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Sumário:
1. Introdução
Para a antiga escola da "jurisprudência dos interesses" o Direito estava longe de constituir
qualquer espécie de unidade sistemática.
Modernamente, porém, embora não se possa dizer que o Direito seja uma unidade sistemática
pura, é inegável a importância da idéia de "sistema" para a teoria jurídica. Não é preciso muito
esforço para comprovar essa verdade. Basta rever as técnicas de interpretação das leis, utilizadas
pela Hermenêutica Jurídica. Os manuais de hermenêutica destinados aos que se iniciam nas
técnicas da interpretação jurídica repetem o conselho: "Nunca leia o segundo parágrafo sem antes
ter lido o primeiro; nem deixe de ler o segundo depois de ler o primeiro; nunca leia um só artigo,
leia também o artigo vizinho". 1
Neste conselho está presente a idéia de um sistema legal, apontando para uma unidade mais
profunda. A ordem jurídica, na verdade, não pode mais, hoje em dia dispensar a unidade
sistemática,
À palavra sistema, etimologicamente originária do grego systema, na sua significação mais
extensa aludia a uma totalidade composta de várias partes. O uso posterior agregou a essa idéia
de totalidade construída, a de conglomerado no sentido específico de ordem, de organização. 2
Neste último sentido é que aqui a consideramos para abranger a totalidade dos recursos
trabalhistas ou seja conjunto constituído de várias partes com sentido de ordem, que lhe
empresta a idéia de sistema. Para melhor compreender esse sistema, trataremos dos "recursos"
genericamente, depois dos recursos no Código de Processo Civil (LGL\1973\5) de 1973. Daí
passaremos aos recursos na Consolidação das Leis do Trabalho. Uma análise sob o ponto-de-vista
crítico e algumas conclusões vão compor a parte final do estudo.
2. Teoria geral dos recursos
Se examinarmos o direito subjetivo processual, tal como está concebido nos Códigos de Processo
das diversas nações, o recurso constitui um meio de provocar na mesma instância ou na instância
superior, a modificação de uma decisão desfavorável.
O conceito assim enunciado envolve logo uma opção básica sobre a utilidade do recurso qual seja
a de aceitar ou recusar a utilidade ou a necessidade do recurso.
Autorizadas vozes, desde a Revolução Francesa em 1789, se insurgem contra os recursos com o
significado de duplo grau de jurisdição. Seria o recurso ou jurisdição dupla uma herança da
carcomida e arbitrária aristocracia judiciária francesa, contrária aos ideais democráticos de
igualdade. 3 Essas vozes proclamavam-no responsável pelo alongamento desnecessário do
processo e por isso responsável pelo seu encarecimento. Sustentava-se a inutilidade dos recursos
inclusive porque podia acontecer do Tribunal reformar para pior o julgamento do Juízo
monocrático. Se concordarmos com essas idéias a nossa postura diante do recurso será
necessariamente a de propugnar pela eliminação do duplo grau de jurisdição ou na melhor das
hipóteses reduzi-lo a casos extremos.
Se não concordarmos com essas idéias, a postura será outra: vamos encarar o recurso como um
meio absolutamente necessário para corrigir as iniqüidades a imperícia dos julgadores.
Ninguém, na verdade, desconhece a utilidade e a necessidade do recurso. Somente a
exacerbação da idéia de rapidez na administração da Justiça, leva a ignorar o significado do
recurso para o aprimoramento das funções jurisdicionais e a maior autoridade da sentença
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reexaminada por juízes superiores, presuntivamente mais experientes na arte de julgar. O recurso,
no fundo, serve à tranqüilidade dos próprios juízes. Sabendo que eventual erro cometido pode ser
corrigido pelo grau superior de jurisdição, os juízes decidem com mais tranqüilidade. A Constituição
Federal (LGL\1988\3) não impõe, como a de 1824, no art. 158, a exigência de duas instâncias,
mas o Direito Processual brasileiro, influenciado pelo Direito Romano e pelo Direito Canônico, trilhou
o caminho do duplo grau de jurisdição, desde os tempos da monarquia portuguesa. As apelações
das Ordenações Afonsinas e depois das Manuelinas se assemelhavam com as querimonias dos
antigos faraós. 4 Pessoalmente me confesso profundamente identificado com a idéia do duplo grau
de jurisdição. Essa postura não leva absolutamente a negar críticas aos recursos que constituam
duplicação desnecessária de decisões e sirvam apenas para tornar o processo mais complexo de
consecução da paz social.
3. Sistema de recursos no Código de Processo Civil (LGL\1973\5)
O elenco de recursos no Código de Processo Civil (LGL\1973\5) em vigor é diferente do anterior, a
saber:
a) apelação das sentenças em geral (art. 513 do CPC (LGL\1973\5));
b) agravo de instrumento das decisões interlocutórias (art. 522 do CPC (LGL\1973\5));
c) embargos infringentes (art. 530 do CPC (LGL\1973\5));
d) embargos de declaração (art. 535 do CPC (LGL\1973\5));
e) recurso extraordinário (art. 119, III, da CF (LGL\1988\3) e art. 541 do CPC (LGL\1973\5));
f) recurso adesivo (art. 500 do CPC (LGL\1973\5));
g) recurso de ofício.
Nos despachos de mero expediente não cabe nenhum recurso (art. 504 do CPC (LGL\1973\5)).
Foram eliminados os recursos de agravo de petição e de agravo de auto do processo.
a) Apelação
A apelação é o recurso específico contra as sentenças finais de 1º grau, definitivas ou
terminativas do feito. Em princípio toda sentença, portanto, está sujeita a apelação. O CPC
(LGL\1973\5), no art. 162, § 1º, esclarece que "a sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao
processo, decidindo ou não o mérito da causa". A apelação cabe, inclusive da sentença que não
declara a falência (art. 19, Dec.-lei 7.661, de 21.06.1945 com a redação da Lei 6.014, de
17.12.1973, no seu art. 5º) e das sentenças em mandado de segurança (art. 62 da Lei 1.533, de
31.12.1951 com a redação da Lei 6.914, de 27.12.1973 no seu art. 3º).
b) Agravo de instrumento
O agravo de instrumento, que pode ficar retido, se a parte assim requerer (art. 522, § 1º), ficou
restrito a decisões interlocutórias à exceção do processo /alimentar em que cabe contra a
sentença que declara a falência se o pedido de falência for requerido e decretado com
fundamento no art. 2º do Dec.-lei 7.661/45 (art. 17 do Dec.-lei 7.661, de 21.06.1945) ( RT 485/
163).
c) Embargos infringentes
Os embargos infringentes cabem das decisões não unânimes de 2º grau, em apelação e em ação
rescisória. A Súmula 597 (MIX\2010\2320) do STF dispõe que não cabem embargos infringentes de
acórdão proferido em mandado de segurança. A Lei 6.831, de 22.09.1980, que regula as
execuções fiscais, no art. 34, prevê os embargos infringentes, para o próprio juiz da causa, contra
as sentenças de 1º grau proferidas em execuções de valor igual ou inferior a 50 ORTN. Com o
advento do Dec.-lei 2.284, de 10.03.1986 e planos posteriores, extintas as ORTN, se há de
entender que o valor passa a ser em OTN (Obrigações do Tesouro Nacional). Os embargos
infringentes também são recursos no 1º grau, contra as sentenças proferidas pelos juízes federais
nas causas de valor igual a 50 ORTN, ou, agora, 50 OTN.
d) Embargos de declaração
Os embargos de declaração não deveriam ser incluídos propriamente entre recursos, pois não são
aptos a modificar a sentença. Destinam-se apenas a esclarecê-la ou aperfeiçoá-la.
e) Recurso extraordinário
O recurso extraordinário é recurso constitucional, embora o Código de Processo Civil (LGL\1973\5)
regule o prazo e o seu processamento. A denominação é oriunda do Regimento do Supremo
Tribunal Federal de 1891, foi repetida na Lei 221 de 20.11.1891 e integrou-se nas Constituições
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Como o Código de Processo Civil (LGL\1973\5) vigente simplificou o sistema de recursos, eliminou
a fungibilidade que permitia a interposição de um recurso por outro. A fungibilidade dos recursos
existia para a complexidade do sistema não prejudicar a parte. Desde que o sistema foi
simplificado, deixou de haver razão para restrições ao princípio da adequação dos recursos. A
jurisprudência, contudo, vem admitindo a fungibilidade desde que não ocorra erro grosseiro.
Exemplo dessa orientação é a decisão cuja ementa é a seguir transcrita: "Pode haver
transmudação de recurso se houver erro na sua interposição, não sendo este erro grosseiro e
havendo nos autos prova de tempestividade do recurso adequado". (TJRJ, 5ª C. Civil, AI 3.393).
5. Sistema de recursos na Consolidação das Leis do Trabalho
O art. 893 da CLT (LGL\1943\5) prevê os seguintes recursos: recurso ordinário; recurso de
revista; embargos e agravo de instrumento e petição.
a) Recurso ordinário
O recurso ordinário corresponde a apelação do Código de Processo Civil (LGL\1973\5). Cabe das
decisões proferidas pelas Juntas de Conciliação e Julgamento e das decisões dos Tribunais
Regionais em processos de sua competência originária. Embora o art. 895 da CLT (LGL\1943\5) se
refira a decisão definitiva, a jurisprudência, tal como ocorre com a apelação cível, o admite tanto
da decisão definitiva quanto da terminativa. A sentença que determina o arquivamento do
processo é terminativa do feito e, em conseqüência, suscetível de recurso ordinário.
b) Recurso de revista
O recurso de revista cabe das decisões dos Tribunais Regionais quando derem ao mesmo
dispositivo legal interpretação diversa da que houver sido dada anteriormente pelo próprio
Tribunal. A decisão divergente deve ter sido proferida pelo Pleno ou por Turmas do mesmo Tribunal
ou do TST em sua composição plena. A divergência entre decisões dos regionais e turmas do TST
não autoriza a revista. Não se dá recurso de revista se a decisão estiver em consonância com
súmula, enunciado ou jurisprudência uniforme do TST. Também cabe o recurso de revista se a
decisão de última instância tiver incorrido em violação de literal disposição de lei.
c) Embargos
Os embargos são cabíveis no TST, nos dissídios de sua competência originária, contra decisões
das Turmas se divergentes entre si ou contrárias à letra da lei federal. Não cabem embargos se
essas decisões estiverem em consonância com prejulgado, súmula ou jurisprudência uniforme do
TST.
O art. 135 do Regimento do TST prevê embargos de decisão não unânime, prolatada pelo Plenário
do TST. Assim caberão embargos:
a) previstos no art. 894 da CLT (LGL\1943\5) dos acórdãos proferidos em dissídios coletivos de
competência originária do TST. O requisito é a sucumbência;
b) embargos de divergência em caso de decisões de Turmas do TST divergentes entre si ou com o
Pleno;
c) embargos infringentes, no caso de ação rescisória decidida não de forma unânime;
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d) embargos de decisões contrárias à letra de lei federal.
e) Recursos de ofício na Justiça do Trabalho além dos recursos previstos no art. 893 da CLT
(LGL\1943\5).
O recurso do Ministério Público é admitido nos termos da Lei 7.934, de 04.09.1945, nas hipóteses
em que o Ministério Público atua como fiscal da lei, na reapresentação dos interesses de
incapazes, assumindo a posição de representante da parte. É previsto ainda nos dissídios
coletivos pelo Dec.-lei 2.284, de 10.03.1986 que mantém a incumbência do Ministério Público de
fiscalizar o cumprimento das normas da política salarial. Se a decisão do Tribunal ou mesmo as
partes no acordo coletivo não atendem a nova ordem econômica o Ministério Público deve recorrer
ao TST. O recurso ex officio está consagrado no art. 898 da CLT (LGL\1943\5) do seguinte teor:
"Das decisões proferidas em dissídio coletivo que afete empresa de serviço público, ou, em
qualquer caso, das proferidas em revisão, poderão recorrer, além dos interessados, o presidente
do Tribunal e a Procuradoria da Justiça do Trabalho".
Trata-se, na realidade, de recurso facultativo, pois as decisões em dissídios coletivos, se afetam
empresas de serviços públicos, são suscetíveis de recursos dos interessados, do Presidente do
Tribunal e do Ministério Público. Trata-se de modalidade única.
O Dec.-lei 779 de 21.08.1969 torna obrigatório o recurso de decisões total ou parcialmente
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desencalhar os recursos obstados pelo juiz. Agravo de petição também não cabe contra os
despachos na medida liminar em causa pois limitado a execução trabalhista. Recurso ordinário, não
serve à hipótese dessas medidas liminares, porque as leis processuais de trabalho não prevêem
qualquer recurso contra questões incidentes. O recurso de revista seria igualmente incabível
contra decisão que indefere ou defere a medida liminar nos processos de transferência. Não
existe, enfim, na CLT (LGL\1943\5) nenhum recurso que sequer se adapte a hipótese. Nem mesmo
os princípios da teoria do processo cautelar poderiam ser invocados porque, se o regime jurídico
próprio instituído na lei especial não previu recurso, não se pode limitar a ação do juiz. Resulta do
exposto que a medida liminar criada pela lei 6.203, de 17.04.1975, é irrecorrível. Se o despacho
que a concede ou denega fere direito ostensivo da parte, dedutível de prova documental, a
medida cabível é o mandado de segurança. Se o ato do juiz caracterizar a inversão tumultuaria da
ordem legal do processo, a medida cabível contra o despacho do juiz é a correição parcial. 1 0
Nesse passo é preciso observar que a Súmula 196 (MIX\2010\2654) do TST admitiu o recurso
adesivo no recurso ordinário, na revista e nos embargos para o Pleno.
Não é o disposto no art. 836 da CLT (LGL\1943\5), vedando à Justiça do Trabalho conhecer de
questões já decididas, que obsta a aplicação subsidiária do CPC (LGL\1973\5) em matéria de
recursos. O que veda o empréstimo de recursos é a impossibilidade de quebra do sistema. O
sistema de recursos se forma na relação das partes, com o todo. Ora a retirada ou acréscimo de
uma parte destrói o todo, quer dizer, a unidade orgânica. Os recursos não se desvinculam do
sistema próprio ao qual pertencem.
8. Análise crítica
A experiência jurídica revela que o sistema de recursos da CLT (LGL\1943\5) é insuficiente e
exagerado, pois se acrescem outros recursos previstos nos regimentos dos tribunais e não nas
leis processuais. Não são suficientes porque casos em que o próprio juiz poderia corrigir a decisão
anterior são levados aos tribunais superiores. Os processos de alçada merecem recurso de
embargos à própria Junta de Conciliação e Julgamento, inócuos na realidade. Os regimentos dos
tribunais criam modalidades de recurso delongando o processo. No conhecimento do recurso os
tribunais são extremamente formalistas, o que contradiz a índole informal do Direito do Trabalho.
9. Conclusões
O exame dos sistemas de recursos de processo do trabalho, bem como a sua análise crítica,
permitem extrair as seguintes conclusões:
a) O sistema de recursos do processo do trabalho é mais simples do que o de processo comum,
mas esse fato não exclui a necessidade de adaptações para o seu aperfeiçoamento;
b) A lei trabalhista deveria admitir a "reconsideração" existente no Direito Processual argentino. O
juiz constatando haver decidido mal, p. ex., com base em pena de revelia, quando a parte após a
sentença lhe exibe prova do não recebimento da notificação, pode "reconsiderar" a decisão.
No sistema brasileiro, tratando-se de sentença, o juiz não pode mais alterá-la. Só o tribunal
Regional, em recurso ordinário, poderá modificar a decisão, o que, a nosso juízo, não é razoável no
caso do processo do trabalho. A "reconsideração" obviaria o inconveniente da demora na correção
da aplicação incorreta do direito. Tanto isso é verdade que alguns Juízes do Trabalho, dentre os
quais, Genésio F. Solano Vivanco e Adilson Basalho Pereira, diante da demonstração de nulidade
da citação, restabelecem a relação processual;
c) Os embargos nos processos de alçada levam a duplo exame do caso pelo mesmo órgão prolator
da sentença. O juiz que já decidiu de uma forma, certamente manterá sua decisão. Os recursos
ao mesmo órgão são inócuos. Assim ressalvados os embargos de declaração para esclarecer o que
foi omitido, está obscuro ou contraditório, devem ser eliminados.
d) No conhecimento dos recursos, o mandato conferido pelo trabalhador em audiência, com
aplicação analógica do art. 266 do CPP (LGL\1941\8) que permite ao réu, por ocasião do
interrogatório indicar o seu defensor, devia ser expressamente admitido na lei trabalhista. Não há
razão para os excessos de formalismo que a esse respeito vicejam no processo do trabalho;
e) As hipóteses de recurso obrigatório ex officio, mantendo as peculiaridades do recurso
facultativo da União, deviam ser eliminadas. O juiz não é parte no feito nem pode fundamentar
recurso que é contrário ao seu ponto-de-vista;
f) Os recursos regimentais nos tribunais não previstos em lei, não deviam ser admitidos. A lei,
sendo taxativa quanto aos recursos cabíveis, não deixa base legal para se instituírem outras
modalidades de recurso que não expressamente previstas.
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1. Tércio Ferraz Sampaio, Conceito de Sistemática do Direito, São Paulo, Ed. RT, 1976, p. 2.
2. Idem, p. 9.
5. Min. Coqueijo Costa, Direito Judici ário do Trabalho, Ed. Forense, 1978, p. 439.
9. Art. 836 da CLT (LGL\1943\5). V. também Wilson de Souza Campos Batalha, ob. cit., p. 616.
10. Cássio de Mesquita Barros Jr., Transferência de Empregados Urbanos e Rurais, São Paulo,
LTr, 1980, pp. 383 e 384.
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