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Salvatore Brizzi
NOTA INTRODUTÓRIA
Neste pequeno livro são expostas uma filosofia e uma prática que podem
revolucionar a sua vida. Leia-o pelo menos três vezes, para que as idéias aqui
reveladas comecem realmente a fazer parte do seu modo de viver,
conduzindo-o assim à libertação da perigosa ilusão de que lá fora exista um
mundo separado da sua consciência. Leve-o sempre com você como se fosse
um amuleto, porque a Força que emana destas páginas pode te ajudar a
alcançar o seu objetivo, ou a encontrar um...
Salvatore Brizzi
Quando encontrei pela primeira vez Victoria Ignis, na metade dos anos
90, eu tinha uns 25 anos e ganhava a vida trabalhando como estoquista para
uma grande indústria de alimentos. Por um certo tempo fui um código de
barras perfeitamente incorporado na engrenagem do sistema “produz –
consome - rompe”. Mas já há vários anos havia me tornado um código de
barras sempre menos útil, sempre menos legível. Tinha perdido toda a
confiança na possibilidade de encontrar um sentido para a minha vida: o
trabalho, o esporte, o amor, a família...tudo me parecia inútil, e à minha volta
eu também não conseguia ver exemplos de pessoas que fossem realmente
realizadas.
Primeiro o esporte, praticado há anos de forma obsessiva, depois o
álcool e as drogas me representavam o refúgio de uma realidade que já tinha
se tornado insuportável e ao mesmo tempo irremediável. A depressão, natural
conseqüência da incapacidade de dar um sentido à realidade, tornou-se a
minha companheira durante o dia, enquanto à noite, a dor de ter que viver
como um fantoche, vindo ao mundo por acaso, vinha escondida por algumas
horas de alteração de consciência por efeito de drogas. A dor estava cada vez
mais insuportável – às vezes mesmo sem estar mascarado pelas drogas –
quando a minha falta de objetivo pessoal e de sentido na vida chegou a
alcançar a conscientização de que aquela situação pudesse ser idêntica
também para muitos outros, que provavelmente era assim para todos, e que a
vida fosse já por ela mesma uma derrota, mesmo que você tenha nascido na
família de um rico Industrial ou de um ator de Hollywood.
À noite eu ia dormir esperando não mais acordar. Queria me esconder,
me anular, escorregar docemente na inconsciência mais completa, no
indefinido nada. Não queria mais pensar em quem eu era, nem refletir sobre a
minha condição.
Quando um ser humano descobre a sua impotência, quando enxerga a
sua mecanicidade, a sua ausência de um real querer, quando a existência o
coloca de lado, o sufoca, o esmaga, não há saída. Criam-se então condições
ideais para que possa acontecer algo de importante. Não foi por acaso que
justamente naqueles anos de escuridão e sofrimento, me aconteceu uma
experiência incomum: uma noite, enquanto estava em um bar com alguns
amigos, pela primeira vez, simplesmente pude enxergar com clareza todas as
suas dores. Estávamos em um dos tantos bares de Torino (é uma das cidades
onde há mais bares da Europa), sentados a mesa. Falava-se de coisas
estúpidas, contava-se piadas, e ria-se liberadamente. Para um olhar desatento
podia parecer uma das tantas reuniões de amigos, em um dos tantos locais,
uma noite como tantas outras. Pois saímos à noite justamente para isso: nos
divertir, beber um pouco, talvez conhecer um lugar novo, gente nova... e
depois voltarmos a casa para dormir. E na manhã seguinte recomeçar o
trabalho: oito horas em um escritório, fábrica, ou dirigindo um carro para
tentar vender alguma coisa a alguém, não vendo a hora que chegue a noite
para sair com os amigos ou voltar a casa para encontrar com a família. Um dia
esperando para que chegue a noite, uma semana esperando para que chegue
o fim-de-semana, um ano esperando para que cheguem as férias, trinta anos
esperando para que chegue a aposentadoria, uma vida esperando para que
chegue a morte... libertadora. Tudo programado para fugir da dor infinita de
uma vida sem objetivo, sem apoios, sem explicações.
De repente, como se dentro de mim se abrisse uma janela, comecei a
ver segundo uma nova ótica: as primeiras conseqüências foram o tempo que
foi se lentificando e as cores ficando mais lúcidas e brilhantes. Era como se
tivesse mais luz no local, mas essa luz vinha de dentro dos objetos e das
próprias pessoas. As vozes, todas as vozes e todos os sons, até a música ficou
mais longe e indistinguível. Naquele estado de consciência ‘suspenso’, as
expressões dos meus amigos, assim como aquelas dos outros, finalmente se
mostraram realmente como eram: foi naquele momento que de suas risadas
saíram assustadoras notas de dor. Não riam, mas batiam os dentes no esforço
de segurar o choro. Não contavam piadas, mas gritavam sua raiva. Não se
davam tapinhas amigáveis nas costas, mas descarregavam a própria
agressividade reprimida nos outros. Nenhum deles estava satisfeito.
Eram todos, homens e mulheres, empenhados em dar uma aparência
de credibilidade e originalidade às suas máscaras. Nenhum deles era feliz.
Claro, se eu tivesse perguntado tenho certeza de que teriam respondido: “-
Mas não dá pra ver que sou feliz? Estou rindo, então sou feliz, somos todos
felizes! Bebemos e rimos em companhia, beba você também! Por que essa
cara triste? Não estrague sua noite...”
Nos reuníamos para enganarmos a nós mesmos, para mostrar que
éramos alguém, que possuíamos uma identidade, para fingir que não tínhamos
fracassado na vida. Um bando de desiludidos infelizes que se sentiam em
dever, mesmo com si mesmos, de rir e brincar toda noite. Tínhamos que vestir
máscaras de felicidade, porque admitirmos de não sermos felizes, significaria
admitir de haver falido!
Não eram simpáticas noites com amigos, nunca foram, eram tentativas
de fugir da dor de viver sem um verdadeiro objetivo, sem um sonho. As férias
de verão, a aposentadoria e uma família que imita aquela da propaganda
podem substituir um verdadeiro objetivo quando o ser humano se encontra em
um estado hipnótico. À medida que começa a acordar, a recuperar-se da
indiferença quotidiana, estes paliativos não bastam mais, e tornam-se frágeis e
inconsistentes.
Olha só, não estou falando mal do povo, escrevo somente suas
características para que você possa escolher onde se colocar. Só
alguns indivíduos podem perceber a Força – e são milhares
espalhados pelo mundo – mas devem ser orientados e educados
individualmente. Quando chega uma época, como a nossa, em que
todos os pontos de referimento externo entram em colapso, a
massa, então chega a um impasse: começar a olhar-se dentro... ou
enlouquecer. Alguns conseguirão encontrar o Coração, a Força, a
Realeza dentro de si. Muitos não conseguirão. As conseqüências
serão caos social, epidemias, delinqüência e loucura”
Assim teria me dito alguns meses mais tarde Victoria Ignis. Mas naquela
noite, naquele bar, ela ainda não existia, não fazia ainda parte da minha vida, e
eu fiquei durante duas horas seguidas aterrorizado por aquela minha visão
intuitiva. Por vários dias fiquei submerso como nunca em uma sensação de
desconforto, de um senso de impotência e de raiva. Sentia a dor de estar, de
ser vivo e consciente, de ter sido jogado na matéria sem ter pedido pra que
isso acontecesse. É uma dor infinita, interminável.
Naquela noite eu tinha demonstrado a mim mesmo que eu estava com
razão. Não era só eu o doente, os outros também sofriam de uma falta de
objetivo crônica, talvez ninguém fosse imune à ela. Sofriam em silêncio em
frente à televisão, enquanto abraçavam seus filhos, faziam amor ou enquanto
riam no bar com seus amigos, mas na verdade a dor não os deixava nunca. A
única diferença entre eu e eles é que agora eu estava pronto: a consciência da
minha condição e a honestidade comigo mesmo haviam me deixado pronto
para algo de novo. Eu ainda não sabia, mas estava pronto para a Escola.
É a Escola que te encontra, não é você a encontrá-la. Procurar
desenfreadamente por escolas, mestres e guias, viajando pelo Globo, como
fazem milhares de aspirantes discípulos “New Age”, é pura tolice. A Escola se
apresentou a mim sob a figura de Victoria Ignis, e aquela mulher foi tudo o que
eu conheci da Escola: nenhuma estrutura oficial, nenhum grupo, nenhuma
publicação. A Escola transformou o meu modo de ver a vida me revelando o
engano dos enganos, o pecado dos pecados: acreditar que possa existir um
mundo fora de nós capaz de nos influenciar.
2. DEPENDENTE OU EMPREENDEDOR
Alguns dias após aquela experiência no bar, vagava à noite num grande
parque perto da minha casa. Eu havia organizado algumas hora antes, com
alguns amigos, uma cerimônia mágico-alquímica, inspirada um pouco na magia
ocidental e um pouco nos rituais Xamânicos utilizados entre os povos da
Amazônia. No decorrer desta nossa experiência, inalamos um pó marrom de
efeitos psicotrópicos muito potentes¹, conhecido como raiz de Paricá ou Virola
(uma árvore da Amazônia, em particular a Virola Theiodora). A Virola contém
DMT (Dimetiltriptamina), talvez a substância psicodélica mais potente em
absoluto. Como novatos bruxos e bruxas, escondidos entre as árvores do
parque, fizemos um círculo mágico na terra e, ao lado, um triângulo mágico,
utilizando uma faca da cerimônia. Nas fendas formadas espalhamos pó de
sulfeto de mercúrio. Os meus amigos, muito mais espertos do que eu,
recitavam fórmulas mágicas com o objetivo de invocar ‘presenças’ que
pudessem fornecer indicações sobre o significado de nossas vidas.
Nós estávamos sentados dentro do círculo mágico, enquanto as
entidades manifestavam-se ao interno do triângulo. Cada um de nós viu
aparecer nas fronteiras do triângulo alguma coisa diferente: uma das meninas
viu o tio que a havia molestado quando era pequena; um amigo conversou
com o pai, com o qual não conversava há tempos, alguém se comunicou com
entidades extraterrestres e alguém foi aterrorizado pelos seus demônios...que
são sempre interiores. Cada um recebeu o que lhe era mais útil naquele
momento de sua vida. Por volta das 3 horas da manhã, enquanto o efeito da
planta sagrada passava, seguia sozinho em direção à minha casa, que se
encontrava após o parque, quando no escuro entre as árvores me apareceu
pela primeira vez a figura de Victoria Ignis. No início me parecia só uma
sombra, um ectoplasma, depois, quando chegou mais perto, consegui
enxergar melhor seu rosto, iluminado por uma das lâmpadas do parque.
Demonstrava menos de 40 anos e vestia um elegante tailleur cinza, cabelos
negros, corpo carnudo e aspecto muito simpático. Como se estivesse
realmente me esperando, se moveu lentamente na minha direção, sem pressa,
segura de si, mesmo estando sozinha em um parque pouco iluminado, em
plena noite.
“As drogas no passado serviam para fazer-se penetrar em novos
mundos, dimensões desconhecidas da existência. Era um meio
sagrado utilizado pelos exploradores da consciência para se
reconectar ao seu Ser. „Psicodélico‟ vem do grego psiche e delos:
„revelador da alma‟. Hoje, as drogas servem somente para escapar
da quotidianidade, para esconder o desespero do existir sem um
objetivo. Tornaram-se o símbolo da derrota, da concessão do
próprio poder nas mãos do mundo externo. Não é por acaso que
antigamente tais substâncias ficassem sob custódia de Xamanos e
Sacerdotes, enquanto que hoje são propriedade de organizações
mafiosas.”
Disse a mulher quando estava perto de mim. Sorria e era cordial. Com aquele
seu vestido elegante parecia que tinha apenas saído de alguma festa privada
que acontecia nas redondezas. Talvez estivesse só pegando um pouco de ar
no parque por causa da fumaça, do álcool, ou então era uma prostituta que
estava tentando me atrair (se bem que vestida assim, naquela zona eu nunca
tinha visto). Em todo caso, para deixar tudo claro fui logo dizendo: “- Olha, eu
não tenho dinheiro. Se está aqui por isso se deu mal. Faço um trabalho do cão
e ganho o quanto me basta para sobreviver”.
“É justo que seja pobre, porque você é um escravo... é um escravo
interiormente, um dependente. E não pode obter ao externo o
que não é ainda internamente.”
Estava pronto para qualquer resposta, estava já esperando que por detrás das
árvores pudesse aparecer um de seus cúmplices para me ameaçar e pegar as
poucas notas que eu havia no bolso, mas uma resposta do gênero eu não
esperava.
- Do que você está falando? Disse, apenas voltei a mim. – O que quer dizer com
isso? Não sou escravo de ninguém. – Eu resmungava como um bêbado e
estava difícil de focar seu rosto, mas continuei mesmo assim: - Se não sou rico
é porque vivemos em uma sociedade capitalista onde se busca somente o
lucro, o dinheiro. É uma luta entre gigantes onde poucas famílias de eleitos
comem e todos os outros são engolidos.
¹Nota da Tradutora - Não incentivo nem desincentivo o uso de nenhuma substância. Acho que cada
um tem a sua consciência e as suas necessidades. Mas se alguém já fez o uso de tais substâncias
(como tantos), que resultou em informações preciosas como as que se encontram neste livro,
porque não aproveitar destas descobertas, e tentar praticá-las, e trazê-las à consciência,
naturalmente, ao invés de sair usando substâncias por aí? Talvez não seja tão simples como usar
substâncias, com certeza é um longo caminho a ser percorrido, com muita determinação e vontade.
Mas quem disse que também usando as tais substâncias se chega ao objetivo? Não são as
substâncias que vão nos poupar do esforço. Elas podem até nos ajudar a enxergar mais rápido, mas
não resolvem o resto, não transformam o “pó em ouro”. Acho que cada um tem um momento certo
para enxergar, e estamos em geral, em um momento muito propício para isto. Eu particularmente
prefiro o caminho natural, cada um na medida de sua compreensão e necessidade de aprendizado.
Uma mulher sozinha no parque, à noite,... mas era eu que estava com medo
dela, não ela de mim. Recomeçou a falar, prendendo novamente a minha
atenção:
“Depender significa ter desistido de criar. Quem não tem um
sonho é destinado a seguir quem o tem. E, ao contrário, quem
tem uma idéia, quem tem um sonho, não depende, mas cria.
Quem tem um objetivo, torna-se, somente por isto, magnético e
atrai à sua volta, os colaboradores, os dependentes, os clientes, os
amigos... todos aqueles que serão atraídos por ele como ímãs e o
ajudarão a realizar seu sonho.
Por outro lado até o patrão pode ficar prisioneiro do seu papel.
Pode iludir-se que operários e empregados sejam realmente
existentes fora dele, quando na verdade são partes dele mesmo
que ele deve conseguir governar para que o ajudem no seu
objetivo. E se ele entra em conflito com essa parte de si, torna-se
também prisioneiro do seu papel, da sua classe social. Se sentirá
um patrão que deve se defender contra dependentes que querem
desfrutar do seu poder, que criam obstáculos ao seu sonho,
querendo salários mais altos. Mas não é bem assim que funciona.
Os dependentes se encontram dentro do empreendedor, e
esperam ser aceitos, compreendidos, integrados e amados.”
Minha cabeça estava girando. E não só por causa das substâncias psicotrópicas
que ainda desenhavam mandalas Tibetanas entre meus neurônios, mas
porque aquelas palavras estavam deixando em crise todas as minhas
convicções, todas aquelas certezas que tinham levado anos para cristalizar
dentro de mim. Realmente não as aceitava, resistia, não via a hora daquela
mulher se afastar de mim, mas ao mesmo tempo não tinha coragem de ir
embora primeiro. Se tivesse feito rapidamente, hoje eu seria um homem
tranqüilo como tantos. Mas ao invés disso, me deixei atropelar por outros
conceitos absurdos, paradoxais, impossíveis.
“Se o operário-dependente quer realmente vencer deve parar de
recitar o seu papel de subordinado, parar de culpar alguém e
iniciar a transformar a si mesmo. Deve olhar pra dentro.”
Eu tentei reagir: - Para mim não parece que seja assim. Conheço pessoas que
assumiram grande responsabilidade, mas que pra mim não possuem adequada
riqueza, e pessoas muito ricas e potentes que não são capazes de assumir
nenhuma responsabilidade.
“Isso é o que aparenta de fora, mas na realidade,
responsabilidade e riqueza são sempre correspondentes. Se você
herda uma empresa da sua família, mas a sua essência não é
ainda suficientemente madura, responsável, por um certo
período pode até parecer rico e ser invejado por isso por quem
são sabe olhar em profundidade, mas provavelmente deve estar
enfrentando uma prova terrível, uma prova que poucos
superam: adequar rapidamente o seu ser e o seu grau de
responsabilidade aquela nova riqueza material. Quem não o faz
perde muito, ou deve delegar a nova responsabilidade a algum
colaborador que consiga administrá-la. Ganhar uma
hereditariedade ou na loteria, ativam internamente o seu
aparelho psicofísico no limite do suportável, até que você consiga
adaptar o seu novo ser à sua riqueza material. Você pode herdar
uma empresa, isto é, uma riqueza material, mas raramente
herda também o sonho que levou à criação daquela empresa.
Uma empresa não é erguida pelo dinheiro ou pelas pessoas que
ali trabalham, mas exclusivamente pelo sonho de seu criador e
pela integridade com a qual tal sonho foi levado adiante por ele
mesmo, e depois pelos seus colaboradores. E isso não pode ser
herdado.
Enquanto uma parte de mim tendia à uma forte resistência aquelas idéias, uma
outra parte – a minha alma, a minha essência – entendia que estava de frente a
um modo totalmente novo de entender a vida, o trabalho, o dinheiro... Uma
giro de 360 graus naquele comum ‘bom senso’ com o qual somos educados
pela família e pela escola. Aquilo que me estava sendo comunicado era
grandioso, mas eu não conseguia ainda compreender o quanto. A sua voz veio
ainda a interromper o andamento dos meus pensamentos:
“Destingua-se. Eleve-se acima de sua espécie. Carregue
totalmente a sua cruz, a sua responsabilidade por aquilo que é e
por aquilo que te acontece a cada instante. Assim, contribuirá
enormemente à evolução da humanidade.
Eu... um Rei! Isso era mais do que eu podia segurar pelo momento. Só me
lembro que senti minhas pernas balançarem, e depois, uma escuridão.
Encontrei Victoria Ignis novamente alguns dias mais tarde. Estava saindo
do trabalho e indo até o estacionamento. Estava, como sempre, imerso em
pensamentos destrutivos, de derrota e raiva ao mesmo tempo. Sentia-me
prisioneiro de um trabalho que não me gratificava, um número perdido em
uma lista de números, um código de barras orgânico escravo do mundo e de
suas regras de ‘sobrevivência’. Por um lado, sabia que estava aqui para realizar
alguma coisa de importante, por outro eu ainda aderia ao vitimismo coletivo,
ao hábito de culpar a nação, a cidade, o bairro..., que não permitem que os
jovens se realizem.
Senti sua voz nas minhas costas. Não tinha percebido que ela estava me
seguindo. Provavelmente sabia onde eu trabalhava e vinha me encontrar na
saída. Suspirei. No fundo eu a temia. Meu aparelho psicofísico já tinha
registrado que aquela voz, aquela mulher colocava em perigo tudo o que eu
havia construído em décadas de vida. Era uma mulher perigosa.
“Quem se tornou um Rei na sua essência, cria em volta de si o
próprio Reino. Quem é um escravo cria situações de escravidão.
Mude a qualidade do seu ser e verá mudar o seu ter. A realidade
não é objetiva, não se encontra lá fora em algum lugar. A
realidade está dentro de você e muda à medida que você
compreende, se transforma, evolui. O mundo é a cristalização das
suas emoções e do seu modo de pensar. É constituído de uma
substância extremamente maleável. Mas para que esta substância
seja modificada é preciso tempo. Esta é a Alquimia. Entre a
mudança do seu estado interior e a correspondente mudança da
realidade „externa‟, ocorre um certo período de tempo, às vezes
muito longo, e isso faz com que você não perceba imediatamente
que é sempre e somente você a dar vida a tudo o que te rodeia.
As suas emoções e os seus pensamentos recorrentes formam
totalmente o seu mundo. As expressões na face das pessoas que
encontra, o seu jeito de agir, a cor de suas roupas, os lugares que
freqüenta... são criados por você no mais completo e verdadeiro
sentido do termo. Eles são matéria mutável colocada em suas
mãos.”
- Então porque não posso mudar a minha realidade quando e como quero? Eu
queria ser mais rico, mas não consigo. Queria ter um carro mais bonito, mas
não tenho. Eu também cheguei a ler algo sobre a capacidade do homem de
criar sua realidade, mas na prática não é assim, e é a prática que conta, não as
belas filosofias.
“A sua realidade é criada 95% pelo seu inconsciente. Aquela sua
parte ainda desconhecida por você. Eu te disse que você molda o
seu mundo a cada instante, mas não te disse o que quero
realmente dizer quando digo VOCÊ.
As pessoas que encontra, os eventos que assiste a cada dia não são
nada mais do que projeções do seu inconsciente, ou seja, projeções
daquela parte do Um que você ainda não consegue perceber como
suas, e que, então manifesta como se existissem fora de você. Isso
ocorre para que, assim você fique consciente de sua existência e
possa englobá-las, integrá-las, compreendê-las (cum-prehendere
= „prender dentro de si‟). Cada vez que você consegue sentir que
um evento externo é na verdade criado por você, mais um pedaço
é subtraído do seu inconsciente e integrado na sua consciência,
permitindo assim uma expansão da mesma. Integrando pedaço
por pedaço, se tornará consciente de ser Um, de ser plenamente
íntegro em si mesmo, um verdadeiro indivíduo (=não dividido).
Acertou em cheio. Eu sempre fui muito tímido e tinha muito medo de fazer até
uma pergunta em público quando assistia a uma conferência. Devo ao
encontro com aquela mulher o fato de que hoje eu ganhe a vida escrevendo
livros e fazendo palestras. Ou melhor dizendo, devo isso àquela parte de mim
que foi materializada nela. Quando consegui parar de julgar as pessoas,
aconteceu em mim uma verdadeira revolução interior. Posso tranquilamente
afirmar que somente após aquele dia eu comecei a viver realmente. Foi o meu
renascimento, porque até agora vivia escravo do medo do que os outros
podiam pensar de mim.
“A sua incapacidade de assumir a responsabilidade de tudo o que
acontece na sua vida, o seus julgamentos e reclamações contínuas
de alguém ou algo sobre o trabalho, a família, o querer delegar ao
externo a causa dos seus falimentos... tudo isso cria atritos,
sofrimentos, acidentes, doenças. Ao mesmo tempo que você quer
se identificar com o Todo e procura a sua Realeza perdida, não
quer acreditar que a existência seja construída por você. Te dá
medo a idéia de ser o Rei, o Regente do seu mundo.”
Não faça nada. Sinta a sua emoção e imagine que a pessoa que
você encontra a sua frente é realmente uma projeção sua. Sinta
com todo o seu ser que você esta querendo aquela situação.
Torne desejada uma situação em que você foi até hoje submisso.
Aquela pessoa te diz e faz somente aquilo que você quer, somente
aquilo que você precisa para se libertar, para redescobrir o seu
ser Real. Os outros estão aqui para te ajudar. Todo o Universo foi
reunido para te ajudar a se libertar da ilusão. Mas até que você
enxergue e sinta isso por você mesmo, deve ter Fé no que eu te
digo.”
Lembro-me ainda hoje do amor sem fronteiras com que Victoria Ignis
pronunciou aquelas palavras. Seu vulto emanava uma ternura capaz de
abraçar a humanidade inteira. Nem parecia ela... tinha sido literalmente
transfigurada. Era como se alguma coisa falasse comigo através de seu corpo
físico.
Aquele mesmo Amor tinha subido comigo no trem naquela manhã. Eu
não conseguiria descrever o que senti naquela situação utilizando somente a
linguagem humana. Para dar uma idéia do mundo que se abriu de repente,
diante dos meus olhos, teria que pedir ajuda a algum humorista de Vênus sob
o efeito do ópio. Deveria pegar emprestado os ultra sons emitidos pelos
golfinhos, o canto de amor de um raro passarinho, a vibração do vento quando
atravessa teias de aranha, o olhar esquivo de uma baleia logo antes de
mergulhar novamente no mar ou o ruído ensurdecedor de uma semente que
germina.
O meu conhecimento das coisas estava ignorando a mente racional,
como se esta fosse um velho asno impossibilitado de fazer seu dever, e a
espera de ser abatido. Graças a minha força de vontade, consegui mergulhar
no coração e me abrir para uma nova dimensão do conhecimento. Como
posso então descrever o sublime? O sublime envolve a sua mente, a domina, a
aquieta e depois a derrete com seu calor. Os efeitos do sublime são
permanentes, enquanto que os da razão não o são. Eu vi, da maneira mais
óbvia do mundo, que aquela mulher sentada à minha frente estava dentro de
mim... e eu a amava, ou melhor, eu era o próprio amor que me unia a ela. Senti
em mim uma combustão que nunca pensei que pudesse ocorrer em um corpo
humano sem causar uma falha instantânea do sistema nervoso. Estou certo de
que por causa da explosão de amor vinda naquela manhã, naquele trem,
alguns anjos no céu tornaram-se mais esplêndidos e passaram à hierarquia
superior; em Sírio, centenas de almas incorporaram contemporaneamente
milhares de novas intuições artísticas; Vênus modificou ligeiramente sua rota;
e sobre a Terra – posso jurar pela salvação da minha própria alma – milhares de
crianças africanas não sentiram fome naquele dia!
Finalmente livre das pedrinhas do incômodo e do julgamento, me
sentia leve e fresco. O olhar através do qual eu observava a realidade foi
iluminado. Quando afirmo que vi uma realidade diferente – e que isto seja
claro desde já – não quero dizer que me limitei a mudar a minha opinião sobre
aquela pessoa a nível intelectual, e sim que tais visões apresentaram-se à
minha frente como uma verdade interior inquestionável. Não pensava, mas
enxergava. E se eu puder ser ainda mais preciso, não diria nem que eu
enxergava, mas que eu sentia e tocava através de novos sentidos interiores: os
‘sentidos da alma’.
Um fogo incabível saia do centro do meu peito. Percebia em mim uma
força e uma potência desmedida, enquanto a minha consciência flutuava na
mais morna e tranqüila felicidade. Eu estava inflamado de amor. Sinal claro de
que estava observando a realidade além da ilusão. Eu estava vivo, e
temporariamente livre de alucinações psíquicas. Um vislumbre de realidade
estava ali, em frente a mim em sua mais maravilhosa e impensável forma. Dei
uma olhada à minha volta: as pessoas e as coisas emanavam, de dentro de si,
uma luz intensa e quente ao mesmo tempo, todo o ambiente era repleto de
cores nunca antes vistas que eu nem poderia descrever. Só o tentar seria um
sacrilégio com a natureza. Concentrei-me instintivamente na minha escuta,
como se agora fosse óbvio fazê-lo, e notei que cada pessoa emitia uma nota:
falavam uma língua feita de música que saía de seus corpos, invadindo o
espaço. Cada ser humano tocava uma nota diferente, independentemente se
estavam falando ou não, se se moviam ou estavam parados.
A dimensão supra-racional tinha vindo me fazer uma visita, me
impregnava e se expandia de dentro de mim. Alguma coisa dentro de mim
tinha sido rompida e a minha comoção tornava-se insustentável: comecei a
chorar soluçando como uma criança. Percebi, finalmente a ‘pequenez’ das
emoções que eu havia experimentado até aquele momento a minha vida.
Envergonhei-me de ter chamado de amor certos sentimentos mesquinhos os
quais pude então enxergar. As lágrimas que escorriam pelo meu rosto
pingavam nas páginas do livro aberto sobre meus joelhos e cada gota emitia
uma vibração que ressonava em todo o meu corpo, agitando-o sutilmente;
uma massagem quase imperceptível fluía pelo meu ser, o estimulava, o
reforçava... e desse modo eu o estava curando dos velhos males de milênios.
6. UM CAMINHO DEVONIANO
Victoria Ignis me explicou que o termo ‘tradicional’ não tem nada a ver com o
termo ‘conservador’. Uma Sociedade Tradicional não é tida como tal porque
adota leis, costumes e preceitos morais do passado – o que seria uma tolice,
por retroceder em coisas que já foram superadas – mas porque se refaz no
‘princípio tradicional’, o qual afirma que dentro de uma coletividade que queira
estar alinhada com a evolução do Cosmo, todos os cidadãos se dedicam à sua
própria realização interior, cada um em seu nível e de acordo com suas
características pessoais. Em uma sociedade autenticamente tradicional, a
elevação do ser do indivíduo – a sua identificação com o Todo – é vivida como
o único objetivo da vida consciente de um ser humano. Qualquer outra
atividade – política, econômica, científica, educativa, artística – roda em torno
de tal princípio e é simplesmente sua manifestação. Com a expressão
‘Hierarquia do Ser’, não deve ser entendido nada de místico ou religioso, mas
sim um governo composto por seres íntegros, ou seja, totalmente
identificados com o Todo. Sua consciência é tão extensa que percebem o
mundo, e assim, a comunidade, como parte de si mesmos. Como consequência
agem naturalmente pelo Bem Comum, sentindo que o bem dos outros é
também seu próprio bem. Não possuem mais apegos materiais nem interesses
pessoais, mas tomam decisões impopulares, enquanto que para e-ducar o
povo é necessário obrigá-lo a dar um salto para o alto, coisa que por livre e
espontânea vontade não fariam. O povo tende a estacionar nos fundos, e
normalmente não aspira a um maior grau de consciência, já que esta implica
em maior responsabilidade. No futuro, quem demonstrará possuir um ser mais
evoluído – vale dizer, que se encontrará em um nível mais elevado de
consciência – será encarregado de fazer as decisões mais importantes, seja na
política, seja dentro de uma indústria. Não serão mais a ambição e o desejo de
obter privilégios a fazer com que um indivíduo chegue a governar um país,
mas sim suas qualidades interiores: a Inteligência iluminada, a genialidade, o
heroísmo, a capacidade de sonhar, o coração aberto, a dedicação ao ideal, o
sacrifício de si mesmo até a morte...
- Quer dizer que nos será imposto do alto uma forma de governo desse tipo? A
idéia de Hierarquia me dá medo!
“Se for imposta do alto não é autêntica. Se instalará
espontaneamente, como fruto de um processo de e-ducação do
povo. A Hierarquia é um conceito natural, inevitável. Na verdade
na natureza não existe democracia. Draco Daatson dizia:
“Quando dois homens se encontram um dá e o outro recebe”. O
que significa dar algo a uma pessoa? Não quer dizer eã zi-la,
mas ao contrário, amá-la como uma parte de si e ajudá-la a
“subir um degrau”. Somente quando você ajuda alguém que está
abaixo de você a subir no seu degrau poderá subir ao degrau
sucessivo. Não é possível subir deixando para trás um degrau
vazio, porque cedo ou tarde cairá nele novamente. Onde quer
que dois homens se encontrem, mesmo por poucos minutos
dentro de um elevador, imediatamente e inevitavelmente se
estabelece uma ordem hierárquica. A distância do Todo – a
força com a qual um indivíduo sente ser um Rei responsável pelo
seu reino, o coloca no degrau que lhe cabe nessa escada invisível.
Quanto mais íntegra e unitária é a sua consciência, ou seja,
próxima aquela do „Uno‟, que carrega tudo dentro de si, mais
elevada é sua responsabilidade. Não é a raça, a idade, o sexo, a
fama o cargo assumido, a educação, o título de estudo... mas é
exclusivamente o nível do Ser, o nível de responsabilidade pelo
que acontece no mundo, que decide, em silêncio, a posição
hierárquica de toda e qualquer pessoa. E aqui entra em jogo a
escola. Esse conhecimento deveria se tornar patrimônio de
muitos para que muitos possam elevar a própria essência.
Precisamos de pessoas capazes de transmitir esses ensinamentos
revolucionários para permitir a transição do ser humano a um
novo estado de Consciência, no grau sucessivo da evolução
planetária. Alguns comparam este período histórico com o fim
do Cretáceo, quando desapareceram os dinossauros e iniciou a
era Cenozóica. Outros o comparam ao Devoniano (na Era
Paleozóica), quando alguns anfíbios conseguiram sair da água e
dar os primeiros “passos” em terra firme. Ambas as
comparações são adequadas. A humanidade esta sendo chamada
a se transferir do mar à praia, mas essa transição requer um
esforço enorme, uma revolução do Ser. Somente alguns
conseguirão. Outros terão o mesmo fim dos dinossauros. Quando
o Ser de um organismo se torna mais elevado do que ele pode
exprimir dentro de sua espécie, tal organismo desenvolve novos
órgãos que lhe fazem pertencer a uma nova espécie e mudar de
habitat.”
Não acredito que eu possa ter o dom de ensinar. Não tenho um título de
estudo adequado, sempre tive medo de falar em público...
“Isso não é você quem deve dizer. Te asseguro que você já tem as
qualidades que servem, mas ainda é totalmente um escravo, um
anão psicológico, e por esse motivo vive na escassez, e não
consegue nem colher sua próprias qualidades, seu poder, seu
fogo. Você é vítima daquilo que te ensinaram a escola, os pais, a
mídia... Você é vítima do Mundo e nesse estado você não serve
para qualquer atividade que não seja meramente mecânica e
baseada na sobrevivência, como comer, trabalhar como
dependente e fazer filhos. Mas pode decidir mudar, sair da
psicologia do „ser vítima do mundo‟ e assim teria a possibilidade
de se tornar alguém, um verdadeiro indivíduo.
- Me diga uma coisa: você me escolheu porque sou um pouco especial? Porque
você acha que tenho mais possibilidade do que muitos outros?
“Não! Muito pelo contrário! Você tem as qualidades de
divulgador e professor que poderemos usufruir no futuro, mas
não é por nada especial. Te escolhi exatamente porque você me
representava um desafio e um teste: se uma pessoa insignificante
como você conseguir se libertar, quer dizer que será também
possível para milhões de outros!”
E soltou uma risada estridente. Desse modo deu o primeiro grande golpe no
meu amor próprio. Eu não tinha sido escolhido porque eu era um eleito, mas
porque representava seu desafio pessoal. Se Victoria Ignis podia ajudar
alguém como eu a alcançar a liberdade – a tornar-me o Rei do meu mundo –
esta seria uma grande vitória para a Escola. Quem era eu? Um falido, um
depressivo crônico, alguém que tinha usado álcool e drogas por anos, alguém
cujo título de estudo era o 3º Ensino Médio completo, e cuja máxima aspiração
consistia em ser contratado por tempo indeterminado como operário de linha
da Fiat.
7. FULMINADOS OU ILUMINADOS
Eu não entendia. Qual era a diferença? Naquela época parecia tudo a mesma
coisa. ‘New Age’, esoterismo, reiki, meditação transcendental, Rene Guenon,
Gurjieff, Crowley, tantra, teosofia... Compreendendo o meu sincero embaraço,
resolveu me explicar melhor sua afirmação:
“Uma coisa é um autêntico trabalho de despertar, ou seja, de
re-integração do Ser conduzido através da auto-observação
cotidiana e a modificação do seu modo de ver o mundo, outra
coisa são as técnicas. Despertar quer dizer parar de se achar
uma criança medrosa a mercê do mundo e começar a agir como
um Rei, o regente da sua realidade. Hoje estão proliferando – e
aumentarão cada vez mais nos próximos anos – as escolas que
ensinam técnicas, mas as técnicas, por si só, não despertam não
te conduzem para fora da realidade sujeito/ objeto de maneira
consciente. Se quer despertar deve segurar sua vida com sua
próprias mãos, tornar-se um „mônaco guerreiro‟, atravessar a
dor sem culpar nada nem ninguém. Os seres humanos estão
inventando as técnicas mais estranhas... por não despertarem
nunca, por não enfrentar suas dores.”
Me explicou com paciência que a recitação dos mantras não desperta, mas ao
contrário, adormenta. Os exercícios de respiração e a energia sexual podem
levar à loucura, pois introduzem no organismo uma quantidade de energia que
o sistema nervoso ainda não esta pronto para receber. Me fez ainda uma
longa lista de exemplos dos danos criados pelo auto-uso dessas técnicas.
“Em todos esses anos nunca vi um ocidental despertar utilizando
técnicas de meditação! Nunca. Nesses grupos todos falam do
despertar, mas ninguém o obtém e ninguém resolve
radicalmente seus problemas cotidianos! Utilizar técnicas para
atingir a chamada liberação é uma ilusão da ilusão, a armadilha
da armadilha. Nunca soube de ninguém que adquiriu a
integridade do próprio ser dentro de escolas esotéricas, de
meditação, escolas de magia, escolas de gnosi. E também existem
muitas pessoas que saem contando que, por exemplo, a energia
sexual pode levar à iluminação. Simplesmente não é verdade.
Pode até ajudar, assim como fazem alguns exercícios de
respiração e até certas drogas, mas as técnicas por si só não
levam a lugar nenhum. No melhor dos casos você adquire tanta
energia que não consegue lidar com ela e que acaba por
alimentar as criticas, incômodos e julgamentos para com o
mundo... mas não te libera do Mundo.”
8. AUTO-OBSERVAÇÃO E LEMBRANÇA DE SI
Numa outra ocasião, me falou de Eckhart Tolle, dizendo que seu livro O poder
do agora pode ser usado como um ‘ livro de escola’. Nunca me aconselhou
outros textos.
“- Você vê estas pessoas? – disse, apontando as pessoas na rua
– Não se observam e não estão nunca presentes. Deste estado e
ausência derivam todos os seus problemas e os problemas do
mundo. A atenção, o recordo de si... são o segredo de que falam
os alquimistas. Qualquer outra interpretação será uma tentativa
frustrada ou errônea. Você entende, então, o quão absurdo é
aplicar técnicas até se congelar no sono da consciência? Se antes
você não tinha acordado, tais técnicas não fazem outra coisa
senão deixar seu sono ainda mais profundo. O objetivo primário
é despertar, e você o obtêm procurando estar presente, em um
estado de atenção em qualquer que seja a situação. Com a
finalidade de obter prosperidade na sua vida não é importante o
que você faz ou quantas coisas faz, mas como as faz. Se pergunte
sempre se esta presente enquanto age, fala, escuta... Você deve
mudar a qualidade das suas ações, e o resto será só o resultado
disso. Lembre-se de si mesmo. No inicio você pode ate repetir
mentalmente „eu estou presente‟ se acha que pode te ajudar,
mas a um certo ponto o pensamento devera transformar-se em
sensação interna. Com o tempo isso será constante, e você terá
se tornado testemunha da sua própria vida, o Rei do seu Reino.
Quando você „despertar‟ e cruzar todos os dias com milhares de
pessoas que ainda congelam no sono, na armadilha psíquica, o
seu coração sentirá uma enorme compaixão. Se você ficar triste
ou sentir desprezo, é somente porque ainda está dormindo como
eles! Acreditar em alguma coisa que estaria fora de você é uma
doença da consciência. Essa doença é a causa do seu Universo,
uma excreção, uma sombra sua. O Universo esta dentro de
você... mas amanha de manha, no trabalho, tomado pela
mecanicidade de seus gestos cotidianos, você já terá se
esquecido.”
Parou e me fixou nos olhos com aquela intensidade que me dava sempre
calafrios.
“Nunca se esqueça de você. Esteja sempre presente a si mesmo.
Não se adormente nunca. Observe tudo o que você faz. Nunca
justifique o que esta sentindo dando a culpa a alguém lá fora.
Não deixe sua mente vagando, foque no aqui e agora, se agarre
no Agora! Não se deslumbre com o Mundo, nunca pense que a
solução se um problema esteja neste mundo. A causa do
problema e sua solução estão sempre dentro de você. O mundo é
uma projeção do que você é dentro, então se quer mais dinheiro
concentre-se em você, e não no dinheiro. Na verdade você não é
preocupado porque tem pouco dinheiro, mas tem pouco dinheiro
porque é preocupado! Quem tem atitude de prosperidade, quem
vive na excelência não se preocupa com dinheiro. Se possui uma
mentalidade vencedora não se preocupa com dinheiro, já sabe
que se o projeto é bom, se acredita se é o seu sonho... o dinheiro
chegará como conseqüência! De agora em diante, a sua única
preocupação é permanecer centrado, em um estado de atenção
sempre no aqui e agora. Não deixe nada nem ninguém destruir a
sua totalidade, a sua integridade. Não estou falando de
integridade moral ou de bondade, mas de estar centrado em
todo o seu Ser. Quando guia um carro, quando passeia, assiste
TV... Não fazê-los de maneira mecânica e inconsciente, mas
lembre-se sempre de você. A auto-observação o esforço de não
reclamar nunca, de não julgar o comportamento dos outros, a
capacidade de sentir a sua emoção e suas dores sem fugir... tudo
isso te torna integro, inatacável, invulnerável, e com o tempo, te
trará riqueza também no plano material. Não ande nunca atrás
do dinheiro, trabalhe ao interno de si mesmo e o dinheiro virá
ao seu encontro.” Quanto mais você é, mas você tem, e não
vice-versa! Seja uma rocha que, ao interno, contém um Coração
cheio de Amor.”
Eu estava zonzo. Cada frase sua havia uma potência extraordinária. Cada
conceito derretia conceitos psicológicos seculares que se encontravam dentro
de mim e que me fizeram viver como escravo por toda a minha vida. – Já
percebi que não tenho força para estar presente por muito tempo. Após
algumas tentativas me sinto esgotado e cansado – confessei.
“Realmente não se pode fazer esforço para recordar-se de si por
muito tempo. Isso deve ser feito seguindo ciclos. O nosso aparelho
psicofísico tem seus ritmos próprios. Você não pode começar a
lembrar de você e esperar que isso ocorra hoje e sempre. Não é
somente uma questão de força de vontade.”
Sem dúvida o ser humano é por si só criativo, mas a escola consegue fazer dele
um robô, um código de barras orgânico perfeitamente encaixável no processo
do ‘produz-consome-racha’. As escolas de todo o mundo, ate as renomadas
universidades americanas, no final das contas ensinam somente algumas
coisas para sobreviver melhor neste mundo, mas não e-ducam a sonhar um
mundo diferente. Daquelas universidades saem predadores que atropelam os
outro para agarrar um pedacinho e mundo, mas o Líder de coração aberto que
vive na abundância é outra coisa... é uma outra espécie.”
“A escola prepara milhões de máquinas biológicas a não sentir
mais a dor da alma da luta pela sobrevivência. A dor de toda
uma existência passada dependendo de alguém à espera da
pensão. A escola nos anestesia nos acostumando a suportar a
falta de um sonho na nossa vida, o sofrimento de fazer aquilo
que não amamos. Uma verdadeira escola deveria instruir sobre
como vencer o mundo, e não como vencer no mundo. Quem
quer vencer no mundo é sempre orientado ao externo de si
mesmo (extra-versus), em busca de satisfações efêmeras, escravo
da competição, porque ainda acredita que a ilusão tenha uma
vida própria, independente de sua consciência. Quem quer
vencer o mundo é, ao contrário, orientado para dentro de si
mesmo (intro-versus) porque sabe que o ambiente externo, a
posição social e a riqueza, surgem de dentro para fora, na
essência. “Quem é patrão de si mesmo governa o mundo... e o
mundo o recompensa com abundância” dizia Draco Daatson.”
Quanto a isso eu não havia nada a discutir com Victoria Ignis. A psicologia que
nos dominou até hoje realmente nos faz acreditar que somos pequenos,
fracos, impotentes e que necessitamos de segurança e proteção do alto. Nas
escolas nos ensinam que somos incapazes de conhecer o Universo ao nosso
redor e que, então precisamos da ciência; que somos incapazes de nos curar,
então precisamos da medicina; que a riqueza da terra é limitada (não da para
todos!) então, se queremos viver na riqueza, devemos competir segundo a
regra ‘mors tua vita eã’ (sua morte é a minha vida). Mas as riquezas da terra
não são como um cobertor muito curto, que quando se puxa de um lado o
outro fica descoberto. São ao contrário, uma fonte abundante na qual todos
poderíamos ter acesso se somente mudássemos nosso modo de entender a
existência. No dito terceiro mundo existem cidades cheias de riquezas que
poderiam fornecer abundancia a todos os habitantes, enquanto ocorre que a
maioria desses povos se afundam na miséria porque em seu governo faltam
homens corajosos, de coração aberto, portadores de um sonho, capazes de
visões amplas, que consigam sentir dentro de si a responsabilidade pelo bem
estar dos cidadãos. Faltam verdadeiros líderes capazes de manifestar uma
psicologia de prosperidade e riqueza ao invés de severidade e desfrutamento.
“Essa é a psicologia da escassez, do medo e do limite transmitida
nas escolas do planeta: tem pouco... e para conseguir uma parte
daquele pouco você deve lutar desde quando nasce até morrer.
Mas a verdade é que o Universo é supra-abundante, tem riqueza
para todos e não é necessário passar por cima dos outros para
conseguí-la. „Vita tua vita eã‟ (sua vida, minha vida) será o
lema do futuro.”
Victoria Ignis me explicou que os homens são servos que lutam entre si
por uma fatia a mais de ilusão, alguma coisa que os faça esquecer a dor
de serem servos. Me fez entender que podemos ter o Universo ao
nossos pés. Mas na verdade ele nos parece algo amedrontador, cheio
de armadilhas, sob o qual não havemos nenhum poder e que devemos
temer.
“e você pudesse sentir mesmo por um instante que o Universo se
encontra dentro de você e o reflete... você não conheceria mais o
medo, não entraria mais em competição pela sobrevivência, não
haveria mais limites. Este é o êxodo psicológico a qual é chamada
a humanidade de hoje. Logo haverá uma divisão entre os Elfos e
os Orcs. De um lado uma nova geração que conhece a arte do
sonhar: espíritos livres, vulcões intuitivos, grandes
comunicadores, hábeis administradores de fortunas econômicas
cercados de abundância, capazes de amar com o coração aberto
e criar riqueza ao invés de tentar agarrar a dos outros. De outro
lado os anões psicológicos, os assustados com o mundo, à procura
de assistência Estatal, incapazes de assumir responsabilidade,
ocupados com a luta pela sobrevivência, prontos a desfrutar de
seus semelhantes para ficarem vivos: são os „reclamões‟, pessoas
que lamentam da vida e atribuem sempre a alguém ou alguma
coisa a causa de suas próprias mazelas e de sua falta de
integridade. Sendo pobres por dentro – incapazes de sentir a
abundância dentro de si mesmos – serão cada vez mais pobres
externamente, porque como disse Jesus: “A quem tem será dado
e ficará na abundância; e a quem não tem será retirado ate
mesmo aquilo que possui. [Mateus 13,12].
Que façam os empregados, os políticos ou administradores,
delegados, não importa, porque até nos cargos mais altos das
organizações freqüentemente se encontram anões da consciência,
homens „pobres por dentro‟. Mesmo que, por um período,
possam aparentar serem ricos e potentes, sua riqueza e seu
poder são sempre efêmeros enquanto fundados no medo e no
parasitismo. Os habitantes do planeta foram expostos por
milênios à „educastração‟, a comandos hipnóticos ou seja, a in-
dução ao invés da e-ducação. Uma única mensagem educativa
emerge das escolas, das famílias, da mídia: o mundo é um
gigante desconhecido que decide a cada dia se vai te premiar ou
te punir, te adoentar ou te deixar com saúde, se vai te matar ou
te deixar vivo... e você é um anão que se submete à sua „vontade‟.
Essa é a única grande religião de massa: o mundo eleito à
divindade onipotente.”
Entendi logo que uma escola sustentada por um paradigma similar não fazia
nada mais do que injetar na mente dos jovens atitudes e comportamentos de
vitimas medrosas, capazes de tudo para sobreviver.
“A figura do herói – do Mônaco guerreiro cujo sucesso nunca
depende de circunstâncias externas e cuja forca deriva da
integridade do Ser – desapareceu da educação normalmente
realizada nas escolas, e cedo ou tarde desaparecerão também os
livros que falam do assunto, para que nenhum jovem sinta mais
o tal chamado. O mito esta sendo ofuscado. Então os críticos
intelectuais de televisão, os administradores comandados, que
depredam as indústrias criadas por outros, os políticos
corruptos... serão os únicos pontos de referencia para as novas
gerações. Por isso os cidadãos devem se organizar e criar escolas
privadas e alternativas, onde seja mantido vivo o Fogo da alma.”
A primeira fase consiste em e-ducar os adultos, para que estes desejem que
tais ensinamentos sejam transmitidos também aos seus próprios filhos,
colocando-os para em escolas alternativas, inovadoras. Nestas escolas se
presta atenção ao valor da criança como indivíduo, às suas inclinações, e à
expressão de suas qualidades. Preparam líderes sonhadores, e não códigos de
barra orgânicos. A nova civilização tem fome de homens e mulheres íntegros,
universais (voltados ao Uno) e não existe ainda uma escola que possa fazê-lo.
Além de e-ducar os pais, devem ser preparados os novos professores –
Portadores da Chama – capazes de transmitir por irradiação, somente com sua
presença, a nova visão do mundo aos seus alunos. No futuro não se tratará
mais de transmitir noções de uma mente a outra, mas de contagiar com o
sonho da liberdade a alma do aluno. De coração a coração, e não de mente a
mente.
“A escola comum te ensina a ser útil somente a si mesmo,
prendendo-o na roda da sobrevivência: estude, arrume um
trabalho, forme uma família, reproduza,... Hoje precisamos de
uma escola com visão ampla, que foque os esforços do indiv íduo
em ser útil à humanidade presente e futura, e não só a si
mesmo. A criança deve crescer com a idéia de que sua vida
deverá servir de exemplo a toda a espécie, e não ser uma luta
sem fôlego pela sobrevivência. Paradoxalmente, quando
trabalhamos só para a nossa manutenção, as vezes não
conseguimos nem isso, enquanto que se nos concentramos em ser
útil aos outros, certamente teremos sempre sustento para nós e
para nossos familiares. Lembre-se das palavras de Jesus:
„Procure primeiro o reino de Deus e sua justiça, e todas essas
coisas lhe serão dadas em seguida‟. Este será o modo de ser da
humanidade futura. Mas então porque não sabemos ser já hoje o
que seremos daqui a cem anos? Porque somos ainda submissos ao
tempo.