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Pierre Bourdieu mostra a importância de uma postura crítica do intelectual, este como
agente político.
“Se <<a imigração das ideias>>, como diz Marx, raramente se faz sem dano, é porque ela
separa as produções culturais do sistema de referências teóricas em relação às quais as ideias se
definiram, consciente ou inconscientemente, quer dizer do campo de produção balizado por
nomes próprios ou por conceitos em – ismos para cuja definição, elas contribuem menos do que
ele as define. Por isso, as situações de <<imigração>> com uma força especial que se torne
visível o horizonte de referencia o qual, nas situações correntes, pode permanecer em estado
implícito. Embora seja escusado dizer que repatriar este produto de exportação implica riscos
graves de ingenuidade e de simplificação – e também grandes inconvenientes, pois fornece um
instrumento de objetificação” (BOURDIEU, 1989, p. 7).
Dito isso, o autor mostra que deve haver uma ruptura com a dicotomia objetivismo/
subjetivismo, isto é, n se basear apenas em uma linha teórica, mas saber se apropriar de todas na
medida em que contribui para seu trabalho por mais difícil que possa ser trazer ideias de áreas
diferentes.
Bourdieu salienta a necessidade de analisar o poder simbólico e saber como ele se realiza,
legitima e reproduz.
“É necessário saber descobri-lo onde ele se deixa ver menos, onde ele é mais
completamente ignorado, portanto, reconhecido: o poder simbólico é, com efeito, esse poder
invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe
estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU, 1989, p. 7 – 8).
“A tradição neo-kantiana [...] trata os diferentes universos simbólicos, mito, língua, arte,
ciência, como instrumento de conhecimento e de construção do mundo dos objetos, como
<<formas simbólicas>>, reconhecendo [...] o <<aspecto activo>> do conhecimento [...]
Panofsky trata a perspectiva como uma forma histórica, sem todavia ir até a reconstrução
sistemática das suas condições sociais de produção” (BOURDIEU, 1989, p. 8).
Segundo Pierre Bourdieu “a teoria durkheiminiana corresponde com a tradição Kantiana,
com o intuito de oferecer respostas empíricas e positivas e não, apenas, alternativas do
apriorismo e empirismo. Dito isso Durkheim lança os fundamentos de uma sociologia das
<<formas simbólicas>> (como equivalente à <<formas de classificação>>. Tais formas
deixam de ser universais e, agora aproximando da teoria de Panofsky, para se tornarem em
<<formas sociais>> (socialmente determinadas por um grupo particular)” (BOURDIEU, 1989).
“Nesta tradição idealista, a objectividade do sentido do mundo define-se pela
concordância das subjectividades estruturantes (senso = consenso)” (BOURDIEU, 1989, p. 8).
“Desse modo, o autor caracteriza como estruturas estruturantes os instrumentos de
construção e conhecimento do mundo objetivo” (BOURDIEU, 1989).
A análise estrutural, segundo Bourdieu, permite uma leitura, seguindo a corrente simbolista
de Schelling, propriamente tautegórica e não alegórica, isto é, analisando determinados aspectos
tal como são sem exteriorizar o objeto do conceito.
“A análise estrutural tem em vista isolar a estrutura imanente a cada produção simbólica”
(BOURDIEU, 1989, p. 9).
Entende-se dessa forma como modus operandi as estruturas estruturantes e como opus
operatum as estruturas estruturadas.
“sistema estruturado, a língua é fundamentalmente tratada como condição de inteligibilidade
da palavra, como intermediário estruturado que se deve construir para se explicar a relação
constante entre o som e o sentido” (BOURDIEU, 1989, p. 9).
Com isso, percebe-se que os instrumentos de conhecimento para a conservação do mundo
caracterizam as formas simbólicas. Dito isso, a objetividade do mundo ganha sentido pela
concordância tácita entre subjetividades (processo incorporado no habitus).
Primeira síntese
Segunda síntese
“As relações de comunicação são [...] sempre relações de poder, que dependem [...] do
poder material ou simbólico acumulado pelos agentes (ou pelas instituições) envolvidos nessas
relações [...] É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de
conhecimento que os <<sistemas simbólicos>> cumprem a sua função política de instrumentos
de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de
uma classe sobre outra (violência simbólica) dando o reforço da sua própria força às relações de
força que as fundamentam e contribuindo assim, segundo a expressão de Weber, para a
<<domesticação dos dominados>>” (BOURDIEU, 1989, p. 11).
Logo, conferem a violência simbólica e se auto reforçam. Este processo de racionalização
da dominação caracteriza a violência simbólica.
As classes e suas fracções estão envolvidas em uma luta simbólica para impor a definição
de mundo segundo os seus interesses, tais conflitos podem ocorrer tanto diretamente, na vida
quotidiana; quanto por procuração, por especialistas da produção simbólica, tendo como objetivo
das classes o monopólio da violência simbólica legítima.
“O campo da produção simbólica é um microcosmos da luta simbólica entre as classes: é
ao servirem os seus interesses na luta interna do campo de produção (e só nessa medida) que os
produtores servem os interesses dos grupos exteriores ao campo de produção. A classe
dominante é o lugar de uma luta pela hierarquia dos princípios de hierarquização” (BOURDIEU,
1989, p.12).
Na luta pela hierarquização as fracções de poder de capital econômico estão acima
tentando se legitimar, seja por meio de sua produção simbólica ou por meio de ideólogos
conservadores que só servem a seus interesses por acréscimo, já a fracção dominada tende a
colocar o seu capital no topo da hierarquia, tal grupo supõe estar no topo por possuir um capital
diferenciado que na verdade é secundário.
Ensinar um ofício
Pensar relacionalmente
O autor mostra a importância de pensa de forma relacional, isto é, não distanciar a teoria
da metodologia. Além disso, a importância da criação de uma hipótese capaz de conduzir o
pesquisador, para que este não fique apenas no campo da abstração. “as opções técnicas mais
<<empíricas>> são inseparáveis das opções mais <<teóricas>> de construção do objeto”
(BOURDIEU, 1989, p.24).
O autor se preocupa em mostrar que rigor não é rigidez. Não é interessante, nem
inteligente, utilizar-se da rigidez para pesquisas, uma vez que seguir determinadas linhas de
pensamentos de forma rígida pode empobrecer a análise, que seria muito mais bem aproveitada
com uma interlocução de vários teóricos.
“A noção de campo é, em certo sentido, uma estenografia conceptual de um modo de
construção do objeto que vai comandar – ou orientar – todas as opções práticas da pesquisa. Ela
funciona como um sinal que lembra o que há que fazer, a saber, verificar que o objeto em
questão não está isolado de um conjunto de relações de que retira o essencial das suas
propriedades” (BOURDIEU, 1989, p.27).
“Se é verdade que o real é relacional, pode acontecer que eu nada saiba de uma
instituição acerca da qual eu julgo saber tudo, porque ela nada é fora das suas relações com o
todo” (BOURDIEU, 1989, p.31).
“trata-se de construir um sistema coerente de relações, que deve ser posto à prova como
tal” (BOURDIEU, 1989, p.33).
Bourdieu trás o método comparativo, visando utilizar um pensamento analógico fazendo
uma abstração do discurso em prol de uma sociologia reflexiva.
Rompimento com o senso comum é dos principais fatores para se construir um objeto
cientifico. O mundo social muda, logo o objeto também muda.
“Como pode o sociólogo efetuar na prática a dúvida radical a qual é necessária para pôr
em suspenso todos os pressupostos inerentes ao facto de ele ser social, portanto, socializado e
levado assim a sentir-se como peixe na água no sei desse mundo social cujas estruturas
interiorizou? [...]construir [...] o já construído” “A noção de campo é, em certo sentido, uma
estenografia conceptual de um modo de construção do objeto que vai comandar – ou orientar –
todas as opções práticas da pesquisa” (BOURDIEU, 1989, p.35).
“ciência meio-douta retira do mundo social os seus problemas, os seus conceitos e os seus
instrumentos de conhecimento e registra amiúde como um datum, como um dado empírico
independente do ato do conhecimento e da ciência que o realiza, factos, representações ou
instituições os quais são produtos de um estado anterior da ciência, em que ela, em suma, se
registra a si mesma sem se conhecer” “A noção de campo é, em certo sentido, uma estenografia
conceptual de um modo de construção do objeto que vai comandar – ou orientar – todas as
opções práticas da pesquisa” (BOURDIEU, 1989, p.35).
Doble blind e conversão
A objetificação participante
“Aquilo que chamei a objetificação participante (e que é preciso não confundir com <<a
observação participante>>, análise de uma – falsa – participação num grupo estranho) é sem
dúvida o exercício mais difícil que existe, porque requer a ruptura das aderências e das adesões
mais profundas e mais inconscientes, justamente aquelas que, muitas vezes, constituem o
<<interesse>> do próprio objecto estudado para aquele que o estuda, tudo aquilo que ele menos
pretende conhecer na sua relação com o objecto que ele procura conhecer. Exercício mais difícil,
mas também o mais necessário porque, como tentei fazer em Homo academicus, o trabalho de
objectivação incide neste caso sobre um objeto muito particular, e que se acham inscritas,
implicitamente, algumas das mais poderosas determinantes sociais dos próprios princípios da
apreensão de qualquer objeto possível” (BOURDIEU, 1989, p.51).
“Objectivar a pretensão à posição realenga que, como a pouco disse, leva a fazer da
sociologia uma arma nas lutas no interior do campo em vez de fazer dela um instrumento de
conhecimento dessas lutas, portanto do próprio sujeito cognoscente o qual, faça o que fizer, não
deixa de estar nelas envolvido, é conferir a si mesmo os meios de reintroduzir na análise a
consciência dos pressupostos e dos preconceitos, associados ao ponto de vista local e localizado
daquele que constrói o espaço dos pontos de visa. A consciência dos limites da objectivação
objectivista levou-me a descobrir que existe no mundo social, em especial no muno universitário,
toda uma série de instituições que produzem o efeito de tornar aceitável a distância entre a
verdade objsctiva e a verdade vivida daquilo que se faz e daquilo que se é.” (BOURDIEU, 1989,
p.52 – 53).
“só se pode sair da série indefinida das interpretações que se refutam umas às outras [...]
se se construir realmente o espaço das relações objectivas (estruturas) de que são manifestação as
permutas comunicacionais diretamente observadas (interação)” (BOURDIEU, 1989, p.54).
Para o autor trata-se de uma luta simbólica pelo melhor discurso empregado. Tal espaço
de interação é um espaço, também de atualização e interseção entre os diversos campos
(hierarquizados).
Dito isso, existe o campo político; o campo jornalístico; o campo da ciência política; o
campo do marketing político e por fim o campo universitário.
“As estratégias discursivas dos diferentes actores, e em especial os efeitos retóricos que
têm em vista produzir uma fachada de objectividade, [...] dependerão dos interesses específicos e
dos trunfos diferenciais que, nesta situação particular de luta simbólica pelo veredicto
<<neutro>>, lhes são garantidos pela sua posição nos sistemas de relações invisíveis que se
estabelecem entre os diferentes campos em que eles participam” (BOURDIEU, 1989, p.56).
“A objectivação participante, sem dúvida, o cume da arte sociológica, por pouco
realizável que seja, só o é se se afirmar numa objectivação tão completa quanto possível do
interesse a objectificar o qual está inscrito no facto da participação, e num pôr-em-suspenso
desse interesse e das representações que ele induz” (BOURDIEU, 1989, p.58).
“Tratar da teoria como um modus operandi que orienta e organiza praticamente a prática
cientifica é, evidentemente, romper com a complacência um pouco feiticista que os <<teóricos>>
costumam ter para com ela” (BOURDIEU, 1989, p.60).
“a noção de habitus exprime sobretudo a recusa a toda uma série de alternativas nas quais
a ciências social se encerrou, a da consciência (ou do sujeito) e do inconsciente, a do finalismo e
do mecanicismo, etc.” (BOURDIEU, 1989, p.60).
“eu desejava por em evidência as capacidades <<criadoras>>, activas, inventivas, do
habitus e do agente (que a palavra hábito não diz), embora chamando a atenção para a ideia de
que este poder gerador não é o de um espírito universal, de uma natureza ou de uma razão
humana como em Chomsky – o habitus, como indica a palavra, é um conhecimento adquirido e
também um haver, um capital (de um sujeito transcendental na tradição idealista) o habitus, a
hexis, indica a disposição incorporada, quase postural –, mas sim o de um agente em acção”
(BOURDIEU, 1989, p.61).
“A procura da originalidade a todo o custo, frequentemente facilitada pela ignorância e a
fidelidade religiosa a este ou aquele autor canônico que leva à repetição ritual, impedem, uma e
outra, a justa atitude para com a tradição teórica, que consiste em afirmar, ao mesmo tempo, a
continuidade e a ruptura, a conservação e a superação, em se apoiar em todo o pensamento
disponível sem temer a acusação de seguidismo ou de ecletismo, para ir além dos antecessores,
ultrapassados assim por uma utilização nova do dos instrumentos para cuja produção eles
contribuíram” (BOURDIEU, 1989, p. 63).
“Uma das inúmeras razões da particular dificuldade das ciências sócias está no facto de
exigirem união de uma grande ambição com uma extrema igualdade: humildade necessária para
conseguir dominar praticamente todo o conjunto de conhecimentos adquiridos [...] incorporando-
os, como modo de habitus; [...] ambição indispensável para tentar totalizar numa prática
realmente cumulativa o conjunto dos saberes e do saber-fazer acumulados em todos os actos de
conhecimento [...] realizados pelo colégio dos melhores, no passado e no presente”
(BOURDIEU, 1989, p.64).
“Para construir realmente a noção de campo, foi preciso passar para além da primeira
tentativa de analise do <<campo intelectual>> como universo relativamente autônomo de
relações específicas” (BOURDIEU, 1989, p.65 – 66).
“A teoria geral dos campos [...] nada deve [...] à transferência [...] do modo de
pensamento econômico [...] Em vez de ser a transferência que está na origem da construção do
objecto [...] é a construção do objecto que exige a transferência e a fundamenta: assim, tratando-
se de analisar os usos sociais da língua, a ruptura com a noção vaga e vazia de <<situação>> [...]
obriga a que se pensem as relações permuta linguísticas como outros tantos mercados que se
especificam segundo a estrutura das relações entre os capitais linguísticos ou culturais dos
interlocutores ou dos seus grupos” (BOURDIEU, 1989, p.68 – 69).
“Compreender a gênese social de um campo, e apreender aquilo que faz a necessidade
específica da crença que o sustenta, do jogo de linguagem que nele se jogo, das coisas materiais
e simbólicas em jogo que nele se eram, é explicar, tornar necessário, subtrair o absurdo do
arbitrário e do não-motivado os atos dos produtores e as obras por eles produzidas e não [...]
reduzir ou destruir” (BOURDIEU, 1989, p.69).
“Sempre que se institui um destes universos relativamente autônomos, campo artístico,
campo cientifico ou esta ou aquela das sias especificações o processo histórico ai instaurado
desempenha o mesmo papel de abstractor de quinta-essência. Donde a análise da história do
campo ser, em si mesma, a única forma legitima da analise da essência” (BOURDIEU, 1989,
p.71).