Steven J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. 6
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11) SANTARÉM, José Maria. Atualização em exercícios resistidos: exercícios com pesos e
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http://www.saudetotal.com/saude/musvida/pesos.htm . Acesso: 16 jul. 2004.
12) SANTARÉM, José Maria. Hipertrofia muscular: aptidão física, saúde e qualidade de
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Acesso: 16 jul. 2004.
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