Você está na página 1de 35

AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS

AMBIENTAIS NA PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE


GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO PLANO APELL EM SÃO
SEBASTIÃO - SP1

Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha


Mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos

Sandra Farto Botelho Trufem


Doutora em Biologia pela USP e professora da Universidade São Marcos

1
Parte da Dissertação de Mestrado da primeira Autora

Pesquisa em Debate, edição especial, 2009


ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

Resumo
Este trabalho apresenta e discute os fenômenos e teorias da comunicação e o preparo
para emergências e situações de risco, utilizando como objeto de estudo a situação e os
moradores da cidade de São Sebastião, SP, onde existe um terminal marítimo da
Petrobrás, que, virtual e concretamente, poderia gerar situações de real emergência, daí
a necessidade da prontidão da população. Analisa-se a implementação do plano APELL
(Awareness and Preparedness for Emergencies at Local Level) na cidade, no ano de
2000 e criticamente comenta-se o fato de que, depois de todo o esforço no sentido de
preparar a população para um estado de prontidão em caso de situação de risco, a
proposta hoje encontra-se esvaziada e limitada a treinamento de simulação em um único
dia do ano, existindo moradores que nem sequer conhecem o plano APELL.

Palavras-chave: comunicação de riscos, APELL, Petrobrás, acidentes industriais


ampliados

Abstract
This paper presents and discusses the phenomena and theories of communication and
emergency preparedness and risk, using as an object of study the situation and the
residents of São Sebastião, SP, where there is a maritime terminal of Petrobras, which,
virtual and concrete, could lead to cases of real emergency, hence the need for
preparedness of the population. We analyze the implementation of the plan APELL
(Awareness and Preparedness for Emergencies at Local Level) in the city in 2000 and
critically comment upon the fact that, after all the effort to prepare the population for a
state readiness in case of risk, the proposal now is empty and the limited training
simulation in a single day of the year. There are residents who do not even know about
the plan APELL.

Keywords: risk communication, APELL, Petrobras, industrial accidents

2
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

Introdução

Planos de ação de emergência são uma parte de políticas de gerenciamento dos


riscos. Tais políticas combinam iniciativas de redução das probabilidades de ocorrência
de acidentes, com essas outras focadas na redução de conseqüências. Sendo o risco
mensurado por meio da multiplicação das probabilidades de um evento por suas
conseqüências, a redução do índice de risco deve ser buscada por meio da diminuição
de ambos os fatores.
Tratam-se de iniciativas complexas, pois remetem à necessidade de estabelecer
cooperação e coordenação, fugindo assim a uma tradição de comando único, típica das
burocracias. Um fator que agrega desafios especiais é a demanda por organizar as
reações do público em geral. Esta demanda surge quando as hipóteses de acidentes num
determinado cenário incluem a efetiva possibilidade de serem geradas conseqüências
para o público das áreas envoltórias às instalações onde são manipuladas substâncias
perigosas.
Nesses casos, a existência de uma resposta organizada a um acidente de grande
porte inclui necessariamente a preparação do público. Esta preparação tem como uma
de suas dimensões centrais o combate ao fenômeno do pânico, pois quando os grupos
humanos são tomados pelo medo e se gera o pânico, há um grande risco de surgirem
vítimas desse desdobramento do acidente original. Freqüentemente, acidentes ou outros
tipos de ocorrências, por vezes originadas mesmo em boatos, provocam grande número
de vítimas relacionadas à fuga em massa ou outros tipos de reação coletiva
descontrolada.
O Canal de São Sebastião é considerado um dos melhores portos naturais do
mundo. Suas águas profundas e abrigadas, com capacidade de receber navios de grande
porte, atraíram a possibilidade de armazenamento de petróleo e derivados. Em função
dessas características, o local foi eleito para abrigar um terminal da Petrobrás, com
entrada e saída de petróleo e derivados. Com poucas décadas de existência, no entanto,
o terminal marítimo passou a ter grande histórico de acidentes ambientais, incluindo
episódios que causaram imenso temor na população local. Os problemas ambientais,
sociais e econômicos que esses acidentes geraram, mostraram a necessidade de se criar
programas de gerenciamento de riscos, para reduzir o número de acidentes e minimizar

3
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

os impactos quando eles acontecessem.


O APELL (Awareness and Preparedness for Emergencies at Local Level)
consiste justamente numa metodologia que tem no centro de sua definição a meta de
incluir o público afetado entre os contingentes adequadamente preparados para enfrentar
ocorrências potencialmente catastróficas, em função de desdobramentos de acidentes
ambientais. Seu surgimento foi conseqüência da percepção da falência dos planos de
emergência que só envolviam instituições públicas e organizações privadas, pois em
eventos de grande porte, como o de Bhopal, na Índia, tais esquemas de resposta
entraram em colapso, diante do caos que se instalou pela reação desordenada do público
impactado.
Assim, constituem objetivos deste trabalho a análise critica das estratégias das
comunicações de riscos para o público, adotadas na experiência do Plano APELL,
gerando subsídios para o aperfeiçoamento da preparação de respostas a acidentes
ambientais com base nos conceitos da comunicação de riscos.
Os procedimentos metodológicos adotados incluíram a revisão dos principais
conceitos de comunicação de riscos, recuperação do histórico do Plano APELL e
realização de discussão das estratégias de comunicação de riscos adotadas no Plano
APELL de São Sebastião, utilizando as orientações da teoria da comunicação de riscos.
Executou-se também extensa revisão bibliográfica em manuais e documentos do Brasil
e do exterior sobre o tema percepção e comunicação de risco.
Foram realizadas oito entrevistas gravadas, entre os meses de abril e julho de
2007, com autoridades e profissionais envolvidos na elaboração e implantação do Plano
APELL em São Sebastião. As entrevistas foram feitas com roteiro previamente
definido, visando informações sobre as etapas de elaboração do processo, a experiência
pessoal na participação, a participação das outras instituições e da comunidade, a
importância da mídia ao longo de todo o trabalho e na realização do simulado geral,
finalizando com uma avaliação comparativa sobre a experiência em 2000 e o momento
atual. Os entrevistados foram o engenheiro da Gerência de Segurança, Saúde e Meio
Ambiente da Transpetro/ DTCS em São Sebastião; o advogado e Secretário Municipal
do Meio Ambiente e presidente da Comissão Municipal de Defesa Civil de São
Sebastião (COMDEC/SS); jornalista responsável pelo Departamento de Comunicação
da Prefeitura Municipal de São Sebastião; um jornalista da Rádio Morada do Sol e do

4
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

Departamento de Comunicação da Petrobrás, em São Sebastião; uma ambientalista


representante do Movimento de Preservação de São Sebastião (MOPRESS). Foram
entrevistados também o diretor do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São
Paulo (CEBIMAR / USP) e uma moradora da cidade, que presenciou o acidente
ocorrido em junho de 1984 e que atualmente é diretora de duas escolas situadas em
áreas de risco. Finalizou-se as entrevistas com o depoimento de um consultor para a
implementação da lei ambiental municipal de 1992 e que integrou o grupo coordenador
do APELL São Sebastião como representante da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo.

Acidentes ambientais no mundo e gerenciamento de riscos

Durante muito tempo, o avanço da ciência desconsiderou a possibilidade de aliar


desenvolvimento tecnológico com preservação ambiental. A busca incessante por lucro
levou ao crescimento do número e do tamanho das plantas industriais sem a
preocupação com os riscos que isso poderia acarretar.2, 3
Com capacidade de contínua inovação, a indústria química, nos países
desenvolvidos, sempre se mostrou apta a financiar sua expansão, independentemente de
recursos governamentais. Essa autonomia a fez crescer mais rápido do que outros
setores e sem qualquer preocupação com supervisões do poder público ou da
sociedade.4
Seu grande desenvolvimento foi a partir da Segunda Grande Guerra, gerando
demanda cada vez maior por novos produtos. Só nos Estados Unidos, por exemplo, “a
produção desses produtos aumentou 15 vezes entre 1945 e 1985, passando de 6,7
milhões de toneladas para 102 milhões de toneladas.”5 Toda a vida contemporânea é
pautada pelo uso de produtos químicos. É praticamente impossível imaginar nosso
cotidiano sem medicamentos, insumos agrícolas, tecidos sintéticos, produtos de
2
Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza ; Machado, Jorge Mesquita Huet. A questão
dos acidentes industriais ampliados. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;
Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2000. p. 25-45.
3
Demajorovic, Jacques. Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental – Perspectivas para a
educação corporativa. São Paulo: Editora Senac, 2003.
4
Idem.
5
Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de
indústrias e atividades perigosas, p. 253. In: Ibidem, p. 253-266.

5
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

limpeza, por exemplo.6


Uma instalação industrial perigosa é aquela onde há possibilidade de acontecer
acidentes envolvendo uma ou mais substâncias químicas perigosas, que resulta de um
desenvolvimento incontrolável, e pode causar sérios danos ao ser humano e ao meio
ambiente, dentro ou fora da instalação, imediatamente ou a longo prazo7.
Também conhecido como risco tecnológico, o acidente industrial está
diretamente ligado à produção. É o risco a que estão expostos os trabalhadores e os
moradores da região onde está instalada uma planta industrial. O termo risco de origem
tecnológica, passou a ser empregado com mais freqüência nas décadas de 1970 e 1980
em razão do aumento do número e da gravidade das situações de risco.8
Entende-se por acidentes ambientais tecnológicos aqueles que têm origem em
alguma ação danosa resultante de uma atividade normal do Homem. Nessa categoria
está incluso tanto a poluição do ar pela atividade industrial, quanto os acidentes
nucleares e químicos.9
Acidentes industriais de grande porte são chamados de acidentes maiores ou
acidentes industriais ampliados. Por ter um escopo mais diversificado nas suas
considerações, nesse trabalho será adotado o termo acidente industrial ampliado.
A definição de acidente maior considera os impactos na propriedade, na saúde,
no meio ambiente e nas finanças, e conceitua como menores os acidentes que causam
impactos em variáveis distintas dessas citadas, como, por exemplo, acidente de
trabalho.10
Já o conceito de acidente industrial ampliado é mais abrangente que acidente
maior por incorporar os impactos psicológicos e sociais, e a avaliação de suas
conseqüências no espaço e no tempo.11

6
Idem.
7
Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). Guiding Principles for Chemical
Accident Prevention, Preparedness and Response. 2nd ed. OECD Environment, Health and Safety
Publications. Series on Chemical Accidents, n. 10, 2003
8
Sevá, Oswaldo. Urgente: combate ao risco tecnológico. Cadernos Fundap, n. 16, p. 74-83, 1989.
9
Naciones Unidas. Prevención y mitigación de desastres – compendio de los conocimentos actuales.
Nueva York: Naciones Unidas, 1986.
10
Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado, Jorge Mesquita Huet. A questão
dos acidentes industriais ampliados. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;
Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2000. p. 25-45.
11
Idem.

6
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

... serão considerados acidentes industriais ampliados eventos agudos, como


explosões, incêndios e emissões nas atividades de produção, isolados ou
combinados, envolvendo uma ou mais substâncias perigosas com potencial
para causar simultaneamente múltiplos danos, sociais, ambientais e à saúde
física e mental dos seres humanos expostos. Assim, o que passa a caracterizar
esse tipo de acidente não é apenas a sua capacidade de causar grande número
de óbitos – embora com freqüência ele seja conhecido exatamente por isso -,
mas também seu potencial de permitir que a gravidade e a extensão dos
efeitos ultrapassem seus limites „espaciais‟ – de bairros, cidades e países – e
„temporais‟ – como teratogênese, carcinogênese, mutagênese, danos a
órgãos-alvo específicos nos seres humanos e às vegetações e aos seres vivos
no meio ambiente futuro -, além dos impactos psicológicos e sociais sobre as
populações expostas.12

Alguns do acidentes ambientais mais marcantes entre as décadas de 1970 e 1990


envolveram explosão, incêndio em dutos de combustível e vazamento de gás.
A remoção de um reator e sua substituição por uma tubulação fabricada sem
critérios técnicos apropriados foi a causa do acidente que ocorreu em uma indústria de
caprolactama – petroquímico básico, usado na polimerização de fio têxtil de nylon, em
Flixborough, Inglaterra, em junho de 1974 6. A alta pressão e temperatura em que
operava causaram uma ruptura na tubulação, resultando em um grande vazamento de
ciclohexano (estima-se entre 30 e 50 toneladas) que formou uma nuvem de vapor e
explodiu. As conseqüências dessa tragédia foram 28 mortes, 89 pessoas feridas e
prejuízos de US$ 232 milhões.13 14 15
Em Seveso, Itália, em julho de 1976, aconteceu outro acidente em uma unidade
da Industrie Chimiche Meda Società Azionaria, indústria química pertencente à empresa
suíça Hoffman la Roche, localizada em Meda, no norte da Itália. A explosão de um
reator gerou uma nuvem tóxica de dioxina, considerada por muitos como uma das

12
Idem, p. 28.
13
PASCON, P.E., Flixborough – 25 anos. Disponível em: <http://www.processos.eng.br>. Acesso em:
28 agosto 2008.
14
Petroquímica Brasileira de Classe Mundial (BRASKEM). Disponível em:
<http://www2.braskem.com.br>. Acesso em: 28 agosto 2008.
15
Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de
indústrias e atividades perigosas. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;
Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2000. p. 253-266.

7
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

substâncias químicas mais perigosas produzidas pelo Homem. É um dos componentes


do agente laranja, desfolhante usado pelos Estados Unidos da América durante a Guerra
do Vietnã. A nuvem causada pelo vazamento, com largura de um quilometro, espalhou-
se por uma área densamente povoada e atingiu, em maior escala, os municípios de
Seveso, Meda, Desio e Cesano Maderno, e em menor escala os municípios de
Barlassina e Bovisio Masciago. Durante nove dias, a população e o poder público
ficaram sem informações sobre a dimensão do acidente e sobre o grau de toxicidade das
substâncias vazadas. Apenas quando alguns moradores começaram a apresentar
problemas de pele e pequenos animais faleceram, a indústria revelou o que sabia e
evacuou a área atingida.
Na cidade de Cubatão, Brasil, em fevereiro de 1984, uma falha operacional
causou a ruptura de um duto da Petróleo Brasileira S/A (Petrobrás), que ligava a
refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão, ao terminal da Alemoa, em Santos. Em seu
trajeto, esse duto passava por área alagadiça próxima à vila Socó, construção de
palafitas habitadas por população de baixa renda. Com a ruptura, cerca de 700 mil litros
de gasolina vazaram e se espalharam pelo mangue. Moradores da vila, ao perceberem o
vazamento, coletaram e armazenaram o combustível em suas residências. Rapidamente,
cerca de duas horas depois, com a mudança da maré, a gasolina se espalhou pela região
das palafitas e o incêndio começou.16 17 Vários barracos foram carbonizados em poucas
horas. Segundo dados da CETESB, 93 foram as vítimas fatais, mas

... algumas fontes citam um número extra oficial superior a 500 vítimas fatais
(baseado no número de alunos que deixou de comparecer à escola e a morte
de famílias inteiras sem que ninguém reclamasse os corpos), dezenas de
feridos e a destruição parcial da vila .18

Na Cidade do México, México em 1984, um acidente deixou 500 pessoas mortas

16
Serpa, Ricardo Rodrigues & Prado-Monje, Hugo. Prevenção e resposta a acidentes químicos – Situação
na América Latina e no Caribe. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado
Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000, p.
267-276.
17
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/riscos/acidentes/soco.asp>. Acesso em: 19 fev. 2008.
18
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/riscos/acidentes/soco.asp>. Acesso em: 19 fev. 2008.

8
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

e cerca de 14 mil feridos, e causou prejuízos de US$ 20 milhões.19 A base de


armazenamento e distribuição de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), da empresa
Petróleos Mexicanos (PEMEX), na Cidade do México, com uma capacidade de guardar
até 16.000 m³, recebia GLP de três refinarias diferentes por meio de gasoduto. Na
madrugada do dia 19 de dezembro de 1984, a ruptura de uma tubulação permitiu o
vazamento de gás. A queda de pressão na rede de gasoduto apesar de percebida pela
equipe de controle não serviu para alertar sobre a tragédia que viria. O gás vazado
20
formou uma nuvem inflamável, que em contato com uma fonte de ignição, um flare
inadequadamente instalado ao nível do solo, explodiu. A explosão iniciou o incêndio
nas instalações da PEMEX. Dez minutos depois de iniciado o vazamento, um fenômeno
conhecido como BLEVE (do inglês: Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion –
Explosão de vapor líquido expandido), decorrente da alta temperatura atingida por
líquidos contidos em reservatórios, que explodem, lançando fragmentos e causando
forte deslocamento de ar, aconteceu seguido de outro ainda mais forte que formou uma
bola de fogo de 300 metros de diâmetro. Explosões em reservatórios lançavam pedaços
de materiais atingindo pessoas e construções. Para debelar o incêndio foram necessárias
quase 17 horas .21 22 23
Em Bhopal, Índia, em dezembro de 1984, a Union Carbide Corporation, empresa
norte-americana no segmento de produtos químicos, produzia agrotóxicos. Naquele ano,
o vazamento de 40 toneladas de isocianato de metila e outros gases letais foi
responsável pelo que é considerada a pior catástrofe tecnológica da história. A nuvem
formada pelos produtos tóxicos que vazaram, rapidamente atingiu a grande população
das vilas, centros comerciais e residências vizinhas à indústria. Duas mil pessoas
morreram imediatamente. O governo indiano continuou contabilizando as mortes em

19
Serpa, Ricardo Rodrigues. Prevenção e resposta a acidentes químicos – Situação na América Latina e
no Caribe. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado Jorge Mesquita Huet
(org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000, p. 267-276.
20
Flare é o nome dado aos sinalizadores - chamas de fogo que queimam incessantemente – usado em
indústrias químicas como indicador de segurança. Enquanto o fogo arde, o gás residual da atividade está
sendo queimado como o previsto, sem vazar para a unidade e contaminar os funcionários.
21
Zonno, Isabella do Valle, Pessoa, Valdir & Andrade, Hubmaier. A situação atual da análise de risco
na atuação da ANP. Disponível em: <http://www.portalabpg.org.br.>. Acesso em: 28 agosto 2008.
22
Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de
indústrias e atividades perigosas. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;
Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2000. p. 253-266.
23
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/riscos/acidentes/mexico.asp>. Acesso em: 19 fev. 2008.

9
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

decorrência do acidente e, em 1994, dez anos depois, eram mais 4.000 mortes. O
número de pessoas que ficaram permanentemente inválidas chega a 30.000. As novas
gerações continuam sentindo as seqüelas do acidente 24 e a população local não recebeu
qualquer apoio ou tratamento. A Union Carbide Corporation fundiu-se a outra
25 26
multinacional do setor químico que não aceita o passivo ambiental de Bhopal.
Esses acidentes industriais ampliados, com vítimas fatais e sérias conseqüências
à saúde pública, ao meio ambiente e ao patrimônio e com custos sociais muito altos,
tornaram evidente a necessidade de melhorar a segurança das instalações perigosas e
dos processos produtivos. Principalmente por causa da pressão pública, a partir da
década de 1980, a indústria química e petroquímica começou a sentir necessidade de um
plano de resposta à emergência que alcançasse, não só seus funcionários, como também
a comunidade onde está instalada.27
Indústrias com atividades fortemente poluidoras e perigosas transferiram suas
atividades para países em desenvolvimento, tornando mais baratos os custos de
produção com os salários baixos e as poucas exigências por um processo produtivo
ambiental e socialmente responsável. Além da vantagem em continuar comercializando
substâncias tóxicas banidas em seus países de origem. 28
Geralmente, nas periferias das grandes cidades estão instaladas as indústrias
perigosas. Ao lado dessas indústrias está a população que carece de todo os recursos
para enfrentar situações de risco. 29
Durante muito tempo, a indústria química operou sem qualquer restrição. Pouco
se sabia sobre os riscos de contaminação e intoxicação provocados por produtos
químicos. Os efeitos nocivos dos resíduos dispensados sem qualquer tratamento e do

24
Esses dois últimos números são controversos. Esse trabalho optou pelos dados fornecidos no texto de
autoria do pesquisador sênior - COPPE / UFRJ, Moacyr Duarte.
25
Bhopal, o desastre continua (1984 / 2002). Disponível em: < http://www.greenpeace.com.br>. Acesso
em: 28 agosto 2008.
26
Duarte, Moacyr. Op. cit.
27
Souza Jr. Álvaro Bezerra de & Souza, Marlúcia Santos. Implantação de sistemas de resposta para
emergências externas em áreas industriais no Brasil. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo
de Souza; Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2000. p. 221-235.
28
Demajorovic, Jacques. Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental – Perspectivas para a
educação corporativa. São Paulo: Editora Senac, 2003.
29
Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado, Jorge Mesquita Huet. A
questão dos acidentes industriais ampliados. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de
Souza; Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora
Fiocruz, 2000. p. 25-45.

10
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

uso indiscriminado desses produtos não eram conhecidos pela grande maioria da
população. 30
O assunto só atingiu um público maior no início da década de 1960, quando
Rachel Carson mostrou os danos causados em animais e seres humanos devido ao
31 32
consumo excessivo de agrotóxicos, no livro Primavera Silenciosa.
No Brasil, a legislação ambiental foi se aperfeiçoando apenas a partir da década
de 1980. Em 1981 foi criado Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
através da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Em 1988 foi promulgada a Constituição
Federal, onde “estão assegurados os direitos e deveres básicos para garantir a
preservação ambiental”.33

Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
Art. 1. – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público:
V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a qualidade de vida e o meio
ambiente.34

No Estado de São Paulo, o crescimento no número de acidentes ambientais –


como os derramamentos de óleo no litoral norte e o desastre da Vila Socó – gerou a
necessidade de criar medidas preventivas, além das medidas corretivas existentes, para
evitar novas ocorrências tanto em indústrias já instaladas, quanto nas que viessem a
operar.
Com o intuito de evitar novos acidentes, a Companhia de Tecnologia de

30
Demajorovic, Jacques. Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental – Perspectivas para a
educação corporativa. São Paulo: Editora Senac, 2003.
31
Publicado no Brasil pela Editora Melhoramentos, com tradução de Raul de Polillo.
32
Demajorovic, Jacques. Op. cit.
33
Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de
indústrias e atividades perigosas, p. 257. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;
Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2000. p. 253-266.
34
Constituição República Federativa do Brasil – 1988.

11
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

Saneamento Ambiental (CETESB) incorporou no processo de licenciamento ambiental


o estudo de análise de riscos. Para tanto, utilizou em indústrias químicas e
petroquímicas o mesmo tipo de análise usada nas áreas militar, nuclear e aeronáutica.
Tais modelos foram aplicados para identificar e quantificar perigos e seus
desdobramentos em impactos para o homem e o meio ambiente, a partir de eventos
como incêndios, explosões e vazamentos de substâncias tóxicas. 35
O transporte rodoviário foi responsável pela maioria desses acidentes (40,2%). A
indústria causou 7,1% e armazenamento 2,5%. Na região metropolitana aconteceram
50,8% dessas ocorrências, no interior 33,9% e no litoral 15,3%. Acidentes com líquidos
inflamáveis foram 31,1%, substâncias corrosivas 9,8%, gases 9,6% e substâncias
perigosas diversas 5,4%.36
Os estudos de análise de riscos requerem análises precisas e detalhadas de
sistemas, equipamentos e operações presentes em uma planta industrial, já que é de
grande importância identificar as causas básicas e as seqüências de eventos e falhas que
podem levar à ocorrência de um acidente maior. Dessa forma, os estudos devem prever
e quantificar os possíveis cenários acidentais, bem como suas respectivas conseqüências
em termos de explosões, incêndios, vazamentos tóxicos e outras reações violentas e
indesejadas, de modo que medidas concretas e efetivas de gerenciamento sejam
incorporadas no processo operacional da instalação – cabendo, portanto, aos órgãos de
controle e licenciamento a missão de avaliar os estudos e exigir a implantação dessas
ações.37
Risco é a possibilidade de algo acontecer. Em se tratando de risco tecnológico
ambiental, a questão é a probabilidade de ocorrer algum evento indesejável com
substâncias químicas perigosas em uma instalação industrial, na armazenagem ou no
transporte dessas substâncias. 38 39
A probabilidade de ocorrer um evento perigoso multiplicada pela conseqüência
desse evento dá a dimensão do risco. O estudo de análise de risco é o instrumento
35
Serpa, Ricardo Rodrigues. Op. cit.
36
Idem.
37
Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de
indústrias e atividades perigosas, p. 259. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;
Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2000. p. 253-266.
38
Idem.
39
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso em: 22 agosto 2008.

12
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

utilizado para estimar o risco dessa atividade e possibilita que se adotem medidas para
gerenciar essas probabilidades e conseqüências. 40 41
No caso de acidentes que
ultrapassem os limites da instalação industrial e possam afetar pessoas, a CETESB
adota o conceito de risco social – relacionado ao risco que pode afetar determinado
número ou grupo de pessoas que estariam expostas a possíveis acidentes, e risco
individual – está relacionado ao indivíduo presente na área do acidente.42
Esse cálculo, no entanto, é utilizado apenas para risco de acidente maior, isto é,
para eventos com chances reais de acontecer com conseqüências graves para a
comunidade e para os ecossistemas. Para acidentes com grande probabilidade de
ocorrer mas sem qualquer conseqüência significativa, tanto quanto para acidentes com
raríssima probabilidade mas com impacto catastrófico, não se faz cálculo de risco.43
Gerenciar os riscos é criar e estabelecer regras com o objetivo de evitar, diminuir
e controlar os riscos existentes numa instalação perigosa e, ao mesmo tempo, garantir o
pleno funcionamento dentro dos padrões de segurança. 44
O plano de emergência é criado a partir do estudo de análise de ricos, para que
todos os cenários de acidentes possíveis sejam conhecidos e o plano estabeleça e
implante ação de respostas a essas possibilidades. O plano de emergência não tem
função preventiva, isto é, ele não é uma ferramenta para evitar o acidente, mas exerce
papel importante para minimizar os impactos decorrentes de um evento indesejado.45
O Plano de Ação de Emergência tem ação direta na redução das conseqüências.
Entre outras coisas, é esse plano que estabelece:
. ação ordenada entre equipes responsáveis em situação de risco (para conter um
incêndio, por exemplo);
. equipamentos adequados e suficientes para conter um vazamento ou atender

40
Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de
indústrias e atividades perigosas. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;
Machado Jorge Mesquita Huet(org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2000. p. 253-266.
41
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso em: 22 agosto 2008.
42
Idem.
43
Duarte, Moacyr. O problema do risco tecnológico ambiental. In: Trigueiro, André (coord). Meio
ambiente no século 21. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2003, p. 245-257.
44
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Manual de orientação para a
elaboração de estudos de análise de riscos. São Paulo: CETESB, 1994.
45
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), Manual de orientação para
elaboração de estudos de análise de riscos. São Paulo: CETESB, 1994.

13
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

uma emergência (para retirada de óleo do mar, quando houver vazamento, por
exemplo);
. inventário de bens naturais ou matérias vulneráveis, para protegê-los e evitar
que sejam atingidos em caso de acidente (evitar que óleo ou outra substância
tóxica atinja uma área de mangue, por exemplo);
. proteção das pessoas, quando for o caso. O Plano de Ação de Emergência prevê
e planeja detalhadamente a remoção da população para lugar seguro.

O plano apell como gerenciamento de riscos

Os grandes acidentes industriais ampliados, com muitas vítimas fatais e feridos


entre a população, em diversos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, durante as
décadas de 1970 e 1980, foram a razão pela qual várias instituições se uniram para criar
programas de apoio aos países visando diminuir o número de acidentes ambientais
tecnológicos e suas conseqüências para a saúde humana e para o meio ambiente.46
Uma característica comum a esses diversos acidentes foi a falta de informação
por parte da população sobre o que estava acontecendo e sobre como proceder em
situações como aquelas, além da desinformação sobre os riscos que corriam por
viverem próximos àquelas instalações perigosas.47
Percebia-se que planos de emergência em que apenas os efetivos das instituições
estavam previamente preparados para as emergências tinham eficácia muito limitada.
Desinformada, a população entrava em pânico e tinha atitudes caóticas, dificultando a
própria ação dos serviços de emergência.48
Vários programas internacionais foram criados com a proposta de partilhar
informações (relação dos acidentes ocorridos em diversos países, lista de substâncias
químicas perigosas e procedimentos para minimizar suas ações prejudiciais, manuais de
orientação para elaboração de planos de emergência...) e experiências para que um
evento indesejado ocorrido em um local, com determinada substância, não voltasse a

46
Serpa, Ricardo Rodrigues. Prevenção e resposta a acidentes químicos – Situação na América Latina e
no Caribe. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza & Machado Jorge Mesquita
Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000, p. 267-276.
47
Freitas, Carlos Machado; Porto, Marcelo Firpo de Souza & Machado, Jorge Mesquita Huet. A questão
dos acidentes industriais ampliados. In: Ibidem, p. 25-45.
48
Idem.

14
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

ocorrer, ou, se por alguma razão ocorresse, o atendimento de emergência fosse mais ágil
e eficiente.
O APELL foi elaborado em 1986, pelo Departamento de Meio Ambiente e
Indústria do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O
PNUMA é a agência do sistema das Organizações das Nações Unidas (ONU),
responsável por estimular a proteção do meio ambiente no contexto do desenvolvimento
sustentável através de incentivo e apoio a povos e nações na busca pela melhoria de sua
qualidade de vida, sem comprometer as futuras gerações. Essa agência, estabelecida em
1972 com sede no Quênia, atua em diversas frentes, principalmente na busca de
resposta e suporte para soluções eficazes para a prevenção de acidentes ambientais; e na
promoção de troca de informações e trabalho conjunto de autoridades e comunidade
para a criação de políticas ambientais, além de dar o apoio necessário para a
implantação dessas políticas 49.
O Plano APELL enfatiza a necessidade da participação do governo local, da
comunidade e das indústrias para minimizar as conseqüências para a saúde da
população e para o meio ambiente em casos de acidentes industriais ampliados. As
instruções foram elaboradas com o objetivo de tornar público à população que vive
próxima a uma instalação perigosa as possíveis conseqüências de um acidente industrial
ampliado quando ele extrapola a planta industrial50.
Os danos causados por um acidente que se estende para além dos muros da
instalação química podem ser maiores ou menores, de acordo com a rapidez e a eficácia
das medidas tomadas e do conhecimento que a população que vive no entorno dessa
instalação, tem sobre os procedimentos a serem adotados.51
É preciso que haja diretriz única sobre os procedimentos adotados numa situação
de emergência, tanto pelos responsáveis por debelarem o acidente quanto pela
população afetada. Todos devem ser conscientizados sobre os riscos e orientados sobre
como agir durante a ocorrência antes que ela aconteça. Essa é a finalidade de um plano

49
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Disponível em:
<www.onu-brasil.org.br/agencias-pnuma.php>. Acesso em: 15 jan. 2008.
50
Souza Jr., Álvaro Bezerra de & Souza, Marlúrcia Santos. Implantação de sistemas de resposta para
emergências externas em áreas industriais no Brasil. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo
de Souza & Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2000, p. 221-235.
51
Associação Brasileira de Indústria Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM). Manual APELL:
alerta e preparação de comunidades para emergências locais. São Paulo: ABIQUIM, 1990.

15
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

de ação de emergência. No caso do Processo APELL, o seu sucesso está diretamente


ligado à participação integrada do Poder Público (em todas as suas esferas, mas
principalmente o local), da indústria e da comunidade. 52
O manual APELL foi editado no Brasil pela Associação Brasileira da Indústria
Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM). Além de explicar o processo, indica
seus objetivos globais e específicos; destaca quem são os participantes, nos níveis
nacional e local, e suas responsabilidades e funções. 53
O direito ambiental brasileiro reconhece o direito à informação sobre as ações de
fiscalização do Poder Público, sendo da Sociedade Brasileira de Direito do Meio
Ambiente a proposição do projeto transformado em lei, que estabelece que o controle da
poluição ambiental ganhará

... em dinamismo e seriedade se os dados colhidos pelos organismos públicos


não ficarem restritos aos meios administrativos... criando oportunidade... para
as vítimas da poluição e também aos poluidores de tomarem conhecimento
das análises levadas a efeito e de debaterem as conclusões com os
responsáveis pelos órgãos de defesa do meio ambiente. 54

Quanto à comunidade, ela tem a necessidade e o direito de saber que produtos


são armazenados, manipulados e produzidos na planta industrial instalada na região, que
possam afetá-la. 55

...comunicar os riscos, falar a verdade sobre os potenciais perigos, abrir


informações usualmente mantidas inacessíveis, mas cuja democratização de
acesso é a base inescapável para construir a relação de confiança e
participação que se descobre essencial depois do colapso comprovado dos
métodos de perfil tecnocrático. 56

52
Associação Brasileira de Indústria Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM). Manual APELL:
alerta e preparação de comunidades para emergências locais. São Paulo: ABIQUIM, 1990.
53
Idem.
54
Machado, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 3.ed.São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais Ltda., 1991, p. 84.
55
Idem.
56
Cunha, Icaro. Desafios do gerenciamento de riscos ambientais na Baixada Santista, p. 68. In:
Perdicaris, A. André M. (org). Temas de Saúde Coletiva: desafios e perspectivas. Santos: Ed.
Universitária Leopoldianum, 2004, p. 55-79.

16
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

O modo como a informação é passada à população pode variar de uma


comunidade para outra – pode ser através da mídia local, se houver; folhetos; palestras;
alto-falantes; professores em salas de aula. O importante é que todos sejam informados,
independente do nível educacional. A mensagem deve ser adequada a cada público,
compreensível para todos.57 É importante destacar que o Plano APELL, nos moldes em
que foi elaborado, não se aplica para desastres naturais, nem atômicos, mas sim a
acidentes industriais ampliados.58
O processo começa com a formação do grupo coordenador, que deve contar com
a participação de representantes dos diversos órgãos públicos com envolvimento
necessário no preparo para emergências, representantes das indústrias capazes de
fornecer informações relevantes e com poder de decisão e membros da comunidade, em
suas diversas representações.59
A primeira ação, uma vez constituído o grupo coordenador, é coletar
informações e avaliar a situação local. A partir dessa coleta de dados, o grupo
coordenador é capaz de identificar quais órgãos e instituições são importantes no
preparo dos planos de emergência e que materiais e recursos esses participantes podem
disponibilizar e, com isso, estabelecer tarefas e responsabilidades para cada um. É
importante montar um esquema para identificação e localização do responsável por cada
órgão e instituição como, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Departamento de Saúde,
Departamento de Meio Ambiente, para que a operação seja eficiente em casos de
emergência. 60 Cada procedimento como, evacuação, transporte, abrigo, distribuição de
alimentos e atendimento médico, deve ter uma equipe preparada para agir e uma pessoa
responsável para comandar essa equipe. 61
Avaliar as informações sobre os riscos que podem gerar uma situação de
emergência, não só nas indústrias químicas, mas também outras fontes de riscos que
podem oferecer perigo é tarefa do grupo coordenador. Todos os riscos e perigos que
podem resultar em acidente devem ser analisados, como pequenas fábricas e depósitos

57
Idem.
58
Idem.
59
Idem.
60
Associação Brasileira de Indústria Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM). Manual APELL:
alerta e preparação de comunidades para emergências locais. São Paulo: ABIQUIM, 1990.
61
Idem.

17
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

de materiais perigosos.62
Uma vez identificadas essas fontes de riscos, é preciso checar os procedimentos
de emergência adotados por cada uma delas para que eles sejam padronizados.
Conhecer esses procedimentos resulta em uma ação mais elaborada, uma vez que
eventuais falhas e omissões dos planos já existentes podem ser superadas pelo trabalho
do grupo coordenador.63
Saber o que já foi informado a ela, se já foi feito algum tipo de treinamento, com
que freqüência e como foi feito é necessário no planejamento de ações futuras.
Relacionar os equipamentos disponíveis na localidade que possam ser usados em casos
de emergência e os profissionais especializados que possam agir e colaborar em casos
de emergência ajuda na preparação das ações a serem adotadas.64
Por fim, estabelecer procedimentos para a proteção da comunidade durante
situações de emergência e, para que funcione, informar e treinar essa comunidade para
que adotem esses procedimentos.65
Uma situação de emergência não tem hora para acontecer. Tanto os órgãos de
fiscalização e licenciamento quanto os técnicos trabalham para que acidentes não
aconteçam. A preparação do Processo APELL parte do princípio que, mesmo
trabalhando para evitá-los, indústria e Poder Público devem ter um plano de emergência
elaborado e passível de ser posto em prática no caso de um acidente. Revisar e atualizar
o plano de emergência e treinar a comunidade com periodicidade para que as
informações recebidas não sejam esquecidas é importante para o bom andamento das
ações durante um evento indesejável. 66

A comunicação no preparo para emergências

Comunicação é o processo de tornar uma idéia comum a diversas pessoas 67, seja

62
Idem.
63
Idem.
64
Idem.
65
Associação Brasileira de Indústria Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM). Manual APELL:
alerta e preparação de comunidades para emergências locais. São Paulo: ABIQUIM, 1990.
66
Idem.
67
Aidar, Marcelo Marinho & Alves, Mário Aquino. Comunicação de Massa nas Organizações Brasileiras
– explorando o uso de histórias em quadrinhos, literatura de cordel e outros recursos populares de
linguagem nas empresas brasileiras. In: Motta, Fernando C.Prestes & Caldas, Miguel P.(org). Cultura
Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Editora Atlas S/A, 1997, p. 203-219.

18
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

através da linguagem escrita, falada ou figuras. Fundamental para nossa convivência, é


através da comunicação que se expressa o que é importante e se procura chegar a
consensos, implicando certo grau de cooperação. 68
Um plano de emergência busca diminuir as conseqüências de um acidente. Um
dos pontos para a redução do impacto causado por um evento indesejável é a
conscientização da população, principalmente aquela que reside, estuda ou trabalha
próximo à instalação de risco.
Comunicação de riscos é o processo de comunicar sobre riscos à saúde, ao meio
ambiente natural e urbano e à segurança da população. No caso de uma instalação
perigosa, vários procedimentos de segurança são exigidos para que seja autorizado o seu
funcionamento. No entanto, em caso de acidentes que especialistas buscam evitar, mas
admitem que podem acontecer, a população que reside no entorno e os trabalhadores da
instalação podem ficar expostos a produtos que causem danos. Quanto mais
informações e conhecimentos tiverem essas pessoas, mais provavelmente elas saberão
se proteger.69
Para o Conselho Nacional de Pesquisa, dos Estados Unidos da América
(National Research Council – NRC),

comunicação de riscos pode ser definida como um processo interativo de


troca de informações e opiniões entre indivíduos, grupos e instituições a
respeito de um risco ou um risco em potencial para a saúde humana ou o
meio ambiente.70

A falta de informação, o despreparo da população que vive no entorno de uma


instalação industrial, é também um fator que aumenta o risco de acidentes e piora as
condições de atendimento em casos de tragédias. Saber o que acontece e ter o poder de
participar das decisões é, para Sevá, uma maneira da população manter o controle de

68
Rabaca, Carlos Alberto & Barbosa, Gustavo. Dicionário de comunicação. Rio de Janeiro: Editora
Codecri, 1978.
69
Santos, Susan L. Developing a risk communication strategy. Journal AWWA, p. 45-49, November
1990.
70
National Research Council. Apud
Lundgren, Regina & Mcmakin, Andrea. Risk communication: a handbook for communicating
environmental, safety and health risks. 3.ed. Columbus, Ohio: Battelle Press, 2004, p. 15.

19
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

suas vidas. 71
O propósito da comunicação de riscos também pode ser diversificado, como seu
público. Em determinadas situações é preciso alertar o público apático, motivá-lo à
ação. Em outras, é preciso acalmar o público alarmado, informando e buscando a
construção de um consenso, mostrando a ele que não há razão para preocupação. 72 73
Para ser efetiva, a comunicação dos riscos não pode partir da premissa de que o
público fica descontente porque não entende o que acontece, o que o público necessita é
ser ouvido e seus temores e anseios serem respondidos. 74 75
Para serem eficazes, comunicadores de riscos devem reconhecer e superar
inúmeros obstáculos que têm suas raízes nas limitações da avaliação científica dos
riscos e nas idiossincrasias da mente humana. 76
Selecionar o canal de comunicação é outro ponto. Um mesmo canal pode não ser
apropriado para todos os grupos a que a comunicação de riscos se dirige. Esses canais
podem ser encontros públicos, folhetos, programas de rádio ou televisão, palestras,
jornais. O importante é que o público seja atingido e sinta-se satisfeito com a
informação recebida. 77
A avaliação final do processo é o último passo, e envolve desde uma avaliação
prévia do material utilizado nas atividades de apoio como avaliação dos encontros
públicos, dos panfletos e cartilhas, da interação com a mídia e da cobertura jornalística.
Essa avaliação deve ser constante para que os ajustes sejam feitos quando necessários.
Isso implica em um compromisso com um programa de comunicação de riscos que seja
ativo, constante.78

Características gerais do município de São Sebastião

A história de São Sebastião, município do litoral norte paulista, sempre esteve

71
Sevá, Oswaldo. Op. cit, p. 43.
72
Idem.
73
Santos, Susan L. Op. cit.
74
Santos, Susan L. Developing a risk communication strategy. Journal AWWA, p. 45-49, November
1990.
75
Lundgren, Regina & Mcmakin, Andrea. Op. cit.
76
Slovic, Paul. Informing and educating the public about risk, p. 182. In: Slovic, Paul. The perception of
risk. 4. ed. London: Earthscan Publications Ltd., 2004, p. 182-198.
77
Idem.
78
Idem.

20
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

ligada ao porto, em razão da sua configuração natural – grande profundidade e ótimas


condições oferecidas pelo canal para o fundeio protegido de embarcações. 79 80

Com 403 Km², o município é uma extensa faixa de aproximadamente 100 km de


costa, que engloba a vertente de encosta da Serra do Mar, a planície costeira, além de
algumas ilhas.81 O centro administrativo e urbano de São Sebastião fica na região do
canal de mesmo nome, defronte à Ilha também de mesmo nome onde se situa o
município de Ilhabela. Nessa região está a sede da Prefeitura Municipal, a Câmara dos
Vereadores, a Igreja Matriz de São Sebastião. No censo de 2007, realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), consta que São Sebastião possui 67.348
82
habitantes , com população flutuante não estimada, na época da alta temporada de
verão. O Índice de Desenvolvimento Humano do município (IDH-M) é 0,798 (ano
2000).
O Porto de São Sebastião, com sua configuração de atracação atual, foi pensado
em 1925, com a finalidade de ser uma alternativa ao porto de Santos, mas, por razões
políticas, a idéia não evoluiu naquele momento.83
A movimentação do porto de cargas gerais é de cerca de 400 mil toneladas/ano,
com importações de barrilha, malte, cevada, trigo, sulfato de sódio, produtos
siderúrgicos, máquinas e equipamentos, bobinas de fio e cargas gerais e exportação de
máquinas e equipamentos, veículos, peças, virtualha, produtos siderúrgicos e carga geral
84.

Objetivando realizar obras de ampliação e remodelação do cais e agilizar o


processo de operações portuárias, em maio de 1969, foi editado o decreto-lei estadual n.
63, que criou a Companhia das Docas de São Sebastião. No entanto, a administração do
porto só foi repassada para a Companhia em outubro de 2007, quando tomou posse a
primeira diretoria. Nesse ano também foi renovado, por mais 25 anos, o convênio entre

79
Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em
São Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública,
1996, Universidade de São Paulo.
80
Idem.
81
Idem.
82
Segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), em 2007, o número de habitantes
em São Sebastião era 79.403 habitantes. Disponível em:<
http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfil.php>.
Acesso em: 21 agosto 2008.
83
Morais, Fernando. Chatô, o rei do Brasil. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1994.
84
Idem.

21
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

União e Estado.85
Dentro do Porto Organizado está também o terminal marítimo da Petrobrás;
construído na década de 1960, que teve um grande papel e ainda tem, no
desenvolvimento local. 86
Para a população, o terminal marítimo e o porto de cargas secas são duas coisas
distintas. Porto é apenas o porto de cargas gerais que é pequeno, tem um berço, e é
administrado pela Companhia Docas de São Sebastião. E píer é a denominação
recebida pelo terminal de carga líquida do Terminal Marítimo Almirante Barroso
(TEBAR). Visando padronizar o texto com as designações locais, nesse trabalho
também os dois serão tratados de maneira separada.87
O Terminal Marítimo Almirante Barroso entrou em operação em 1969. Mesmo
antes de começar a operar, em 1969, o terminal marítimo da Petrobrás trouxe mudanças
para o município. A estrada de acesso que liga o Vale do Paraíba ao litoral norte –
Rodovia dos Tamoios – teve que ser alargada e asfaltada para permitir o tráfego de
caminhões com materiais para a construção do terminal.88
O terminal trouxe melhorias, mas trouxe também problemas até então não
enfrentados na região, como o desmatamento e a intervenção na Serra do Mar para a
instalação de oleodutos ou a construção da estrada de serviço da Petrobrás.89 90 91

85
Idem.
86
Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em
São Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública,
1996, Universidade de São Paulo.
87
Idem.
88
Kandas, Esther. A implantação do Terminal Marítimo Almirante Barroso: marco na definição da
política petrolífera brasileira (1953-1969). Tese de doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, 1988, Universidade de São Paulo.
89
Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em
São Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública,
1996, Universidade de São Paulo.
90
A empresa Petróleo Brasileiro S/A (Petrobrás), criada no ano de 1953, atua na exploração, produção,
refino, comercialização e transporte de petróleo e seus derivados. Atua também no segmento de gás
natural e fertilizantes, na indústria petroquímica e na distribuição de derivados de petróleo.
Torres, Carlos Alberto Rodrigues. Gestão Ambiental e Resolução de Conflitos: licenciamento de
dutovias no litoral de São Paulo. Dissertação de mestrado. Gestão de Negócios, 2006, Universidade
Católica de Santos.
91
O sistema Petrobrás inclui empresas subsidiárias que são independentes, com diretorias próprias. São
elas:Petrobrás Distribuidora S/A (BR Distribuidora), que atua na distribuição de derivados de
petróleo;Petrobrás Energia Participaciones S/A;Petrobrás Química S/A (PETROQUISA), que atua na
indústria química;Petrobrás Gás S/A (GASPETRO), subsidiária responsável pela comercialização do gás
natural nacional e importado;Petrobrás Transporte S/A (TRANSPETRO), subsidiária responsável pela
construção e operação da rede de transportes;Downstream Participações S/A, subsidiária que facilita a

22
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

O TEBAR é o maior terminal marítimo de petróleo e derivados da América do


Sul, por onde passa quase metade de todo o petróleo processado no Brasil. Por dia, são
cerca de 135 mil m³ de petróleo e 20 mil m³ de derivados. Realiza operações de carga e
descarga de navios-tanque; armazena petróleo e derivados; bombeia, por dutos, petróleo
e derivados para as quatro refinarias do estado de São Paulo: Refinaria Presidente
Bernardes (RPBC), em Cubatão; Refinaria de Paulínia (Replan); Refinaria Henrique
Lage (Revap), em São José dos Campos e Refinaria Capuava (Recap), em Mauá;
recebe, também por dutos, derivados de petróleo vindos das refinarias de São José dos
Campos e Paulínia; além de abastecer de combustível os navios atracados. No período
entre 1998 e 2000, analisado nesse trabalho, o TEBAR também armazenava e
bombeava metanol. Em 2008, o Terminal de São Sebastião opera com petróleo, QAV
(querosene de avião), diesel, gasolina, nafta e bunker.92 93 94 95
Na área marítima, numa extensão de 905 metros, o terminal possui píers para
rebocadores e dois píers para atracação de navio com capacidade de operar quatro
navios petroleiros ao mesmo tempo. Em 2008, a média mensal é de 57 navios. A área
total do terminal é 1.892.820 m². No ano 2000, o terminal possuía 22 tanques de
petróleo, 14 tanques de derivados e um tanque de metanol, com capacidade total de
armazenamento de 1.815.310 m³.96 97
Em 2008, segundo a Companhia Docas de São Sebastião, eram 43 tanques em
operação, com capacidade para armazenar 2.100.000 t.98 Porém, de acordo com a
página na internet do Ministério dos Transportes, continuam sendo 37 tanques, como no

permuta de ativos entre a Petrobrás e a Pepsol – YPF;Petrobrás International Finance Company (


PiFCo).Disponível em: <.http://www2.Petrobras.com.br>. Acesso em 1 set. 2008.
92
Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em
São Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública,
1996, Universidade de São Paulo.
93
Petrobrás Transporte S/A. Disponível em: <http://www.transpetro.com.br>. Acesso em 1 set. 2008.
94
Comunicação Institucional/ Atendimento e Articulação Regional do Terminal Aquaviário de São
Sebastião.
Responsável: Sr. Nilton Hernandes, 24 set. 2008.
95
Prefeitura Municipal de São Sebastião - Comissão Municipal de Defesa Civil. Manual APELL São
Sebastião, 2000.
96
Idem.
97
Comunicação Institucional/ Atendimento e Articulação Regional do Terminal Aquaviário de São
Sebastião.
Responsável: Sr. Nilton Hernandes, 24 set.2008.
98
A mudança de medida de armazenamento (m³ para tonelada) se dá ao fato dos dados atuais serem da
Companhia Docas de São Sebastião, empresa do governo estadual.
Companhia Docas de São Sebastião. Disponível em: <http://www.portodesaosebastiao.com.br>. Acesso
em: 27 agosto 2008.

23
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

ano 2000. Desses, 22 são tanques de petróleo, 13 de derivados e dois de slop ( utilizados
para transbordo) – com capacidade de armazenamento de 1.850.000 m³.99 100
O responsável pela Comunicação Institucional/ Atendimento e Articulação
Regional da TRANSPETRO informou que a quantidade de tanques de produtos é 41,
com capacidade de armazenamento de 1.890.184 m³. Esse volume é equivalente a sete
dias do consumo nacional.
Ao longo de 15 anos, de 1974 a 1999, foram contabilizados 220 acidentes
ambientais em decorrência das atividades do terminal.101 A maioria desses acidentes
foi de derramamento de óleo no mar, mas houve também casos de impacto imediato
mais forte sobre a população, como o acidente com o petroleiro Cairu, em abril de 1977,
que colidiu contra o píer do TEBAR, causando incêndio sobre a mancha de óleo
derramada no mar102; e em junho de 1984, quando o vazamento de óleo do TEBAR
para o córrego do Outeiro, que corta o centro da cidade, causou novo incêndio.103
O acidente com o Brazilian Marina, em nove de janeiro de 1978, colocou o
Porto de São Sebastião na categoria de local inadequado para operações de petróleo,
pelas bolsas de seguro. Essa situação se deu por causa dos altos custos que eventos
como esse costumam provocar: conserto do navio, perda do produto, despesas de
permanência no terminal, além das multas.104
O acidente com o navio petroleiro Cairu aconteceu em 20 de abril de 1977,
devido ao rompimento de um cabo de amarra. O petroleiro Cairu, da Frota Nacional de
Petroleiros (Fronape), colidiu com o píer sul do terminal marítimo Almirante Barroso e
atingiu sua parte elétrica. O óleo vazado pegou fogo e ficou queimando na superfície do
mar por mais de 12 horas.105 106 O Cairu chegava do Oriente Médio, com 260 mil
toneladas de óleo. Apesar das grandes labaredas resultantes do fogo no óleo sobre o

99
Ministério dos Transportes. Disponível em: <http://www.transportes.gov.br>. Acesso em 1 set. 2008.
100
Para efeito de cálculo, 1 m ³ = 1.000 litros = 1 tonelada.
101
Poffo, Íris Regina Fernandes. Vazamentos de óleo no litoral norte do Estado de São Paulo: análise
histórica (1974-1999). Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental,
2000, Universidade de São Paulo.
102
A longa noite de pânico no porto. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 abril 1977. Disponível em:
<http://almanaque.folha.uol.com/cotidiano_21abr1977.htm>. Acesso em: 8 julho 2007.
103
Vazamento de óleo causa pânico em São Sebastião. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 5 junho 1984.
104
Petróleo no mar, um clima de medo em São Sebastião. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 11 janeiro
1978, primeira página.
105
A longa noite de pânico no porto. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 abril 1977. Disponível em:
<http://almanaque.folha.uol.com/cotidiano_21abr1977.htm>. Acesso em: 8 julho 2007.
106
Nery, F. Fogo e pânico em São Sebastião. Jornal da Tarde, São Paulo, 6 junho 1984, p.13.

24
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

mar, todos os navios atracados no píer da Petrobrás e no porto de cargas gerais


conseguiram desatracar e se afastar da área do incêndio.107 A única morte registrada
devido este acidente, foi a de um tripulante, que em pânico, pulou ao mar. Esse índice é
surpreendente se levar em conta a reação na população local, que na época girava em
torno de 12 mil nos bairros mais próximos do terminal e no centro da cidade.108
O acidente no Córrego do Outeiro aconteceu em quatro de junho de 1984,
quando o óleo cru que vazou de um tanque da Petrobrás atingiu o Córrego do Outeiro,
que nasce na Serra do Mar, passa pelo terminal e depois atravessa a cidade – passando
ao lado de uma creche municipal, de uma escola pública e do único hospital local,
desaguando no mar próximo à instalação da Capitania dos Portos. Moradores das
proximidades do córrego afirmaram que durante aquela madrugada o cheiro de nafta
que exalava do córrego era forte e várias pessoas tinham passado mal, com náuseas e
dores de cabeça.109
Às 16h00 daquele mesmo dia, uma explosão sem causa definida, formou
labaredas de até 20 metros de altura. A nuvem de fumaça que subia para o céu era
grande e escura. A população entrou em pânico. O fogo durou apenas vinte minutos. O
resultado desse breve acidente foi uma população tomada por grande medo e sem saber
o que fazer. Centenas de pessoas foram hospitalizadas com crises nervosas. Muitas se
jogaram no mar. Outras buscaram abrigo nas igrejas, que já estavam lotadas. Alguns
estudantes foram encontrados em bairros distantes até 25 Km do centro .110 111 112 Ainda
hoje a causa do incêndio não foi solucionada.
Ao longo de 15 anos, de 1974 a 1999, foram contabilizados 220 acidentes
ambientais em decorrência das atividades do terminal 113. O grande número de acidentes
com graves conseqüências apontou para a necessidade de ações preventivas e a
CETESB foi solicitada a preparar uma proposta baseando-se em dados estatísticos dos

107
A longa noite de pânico no porto. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 abril 1977. Disponível em:
<http://almanaque.folha.uol.com/cotidiano_21abr1977.htm>. Acesso em: 8 julho 2007.
108
Idem.
109
Nery, F. Fogo e pânico em São Sebastião. Jornal da Tarde, São Paulo, 5 junho 1984, p.13.
110
Vazamento de óleo causa pânico em São Sebastião. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 5 junho 1984.
111
Os dutos do pânico. Revista IstoÉ, São Paulo, 13 junho 1984, p. 26-28.
112
Nery, F. Op. cit., p.13.
113
Poffo, Íris Regina Fernandes. Vazamentos de óleo no litoral norte do Estado de São Paulo: análise
histórica (1974-1999). Dissertação de mestrado. Programa de pós-graduação em Ciência Ambiental,
2000, Universidade de São Paulo.

25
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

acidentes ocorridos.114 A Análise da Ocorrência de Acidentes e Proposta de Ação


Preventiva da CETESB para 1986 mostrava que a maioria das ocorrências (77%)
envolvia navios-tanque e embarcações diversas. Falhas mecânicas eram as causas de
41% dos eventos, e falhas operacionais, 32,8%. As primeiras poderiam ser evitadas com
a melhoria da manutenção dos navios. As falhas humanas estavam relacionadas ao
cansaço ou desatenção das equipes de terra ou mar.115 116
A participação do poder local e população só começam no início da década de
1990. Em maio de 1992, foi promulgada a lei municipal ambiental de São Sebastião –
lei 848/92 – que estabeleceu a necessidade de autorização de funcionamento dada pelo
município, além das licenças Estadual e Federal, para as atividades instaladas ou que
pretendam se instalar no município. Essa lei estabelece que o Porto de São Sebastião e a
Petrobrás, já em atividade, precisam pedir autorização de funcionamento para o
município a cada dois anos e, para obter essa autorização, a empresa deve apresentar um
plano de gerenciamento de riscos.117
Mas, o grande avanço dessa lei, foi a abertura das informações à comunidade
local. Pela primeira vez a comunidade pôde acompanhar o Programa de Gerenciamento
de Riscos e saber exatamente quais riscos a instalação da Petrobrás oferece à cidade e à
sua população.118
A lei municipal 848/92 mudou o status do antigo Conselho de Meio Ambiente,
transformando-o em Conselho Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente de São
Sebastião (COMDURB), instância que permite a participação da população na atividade
de controle ambiental. O COMDURB era e é composto em número igual por
representantes do governo municipal e por representantes da sociedade civil. Na sua
criação, as entidades representativas da sociedade civil eram: Ordem dos Advogados do
Brasil (Seção São Sebastião), Associação de Engenheiros e Arquitetos, Associação
Comercial, Sindicatos de Trabalhadores, ambientalistas, Sociedade de Amigos de
Bairro da Costa Sul, Sociedade de Amigos de Bairro da Costa Norte. Somente esses

114
Idem.
115
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) – Análise de
ocorrência de acidentes e proposta de ação preventiva para 1986.
116
Cunha, Icaro Aronovich. Op. cit.
117
Lei Municipal 848/92
118
Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em São
Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública, 1996,
Universidade de São Paulo.

26
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

tinham direito a voto. Entidades como Porto, Petrobrás, SABESP e CETESB, desde a
criação do conselho e ainda hoje, participam como convidadas.119 120
A empresa apresentou à prefeitura os estudos de riscos que já dispunha; a
prefeitura contratou uma empresa de consultoria para fazer a análise dos estudos, com
os custos da contratação repassados à Petrobrás; e a CETESB respondeu ao pedido de
ajuda da prefeitura com informações e documentos.121
O estudo e análise dos riscos permitiram a identificação das situações de perigo;
quantificaram as probabilidades de ocorrência de acidentes e suas conseqüências;
indicaram propostas para a redução dos acidentes e a minimização das conseqüências.
122
Os avanços no controle e prevenção dos acidentes foram progressivos. Os planos
de emergência foram implantados gradativamente. E a etapa mais avançada desse
processo foi a implantação do Plano APELL (Alerta e Preparação de Comunidades para
Emergências Locais) em São Sebastião. 123
Em 1992, a Prefeitura Municipal de São Sebastião propôs à Petrobrás que
trabalhassem juntas na implantação do Plano APELL. Com a posse do prefeito que
administrou o município entre 1993 e 1996, o trabalho Prefeitura / Petrobrás estagnou,
só vindo a ser retomado na administração seguinte de 1997 a 2000.

O processo apell em São Sebastião

119
Idem.
120
Em 2007, foi promulgada a Lei Municipal 1860, que reformulou o Conselho Municipal de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Urbano – COMDURB, com uma nova composição, ainda paritária, entre
Poder Público e sociedade civil. Sendo indicados pelo Poder Público Municipal um representante de cada
um dos órgãos listados:
Secretaria de Meio Ambiente; Secretaria de Planejamento e Obras; Secretaria de Saúde; Secretaria de
Educação; Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Humano; Procuradoria Ambiental e de Obras da
Secretaria de Assuntos Jurídicos; Secretaria de Cultura e Turismo; Subprefeituras.
Os eleitos pela sociedade civil, um representante de cada uma das instituições, organizações ou
associações, todas obrigatoriamente sediadas em São Sebastião:
Organização não-governamental (ONG); Instituição de ensino, pesquisa e extensão; Instituição de setores
do comércio, indústria e serviços de São Sebastião; Sindicato de trabalhadores.
Para representar Federação de associação de moradores de bairro e Associação de classe ou profissionais,
são eleitos dois conselheiros, que devem representar Federações e Associações distintas.
Lei Municipal 1860/2007.
121
Cunha, Icaro Aronovich. Op. cit.
122
Idem.
123
Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em São
Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública, 1996,
Universidade de São Paulo.

27
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

A implementação do Processo APELL em São Sebastião foi resultado do


trabalho conjunto da Prefeitura Municipal, Petrobrás e comunidade, com a colaboração
e a participação de vários departamentos da prefeitura, Defesa Civil Estadual, CETESB,
SABESP, Movimento de Preservação de São Sebastião (MOPRESS). O trabalho teve
início em 1999, com a discussão do Plano de Ação de Emergência para efeitos externos
ao Terminal.124
Os moradores das áreas consideradas de risco tiveram acesso às informações
sobre o terminal, no início, através de palestras ministradas em escolas e associações de
bairro por representantes da Defesa Civil Municipal e do engenheiro da Gerência de
Segurança, Saúde e Meio Ambiente da Petrobrás, Artur Carlos de Vasconcelos Neto.
As informações passadas eram duas: “do risco em si do terminal, mas também das
providências que estavam sendo tomadas.”
Para o desenvolvimento do Plano de Ação de Emergência local, foi delimitada a
área considerada de risco, que foi identificada e dividida em cinco setores ; cada um
desses setores recebeu um número, um ponto de encontro específico para os moradores
e trabalhadores da respectiva área, e um abrigo designado.125
Ponto de encontro, como o próprio nome diz, é o local pré-determinado pelo
Plano de Ação de Emergência para onde as pessoas que se encontram na área de risco
devem se locomover para que possam ser transportadas para um abrigo.126
Abrigo, no caso do plano de ação de emergência, é o local fora da área de risco
onde pessoas removidas de suas residências possam permanecer até o restabelecimento
da segurança na área atingida. Esses locais devem possibilitar o alojamento separado de
homens e mulheres, possuir área para refeitório, ter higiene e segurança. No Processo
APELL implementado em 2000, a responsabilidade pelo suprimento de alimentação e
necessidades materiais, manutenção e cadastro das pessoas nos abrigos era do
Departamento de Educação, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social, da
Secretaria de Esportes e Cultura e do Fundo social de Solidariedade.127

124
Prefeitura Municipal de São Sebastião - Comissão Municipal de Defesa Civil. Manual APELL São
Sebastião, 2000.
125
Idem.
126
Idem.
127
Prefeitura Municipal de São Sebastião - Comissão Municipal de Defesa Civil. Manual APELL São
Sebastião, 2000.

28
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

No ano 2000 foi realizado o primeiro treinamento de emergência com a


comunidade local, envolvendo todos os setores da área de risco em um mesmo
momento. Para tanto, várias entidades participaram da simulação, como: uma rádio
local, passando orientações sobre os procedimentos a serem adotados no momento da
evasão; elaboração de cartilha sobre como agir em situação de emergência, preparada
pelo grupo de comunicação do Plano APELL, e distribuída para todos os moradores e
estudantes da área considerada de risco, indicando a cada grupo de moradores para qual
abrigo deveriam dirigir-se; palestras nas escolas esclarecendo sobre as possibilidades de
acidentes, suas conseqüências e da necessidade de se conhecer o plano de emergência,
dentre outros. Foram informados de que as pessoas com dificuldade de locomoção ou
qualquer outro problema de saúde, previamente cadastradas, seriam evacuadas pela
defesa civil municipal.128
A implementação do APELL em São Sebastião, sob a óptica de quem participou
do processo, foi um momento relevante, de avanço. Significou uma nova forma de
relacionamento entre Petrobrás e comunidade. A aproximação entre empresa e
moradores locais levou ao conhecimento, por parte da população e até mesmo de órgãos
do governo municipal, a dimensão dos riscos relacionados à instalação e o mapa de
riscos - localização dos tanques e tipo dos produtos armazenados, segundo Eduardo
Hipólito do Rego - Secretário Municipal de Meio Ambiente e presidente da Comissão
Municipal de Defesa Civil de São Sebastião na administração 1997/2000.
Para Júlio Buzi, jornalista que trabalhava na área de comunicação da Petrobrás e
responsável por um programa na rádio local Morada do Sol,

...algo novo estava sendo implantado. A Petrobrás começou a se preocupar


com a segurança, começou a se trabalhar isso dentro da empresa com os
funcionários e depois a envolver outros órgãos civis e militares. Foi uma
mudança de visão dentro da Petrobrás que antes não tinha preocupação em
comunicar, informar, mostrar os riscos.

Apesar do sucesso e ampla participação da população na simulação do ano 2000,

128
Idem.

29
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

nada mais aconteceu, ou seja, o assunto se extinguiu, acarretando a desmobilização da


sociedade. Hoje (2008), o plano APELL parece um sonho que nunca se realizou, porque
é retomado apenas um dia ao ano, por força de um decreto do prefeito para que esse dia
exista. Não foi aproveitado pela Petrobrás e pelas estruturas envolvidas, como Defesa
Civil e prefeitura, essa ansiedade que a própria comunidade foi criando de saber mais,
de tentar colaborar, de ser participativa.
A questão fundamental, assim, está relacionada à falta de continuidade do
processo. A ambientalista Nyelse Trench Martins teme pelo descrédito da população
que no primeiro momento foi estimulada, envolveu-se, participou do processo, mas não
percebeu continuidade e ela acredita ser muito difícil convencer novamente os
moradores de que há uma intenção positiva por parte dos órgãos públicos e da Petrobrás
para trabalhar esse plano de emergência.129

Conclusões

O plano de emergência para acidentes ambientais tecnológicos no município de


São Sebastião, no litoral norte do estado de São Paulo foi proposto pela Prefeitura
Municipal à gerência da Petrobrás S/A como parte do gerenciamento de riscos do
terminal de petróleo da empresa instalado naquela cidade.
A metodologia utilizada, conhecida como Alerta e Preparação de Comunidades
para Emergências Locais (APELL, sigla em inglês para Awaredness and Preparedness
for Emergencies at Local Level), foi criada pelo Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente.
Trata-se de política pública, no campo da administração ambiental, envolvendo
responsabilidades das empresas, dos órgãos governamentais, de lideranças da
comunidade, dos meios de comunicação.
Sempre que a busca pela diminuição dos riscos depender da preparação do
público para respostas organizadas a eventos potencialmente catastróficos, o acesso à
informação e o conhecimento das medidas de segurança, inclusive as orientações para a
própria atuação da comunidade em momentos de crise, torna-se essencial. Uma parte
fundamental dessa preparação é a comunicação de riscos, um campo específico de

129
Nyelse Trench Martins, entrevista gravada em 30 abril 2007.

30
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

conhecimento especializado.
O trunfo da implementação do Plano APELL em São Sebastião foi a realização
do Dia do Alerta, em outubro de 2000. Com as cartilhas já nas mãos dos moradores das
áreas de risco, foi realizado exercício simulado através de uma gincana, onde cada setor
competia com o outro. As tarefas foram estabelecidas de acordo com os procedimentos
recomendados no plano de emergência e constantes na cartilha. A rádio local foi
envolvida na gincana e, além dos moradores, as escolas também participaram. A adesão
ao exercício simulado que envolveu todos os setores foi bastante significativa, foram
oito mil participantes. É um fato importante conseguir mobilizar tanta gente de forma
ordenada e adequada ao treinamento recebido. Sem mencionar a ação dos vários órgãos
do governo local responsáveis pelo transporte, atendimento médico, cadastramento da
população, recepção nos abrigos, fornecimento de bens de primeira necessidade.
Ao abrir-se para a comunidade pela primeira vez, depois de 31 anos, e mostrar
preocupação com a segurança da população, a Petrobrás demonstrou disposição em
estabelecer relação de confiança com os moradores da cidade, principalmente seus
vizinhos instalados em áreas de risco. Essa atitude caracteriza a „abordagem da
confiança social‟.
A experiência do APELL São Sebastião é vista no meio especializado como uma
referência em relação aos resultados obtidos quanto à mobilização da comunidade.
Mesmo em países desenvolvidos, é especialmente difícil construir boas estratégias para
gerar interesse e participação dos moradores, comerciantes e outros segmentos da
população das áreas vizinhas a instalações perigosas. Combinam-se nesse trabalho
objetivos diversos, como acalmar o público e ao mesmo tempo envolvê-lo em
treinamentos para eventos que talvez nunca ocorram. Daí o reconhecimento da
relevância de uma experiência que nos seus melhores momentos conseguiu trazer a
participação de milhares de pessoas.
Lamenta-se que todo o preparo de resposta da população tenha se diluído com a
falta de novos e constantes treinamentos, que ficaram reduzidos apenas ao dia da
Simulação, ainda que por força de um decreto municipal, que obriga a sua realização.
Hoje (2008) muita gente não sabe o que é o APELL e, São Sebastião.

31
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

Referências bibliográficas

Aidar, Marcelo Marinho & Alves, Mário Aquino. Comunicação de Massa nas
Organizações Brasileiras – explorando o uso de histórias em quadrinhos,
literatura de cordel e outros recursos populares de linguagem nas empresas
brasileiras. In: Motta, Fernando C.Prestes & Caldas, Miguel P.(org). Cultura
Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Editora Atlas S/A, 1997, p.
203-219.
Associação Brasileira de Indústria Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM).
Manual APELL: alerta e preparação de comunidades para emergências locais.
São Paulo: ABIQUIM, 1990.
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), Manual de
orientação para elaboração de estudos de análise de riscos. São Paulo:
CETESB, 1994.
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo
(CETESB) – Análise de ocorrência de acidentes e proposta de ação
preventiva para 1986.
Constituição República Federativa do Brasil – 1988.
Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política
ambiental em São Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de
doutorado. Faculdade de Saúde Pública, 1996, Universidade de São Paulo.
Cunha, Icaro. Desafios do gerenciamento de riscos ambientais na Baixada Santista, p.
68. In: Perdicaris, A. André M. (org). Temas de Saúde Coletiva: desafios e
perspectivas. Santos: Ed. Universitária Leopoldianum, 2004, p. 55-79.
Demajorovic, Jacques. Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental –
Perspectivas para a educação corporativa. São Paulo: Editora Senac, 2003.
Duarte, Moacyr. O problema do risco tecnológico ambiental. In: Trigueiro, André
(coord). Meio ambiente no século 21. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2003, p.
245-257.
Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza ; Machado, Jorge Mesquita
Huet. A questão dos acidentes industriais ampliados. In: Freitas, Carlos
Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado Jorge Mesquita Huet

32
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

(org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.


p. 25-45.
Kandas, Esther. A implantação do Terminal Marítimo Almirante Barroso: marco
na definição da política petrolífera brasileira (1953-1969). Tese de doutorado.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 1988, Universidade de São
Paulo.
Lei Municipal 848/92
Lundgren, Regina & Mcmakin, Andrea. Risk communication: a handbook for
communicating environmental, safety and health risks. 3.ed. Columbus, Ohio:
Battelle Press, 2004, p. 15.
Machado, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 3.ed.São Paulo: Ed.
Revista dos Tribunais Ltda., 1991, p. 84.
Morais, Fernando. Chatô, o rei do Brasil. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1994.
Naciones Unidas. Prevención y mitigación de desastres – compendio de los
conocimentos actuales. Nueva York: Naciones Unidas, 1986.
Nery, F. Fogo e pânico em São Sebastião. Jornal da Tarde, São Paulo, 5 junho 1984,
p.13.
Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). Guiding
Principles for Chemical Accident Prevention, Preparedness and Response.
2nd ed. OECD Environment, Health and Safety Publications. Series on Chemical
Accidents, n. 10, 2003
Os dutos do pânico. Revista IstoÉ, São Paulo, 13 junho 1984, p. 26-28.
Petróleo no mar, um clima de medo em São Sebastião. O Estado de S.Paulo, São
Paulo, 11 janeiro 1978, primeira página.
Poffo, Íris Regina Fernandes. Vazamentos de óleo no litoral norte do Estado de São
Paulo: análise histórica (1974-1999). Dissertação de mestrado. Programa de
Pós-graduação em Ciência Ambiental, 2000, Universidade de São Paulo.
Prefeitura Municipal de São Sebastião - Comissão Municipal de Defesa Civil. Manual
APELL São Sebastião, 2000.
Rabaca, Carlos Alberto & Barbosa, Gustavo. Dicionário de comunicação. Rio de
Janeiro: Editora Codecri, 1978.

33
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

Santos, Susan L. Developing a risk communication strategy. Journal AWWA, p. 45-


49, November 1990.
Secretaria de Meio Ambiente; Secretaria de Planejamento e Obras; Secretaria de Saúde;
Secretaria de Educação; Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Humano;
Procuradoria Ambiental e de Obras da Secretaria de Assuntos Jurídicos;
Secretaria de Cultura e Turismo; Subprefeituras.
Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no
licenciamento de indústrias e atividades perigosas. In: Freitas, Carlos Machado
de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado Jorge Mesquita Huet (org).
Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. p.
253-266.
Serpa, Ricardo Rodrigues. Prevenção e resposta a acidentes químicos – Situação na
América Latina e no Caribe. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo
Firpo de Souza; Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais
Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000, p. 267-276.
Sevá, Oswaldo. Urgente: combate ao risco tecnológico. Cadernos Fundap, n. 16, p.
74-83, 1989.
Slovic, Paul. Informing and educating the public about risk, p. 182. In: Slovic, Paul.
The perception of risk. 4. ed. London: Earthscan Publications Ltd., 2004, p.
182-198.
Souza Jr. Álvaro Bezerra de & Souza, Marlúcia Santos. Implantação de sistemas de
resposta para emergências externas em áreas industriais no Brasil. In: Freitas,
Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado Jorge Mesquita
Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2000. p. 221-235.
Torres, Carlos Alberto Rodrigues. Gestão Ambiental e Resolução de Conflitos:
licenciamento de dutovias no litoral de São Paulo. Dissertação de mestrado.
Gestão de Negócios, 2006, Universidade Católica de Santos.
Vazamento de óleo causa pânico em São Sebastião. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 5
junho 1984.

Fontes

34
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA
PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO
PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP
Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

A longa noite de pânico no porto. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 abril 1977.
Disponível em: <http://almanaque.folha.uol.com/cotidiano_21abr1977.htm>.
Acesso em: 8 julho 2007.
Bhopal, o desastre continua (1984 / 2002). Disponível em: <
http://www.greenpeace.com.br>. Acesso em: 28 agosto 2008.
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/riscos/acidentes/mexico.asp>. Acesso
em: 19 fev. 2008.
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso em: 22 agosto 2008.
Companhia Docas de São Sebastião. Disponível em:
<http://www.portodesaosebastiao.com.br>. Acesso em: 27 agosto 2008.
Ministério dos Transportes. Disponível em: <http://www.transportes.gov.br>. Acesso
em 1 set. 2008.
PASCON, P.E., Flixborough – 25 anos. Disponível em:
<http://www.processos.eng.br>. Acesso em: 28 agosto 2008.
Petrobrás Transporte S/A. Disponível em: <http://www.transpetro.com.br>. Acesso em
1 set. 2008.
Petroquímica Brasileira de Classe Mundial (BRASKEM). Disponível em:
<http://www2.braskem.com.br>. Acesso em: 28 agosto 2008.
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Disponível em:
<www.onu-brasil.org.br/agencias-pnuma.php>. Acesso em: 15 jan. 2008.
Zonno, Isabella do Valle, Pessoa, Valdir & Andrade, Hubmaier. A situação atual da
análise de risco na atuação da ANP. Disponível em:
<http://www.portalabpg.org.br.>. Acesso em: 28 agosto 2008.

35
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X

Você também pode gostar