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LIVRO A ERA DOS DIREITOS, DE NORBERTO BOBBIO

INTRODUÇÃO
No presente livro, Bobbio reúne seus principais artigos acerca dos direitos do
homem, escritos ao longo do tempo.

O reconhecimento e a proteção dos direitos do homem estão na base das


Constituições democráticas modernas. A paz, por sua vez, é o pressuposto
necessário para a efetiva proteção dos direitos do homem em cada Estado. Aliás,
direitos do homem, democracia e paz são três pressupostos necessários. Sem
direitos do homem reconhecidos não há democracia e sem democracia não existe
paz, isto é, não existem condições mínimas para a solução pacífica dos conflitos.

“Sobre os fundamentos dos direitos do homem" é o primeiro artigo de Bobbio


sobre o assunto e remonta a 1951. Nasceu de uma aula sobre a Declaração dos Direitos
do Homem. Nele estão contidos algumas teses das quais Bobbio afirma nunca ter se
afastado: os direitos naturais são direitos históricos // nascem no início da era
moderna juntamente com a concepção individualista da sociedade // e os direitos
naturais são os maiores indicadores do progresso histórico da humanidade.

No artigo "Sobre os fundamentos dos direitos do homem", Bobbio aprofunda a


tese da historicidade dos direitos humanos.
No artigo que se segue, chamado "Presente e futuro dos direitos do homem",
aborda as várias fases da história dos direitos humanos, desde sua proclamação até
sua positivação, desde sua positivação no interior de cada Estado até em todo sistema
internacional.
O terceiro artigo "A era dos Direitos", aborda o tema do significado histórico da
"inversão", isto é, passou-se da prioridade dos deveres dos súditos (Estado
despótico e absoluto anterior) à prioridade dos direitos do cidadão (Estado de
direito), emergindo uma nova visão da relação política, não mais do ângulo do
soberano e sim do cidadão. Põe em evidência como ocorreu a ampliação do âmbito dos
direitos do homem na passagem do homem abstrato ao homem concreto.

Nesses escritos são discutidos problemas tanto históricos como teóricos. No plano
histórico, Bobbio sustenta que a afirmação dos direitos do homem deriva dessa
"inversão" de perspectiva na relação Estado/cidadão ou soberano/súditos, relação
que passa a ser cada vez mais encarada do ponto de vista dos cidadãos, não mais
súditos.

Esse ponto de vista está de acordo com a concepção individualista da sociedade,


que afirma que para compreender a sociedade, é preciso partir de baixo, ou seja,
dos indivíduos que a compõem. Por outro lado, a concepção orgânica tradicional
afirma que a sociedade como um todo vem antes do indivíduo.

Essa inversão de perspectiva ocorre a partir da era moderna, principalmente pelas


guerras de religião, através das quais vai se afirmando o direito de resistência à
opressão, o direito do indivíduo não ser oprimido, ou seja, gozar de algumas
liberdades fundamentais. Fundamentais porque são naturais e naturais porque cabem
ao homem enquanto tal.

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O caminho da concepção individualista da sociedade procede lentamente, desde o
reconhecimento dos direitos do cidadão até a Declaração Universal dos Direitos do
Homem. A Declaração favoreceu a emergência do indivíduo, embora débil e
obstaculizada, no interior de um espaço antes reservado exclusivamente aos Estados
soberanos.

Do ponto de vista teórico, Bobbio afirma que sempre defendeu que os direitos do
homem, e por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja,
nasceram em certas circunstâncias (fruto do contexto sócio-histórico) de modo
gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas.

Bobbio afirma que ao lado dos direitos sociais, chamados de direitos de Segunda
geração, emergiram hoje os chamados direitos de Terceira geração, reivindicando o
direito de viver num ambiente não poluído (movimentos ecológicos). Já se apresentam
futuros direitos da Quarta geração, referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da
pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada
indivíduo. Tal fato é mais uma prova de que os direitos não nascem todos de uma vez.
Nascem quando devem ou podem nascer. Nascem quando o progresso técnico, isto
é, o progresso da capacidade do homem de dominar a natureza e os outros
homens, criando assim novas ameaças à liberdade do indivíduo.

Para exemplificar a historicidade dos direitos do homem, Bobbio destaca que os direitos
de Terceira geração não eram sequer imaginados quando foram propostos os direitos da
Segunda geração, do mesmo modo que estes últimos não eram sequer concebíveis
quando foram promulgadas as primeiras Declarações. Esses direitos, ou seja, essas
exigências nascem somente quando surgem certos carecimentos.

Falar de direitos naturais ou fundamentais inalienáveis e invioláveis é usar uma


linguagem persuasiva, que pode ter função prática em um documento e dar força à
exigência. Todavia, ao longo de seus artigos, Bobbio demonstra que há um abismo
entre o reconhecimento dos direitos do homem e sua efetiva aplicação. Bobbio
afirma constantemente que a maior parte dos direitos sociais, que são exibidos em
todas as declarações nacionais e internacionais, não saíram do papel.

O debate acerca do significado da expressão "direitos do homem" é confuso. A


distinção clássica na linguagem dos juristas é entre "direitos naturais" e "direitos
positivos". Bobbio afirma que "direitos morais" é algo contraposto a "direitos legais", da
mesma forma que "direitos naturais" é contraposto a "direitos positivos". Trata-se de
uma contraposição entre dois sistemas normativos distintos.

O exemplo de que a obrigação moral de dar esmolas não faz nascer o direito de pedi-las,
demonstra que de uma obrigação moral não nasce uma obrigação jurídica. Mas pode-se
dizer o mesmo do direito moral? Que sentido poder ter a expressão direito moral se não
a de direito que corresponda a uma obrigação moral?
Para responder essa pergunta, Bobbio afirma que ao se introduzir a noção de direito
moral, introduz-se também a noção de obrigação moral, necessariamente. Ter direito
moral em face de alguém significa que há um outro indivíduo que tem obrigação moral
para comigo.

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Bobbio finaliza a introdução do livro afirmando que uma coisa é proclamar os
direitos humanos, outra é desfrutá-lo efetivamente. Contrapõe a "era dos direitos"
com a "massa dos sem direitos", isto é, os direitos de que fala a primeira expressão
são somente os proclamados nas instituições internacionais e nos congressos, enquanto
a segunda expressão corresponde à esmagadora maioria da humanidade, que não
possui de fato os direitos, ainda que sejam repetidamente proclamados.

PRIMEIRA PARTE
"SOBRE OS FUNDAMENTOS DOS DIREITOS DO HOMEM"
Neste ensaio, Bobbio propõe-se a discutir três temas? 1) qual é o sentido do
fundamento absoluto dos direitos humanos; 2) se um fundamento absoluto é
possível; 3) se caso seja possível, é também desejado;

O problema do fundamento de um direito apresenta-se diferentemente, caso se trate de


buscar o fundamento de um "direito que se tem" ou "de um direito que se gostaria ter".
No primeiro caso, Bobbio investiga se no ordenamento jurídico positivo há uma norma
válida que o reconheça e qual é essa norma. No segundo caso, tenta buscar boas razões
para defender a legitimidade do direito em questão e seu reconhecimento.

Os direitos humanos são direitos desejados, isto é, fins que merecem ser
perseguidos, e apesar de sua desejabilidade, ainda não foram todos eles
reconhecidos.

Bobbio afirma que todos nós estamos convencidos de que encontrar um


fundamento, ou seja, motivos para justificar, é um meio adequado para obter um
mais amplo reconhecimento dos direitos do homem. Todavia, da busca desse
fundamento nasce a ilusão do "fundamento absoluto", isto é, a ilusão de encontrar o
argumento último ao qual ninguém poderá recusar.

Essa ilusão foi comum durante séculos aos jusnaturalistas, que supunham ter
colocado os direitos naturais acima da possibilidade de qualquer refutação,
derivando-os da natureza do homem. Entretanto, Bobbio afirma que a natureza do
homem revelou-se muito frágil como fundamento absoluto. Afirma ainda, que toda
busca do fundamento absoluto é infundada. Os valores últimos (= fundamento
absoluto) não se justificam, o que faz é assumi-los. O que é último, precisamente
por ser último, não tem nenhum fundamento.

Bobbio afirma que o próprio conceito de "direitos do homem" é uma expressão


muito vaga. Muitos já tentaram defini-lo, mas a maioria das definições são
tautológicas. Finalmente, quando se acrescenta alguma referência ao conteúdo,
acrescentam-se também termos avaliativos: "aperfeiçoamento da pessoa humana" ou
"desenvolvimento da civilização". Ocorre que os termos avaliativos são interpretados de
modo diverso conforme a ideologia assumida pelo intérprete, tornando-se, por isso,
objeto de mais polêmicas.

Pergunta-se, então: Como é possível pôr fim ao problema do fundamento, absoluto ou


não, de direitos do homem, dos quais é impossível dar uma noção precisa?

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Bobbio afirma que além dos direitos do homem não possuírem uma noção precisa, os
direitos do homem constituem também uma classe variável. Isto que dizer que os
direitos humanos se modificam (Bobbio defende sempre a significação histórica
desses direitos), e continuam a se modificar com a mudança das condições sócio-
históricas. O que parece fundamental numa época histórica e numa determinada
civilização não é fundamental em outras épocas e em outras culturas. Sendo assim,
Bobbio afirma que não existem direitos fundamentais por natureza e não se pode
atribuir um fundamento absoluto a direitos historicamente relativos.

Bobbio finaliza o artigo "Sobre os fundamentos dos direitos do homem" com a


afirmação de que o problema fundamental dos direitos do homem não é justificá-
lo, mas sim protegê-lo. Trata-se de um problema político, e não filosófico. Conforme
Bobbio afirma na introdução de seu livro, os direitos do homem estão enunciados
nas Declarações e positivados nas Constituições, contudo, não são reconhecidos e
aplicados efetivamente.

A ERA DOS DIREITOS


Um entrevistador, após uma conversa sobre as características de nosso tempo que
despertam preocupação para o futuro da humanidade (sobretudo três características: o
aumento cada vez mais incontrolado da população, o aumento da degradação do
ambiente e o poder destrutivo dos armamentos), perguntou a Bobbio se este via algum
sinal positivo. Bobbio afirmou que sim, que via pelo menos a crescente importância nos
debates internacionais acerca do reconhecimento dos direitos do homem.

O problema do reconhecimento dos direitos humanos não nasceu hoje. Pelo menos
desde o início da era moderna, através da difusão das doutrinas jusnaturalistas e das
Declarações dos Direitos do Homem, o problema do reconhecimento acompanha o
nascimento, desenvolvimento e afirmação do Estado de direito. Mas é também
verdade que somente depois da Segunda Guerra é que esse problema passou da
esfera nacional para a internacional, envolvendo pela primeira vez na história
todos os povos.

Bobbio afirma que é com o nascimento do Estado de direito que ocorre a passagem
final do ponto de vista do príncipe para o ponto de vista dos cidadãos. No Estado
despótico, os indivíduos singulares só têm deveres e não direitos. No Estado
absoluto, os indivíduos possuem, em relação ao soberano, somente direitos
privados. No Estado de direito o indivíduo tem, em face do Estado, não só direitos
privados, mas também direitos públicos. O Estado de direito é o Estado dos
cidadãos.

Bobbio declara que há três processos de evolução na história dos direitos do


homem: conversão em direito positivo // generalização // internacionalização dos
direitos humanos.

São várias as perspectivas que podem se assumir para tratar do tema dos direitos do
homem: filosófica, histórica, ética, jurídica, política, etc.

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Para o discurso dos direitos humanos no presente artigo ("A era dos direitos"),
Bobbio afirma que escolheu a perspectiva que ele próprio denomina de "filosofia
da história".

Bobbio afirma que a filosofia da história está hoje desacreditada, é considerada


uma forma de saber típica da cultura do século XIX, algo já superado. Entretanto,
Bobbio diz que diante de um grande tema como os direitos do homem, é irresistível
a tentação de ir além da história meramente narrativa. Afirma que a filosofia da
história vai muito além da história factual e narrativa, pois os eventos deixam de
ser dados de fato a narrar e se tornam indícios reveladores de um processo.

Isto é, a filosofia da história põe o problema do "sentido da história" segundo uma


concepção finalística, considerando o curso histórico como algo orientado para um fim.
E de acordo com Bobbio, somente quando se leva em conta a finalidade de uma
ação é que se pode compreender o seu real sentido.

No presente artigo, Bobbio expõe sua tese: afirma que do ponto de vista da filosofia
da história, o atual debate sobre os direitos do homem (hoje em dia tão amplo, que
envolveu todos os povos da Terra) pode ser interpretado como um sinal premonitório
do progresso moral da humanidade.

A única afirmação que posso fazer com segurança, afirma Bobbio, é que a história
humana é ambígua, dando resposta diversas segundo quem a interroga, de acordo com
seu ponto de vista (retrata portanto o relativismo histórico). Apesar desse relativismo,
não podemos deixar de nos interrogar sobre o destino do homem e sobre sua origem, o
que só podemos fazer observando os sinais que os eventos e fatos nos fornecem.

Bobbio afirma que há uma grande diferença entre o progresso científico/técnico e o


progresso moral. Enquanto que o progresso técnico/científico é efetivo, é bem mais
difícil enfrentar o problema da efetividade do progresso moral, pelo menos por duas
razões: 1) o próprio conceito de moral é problemático. 2) ainda que todos nós
estivéssemos de acordo sobre o modo de entender a moral, ninguém até agora
encontrou indicadores para medir o progresso moral de uma nação tão claros
quanto são os indicadores que servem para medir o progresso técnico/científico.

O conceito de moral é problemático, salvo para uma visão religiosa do mundo, que é
habitualmente designada com a expressão "consciência moral". Todavia, Bobbio deixa
claro que busca encontrar uma resposta não do ponto de vista religioso, mas do ponto de
vista de uma ética racional. Bobbio afirma categoricamente que as explicações
teológicas não o convencem e as racionais são parciais.

O que nós chamamos de “consciência moral”, afirma Bobbio, sobretudo em função


da influência que teve a educação cristã na formação do homem europeu, é algo
relacionado com a formação e o crescimento da consciência do estado de
sofrimento, penúria, miséria e infelicidade em que se encontra o homem no mundo,
bem como o sentimento de insuportabilidade de tal estado.

Bobbio declara que a parte obscura da história do homem é bem mais ampla que a parte
clara. Todavia, há zonas de luz que até o mais pessimista não pode ignorar: a abolição
da escravidão e a supressão da pena de morte em alguns países. É nessa zona de Luz

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que Bobbio coloca, juntamente com os movimentos ecológicos e pacifistas, o interesse
crescente de movimentos e governos pelo reconhecimento e proteção dos direitos do
homem. Todos os esforços para o bem são uma característica essencial do mundo
humano e nascem da consciência, do estado de sofrimento e de infelicidade que o
homem vive. A esse conjunto de esforços que o homem faz para transformar o mundo
que o circunda e torná-lo menos hostil, pertencem as regras de conduta, que se voltam
no sentido de tornar possível uma convivência pacífica.

Em relação às regras de conduta, visam obter comportamentos desejados e evitar os não


desejados, recorrendo a sanções celestes ou terrenas. Logo nos vêm à mente os Dez
Mandamentos: foram durante séculos, e ainda o são, o código moral por excelência no
mundo cristão. Bobbio afirma que o mundo moral, tal como aqui o entendemos - como
o remédio ao mal que o homem pode causar ao outro - nasce com a formulação, a
imposição e a aplicação de mandamentos ou proibições.

A doutrina filosófica que fez do indivíduo e não mais da sociedade o ponto de


partida para a construção de uma doutrina moral e do direito foi o jusnaturalismo,
que pode ser considerado sob muitos aspectos a secularização da ética cristã.

Locke, que foi o principal inspirador dos primeiros legisladores dos direitos do
homem, começa o capítulo sobre o estado de natureza da seguinte forma:
"considero o estado que se encontram naturalmente todos os homens; e esse é um
estado de perfeita liberdade de regular as próprias ações como se acreditar
melhor, nos limites da lei da natureza, sem pedir permissão ou depender da
vontade de nenhum outro".

Partindo de Locke, pode-se compreender como a doutrina dos direitos naturais


pressupõe uma concepção individualista da sociedade e do Estado, em
contraposição à antiga concepção organicista, segundo a qual a sociedade é um
todo e o todo está acima das partes.

A concepção individualista custou a abrir caminho, já que era considerada como


fomentadora da ruptura da ordem constituída.

A concepção orgânica é tão persistente que, ainda nas vésperas da Revolução Francesa,
que proclama os direitos do indivíduo diante do Estado, Edmund Burke escreve: "Os
indivíduos passam como sombras, mas o Estado é fixo e estável". Ressalto o desprezo
de Burke aos filósofos iluministas (em especial Rousseau), que denomina "audaciosos
experimentadores da nova moral".

A concepção individualista significa que primeiro vem o indivíduo, que tem valor
em si mesmo, e depois vem o Estado, e não vice-versa, já que o Estado é feito pelo
indivíduo e este não é feito pelo Estado. Nessa inversão de relação entre indivíduo e
Estado, é invertida também a relação tradicional entre direito e dever. Em relação aos
indivíduos, primeiro vêm os direitos e depois os deveres. Em relação ao Estado,
primeiro vêm os deveres, depois os direitos.

A mesma inversão ocorre com relação à finalidade do Estado. Para a concepção


orgânica a finalidade é a luta contra as facções, que dilacerando o corpo político,

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matam o Estado. Para a concepção individualista, a finalidade é o crescimento do
indivíduo, livre de condicionamentos externos.

A mesma inversão também ocorre com a justiça. Para a concepção orgânica a definição
do justo é a platônica, para qual cada uma das partes de que é composto o corpo social
deve desempenhar a função que lhe é própria. Na a concepção individualista, o justo é
que cada um seja tratado de modo que possa satisfazer as próprias necessidades e
atingir os próprios fins, antes de mais nada a felicidade, que é um fim individual
por excelência.

Desde seu primeiro aparecimento no pensamento político dos séculos XVII e


XVIII, a doutrina dos direitos do homem já evoluiu muito, ainda que entre
contradições e limitações. Embora a meta final de uma sociedade de livres e iguais
não tenha sido alcançada, já foram percorridas várias etapas, das quais não se
poderá voltar atrás.

Além do processo de positivação, generalização e internacionalização dos direitos


do homem, Bobbio afirma que nos últimos anos a tendência que se pode chamar de
"especificação": consiste na gradual determinação dos sujeitos titulares desses
direitos. Faz-se valer a exigência de responder com nova especificação a seguinte
questão: que homem, que cidadão?

Essa especificação ocorreu para determinar as peculiaridades com relação ao


gênero, às várias fases da vida e aos diferentes estados (estado normal ou
excepcional) da existência humana. Com relação ao gênero, vão sendo
reconhecidas as diferenças específicas entre a mulher e o homem. Com relação às
várias fases da vida, vão sendo progressivamente diferenciados os direitos da
criança e do idoso, por exemplo. Com relação aos estados normais e excepcionais,
vão sendo reconhecidos direitos especiais aos doentes mentais, aos deficientes
físicos, etc.

Olhando com caráter crítico para uma frase de Bobbio, percebemos que este demonstra
claramente a questão histórica dos direitos do homem, pois projeta ao futuro, possíveis
direitos de proteção ao homem: "Olhando para o futuro, já podemos entrever a extensão
da esfera do direito à vida das gerações futuras, cuja sobrevivência é ameaçada pelo
crescimento desmesurado de armas cada vez mais destrutivas".

Bobbio conclui "A era dos direitos", afirmando que uma coisa é falar dos direitos
do homem e justificá-los com argumentos convincentes, outra coisa é garantir-lhes
proteção efetiva.

Bobbio conclui: "disse no início que, assumir o ponto de vista da filosofia da história,
significa levantar o problema do sentido da história. Mas a história em si tem um
sentido? A história tem apenas o sentido que nós, em cada ocasião e de acordo com
nossa visão de mundo, atribuímos a ela. Refletindo sobre o tema dos direitos do homem,
pareceu-me poder dizer que ele indica um sinal do progresso moral da humanidade (isto
é, o progresso histórico dos direitos do homem). Mas esse é o único sentido”?

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