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Feira de Santana
Universidade Estadual de Feira de Santana
2017
2
www.uefs.br
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
Todos os direitos desta edição reservados aos autores-organizadores.
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a
prévia autorização dos autores.
Conselho editorial: Corina Teresa Costa Rosa Santos, Diego Ferreira Pimentel e
Rômulo Ruan Santos da Silva.
D635
Direito do consumidor aplicado ao direito à saúde : análise de julgados / Corina Teresa
Costa Rosa Santos, Diego Ferreira Pimentel, Rômulo Ruan Santos da Silva,
organizadores. – Feira de Santana : Universidade Estadual de Feira de Santana,
2017.
224 p.
Ebook
ISBN: 978-85-7395-274-2
3
Organizadores
Autores
4
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO | 6
5
APRESENTAÇÃO
No século XX, após a segunda guerra mundial, surge Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que garante o direito à vida, liberdade, aos direitos civis, à educação, à
saúde, à moradia, ao lazer e ao trabalho.
No Brasil as lutas sociais percorreram mais de três décadas, até que os direitos
humanos em sua completude fossem, finalmente, fazer parte do contrato social.
6
Na década de 20 começam a ser desenvolvidas ações de proteção social, mas
que não constituíram um sistema de seguridade social. Nos anos 30 e 40, o chamado
sistema de proteção social apresenta elevado nível de fragmentação, fortes traços de
seletividade das demandas sociais e uma atuação cada vez mais focalizada no atendimento
aos mais pobres.
A “Lei Orgânica da Saúde” é formada pelas Leis 8.080 e 8.142, que regulam:
Podemos analisar que hoje a saúde está enferma, é incapaz de atender com
eficiência e eficácia à população mais vulnerável. A gestão do SUS em quaisquer dos
Estados e municípios é ineficiente, para não dizer inexistente. Na verdade, não é o sistema
8
SUS, pois é um conceito de prestação saúde pública, avançado inteiramente democrático e
justo, mas, sim a gestão do sistema.
A iniciativa privada passou ser uma alternativa para a faixa econômica que
pode custear um plano de saúde. Cresceu, exponencialmente, em paralelo ao público, um
sistema de saúde privado, com inúmeros planos de saúde, clínicas, hospitais e laboratórios
com preços variados. Mas, isto não significa que o sistema é eficiente e eficaz, ao contrário
na maioria das vezes os usuários não são atendidos nas suas demandas.
Ao mesmo tempo que apresenta a busca deste direito social – o direito à saúde
–, demonstra que a eficácia nos processos no Judiciário, tiveram como causa serem
baseados no Direito do Consumidor.
10
1. A REALIZABILIDADE DO DIREITO À SAÚDE ATRAVÉS DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR: Uma análise dos planos de saúde
1 INTRODUÇÃO
1
Bacharelando em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
2
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
3
BOLZAN, LENZA, 2013
11
eficácia daquele que é um dos direitos basilares do nosso ordenamento jurídico pátrio: o
Direito à Saúde.
12
princípio da dignidade da pessoa humana. Tal direito foi introduzido no ornamento jurídico
federal em 1988 estando vinculado à ordem social, ao bem-estar e à justiça social. Desta
forma, estabelece a Constituição Federal, nos dizeres do seu art. 6º que:
Essa tratativa dada pelo Estado obriga-o a prestar de forma eficiente e positiva
as diretrizes dadas à formulação de políticas públicas sociais e econômicas destinadas à
promoção, à proteção e à recuperação da saúde. Para tanto, ao Estado caberá não somente
efetivar o acesso da população ao tratamento médico com qualidade, como também prestar
melhoria na qualidade de vida populacional.
4
BRODY, 2015.
13
A antiga definição minimiza o papel da capacidade humana em lidar com
desafios físicos, emocionais e sociais da vida de maneira autônoma e não
reconhece que as pessoas são capazes de viver com uma sensação de
bem-estar e realização mesmo quando sofrem de uma condição crônica
ou deficiência.
Outro ponto que não pode ser afastado em relação ao direito do consumidor
como direito fundamental é a interpretação do direito privado com base no princípio da
dignidade da pessoa humana, considerando, desde logo, o consumidor como a parte
vulnerável na relação de consumo. O tema passa a ser abordado tendo em vista as
necessidades dos consumidores e o respeito à sua dignidade, saúde, segurança, interesses
econômicos, bem como a melhoria da sua qualidade de vida (GRINOVER, 2009) 6.
5
BOLZAN. LENZA, 2013
6
FILHO, 2015.
15
Em linhas gerais, relação de consumo pode ser definida como o vínculo que o
une o fornecedor e o consumidor. Porém, ao mesmo tempo pode ser entendida sob o âmbito
da complexidade, sendo analisada através das diversas perspectivas da pluralidade de
direitos, deveres, poderes, ônus e faculdades que nela entrelaçam.
7
BIONDI, 2009.
16
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo
ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação,
fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou
através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito
privado.
Todo cuidado é útil para evitar que os planos de saúde desviem da sua
finalidade de prestar assistência médica aos seus usuários e faltem com respeito ao
princípio da dignidade da pessoa humana. Importa-se podar a interesse exclusivo de
algumas operadoras em obter somente o lucro proveniente da contração dos serviços, ao
passo em que aumentam o número de cláusulas abusivas aos seus consumidores.
8
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp?acao=pesquisar&novaConsulta=true&i=1&data=&livre=%40d
ocn&opAjuda=SIM&tipo_visualizacao=null&thesaurus=null&p=true&operador=e&processo=469&livreM
inistro=&relator=&data_inicial=&data_final=&tipo_data=DTDE&livreOrgaoJulgador=&orgao=&ementa=
&ref=&siglajud=&numero_leg=&tipo1=&numero_art1=&tipo2=&numero_art2=&tipo3=&numero_art3=
¬a=&b=SUMU>. Acesso em 4 de novembro de 2016.
17
Saúde, Lei 9.656/98, tendo como relator do projeto de Súmula, o Ministro Aldir Passarinho
Júnior9.
9
REDE DE ENSINO LUIZ FLÁVIO GOMES. A segunda seção do STJ aprovou a súmula 469 que
determina a aplicação do CDC aos contratos de plano de saúde. Disponível em: <
http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2492399/a-segunda-secao-do-stj-aprovou-a-sumula-469-que-determina-
a-aplicacao-do-cdc-aos-contratos-de-plano-de-saude>. Acesso em 4 de novembro de 2016.
10
Resp 267.530/SP, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJe 12/3/2001.
11
REsp1106789 RJ 2008/0285867-3, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 18/11/2009.
18
Assim, resta inteiramente demonstrada por tal precedente, dentre os muitos que
apoiaram a Súmula 469 STJ, que não há mais espaço para interpretação que não aplique o
Código de Defesa do Consumidor, e a legislação consumerista como um todo, aos contratos
de saúde, especialmente, a qualquer tempo.
12
As informações sobre o caso são públicas, bem como o nome das partes, disponíveis no site: <
http://www.stj.jus.br/>.
13
Popularmente conhecida como cirurgia para redução de estômago.
19
A sentença de primeiro de grau, além de condenar a ré ao pagamento de todas
as despesas com o tratamento, condenou-lhe adicionalmente, em R$ 10.000,00 decorrentes
de danos morais.
Qualquer cláusula que pouse sua base nos tratamentos para as patologias, ao
invés das patologias independentemente dos tratamentos é flagrantemente abusiva. Tira a
liberdade do médico, o senhor do tratamento, enquanto especialista.
14
REsp1106789 RJ 2008/0285867-3, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 18/11/2009.
20
E, lançando o CDC como desentenebrecendor, chega-se à conclusão maior que
qualquer cláusula duvidosa deve sempre ser interpretada em favor do consumidor.
3 CONCLUSÃO
15
Dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde.
16
NARLOCH, Leandro.
21
sistema no qual muitos produzem e poucos adquirem. Assim, valeu mais a pena para o
capital, pagar salários que depois retornariam em forma de lucro.
E nos fiando no fato de que a saúde agora é um bem que pode ser adquirido,
ou melhor, segurado, devemos nos prender a defesa ferrenha de que o Estado garanta uma
prestação eficiente, pela lei e pela atividade jurisdicional.
17
Questões pragmáticas, aspectos práticos, viabilidade.
22
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. Editora Saraiva. São
Paulo, 2003.
BRODY, Jane E. Como o conceito de saúde mudou ao longo dos anos. Acesso em 04 de
novembro de 2016.
NETO, Gonçalo Ribeiro de Melo Neto. Práticas abusivas nos contratos de plano de saúde
e atuação do Ministério Público. Acesso em 04 de novembro de 2016.
23
2. A HIPERVULNERABILIDADE DA GESTANTE NOS SERVIÇOS PRESTADOS
PELOS OPERADORES DOS PLANOS DE SAÚDE
1 INTRODUÇÃO
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:
[…]
18
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
19
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
24
nos possíveis danos causados aos consumidores, analisando a relação recíproca existente
entre o direito do consumidor e o direito à saúde. Verificada a vulnerabilidade do
consumidor, o foco do trabalho é dedicado àquelas que possuem a vulnerabilidade ainda
mais acentuada: as gestantes.
26
Partindo dessa premissa, é inegável a correlação que pode ser estabelecida entre
o direito à saúde e o direito do consumidor. Nessa perspectiva, o liame existente entre os
planos de saúde privados, por exemplo, e o contratante é notoriamente uma relação de
consumo, já que preenche todos os requisitos presentes do CDC, tanto em seu artigo 2º
quanto no artigo 3º.
20
NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 1, p. 432-433.
21
TARTUCE, Flávio. Manual de direito do consumidor : direito material e processual / Flávio Tartuce,
Daniel Amorim Assumpção Neves.– 5. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense: São Paulo:
MÉTODO, 2016, p. 118.
27
O Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, acolhe a responsabilidade
objetiva e solidária dos fornecedores de produtos e prestadores de serviços como regra.
Dessa forma, procura-se facilitar a tutela dos direitos do consumidor, tendo em vista a
alegação de vulnerabilidade do consumidor, a insuficiência da responsabilidade subjetiva
e o fato de que o fornecedor tem de responder pelos riscos que seus produtos e serviços
acarretam, já que lucra com a venda.
Isto posto, tais empresas podem vir a ser consideradas como responsáveis
diante de algum dano sofrido pelos usuários no atendimento médico-hospitalar, que poderá
ser motivo de uma postulação em juízo de uma indenização.
28
É entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça o fato de que o
beneficiário deve ser assegurado de que a rede de serviços conveniados, colocada à sua
disposição, seja capaz e adequada para prestar os serviços médico-hospitalares necessários
e com apropriado atendimento destes, afirmando, ainda, que fatores financeiros, da
remuneração destes serviços pelas operadoras privadas de planos de saúde, não são
limitadores na contratação e utilização destes serviços para atendimento adequado dos seus
pacientes.
29
Há diferentes tipos de empresas privadas que prestam uma assistência
suplementar aos serviços públicos de saúde, delegados pelo Estado nos termos dos arts.
197 e 199 da Constituição Federal. Estas empresas e as suas atividades vêm definidas na
Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998, que dispõe sobre os planos e seguros privados de
assistência à saúde.
A Teoria supracitada surge para afastar a ideia de que as leis devem ser
aplicadas de forma isolada umas das outras, partindo da premissa de que o ordenamento
jurídico deve ser interpretado de forma unitária. Essa teoria, por sua vez, rompe com o
paradigma da exclusão das normas para buscar a sua coexistência ou convivência, a fim de
que haja a predominância de uma norma em relação à outra no caso isolado ou até mesmo
a aplicação concomitante de todas elas.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes: (...)
(...) que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É
lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a
dignidade, intimidade, a imagem, o bom nome, etc., (...) e que acarreta ao
lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.” (GONÇALVES,
2009, p.359).
22
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009. v.
IV.
31
Maior, a repercussão do assunto ganhou contornos positivos e concretos. Segundo o
constitucionalista José Afonso da Silva23,
Vale ressaltar que o judiciário não deve aferir a escala do dano apenas em
relação ao valor da indenização, mas inclusive no grau de nocividade na esfera imaterial
23
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 2000.
32
da vítima. Nesse viés, afirma o STJ que “mero aborrecimento, dissabor, mágoa, irritação
ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral"24, além do disposto na
Súmula nº 227 que “a pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.
Caso nenhuma das prevenções acima obtenha êxito, tanto por parte do
fornecedor, como do poder político, imprescindível torna-se a reparação satisfatória dos
prejuízos sofridos pelo consumidor.
24
(STJ - Quarta Turma - RESP 303396/PB - Min. BARROS MONTEIRO - 05/11/2002 - DJ DATA:
24/02/2003 PG:00238).
25
PEIXOTO Felipe. Manual de direito do consumidor: à luz da jurisprudência do STJ - Salvador:
Edições Juspodivm, 2013, p. 196.
33
deve estar vinculado a determinada ação ou omissão, sem o que inexistirá obrigação de
reparar”.
O Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, não faz alusão ao nexo causal
em nenhum de seus dispositivos. Segundo a doutrina de Carlos Roberto Gonçalves 26, o
Código Civil adotou a teoria do dano direto e imediato onde, no art. 403, “ainda que a
inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos
e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei
processual”. Embora o artigo mencionado se refira à responsabilidade civil contratual, tal
entendimento foi estendido e a doutrina depreende que o dispositivo consagra a tese
segundo a qual apenas os danos direta e imediatamente conexos com a ação ou omissão é
que são indenizáveis. Ademais, a jurisprudência também adota a teoria da causalidade
direta e imediata.
[...]
26
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 524.
34
Desta forma, aduz-se que a prova da culpa pelo dano cometido em razão da má
prestação do serviço ou periculosidade do bem fornecido é extremamente difícil de ser
produzida pelo consumidor, em face da sua vulnerabilidade. O CDC registra, dessa forma,
a aplicação da concepção de responsabilidade objetiva presumida, a fim de evitar maiores
danos em razão de relação de consumo composta por maus fornecedores. Excepcionam a
regra os profissionais liberais, que apenas respondem se lhe for apurada a culpa (art. 14, §
4º do CDC).
35
de saúde) integram o contrato que vier a ser celebrado e podem ser
comprovadas por todos os meios probatórios admitidos.27
Ainda que reste cristalino o direito de o usuário do plano de saúde receber todas
as informações no que diz respeito às negativas de consultas e procedimento, o que se
percebe na prática é exatamente o contrário: as empresas fornecedoras se abstêm de
justificativas, desampara o consumidor, e deixa como a solução mais segura a busca pelo
moroso sistema judiciário. Nesse âmbito, o consumidor se depara com a problemática do
27
(REsp 531.281/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, 3ª T., DJ 23-8-2004).
28
Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. 6.ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2000, pp. 438-439.
36
acesso à justiça, levando em conta a morosidade e o custo de uma ação. Gabriela Maia
Rebouças29 afirma que, para haja a efetivação da perspectiva normativa do acesso à justiça,
é necessário a superação dos obstáculos que obstruem tal acesso, inclusive no que diz
respeito às desigualdades econômicas, que se refletem nas custas judiciais, ao tratamento
diferenciado aos direitos difusos, como no caso em questão, o direito à saúde, e à busca
pela efetividade do processo. “Ter acesso ao Estado, à justiça é condição sine que non
para acessar qualquer outro direito.”
(...)
29
REBOUÇAS, Gabriela Maia. Tramas entre subjetividades e Direito: a constituição do sujeito em Michel
Foucault e os sistemas de resolução de conflitos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012. p. 147 e 148
30
STJ, AgRg no REsp 1.253.696, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4a T., DJ 24/08/11
37
Reconhecida a hipervulnerabilidade pela doutrina e jurisprudência das
gestantes, em razão do alto nível de fragilidade em que se encontra no mercado de
consumo, estas são merecedoras de maiores cuidados em relação aos demais consumidores
em geral.
(...)
Destaca-se que algumas despesas não são cobertas pelos planos de saúde.
Porém, após repasse das contas médicas por parte da maternidade para a auditoria da
operadora de saúde, esta pode suprimir a cobertura de determinados itens, e o valor,
consequentemente, será revertido para custeio do consumidor. Caso haja a supressão, a
gestante deve entrar em contato com a operadora e exigir, por escrito, o motivo da negativa
de cobertura, tendo o direito à mais clara informação. Respondido no prazo de até 48h, a
gestante deve analisar se a recusa foi ou não justificada e, sendo injustificada, poderá
ajuizar uma ação judicial para requerer o pagamento ou ressarcimento dos valores pagos,
ou reclamar na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), vez que, segundo o art.
1º, inciso I, §1º da Lei nº 9656 de 1998
31
(REsp 586.316/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin, 2ª T., DJe 19-3-2009)
38
adotando-se, para fins de aplicação das normas aqui estabelecidas, as
seguintes definições:
(...)
a) custeio de despesas;
(...)
c) reembolso de despesas;
(...)
(...)
39
Assim, demonstrados risco ou complicação na gravidez, a empresa que
presta serviços de plano de saúde jamais poderá negar a cobertura de atendimento
emergenciais, o que inclui o parto prematuro, vez que põe em risco a vida da criança.
Entretanto, existem casos em que as operadoras de saúde, apesar de não negarem a
cobertura do parto em situações de carência, limitam o atendimento apenas às primeiras
12h de internação, o que configura abusividade, jamais devendo ser aceito pelo
consumidor. Apesar de possuir respaldo através da Resolução CONSU nº 13, art. 1º,
parágrafo único, esta norma administrativa não pode limitar o alcance de uma Lei
Ordinária. Além disso, vale ressaltar que, coadunando com o Código do Consumidor e
reforçando a importância da teoria do diálogo das fontes, a interpretação das relações
contratuais que envolvem fornecedor-consumidor deve ser sempre feita em prol deste
último.
Por isso exposto, vale reiterar a importância do art. 6º, inciso IV do CDC,
vez que traz como direito básico do consumidor a proteção contra “práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços”. Assim, no caso em questão,
ainda que contratualmente prevista, não pode prevalecer a cláusula que limita, no tempo, o
período de internação coberto pelo plano de saúde, porquanto tal limitação seria agressiva
à dignidade da pessoa humana32. Configuram-se, portanto, cláusulas nulas de pleno direito,
vez que mitigam contratualmente direitos fundamentais.
32
PEIXOTO Felipe. Manual de direito do consumidor: à luz da jurisprudência do STJ - Salvador:
Edições Juspodivm, 2013, p. 380.
40
Resolução nº 13/98 do CONSU que limita o atendimento as primeiras
dozes horas que extrapola o poder regulamentar e invade esfera
inovadora do Direito Inaplicabilidade da pretendida limitação Prazo de
carência que se reputa extremamente oneroso ao consumidor - Carência
não se pode limitar o período de internação para os casos de urgência ou
emergência - Inteligência do art. 12, V, c, da Lei nº 9.656/98 Aplicação
das súmulas 92 do TJSP e 302 do STJ Precedentes jurisprudenciais,
inclusive desta Câmara - Sentença mantida - Apelação improvida.33
33
(TJ-SP - APL: 00143783520128260003 SP 0014378-35.2012.8.26.0003, Relator: Silvério da Silva, Data
de Julgamento: 02/07/2014, 8ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 07/08/2014)
34
(TJPR - 9ª C.Cível - AC - 1394849-7 - Curitiba - Rel.: Domingos José Perfetto - Unânime - - J. 20.08.2015)
41
quanto por médicos por ela credenciados. Sendo assim, comprovado o dano causado pelo
fornecedor do plano de saúde pela má prestação de serviço, este responderá objetivamente,
independente de culpa.
35
(TJ-DF - APC: 20140310190997, Relator: ALFEU MACHADO, Data de Julgamento: 22/07/2015, 3ª
Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 31/07/2015 . Pág.: 112)
42
Vale destacar que o mero inadimplemento contratual nem sempre enseja danos
morais. Porém, é reconhecido o direito à compensação dos danos advindos da injusta
recusa de cobertura de seguro de saúde, vez que tal fato agrava a situação de aflição
psicológica e de angústia no espírito do consumidor, pois, ao procurar a seguradora,
presume-se que já se encontra em condição de dor e abalo psicológico.
6 CONCLUSÃO
36
(TJ-DF - APC: 20130610118945, Relator: JAMES EDUARDO OLIVEIRA, Data de Julgamento:
29/04/2015, 4ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 01/06/2015 . Pág.: 239)
43
subsidiária, o Código de Defesa do Consumidor é de suma importância à aplicação da Lei
nº 9656 de 1998, que versa a respeito dos Planos de Saúde, inclusive no que diz respeito à
análise das cláusulas e aplicabilidade dos princípios que o regem.
44
REFERÊNCIAS
45
Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto.
6.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000;
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 3. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2009. v. IV;
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros,
2000;
STJ, AgRg no REsp 1.253.696, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, 4a T., DJ 24/08/11
46
3. O DIREITO À SAUDE SOB A ÓTICA CONSUMERISTA
1 INTRODUCÃO
37
Bacharelanda no curso de Direito da Universidade Estadual de Feira de Santana.
47
sim, existe uma extensão dos efeitos aos seus protegidos conforme elucida o Código de
Defesa do Consumidor, (CDC).
2.1 Consumidor
49
serviço. A utilização do bem ou serviço deve ser para a recepção da necessidade privada,
não podendo ser reutilizado, de forma direta ou indireta, o bem ou serviço no processo
produtivo. Consumidor é aquele que não é o consumidor profissional. Para essa teoria a
característica das partes é critério para assinalar o consumidor.
2.2 Fornecedor
51
as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, excluindo-se as provenientes
das relações de moldura trabalhista.
O serviço para ser objeto da relação jurídica de consumo, deverá ser prestado
por alguém que se enquadre no conceito de fornecedor e contratado, em contrapartida, pelo
denominado consumidor. Dessa maneira, o CDC entrelaça mais uma vez o conceito de um
elemento subjetivo à configuração dos sujeitos da relação de consumo.
52
São direitos básicos do consumidor:
Diante disso, vejamos os diversos casos que são matérias para entendimentos
jurisprudenciais.
O caso em tela demonstra uma violação ao artigo 10º do CDC, assim como, se
encaixa no artigo 18º do CDC, pois, os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou
não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade que os tornem
impróprios ou inadequados ao consumo.
55
Outros entendimentos demonstram como há uma relação jurídica
desequilibrada em relação ao consumidor e ao fornecedor. Comprovando, ainda mais, a
necessidade da tutela especial conferida aos consumidores em face dos fornecedores e da
proteção ao direito à saúde e segurança:
***
No Brasil, os agrotóxicos passaram a ser regulados pela Lei n.º 7.802/89, até
então a matéria era regulada apenas por portarias ministeriais e representou um grande
avanço no controle destas substâncias. Tal lei reconheceu o alto risco à saúde humana que
56
pode ser oferecido por esse produto e regulamentou o seu uso. Em seu art. 2º, I, “a” e “b”,
esta lei traz a definição de agrotóxico:
I - Agrotóxicos e afins:
58
dentre outras informações que possam assegurar aos consumidores o uso correto, bem
como, dos riscos que possam vir a apresentar quanto à saúde e segurança dos usuários.
Para que a proteção seja efetiva, a informação dada pelo fornecedor deve
ser completa e exata acerca do produto ou serviço colocado no mercado,
de forma que possibilite o consumo livre, consciente e esclarecido. O
simples controle da enganosidade e abusividade da informação é
insuficiente. O fornecedor precisa cumprir o dever de informação
positiva.
Assim, por haver uma lacuna na Lei Glúten, é necessária sua aplicação,
preenchida pelo CDC. Mas, o interesse maior é demonstrar a importância da informação
colocada de forma correta nos produtos, para que haja uma maior segurança nos
consumidores no momento da compra.
61
Tratando-se de um tema bastante específico, mas também de grande incidência
no cotidiano de diversas pessoas que são consumidoras de planos de saúde, diversas dessas
prestadoras de serviços se recusam a atender determinados casos, apresentando, portanto,
uma atitude juridicamente reprovável, bem como, ferindo o Código de Defesa do
Consumidor.
Quando há uma recusa por parte do plano de saúde diante de uma ocorrência
em se tratando do seu usuário, há uma evidente violação não só ao artigo 4º, caput e, III, e,
51º, IV, § 1º, II do Código de Defesa do Consumidor que em suma, explanam sobre a
dignidade do consumidor, bem como do seu direito à saúde, e ainda, sobre as obrigações
que são consideradas abusivas que coloquem o consumidor em posição de desvantagem
(conforme situação discutida), como também, há uma violação ao artigo 422 do Código
Reale: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em
sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”.
Nessa linha de raciocínio, os arts. 18, §6º, III, e 20, §2º, do CDC, estabelecem
a necessidade da adequação dos produtos e serviços à expectativa legítima do consumidor.
É evidente que o consumidor, ao contratar um plano de assistência à saúde, possui a
legítima expectativa de que, caso fique enfermo/debilitado, a empresa contratada arque
com os custos necessários ao restabelecimento de sua saúde.
62
Vejamos então, entendimentos jurisprudenciais do Tribunal de Justiça baiano,
que reconhecem a ilegalidade da exclusão da cobertura de tratamento a pacientes
diagnosticados com obesidade mórbida, conforme esposado:
***
Isto posto, percebemos mais uma vez a importância da proteção conferida aos
consumidores, considerando a incidência de uma norma de ordem pública e interesse social
que é o Código de Defesa do Consumidor.
63
5 O DIREITO DE ACESSO À JUSTIÇA DOS CONSUMIDORES
Ainda, como forma de proteger mais uma vez o consumidor, na relação jurídica
de consumo, o legislador, traz, em seu artigo 6º, inciso VIII, a inversão do ônus da prova,
como forma de facilitar a defesa do consumidor, parte hipossuficiente dessa relação.
Art. 6º [...]
64
O instituto da inversão do ônus da prova está no contexto da facilitação da
defesa dos direitos do consumidor, estando, inclusive, consagrado na jurisprudência:
65
O ônus da prova, in casu, é da apelante, não tendo sido produzida prova
satisfatória sobre as teses que apresentou como defesa e como razão de
seu recurso, não sendo crível que, mesmo ciente na Lei 9.656/98, litigue
de forma a trazer prejuízo ao consumidor/contratante/apelado,
interpretando a seu bel prazer artigos e cláusulas, sempre no intuito de
favorecer-lhe (sic).
Com isso, notamos o quão essencial é o direito de acesso à justiça, tanto para
os cidadãos, quanto mais especificamente para os consumidores em se tratando do direito
à saúde como forma de lutarem por seus direitos com "paridade de armas" em relação aos
abusos dos fornecedores.
6 CONCLUSÃO
67
REFERÊNCIAS
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp 586.316/MG. 2ª Turma Civ. Rel. Ministro
Herman Benjamin, J. 17/04/2007. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em: 30 out.
2016.
68
CARVALHO, José Carlos de Maldonado de. Direito do Consumidor: Fundamentos
Doutrinários e Visão Jurisprudencial. 3ª ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2008.
NUNES, Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. 6ª Edição, 2011. Editora Saraiva, São
Paulo.
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proteção à vida e à saúde. 2011. Disponível em:
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Cível: 71004443545 RS, Relator: Alexandre de Souza Costa Pacheco. Data de Julgamento:
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ROCHA, Marcela Magalhães; SÁ, Márcia Laís Soares de; MAGALHÃES, Ricardo
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<http://sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/120107.pdf> Acesso em: 28 out.
2016.
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70066204447 RS, Relator: Marco Antônio Ângelo. Data de Julgamento: 07/07/2016,
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Disponível em: <http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/360130294/apelacao-civel-ac-
70066204447-rs>. Acesso em 03 nov. 2016.
RIO GRANDE DO SUL (ESTADO). Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. AC:
70055601173 RS, Relator: Ana Lúcia Carvalho Pinto Vieira Rebout. Data de Julgamento:
23/04/2015. Décima Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
27/04/2015. Disponível em: <http://tj-
rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/183870709/apelacao-civel-ac-70055601173-rs/inteiro-
teor-183870719>. Acesso em 02 nov. 2016.
70
em: <http://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5643102/apelacao-civel-ac-25756-sc-
2006002575-6>. Acesso em: 04 nov. 2016.
SÃO PAULO (ESTADO). Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Apelação Cível:
994061550677 SP, Relator: Rebouças de Carvalho. Data de Julgamento: 30/06/2010, 9ª
Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 07/07/2010. Disponível em: <http://tj-
sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/15005911/apelacao-apl-994061550677-sp>. Acesso
em 02 nov. 2016.
71
4. O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE: as relações estabelecidas
pelos contratos de planos de saúde à luz do direito do consumidor
1 INTRODUÇÃO
38
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
39
Bacharelando em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
72
segundo as diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convénio, assegurando
preferência às entidades filantrópicas e sem fins lucrativos.
73
fundamental. Sendo protegido pelo poder público, deve ser observado pela iniciativa
privada, pois se constitui afronta a norma constitucional, sua violação.
74
Constitucionalização do Direito40, o advento do Estado Social de Direito, o campo de
atuação dos direitos fundamentais passou a incidir também sobre as relações privadas.
A referida lei foi assertiva quando concedeu especial atenção aos contratos de
plano de saúde, pois os mesmos são de grande importância social, além de ser essencial ao
consumidor nos momentos de maior vulnerabilidade da vida, uma vez que lhe dá com a
promoção e proteção do direito fundamental da vida e da saúde do consumidor.
Embora seja dever do Estado a garantia da saúde dos cidadãos, vemos a cada
dia crescer o número de consumidores que buscam a assistência à saúde por meios
particulares, quer sejam, por coparticipação, seguros ou convênios.
40
A constitucionalização do Direito é um processo em que a constituição passa a ser o centro do sistema
jurídico, tendo força material e não mais meramente formal, onde todo o ordenamento jurídico passa a dever
obediência a ela.
41
BRASIL. Lei n. 9.656, de 3 de junho de 1998. Dispõe sobre planos e seguros privados de assistência à
saúde. DOU, Brasília, 04 jun. 1998. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9656.htm>. Acesso em: 30 out. 2016.
75
como destinatário final (consumidor) e prestador do plano de saúde, a pessoa jurídica de
direito privado que desenvolve a atividade de comercialização e prestação do serviço
(fornecedor). Dessa maneira revelando a plena aplicabilidade do Código de Defesa do
Consumidor (Lei 8.078, de 11 de setembro de 1.990), bem como os princípios que o
norteiam.
Conforme dispõe o artigo 6º, inciso III, combinado com o artigo 46, ambos
do CDC, é direito do consumidor ter o conhecimento prévio, claro, adequado e preciso das
cláusulas contratuais referente aos produtos e serviços que contratar:
77
AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO CIVIL E DO
CONSUMIDOR. INTERNAÇÃO DE URGÊNCIA. PLANO DE
SAÚDE. RECUSA DE COBERTURA. ABUSIVIDADE
CARACTERIZADA. SÚMULA N. 302⁄STJ. CONDENAÇÃO POR
DANO MORAL. POSSIBILIDADE. MOLDURA FÁTICA QUE
REVELA INTENSO SOFRIMENTO DA CONSUMIDORA.
78
Tendo como relator o senhor Ministro Luís Felipe Salomão, o agravo
regimental não logrou êxito, a decisão foi em manter a condenação do plano de saúde a
pagar a indenização de 35.000.00 reais a paciente. A votação foi unânime, os Srs. Ministros
Raul Araújo (Presidente), Antônio Carlos Ferreira e Marco Buzzi votaram com o Sr.
Ministro Relator, tendo ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti. O
argumento foi que a razão do recurso não convence, nos termos da sólida jurisprudência
da casa a recusa foi indevida. Negar internamento a paciente alegando controvérsia de
cláusula contratual quanto aos casos de internação, é conduta repudiada pela jurisprudência
da casa, fato apto a gerar dano moral indenizável.
5.3 Conclusão
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
79
REFERÊNCIAS
80
MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 5 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Revista do Tribunais, 2014.
81
5. UMA ANÁLISE DOS PLANOS DE SAÚDE ATRAVÉS DA GARANTIA
CONSTITUCIONAL DO DIREITO À SAÚDE SOB A ÉGIDE DO DIREITO DO
CONSUMIDOR
1 INTRODUÇÃO
42
Acadêmicos de Direito da Universidade Estadual de Feira de Santana.
82
abrangência, especialidade e complexidade dos planos e seguros privados de assistência à
saúde.
83
sociedade na esfera consumerista e seu essencial caráter protetivo ao consumidor, que
representa o elo mais fraco da relação de consumo.
84
expressamente se apresenta que o Ministério da Saúde esteve presente e fazia parte do
Conselho Nacional de Defesa do Consumidor.
85
contratação de serviços do setor privado da saúde. A década de 80, por seu turno, é marcada
por forte turbulência em torno da política, economia e grupos sociais, além do crescimento
do movimento sanitarista, sendo este um dos fomentadores da criação do SUS, que
manteve e ampliou a saúde suplementar no Brasil.
86
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
88
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada
mediante a verificação de culpa.
É sabido que o CDC, por ser uma norma principiológica, tem a prevalência de
postulados de valor superior, e não de regras, pretendendo assegurar o respeito aos direitos
e garantias fundamentais do consumidor, com o fito de resolver os abusos sofridos por eles,
dando um amplo e seguro tratamento aos consumidores que constituem a parte mais
vulnerável das relações de consumo.
89
No sentido de ratificar a tutela dos direitos do consumidor e de regulamentar a
prestação dos serviços da seara dos convênios de saúde, a agência reguladora de planos de
saúde no Brasil (ANS), exige que os planos de assistência à saúde, na prestação de seus
serviços, atendam aos seguintes requisitos: a) registro no concelho regional de medicina;
b) discriminação dos serviços a serem prestados; c) instalações adequadas e profissionais
capacitados; d) capacidade econômica e financeira e que demostre a área de abrangência
de assistência; e) que o plano de assistência à saúde tenha em suas instalações uma
infraestrutura adequada, com equipamentos ambulatórias para que seja capaz de oferecer
um amparo aos seus conveniados, quando necessária a internação hospitalar.
43
STJ - REsp: 1.055.199/SP - 2008/0100025-8, Relator: Ministro Sidnei Beneti, Data de Julgamento:
03/05/2011, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/05/2011.
90
Como se pode extrair do voto do relator do recurso em análise o seguro de
saúde foi contratado pelo senhor Nelson na data de 27/10/03 para que este entrasse em
vigor apenas em 1/12/03, porém em 28/01/04 o segurado veio a necessitar de atendimento
de urgência e posterior internação, sendo assim antes do prazo de 120 dias estabelecido no
contrato para internações. É importante que se diga que o autor tem histórico de infarto,
que foi devidamente informado ao plano de saúde no ato da assinatura do contrato de
adesão. Então, por se tratar de suspeita de derrame, o segurado foi internado na UTI do
Hospital São Camilo em 29/01/04.
91
Nesse quadro, pode-se extrair que a assistência à saúde, quando desenvolvida
por iniciativa privada, está sujeita ao Código de Defesa do Consumidor e seus princípios
norteadores. Tais como a hipossuficiência e vulnerabilidade do consumidor.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
92
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990. Acesso em: 04 nov. 2016. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>.
GONÇALVES, Carlos. Direito Civil, volume VI. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
LIMA, Claudia. Contratos no código de defesa do consumidor. 4ª ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais.
93
MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V.; MIRAGEM, Bruno.
Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
PIETROBON, Louise; PRADO, Martha Lenise do; CAETANO, João Carlos. Saúde
suplementar no Brasil: o papel da Agência Nacional de Saúde Suplementar na regulação
do setor, 2008.
SALAZAR, A.L.; RODRIGUES, K.; NUNES JÚNIOR, V.S. Assistência privada à saúde:
regulamentação, posição do IDEC e reflexos no sistema público. In: BRASIL/MS. Direito
sanitário e saúde pública, v. 1, 2005.
94
6. A RELAÇÃO HOSPITAL-PACIENTE SOB A ÓTICA DA
RESPONSABILIDADE OBJETIVA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO.
1 INTRODUÇÃO
44
Bacharelando em Direito pele Universidade Estadual de Feira de Santana.
45
Bacharelanda em Direito pele Universidade Estadual de Feira de Santana.
46
Bacharelanda em Direito pele Universidade Estadual de Feira de Santana.
95
forma, como o objetivo deste trabalho é a facilitação didática e metodológica da concepção
do fenômeno jurídico, sem perder a técnica, apresentamos o entendimento de alguns
autores brasileiros, a fim de analisarmos o acerto/equívoco do julgado em epígrafe.
98
reconhecida então a improcedência do pedido inicial, saindo vitorioso do processo o
hospital.
99
poder-se-ia aferir se este tinha ou não hepatite antes da cirurgia.
(BRASIL, 2013, p. 13).
Depreende-se das afirmações acima que, embora não houvesse nexo causal
necessário entre o suposto defeito e o dano, ainda cabe condenação ao réu. O aparente
raciocínio do juiz é de que, havendo a responsabilidade objetiva e, portanto, a necessidade
de o réu provar sua não responsabilidade, deve este ser condenado por supostamente falhar
em não apresentar “prova cabal”, a qual seria, segundo o magistrado, os “exames pré-
cirúrgicos” comprovando que o paciente já portava a doença. Trata-se, portanto, de um
recurso errôneo à teoria da responsabilidade objetiva, pois como já foi dito, a mesma não
exclui a necessidade lógica do nexo causal (CAVALIERI FILHO, 2012). O que é deixado
de lado, na responsabilidade objetiva, é a culpa, não o nexo causal, isto é, não cabe analisar
se o dano ocorreu por negligência, imperícia ou imprudência do fornecedor, mas se o
defeito causou o dano.
Mesmo que a transfusão de sangue ocorrida em 1997 tenha sido a única ao qual
o paciente se sujeitou, há outras formas de se contrair a hepatite C que não por transfusão
sanguínea, como o
100
fornecimento de serviço médico (transfusão de sangue) e não de um produto, é fundamental
compreender o que o CDC caracteriza como serviço defeituoso. A definição do Código é
a seguinte:
Além disso, para fins de aplicação da norma prevista no Art. 14, § 4°, é levado
em consideração o vínculo empregatício, como aponta Botelho (2003):
5 CONCLUSÃO
BOTELHO, Nadja Machado. Responsabilidade Civil por Erro Médico. Brasília: Câmara dos
Deputados, 2003. Disponível em <http://www2.camara.leg.br/documentos-e-
pesquisa/publicacoes/estnottec/arquivos-pdf/pdf/310914.pdf> Acesso: 02 nov 2016
CARVALHO, Lejeune Mato Grosso Xavier de; AZEVEDO, Carlos Alberto Schmitt de.
Breve História das Profissões Liberais no Brasil. FENACI, 2004. Disponível em
<http://www.fenaci.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=79&Itemid=7
0> Acesso: 02 nov 2016
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10º ed. São Paulo: Atlas,
2012.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil: responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo:
Saraiva, 2004.
FARENA, Duciran Van Marsen. A responsabilidade civil no novo Código Civil e no Código
de Defesa do Consumidor. Boletim Científico. ESMPU, Brasília, a. II – nº 6, p. 117-134 –
jan./mar. 2003.
MOURA, Leonardo Roscoe Bessa e Walter José Faiad de. Manual de direito do consumidor.
4. ed. Brasília: Escola Nacional de Defesa do Consumidor, 2014. Disponível em
<http://www.defesadoconsumidor.gov.br/images/manuais/manual-do-direito-do-
consumidor.pdf> Acesso: 02 nov 2016
105
<http://www.tjrj.jus.br/c/document_library/get_file?uuid=4afce350-4aa9-4f2b-8ab4-
f8e0d926499e> Acesso: 02 nov 2016
106
7. OS PLANOS DE SAÚDE E A MATERIALIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO
FAMILIAR: DIALOGANDO A PROTEÇÃO À REPRODUÇÃO ASSISTIDA
1 INTRODUÇÃO
47
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
48
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
107
estabelecidos de modo a respeitar o subjetivismo individual, as escolhas, a liberdade de
disposição quanto aos cuidados ao seu próprio corpo, conquanto que não ameace o bem
fundamental, que é a vida, dentro dos liames da dignidade da pessoa humana e sob a
supervisão do Ministério Público. Também, como já citado, pode ser pensada e
principalmente concebida como um direito social, como a define o artigo 6º da Constituição
Federal. Ou seja, um direito que exige uma prestação positiva do Estado, no sentido de agir
em prol do fornecimento de condições amplas para o seu gozo. E, por fim, em análise às três
dimensões tradicionais, como um direito coletivo, ou seja, que ultrapassa a individualidade e
de que é titular um grupo, uma categoria ou uma classe de pessoas.
Os planos de saúde atuam, pois, como atores principais no diálogo entre a vida e
o consumo, passando a estarem enquadrados no conceito de fornecedor e abarcados pelas
disposições do Código de Defesa do Consumidor. Dessa maneira, serão analisados seus
posicionamentos ao lidar com tal bem jurídico fundamental, a partir da abordagem à
fertilização in vitro.
Para que se possa entender o que é uma relação de consumo, é necessário saber,
primeiramente, que o Código de Defesa do Consumidor não define o que vem a ser tal
relação, mas sim trata dos seus elementos, tanto objetivos, quanto subjetivos, de modo que
os primeiros dizem respeito ao acordo, ao negócio que as partes venham a celebrar,
formando-se um vínculo jurídico, sendo, o bem, objeto mediato da relação jurídica. Já os
elementos subjetivos referem-se às partes – consumidor e fornecedor
– assim como, também, a ideia de consenso entre elas.
Partindo de tal máxima, cabe, ainda, elucidar acerca da diferença entre relação
social e relação jurídica. Nesse contexto, a primeira torna-se a segunda quando repercute no
âmbito do Direito. Da mesma forma, uma relação jurídica parte da atividade do homem que,
vivendo em sociedade, enseja relações sociais. Pode-se, dessa forma, conceituar relação
108
jurídica como toda relação social disciplinada pelo Direito. Nessa perspectiva, a norma
jurídica apresenta um liame mediante àqueles que participam de determinada relação social,
dando a um dos sujeitos o poder e ao outro um dever. Esse liame, esse vínculo de ambas as
partes relacionadas, por sua vez, é um atributo da norma jurídica, é o direito emanado.
109
operadora contratada, por meio do reembolso ou pagamento direto àquele que presta o serviço
através da ordem do consumidor. Dessa forma, um plano de saúde é um serviço oferecido
por operadoras, empresas privadas, que têm o objetivo de prestar assistência médica e
hospitalar.
110
realização de cirurgias para o implante de próteses. Nesse diapasão, com a finalidade de dar
maior segurança aos contratantes dos planos, pode-se relembrar a lei já mencionada – lei 9.
656/98 – que obrigou os planos de saúde a cobrir qualquer necessidade urgente que venha a
ser encontrado o aderente, considerando, destarte, nula e abusiva a cláusula que coloque o
consumidor em situação de desvantagem.
Para além disso, de acordo com a Lei de Planos de Saúde, os contratos existentes
entre estes e o consumidor devem abranger todas as doenças que estão inerentes à
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados com a Saúde,
da Organização Mundial de Saúde. Em paralelo, na elaboração de contratos de tal natureza
influi base regulamentar devendo ser obedecidas uma série de outras diretrizes, quais sejam
as presentes no Manual de Planos de Saúde, elaborado pela Secretaria Nacional do
Consumidor em parceria com o Ministério da Justiça e a Escola Nacional de Defesa do
Consumidor, além do rol de procedimentos a serem cobertos por planos de saúde
estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar ANS.
111
Um dos Direitos Humanos que é reconhecido pela ONU é o direito ao
planejamento familiar. Nesse contexto, um dos direitos referidos é o direito à família.
Partindo de tal premissa, a Declaração Universal dos Direitos Humanos abrangeu em seu
artigo XXV, nº 2 que a maternidade e a infância têm a direito a cuidados e assistências
especiais.
Além do mais, de acordo com o art. 2º da Lei nº 9.263/96, que é a lei que cuida
da matéria de planejamento familiar é o conjunto de ações que regula a premissa da
fecundidade, para que garanta direitos iguais da constituição, limitação ou aumento dos filhos
ou pela mulher, ou pelo homem ou pelo casal.
Partindo do pressuposto acima, negar este direito a quem não pode ou não quer
ter filhos de forma convencional, é negar uma vida digna a quem quer conceber, pois se
configura até mesmo como algo que vai de encontro à Constituição, visto que a mesma abarca
o direito de se construir uma família. Além disso, a Lei 11.935 de 2009 que obriga os planos
de saúde a autorizarem e pagar de forma integral a cobertura do planejamento familiar, inclui
todos os modos de tratamentos, sem exceção. Dessa maneira, toda a mulher que não consegue
engravidar pela maneira convencional, mas tenha condições para isso, pode buscar apoio na
112
medicina para fazer, visto que para esta a concepção é, hoje, uma doença que pode ter
inúmeras causas e, também, inúmeros tratamentos.
4 DA SAÚDE AO JUÍZO
113
1. O indeferimento da liminar deveu-se, essencialmente, a dois fatores:
O primeiro embate se dá em relação ao disposto nos artigos 35-C e 10, III, da Lei
9.656/98, que dispõem que:
114
Parágrafo único. A ANS fará publicar normas regulamentares para o
disposto neste artigo, observados os termos de adaptação previstos no art.
35. (Grifos nossos).
***
115
o óvulo a partir do depósito do sêmen na cavidade uterina. Já a Reprodução Assistida é um
processo mais complexo, realizado totalmente em laboratório, onde há a fecundação
extracorpórea.
116
(TJ-SP - Apelação: APL 10772581220138260100 SP 1077258-
12.2013.8.26.0100, Relator: JAMES SIANO, 5ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 21/03/2016). (Grifos nossos).
Não obstante ao que foi dito, cabe destacar que a Constituição Federal, também,
em seu artigo 226, §7º, esclarece que em função dos princípios da dignidade da pessoa
humana e da paternidade responsável, nota-se que o planejamento é uma livre decisão do
casal, devendo o Estado proporcionar recursos tantos educacionais quanto científicos para
que possa atingir esse direito, vedando qualquer que seja a forma coercitiva das instituições
oficiais ou privadas. Partindo dessa égide, vê-se que, a partir do momento que o plano de
saúde não cobriu o tratamento de fertilização in vitro, o mesmo foi, também, de encontro a
esse preceito constitucional, posto que essa relação de consumo entre o plano e o cliente é,
também, fruto da permissão do Estado em deixar que esses convênios atuem até mesmo para
que a saúde possa chegar a todos, visto que só a atuação do próprio Estado não consegue
abranger a toda população.
Além disso, outra lei que pode ser citada é a lei 11. 935/09, que obriga os planos
de saúde a autorizarem e custearem o planejamento familiar. Dessa maneira, os planos ficam
obrigados a custear sem limitações as contracepções e tratamentos para aqueles casais que
querem engravidar, seja por meio de fertilização in vitro, seja por meio de inseminação
artificial. Para além disso, a lei 9. 656/98 torna inteligível, também, no artigo 35-C que é
obrigatória a cobertura em casos que abarca a assistência à concepção e a contracepção. Ao
revés, a mesma lei, no artigo 10, III esclarece que: “é instituído o plano-referência de
assistência à saúde, com cobertura assistencial médico-ambulatorial e hospitalar,
compreendendo partos e tratamentos, realizados exclusivamente no Brasil, com padrão de
117
enfermaria, centro de terapia intensiva, ou similar, quando necessária a internação hospitalar,
das doenças listadas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde, da Organização Mundial de Saúde, respeitadas as exigências
mínimas estabelecidas no art. 12 desta Lei, exceto” em casos de inseminação artificial.
Seguindo a ideia acima, faz mister lembrar acerca da questão contratual, tendo
em vista que um dos princípios específicos do contrato de consumo é o princípio da
interpretação mais favorável ao consumidor, em que, no artigo 47 do diploma Consumerista
dispõe que “as cláusulas interpretadas de maneira mais favorável ao réu”. Além disso, no art.
423 do Código Civil é apresentado que “quando houver no contrato de adesão cláusulas
ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente”.
Nessa perspectiva pode-se destacar que, embora na ementa a qual foi exposta tenha sido
apregoado que no contrato abarcava apenas as doenças e problemas referentes com a saúde
da OMS, e a doença da autora, nesta, não estava presente, é importante lembrar, destarte que
há casos em que não é preciso estar escrito em contrato, pois são casos que têm grande
relevância no quesito dos Direitos Humanos, assim como, também, da dignidade humana.
Não menos importante, a saúde é um direito previsto na própria Constituição Federal,
devendo ser levada em consideração em todos os âmbitos, seja ele no âmbito oficial, seja no
âmbito privado.
5. CONCLUSÃO
118
Para além disso, é preciso denotar, ainda, que quando um convênio não cobre
esse tipo de tratamento, ele barra o direito de alguém gerar seus descendentes. Não só isso,
mas também cabe dizer que não basta a pessoa ser impedida de buscar tratamentos para esse
caso, mas ela tem que, também, passar pelo constrangimento de ir buscar na justiça seus
direitos que, por sua vez, já estão previstos constitucionalmente e, além disso, expor sua
intimidade, mexendo até mesmo com seu psicológico e causando sofrimento a todos aqueles
que estão envolvidos nesse processo. Nota-se, destarte, que a garantia da saúde é um
pressuposto básico para a vida digna de cada ser humano, devendo ser abrangida em todos
os aspectos para que cada um possa viver de forma digna e com a certeza de que seus direitos
serão observados com coerência, tanto pelos planos oficiais, quanto pelos planos privados.
119
REFERÊNCIAS
TRETTEL, Daniela Batalha. Manual de planos de saúde. 1.ed. Brasília: Secretaria Nacional
do Consumidor, 2014. 142 p.
120
diferencas-entre-os-contratos-de-adesao-e-os-contratos-tipo,33583.html>. Acessado
em 07 de novembro de 2016
121
8. PLANOS DE SAÚDE SOB A ÓTICA CONSUMERISTA: uma breve incursão
sobre a jurisprudência nacional
1 INTRODUÇÃO
49
Bacharelando em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
50
Bacharelando em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
51
Bacharelando em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
122
série de direitos fundamentais de dimensão social, inserindo a saúde no mesmo quadro
da educação, o trabalho, a moradia e a segurança. O direito à saúde, porém, goza de
especial relevância, dada interconexão com a defesa de outros bens fundamentais, com
destaque para a proteção da vida. Sarlet (2013b) conclui, então, que, se não positivado
em norma constitucional própria, poderia a proteção da saúde ser reconhecida como
direito fundamental implícito.
123
momento, proceder-se-á a uma definição do direito fundamental à saúde dentro dos
parâmetros legais brasileiros, bem como a uma análise da legislação que rege a proteção
deste bem jurídico, sem pretensão de esgotar tal matéria; para tanto, serão privilegiadas
as disposições constitucionais e as leis ordinárias que trazem a tutela do direito à saúde
sob escrutínio extracontratual. Depois, segue-se a caracterização do direito contratual dos
planos de saúde dentro da esfera do direito consumerista, centrando-se nos princípios e
normas que devem ser observados nesta relação de acordo com o Código de Defesa do
Consumidor.
124
Na sistemática constitucional, no que se refere aos direitos fundamentais,
pode-se afirmar que o direito básico à saúde se insere na categoria dos denominados
direitos sociais (art. 6º, Constituição Federal de 1988), que abarcam ainda os direitos
relativos à educação, assistência social, previdência, entre outros. São direitos que exigem
do Estado prestações positivas que garantam aos cidadãos um mínimo de segurança
coletiva, além de responder pelo anseio de justiça social e prever a garantia do necessário
para uma existência digna. Nestes termos, enquanto direito fundamental de segunda
dimensão, o direito fundamental à saúde deve ser garantia indispensável para qualquer
Estado que se proponha a defender o valor humano máximo consubstanciado no direito
à vida.
125
No entanto, apesar de ser considerada atividade de relevância pública, de
maior interesse coletivo e social para consecução do bem-estar e de condições materiais
de uma vida digna à população, a prestação de serviços e a assistência à saúde é livre à
iniciativa privada (art. 199, CF-88). Como tema de maior relevância para o presente
trabalho, procede-se à análise das normas essenciais que regem tais atividades, visando a
aprofundar as bases legais que regulamentam o funcionamento dos planos de saúde dentro
da sistemática normativa do direito fundamental à saúde no Brasil.
126
No que tange aos serviços de saúde fornecidos pelo ramo privado, prevê a
mesma Lei 8.080/90 (Lei Orgânica de Saúde) que a assistência à saúde é livre à iniciativa
privada (artigo 21), sendo caracterizada pela iniciativa de profissionais liberais,
legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de direito privado na promoção, proteção
e recuperação da saúde (artigo 20), sendo, contudo, observados os princípios éticos e as
normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto às
condições para seu funcionamento (artigo 22).
Para além das particularidades e preceitos legais, deve-se dizer, no que toca
aos serviços de plano de saúde, que enquanto atividade de mercado realizadora de
serviços de relevância pública, nela estarão em constante embate os princípios públicos
que regem a preservação da vida e da saúde dos cidadãos frente aos princípios do direito
127
privado que prezam pelo colhimento de lucros advindos da exploração – muitas vezes
imponderada – de atividades econômicas.
Nesse sentido, procede-se a seguir à análise dos fatores que regem a relação
contratual dos serviços de planos de saúde, bem como do tratamento dado pelo direito
consumerista frente aos princípios respeitantes a esta relação econômico-consumerista-
contratual, sem embargo das contradições entre a ampla e garantidora sistemática
constitucional e as regras limitadoras à abrangência da cobertura dos planos de saúde em
flagrante desrespeito à proteção do direito à vida e à saúde daqueles mais vulneráveis.
O entendimento desta relação como sendo de consumo, faz com que cada
uma das partes obedeça ao que está disposto na Lei de nº 8.078/90, o Código de Defesa
do Consumidor (CDC). Código este que, por sua vez, foi previsto pela Constituição
Federal de 1988, que declara em seu art. 5º, inciso XXXII: “o Estado promoverá, na
forma da lei, a defesa do consumidor”, tendo o código entrado em vigência em 11 de
março de 1991. O reconhecimento de que os contratos de plano de saúde serão regidos
128
pelo Código de Defesa do consumidor é reafirmado pela súmula 469 do STJ, que informa:
“Aplica-se o código de defesa do consumidor aos contratos de plano de saúde”.
129
O contrato de plano de saúde, mais do que qualquer outro, deve cumprir
sua função social, concretizando princípios constitucionais de grande
envergadura, tais como a dignidade da pessoa humana (inciso III,
art.1º); da solidariedade (inciso I do art.3º) e da justiça social (art.170
caput). A isso se soma a diretriz contida no Código Civil de 2002, em
seu art. 421 (‘A liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato’). (BARROS, 2011, p. 292).
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: [...] IV -
estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem
o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com
a boa-fé ou a equidade; (BRASIL, 1990).
130
durante a venda. Como nos casos em que é ofertado um plano de saúde com cobertura
total de serviços, porém perseveram cláusulas que excluem alguns tipos de procedimentos
por motivos diversos.
Nestes casos, assim como em outros nos quais há quebra do princípio da boa-
fé objetiva, os magistrados passam a entender que além do dano material passível de
reparação pecuniária, será cabível também o dano moral, em razão do sofrimento e da
frustração sofrida pelo consumidor, diante de sua expectativa malograda.
4 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL
131
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. 1. VIOLAÇÃO AO ART. 535, II,
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NÃO VERIFICADA. 2.
CONTRATO SUBMETIDO ÀS REGRAS DO CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INTERPRETAÇÃO
DE CLÁUSULAS MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR.
ABUSIVIDADE. PROCEDIMENTO ESSENCIAL À
VIDA DO SEGURADO. INDISPENSABILIDADE. 3. AGRAVO
IMPROVIDO. 1. Não há violação ao art. 535 do CPC quando o
Tribunal de origem dirime, fundamentadamente, todas as questões que
lhe foram submetidas. 2. Conforme entendimento adotado pela
jurisprudência deste Tribunal Superior, em se tratando de contrato
de adesão submetido às regras do CDC, a interpretação das
cláusulas deve ser feita da maneira mais favorável ao consumidor,
bem assim devem ser consideradas abusivas as cláusulas que visam
a restringir procedimentos médicos essenciais para a saúde do
consumidor. 3. "A exclusão de cobertura de determinado
procedimento médico/hospitalar, quando essencial para garantir a
saúde e, em algumas vezes, a vida do segurado, vulnera a finalidade
básica do contrato" (REsp 183.719/SP, Relator o Ministro Luís Felipe
Salomão, DJe de 13/10/2008). 4. Agravo regimental a que se nega
provimento.
132
Sendo assim, incide o disposto no art. 51, IV, do Código de Defesa do
Consumidor:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
[...]
133
descoberta de tratamentos em prol da humanidade, não sendo
possível manter um rol estanque.
3. Não cabe ao plano de saúde, mas sim ao médico que acompanha
o tratamento, a análise do mérito dos tratamentos e dos métodos a
serem aplicados ao paciente.
4.O valor arbitrado a título de danos morais encontra-se dentro dos
parâmetros fixados por este Tribunal, motivo pelo qual não merece
qualquer censura, seja para majorar ou minorar.
5. Art. 20, §4º, CPC: "nas causas de pequeno valor, nas de valor
inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a
Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários
serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as
normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior."
6. Apelação do autor não provida.
7. Apelação do réu parcialmente provida.
8. Sentença reformada.
134
É no mínimo contraditória a presença de cláusulas limitadoras abusivas em
contratos de planos de saúde, visto que estes têm por finalidade a conservação da vida e
do bem-estar do usuário. A aplicação do inciso IV, art. 51 do CDC se mostra, mais uma
vez, inexorável, de forma a afastar restrições contratuais desarmônicas em relação à
natureza do contrato. Os contratos de consumo são pautados pela proteção da dignidade
da pessoa humana, algo que se mostra especialmente necessário quando o bem tutelado é
a saúde do indivíduo, ente vulnerável na relação.
5 CONCLUSÃO
Seja do ponto de vista trazido pela OMS, seja daquele extraído das
determinações expressas na Constituição Federal de 1988, fica assentado que o direito
fundamental à saúde incide como postulado básico de um Estado garantidor de condições
materiais dignas para o pleno desenvolvimento humano. Tal assertiva não se restringe,
entretanto, ao âmbito público, haja vista que, como expresso anteriormente, os serviços
de saúde, mesmo que exercidos por pessoas privadas, preservam sua natureza de
relevância pública.
135
contratuais iria promover ao indivíduo um ônus excessivo, visto que o mesmo nem
sempre possui o completo conhecimento do seu contrato, ou se vale do que foi exposto
verbalmente durante o processo de venda do plano de saúde. Sendo assim, o Judiciário
tem buscado, cada vez mais, a inserção desta relação contratual no âmbito do direito do
consumidor, como consta na Súmula 469 do STJ.
136
REFERÊNCIAS
BARROS, Márcia Cristina Cardoso de. Contratos de Planos de Saúde: Princípios Básicos
da Atividade. In: Curso de Direito em Saúde Suplementar: Judicialização da saúde, Parte
I: saúde suplementar no direito brasileiro. Rio de Janeiro: EMERJ, 2011. P. 290-299.
Disponível em
<http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/6/judici
alizac aodasaude.pdf>. Acesso em: 25 de outubro de 2016.
BRASIL. Lei nº 9.656 de 3 de Junho de 1998. Dispõe sobre os planos e seguros privados
de assistência à saúde. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9656.htm>. Acesso em: 25 de outubro de
2016.
137
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Agravo em Recurso
Especial nº 581.293, Terceira Turma. Ministro Marco Aurélio Bellize. Brasília, DF, 23
de outubro de 2014. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 04 nov. 2014. Disponível em:
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/153482649/agravo-regimental-no-agravo-em-
recurso-especial>. Acesso em: 28 out. 2016.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Segunda Seção. Súmula 469. Aplica-se o Código
de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=consumidor&b=SUMU&p=true&l
=10& i=12#DOC12>. Acesso em: 30 out. 2016.
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de direito constitucional. 6ª ed., rev., ampl. e atual.
Salvador: JusPODIVM, 2012.
138
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4254/Os-contratos-de-planos-de-saude-a-
luz-do-Codigo-de-Defesa-do-Consumidor>. Acesso em: 28 out. 2016.
GROU, Karina Bozola; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. O Direito à Saúde e os Planos
de Saúde no Brasil. Revista de Direito Sanitário, São Paulo, v. 8, n. 3, p. 180-196, nov.
2007/fev. 2008. Disponível em: <
http://www.revistas.usp.br/rdisan/article/view/80649/84299>. Acesso em: 26 de outubro
de 2016.
MENEZES, Felipe. Plano de Saúde – Conheça seus direitos contra os abusos frequentes.
SARLET, Ingo Wolfgang. Comentário ao art. 196. In: CANOTILHO, José Joaquim
Gomes et al. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013.
139
SARLET, Ingo Wolfgang. Comentário ao art. 199. In: CANOTILHO, José Joaquim
Gomes et al. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013.
SARLET, Ingo Wolfgang. Comentário ao art. 6º. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes
et al. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25ª ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros Editores, 2005.
140
9. A LEI DO ACOMPANHANTE PARA OS CONSUMIDORES DE PLANO DE
SAÚDE
1 INTRODUÇÃO
De acordo com a Lei Federal nº 11.108/2005, em seu artigo 19, “Os serviços
de saúde do Sistema Único de Saúde – SUS, da rede própria ou conveniada, ficam
obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo
o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato”.
A lei está em vigor desde 2005 e obriga que os hospitais, maternidades e casas
de parto permitam a presença de um acompanhante indicado pela gestante para
141
acompanhá-la durante o trabalho de parto, durante o parto e pós-parto (período por até 10
dias). Isso vale para todos os hospitais brasileiros, seja particular ou público.
Por não ter nenhum tipo de conhecimento, no que se refere ao parto, surgiu a
necessidade de hospitalização para o aprendizado e treinamento dos médicos, com essa
nova forma de assistir, a mulher passa, então, de um caráter humanitário com base em
experiências e contato, para um caráter tecnicista com práticas intervencionistas
transformando a mulher de sujeito para objeto do processo.
142
Não há nada é mais acolhedor e humanizado, que poder contar com a
participação de um acompanhante, esse escolhido pela própria parturiente, no momento
mais esperado na vida de uma mulher, a hora de dar à luz seu filho. Essa prática tem
ajudado muito, tanto à parturiente, quanto a toda equipe de saúde nas salas de parto. A
participação do acompanhante, muitas vezes, acelera o parto, evitando o uso de
medicamentos e até mesmo as cesarianas, isso, quando os médicos não agendam a
cesariana, anterior ao trabalho de parto, assunto esse, que embora seja de grande
relevância, não será abordado aqui.
A falta de estabelecimento de vínculo com a família, exatamente no momento
que ela mais necessita colabora para que a experiência departo seja insatisfatória podendo
causar prejuízos a gestante e a bebê.
143
humanização como defesa dos direitos humanos, ademais, o parto humanizado não visa
abolir as tecnologias que foram alcançadas para auxiliar no parto, mas, tão somente evitar
o uso rotineiro medicalizando o parto ou tornando-o estritamente cirúrgico.
Dessa forma, a equipe de saúde e os hospitais devem estar aptos para acolher,
tanto às gestantes quanto seu companheiro e família facilitando um vínculo com a
parturiente. Não se pode considerar o parto como momento exclusivo da mulher, sendo
o pai um sujeito passivo, deve-se considerar o sistema como um todo e isso abarca todos
os sujeitos que dele fazem parte. Não se pode deixar de lado o envolvimento dos
familiares, visto que eles expressam segurança às parturientes traduzido em calor
humano, esse conto não pode ser perdido, em detrimento de profissionais treinados para
lidar com técnicas, deixando de lado a humanização do momento, priorizando condutas
para lidar com a fisiologia do nascimento, bem como intervir em processos patológicos.
144
legalidade à cobrança de tais valores, visto que essa cobrança representa uma afronta à
Lei n. 9.656/98, que prevê a cobertura integral para parto, e à legislação consumerista. A
referida Lei, em seu art. 12, inciso II, alínea c, estabelece que a cobertura de despesas
referentes a honorários médicos deve ser obrigatoriamente coberta pelas operadoras de
planos privados de assistência à saúde para eventos que ocorram durante a internação
hospitalar, incluindo a internação hospitalar em obstetrícia.
***
145
(TJPR - AI - 1206389-5 – Maringá/PR - J. 28.05.2014).
Liminar:
5 O PARTO HUMANIZADO
146
A Organização Mundial elenca algumas intervenções que ainda são
aplicadas, quais sejam:
A Raspagem dos pelos pubianos é feita porque se acredita que o parto fica
mais “higiênico”, podendo haver inflamação local e o crescimento dos pelos é incômodo,
sendo seu uso comprovadamente desnecessário.
Uso rotineiro de soro com hormônio ocitocina é feita por provocar mais
contrações fazendo com que o parto seja mais rápido e o leito seja liberado, porém, as
dores do parto com ocitocina ficam insuportáveis e podem provocar sofrimento fetal.
Jejum durante o trabalho de parto, diz-se que no caso de uma cesárea, pode
haver problemas de aspiração do alimento, porém, o jejum provoca fraqueza, o que pode
causar sérios problemas no parto e o evento de aspiração é tão raro, que não pode ser
usado como justificativa.
147
Restrição da movimentação, fazendo com que a mulher fique deitada durante
todo o trabalho de parto, alega-se que não há espaço nos centros obstétricos para as
mulheres caminharem e mudarem de posição. Diz-se que é mais “seguro”, porém, estudos
provaram há muito tempo que a mulher deve ter liberdade de posição e movimentação
durante todo o trabalho de parto e parto.
Separação do bebê logo após o parto, sem que ele e a mãe possam se tocar,
se olhar e ter a primeira chance de amamentação é feito para que o bebê seja examinado
e lavado. No entanto, o pós-parto é o momento mais importante para a mãe e o bebê
estabelecerem o vínculo e a amamentação precoce faz a saída da placenta ser mais rápida,
com menos sangramento.
Nota-se, que o parto, ao longo do tempo, passou por uma mecanização que
torna a mulher um produto dentro da seara médica. Essa mecanização é feita com o intuito
de beneficiar, principalmente, a classe médica, que dotados de autonomia, usam o saber
cientifico para conferir vantagens para classe, em detrimento da mulher e de seu direito à
saúde. Fazendo da violência uma realidade, cada vez mais presente na vida das mulheres,
haja vista uma em cada quatro brasileiras, afirmam ter sofrido maus tratos, físicos ou
psicológicos, durante o parto.
É preciso se prevenir contra esta violência, escolhendo com critério o
profissional e o serviço médico hospitalar. Inclusive em algumas regiões do Brasil é
possível ter um parto realmente humanizado pelo SUS.
148
6 CONCLUSÃO
149
REFERÊNCIAS
150
10. SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL: A aplicabilidade do
Código de Defesa do Consumidor na proteção do Direito à Saúde
1 INTRODUÇÃO
52
Bacharelanda em Direito pela Universidade de Feira de Santana.
151
de relevância pública também a regulamentação, fiscalização e controle de ações e
serviços (médicos/hospitalares) de saúde destinados a promoção, proteção, recuperação
ou reabilitação (BRASIL, 1988).
152
Nessa linha, o presente artigo explana, de modo geral, sobre a aplicação do
Código de Defesa do Consumidor, como meio de proteção da qualidade da saúde
oferecida aos cidadãos, dentro do viés da Saúde Suplementar. Neste sentido, constitui-se
problema de investigação: qual a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor na
proteção do Sistema Suplementar de Saúde?
153
A Constituição Brasileira, em seu art. 196, a reafirma de modo mais ampliado
o conceito de saúde apresentado pela OMS: “A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença
e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). Este artigo fortalece o direito à
saúde, pois estabelece um princípio de justiça normativa que de forma aplicada torna-se
um referencial e uma política de direitos.
154
Art. 1º Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de
direito privado que operam planos de assistência à saúde, sem prejuízo
do cumprimento da legislação específica que rege a sua atividade,
adotando-se, para fins de aplicação das normas aqui estabelecidas, as
seguintes definições: I – Plano Privado de Assistência à Saúde:
prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a
preço pré ou pós estabelecido, por prazo indeterminado, com a
finalidade de garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela
faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços de
saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada,
contratada ou referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e
odontológica, a ser paga integral ou parcialmente às expensas da
operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto ao
prestador, por conta e ordem do consumidor; II – Operadora de Plano
de Assistência à Saúde: pessoa jurídica constituída sob a modalidade de
sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de autogestão,
que opere produto, serviço ou contrato de que trata o inciso I deste
artigo; III – Carteira: o conjunto de contratos de cobertura de custos
assistenciais ou de serviços de assistência à saúde em qualquer das
modalidades de que tratam o inciso I e o § 1º deste artigo, com todos os
direitos e obrigações nele contidos. § 1º Está subordinada às normas e
à fiscalização da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS
qualquer modalidade de produto, serviço e contrato que apresente, além
da garantia de cobertura financeira de riscos de assistência médica,
hospitalar e odontológica, outras características que o diferencie de
atividade exclusivamente financeira, tais como: a) custeio de despesas;
b) oferecimento de rede credenciada ou referenciada; c) reembolso de
despesas; d) mecanismos de regulação; e) qualquer restrição contratual,
técnica ou operacional para a cobertura de procedimentos solicitados
por prestador escolhido pelo consumidor; e f) vinculação de cobertura
financeira à aplicação de conceitos ou critérios médico assistenciais. §
2º Incluem-se na abrangência desta Lei as cooperativas que operem os
produtos de que tratam o inciso I e o § 1º deste artigo, bem assim as
entidades ou empresas que mantêm sistemas de assistência à saúde, pela
modalidade de autogestão ou de administração. § 3º As pessoas físicas
ou jurídicas residentes ou domiciliadas no exterior podem constituir ou
participar do capital, ou do aumento do capital, de pessoas jurídicas de
direito privado constituídas sob as leis brasileiras para operar planos de
assistência à saúde. § 4º É vedada às pessoas físicas a operação dos
produtos de que tratam o inciso I e o § 1º deste artigo.
Em 2000, foi publicada a Lei Federal nº 9.961/00, por meio da qual foi criada
a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que é uma autarquia vinculada ao
Ministério da Saúde, cujo objetivo institucional é o desenvolvimento de estratégias
nacionais para regulação do setor suplementar, através do controle do fluxo financeiro e
de serviços entre operadoras, beneficiários e prestadores.
155
A ANS regula e fiscaliza os prestadores de assistência privada, credenciados
pelos planos e seguros de saúde ou pelas cooperativas médicas, serviços próprios dos
planos e seguros de saúde, serviços conveniados ou contratados pelo subsistema público,
que são contratados pelas empresas de planos e seguros de saúde que fazem parte de sua
rede credenciada (BRASIL, 2007). Para Albuquerque et.al (2008) hoje, o mercado de
saúde suplementar é composto pelos planos privados que são oferecidos por pessoas
jurídicas de direito privado e por planos vinculados à instituição patronal de assistência
ao servidor público civil e militar, onde estes últimos não regulados pela Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A saúde suplementar no Brasil teve como primeira modalidade as empresas
de medicina de grupo que surgiram na década de 60 para atender, em princípio, aos
trabalhadores do ABC paulista. Diante das deficiências da saúde pública na época, as
indústrias multinacionais buscaram meios para proporcionar atendimento médico de
qualidade a seus empregados fato que estimulou médicos a formarem as empresas de
medicina de grupo, com diferentes planos de saúde (PEREIRA FILHO,1999).
156
médicos e hospitais por meio do reembolso de despesas. E atualmente, além do sistema
de reembolso, as seguradoras trabalham com hospitais, médicos e laboratórios
referenciados, fator que diminui os prejuízos causados pela livre escolha (PEREIRA
FILHO,1999).
157
O artigo 6º, do CDC determina que: “São direitos básicos do consumidor: a
proteção da vida, saúde e segurança contra riscos provocados por práticas no
fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos”. Dessa forma,
caracterizou o direito à saúde como essencial no direito do consumidor.
158
da lei específica, ou sendo esta inaplicável, aplica-se somente o Código, que trata
indistintamente de todas as relações de consumo” (TRETTEL, 2010).
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV - Estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.
159
Assim, o contrato de plano privado de saúde por se enquadrar no rol de
contratos de adesão deve-se observar as cláusulas que implicam limitação de direito,
como exemplo a restrição e limitação de coberturas, pois devem estar dispostas com
clareza e de fácil compreensão para o consumidor, caso contrário será considerada como
cláusula abusiva.
Nesse passo, como todas as relações de consumo são reguladas pelo CDC,
independentemente de haver previsão expressa em lei específica. O papel fundamental da
aplicação das normas consumeristas dentro do viés da saúde suplementar é o de proteger
os direitos do consumidor por sua vulnerabilidade (art. 4º, I, do CDC), o de interpretar as
cláusulas contratuais de forma favorável ao consumidor (art. 47, do CDC) e anular as
cláusulas contratuais abusivas quando apresentem desvantagem ou sejam incompatíveis
com a boa-fé ou a equidade (art. 51, do CDC).
160
VIEGAS (2014) elucida acerca da atuação dos planos de saúde antes e depois
da regulamentação, informando que:
161
A progressão é geométrica. Certamente não existe outro país do mundo
com demanda semelhante. A estatística demonstra, infelizmente, que o
Brasil se consolida em primeiro lugar no campeonato mundial de
judicialização (o Relatório Justiça em Números de 2016 indica que no
total são mais de 102 milhões de processos em tramitação [...] Segundo
Relatório, no tema “direito do consumidor”, o assunto contratos de
planos de saúde é o mais demandado nos Tribunais de Justiça (2º grau
de jurisdição), com 1,13% de todos os casos.
162
relações estabelecidas entre os planos de saúde e seus beneficiários, de forma a favorecer
a parte hipossuficiente (consumidor).
***
163
SALOMÃO, DJe de 13.10.2008). 3. O v. aresto atacado está assentado
na afirmação de que, em se tratando de contrato de adesão submetido
às regras do CDC, a interpretação de suas cláusulas deve ser feita da
maneira mais favorável ao consumidor, bem como que devem ser
consideradas abusivas as cláusulas que visam a restringir
procedimentos médicos. 4. Agravo regimental a que se nega
provimento. (STJ - AgRg no AREsp: 292259 SP 2013/0013217-4,
Relator: Ministro RAUL ARAÚJO,13 Data de Julgamento:
25/06/2013, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
01/08/2013).
***
***
164
VERBA INDENIZATÓRIA. CRITÉRIOS. MAJORAÇÃO DO
VALOR. 1.Sociedade empresária, estipulante de plano de saúde
coletivo, encontra-se legítima para ocupar polo passivo de demanda, em
que se discute manutenção de consumidor em plano de saúde
individual, mesmo diante da rescisão de plano de saúde na modalidade
coletiva. A parte requerida figura como fornecedora de serviços,
submetendo-se, portanto, à disciplina do Código Consumerista. Pode,
dessarte, responder pelos efeitos da r. sentença. 2.Ainda que o plano de
saúde seja contratado por intermédio de terceiro, o beneficiário é o
destinatário final do serviço, constatando-se, pois, a legitimidade para
figurar no polo ativo de demanda, cujo objeto se concentra na
manutenção de consumidor em plano de saúde. 3.Segundo a Súmula
469 do Superior Tribunal de Justiça, aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor aos contratos de plano de saúde. 4.À luz do Código de
Defesa do Consumidor, bem como da Lei n.9656/98, a rescisão de
plano de saúde coletivo não pode acarretar o desamparo do
consumidor contratante. Segundo a Resolução n.19/99 do Conselho de
Saúde Suplementar, deve ser ofertado ao consumidor a opção de
migração para plano de saúde individual, dispensado o período de
carência. 5.Partindo do pressuposto de que o art. 5.º, V e X, da CF/1988
e o art. 6.º, VI e VII, do CDC contemplaram expressamente o direito à
indenização em questões que se verifique a violação de direitos da
personalidade, o consumidor que teve violado seus direitos da
personalidade deverá ser compensado, monetariamente, a fim de
reparar o dano. 6. A razoabilidade é critério que deve imperar na
fixação da quantia compensatória dos danos morais. Para além do
postulado da razoabilidade, a jurisprudência, tradicionalmente, elegeu
parâmetros (leiam-se regras) para a determinação do valor
indenizatório. Entre esses, encontram-se, por exemplo: (a) a forma
como ocorreu o ato ilícito: com dolo ou com culpa (leve, grave ou
gravíssima); (b) o tipo de bem jurídico lesado: honra, intimidade,
integridade etc.; (c) além do bem que lhe foi afetado a repercussão do
ato ofensivo no contexto pessoal e social; (d) a intensidade da alteração
anímica verificada na vítima; (e) o antecedente do agressor e a
reiteração da conduta; (f) a existência ou não de retratação por parte do
ofensor. 7.Preliminares rejeitadas. Apelo da parte autora parcialmente
provido.
***
165
vigente ao tempo em que foi publicada a decisão recorrida. 2. A Lei
13.105/15 - Novo Código de Processo Civil - se aplica às decisões
publicadas posteriormente à data de sua entrada em vigor, ocorrida em
18 de março de 2016. 3. Legítima a fiscalização exercida pelo Instituto
de Defesa do Consumidor do Distrito Federal - PROCON-DF (Lei
Distrital 2.668/2001) na repreensão às violações às normas de defesa do
consumidor (art. 5º, XXXII da Constituição Federal/88 c/c art. 56 e 106
da Lei 8.078/90). 2. Afere-se a legalidade da decisão exarada em
processo administrativo, que declara procedente o auto de infração
lavrado pela prática da vedada conduta de exclusão indevida de
consumidor de plano de saúde coletivo. 4. No exame de aplicação de
penalidade administrativa, a atuação do Poder Judiciário cinge-se à
aferição dos aspectos de legalidade, proporcionalidade e razoabilidade.
5. Nos termos dos artigos 14, 18 e 20 do CDC, o consumidor
prejudicado pode ajuizar aço de reparação de danos contra qualquer
um dos responsáveis pela má prestação do serviço, em razão da
responsabilidade objetiva e solidária prevista na norma consumerista.
6. Confirma-se o valor da multa imposta à administradora de plano de
saúde que exclui indevidamente consumidora de plano de saúde. 7.
Recurso conhecido e desprovido.
166
Fonte: ALVES, D. C. et al. O papel da Justiça nos planos e seguros de saúde no
Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2009.
167
IMPROCEDENTE. 1. Não se aplica o Código de Defesa do
Consumidor às entidades constituídas sob a modalidade de autogestão,
tendo em vista a ausência da finalidade lucrativa da operadora do
plano de saúde. 2. Dada a singularidade dos planos de saúde de
autogestão (planos fechados), não há desequilíbrio contratual ou
abusividade na norma/resolução que limita ou restringe a cobertura do
procedimento não coberto pela ANS. 3. Apelo conhecido e provido.
Sentença reformada.
5 CONCLUSÃO
168
como fundamento nas decisões dos magistrados, favorecendo a parte mais vulnerável da
relação, o consumidor. Porém, o CDC não se aplica aos contratos de planos de saúde de
autogestão, ou seja, aqueles que não têm finalidade lucrativa, tendo sua proteção limitada
por esse aspecto.
169
REFERÊNCIAS
ALVES, D. C. et al. O papel da Justiça nos planos e seguros de saúde no Brasil. Cad.
Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2009.
BAHIA, L.; VIANA. A. Breve histórico do mercado de planos de saúde no Brasil. In:
BRASIL. Ministério da Saúde. Regulação e saúde: estrutura, evolução e perspectivas da
assistência médica suplementar. Rio de Janeiro: ANS, 2002.
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça. Brasil tem mais de 240 mil processos na área de
Saúde. 2011. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/56636-brasil-tem-mais-
de-240-mil-processos-na-area-de-saude> Acesso em: nov 2016
CAVALCANTI, H. Brasil tem mais de 240 mil processos na área de Saúde. Agência CNJ
de Notícias, Brasília, 2011. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/56636-
brasil-tem-mais-de-240-mil-processos-na-area-de-saude> Acesso em: nov 2016.
170
IESS, Instituto de Estudos de Saúde Suplementar. Guia da Saúde Suplementar. 2ª ed, São
Paulo, 2013.
171
RIBEIRO, Patrícia Pereira de Assis Duarte. Vulnerabilidade da pessoa jurídica nos
contratos de adesão e aplicação do Código de Defesa do Consumidor. In: Revista do
CAAP, Belo Horizonte 177 n. 2 p. 177 a p. 195, 2011.
172
11. A ATUAÇÃO DO ESTADO E DE ENTES DE DIREITO PRIVADO COMO
FORNECEDORES NO DIREITO À SAÚDE À LUZ DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL E DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
1 INTRODUÇÃO
53
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
54
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
173
Nesse sentido, destaca-se que a prestação desse serviço vital para a
perpetuação da espécie é fornecida precipuamente pelo Estado e secundariamente pela
atividade privada, concebendo, dessa forma, uma relação consumerista, onde o cidadão é
considerado consumidor, possuindo todos os direitos que lhes são imanentes.
Nesse diapasão, o artigo evocará que a sociedade não está adstrita a aceitar
o mínimo existencial oferecido pelo Estado, muito menos por empresas privadas. De fato,
a desculpa orçamentária, aludida pelo primeiro, e o desrespeito legal, praticado pelo
segundo, para não cumprir com excelência suas obrigações não podem ser acatados.
Precisa-se lutar pelo máximo existencial, na qual, teremos uma saúde nos moldes do
artigo 196 da Constituição Federal, sendo promovida, protegida e garantida por todo
ordenamento jurídico, inclusive pelo Código de Defesa do Consumidor.
174
preocupação de proteger e salvaguardar, em todos os sentidos, o consumidor, tido com
vulnerável em uma relação consumerista.
Nesse ínterim, vale salientar que a Teoria do Diálogo das Fontes, idealizada
na Alemanha pelo jurista Erik Jayme, professor da Universidade de Helder Berg e trazida
ao Brasil por Cláudia Lima Marques da Universidade Federal do Rio Grande do Sul1, foi
incorporada e serviu de supedâneo para toda construção e aplicação do CDC com essa
nova visão de imbricação com diversas fontes do direito.
Ressalta ainda que seu escopo preambular é desligar-se das teorias clássicas
de solução das antinomias jurídicas, nas quais preponderam critérios como; hierarquia,
especialidade e cronologia55. Essa nova concepção jurídica, defendida, hodiernamente,
por muitos estudiosos do direito, acaba por delinear um panorama igualitário entre as
áreas jurídicas, trazendo à baila, mais uma vez, o tão famoso pluralismo.
55
PRADO, Sergio Malta. Da teoria do diálogo das fontes.
175
solução de conflitos que envolvem a proteção de outros direitos fundamentais, como é o
caso, por exemplo, da saúde.
56
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Art. 196. Promulgada em 5 de outubro de 1988.
176
de Saúde (Lei 8080/90), em suas atribuições e por meio da livre iniciativa do setor
privado.
177
23 de julho de 2002, do Ministério da Saúde, na relação de
medicamentos de aquisição obrigatória pela Administração. 6.
Segurança concedida, à unanimidade. "Alega-se violação do artigo 196,
da Constituição Federal. É inviável o RE. Não há violação do artigo
196, da Constituição Federal, quando o Tribunal a quo, com base nos
elementos fáticos provados nos autos, determina que o Poder Público
forneça medicamento caracterizado como indispensável para a
manutenção da saúde do agravado, (...). O Poder Público, qualquer que
seja a esfera institucional de sua atuação no plano da organização
federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da
saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável
omissão, em grave comportamento inconstitucional. (...). "Ademais, a
falta de prévia dotação orçamentária não serve como justificativa para
inviabilizar o direito do agravado à intervenção cirúrgica;" o direito à
saúde, como está assegurado na Carta, não deve sofrer embaraços
impostos por autoridades administrativas, no sentido de reduzi-lo ou de
dificultar o acesso a ele.
57
STF - AI: 537237 PE, Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Data de Julgamento: 12/04/2005,
Data de Publicação: DJ 26/04/2005<span id="jusCitacao"> PP-00033</span>.
178
Em suma, a decisão sobre o referido agravo de Instrumento foi unânime a
favor da cessão do medicamento à paciente enferma. Os votos, em resumo, elencaram
que o Estado de Pernambuco não pode alegar prévia dotação orçamentária ou se por de
maneira indiferente ao problema de saúde da população. Seu principal argumento,
portanto, foi o exposto no art. 196 e seguintes da Constituição Federal, que tratam da
garantia de efetividade do direito à saúde.
Está-se aqui, diante de uma situação de proteção a direito líquido e certo cujo
“remédio” é o Mandado de Segurança. Assim, entende-se que tal impetração foi
necessária, como tutela de urgência (de cunho Constitucional), contra o Estado de
Pernambuco, visto que por abuso e ato ilegal, cerceou o direito fundamental da
requerente.
58
BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Lei 8078 de 11 de setembro de 1990. Art. 3º caput.
179
excelente por este. Os grandes problemas estruturais e limitações financeiras representam
um grande obstáculo ao exercício deste direito fundamental.
Dessa forma, o Estado utilizou dos entes privados para afrouxar o uso de seus
recursos orçamentários e financeiros a fim de fazer efetivar o direito à saúde. Percebe-se,
então, que as pessoas de direito privado cuja atividade é de prestação de serviços à saúde
na forma de planos, não alcança a maioria da população brasileira, visto que sua admissão
é cara e, por vezes, não abarca a todas as necessidades, vinculadas a esta questão, dos
segurados.
59
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Arts. 197 e 199, §1º.
180
Tais seguros apresentam-se sob duas formas. A individual ou familiar é
acordada com a operadora pela pessoa física, para assistência pessoal (titular) ou de seu
grupo familiar. Já o contrato de plano coletivo ou empresarial, é o que é assinado entre a
operadora do plano e uma pessoa jurídica, para fornecer assistência a um grupo de pessoas
físicas, por relação empregatícia, estatutária, aposentados, estagiários, sócios, menores
aprendizes etc.
181
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA.
ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA/URGÊNCIA. INJUSTA
RECUSA À AUTORIZAÇÃO PARA INTERNAÇÃO OBSTÉTRICA
EM RAZÃO DE PRAZO DE CARÊNCIA. DANO MORAL
CONFIGURADO. VALOR REDUZIDO. RECURSO CONHECIDO
E PARCIALMENTE PROVIDO. 1.Incidem as regras insertas no
Código de Defesa do Consumidor, na medida em que se trata de relação
de consumo o conflito trazido aos autos, como quer a dicção dos Arts.
2º e 3º do CDC. 2.O Código de Defesa do Consumidor aplica-se às
relações entre o segurado e a operadora/plano de saúde, motivo pelo
qual patente a responsabilidade solidária e objetiva da recorrente para
responder por eventual falha na prestação dos serviços, na forma dos
artigos 7º, parágrafo único, e 14, ambos do CDC. Rejeitada a preliminar
de ilegitimidade passiva arguida pela Amil. 3.O objeto da prestação dos
serviços de seguro de saúde está diretamente ligado aos direitos
fundamentais à saúde e à vida, os quais demandam tratamento
preferencial e interpretação favorável ao consumidor. 4.Ainda que se
esteja sob o prazo de carência contratual, em se tratando de situação de
urgência/emergência, deverá o plano de saúde providenciar o pronto
atendimento do segurado, sob pena de frustrar a própria finalidade do
serviço contratado (Art. 35-C, I, da Lei n. 9.656/98) 5.Os elementos dos
autos demonstram que autora era beneficiária do plano de saúde
demandado e necessitou ser submetida ao procedimento de parto
cesárea em caráter de urgência/emergência, diante das intercorrências
clínicas apresentadas (sangramento vaginal, arritmia fetal e
descolamento de placenta - laudo médico - f. 18/19), as quais geraram
risco de morte a parturiente e ao nascituro. Nota-se que embora haja
cláusula contratual em relação à carência nos procedimentos de parto
(f.30), a situação vivenciada pela autora era de urgência/emergência, e
com a negativa de cobertura da seguradora com fundamento nos prazos
de carência, a autora procedeu ao pagamento das despesas médico-
hospitalares. Desta forma, configurada a urgência/emergência para o
procedimento de parto cesárea não subsiste previsões contratuais
limitativas de carência. (...)7.O dano moral está ínsito na ilicitude do
ato praticado, in casu, a exposição da saúde do consumidor a risco, ante
a negativa de cobertura em razão de carência, capaz de gerar transtorno,
desgaste, constrangimento, sensação de repugnância e abalo emocional,
os quais extrapolam o mero aborrecimento cotidiano. Portanto, na
hipótese vertente, desnecessária se faz a prova de efetivo prejuízo para
configuração do dano extrapatrimonial. (...) 11.Sem custas nem
honorários (Lei n. 9.099/95, Art. 55). CONHECIDO. PRELIMINAR
REJEITADA. PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME”.
182
utilizar aquele serviço. Esse é um argumento muito utilizado pelas seguradoras, a fim de
não realizarem as atividades para que foram contratadas, em uma nítida busca
desenfreada de auferir lucros, mitigando o direito à saúde.
183
atendida para que fossem realizados os procedimentos cabíveis a fim de proteger sua
saúde. Ocorre que, a operadora do plano de saúde negou como dito, com uma justificativa
infundada, prejudicando de várias formas a saúde física e mental da segurada.
Neste sentido, já se manifestou a Desembargadora Marilsen Andrade
Addario, no julgamento do Recurso de Apelação Cível 58111/20109:
5 CONCLUSÃO
60
JUSBRASIL. Relatório TJ-MT - Embargos de Declaração: ED 00930098720108110000 93009/2010.
184
normas regulamentadoras para que o serviço seja de qualidade. No entanto,
hodiernamente, a precarização da saúde pública tem aumentado consideravelmente a
procura por essa atividade privada, o que tem facilitado, inclusive, a inserção de cláusulas
abusivas ao consumidor e de um fornecimento insatisfatório.
Por esse motivo, muitos casos são judicializados para que os direitos do
cidadão não sejam violados e se isso já aconteceu que sejam reparados. Faz-se mister
apontar, então, que o Poder Judiciário deve funcionar como um fórum do princípio de
atuação independente, e no caso das ações envolvendo saúde, deve objetivar garantir a
proteção de direitos fundamentais.
185
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 9656 de 03 de junho de 1998. Art. 12, inciso V. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9656.htm>. Acesso em: 24 out. 2016.
COLUNISTA, Portal Educação. Conceito de Plano de Saúde. Disponível em:
<https://www.portaleducacao.com.br/direito/artigos/17152/conceito-de-plano-de-saude>.
Acesso em: 18 out. 2016.
IDEC. Planos de saúde concentraram um terço das demandas no Ranking do Idec em 2015.
Disponível em: < http://www.idec.org.br/em-acao/em-foco/planos-de- saude-
concentraram- um-terco-das-demandas- ao-idec- em-2015>>. Acesso em: 23 out. 2016.
186
mt.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/328591414/embargos-de-declaracao-ed-
930098720108110000-93009-2010/relatorio-328591442>. Acesso em: 19 out. 2016.
MIGALHAS. Em matéria especial, STJ reúne litígios que envolvem planos de saúde.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/30596/o-estado-fornecedor-e-a-submissao-
dos-servicos-publicos-ao-cdc>. Acesso em: 23 out. 2016.
PRADO, Sergio Malta. Da teoria do diálogo das fontes. Disponível em: <
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI171735,101048-
Da+teoria+do+dialogo+das+fontes>. Acesso em: 17 jul. 2016.
187
12. ALCOOLISMO: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA SOB A
PERSPECTIVA CONSUMERISTA
1 INTRODUÇÃO
61
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
62
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
188
analisar a relação existente entre o Direito do Consumidor e o Direito à Saúde, procurando
evidenciar, que apesar de parecerem temas distantes, uma vez que, soa um tanto quanto
contrassenso colocar a saúde no rol de produto/serviço, esses direitos apresentam uma
tênue ligação.
189
Vislumbramos dessa forma, que através do CDC é atribuída ao Estado a função
de promover a defesa do consumidor. Função esta, que exige uma postura Estatal ativa na
tutela desse direito. Em outras palavras, passa o Estado a ter o dever de intervir com algum
dos seus possíveis instrumentos de participação no domínio econômico no âmbito das
relações de consumo.
190
De tal modo, fica evidente que a saúde depende de uma ação estatal
contundente, a qual não deve só atuar por meio de provocação, mas também
voluntariamente, de modo universal e igualitário, comprometendo-se em, constantemente,
tomar as medidas necessárias a garantir a boa prestação da saúde.
Assim, como bem afirma, STIBORSKI (2016) que a saúde pode ser
conceituada como:
Um processo sistêmico que objetiva a prevenção e cura de doenças, ao mesmo
tempo que visa a melhor qualidade de vida possível, tendo como instrumento de aferição a
realidade de cada indivíduo e pressuposto de efetivação a possibilidade de esse mesmo
indivíduo ter acesso aos meios indispensáveis ao seu particular estado de bem-estar.
191
Sobre o interior teor do Recurso em análise cabe também destacar outros
pontos de importante relevância para a temática aqui tratada:
192
Compreendendo esse direito social garantido a quaisquer cidadãos pela
Constituição é que o STJ teve como dever julgar o agravo regimental supracitado. E os
ministros, por sua vez a obrigação de fundamentar suas decisões, inferindo um diálogo com
a sociedade.
Contudo tal segurança não é absoluta, uma vez que riscos considerados
“normais e previsíveis” devem ser tolerados pelos consumidores desde que contenham
explícita e claramente essa informação.
193
Nesse sentido os riscos a que se refere o mencionado artigo do CDC são
aqueles que normalmente são esperados pelo consumidor, ou seja, são inerentes a
determinado produto do qual não se pode separá-los. A exemplo, os produtos de uso
cotidiano como facas, tesouras, álcool, fósforo e, mesmo algumas prestações de serviço
como o de hotelaria desde que sejam oferecidas informações a respeito. A parte final do
caput do art. 12 do CDC deixa claro o dever de informar do fornecedor responsabilizando-
o em caso de acidente de consumo.
194
§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua
introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da
periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente
às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios
publicitários.
63
Fonte: <www.fmrp.usp.br/paipad>.
195
faringe, insuficiência cardíaca, anemia, câncer de mama, úlcera gástrica, gastrite,
hemorragia digestiva, deficiência de vitaminas, diarreia, má nutrição, disfunção erétil, risco
de má formação do feto em gestantes e nascimento de filhos com retardo mental.64
5 CONCLUSÃO
64
Idem.
65
Fonte: <http://www.minhavida.com.br/saude/materias/12025-ingerir-alcool-com-moderacao-faz-bem-a-
saude>.
196
Considerando que o teor do Recurso Especial nº 772.723 de 2005 que, tratou
de discutir sobre a responsabilidade objetiva da Associação Brasileira de Bebidas – Abrabe
em inserir, na publicidade de bebidas alcoólicas, advertência clara e ostensiva, de modo
escrito ou sonoro, do indicativo de que o consumo de bebidas alcoólicas pode acarretar
riscos e potenciais danos à saúde. Em Ação Civil Pública que a Associação de Defesa e
Orientação do Cidadão - Adoc e Sociedade Humanitária Tucuxi ajuizaram contra a União,
o Ministério da Saúde, o Departamento de Proteção ao Consumidor. Haja vista que a União
e respectivos órgãos são responsáveis pela fiscalização da publicidade e qualidade de
produtos ofertados por empresas do segmento em questão.
Assim, toda a sociedade perde, pois grande número das mortes violentas e
dos acidentes que causam danos graves à saúde são provocados por indivíduos
alcoolizados. Além disso, o alcoolismo é responsável, também, por enormes gastos
públicos e privados.
197
REFERÊNCIAS
198
VIEIRA Fernando Borges. O Direito do Consumidor no Brasil e sua breve história.
Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI163956,21048-
O+Direito+do+Consumidor+no+Brasil+e+sua+breve+historia>. Acesso em: 28 out.,
2016.
199
13. A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE – UMA DICOTOMIA ENTRE O MAIOR
CONHECIMENTO DE SEUS DIREITOS E O DESSERVIÇO DAS
PRESTADORAS
1 INTRODUÇÃO
66
Bacharelando em Direito da Universidade Estadual de Feira de Santana.
67
Bacharelando em Direito da Universidade Estadual de Feira de Santana.
200
intrínseca neste basilar princípio. Nessa conjuntura evidencia-se a figura da judicialização
da saúde, objeto de estudo desse trabalho.
201
Os medicamentos e tratamentos utilizados no Brasil dependem de prévia
aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), na forma do art. 12
da Lei n. 6.360/1976, bem como conforme a Lei n. 9.782/1999, as quais objetivam garantir
a saúde dos usuários contra práticas com resultados ainda não comprovados ou mesmo
contra aquelas que possam ser prejudiciais aos pacientes;
Procurar instruir as ações, tanto quanto possível, com relatórios médicos, com
descrição da doença, inclusive CID, contendo prescrição de medicamentos, com
denominação genérica ou princípio ativo, produtos, órteses, próteses e insumos em geral,
com posologia exata;
202
Promover visitas dos magistrados aos Conselhos Municipais e Estaduais de
Saúde, bem como às unidades de saúde pública ou conveniadas ao SUS, dispensários de
medicamentos e a hospitais habilitados em Oncologia como Unidade de Assistência de
Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) ou Centro de Assistência de Alta
Complexidade em Oncologia (CACON).
203
pelas operadoras de saúde. Aos acadêmicos e profissionais do Direito, tem-se o escopo de
ampliar a discussão sobre a judicialização da saúde, sobretudo acerca do questionamento
crítico sobre a qualidade desta prestação.
2 CONTEXTUALIZAÇÃO
Caso 1:
204
Ressalva no sentido de que, nos contratos de plano de saúde sem
contratação específica, o serviço de internação domiciliar (home care)
pode ser utilizado em substituição à internação hospitalar, desde que
observados certos requisitos como a indicação do médico assistente, a
concordância do paciente e a não afetação do equilíbrio contratual nas
hipóteses em que o custo do atendimento domiciliar por dia supera o
custo diário em hospital.
Caso 2:
Caso 3:
68
Disponível em: < http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/198592102/recurso-especial-resp-1378707-rj-
2013-0099511-2>. Acesso em: 26 out. 2016.
69
Disponível em: < http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25339166/agreg-no-recurso-extraordinario-re-
825596-sp-stf>. Acesso em: 26 out. 2016.
205
ANTERIORMENTE À SUA VIGÊNCIA. ANULAÇÃO DE
CLÁUSULAS CONTRATUAIS. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. FUNDAMENTO AUTÔNOMO E
SUFICIENTE PARA MANUTENÇÃO DO JULGADO.
SÚMULA 283/STF. O acórdão recorrido manteve decisão que
anulou cláusula contratual também com base no Código de Defesa
do Consumidor, fundamento autônomo e suficiente para
manutenção do julgado, que não foi objeto de impugnação. Nessas
condições, aplica-se a Súmula 283/STF. Agravo regimental a que
se nega provimento.70
Caso 4:
70
Disponível em: < http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24794916/agreg-no-agravo-de-instrumento-ai-
563180-mg-stf>. Acesso em: 26 out. 2016.
71
Disponível em: < http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/200609204/agravo-regimental-no-agravo-em-
recurso-especial-agrg-no-aresp-634273-sp-2014-0322611-5>. Acesso em: 26 out. 2016.
206
Caso 5:
3 ASPECTOS JURÍDICOS
72
Disponível em: < http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/188268776/agravo-regimental-no-agravo-em-
recurso-especial-agrg-no-aresp-646359-sp-2014-0337679-8>. Acesso em: 26 out. 2016.
207
Partindo do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc.
III, da CF/88) e o respeito ao direito fundamental que é a vida, preocupou-se o constituinte
em conceber a devida tutela aos supracitados. Dentro deste contexto principiológico,
preocupou-se o legislador na propositura do Código de Defesa do Consumidor em cercar
o mesmo com garantias que viessem a considerar a sua vulnerabilidade. Dentro dos direitos
básicos do consumidor tem-se o direito à vida, saúde e segurança. Dentro deste tópico,
procurou-se inibir práticas comerciais que pudessem expor risco à vida, saúde e a segurança
dos consumidores. Orienta-se com o fundamento do cuidado os fornecedores quanto a
colocar ou praticar bens ou serviços que possam ser danosos à sociedade. Em outras
palavras, o CDC impõe a todos os fornecedores um dever de qualidade dos produtos ou
serviços.
208
Dentro dos casos elencados no tópico dois, podemos fazer a correlação direta
com os princípios norteadores supracitados. É clara a forma indevida com que os planos
de saúde agem com os seus clientes. A saúde como um direito constitucional,
correlacionaria com o direito à vida precisando de ser protegido de forma eficaz.
Hodiernamente, novas doenças surgem o tempo inteiro e como as ciências médicas, que
também não são rígidas, a sua aplicação terapêutica muda o tempo inteiro. Isso nos remete
à expressa necessidade de adequação dos serviços ofertados pelos planos de saúde com a
flexibilização das cláusulas contratuais que porventura não estejam servindo ao seu
propósito de proteção à vida e à saúde ou que, por algum motivo, estejam onerosamente
excessivas ao consumidor.
A partir da constatação cada vez maior do desrespeito das operadoras para com
os consumidores, o princípio do acesso à justiça fica cada vez mais nítido e necessário.
Percebemos que a demanda por tutelas de saúde está cada vez maior, o que mostra um
aumento do conhecimento da população acerca dos seus direitos. Felizmente, notamos
também uma preocupação do ordenamento jurídico, seja através dos legisladores, ou
mesmo dos magistrados, com a preocupação em elevar os conhecimentos técnicos acerca
do assunto para uma melhor composição da solução das lides. Nota-se isso, também, com
a preocupação do CNJ em editar resoluções na busca pela interdisciplinaridade e na edição
de normas de orientação aos magistrados para que seja possível atender de forma eficiente
esta demanda.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
209
Analisando os exemplos trazidos à baila no tópico dois deste artigo, nota-se
que a judicialização da saúde é um tema recorrente na sociedade brasileira. Outrossim, são
diversos os tipos de demandas que podem avultar de uma relação consumerista na área da
saúde: a não disponibilização do home care como forma de tratamento; a suspensão do
atendimento pelo plano de saúde diante de uma aposentadoria por invalidez; a anulação de
cláusulas contratuais excessivamente onerosas; reembolso integral das despesas
decorrentes de procedimento cirúrgico, realizado por médico e hospital não credenciados
pelo plano de saúde; limitação da recomendação médica, dentre várias outras que se pode
explicitar.
Esse breve trabalho teve como escopo ser objetivo e claro ao trazer informações
sobre a judicialização da saúde, no Brasil, fazendo alusão às perspectivas que podem ser
elencadas diante da problemática de um maior acesso ao judiciário, concomitantemente
substanciado por práticas abusivas e/ou desrespeitosas por parte das operadoras de planos
de saúde, as quais refletem claras afrontas aos princípios norteadores do ordenamento
jurídico pátrio, sobretudo ao fundamental princípio da dignidade da pessoa humana.
210
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Antônio H. et al. Manual de Direito do consumidor. 6. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014.
211
14. APLICABILIDADE DO DIREITO DO CONSUMIDOR NO DIREITO À SAÚDE
1 INTRODUÇÃO
É inegável que à vida é o bem mais valioso e importante de todo e qualquer ser
humano. E para que todo e qualquer ser humano possa usufruir de uma melhor qualidade
de vida, é sem dúvida indispensável que este tenha acesso irrestrito à saúde.
Deste modo, a saúde foi reconhecida como um direito social fundamental pela
Constituição da República Federativa do Brasil, que inclui como um dos princípios
basilares a dignidade da pessoa humana, e por ser um Estado Democrático de Direito, visa
superar desigualdades sociais com o fim de realizar justiça social.
73
Bacharelando em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
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Com a implementação do Sistema Único de Saúde, a efetivação do direito à saúde
no Brasil, apresentou significativos progressos, garantindo a todos, o direito a um
tratamento de saúde integral e totalmente gratuito, cumprindo de certa forma a ordem
insculpida na Constituição.
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direito à saúde no Brasil, encontra-se no artigo 6º da Constituição Federal de 1988, cujo
rol, elenca os chamados direitos sociais, da seguinte forma: “São direitos sociais a
educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.”
214
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um sistema que pertence à rede pública de
saúde e tem como finalidade prestar o acesso à saúde de forma gratuita a todos os cidadãos
nacionais ou estrangeiros residentes no país, independente de crença, cor, classe social, já
que, todos têm o mesmo direito. Esse sistema tem como atribuição garantir ao cidadão o
acesso às ações e serviços públicos de saúde, conforme o art. 200 da Carta Magna e leis
específicas.
Como discutido acima, restou demostrado que o direito à saúde é dever do Estado,
assim como a garantia do direito à vida de seus cidadãos, conforme estabelece os artigos
6º, 196 e seguintes da Constituição Federal de 1988. Entretanto, prevendo que apenas o
Sistema Único de Saúde não seria suficiente para prestar assistência à saúde a todos, de
forma eficiente, de acordo com as necessidades de cada um, é que a Constituição da
República expressamente dispôs (art. 197) que a iniciativa privada seria possível e livre,
tendo responsabilidade subsidiária à do Estado.
215
Assim, aparado por tal dispositivo, foram criadas inúmeras Operadoras de Planos
de Saúde, as quais passaram a comercializar planos de saúde mediante contratos de adesão,
de modo a prestar assistência à saúde para seus beneficiários, dentro do limite contratual.
Entretanto, algumas cláusulas eram consideradas abusivas, principalmente por falta de uma
lei que regulamentasse tais serviços.
216
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Ademais, para extinguir qualquer dúvida que ainda possa restar, após inúmeros
recursos no Superior Tribunal de Justiça, este órgão editou em 24/11/2010 a súmula 469,
litteris: “Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde”.
De igual forma trazemos à baila, a lei que regulamenta os planos de saúde, Lei
9.656/1998, que também trata dos direitos e deveres das empresas que oferecem os serviços
de assistência à saúde privada:
217
previstas nos incisos I a IV deste artigo, respeitadas as respectivas
amplitudes de cobertura definidas no plano-referência de que trata o art.
10, segundo as seguintes exigências mínimas:
(...)
(...)
218
6 ANÁLISE DO JULGADO 59733-8/2008 - TJ BA
A presente Apelação Civil foi interposta contra decisão de primeiro grau em que
reconheceu ser possível a concessão de tutela antecipada contra a Fazenda Pública,
sobretudo quando a lide envolver o direito fundamental à saúde e à vida do paciente. O
presente acórdão reconhece a aplicação do Código de Defesa do Consumidor às pessoas
jurídicas de direito público que prestam serviços remunerados. Considerando ser abusiva a
cláusula contratual que exclui da cobertura procedimentos médico-cirúrgicos, violando,
assim, a boa-fé objetiva que está ínsita nos contratos de relação de consumo.
6.1 Acórdão
219
A Apelada aduz que a sentença vergastada não ampliou o rol de cobertura do plano
em questão, até porque inexiste restrição contratual; quanto ao tipo de cirurgia pleiteada
pela Recorrida, apenas, não pode o Apelado, por questões financeiras, colocar em risco a
vida desta, rogando, por fim pela manutenção da sentença de primeira instância.
É o relatório.
6.2 Voto
220
Assim, as alegações da a quo permanecem irretocáveis neste ponto. Irresigna-se,
ainda, quanto a ausência de justificativa clínica para a realização da cirurgia bariátrica pelo
método de videolaparoscopia. Em verdade, a despeito da urgência que a situação impõe
não ha sequer como discutir se o procedimento vindicado pode ser realizado por outro
método de cirurgia, uma vez que todos os documentos constantes dos autos indicam que o
Hospital e seus profissionais estão credenciados pelo PLANSERV para realizar a cirurgia
em questão, pelo que fica prejudicada mais esta alegação.
Diante disto, com base na prova documental carreada pela parte autora, fica
demonstrada a verossimilhança de suas alegações. Por conseguinte, quanto ao perigo da
demora, salta aos olhos a circunstâncias do estado clínico da paciente, que envolve
delicados cuidados e um latente risco de dano irreversível, não apenas pelo perigo de vida
que seu quadro clínico lhe impõe, mas sobretudo pelo dano irreparável à Apelada.
7 CONCLUSÃO
Após fazer uma análise sobre o presente trabalho onde foi abordada a Saúde
Pública assegurada pela Constituição brasileira, constata-se que o Estado tem o dever de
assegurar o direito à saúde para todos. No momento em que os cidadãos tiverem acesso
adequado e disponibilidade de todos os serviços, a população apresentará uma melhor
qualidade de vida e com isso obter um maior desenvolvimento social. O Brasil foi pioneiro
em assegurar o direito à saúde ao seu povo.
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a participação do povo na sua consolidação. A saúde pública deve ser exercida na
conformidade dos parâmetros de atenção em todos os níveis, desde a atenção básica até os
serviços mais complexos como internações e cirurgias.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 25. ed. São Paulo: Saraiva,
2000.
BRASIL. Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para
a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências.
223
BRASIL. Lei Federal nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação
da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências.
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